UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo Sérgio Luiz Salles Souza Hospitais da fé e da ciência São Paulo 2013 Sérgio Luiz Salles Souza Hospitais da fé e da ciência Dissertação apresentada à Universidade São Judas Tadeu para obtenção do título de mestre em arquitetura e urbanismo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo Orientador: Profa. Dra. Eneida de Almeida São Paulo 2013 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA DESDE QUE CITADA A FONTE. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464 S729h Souza, Sérgio Luiz Salles Hospitais da fé e da ciência/ Sérgio Luiz Salles Souza. ‐ São Paulo, 2013. 189 f. : il., 183 fig. ; 30 cm. Orientadora: Eneida de Almeida. Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2013. 1. Duiker, J. (Johannes). 2. Arquitetura moderna.3. Hospitais ‐ Arquitetura. I. Almeida, Eneida. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós‐Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo. III. Título CDD 22 – 725.510288 in memoriam Joês de Salles Souza, meu pai. Tia Lourdes, minha segunda mãe. Meus avós. Meu eterno amigo Sergio Bolivar Gomes. À Dirce, minha mãe e referência. Ao Beto, meu irmão e segundo pai. À minha amada esposa, companheira e amiga, Ana Paula, sem a qual eu não teria conseguido concluir o mestrado. À Luiza, minha filha, amor da minha vida, minha inspiração. Agradecimentos À Profa. Dra. Eneida de Almeida pelo apoio e atenção ao longo da pesquisa, pela orientação dedicada e amiga e, mais do que tudo, por jamais ter me deixado desistir. À Profa. Dra. Kátia Azevedo Teixeira pela contínua disposição em ensinar, pelos valiosos questionamentos e orientações quanto à metodologia da pesquisa. À Profa. Dra. Marta Vieira Bogéa e ao Prof. Luiz Augusto Contier, por terem me encorajado a retomar o mestrado. Ao Prof. Dr. Fernando Guillermo Vázquez Ramos, pela excelência nas aulas de pós-graduação, permitindo-me o devido aprofundamento nos movimentos de vanguarda dos Países Baixos e Alemanha. Ao Prof. Dr. Adilson Costa Macedo, por me apresentar uma abordagem mais sintética de pesquisa. À Profa. Dra. Paula de Vincenzo Fidelis Belfort Mattos, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu, pelo apoio institucional e constante incentivo. À Universidade São Judas Tadeu pela oportunidade de realização do mestrado. Ao João Paulo, meu querido enteado, pelo apoio nas traduções e textos. Ao meu Deus e a São Judas Tadeu, de quem sou devoto. A revolução está em todas as partes e em todas as coisas; ela é infinita, não existe revolução final, não existe fim para uma sequência de inteiros. A revolução social é só uma dentro da sequência de inteiros. A lei da revolução não é uma lei social, é imensuravelmente maior, é uma lei cósmica, universal - tal como a lei de conservação de energia e a lei de perda de energia (entropia). Um dia uma fórmula exata será estabelecida para a lei da revolução. E, nesta fórmula, as nações, as classes, as estrelas e os livros serão representados por valores numéricos. Vermelha, ígnea, próxima da morte - assim é a lei da revolução; mas aquela morte é o nascimento de uma vida nova, de uma estrela nova. E fria, azul como o gelo, como os gélidos infinitos interplanetários, é a lei da entropia. A chama passa de um vermelho ígneo para um cor-de-rosa uniforme, suave, não mais próximo da morte, mas sim do conforto-produtor; o sol envelhece e se torna um planeta adequado para estradas, lojas, camas, prostitutas, prisões: esta é a lei. E para rejuvenescer o planeta, devemos incendiá-lo, devemos forçá-lo a desviar da estrada tranquila da evolução: esta é a lei. A chama, suficientemente verdadeira, amanhã ou depois estará fria (no Livro de Gênesis os dias são anos, ou ainda a eternidade). Mas já hoje deveria existir alguém que pudesse prever isto; deveria existir alguém que falasse hereticamente de amanhã. Os hereges são os únicos remédios (ainda que amargos) para a entropia do pensamento humano [...]. Explosões não são confortáveis. É por isso que os deflagradores, os hereges, são perfeitamente aniquilados pelo fogo, por machados, e pelas palavras. Os hereges são hoje nocivos a todas as pessoas, a toda evolução, ao difícil, lento, útil, tão útil e construtivo processo de construção do recife de corais; imprudente e levianamente os hereges chegam aos dias de hoje a partir do dia de amanhã. Eles são românticos [...] [...] Hereges são necessários à saúde. Se não há hereges, eles têm de ser inventados. A literatura viva acerta seu relógio não a partir da hora de ontem, nem da hora de hoje, mas sim a partir da hora de amanhã. A literatura viva é como um marinheiro que é colocado no topo dos mastros; de lá ele pode avistar navios afundando, icebergs, e redemoinhos que não são visíveis do convés. É possível tirá-lo do mastro e colocá-lo para trabalhar na sala das caldeiras ou no eixo, mas isso não mudará uma coisa: o mastro estará sempre lá, e do topo outro marinheiro poderá ver o que o primeiro viu. Yevgeny Zamyatin, 1921 RESUMO SOUZA, SÉRGIO LUIZ SALLES. Hospitais da fé e da ciência. 2013. Dissertação de mestrado – Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2013. O incêndio do Hotel-Dieu (Paris,1772) provocou uma enorme comoção popular exigindo a construção de um hospital de acordo com o espírito ilustrado da época. Coexistiam na ocasião dois tipos de instituições: uma assistencialista segundo os conceitos da Alta Idade Média, que se ocupava do acolhimento dos miseráveis; e outra organizada segundo os conceitos da Baixa Idade Média, oferecendo cuidados com a saúde e almejando a cura. Na Alta Idade Média, o cristianismo introduziu uma apreciação diferente entre enfermo e enfermidade, a caridade era a virtude suprema e, dessa forma a ciência era submetida à fé. Na Baixa Idade Média houve a retomada das instituições médicas. Em 1540, com a Ordem Hospitaleira dos Irmãos de São João de Deus, surgiu um novo capítulo da história dos hospitais ao considerar como dever central o cuidado clínico com os doentes, a formação em enfermagem e cirurgia, readmitindo e aprimorando princípios da medicina bizantina. A fundação da Charité em Berlim (1727) representou uma grande evolução que propiciou a conceito de Hospital Geral. O Hospital de Bamberg (1787-89) marcou o início do desenvolvimento de concepções especializadas para edifícios hospitalares. Na segunda metade do século XIX, definitivamente adotou-se como modelo a solução de hospitais pavilhonares, que demonstravam benefícios nos sanatórios de doenças infecciosas e tuberculose. O avanço da medicina clínica, entre 1880 e 1890, aumentou a expectativa média de vida dos 46 para os 76 anos, sedimentando definitivamente a importância social dos hospitais. Em 1905, van Zutphen, dirigente do sindicato dos trabalhadores do diamante de Amsterdã, sensibilizado com o problema da silicose e da tuberculose que afetava os trabalhadores, criou um fundo de apoio aos doentes. Em 1919 com o aumento dessa arrecadação foi comprada uma propriedade em Hilversum para a construção de um sanatório destinado ao tratamento dos operários tuberculosos, conforme o Plano do Dr. Philip de Edimburgo. O clínico geral Ben Sajet, foi escolhido como diretor clínico do sanatório e Johannes Duiker e Bernard Bijvoet como arquitetos consultores. O complexo construído adotou o nome da fundação, Zonnestraal (Raio de Sol). Os primeiros estudos do sanatório ficaram prontos no final de 1925 e registraram a articulação das fases de tratamento desde a internação à reabilitação hospitalar, em um projeto que distribuía por vários edifícios as diversas atividades. O projeto de Zonnestraal revela uma longa batalha contra os custos. Duiker estava sempre economizando, tanto em espaço quanto em material. Ao lapidar seu projeto, sempre que possível Duiker ficou apenas com o essencial. Para ele, a forma de arte era em grande parte um resultado da forma de trabalho. A fachada não é algo que se acrescenta, mas sim que compartilha o mesmo status das outras paredes e da cobertura. A fachada é "uma vestimenta saudável", uma pele fina e transparente. A esbeltes e o refinamento são ditados pelas possibilidades estruturais e as tecnologias. Duiker, que também era músico, ao realizar Zonnestraal, tentou algo incomum na arquitetura, a reescrita de uma partitura para outros instrumentos, conseguindo edificar, de forma temporã, uma das obras primas da arquitetura moderna. Palavras-chave: Duiker, J. (Johannes), Arquitetura moderna, Hospitais–Arquitetura. ABSTRACT SOUZA, SÉRGIO LUIZ SALLES. Faith and Science Hospitals. 2013. Dissertação de mestrado – Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, 2013. The burning of the Hotel-Dieu (Paris/1772) caused a massive popular commotion, demanding the construction of a hospital in accordance with the spirit of the era depicted. Coexisted at the time two types of institutions: one welfare, according to the concepts of the High Middle Ages, that was used to shelter miserable people, and other organized according to the concepts of the Late Middle Ages, providing health care and longing for healing. In the High Middle Ages, Christianity introduced a different assessment between patient and disease, the charity was the supreme virtue and thus science was subjected to faith. In the Late Middle Ages, there was a resumption of medical institutions. In 1540, the Order of the Hospitaller Brothers of St. John of God started a new chapter in the history of hospitals, when considering central duty the clinical care to patients, training in nursing and surgery, reassuming and enhancing principles of Byzantine medicine. The foundation of the Charité in Berlin (1727) represented a major evolution that led to the concept of General Hospital. The Hospital of Bamberg (1787/89) marked the beginning of the development of specialized designs for hospital buildings. In the second half of the nineteenth century, definitely it was adopted, as a model, the solution of different buildings hospitals that showed benefits in the infectious diseases and tuberculosis sanatoriums. The advancement of clinical medicine between 1880 and 1890 increased the average life expectancy of 46 to 76 years, finally solidifying the social importance of hospitals. In 1905, van Zutphen, head of the workers union diamond of Amsterdam, sensitized with the problem of silicosis and tuberculosis that affected workers, created a fund to support patients. In 1919, with the increased collection, was purchased a property in Hilversum, to build a sanatorium destined to the workers for the treatment of tuberculosis, as Dr. Philip plane of Edinburgh. The general practitioner Sajet Ben was chosen as clinical director of the sanatorium, and as architects Duiker and Bijvoet. The complex built adopted the foundation's name: Zonnestraal (Sunbeam). The earlier studies of the sanatorium were completed in late 1925 and recorded the timing of the treatment, from admission to the rehabilitation, in a project that distributed over several buildings the various activities. The Zonnestraal's project reveals a long battle against the costs. Duiker was always saving both in space and in materials. To hone your project whenever possible Duiker was left with only the essentials. For him, the art form was largely a result of the way of working. The facade is not something added, but it shares the same status as the other walls and roof. The facade is "a healthy garment", a thin and transparent skin. The slenderness and refinement are dictated by structural possibilities and technologies. Duiker, who was a great musician, while designing Zonnestraal tried something unusual in architecture, the rewriting of a piece of music for other instruments, getting to build, in such a temple way, one of the masterpieces of modern architecture. Keywords: Duiker, J. (Johannes), Modern Architecture, Healthcare Architecture. Sumário INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................................................................11 CAPÍTULO I ........................................................................................................................................................................................................................14 Sobre Hospedarias e Hospitais CAPÍTULO II ......................................................................................................................................................................................................................55 Diamantes e Tuberculose CAPÍTULO III ...................................................................................................................................................................................................................71 Johannes Duiker (1890 – 1935) CAPÍTULO IV..............................................................................................................................................................................................................120 O Raio de Sol Sanatório Zonnestraal em Hilversum CONCLUSÃO ..............................................................................................................................................................................................................170 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................................173 ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................................................................................................................178 11 INTRODUÇÃO A primeira vez que se encontra a expressão “una sala es como una máquina de curar enfermos” (AIZPÚRUA, 1928, p. 3) foi em 1773, no discurso de apresentação do projeto do novo hospital de Paris. No ano anterior um devastador incêndio destruiu o Hotel-Dieu, motivando o físico Jean Baptiste Le Roy (1720-1800) e o arquiteto Charles François Viel (1745-1819) a elaborar um projeto para substituir o velho hospital. Esse projeto, baseado em premissas inovadoras para a época e firmado como um manifesto, deixou claro o descompasso entre os pensamentos científico, artístico, cultural e o projeto e construção de hospitais. (PICAZO, 2011, p. 45) Ao retomar o tema dos projetos e construções hospitalares e recolocar, com a devida ênfase a importância desses estabelecimentos na história da arquitetura, a presente pesquisa aborda cronologicamente o processo de desenvolvimento histórico dos hospitais na Europa; a submissão da ciência à religião; a retomada do conceito de ciência e cura em substituição ao do acolhimento e caridade e os reflexos diretos na construção dos hospitais. Esse processo evolutivo, lento e gradual, culmina em 1929, nos Países Baixos, na construção do sanatório Zonnestraal em Hilversum, obra prima da arquitetura moderna, projeto de Johannes Duiker e Bernard Bijvoet. Ao mesmo tempo resgata a excelência e obra de um desses arquitetos, J. Duiker que segundo Frampton foi um dos mais inexplicáveis esquecimentos da história “oficial” da arquitetura do século XX. (MOLEMA, 1996, p. 6) A primeira parte apresenta uma visão histórica e evolutiva dos conceitos “hospitalar” e “hospitalidade”, termos que se transformam com o passar do 12 tempo, de lugar onde se pratica a caridade cristã para ser o centro de investigação e de cuidados sistemáticos com a saúde. O fio condutor da narrativa é o processo de reconstrução do Hotel-Dieu em Paris e o paradigma instituído com os diferentes projetos que foram produzidos para a sua substituição. É tratada a concepção dos hospitais pavilhonares, relacionados com as diversas moléstias, em especial a tuberculose, e o avanço da nosologia1, elemento propulsor da ciência médica no final do século XVIII até o início do século XX. A segunda parte, dividida em dois capítulos, tendo como cenário o fortalecimento sindical nos Países Baixos na primeira década do século XX, especialmente dos trabalhadores do diamante, aborda um triângulo de relações envolvendo a evolução nos processos de cura e tratamento da tuberculose, os movimentos elementaristas de vanguarda da Europa e a curta e talentosa carreira do arquiteto Jan Duiker. A terceira e última parte descreve a construção do sanatório Zonnestraal, edifício apontado como essencial e paradigmático pela maioria dos textos e manuais de história da arquitetura dos hospitais. (FOUCAULT, et al, 1979, p. 65) Interessante conhecer os detalhes da sua concepção temporã – o sanatório foi projetado quando Le Corbusier havia apenas construído algumas casas e nem tinha formulado ainda os “cinco pontos de uma arquitetura nova”. Desde Descartes, a máquina tem sido abordada na cultura ocidental como a expressão máxima e o meio decisivo do poder humano sobre a natureza. No século XX a máquina converteu-se em um símbolo cultural universal, desempenhando o papel da natureza no século XVIII e as ideias no XIX. (PICAZO, 2011, p. 17) É uma força racional, democrática, capaz de igualar socialmente as classes e liberar o homem de muitas de suas fadigas e afazeres. A relação dos artistas e arquitetos de vanguarda com a máquina é bastante complexa, uma mescla de 1 Do grego nósos, -ou, doença + -logia; parte da Medicina que descreve, estuda e classifica as doenças. (http://www.priberam.pt/dlpo/, acessado em: 12/04/13) 13 fascinação e horror, tal como retratado no filme Metropolis, de Fritz Lang, de 1927. A sentença de Le Corbusier em 1922 que quebrou tantos paradigmas: “a casa é a máquina de morar”, converteu-se no símbolo da “nova arquitetura”. Fato pitoresco nesse longo processo de projeto, interrompido pela crise econômica, foi que a “nova arquitetura” de Duiker passou despercebida pelo filtro do comitê responsável pela construção do sanatório. Os edifícios poderiam parecer, com um olhar mais superficial, similares aos demais exemplos da Nova Objetividade, entretanto seus pressupostos eram bem diferentes. O conjunto seguiu a lição definida por Le Corbusier em Vers une Architecture (1923), sendo idealizado como uma máquina para curar. Técnica e estética em perfeita harmonia. 14 CAPÍTULO I Sobre Hospedarias e Hospitais Ao final do ano 1772 o Hotel-Dieu de Paris foi tomado por um incêndio de grandes proporções que deixou um grande número de enfermos mortos. Mesmo não tendo sido essa a primeira vez, o resultado do infortúnio provocou uma enorme comoção popular, com inflamados manifestos por toda Europa, exigindo a construção de um hospital mais seguro e de acordo com o espírito ilustrado do momento. (Fig. 1) Figura 1– Incêndio do Hotel-Dieu em 1772. (ESCHOLIER, 1938, p. 33) 15 O Hotel-Dieu, indiscutivelmente, representa um dos exemplos mais significativos para a análise e entendimento da evolução e dos processos de transformação da história das construções hospitalares desde o século VII. Sem uma clara diferenciação, coexistiam na ocasião do incêndio, dois tipos de instituições. Uma assistencialista, estruturada segundo os conceitos da Alta Idade Média2, que se ocupava dos miseráveis para os quais a enfermidade era apenas uma circunstância para encontrar acolhimento e fugir das agruras da fome, da velhice, da impossibilidade de encontrar trabalho; e paralelamente, uma instituição organizada segundo os conceitos da Baixa Idade Média, oferecendo cuidados com a saúde e almejando a cura. Fundado em 651, por São Landry3, bispo de Paris, o Hotel-Dieu 4 estendiase a sudoeste da Catedral de Notre Dame, nos terrenos de um antigo templo druida, sobre o qual o imperador romano Julio II tinha construído seu palácio. O complexo monástico inicial possuía dois edifícios distintos voltados à assistência: o infirmarium, reservado exclusivamente aos monges doentes ou idosos, que não mais conseguiam seguir a dura rotina monástica e, o hospitale pauperum, para os pobres e peregrinos. Enquanto o infirmarium apresentava uma estrutura similar ao monastério, com alas bem divididas e estrutura de suporte como refeitório, capela, sanitários e banho, o hospitale pauperum era um espaço sem qualquer organização, configurado por uma única grande sala, coberto precariamente com uma estrutura de madeira e rodeado por pequenas habitações frágeis e insalubres. A estrutura do hospitale pauperum era muito menos especializada que o infirmarium, não fazendo distinção entre pobres e enfermos. O infirmarium persistiu durante toda a Idade Média nos conjuntos religiosos, acoplado ao monastério, ao claustro, à Catedral, à escola, à habitação A pesquisa adotará a definição de BRUNI (2001, p. XVII) quanto aos períodos em que se divide a Idade Média: Alta Idade Média (476 a 1000); Baixa Idade Média (1000 a 1453). 2 O bispo de Paris, ao longo da vida e como herança, destinou toda a sua fortuna e parte dos objetos de valor da Catedral, para manter o Hotel-Dieu. 3 4 Termo de origem medieval, hotel ou casa de Deus. 16 do Abade e à hospedaria, que era subdividida em três sistemas de hospitalidade relacionados com a posição social ou monástica do indivíduo. (PICAZO, 2011, p. 24) Paradoxalmente, o hospitale pauperum, legítima hospedaria de pobres e peregrinos, é que se converteria, no hospital científico da Idade Moderna. (Fig. 2 e 3) Nas antigas culturas do Mediterrâneo, a assistência médica não continha implícita a acolhida do enfermo. Na Grécia, no século VI AC, ao se separar a medicina da religião, praticava-se a techné5publicamente na iatreia6. (ENTRALGO, apud PICAZO, 2011, p. 24) Figura 2 – Ilustração do manuscrito “Livre de La Vie Active”, representa o recebimento dos enfermos segundo a sua posição social no infirmarium e no hospitale pauperum. (ESCHOLIER, 1938, p.8) 5Do grego , pode ser definido como o aproveitamento ordenado dos recursos e forças naturais, baseado no conhecimento da natureza e posto ao serviço da satisfação das necessidades do homem. (http://ocanto.esenviseu.net/lexicon/tecnica.htm, acessado em: 12/08/2013) grego ἰατρεία, também definido como consultório médico, onde era possível realizar desde a simples consulta até uma pequena cirurgia e a sangria inclusive. (http://www.historiadamedicina.med.br/? p=321, acessado em: 12/08/2013) 6Do 17 Figura 3 – Ilustração que adorna o manuscrito “Livre de La Vie Active”, representando o interior de uma sala de doentes; a pessoa com melhor posição social acomoda-se num leito individual. (ESCHOLIER, 1938, p. 9) Conhecidos pelos textos de Hipócrates e Galeno e por textos romanos conservados em Pompeia, esses estabelecimentos (iatreia) eram uma espécie de dispensário ou centro de primeiros socorros que contavam com uma pequena área de recuperação. Não eram lugares de permanência prolongada do paciente, tampouco onde ele ficaria até o seu pleno restabelecimento e, só em casos de extrema gravidade, era permitida a acomodação numa cama. Os archiatroi (médicos) atendiam aos casos mais graves nos domicílios. (UNDERWOOK, 1956, p. 67) A civilização romana não se caracterizou por um grande avanço no conhecimento médico, a falta de interesse em pesquisa chegava a tal ponto que muitos dos escritos médicos, legados das civilizações anteriores do mediterrâneo e oriente, eram registrados apenas em versos e poesias. A saúde pública romana se desenvolveu pela construção de sistemas sanitários, como redes de esgoto e de abastecimento de água. Os primeiros estabelecimentos voltados à saúde foram implantados como Isola Tiberina (Ilha Tiberina) uma ilha num 18 trecho do Rio Tibre. Tratavam-se de locais destinados exclusivamente à morte dos pobres que, em épocas anteriores, morriam pelas ruas. Ainda hoje existe uma estrutura hospitalar instalada na ilha. A preocupação com a construção de abrigos para doentes decorre exclusivamente da expansão territorial do império, tendo sido uma resposta à necessidade de apoio militar. Jamais voltados para a população civil, estes centros de cuidados primários foram paulatinamente sendo construídos por todo o Império. Os valetudinaria7, sempre precários, dedicavam-se aos cuidados de escravos e soldados. Também havia valetudinaria exclusivamente militar, concebido para atender aos soldados feridos nas zonas fronteiriças e nas principais vias de comunicação. Tratava-se de instituições com caráter mercantilista, já que tanto os soldados, quanto os escravos, eram propriedades que deviam ser mantidas em boas condições para poder cumprir as tarefas que lhes eram designadas. (COMELLES, 2002, p. 92) Infelizmente, pouco se sabe sobre a medicina militar romana, relata-se apenas que mostrava grande interesse no desenvolvimento da cirurgia, mas sempre como uma resposta rápida e direta às necessidades militares8. Apenas no Império Bizantino de fato floresceram estabelecimentos médicos. Criados normalmente pelas Igrejas ou pelo Estado, possuíam, de muitas maneiras, algum paralelo com os hospitais da modernidade. (MILLER, 1997, p. 19) O primeiro hospital do Império Bizantino foi construído por Basílio de Cesareia9 no final do século IV e, embora aquela instituição tenha prosperado, 7Na Antiga Roma, o valetudinarium era o hospital construído nos campos militares, um hospital de campanha que apresentava na sua área central um recinto sagrado com inscriçoes votivas aos deuses romanos da cura. Os valetudinaria dos romanos são considerados os primeiros hospitais conhecidos, sendo destinados à assistencia aos feridos e convalescentes de guerra. Por determinaçao do Imperador Augusto, o exército romano foi o primeiro da história a possuir um serviço médico permanente. (http://historyofmedicine.blogspot.com.br/2010/04valetudinaria-os-primeiroshospitais.html, acessado em: 12/08/2013) 8O desenvolvimento desse tema foge ao enfoque central da presente pesquisa. 9Basílio de Cesareia, também chamado de São Basílio Magno ou Basílio, o Grande (em grego: ἍγιοςΒασίλειοςὁΜέγας), foi o bispo de Cesareia na Capadócia (atualmente a cidade de Kayseri, na Turquia). Ele foi um dos mais influentes teólogos a apoiaro Credo de Niceia e um adversário das 19 foi apenas durante os séculos XVIII e XIX, que estabelecimentos daquele gênero surgiram em cidades do interior. A medicina bizantina era exercida em estabelecimentos fixos ou dispensários transitórios nas principais rotas de circulação. Havia uma hierarquia profissonal, incluindo o médico-chefe (archiatroi), chefe dos enfermeiros (hypourgoi) e os enfermeiros (hyperetai). Há relatos de que os médicos eram treinados e, provavelmente, frequentavam a Universidade de Constantinopla, já que a medicina naquela época tornou-se um campo de estudo acadêmico. Apesar da proeminência e prática dos grandes médicos da antiguidade, a medicina alçancou o status de ciência em virtude de uma educação formal10. A existência de carreiras na área médica, com funções bem definidas, similares ao profissionalismo demonstrado no serviço civil bizantino, certamente influenciou a forma como os hospitais vieram a se organizar.11 (MILLER, 1997, p. 52) Na Alta Idade Média, o cristianismo introduziu uma apreciação diferente entre enfermo e enfermidade. A caridade é a virtude suprema, e o cuidado aos enfermos é uma das principais manifestações de amor a Deus. Para o cristianismo, embasado no fato de que o nascimento de Jesus foi num estábulo heresias que surgiram aos primeiros anos do cristianismo como religião oficial do Império Romano, lutando principalmente contra o arianismo e os seguidores de Apolinário de Laodiceia. Sua habilidade em balancear suas convicções teológicas com suas conexões políticas fez de Basílio um poderoso advogado da posição nicena. Além de sua obra como teólogo, Basílio ficou conhecido por seu cuidado com os pobres e necessitados. Ele estabeleceu padrões para a vida monástica com foco na comunidade, na oração e no trabalho manual. Juntamente com São Pacômio, ele é lembrado como pai do monasticismo comunal no cristianismo oriental. Basílio, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa são conhecidos como Padres Capadócios. A Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica Oriental agrupam Basílio com Gregório de Nazianzo e João Crisóstomo como os Três Grandes Hierarcas. Ele é reconhecido como Doutor da Igreja na tradição oriental e ocidental. Suas cartas mostram o quanto trabalhou tentando recuperar ladrões e prostitutas. Também encorajou o clero a não ser tentado pelas riquezas ou pela vida comparativamente mais fácil de um padre, e que ele pessoalmente escolhia candidatos dignos das ordens sagradas. Foi corajoso a ponto de criticar funcionários públicos que falhavam na tarefa de prover a justiça ao povo. Ao mesmo tempo, ele pregava todas as manhãs e tardes em sua própria igreja para grandes congregações de fiéis. E, por fim, construiu um grande complexo nas redondezas de Cesareia, chamado de Basiliad, que incluía um abrigo para os pobres, um hospício e um hospital.(Encyclopaedia Britannica, 1991, vol. 1, p. 938) 10Provavelmente 11Muitas na Universidade de Constantinopla. comparações são feitas por estudiosos desse campo. Sabe-se, inclusive, que no século XII Constantinopla tinha dois hospitais bem organizados, abrigando médicos especialistas (incluindo mulheres médicas), com alas especiais para vários tipos de doenças e métodos sistemáticos de tratamento. (OWSEI, 1985, pp16:97-115) 20 porque ninguém deu alojamento à sagrada família, o hóspede é muito valorizado, sendo a própria representação do Cristo. “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber”. (SÃO MATEUS, 25,35) (Fig. 4) Figura 4 – Pintura de Giotto, século XII, Adoração dos Magos, Capela degli Scrovegni, Pádova, Itália. (http://www.cappelladegliscrovegni.it, acessado em: 09/03/2013) A regra de São Bento reafirmou esse conceito: todos os hóspedes que se aproximem de nós devem ser recebidos como Cristo. No fim da antiguidade a posição cristã ante a ciência médica era de certo desprezo. Nos Evangelhos de São Mateus e São Marcos, Jesus faz curas milagrosas e os evangelistas aproveitam para afirmar a incapacidade da intervenção humana ao ressaltar que os males corporais são a consequência e a pena do pecado. A quem caberia o trato dos pecados se não a Deus? 21 12 As obras de misericórdia , ensinadas por Jesus aos seus discípulos, incluíam cuidar dos doentes e dos inválidos, bem como socorrer e alimentar os fracos. Desde o século IV, os hospitais ofereciam abrigo, alimentação e cuidados a todos os que necessitavam de ajuda. Tornaram-se locais de prática da caridade e agrado a Deus, seguindo o exemplo do Bom Samaritano. [...] 27. Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. 28. Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso, e viverás. 29. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? 30. Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. 31. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; quando o viu, passou de largo. 32. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. 33. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem e, vendo-o, teve compaixão dele. 34. Chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. 35. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei [...] (LUCAS, capítulo X) São Basílio (329 - 379) tinha significativo conhecimento de medicina, adquirido durante sua estada em Atenas no ano 350, entretanto considerava que a cura estava unicamente nas mãos de Deus, que atuando através das pessoas, faz dos médicos o seu instrumento. Trata-se, portanto, do principal paradoxo que se prolongou por vários séculos e, de certa forma, fez com que houvesse a paulatina submissão e enfraquecimento do conhecimento médico diante da fé, do acolhimento e da piedade religiosa. O hospital de Cesareia configurava muito bem esses conceitos. São Gregório de Nizza13 definiria mais tarde o hospital como uma cidade de 12Segundo o Catecismo de São Pio X, (capítulo IV: “Das obras de misericórdia”, n. 937 – 941), a doutrina católica define quatorze obras de misericórdia, divididas em dois grupos: As obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a quem tem sede; Vestir os nus; Dar pousada aos peregrinos; Assistir aos enfermos; Visitar os presos; Enterrar os mortos. As obras de misericórdia espirituais: Dar bom conselho; Ensinar os ignorantes; Corrigir os que erram; Consolar os aflitos; Perdoar as injúrias; Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; Rogar a Deus por vivos e defuntos (principalmente pelos defuntos que estão no Purgatório). 13São Gregório de Nizza (Cesareia, Capadócia:330 - 395): Teólogo, místico e escritor cristão. Padre da Igreja e irmão de Basílio Magno, faz parte, com este e com Gregório Nazianzeno, dos assim denominados Padres capadócios. É neto de Santa Macrina Maior, filho de Basílio, o Velho e irmão de Santa Macrina, a Jovem. 22 piedade, onde se acolhia todo tipo de enfermos e necessitados, opondo-se à cidade da opulência, onde a enfermidade era considerada como uma desgraça que deveria ser ocultada. O conjunto hospitalar era composto por uma igreja e uma série de pequenas construções. Os monges eram encarregados da sua direção e administração, buscando os recursos necessários para a manutenção, através de doações que recebiam pelo exercício da “medicina”. O êxito do hospital foi enorme e conferiu grande prestígio a São Basílio. Face ao poder e fama acumulados com esse empreendimento, ele acabou sendo denunciado, acusado de querer suplantar e desrespeitar a autoridade civil. A sua carta de defesa ao governador da província esclarecia bem o funcionamento do complexo: [...] me gostaria que aquellos que tengan oidos imparciales se perguntaram ?qué mal le hago al Gobierno? ?Qué menoscabo causo a los interesses públicos, sean grandes o pequenos, com la administración de las iglesias? Pero ?a quién prejudica haber construído um lugar para acogimiento de los extranjeros, tanto para los que están de viaje como para los que necessitan tratamento médico por estar enfermeiro, y por haber estabelecido los médios para darles el consuelo que necesitan, enfermeiros, médicos, médios de transporte y acompañamiento? Todos estos hombres tienem que aprender tantos ofícios como sea necessário para la vida y para que encuentren uma ocupación respetable; también tienen que tener edifícios apropriados a su trabajo, los cuales son um honor para este lugar, y su reputación es crédito para nuestro gobernador, le confiere gloria. (DEFERRARI, 1926) A mesma carta especificava que havia uma área para a guarda dos animais dos visitantes, lugares destinados exclusivamente para oferecer alojamento e outra área separada para os doentes e também para os leprosos. Segundo Tollet (apud PICAZO, 2011, p. 25) o hospital de Cesareia era subdividido em áreas especializadas, uma onde se amamentava os bebês (brephotropheion), outra onde se tratava dos órfãos (orphanotropheion), espaços para os enfermos (nosokomeion), para os idosos (gerokomeion) e por último o destinado à hospitalidade dos mendigos e estrangeiros (ptocotropheion e xenodocheion). 14 14É controvertida essa divisão de Tollet, tendo em vista que as escavações arqueológicas não permitem nada tão explícito, razão pela qual alguns autores o criticam. Por outro lado, apesar do texto não ser claro ao informar que se tratava de edifícios propriamente ditos, é muito positiva a indicação das atividades assistenciais oferecidas aos usuários do complexo. Para maior aprofundamento: Tollet, Casimir; Les édifices hospitaliers depuis leur origine jusqu’à nos jours, apud PICAZO, 2011, p. 25. 23 A meta de São Basílio não era a cura do enfermo ou a prática médica, e sim a implantação e o aprimoramento de um sistema de reabilitação (ptochotropheion)15 como instrumento de ganho de autonomia, que garantiria ao paciente enfrentar a vida por seus próprios meios. De forma bastante antecipada, constata-se uma significativa preocupação com a nefasta associação entre enfermidade e pobreza e falta de trabalho, que no final do século XIX tornar-se-ia pauta dos movimentos sindicais. Na época de Carlos Magno (742-814), o número de hospitais cresceu com o aumento das peregrinações a Roma, Santiago de Compostela e Jerusalém. Desde então, os hospitais gradualmente foram se tornando instituições padrão que abriam as suas portas a todas as pessoas, quer fossem pobres, desvalidos, doentes ou feridos. Hospitalis, em latim, significa hospitalidade, entretanto só é usado como adjetivo. Encontramos como substantivo pela primeira vez em De Architectura, de Vitrúvio, para referir-se às dependências da casa reservada aos hóspedes. O documento mais antigo em que consta o uso da palavra hospital é datado de 724, fazendo referência à fundação de um estabelecimento assistencial na cidade italiana de Lucca, com o nome de ospitale. (PICAZO, 2011, p. 29) Mais tarde o papa Adriano I (784-791) fala de hospitais, e Leão III (795-816) fundará um estabelecimento em Roma denominado de Hospitale ad Naumachiam. Nos monastérios da Europa ocidental do século IX, em referência aos alojamentos de peregrinos e estrangeiros, observa-se uma tendência à utilização preferencial do termo latino hospitalis, frente ao termo grego xenodochium16, que muitas vezes se confundia com nosokomeion – de nosox (enfermidade) e komein (refúgio). (PICAZO, 2011, p. 29) (πτωχοτροφει̑ον), or ptocheion, “poorhouse,” institution that provided hospitality and shelter for the poor and sick; (http://www.oxfordreference.com/view/10.1093/acref/ 9780195046526.001.0001/acref-978 0195046526-e-4579; Source:The Oxford Dictionary of Byzantium; Author(s):Alexander Kazhdan; acessado em: 14/07/13; não traduzido pelo autor) 15Ptochotropheion: 16Segundo Teresinha Covas Lisboa, em Breve História dos Hospitais, 2002, há outros vocábulos que salientam aspectos assistenciais: gynetrophyum = hospital para mulheres. 24 Há de se notar que a evolução do termo não deverá ser entendida apenas do ponto de vista etimológico, mas também como uma significativa transformação conceitual na forma de atuar daquelas instituições. Exceto em Bizâncio, que conservará e cultivará o conhecimento científico na Europa Ocidental da Alta Idade Média, os centros hospitalares de acolhimento aos peregrinos e enfermos tornam-se cada vez mais numerosos e, paradoxalmente, o conhecimento científico e médico começa a se perder. (ESCHOLIER, 1938, p. 4) Esse paradoxo é em parte explicado pela reclusão do conhecimento nos mosteiros e pela pressão dos governantes e da nobreza, que motivados pelo temor do fortalecimento de um poder político e não apenas de uma atividade sacra, combatiam o exercício médico religioso. Se na época do hospital de Cesareia ainda havia alguma herança médica das civilizações anteriores, sob essa nova ótica, as ordens religiosas definitivamente abandonam a ciência e o conhecimento e passam a se dedicar exclusivamente à caridade e ao assistencialismo. Se existe um pobre por excelência, este é o enfermo. Portanto, na Alta Idade Média, o peregrino, especialmente aquele miserável, passará a ser a matéria prima essencial e a própria matriz existencial de muitas ordens religiosas. Esse processo levou à simplificação cada vez maior das enfermarias nos monastérios. Tornaram-se frequentes os grandes edifícios de planta retangular, em forma de grandes naves. (DAINTON, 1961, p. 65) O Hotel-Dieu, ilustra muito bem as enfermarias medievais. Os desenhos de Viollet-le-Duc (Fig. 5) indicam a maneira como deveriam se dispor as camas, ptochodochium, potochotrophium = asilo para pobres. poedotrophium = asilo para crianças. gerontokomium = asilo para velhos. xenodochium, xenotrophium = silo e refúgio para viajantes e estrangeiros. arginaria = asilo para os incuráveis. orphanotrophium = orfanato. hospitium = lugar onde hóspedes eram recebidos. asylum = abrigo ou algum tipo de assistência aos loucos 25 formando pequenas alcovas com divisórias de madeira. Essas alcovas eram separadas das paredes perimetrais por estreitos passadiços sobre os quais havia uma galeria de onde se podiam controlar os doentes sem ter que entrar em seus cubículos. Não se pode dizer que seja uma característica válida genericamente para os demais hospitais da Idade Média, entretanto pode-se concluir que as enfermarias utilizavam soluções dessa natureza com o objetivo de conseguir grandes espaços para atender aos doentes e pobres em número cada vez mais elevado, separados por elementos construtivos leves e ágeis. Meurs (2010, p. 133) considera que apenas na Baixa Idade Média haverá a efetiva retomada das instituições médicas, pois somente a partir daquela época é possível verificar um sistema genuinamente hospitalar, com algum planejamento de implantação e gestão, além do ressurgimento eficaz do conceito de cuidado médico, atendendo a todos os setores da população. Figura 5 – Ilustração de VIOLLET-LE-DUC quanto ao modo de organização de uma enfermaria na Alta Idade Média. (PICAZO, 2011, p. 30) 26 (2011, Picazo, p. 10) por outro lado, pondera que as peregrinações, especialmente a Jerusalém, sempre foram a semente de todo o processo, e que as hospedarias ao longo dos desfiladeiros alpinos e nos portos ao longo das rotas dos peregrinos, nunca deixaram de ser o alimento de uma transformação lenta e gradual, que viria a se transformar no sistema hospitalar atual. Ele, acertadamente, acreditava numa corrente sucessiva de acontecimentos e aprimoramento contínuo, que não pode ser submetida por completo à história religiosa, especialmente na Baixa Idade Média. Na verdade não só as peregrinações a Jerusalém tiveram a influência defendida por Picazo na localização das hospedarias, que também se situavam junto às portas das cidades, nas vias de passagem, nas travessias fluviais, às portas de mosteiros, de catedrais e de sedes de bispados17. Entretanto, tanto Meurs quanto Picazo, reconhecem que o dever religioso da prática de obras de misericórdia, exigia locais com capacidade mais ampla, consequentemente, as simples hospedarias ou xenodochia (albergarias para estrangeiros, nomeadamente peregrinos) evoluíram para hospitais, pois naturalmente sempre puderam oferecer mais do que abrigo e descanso, ofereciam também internação e cuidados aos doentes (aceitável, portanto, do ponto de vista histórico, um significado mais amplo para o termo latino hospitalis). Definitivamente seria um equívoco analisar a evolução e involução dos sistemas de atendimento à saúde submetendo-os exclusivamente às iniciativas e à ótica religiosa, e restringindo-se apenas à Alta Idade Média. Sabe-se que as instituições de cuidados de saúde eram fundadas quase que exclusivamente pelos agrupamentos piedosos ou associações religiosas, entretanto em 816, o sucessor de Carlos Magno, o imperador Luís, o Piedoso (778-840), promulgou as lnstitutiones Aquisgranenses, que tornaram a prática de obras de misericórdia uma obrigação pública, e para tal organizou edifícios especializados. 17Por exemplo, o Nosocómio de Cesareia (368), o Sanktjürgenhospital em Bremen (século IX) ou o Hôtel-Dieu em Paris. 27 Autores como Picazo, Murken e Parker, não deixam de considerar a relevância desse acontecimento. No início das cruzadas (1096-1270), talvez mesmo antes, as ordens religiosas tais como os Hospitalários e os Templários estabeleceram hospitais utilizando castelos no Mediterrâneo (Cós, Rodes, Malta e Chipre). (Fig. 6) Figura 6 – Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém aos cruzados. (Iluminura francesa de 1270, autor desconhecido) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Roman_du_Chevalier_du_Cyg ne_f176v_ Pierre_l%27ErmitE.jpg; acessado em: 01/08/13) No século XI, a Ordem do Espírito Santo, fundada por Guy de Montpellier18, já tinha construído os seus próprios hospitais, assumindo um papel pioneiro no campo das instituições de cuidados de saúde. Em 1204, a Ordem foi encarregada de gerir o hospital de peregrinos em Roma, próximo da Igreja de São Pedro (1161-1216). Nos séculos seguintes, a partir de Roma, a Ordem fundou hospitais por toda a Europa constituindo uma instituição muito maior, a Ospedale di Santo Spirito, tendo como objetivo a prestação altruísta de serviços aos doentes e como regras a caridade e os cuidados de saúde. A Ordem teve fundamental importância sobre a forma e evolução dos serviços hospitalares cujo legado continua no século XXI em várias cidades como Roma, Dijon, Lübeck, Nuremberg e Augsburg. Rapidamente surgiram 18Guy (ou Gui) Montpellier (1160-1209) é o fundador da Ordem do Hospital do Espírito Santo e da Irmandade do Espírito Santo (1180), criadas para acomodar as crianças abandonadas e pobres. A ordem foi oficialmente reconhecida pelo Papa Inocêncio III em 23 de abril de 1198. O estabelecimento de confrarias e ordens religiosas destinadas a aliviar o sofrimento dos doentes teve na Europa no século XII, um importante desenvolvimento (explicado pela explosão demográfica daquele período). Em 1204, Inocêncio III tinha construído em Roma, um hospital chamado de "Santa Maria Sassia", a pedido do Papa, Guy de Montpellier é chamado a Roma para dirigir o hospital, que, então, torna-se o "Santo Spirito Sassia". Historiadores como Julien Rouquette e Augustin Villemagne descrevem Guy de Montpellier como inspirador para a fundação dos Vicentinos e as Irmãs da caridade, e influenciador de Domingos e Francisco de Assis. (GLICK,2005, resumo e tradução do autor) 28 outras congregações religiosas cujas obras de misericórdia, em regime de internação e ambulatório, retomavam e priorizavam a prestação de cuidados de saúde para idosos, doentes e desvalidos, revertendo a prática da submissão do conhecimento a fé19. (Fig. 7 e 8) Segundo Murken, com a peste negra na Europa (1346), ocorrem os primeiros relatos de hospitais para doenças infecciosas. Ao contrário dos leprosários, que se encontravam localizados próximos às portas das cidades, permitindo assim que os doentes pudessem subsistir como pedintes, os edifícios destinados aos doentes infecciosos eram erigidos em locais isolados a fim de evitar uma maior disseminação da doença. Muitos deles transformaram-se, décadas depois, em vilarejos e cidades. (Fig. 9 e 10) Parker afirma que no final da Idade Média se veria a alteração da forma como os hospitais se estruturavam, à medida que o sistema religioso de apoio aos pobres fosse gradualmente absorvido pelos municípios. Essa absorção foi acompanhada e estimulada por uma tendência monetarista, com os hospitais admitindo cada vez mais doentes pagantes, muitas vezes em detrimento dos pobres. Simultaneamente, durante o Renascimento, o número crescente de pessoas doentes levou à reforma e construção, em várias capitais europeias, de grandes hospitais públicos destinados, principalmente, ao tratamento dos doentes em regime de internação. Em Lisboa o Rei D. Manuel I (1469-1521) criou no centro da cidade, o Hospital Real de Todos-os-Santos (1492-1504), focado, prioritariamente, no regime de internação. (Fig. 11) Em Roma, Papa Sisto IV (1414-1484) ordenou o restauro completo do Ospedale di Santo Spirito, propiciando melhores condições e permanência dos doentes. 19Por exemplo: Irmãos de Santo Aleixo, os Irmãos Hospitalários de Santo Antônio e as Irmãs de Santa Isabel. 29 Figura 7 – Ilustração das alas Ospedale di Santo Spirito (1473 – 1477) em Roma. As duas enfermarias longitudinais, com a capela octogonal no centro, ficaram concluídas em 1477. (Gravura em chapa de cobre de Philippe Benoist, 1813, com base na pintura de Jean-Baptiste Bayout, por volta de 1810, LAND, 2011, p. 135) Figura 8 – Planta térrea do Ospedale di Santo Spirito (1473 – 1477) em Roma. Foi inaugurado pelo Papa Sisto V em 1478. Em destaque as duas enfermarias longitudinais, com a capela octogonal no centro. (LAND, 2011, p. 134) 30 Figura 9 – Ilustração da Peste negra na Bíblia de Toggenburg, 1411, autor desconhecido. (http://phys.org/news97780475.html, acessado em: 21/04/13) Figura 10 – Ilustração da Peste negra na Bíblia de Toggenburg, 1411, autor desconhecido. (http://phys.org/news97780475.html, acessado em: 21/04/13) 31 Figura 11 – Hospital Real de Todos-os-Santos no Largo do Rossio, em Lisboa, 1504 (Painel de azulejos do século XVIII na fachada principal do hospital, atualmente no Museu da Cidade de Lisboa, LAND, 2011, p. 136) Essa mudança metodológica, com maior atenção à internação do que aos cuidados ambulatoriais, certamente é outro paradigma desse processo evolutivo. Em 1540, começava um novo capítulo da história dos hospitais, com a fundação da Ordem Hospitaleira dos Irmãos de São João de Deus (1495-1550). Esta instituição religiosa considerava o cuidado aos doentes, se bem que apenas do sexo masculino, como dever central dos seus irmãos, que recebiam formação na área da enfermagem e da cirurgia. Princípios da medicina bizantina são readmitidos e aprimorados. A Ordem edificou novos hospitais em Paris, Graz, Praga e Viena, mas foi o Hôpital de la Charité em Paris, fundado em 1601, que se tornou a instituição mais significativa e influente. (Fig. 12) Transferida para um edifício maior em 1608, a instituição tornou-se rapidamente um dos hospitais mais exemplares da Europa, graças à sua excelência em cuidados de enfermagem e médicos. Nesse hospital, pela primeira vez, segundo Adams (2008, p. 03) institucionalizam-se: Visitas diárias de médicos cirurgiões Uma cama com roupa lavada para cada doente Uma boa alimentação ao menos quatro vezes ao dia 32 Figura 12 – Enfermaria do Hôpital de la Charité, Paris, ilustrando os Irmãos Hospitalários durante a distribuição de refeições. (Gravura em chapa de cobre de Abraham Bosse, por volta de 1700, LAND, 2011, p. 137) Apesar da criação no século XV, em Paris, do posto de médico municipal, os cirurgiões e os médicos contratados para esta posição visitavam os hospitais apenas uma ou duas vezes por semana. Foi nos hospitais geridos pela Ordem Hospitaleira que as visitas diárias às enfermarias tornaram-se norma. (ESCHOLIER, 1938, p. 4) De 1624 em diante, surgem as primeiras instituições de cuidados de saúde pertencentes às congregações femininas de caridade, entre estas as Filhas da Caridade de São Vicente de Paula (1634) e as Irmãs de Santa Isabel, em Aachen. Outras ordens femininas, como as freiras Agostinianas, trabalhavam em hospitais já existentes como o Hotel-Dieu de Paris, mas não mantinham hospitais próprios. Foi graças a estas instituições religiosas femininas, e aos seus hospitais próprios, que o padrão das enfermarias e acolhimento dos enfermos melhorou consideravelmente. O papel dos médicos nas enfermarias hospitalares, a partir de 1625, passou a ser cada vez mais importante, uma vez que se tinha tornado prática comum para os aspirantes a médicos receber formação à cabeceira do doente. 33 Parker confirma essa importante prática ao referenciar o Hospital de Santa Cecília da cidade universitária de Leiden20. No século XVIII, período áureo do mercantilismo, tornou-se óbvio que o sistema hospitalar proveniente da Idade Média, com as suas enfermarias e edifícios de arquitetura com caráter religioso, bem como as suas práticas desatualizadas de tratar as diferentes necessidades dos doentes, já não satisfazia os requisitos esperados no tocante à higiene, padrões sociais e saúde pública. À medida que o comércio e os negócios floresciam na Europa, verificou-se uma necessidade crescente na prestação de cuidados médicos e de enfermagem a soldados, artesãos e serviçais. A burguesia e a ascensão social de camadas da população com capacidade para financiar a assistência médica estimulam ainda mais a ampliação do sistema de saúde, tendo como pano de fundo favorável um avanço das ciências médicas com novos métodos de medir, pesar e contar. A definição dessas rotinas médicas como método científico, levou ao melhoramento dos cuidados e tratamentos prestados aos doentes hospitalizados, tornando-se possível mensurar a evolução da doença e personalizar o tratamento de acordo com as necessidades individuais. O controle diário da temperatura, da respiração e do metabolismo, bem como a medição da pulsação e a análise da urina tornaram-se o novo paradigma e passaram a ser parte integrante das visitas às enfermarias no século XVIII. Com a ausência das epidemias de lepra e peste, as antigas leprosarias e estabelecimentos de doenças infecciosas, que funcionavam como casas de isolamento, foram transformados em instituições multifuncionais para os pobres, como foi o caso do Pesthof (Fig. 13) em Hamburgo e da Pesthaus em Berlim. Ambos foram remodelados para albergar inválidos, desabrigados, idosos desvalidos e os alienados, entretanto os espaços ainda eram precários, amontoando todos os pacientes em áreas comuns sem qualquer distinção. 20A Universidade de Leiden, localizada na cidade de Leiden, Holanda, é a mais antiga universidade dos Países Baixos. A universidade foi fundada em 1575 por Guilherme I, príncipe de Orange, líder da Revolta Holandesa durante a Guerra dos Oitenta Anos. (http://www.leiden.edu/; acessado em 24/06/2013) 34 Figura 13 – Enfermaria no Pesthof de Hamburgo por volta de 1609, ilustrando as várias operações médicas e pastorais para os doentes agonizantes, notar ao fundo as celas fechadas, com pequenos visores, para os doentes mentais. (Gravura em chapa de cobre de autoria desconhecida, 1785. LAND, 2011, p. 138) Em 1727 a Casa Real da Prússia converteu em hospital multifuncional um grande edifício de quatro corpos, nas vizinhanças das Portas de Spandau em Berlim. Construído em 1710 para eventualmente albergar pessoas contaminadas pela peste bubônica, o edifício permaneceu ocioso, já que a temida peste nunca chegou à cidade. A primeira ala foi transformada numa enfermaria geral com 200 leitos distribuídos em quartos de diversos tamanhos; a segunda ala foi transformada numa enfermaria militar; a terceira numa unidade de obstetrícia e a quarta numa unidade privada com 300 leitos, para doentes com capacidade de pagamento. Com 12 a 18 leitos, os quartos das enfermarias eram muito apertados e frequentemente superlotados, assim, logo em seguida, o hospital foi novamente ampliado, adicionando-se um terceiro piso destinado a uma espécie de centro 35 21 cirúrgico, equipado com os instrumentos mais atuais da época para litotomia , operações de fraturas expostas, fístulas e amputações. O hospital estatal prussiano, com um total de seis serviços especializados, era também responsável pela formação de parteiras e médicos cirurgiões do exército. O rei Frederico Guilherme I (1688-1740) também inovou ao colocar uma equipe de três médicos na gestão clínica do hospital. A fundação da Charité em Berlim22 (1727) representou uma evolução significativa, assimilando os mais recentes requisitos médicos e de higiene daquela época, separando funções médicas dos demais serviços e pacientes curáveis dos crônicos. Não há na bibliografia relatos seguros, mas cogita-se que os doentes também eram separados conforme as moléstias diagnosticadas23. (Fig. 14) Poucos anos depois da Charité ter aberto as suas portas, foram inauguradas outras instituições para o tratamento de doentes em regime de internação.24 Eram hospitais de menor porte, com os doentes geralmente acompanhados pelos médicos municipais, e os que apresentassem um atestado de pobreza recebiam gratuitamente tratamento e medicação, além dos cuidados de saúde. Na segunda metade do século XVIII, surge na Europa o conceito de Hospital Geral, influenciando o modo de projetar, construir e gerir essas instituições. Com unidades especializadas para cirurgia e medicina interna, focados nos doentes com doenças curáveis e diagnosticáveis, estas instituições públicas municipais deixam de admitir pessoas inválidas ou com doenças crônicas incuráveis. A Alemanha, sem dúvida alguma, apresentou os melhores e mais numerosos exemplos iniciais de hospitais gerais de grande dimensão25. 21De cálculos urinários por meio de incisão. (http://www.priberam.pt/dlpo/; acesso em 27/07/2013) 22Não confundir o hospital Charité em Berlim com o Hôpital de la Charité em Paris. 23Essa hipótese merece ser verificada num estudo mais específico sobre o Charité de Berlim. 24Mannheim 25Passau (1730-1733), Stettin (1733-1734) e Hanover (1734-1736). (1770-1775), Braunschweig (1764-1780), Stralsund (1782-1784), Kassel (1783-1 785), Altona (1783-1785), Karlsruhe (1783-1788) e Wiesbaden (1785-1789). 36 Figura 14 – Enfermaria no da Charité em Berlim, 1785. (ADAMS, 2008, p. 64) Em Portugal, após o grande terremoto de Lisboa (1755)26, com enorme devastação da cidade e, estando fora de questão a reconstrução do Real Hospital de Todos-os-Santos no Largo do Rossio, o Marquês de Pombal ordenou a conversão do antigo Colégio de Santo Antão dos Jesuítas em hospital (1760 a 1770). O “novo” Hospital de São José abriu as suas portas em 1770 e continuou a crescer, durante as gerações seguintes, como um complexo hospitalar multifuncional, em conformidade com a exigência crescente dos padrões clínicos da época. (Fig. 15) Sismo de 1755, também conhecido por GrandeTerramoto de 1755, ocorreu no dia 1 de novembro de 1755, Dia de Todos os Santos, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve. O sismo foi seguido de um maremoto que se crê tenha gerado ondas com altura de 20 metros - e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna. Os geólogos modernos estimam que o sismo de 1755 tenha atingido a magnitude 9 na escala Richter. O terremoto de Lisboa teve um enorme impacto político e sócio-económico na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o nascimento da moderna sismologia. O acontecimento foi largamente discutido pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime. Padre Manuel Portal. "História da ruina da cidade de Lisboa cauzada pello espantozo terramoto e incendio, que reduzio a pó e cinza a melhor, e mayor parte desta infeliz cidade". (FONSECA, 2004, p. 8) 26O 37 Figura 15 – Enfermaria do Hospital de São José, Lisboa, ilustrando o rei D. Pedro V em visita aos doentes durante uma epidemia de febre, 1857. À esquerda um padre e uma irmã de caridade; o médico pode ser visto à direita, ao lado do rei. (Gravura em madeira do Le Monde Illustré, 1861, apud LAND, 2011, p. 138) Já na França, por ocasião do incêndio que destruiu grande parte do HotelDieu (1772), o complexo era fabulosamente grande e curiosamente o maior e pior resquício da herança das práticas e rotinas médicas provenientes da Alta e da Baixa Idade Média. O Hospital alojava 3.418 doentes, distribuídos da seguinte maneira: 189 no edifício norte, 202 na ponte e 2.627 nas sucessivas ampliações da margem esquerda, que na época do incêndio eram conhecidas pelos parisienses como a maison des maldades. (PICAZO, 2011, p. 22) Sem qualquer organização aparente, os vários corpos do edifício ocupavam as margens do Sena, estendendo-se sobre ele por meio de pontes, sobre as quais também ficavam enfermarias. O complexo foi crescendo desordenadamente sobre o plano do hospital medieval com alas justapostas, muitas vezes impedindo a entrada da luz e da ventilação natural. 38 Desde o século IX e, especialmente na primeira metade do século XVIII, aumentou constantemente de tamanho. No plano de Turgot (1739) uma imagem demostra que o hospital estava unido à Catedral de Notre Dame e já começava a transbordar para fora da ilha, com as grandes alas avançando sobre o casario medieval. (Fig. 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22 e 23) As sucessivas ampliações cuidaram apenas de atender à demanda crescente de doentes, repetindo o esquema de alas muito grandes, com quase cem metros de comprimento. A única racionalidade das enfermarias era alguma organização das camas, dispostas em fileiras. As alas, em forma de pavilhão, chegavam a ter cinco pisos sobrepostos, alojando até quatro doentes por cama; as enfermarias tinham capacidade para oitocentos doentes. Figura 16 – Planta de situação do Hotel-Dieu em meados do século XVIII (PICAZO, 2011, p. 22) 39 Figura 17 – Representação de uma enfermaria no Hotel-Dieu, com altar ao centro em destaque. Facsímile de uma gravura do século XVI, folha de rosto de um manuscrito intitulado: Le Pardon, gráces et facultes octroyés à Monseigneur l’archevêque patriarche de Bourges et primat d’Aquilain aux bienfaiteurs de l’Hotel-Dieu. (ESCHOLIER, 1938, p. 5) Figura 18 – Visita da duquesa D’Orleans ao Hotel-Dieu em 1657. (ESCHOLIER 1938, p. 17) Figura 19 – Entrada do Hotel-Dieu em 1650, gravura de D’Aprés Sylvestre. (ESCHOLIER 1938, p. 17) 40 Figura 20 – Aspectos do Hotel-Dieu, séc. XVIII, as enfermarias ocuparam as pontes sobre o rio Sena em vários andares, Les Cagnards de l’Hotel-Dieu au début de l’Empire. (ESCHOLIER, 1938, p. 5) Figura 21 – Aspectos do Hotel-Dieu, meados do séc. XVIII, Le Petit Point et l’Hotel-Dieu, vue prise du Pont de l’Archveché. (ESCHOLIER, 1938, p. 5) Figura 22 – Aspectos do Hotel-Dieu, meados do séc. XVIII, Le Pont de l’Hotel-Dieu, vers 1806 – aquatinte de Nartes. (ESCHOLIER, 1938, p. 5) 41 Figura 23 – Aspectos do Hotel-Dieu, meados do séc. XVIII, Vue prise d’une Arche du Pont Saint-Michel sur l’Hotel-Dieu et Notre Dame, vers 1804. (ESCHOLIER, 1938, p. 5) A estrutura, com três, quatro e cinco pisos, ocupados por salas repletas de doentes, com armários de tecido e estrutura de madeira era um barril de pólvora, de onde seria muito difícil sair vivo durante um incêndio. O incêndio destruiu inteiramente um dos corpos do hospital, situado na margem esquerda da ile de la Cité. Não foi apenas a destruição parcial do edifício, rico em tradições, e o elevado número de vítimas fatais que chamou a atenção, mas também a tomada de consciência das elevadas taxas de mortalidade do hospital, de 20 a 25%. Era uma verdadeira câmara da morte. (ESCHOLIER, 1938, p. 12) Em 11 de Janeiro de 1773 o poder público, juntamente com a administração do Hotel-Dieu, tomou a decisão de transferir o hospital para fora de Paris nas planícies de Grenelle27, a Oeste da margem esquerda do Sena. Apesar dessa decisão nunca ter se concretizado, levantou o interesse e colaboração de renomados estudiosos e profissionais da época. Daquele momento, até o princípio do século XIX, foram feitos mais de duzentos planos de reforma e cinquenta projetos para a reconstrução ou substituição do hospital. (ESCHOLIER, 1938, p. 48) São os anos em que foi escrita a enciclopédia de Diderot e D’Alambert, que apresentava máquinas e invenções humanas em forma de protótipos que 27 Numa área bastante próxima onde atualmente encontra-se o Palácio dos Inválidos. 42 podiam ser facilmente reproduzidos, bem como surgiram os tratados de edifícios teatrais. (PEVSNER, 1979, p. 77) Do mesmo modo que os enciclopedistas, os tratadistas teatrais tentavam fundamentar o desenho em princípios físicos, fascinados pelo surgimento do novo método científico, cujo paradigma era representado pelas leis de Newton que anunciavam princípios gerais empregando fórmulas matemáticas. Os planos para a construção do novo Hotel-Dieu, apresentados em forma de memoriais, foram parte importante daquele projeto de conhecimento. (PICAZO, 2011, p. 21) Lançaram, segundo os princípios físicos da época, os fundamentos que definiram o modelo ideal do hospital moderno, esses conceitos possibilitaram um debate que transcendeu o âmbito puramente disciplinar, interferindo em diversas instâncias do Estado, desestabilizando todo o aparato conceitual referente à saúde e sociedade. (TENON, 1788, apud PICAZO, 2011, p. 21) Segundo Picazo, (1981, p.23) em Mémoires sur les hôspitaux de Paris, Jacques Tenon (1788) descreveu o hospital incendiado: [...] tenemos em Paris um hospital único em su género: el Hotel-Dieu; donde se recibe a toda hora, sin excepción de edad, de sexo, país, religión. Se admiten los enfermos de fiebres, los acidentados, los contagiosos y los non contagiosos, los locos suscetibles de tratamento, las mujeres y las niñas encintas: es por tanto el hospital del necessitado y del enfermo, no décimos solamente de Paris y de Francia sino de todo el universo [...] Como exemplo dos diferentes tipos de instituições hospitalares que existiam em Paris ao final do século XVIII, referência-se Picazo (1981, pp.8-14) que ao falar sobre Durand28 e hospitais, afirmou: São de vários tipos: alguns estão destinados a dar abrigo aos pobres, como por exemplo, o Hospital Geral; aos meliantes, como o Bicêtre; às mulheres de vida fácil, às crianças abandonadas, aos loucos, como La Salpétrière, etc.; outros, a receber enfermos de um ou outro sexo, como o Hotel-Dieu, La Charité, Les Incurables, etc. Ocupar-nos-emos unicamente desses últimos [...] (tradução do autor) 28Foi professor de composição da escola Politécnica de Paris entre 1795 e 1830. 43 Nos anos que se seguiram, na França e na Alemanha, os médicos dedicaram-se ao desenvolvimento de vários projetos e modelos para um hospital moderno de grandes dimensões. A principal questão colocada refere-se à forma adequada para um hospital de grandes dimensões, com centenas de doentes, que poderia satisfazer às crescentes exigências de higiene, de padrões clínicos e de um determinado nível de conforto dos doentes. O novo Hotel-Dieu seria especialmente equipado para oferecer cuidados médicos especializados, ventilação e iluminação controladas nas salas destinadas a cirurgias e à obstetrícia. Outras áreas também deveriam ter o mesmo cuidado com a ventilação e iluminação natural para que os temidos surtos de febre puerperal e de febre causada por infecções cirúrgicas pudessem ser prevenidos de forma mais eficaz. Para resolver estas questões, o rei francês Luís XVI (1754-1793) nomeou um grupo de especialistas que formou uma comissão responsável pela reorganização dos serviços hospitalares de Paris. No relatório apresentado em 178529, a comissão recomendou a desativação completa do Hotel-Dieu e a construção nos arredores de Paris de quatro novos hospitais30, organizados por pavilhões autônomos e descentralizados31. Esses planos foram abandonados com o início da Revolução Francesa e a deposição do monarca, entretanto a Alemanha deu prosseguimento aos estudos franceses e particular atenção às publicações do reformador hospitalar Jacques René Tenon (1724-1816). As questões derivadas desses estudos e os objetivos reformistas suscitaram muitas ideias sobre as instalações, a higiene, a administração e a supervisão médica. Os edifícios hospitalares, concebidos de forma funcional, passaram a fazer parte da ordem do dia na Alemanha. 29Não se tem a data exata. 30Cada um com uma capacidade máxima de 1200 leitos, subdivididos em pavilhões especializados conforme as disciplinas médicas da época. Seria valiosa uma pesquisa mais aprofundada quanto a esses projetos e uma análise mais cuidadosa das soluções apresentadas. O desenvolvimento desse tema foge ao enfoque central da presente pesquisa. 31 44 Durante o período chamado Biedermeier 32 (1815-1848) com o advento da Revolução Industrial e a crescente migração do campo para as cidades, os municípios tiveram aumentadas drasticamente as suas obrigações para com os pobres. Nessa época, o modelo vigente determinava a separação dos serviços de cirurgia e de medicina interna, ficando totalmente separado o serviço de obstetrícia, por vezes até num edifício próprio e isolado. Apesar do serviço de cirurgia ter área própria, estas instalações hospitalares nem sempre possuíam uma sala separada para as operações, seguindo a antiga tradição médica de realizar as operações na enfermaria geral33. A partir de 1800, uma nova conduta determinou a internação dos doentes mentais em hospitais especiais, que conduziu a construção de instituições psiquiátricas especializadas34. Passou a ser um requisito básico para todos os novos hospitais terem iluminação e ventilação suficientes, sob a forma de grandes janelas exteriores e aberturas sobre as portas, permitindo o arejamento das enfermarias, bem como janelas dispostas nas paredes dos corredores do lado oposto às portas. 32O período Biedermeier refere-se a uma época, na Europa Central, marcada pelo crescimento e fortalecimento da classe média, com as artes em geral abordando temas cotidianos, de sensibilidade comum e de referência histórica. Esse período estende-se de 1815, ano do Congresso de Viena, até o final das guerras napoleônicas, em 1848. Apesar dos temas de referência histórica, a palavra é predominantemente utilizada para designar os estilos artísticos que floresceram nos campos da literatura, música, artes visuais e design de interiores naquele período, sendo inclusive utilizada para denominar modelos de mobiliário. Carl E. Schorske, Fin-De-Siècle Vienna: Politics and Culture, Cambridge: Cambridge University Press, 1981, pp 87-89 (tradução do autor). 33Esta 34Vale situação persistiu até meados do século XIX. citar o Hospital de Rilhafoles (1848) em Lisboa. O Convento de Rilhafoles, também conhecido por Hospital de Rilhafoles, pertencia à Congregação da Missão de São Vicente de Paulo, foi fundado por autorização pontificia (Breve de 1717-09-10) e do Patriarca D. Tomás de Almeida (alvará de 171701-14). Também conhecido por: Casa da Congregação da Missão em Lisboa; Casa da Congregação da Missão em Rilhafoles; Casa de São João e São Paulo; Casa de Rilhafoles; Casa da Cruz de Lisboa. Após a extinção das ordens religiosas em Portugal, o edifício do ex-convento de Rilhafoles albergou o Real Colégio Militar, a partir de 1 de Setembro de 1835, instituição que ocupou as instalações até que, por decreto de 14 de Novembro de 1848, referendado pelo duque de Saldanha e barão de Franco, foi transferido para o edifício do Convento de Mafra, por ocasião das reformas legislativas do ensino e do exército realizadas na época. Após a saída do Real Colégio Militar o edifício de Rilhafoles foi destinado para o hospital de alienados, isto é destinado a doentes mentais, transformando-se no Antigo Manicomio de Lisboa, Hospital Miguel Bombarda. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Convento_de _Rilhafoles, acessado em: 29/07/13) 45 Nesse mesmo período os doentes masculinos e femininos passaram a ser tratados em enfermarias separadas, frequentemente divididas por um eixo central onde se localizavam os espaços administrativos e a capela. Na Alemanha, o primeiro projeto com essa concepção exemplar e eficiente, baseada nos estudos de Tenon, foi o Hospital Geral de Bamberg35. De forma pouco habitual para a época, nesse hospital de 125 leitos foi dada uma atenção especial para que a iluminação e ventilação fossem suficientes em todas as enfermarias; inovou-se também com a instalação de um sistema sanitário localizado entre as enfermarias de onde as fezes dos pacientes eram desprezadas, além da instalação de comadres montadas sobre dispositivos deslizantes junto às camas; o projeto previa também sistemas de ventilação artificial complementar às grandes janelas. (Fig. 24) O Hospital de Bamberg incluía uma unidade de cirurgia e uma de medicina interna, bem como enfermarias nas pequenas alas laterais utilizadas para a admissão de doentes que podiam pagar o próprio tratamento. Figura 24 – Planta de uma enfermaria do Hospital Geral de Bamberg (1787 – 1789). Entre os quartos situavam-se os banheiros, nota-se que as bacias estão entre os eixos das camas, e eram acessadas por meio de um dispositivo deslizante ao lado dos leitos. (LAND, 2011, p. 141) 35Edificado entre 1787 e 1789, pelo Bispo-Conde Franz Ludwig von Erthal (1730-1795), por influência do seu médico pessoal, Adalbert Friedrich Markus (1753-1816), nos limites da cidade, ao longo da margem do Rio Regnitz. 46 Na época o hospital representou um conceito completamente novo e um paradigma não só para a Alemanha. O projeto marcou o início do desenvolvimento de concepções especializadas em termos de edifícios hospitalares, fluxogramas, estrutura funcional e instalações sanitárias mais elaboradas, passou-se a diferenciar os hospitais de outras instituições de cuidados de saúde, rompendo definitivamente com o caráter religioso das edificações. A concepção do Hospital de Bamberg teve papel fundamental para um modelo de projeto do médico vienense Johann Peter Fauken (1740-1794), para um hospital de 1400 leitos. Fauken propôs que as enfermarias tivessem quartos apenas num dos lados e as áreas de instalações sanitárias fossem centralizadas e externas às enfermarias. Nessas áreas previam-se tubulações apropriadas que estabeleciam a ligação direta ao sistema de fossas, afastadas dos pavilhões médicos. Os passos decisivos para a construção de um hospital de grandes dimensões, segundo o princípio de que os doentes deviam ser instalados em enfermarias adequadas e que os doentes crônicos e inválidos deviam ser separados dos casos clínicos agudos, já tinham sido dados em Viena, com o apoio do imperador austríaco José II (1741-1790). (Fig. 25) A construção, em 1784, do Hospital Geral de Viena, para 2000 doentes, baseou-se no projeto de Johann Peter Fauken estabelecendo, deste modo, os princípios básicos que se encontram subjacentes aos hospitais modernos. José II também esteve à frente das chamadas diretrizes normativas para os hospitais: 1. Admissão de crianças pobres ou abandonadas em orfanatos e não mais nos hospitais. 2. Fundação de maternidades para mulheres grávidas necessitadas de assistência. 3. Tratamento de doentes curáveis nos hospitais. 4. Manutenção de doentes mentais em “casas de loucos” 5. Manutenção de doentes crônicos com apoio ambulatorial externo aos hospitais. 47 Figura 25 – Ilustração com a vista área do Hospital Geral de Viena (1783-1784), projetado para acomodar 2000 doentes, conforme concepção de Fauken. Previa-se também instalar, ao fundo do hospital a Narrenturm – Torre dos Loucos, gravura sobre cobre de Joseph Peter Scheffer, por volta de 1795 (LAND, 2011, p. 143) Um ano após a inauguração do Hospital Geral de Viena, a Casa Real da Prússia começou a demolir gradualmente, em Berlim, a Charité, a fim de construir um complexo de cinco andares com três corpos, para acomodar 800 doentes, conforme a experiência bem sucedida no país vizinho, A construção, deste novo hospital estatal em Berlim levou mais de 15 anos, tendo sido finalmente concluída em 1800. A rápida evolução da concepção estrutural dos cuidados de saúde dos doentes em regime de internação fica patente na planta do corpo frontal, que foi o último a ser construído e que é completamente diferente do resto do edifício. O corpo frontal, concebido com base no modelo de Bamberg, já não incluía quartos de ambos os lados de um corredor central e escuro, e localizava as áreas sanitárias em corredores secundários perpendiculares ao corredor principal. (Fig. 26) Os Hospitais Gerais, inaugurados entre 1780 e 1860, sejam como novos edifícios ou construções antigas reformadas, eram na sua maioria instituições de cuidados de saúde promovidas pelo Estado. 48 Apenas começaram a ser construídos por fundações comunitárias sem fins lucrativos ou por entidades civis individuais com o início da industrialização e com a expansão do comércio, que causaram um aumento dramático da necessidade de instituições médicas e especialidades. Em Portugal durante o governo do rei D. Pedro V (1837-1861), houve uma acentuada promoção da expansão hospitalar. Nesse período a esposa de D. Pedro V, a Princesa D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, construiu o primeiro hospital pediátrico moderno36. (Fig. 27 e 28) Figura 26 – Planta da remodelação da Charité de Berlim. O corpo frontal, concebido com base no modelo de Bamberg, já não incluía quartos de ambos os lados de um corredor central e escuro, e localizava as áreas sanitárias em corredores secundários perpendiculares ao corredor principal. (LAND, 2011, p. 144) Nightingale (1820-1910), no seu livro Notes on Hospitais (1859), refere-se a esse hospital como uma referência que marcou toda uma época, mesmo antes do mesmo ter sido terminado em 1877. (versão digitalizada em: http://books.google.com.br/books?id=k_w5uPm0DcC&printsec=frontcover&dq=Florence+Nightingale+(1820-1910),+Notes+on+Hospitais+(1859)&hl=ptBR&sa=X&ei=JTkaUuSwNJPy8AS83oCwCg&ved=0CDEQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false, acessado em 01/06/2013) 36Florence 49 Figura 27 – Fachada principal do hospital pediátrico D. Estefânia em Lisboa (1858-1877), Gravura sobre madeira, por volta de 1880. (ADAMS 2008, p. 27) Figura 28 – Planta do hospital pediátrico D. Estefânia em Lisboa, de H.Senftleben. (LAND, 2011, p. 145) 50 Durante a segunda metade do século XIX, os médicos e os arquitetos definitivamente passaram a recomendar e adotar, quase que por consenso, a solução para a construção de grandes hospitais sob a forma de pavilhões descentralizados. Esse modelo parecia resolver definitivamente o problema do ar viciado nos quartos e nas enfermarias, que era responsabilizado pelas elevadas taxas de mortalidade. Começaram por construir pavilhões simples, com grandes janelas nas paredes longitudinais e nos finais dos corredores, bem como ventilação zenital e acima das portas. Através da introdução desse sistema de ventilação permanente e cruzada nas enfermarias, esperavam que a incidência da infecção cirúrgica diminuísse. Foi deste modo que o primeiro pavilhão com controle das condições climáticas foi construído nos anos de 1866-1867, na reforma e remodelação da Charité em Berlim. O edifício abrigou o serviço de cirurgia. Supunha-se que esta estrutura arejada, em madeira, equipada com ventilação na cobertura, evitaria a acumulação de germes no ar. (Fig. 29) Apesar da introdução da anestesia na prática cirúrgica e das primeiras tentativas de desinfecção37 terem ocorrido por volta de 1848 e, dos padrões de higiene no tratamento dos doentes internados já terem melhorado substancialmente nessa época, acreditava-se também na necessidade do desenvolvimento de estruturas descentralizadas, baseadas na edificação pavilhonar de enfermarias térreas, para uma terapia de melhores resultados através da luz solar (helioterapia) e do arejamento. No entanto, foi apenas depois de Joseph Lister (1827-1912) ter introduzido procedimentos cirúrgicos antissépticos, em 1867, que se conseguiu um melhoramento drástico nas enfermarias hospitalares. Foi finalmente, na década de 1870, quando foram adotados procedimentos assépticos para evitar a infecção por contato, que os serviços de cirurgia conseguiram atingir taxas de sucesso sem precedentes. 37Procedimentos utilizando soluções à base de cloro nas enfermarias obstétricas. 51 Figura 29 – Pavilhão para o serviço de cirurgia (1866-1867) construído no perímetro da Charité de Berlim. O sistema de ventilação na cobertura tornou-se um padrão nos edifícios hospitalares no período do Império Alemão, segundo Reich, litografia com data e autoria desconhecidas (ADAMS, 2011, p. 81) Em 1878, Robert Koch (1843-1902), fundador da infectologia, já tinha mencionado no seu livro Über die Aetologie der Wundinfections krankheiten (Sobre a Etimologia das Infecções Cirúrgicas) que eram as mãos dos médicos, quando examinavam e operavam, juntamente com a paramentação e o instrumental contaminados, que davam origem aos temíveis surtos de infecção cirúrgica nas enfermarias e não, como anteriormente suposto, os germes transportados pelo ar (a chamada infecção aérea). No final do século XIX, Koch e os seus alunos tinham encontrado as causas da maioria das infecções e conseguiram demonstrar quais as medidas de desinfecção necessárias para banir as temidas epidemias de infecção hospitalar. 52 Apesar das descobertas feitas pelos bacteriologistas, continuaram a ser edificados hospitais baseados numa implantação em pavilhões, principalmente na Alemanha, até à Primeira Guerra Mundial38. No entanto, estes hospitais descentralizados, com enfermarias de um único piso, tinham a vantagem de permitir aos doentes o acesso a elementos de tratamento naturais como o sol e o ar fresco. Este tipo de edificação já tinha mostrado benefícios positivos nos sanatórios onde eram tratados doentes com infecções febris e tuberculose. Ao aceitar o posto de diretor clínico do Hospital Eppendorf em Hamburgo (de estrutura pavilhonar) o Dr. Heinrich Curschmann (1846-191O) esperava conseguir resultados positivos, aplicando uma abordagem clínica holística no tratamento dos doentes internados (Fig. 30): Manter os agentes infecciosos afastados da ferida não é o único aspecto determinante para a cirurgia e para o doente internado, tendo outro fator mesma importância, ou seja, a preocupação com o comportamento geral do organismo tão substancialmente dependente do tipo de estadia. (ADAMS, 2008, p. 66) Durante o último quartel do século XIX até 1918, com o aparecimento de novos métodos cirúrgicos assépticos e antissépticos e o combate contra as doenças infecciosas através de soros terapêuticos (por exemplo, os casos de difteria) e a imunização profilática, abrem-se novas possibilidades e novos campos de ação. Consequentemente, os tradicionais serviços de cirurgia e medicina interna foram expandidos incluíndo novas subdisciplinas clínicas, tais como oftalmologia, ortopedia, pediatria, dermatologia, pneumologia, como serviços independentes. A radiologia foi introduzida como área inovadora em 1895, abrindo novos horizontes de diagnóstico e tratamento com a sua tecnologia de raio X e radioterapia. Estas novas disciplinas clínicas deram rapidamente origem aos seus próprios hospitais especializados. No início, estes novos hospitais eram financiados principalmente por fundações privadas ou associações sem fins lucrativos ou, então, eram os próprios médicos que abriam clínicas especializadas em oftalmologia ou ginecologia, bem como centros de 38Entre estes, incluem-se o Hospital Geral de Eppendorf em Hamburgo (1884-1888), com mais de sessenta edifícios individuais, o Hospital Rudolf Virchow em Berlim (1899-1906) e o Hospital Municipal Elisabeth em Aachen (1900-1908). 53 tratamento ortopédico. Em simultâneo, vai ganhando força a tendência, claramente adaptada no final do século XIX, para construir instituições psiquiátricas separadas dos Hospitais Gerais. Não foi apenas o avanço rápido da industrialização e da urbanização que alterou a vida e o meio envolvente dos cidadãos, foi também o sucesso não antecipado anteriormente da medicina clínica que, entre 1880 e 1990, aumentou, de modo contínuo, a expectativa média de vida dos 46 para os 76 anos. Além disso, na Alemanha, a introdução, pelo Chanceler Otto von Bismarck (1815-1895), de um seguro geral de saúde e de um sistema de segurança social facilitou a continuação do desenvolvimento das infraestruturas hospitalares a partir de 1883, tornando possível o acesso de todos os setores da população ao tratamento clínico. No domínio da cirurgia, os avanços dos métodos de operação e aplicação de curativos tinham, tal como acima mencionado, garantido taxas de recuperação inesperadas, principalmente no campo da cirurgia abdominal. A partir de 1880, condições tais como apendicites ou doenças da vesícula biliar podiam ser submetidas a tratamento cirúrgico quase sem risco. Isto também se aplicava às cesarianas ou a outras operações ginecológicas, uma vez que as temidas doenças puerperais tinham passado a ser controladas através da desinfecção e esterilização dos instrumentos e dos campos cirúrgicos. As batas brancas dos médicos e das enfermeiras, os blocos operatórios desinfetados, com equipamentos em vidro e aço de concepção especial, associados a normas internas de aplicação obrigatória para médicos e pessoal de enfermagem tinham tornado os hospitais em centros atraentes para a prestação de cuidados de saúde. Os hospitais municipais, juntamente com os florescentes hospitais universitários, que o Estado tinha passado a administrar a partir de 1900, com médicos e enfermeiras com formação específica, começavam a ganhar a confiança da população. As cirurgias eram cada vez melhor preparadas, tornando-se também mais eficazes, à medida que as técnicas melhoravam. 54 Sedimentava-se, definitivamente o conceito que intervenções cirúrgicas só podiam ser realizadas, de uma forma adequada, num estabelecimento médico hospitalar. (Fig. 31) Figura 30 – Ilustração com vista aérea do hospital municipal de Eppendorf, em Hamburgo, Alemanha. O Complexo projetado para tratamento de doentes em regime de internação era constituído por mais de 70 pavilhões térreos. O edifício frontal, único com mais pisos, foi construído para os serviços de oftalmologia e pediatria. (LAND, 2011, p. 147) Figura 31 – O cirurgião Ernst von Bergmann (1936-1907), entre os seus assistentes, no bloco operatório do serviço de cirurgia da Universidade de Berlim. Segura uma serra cirúrgica na mão direita, para iniciar uma amputação de braço. A paramentação branca passou a ser usada de 1886 em diante. O doente está para ser anestesiado com uma máscara de éter. Gravura sobre madeira, baseada num desenho de Werner Zehme, 1891. (LAND, 2011, p. 148) 55 CAPÍTULO II Diamantes e Tuberculose Por volta de 1900 os trabalhadores do diamante dos Países Baixos39 tinham por hábito beber aos domingos pela manhã com o dinheiro obtido pela venda das sobras dos minúsculos tubos de cobre utilizados no processo de polimento e lapidação. (Fig. 32) Figura 32– Trabalhador operando o cilindro de lapidação de diamantes, 1920. (Fotografia de autoria desconhecida, International Institute for Social History - IISG, Amsterdã, Zonnestraal archive pp. 016017, 2010) 39Os Países Baixos são frequentemente chamados de Holanda, o que é tecnicamente impreciso, já que as Holandas do Norte e do Sul são duas das doze províncias que compõe a nação. O gentílico holandês é o normalmente utilizado para se referir ao povo, à língua e a qualquer coisa que pertença aos Países Baixos, embora mantenha a ambiguidade. Neerlandês é o gentílico não ambíguo, alternativo. 56 Em 1905 Jan van Zutphen (1863-1958), capataz de minas e importante dirigente do Diamantwerkersbond,40 sensibilizado com o grave problema da silicose e da tuberculose que afetava especialmente os trabalhadores do diamante, os convence a doar o dinheiro que seria gasto com a bebida para um fundo de apoio aos doentes. (MOLEMA, 1996, p. 68) No século XIX, a tuberculose era um grande receio para a população holandesa. A peste branca41 ou peste cinzenta42 representava um quarto entre as causas de morte, e sempre que havia um surto, era considerada uma doença fatal. Embora a princípio todos pudessem contrair tuberculose, ela tinha maior incidência entre os pobres, porque a resistência física era um fator crucial já que muitas pessoas com boas condições físicas sequer chegavam a saber que tinham contraído o bacilo, pois naturalmente desenvolviam uma imunidade adequada à doença. Porém entre todos existia o medo de pegar a "consunção", "moléstia-magra", "tísica" ou "TB". O tratamento da tuberculose resultava num longo e prolongado período de isolamento social que tinha um efeito desastroso nos lares e famílias. O tuberculoso era evitado assim como a peste, pelo risco de contágio por inalação. O nome "moléstia-magra" é um reflexo dos efeitos da doença para o paciente, que praticamente definhava. (Fig. 33) Existem muitas variações da doença, a mais comum é a tuberculose pulmonar43, mas outros órgãos também podem ser infectados, como os gânglios linfáticos44 e os rins. A tuberculose espinhal45 pode resultar em uma corcunda, e era muito comum nos Países Baixos pré-guerra. (Fig. 34) É uma enfermidade muito antiga, há relatos da sua ocorrência no período Neolítico, no Egito arcaico e nos povos pré-colombianos. A colonização europeia favoreceu a disseminação da doença, desde a zona ártica, até às ilhas do Pacífico sul. Atingiu níveis alarmantes na segunda metade do século XIX, mas 40Sindicato dos trabalhadores do diamante de Amsterdã. Nome abreviado de Algameene Nederlandsche Diamantbewerkers Bond. 41 Denominação comparativa a peste negra, em razão da enorme quantidade de óbitos. 42Era assim conhecida em função da cor pálida acinzentada dos doentes. 43 Causada pelo mycobacterium tuberculosis. 44 Causadas pelo mycobacterium bovis. 45 Mal de Pott. 57 desde sempre foi bastante temida, a ponto de Hipócrates, contrariando todos os seus preceitos, ter recomendado que os médicos não visitassem pacientes acometidos com tal enfermidade. (PICAZO, 2011, p. 66) Figura 33- O nome "moléstia-magra" é um reflexo dos efeitos da doença para o paciente, que praticamente definhava (http://kvond.wordpress.com/2009/10/22/was-tuberculosis-the-condition-ofspinozas-emendation-of-the-intellect/, acessado em: 24/07/13). Figura 34– A tuberculose espinhal pode resultar em uma corcunda, e era muito comum nos Países Baixos pré-guerra tanto em adultos como crianças. Pôster do Centro de Prevenção de Tuberculose de Amsterdã 1899 (autoria desconhecida, acervo do Beatrixoord Tuberculosis Museum, Appelscha). 58 A incidência da tuberculose aumentou consideravelmente nas sociedades europeias durante a Revolução Industrial, em razão das péssimas condições de moradia, insalubridade no trabalho, jornadas excessivas e baixos salários. O momento de maior mortalidade ocasionada pela doença foi na segunda metade do século XIX e, a partir daquele período, foi diminuindo paulatinamente. Deixou de ser uma enfermidade temida quando, em meados da década de 1940, o australiano Howard W. Florey e o ucraniano Ernest B. Chain conseguiram converter a penicilina, descoberta por Alexander Fleming, num medicamento apto ao tratamento. Apesar de o tratamento ter grave efeito colateral nos ouvidos, rompeu com o mito da doença incurável. As demais causas do descenso da doença sempre foram objeto de debate na literatura médica, mas há o consenso de que os principais fatores devem-se à melhoria na alimentação e higiene pessoal da população. A tuberculose é uma das doenças mais associadas à pobreza e péssimas condições de vida. Um dos principais protagonistas na luta contra a tuberculose nos princípios do século XIX foi o Dr. Sir Robert Philip, que obteve o título de médico em 1882, precisamente no mesmo ano em que Robert Koch anunciou o descobrimento do bacilo da tuberculose. Philip estudou e fez residência médica no Hospital Real de Edimburgo, em seguida exerceu a medicina e se aperfeiçoou em Leipzig e Viena, onde teve o primeiro contato com o bacilo da tuberculose, entusiasmando-se a tal ponto que abandonou a ginecologia. Em 1885 é admitido no Dispensário Médico de Edimburgo, um centro médico ultrapassado e com condutas inadequadas. Propôs, inutilmente, aproveitando as comemorações do jubileu da rainha Vitória, que se construísse um hospital especializado no tratamento da tuberculose e se colocasse em prática protocolos médicos específicos para o tratamento da doença tal qual o método holístico aplicado pelo Dr. Heinrich Curschmann no Hospital Eppendorf em Hamburgo. 46 Apesar do desinteresse do poder público, mas com algum apoio privado, instalou em 1887 um ambulatório no piso superior do número 13 da Bank 46 Conforme capítulo I, p. 52 59 Street, no centro de Edimburgo. O Objetivo era ambicioso já que não se limitava exclusivamente ao exame e tratamento do doente, mas incluía a investigação socioeconômica do paciente e do entorno, dando instruções precisas de como seriam os cuidados dele e dos familiares, doação de medicamentos e mesmo de comida, se necessário. O tratamento em domicílio também era parte importante do programa. Apesar do esgotamento dos fundos e doações, o sucesso da conduta terapêutica foi enorme, e o dispensário rapidamente ficou pequeno para a quantidade de doentes que o procurava. Como forma de aliviar as salas de espera superlotadas, e acreditando que o segredo daquele sucesso estava na melhoria dos procedimentos domésticos, o Dr. Philip desenvolveu outras condutas baseadas no repouso e no trabalho e o dispensário foi transferido para novo endereço47. A doação em 1894 de uma propriedade rural48, com uma grande sede, permitiu que finalmente fosse posto em prática o plano de fundação de um hospital especializado em tuberculose, numa área descentralizada de Edimburgo. A propriedade de sete acres possuía esplendidos bosques e a condição ideal para os pacientes. (Fig. 35 e 36) Segundo Molema (1996, p. 83) o hospital, batizado de Victoria Hospital for Consumption, era assim composto49: porão: alguns pequenos escritórios e a sala das enfermeiras térreo: duas enfermarias masculinas com três camas cada, sala de estar, dispensário, dormitório médico e banheiro. superior: quatro enfermarias femininas com duas camas cada, sala de estar, dormitório da enfermeira supervisora e banheiro. sótão: quartos para as enfermeiras e auxiliares. Em 1903, quando o rei Eduardo tornou-se o patrono do hospital, foram construídos mais três pavilhões e uma lavanderia. Foram tratados no ano de 1905 cerca de 70 pacientes e em 1907 construíram-se mais dois pavilhões e um edifício administrativo. (Fig. 37 e 38) O dispensário mudou-se em 1891 para a Lauriston Place e em 1911 para a Spittal Street. http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acesso em 01/08/13. 48 Craigleith House. O atual Royal Victoria Hospital originalmente começou com o arrendamento de Craigleith House, Craigleith Road, Edimburgo, em 1894, pelo Dr. Robert William Philip. Picazo fala em doação mas outras fontes falam em arrendamento. 49 Não se encontrou na bibliografia pesquisada plantas ou desenhos. 47 60 Figura 35– Craigleith era uma casa suficiente espaçosa para permitir que finalmente fosse posto em prática o plano de fundação de um hospital especializado em tuberculose, foto de autoria desconhecida. (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) Figura 36- Numa área descentralizada de Edimburgo, a propriedade de sete acres possuía esplendidos bosques e a condição ideal para a implantação de uma colônia para tratamento dos pacientes. (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) 61 Figura 37- Em 1903, quando o rei Eduardo tornou-se o patrono do hospital, foram construídos mais três pavilhões e uma lavanderia (em verde). (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) Figura 38- Em 1907 construíram-se mais dois pavilhões e um edifício administrativo. (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) 62 Dr. Philip não usava somente ar puro no tratamento da tuberculose, aplicava também os princípios fundamentais do repouso e do movimento. Considerava as lesões pulmonares como parte da enfermidade e acreditava que o agravamento da doença não era causado pelas lesões e sim por um processo de intoxicação contínuo. Prescrevia repouso enquanto o processo da tuberculose ainda estava ativo e existia a evidência de doença sistêmica, porém quando a lesão havia sido detida e a correspondente produção de toxinas era menos abundante, os músculos distróficos teriam que se recuperar fisiologicamente mediante o movimento natural. Prescrevia então uma atividade regular por meio da qual se conseguiria a regeneração. A atividade regular, no método de Philip, era definida com exatidão caso a caso, e seria mais eficaz se ocorresse num hospital rural, quer pelo isolamento, quer pela possibilidade dos doentes serem monitorados por especialistas. O plano de tratamento fisico era bem estruturado. Depois da admissão inicial e de uma etapa de repouso absoluto, os pacientes eram classificados segundo o grau de atividades fisicas que poderiam desenvolver e essas atividades estavam sempre vinculadas à manutenção da instituição. Os pacientes dedicavam-se às atividades de costura, copa e cozinha, plantio e jardinagem. Em 1904 o Royal Victoria havia se convertido, definitivamente, numa colônia de tratamento de tuberculosos. A maior parte dos empregados do hospital era de ex-pacientes que obtinham alí uma pequena renda, já que o tempo de recuperação após a alta hospitalar os impedia de retomar os seus empregos anteriores. Um em cada quatro pacientes requeria acompanhamento clínico durante algum tempo após a alta hospitalar. O Dr. Philip imaginava, para essas pessoas, organizar uma colônia rural. Era uma forma de liberar vagas no hospital sempre lotado e desonerar o corpo clínico. A colônia supriria a necessidade de uma etapa de transição, antes do paciente reintegrar-se à sociedade. A colônia rural se materializou em 1909 em Springfield, ao sul de Edimburgo, completando o ciclo conceitual de tratamento desenvolvido pelo Dr. Philip. 63 O êxito do Plano de Philip de Edimburgo, como passou a ser chamado, foi tal que uma comissão médica formada em 1912 para investigar sobre a prevenção e a cura da tuberculose, recomendou a criação de uma rede de estabelecimentos similares por todo o Reino Unido. Em 1916 se criou o Royal Victoria Hospital Tuberculosis Trust, com uma significativa dotação orçamentária, que permitiu a aquisição de uma pequena propriedade em Southfield, onde Philip organizou um sanatório escola, voltado ao ensino de medicina e pesquisa especilizadas em tuberculose. (Fig. 39) Dentre os estudos mais importantes do sanatório escola, destacava-se uma série de medidas profiláticas para a produção e distribuição do leite bovino, que chegou a ser conhecido como sepúlcro branco, pois naquela época mais da metade do rebanho era portador de tuberculose e pelo menos 2% depositavam bacilos no leite. (TAMAYO, 1996, p. 37) A metodologia desenvolvida em Edimburgo no controle e tratamento da tuberculose atraiu a atenção de toda a Europa. O professor Albert Calmette, do Instituto Pasteur de Lille, aplicou estes princípios na França em 1900 e fundou o dispensário antituberculose Émile Roux em 1904. Figura 39- Em 1916 se criou o Royal Victoria Hospital Tuberculosis Trust, que permitiu a aquisição de uma pequena propriedade em Southfield, onde Dr. Philip organizou um sanatório escola, voltado ao ensino de medicina e pesquisa especializadas em tuberculose. (http://flickriver.com /photos/23351536 @N07/2245387952/, acessado em 05/05/2013) 64 Na Alemanha as condutas eram diferentes, as clínicas tinham caráter exclusivamente ambulatorial, restringindo a sua atividade ao tratamento médico do doente, porém logo surgiram correntes que reconheciam o Método de Edimburgo como mais eficiente. Em 1912 o rei da Itália, Vitor Emanuel III (18691947), recebeu em audiência privada o próprio Philip de Edimburgo e discutiu com ele um plano coordenado para a erradicação da tuberculose. Na Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, França, Suíça e Bélgica, sanatórios especializados onde pacientes de tuberculose podiam se tratar com supervisão médica foram construídos no século XIX. Nos Países Baixos, só na virada do século que foram lançadas iniciativas desse tipo. (Fig. 40) No começo, os sanatórios holandeses eram voltados para os pacientes mais ricos, como em Putten no Veluwe, região central dos Países Baixos (1899). Isso mudou depois que a Associação para a Organização e Operação de Sanatórios Públicos para Pacientes com Doenças do Peito nos Países Baixos50 foi criada, em 1897, seguida da Associação Central para a Prevenção da Tuberculose51, em 1903. Com apoio médico dado por essas associações, alguns sanatórios foram fundados no início do século XX, a maioria pela costa e nas áreas de floresta de Gelderland e Overijssel. A organização política dos Países Baixos, na época, era a partir de linhas religiosas e ideológicas, e por isso os sanatórios foram organizados do mesmo jeito. Eles foram fundados por diversas empresas locais, comitês, filantropos, e fundações de caridade. Figura 40– Sanatório municipal para doentes de tuberculose, Chicago, EUA; W. A. Otis & Edward H. Clark Architects, 1909. Provavelmente o mesmo que influenciou Duiker. (MEURS, 2010, p. 065) 50 Vereeniging tot oprichting en exploitatie van Volkssanatoria voor borstlijders in Nederland. 51 Centrale Vereeniging tot Bestrijding der Tuberculose. 65 As iniciativas governamentais eram muito atrasadas e sempre defasadas em relação à demanda. Os sanatórios eram geralmente adaptados em chácaras e propriedades rurais, sendo ampliados paulatinamente com a construção de pavilhões adicionais de madeira, casas e chalés. Algumas dessas construções apresentavam uma nova invenção - uma base em formato circular - o que permitia que elas fossem giradas para seguir o sol. Como foi o caso do sanatório Hoog Laren em Blaricum (1903) onde, devido à sua acessibilidade e caráter geral, a maioria dos pacientes de tuberculose da classe operária se tratava. Também havia ali um centro de tratamento infantil. (Fig. 41) Ao se interpretarem as mensagens nos murais, pôsteres e folhetos das novas clínicas de prevenção da tuberculose, conclui-se que era atribuído um efeito quase místico aos poderes regenerativos do sol. (Fig. 42 e 43) Para pacientes acostumados com quartos escuros, essa mensagem tinha um apelo natural. Eles vivenciavam o tratamento na luz e nos ambientes ensolarados dos pavilhões como um caminho para uma vida mais sadia e como uma libertação, apesar do regime rígido dos sanatórios. Figura 41- Sanatório Hoog Laren em Blaricum, Países Baixos (1903), ala infantil, crianças desenvolvendo atividades didáticas e, simultaneamente em seção de Helioterapia, fotografia de autoria desconhecida. (Beatrixoord Tuberculosis Museum, Appelscha, 2010) 66 Figura 42– As mensagens nos murais, pôsteres e folhetos das clínicas de prevenção da tuberculose, atribuíam um efeito quase místico aos poderes regenerativos do sol. É o tempo da Helioterapia. Pôster nos centros de prevenção contra a tuberculose, autor desconhecido (MEURS, 2010, p. 054) Figura 43– Sábado, 28 de Setembro, dia de conscientização dos fracos sobre a força do raio de sol contra a tuberculose! Pôster de Albert Hahn Jr., 1930 (MEURS, 2010, p. 054, tradução do autor). 67 Não foi por acaso que os trabalhadores do diamante de Amsterdã viabilizaram com tanto empenho e entusiasmo o fundo de apoio aos trabalhadores com tuberculose. A associação era fortemente organizada, graças em grande parte ao lapidador aposentado Henri Polak. No final do século XIX Polak estudou os modelos de organização dos sindicatos ingleses, e traduziu o livro The History of Trade Unionism, de Beatrice e Sidney Webb. A principal premissa e força dos movimentos de trabalhadores era o poder de associação. Os objetivos eram pragmáticos e visavam a melhoraria gradual nas condições de trabalho. A forma de se atingir esses objetivos eram acordos coletivos, a organização de um fundo de luta e apoio à saúde dos trabalhadores, uma taxa de afiliação e uma liderança forte. 1996, p. 81) (MOLEMA, (Fig. 44) A introdução desse reformismo social nos Países Baixos certamente não se deu sem obstáculos. A maioria dos sindicatos era afiliada à Secretaria Nacional de Trabalho52, sob a liderança de Domela Nieuwenhuis, que impunha um rumo sindical mais discreto, controlado pelo Estado, menos reivindicatório e mais timorato. Face às discordâncias ideológicas, em 1894 o ideólogo Polak e seu general de campo van Zutphen conseguiram criar uma associação nova e independente para os trabalhadores do diamante, denominada incialmente Algameene Nederlandsche Diamantbewerkers Bond53. Figura 44– Capa da edição original (http://covers.openlibrary.org/b/id/6651174-M.jpg, acessado em: 19/07/2013). 52Nationaal 53 Arbeids Secretariaat, sigla NAS. Sigla ANDB. 68 A confiança entre os trabalhadores do diamante e a sua crescente independência, levaram os dirigentes a encomendar a Berlage, em 1900, o projeto para a construção de sede própria na Plantage Franschelaan54, em Amsterdã, à altura da importância do sindicato. (MEURS, 2010, p. 51) (Fig. 45) As aspirações da ANDB eram mais ambiciosas do que a luta por melhores salários. Foram contratados médicos, organizados sistemas de seguro saúde e seguro de vida, montadas uma biblioteca, uma gráfica e lançado um jornal semanal. O objetivo era conseguir uma ampla emancipação sociocultural dos trabalhadores do diamante. Seria difícil subestimar a influência da ANDB na Amsterdã do início do século XX, principalmente porque uma em cada cinco pessoas na cidade estava envolvida de alguma forma com a indústria e o comércio dos diamantes. Figura 45– Projeto de H. P. Berlage (1856-1934) para a sede da ANDB, localizada atualmente na Henri Polaklaan 9, Amsterdã. (Foto do autor, 2004) 54 Atualmente Henri Polaklaan 9 69 Para estruturar o sistema de ajuda aos operários tuberculosos, o Diamantwerkersbond adotou na íntegra, sob a supervisão do médico J. L. van Lier, o Plano do Dr. Philip de Edimburgo, pois os resultados alcançados pelo sistema público de seguridade social nos Países Baixos eram sofríveis e ofereciam o tratamento hospitalar apenas até a regressão da doença, não garantindo nenhum apoio ao enfermo ou para a sua família após isso. Para viabilizar o sistema da ANDB foi criado um fundo específico denominado Koperen Stelen Fonds55. Jan van Zutphen, organizador astuto, encomendou para as primeiras doações pequenas latas para a coleta de dinheiro, rotuladas: Fundo para a renovação da vitalidade dos trabalhadores do diamante. (MEURS, 2010, p. 51, tradução do autor) As latas foram distribuídas em todas as setenta oficinas de lapidação em Amsterdã. A estratégia deu tão certo que no primeiro ano a receita excedeu os dez mil florins, mais do que todo o orçamento nacional reservado para o tratamento da tuberculose daquele ano. (Fig. 46) Figura 46– Jan van Zutphen, encomendou para as primeiras doações pequenas latas para a coleta de dinheiro. Museu de Amsterdã. (Acervo próprio) 55 Sigla KSF 70 Num primeiro momento os valores obtidos foram destinados ao período de convalescença de cerca de dez trabalhadores, mas com o crescimento da receita e do nível de produção da indústria do diamante, chegava-se a atender de 40 a 125 enfermos por ano, menos trabalho na indústria de diamantes significava menos cobre para vender. Numa tentativa de diminuir a sua dependência da indústria do diamante, a associação criou uma fábrica de sabão chamada Het Lampje, cuja marca uma lamparina, era o próprio emblema do KSF. Enquanto esse negócio ainda não era muito lucrativo, outra ideia mais rentável apareceu. Sabia-se que o resíduo da lapidação do diamante, uma espécie de pó chamado de boart, continha minúsculas partículas de diamante. Depois de alguns fracassos, Henri ter Meulen, químico da Universidade de Delft, conseguiu extrair pó de diamante puro dos resíduos da lapidação, e isso se tornou um rendimento muito lucrativo. A terceira iniciativa foi a criação de uma lavanderia em Diemen, onde as roupas de trabalho dos lapidadores era lavada gratuitamente. O volume de pó de diamante recuperado da água da lavagem das roupas era tal, que os rendimentos do KSF aumentaram dez vezes no início da década de 20, levando a ANDB a organizar uma fundação para gerir a construção de um complexo próprio para o tratamento da tuberculose. Essa fundação recebeu no nome de Zonnestraal – Raio de Sol. (MILELLI, 1978, p. 6) (Fig. 47) Figura 47– Jan van Zutphen, no centro da foto, com os demais fundadores do KSF, fazendo a contagem do dinheiro arrecadado em doações, 1905, autor desconhecido. (MEURS, 2010, p. 52) 71 CAPÍTULO III Johannes Duiker (1890 – 1935) Mesmo com toda a contribuição holandesa para a arquitetura moderna resultante da atuação de grupos como o De Stijl, que introduziu uma nova consciência do espaço-tempo como base para a expressão da arquitetura; o Nieuwe Zakelijkheid56 (Nova Objetividade) a corrente racionalista mais intransigente57; e o Opbouw de Rotterdã, cujos membros se autodenominavam funcionalistas antiestéticos58; a independência e o caráter único de Joannes Duiker é notável por vários motivos. (MOLEMA, 1996, p. 6) Em primeiro lugar, manteve uma atitude geral moderada que explica principalmente sua rejeição desde o início à plástica enfática e exaltada da Amsterdam School. Duiker não se deixou contaminar pela sintaxe do tijolo tão influente através dessa “berlagiana”, escola em moda nos anos de sua formação, quando então rompeu com a figura paterna de Berlage e participou do debate racionalista, mas não assumiu nem os extremismos verbais nem as abstrações do grupo De Stijl e tampouco a acepção rigorosa da Nova Objetividade, da qual não compartilhou o inevitável minimalismo expressivo, embora seja esta a área onde acabaria por gravitar. 56 A pesquisa adotará o termo em português, Nova Objetividade. 57Publicou, em 1927, a sua revista "De 8" da qual Johannes Duiker tornou-se editor em 1932. (O programa-manifesto de "De 8" é traduzido em FANELLI, p. 39). 58 Stam, Merkelbach, Van Tijen, Van Loghem, Van der Vlugt, Van den Broek, e outros. 72 Em segundo lugar, foi capaz de deixar como legado uma obra de caráter próprio como arquiteto de vanguarda, sem a necessidade de estabelecer um vínculo ou dependência com outros contemporâneos. No grande debate da arquitetura holandesa da época, Duiker permaneceu por vários anos um personagem substancialmente isolado, que se revelou relutante em agregar-se a grupos ou escolas bem definidas, embora tivesse frequentado os ambientes e se alinhado claramente com os setores mais avançados. A adesão e identificação com um grupo o levariam a aceitar preventivamente regras e comportamentos que o seu caráter, autocrítico e independente, preferia questionar livremente. Em terceiro lugar e, muito relevante, é que Duiker se manteve consideravelmente livre do Neoplasticismo holandês, algo raro na sua geração de arquitetos fortemente influenciados, de uma forma ou de outra, por Robert van’t Hoff, J. J. P. Oud, van Eesteren, Jan Wils, destacando-se os mais influentes, além do próprio Theo van Doesburg. Durante toda sua curta carreira, que se desenvolve de 1913, ano de sua formatura em Delft, até 1935 quando gravemente doente morre59, Duiker parece estar sempre numa busca onde se contrastam diferentes tensões. Estas são expressas em uma série de tentativas, onde gradualmente se consomem estímulos do ensino de Berlage60; sua bagagem acadêmica ou uma leitura apressada da mensagem wrightiana; ecos da decomposição neoplástica; do construtivismo61 e da Nova Objetividade. Influências que não estruturam harmoniosamente sua obra, tornando problemático um exato posicionamento estilístico62 da mesma. (MILELLI, 1978, P. 24) Morre aos 45 anos no dia 23/02/1935. refere-se à fase inicial da formação cultural de Duiker, chamando a atenção para os escritos de Hendrick Petrus Berlage: Een drietal Lezingen em Amerika,Rotterdam, 1912; Amerikaansche Reisherinnirigen, Rotterdam, 1913 e um artigo com o mesmo título na revista De Beweging,Amsterdã, 1912. (Tradução do autor) 61A experiência de artistas e arquitetos construtivistas foi reconhecida, no entanto, só depois de uma década, graças à obra de arte propaganda que fez, principalmente EI Lissitzky e que foi amplamente divulgada nos Países Baixos. 62 Entendido nesse caso pela acepção comum da palavra Estilística: Tratado das diferentes formas ou espécies de estilo e dos preceitos concernentes a cada uma. (PRIBERAM, acessado em 31/07/13) 59 60MILELLI (1978, p. 81), 73 Duiker, além da formação acadêmica sólida, emprestou ao seu processo projetual uma visão pessoal intimista, de grandes preocupações com as questões éticas e com o bem estar social, que não podem ser percebidas apenas pela abordagem técnica e cultural. É necessário entender a conduta pessoal, além da profissional, rompendo com o discurso comum entre os arquitetos ao falar apenas deles mesmos e das suas obras. (MILELLI, 1978, p. 85) Essa autonomia e descolamento de Duiker não apenas em relação ao Neoplasticismo holandês, mas também com referência aos movimentos elementaristas da época e ao próprio conceito de objetividade de Stam, podem ser sustentados principalmente por outras influências. Ao final de 1921, ao se reatarem as relações russo-germânicas, El Lissitzky e Ilya Ehrenburg chegam a Berlim como adidos culturais da União Soviética, com a tarefa imediata de organizar uma exposição oficial de arte vanguardista russa. Em Maio de 1922 publicaram o primeiro número trilíngue (russo, alemão e francês) de uma revista de arte – Veshch/Gegenstand/Objet – que ostentava na capa63 duas imagens significativas: uma locomotiva equipada com um geométrico limpa neve e os dois ícones básicos do suprematismo, o círculo e o quadrado pretos. Dessa forma Veshch invocava o objeto técnico sachlich, é o mundo não objetivo suprematista. (FRAMPTON, 1994, p. 133) (Fig. 48) É importante relembrar que El Lissitzky, um dos discípulos mais próximos e alinhados aos conceitos fundamentais de Malevich, levava à frente a ideia do esgotamento da arte e a necessária passagem do universo da pintura para a arquitetura. Para Malevich, "no Suprematismo, a pintura está fora de questão; a pintura se tornou obsoleta, e mesmo o pintor é uma noção preconcebida do passado". (COLIN, 2009) Malevich e seu discípulo, El Lissitzky, são os maiores empreendedores dessa transposição no âmbito do Suprematismo e, de forma diversa e paralela ao movimento elementarista holandês (Neoplasticismo) estabelecem, segundo Colin (2009), três conceitos essenciais: 63Pode haver alguma imprecisão na citação de Frampton se o número da capa da revista Veshch/Gegenstand/Objet, onde aparece a locomotiva, seria mesmo a 1 ou de fato a número 3. 74 Figura 48– Capas da revistaVeshch/Gegenstand/Objet, editadas por El Lissitzky e Ilya Ehrenburg, http://www.russianartandbooks.com/cgi-bin/russianart/03034R; acesso 03/02/2013 1 - O anamorfismo64. As figuras suprematistas não são sempre figuras geométricas puras, mas alteradas em parte ou no todo. Um quadrado, por exemplo, na maioria das vezes tem pequenas, quase imperceptíveis distorções em suas arestas e ângulos, mas que são suficientes para se perceber que foram marcados de forma livre e sem preocupação de uma representação geométrica rigorosa, diferente das figuras dos quadros de Mondrian e Theo van Doesburg, onde se nota exatamente a preocupação contrária, uma estrita obediência aos ângulos retos e arestas iguais. 2 - A espacialidade. Diferentemente dos quadros neoplasticistas, sempre representando figuras aderidas a um plano, os quadros suprematistas representam figuras no espaço. Não há escala baseada em figuras objetivas, porém interfere-se alguma perspectiva pela sobreposição de elementos, pela sua visibilidade e até, em alguns casos, pela gradação de cores. 3 - A desarticulação. Não existe, como no caso do Neoplasticismo, um sistema rígido de eixos vertical-horizontal, e nem outros ângulos orientando a composição. Os elementos como que flutuam no espaço, atribuindo às pinturas 64 Do grego aná para cima, por toda a parte de, através + grego morphê, -ês, forma + -ismo. (http://www.priberam.pt/dlpo/, acessado em: 12/04/13). 75 um caráter "atemporal e cósmico", como diria Malevich, "irradiando energia espacial". (COLQUHOUN, 2005, p. 122) Em 1923, El Lissitzky assume uma posição de destaque ao editar, com Hans Richter e Werner Gräff, o primeiro número da revista berlinense G (de Gestaltung – forma) e expor suas ideias arquitetônicas na instalação Prounenraum para a Grande Exposição de Arte de Berlim (Grosse Berliner Kunstausstellung). Com a invenção do termo65 “Proun” Lissitzky, valendo-se da citação de Garrido, (2009, p. 122) evoca uma nova posição para a arte situada em algum lugar entre a pintura e a arquitetura. (Fig. 49, 50 e 51) [...] O espaço é concebido com formas e materiais elementares e com superfícies que se estendem sem relevos sobre a parede (cor) e superfícies que são perpendiculares à parede (Madeira)… o equilíbrio que procuro obter nesse espaço deve ser elementar e capaz de mudar para que não possa ser perturbado por um telefone ou uma peça de mobiliário. O espaço está ali para o ser humano – e não o ser humano para o espaço [...] (tradução do autor) Colin(2009, p.), refere-se aos Proun, segundo Sophie Lissitzky-Kuppers: [...] os Proun, em sua maioria pinturas, diferentemente das pinturas suprematistas de Malevich, tinham, além de sua ligação com o ‘mundo não objetivo’, uma clara intenção de representação de objetos tridimensionais e de uma passagem para o mundo das formas e de elementos arquitetônicos, mas mantendo, no mais, as características suprematistas [...] Figura 49– Capas da revista berlinenseG, de Gestaltung, editadas por El Lissitzky e Ilya Ehrenburg. (http://cidesignmuseum.org/en/yellowView.aspx?ActiveID=145; acessado em: 19/06/2013) Lissitzky nunca definiu claramente o termo, mas possivelmente deriva de Pro-Unovis; Frampton (1997, se aproxima do termo com a seguinte tradução: escola da nova arte; Colquhoun (2005, p. 122) define como: Projeto para a afirmação do novo. 65 p. 133) 76 Figura 50– Instalação Prounenraum para a Grande Exposição de Arte de Berlim (Grosse Berliner Kunstausstellung) – 1924 (http://www.moma.org/explore/multimedia/audios/244/2439; acessado em: 24/07/2013) Figura 51 – Proun, El Lissitzky, The New Man (Neuer) from Figurines: The Three-Dimensional Design of the Electro-Mechanical. (http://www.moma.org/collection/object.php?object_id=88312; acessado em: 05/05/2013) 77 Sob o ponto de vista de Colin, (2009) no sentido espiritual, a pintura e a arquitetura suprematista são a mesma coisa. Às vezes o nascimento da arquitetura suprematista está ligado à tentativa de transferir o Suprematismo pictórico para a axonometria. Eis como nasceram os Prouns. Mas Prouns não são arquiteturas suprematistas. Não completamente. Malevich não estava plenamente convencido de que os Prouns eram o fim da linha na busca da arquitetura e revelou disposição de levar suas ideias para esta arte e fazer do Suprematismo "a base de um estilo geral para a época". (COLIN, 2009) A partir de 1923, começa a trabalhar com objetos tridimensionais no Instituto Ginkhut, em Leningrado. Os primeiros Planits, desenhos axonométricos de elementos suprematistas flutuando no espaço (Fig. 52), e os primeiros Architektons, maquetes arquitetônicas compostas com elementos suprematistas, foram exibidos em maio de 1924 numa exposição no Ginkhut e em março de 1926 na Exposição Internacional de Arquitetura Moderna em Varsóvia.66 Figura 52– Malevich – Planits. (http://en.wahooart.com/@@/8DP8WM-Kazimir-Severinovich-MalevichFuture-Planits-for-Leningrad.-The-Pilot's-Planit, acessado em 24/07/13) 66 Outra experiência relevante, em paralelo com Malevich e Lissitzky, são os trabalhos de Iakov Chernikhov. Indica-se como referência: Architectural Design volume 59, nº 7/8, 1989, Russian Constructivism & Iakov Chernikhov. 78 Os Architektons consistiam em composições de figuras estereométricas, cubos, prismas e cilindros, feitos ou revestidos com massa na cor branca. Malevich tentava dar-lhes um caráter não objetivo e sem função, vendo a arquitetura simplesmente como uma forma artística, em direta oposição ao caráter utilitário dos construtivistas soviéticos. Não se pode inferir a escala, e diferentemente das pinturas suprematistas, os Architektons mostram uma organização ortogonal implícita e mesmo alguma simetria. (Fig. 53) A justaposição incongruente de elementos abstratos ou não objetivos com formas empíricas de engenharia caracterizaria a obra de Lissitzky até princípios dos anos 30. Figura 53– Kazimir Malevich, Architekton Gota (Arkitekton Gota), 1923, plástico, 85.3 x 56 x 52.5 cm. (Russian State Museum, St. Petersburg, Exposição ArchiSculpture - Guggenheim Bilbao – Bilbao, Espanha – 28/10/2005 a 19/02/2006) 79 Em 1922 o arquiteto holandês Mart Stam, na época com vinte e três anos, começou a trabalhar em Berlim com Max Taut (irmão mais novo de Bruno Taut) e de forma independente apresentou num concurso um projeto para um prédio de escritórios em Königsberg, nessa ocasião conheceu Lissitzky e, durante o restante de sua estada em Berlim, mantiveram estreito contato. Em 1923 Lissitzky faz dois projetos para o bloco de escritórios suspensos de Moscou (Wolkenbügel), um individualmente e outro em parceria com Stam. No mesmo ano contrai tuberculose e, acompanhado por Stam, transfere-se para Zurique. (FRAMPTON, 1994, p. 134) (Fig. 54) O ano 1925 foi notável. Sob a orientação de Lissitzky forma-se em Basiléia o grupo ABC67. O principal objetivo do grupo era projetar, segundo critérios científicos, edifícios voltados às necessidades sociais. O grupo começou a propagar as suas ideias editando a revista ABC68. O primeiro número continha um ensaio de Stam intitulado “Desenho Coletivo” (Kollektive Gestaltung) e o texto original de Lissitzky “Elemento e Invenção” (Element und Erfindung) enfatizando a sua síntese na estrutura funcional com elementos abstratos. (Fig. 55) Figura 54– Escritórios suspensos em Moscou / Wolkenbügel.(http://terraincritical.wordpress.com /2010/10/29/a-modernist-architectural-and-aesthetic-theory-database/; acessado em: 24/07/13) Tendo como principais seguidores os suíços Emil Roth, Hans Schimidt, Hannes Meyer e Hans Wittwer 67 68 ABC: Beiträge zum Bauen, editada por Stam, Schmidt e Lissitzky, em colaboração com Roth. 80 Figura 55– Revista ABC - Beiträge zum Bauen. (http://www.buch-antiquariat.ch/de/deT01/sa/57113/; acessado em: 24/07/13) Pouco depois o grupo resumiria o seu desagrado publicando a “equação”: construção + peso = monumentalidade Em Basileia, 1926, com a publicação do projeto de Hannes Meyer para a Petersschule (Fig. 56 e 57), o grupo ABC cristalizou seu programa funcionalista e “antimonumental”. O memorial de Meyer revela a preocupação com os cálculos exatos e a coerência social da obra. (FRAMPTON, KENNETH, 1994, p. 134) 81 Segundo Frampton (1994, p. 135) , a estrutura “construtivista” em aço relembra um projeto dos Vkhutemas soviéticos69 para um restaurante suspenso, publicado por Stam na revista ABC em 1924. As janelas de aço, as portas de alumínio, os pisos de borracha e o revestimento com placas de cimento amianto, anteciparam as propostas audaciosas para o projeto apresentado no concurso da Sociedade das Nações em 1927. Figura 56– Revista ABC - Beiträge zum Bauen, projeto de Hannes Meyer para a Petersschule, Basiléia,1926.(http://digitalgallery.nypl.org/nypldigital/dgkeysearchdetail.cfm?trg=1&strucID=1072040 &imageID=1515916&parent_id=1058763&word=&snum=&s=¬word=&d=&c=&f=&k=0&sScope=& sLevel=&sLabel=&sort=&total=351&num=0&imgs=20&pNum=&pos=8, acessado em: 24/07/13) (em russo: Вхутемас, acrónimo para Высшиехудожественнотехническиемастерские Vysshiye Khudozhestvenno-Tekhnicheskiye Masterskiye (Escola Superior de Arte e Técnica) foi uma escola artística e tecnológica estatal Russa fundada em 1920 em Moscou, sucedendo à Svomas. A instituição foi estabelecida por decreto de Vladimir Lenin com a finalidade de, nas palavras do governo Soviético, "preparar artistas com a mais alta qualificação para a indústria, e construtores e gestores para o ensino técnico-profissional." O corpo da escola era composto por 100 membros e frequentada por 2500 alunos. A Vkhutemas formou-se através da fusão de duas escolas existentes: a Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou e a Escola Stroganov de Artes Aplicadas. A instituição possuía as faculdades de artes e de indústria: a faculdade de artes leccionava cursos em artes gráficas, escultura e arquitetura, enquanto a faculdade de indústria leccionava cursos em impressão, têxtil, cerâmica, marcenaria e trabalho em metal. Foi o centro de três dos maiores movimentos artísticos da vanguarda russa na arte e arquitetura: construtivismo, racionalismo e suprematismo. Nas oficinas, alunos e professores transformavam posturas em arte e realidade através do uso de geometria precisa com ênfase no espaço, naquela que foi uma das maiores revoluções na história da arte. Em 1926 a escola foi reorganizada em função de um novo reitor e o nome seria alterado para "Instituto", ou Vkhutein (Вхутеин, Высшийхудожественно-техническийинститут, Vkhutein, Vysshiye Khudozhestvenno-Tekhnicheskii Institut). Foi extinta em 1930, face às pressões políticas externas e internas ao longo dos seus dez anos de existência. O corpo docente, estudantes e legado foram distribuídos por seis outras escolas. (MIGUEL, 2006) 69Vkhutemas 82 Figura 57– Projeto de Hannes Meyer para a Petersschule, Basiléia,1926. (FRAMPTON, 1994, p. 135) Frampton (1994, p. 135) afirma ainda merecer um exame mais minucioso a justificativa de Meyer e Wittwer, de que o desenho para a Sociedade das Nações era uma solução científica. Estruturalmente essa justificativa parece convincente, tendo em vista a utilização generalizada de um módulo bastante adequado à pré-fabricação. A extensão ou contração modular de qualquer das áreas era possível sem alterar em nada a ordem básica do edifício. A tão proclamada “objetividade” também era percebida no corte do auditório, fruto de sofisticados cálculos de acústica. (Fig. 58 e 59) Por outro lado, alguns simbolismos questionavam a completa coerência daquele conceito de “objetividade”: os elevadores envidraçados eram uma manifestação essencialmente simbólica, com o propósito de exibir a máquina em ação e o cuidado excessivo com a composição formal do conjunto. Mas, mais do que tudo, evidenciavam a ideologia e os ideais de transformação social, explícitos na introdução do memorial justificativo, apesar da afirmação de Meyer de que “nosso edifício não simboliza nada”. Si las intenciones de la Sociedad de Naciones son sinceras, no es posible meter a esa nueva oraganización social em la camisa de fuerza de la arquitectura tradicional. Nada de salas de recepción com columnas para débiles monarcas, sino salas de trabajo higiénicas para los atarefados representantes de sus pueblos. Nada de pasillos posteriores para la diplomacia secreta, sino salas abiertas y vidriadas para la pública negociación de hombres honrados. (FRAMPTON, 1994, p. 137) 83 Figura 58– projeto de Meyer e Wittwer para a Sociedade das Nações. (FRAMPTON, 1994, p. 135) Figura 59– projeto de Meyer e Wittwer para a Sociedade das Nações. A tão proclamada “objetividade” também era percebida no corte do auditório, fruto de sofisticados cálculos de acústica. (FRAMPTON, 1994, p. 135) 84 No mesmo ano de 1925, tanto Frampton como Coulquhoun destacam o encontro de van Doesburg com Lissitzky como definidor da segunda fase do movimento De Stijl; o momento de internacionalização. Ainda que os movimentos elementaristas Russo e Holandês tivessem origens totalmente independentes, é inegável a similaridade dos mesmos em muitos aspectos, e certamente esse encontro estabeleceria um importante ponto de tangência e influência dos Prouns nos trabalhos conjuntos de abstração de van Doesburg e van Eesteren (iniciado com a pintura “A Vaca”, de van Doesburg,1917). (Fig. 60) Também em 1925 Stam regressa aos Países Baixos para trabalhar com L.C. van der Vlugt como gerente de obras e arquiteto chefe na construção da Fábrica Van Nelle, concluída em 1929. A planta de Stam para fábrica Van Nelle, que beneficiava tabaco, café e chá é, sem dúvida alguma, a concretização das premissas éticas e estéticas provenientes dos manifestos do grupo ABC e do projeto para a Sociedade das Nações de Meyer e Wittwer. Figura 60– Pintura A Vaca de Theo van Doesburg. (FRASCINA,1988, p. 199) 85 Os espaços internos estavam organizados em planta livre, sendo apoiados por uma grelha de colunas em cogumelo. As lajes de piso eram em balanço, de modo que as fachadas pudessem ser envidraçadas sem interrupção, para receber o máximo de luz e ar. A separação entre os volumes primários podia ser percebida, mas a forma como um todo foi unificada por faixas metálicas horizontais suspensas, que flutuavam por 276 metros sem qualquer apoio aparente. (CURTIS, 2008, p. 259) A estrutura das esteiras rolantes em diagonal é reveladora, demonstrando a vocação dos ciclos de produção, do envase, até os prédios de transporte ao longo do canal. (Fig. 61) A expressão aberta e dinâmica não passou despercebida por Le Corbusier, que reagindo à sugestiva transparência, pressentiu uma visão social de emancipação: La serenidade del lugar es total. Todo está aberto hacia del exterior. Y esto tiene un significado enorme para todos aquellos que éstan trabajando em los ocho pisos del interior...La fábrica de tabacos Van Nelle, em Rotterdam, una creación de la época moderna, há eliminado todas las anteriores connotaciones de desespero em la palavra “proletario”. Y esta deflexión del instinto agoísta de la propriedade hacia uma tendencia a la acción coletiva conduce a um resultado de lo más feliz: el fenómeno de la participación personal em cada etapa de la empresa humana [...] (FRAMPTON, 1994, p. 137) As fachadas íngremes do prédio, seus vidros brilhantes e metais cinzentos se erguem... contra o céu... Tudo está aberto para fora. E isso é de enorme significância para todos aqueles que estão dentro trabalhando em todos os oito andares... A fábrica de tabaco Van Nelle em Roterdã, uma criação da era moderna, retirou da palavra ‘proletário’ todas as conotações anteriores de desespero. E essa deflexão do instinto de propriedade egoísta em direção a um sentimento pela ação coletiva leva a um feliz resultado: o fenômeno da participação pessoal em cada estágio do empreendimento humano [...] (CURTIS, 2008, p. 261) Sem dúvida deve-se a Stam a introdução e polêmica do conceito de objetividade na arquitetura e urbanismo holandês, contrapondo-se à visão de Oud e Berlage quanto à rua e a cidade fechada, escrevendo: O volume crescente de tráfego decorrente da economia cada vez mais dinâmica e dura converte a organização disso num fator determinante no planejamento e desenho urbano da cidade. O pensamento arquitetônico deve se libertar das atitudes estéticas procedentes das gerações anteriores. O conceito de cidade como espaço fechado deve ser substituído pelo conceito de cidade aberta [...] (CURTIS 2008, p. 262) 86 O materialismo extremo de Stam serviu para isolá-lo do grupo funcionalista Opbouw estabelecido em Roterdã desde 192070. Brinkman, van der Vlugt e o seu cliente industrial da fábrica Van Nelle, Kees van der Leeuw, achavam necessário transcender o conceito de objetividade de Stam e ser mais abrangente, incluindo na pauta a necessidade de uma preocupação enfática com os valores espirituais universais. Esses conceitos foram expressos por meio das suas participações no movimento teosófico holandês71, ou como prefere denominar Colquhoun, neoplatonismo. (COLQUHOUN, 2005, p. 110) Figura 61– Fábrica Van Nelle, foto de autoria desconhecida, 1929. (NAI Collection, Roterdã, http://zoeken.nai.nl/CIS/object/2504, acessado em: 12/08/2013) Associação holandesa de arquitetos, com sede em Roterdã entre 1920 e 1940. Foi fundada em 31 de janeiro de 1920 pelo arquiteto Willem Kromhout como uma alternativa para o grupo existente Bouwkunst en Vriendschap; detalhes precisos do estabelecimento do De Opbouw no entanto se perderam quando seus arquivos foram destruídos pelo fogo durante o bombardeio alemão em 1940. Seus membros iniciais eram Marinus Jan Granpré Molière (1883-1973) figura de destaque da escola de Delft; Josephus Klijnen (1887-1973); L. Bolle, Alphonsus Siebers (1893-1978); Pieter Verhagen (1882-1950); Leendert Cornelis van der Vlugt, Jaap Gidding (1887 -1955); Jacob Jongert, Willem Hendrik Gispen (1890-1981) e J.J.P. Oud. Mais tarde, eles se juntaram a Mart Stam e Johannes Bernardus van Loghem, que se tornou presidente; Cornelis van Eesteren; Willem van Tijen; W. van Gelderen; Piet Zwart; Paul Schuitema (1897-1973) e Theodor Karel van Lohuizen (1890-1956). O desenvolvimento desse tema foge ao enfoque central da presente pesquisa. (http://www.kunstbus.nl/architectuur/vereniging-opbouw.html, acessado em: 22/04/2013) 70 71A palavra Teosofia é de origem grega, "theos" (Deus), e "sophos" (sabedoria), significando literalmente "sabedoria divina", ou "conhecimento divino". A Teosofia é um corpo de conhecimento que sintetiza Filosofia, Religião e Ciência. Foi apresentada ao mundo moderno por Helena Blavatsky, no final do século XIX, também percorre o trabalho do matemático M.H.J. Schoenmaekers e, no seu tratado “Matemática Expressiva”, influencia fortemente a concepção artística de Piet Mondrian na fase inicial do Neoplasticismo. O De Stijl toma ares de “messiânico” ao combinar filosofia e religião. 87 A base metafísica desse pensamento é proveniente, em grande parte, do matemático M. J. H. Schoenmaekers, que acreditava que a nova expressão artística nasceria da luz e do som, criando o paraíso da terra. (COLQUHOUN, 2005, p. 111) Aspirações espirituais semelhantes eram inerentes à obra de Johannes Duiker e Bernard Bijvoet, que abandonaram, por volta de 1923, as suas referências e o exercício de mera formalidade e monumentalidade Wrightianas (Fig. 62 a 66) (Rijksacademie de Amsterdam72 x Edifício Larkin, por exemplo), e num curtíssimo espaço de tempo demonstram no projeto da residência Aalsmeer (1924) a sua interpretação dos princípios fundamentais do pensamento da vanguarda arquitetônica, sem utilizar praticamente nenhum dos recursos formais que estavam codificando aquele momento. (PICAZO, 2011, p. 121) Inaugurava-se com a residência Aslsmeer, (Fig. 67 a 70) e com um volume significativo de textos, a fase moderna desses arquitetos (Zakelijkheid). (MOLEMA, 1996, p. 54) Figura 62– Edifício Larkin (1904-1906), F. L. Wright, Buffalo, Nova Iorque, EUA. (http://architecture.about.com/od/franklloydwright/ig/Guggenheim-Exhibition/Larkin-Building.htm, acessado em 23/06/2013) 72 A pesquisa adotará a designação em português: Academia Real de Artes Plásticas. 88 Figura 63– Duiker e Bijvoet foram os vencedores do concurso para a Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Os arquitetos não conseguiram entregar o projeto final no prazo estabelecido e o contrato foi desfeito. (MOLEMA, 1996, p. 23) Figura 64– Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Piso térreo. Em muitos aspectos o projeto lembra o primeiro desenho para a escola Schevenningen. (MOLEMA, 1996, p. 24) 89 Figura 65– Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Piso superior. A estrutura de concreto armado foi a primeira colaboração entre Duiker e Wiebenga. (MOLEMA, 1996, p. 24) Figura 66– Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Perspectiva do pátio interno. Referencias e o exercício de mera formalidade e monumentalidade Wrightianas. (MOLEMA, 1996, p. 25) 90 Figura 67– Residência em Aalsmeer (1924). Fachada posterior. Essa casa definiu o início do período moderno de Duiker. (MOLEMA, 1996, p. 55) Figura 68– Residência em Aalsmeer (1924). Fachada Frontal. A caixa de escada cilíndrica abriga também a chaminé. (http://livemodern.com/buildblogs/f3048ddf88fb536ee30a7b9b4af3c2ef; acessado em 12/08/2013) 91 Figura 69– Residência em Aalsmeer, Duiker e Bijvoet, (1924). Foi completamente restaurada em 1988. (MOLEMA, 1996, p. 56) Figura 70– Residência em Aalsmeer, Duiker e Bijvoet, (1924). Plantas, cortes e elevações. (MOLEMA, 1996, p. 57) 92 Tentando encontrar uma explicação para o lapso da história da arquitetura, uma vez que no prólogo do livro de Molema, (1996, pp. 6-10) Frampton afirma que Duiker ocupa uma posição única em muitos sentidos, se considera que talvez entre as causas do seu relativo desconhecimento internacional estejam além de uma modéstia natural o seu prematuro falecimento aos 45 anos incompletos. Jan Duiker foi em primeiro lugar uma pessoa interessada nas questões sociais, empregando o seu “talento arquitetônico em textos e projetos para um mundo melhor e, sobretudo, mais saudável. Seus projetos emanavam de um desejo de higiene, luz, ar e simplicidade”. (MOLEMA, 1996, p.11) Com enorme bagagem e erudição, transitou simultaneamente pelas diversas vertentes teóricas, tendo posturas e interpretação próprias frente aos movimentos modernos contemporâneos. Reconhecer em J. Duiker um dos principais representantes do seu tempo é também perceber que a sua atitude não era deliberada, mas sustentada por conhecimento suficiente para lhe permitir tal autonomia. Duiker e Bijvoet (1889-1979) foram companheiros de escola desde a cidade natal Haia e se formaram juntos em Engenharia de Construção (Bouwkundig Igenieurs) na Universidade de Delft. Alunos destacados de Henri J. Evers73 foram muito influenciados pelas aulas dedicadas a Otto Wagner, Hoffmann e Loos. Ao finalizar os estudos são contratados pelo seu antigo professor (1913-1916) e trabalharam em seu projeto para a prefeitura de Roterdã. 73Jorden Henry Evers (Ellecom, 24 de novembro de 1855 - Wassenaar, 01 de novembro de 1929) importante arquiteto holandês, frequentou a Academia de Artes de Haia e, em seguida, a Academia Real de Belas Artes de Antuérpia. Trabalhou em Bruxelas, Viena e Budapeste e em 1885 voltou para a Holanda e se estabeleceu como arquiteto em Amsterdam. Em 1887 Evers torna-se chefe do Departamento de Arquitetura da Academia de Belas Artes e Ciências Aplicadas em Rotterdam. De 1902 a 1926 Evers foi professor na Universidade Técnica de Delft, onde juntamente com Berlage foi o responsável pelo enorme prestígio daquela instituição. Foi professor e forte influenciador na formação do arquiteto Jo van den Broek. Dentre os edifícios projetados por Evers há exemplares Beaux-Arts, Art Nouveau e outros fortemente influenciados pelas idéias de Berlage. A importância de Evers, como professor e acadêmico, é devida aos livros que escreveu (especialmente sua obra-prima “As grandes eras da arquitetura em suas eras” - De architectuur in harehoofdtijdperken), suas palestras voltadas à leitura crítica da arquitetura e dos movimentos renovadores, a energia empenhada no ensino e sua influência e proximidade com os estudantes. Realizou ao longo da carreira de arquiteto cerca de trinta e cinco projetos, dos quais treze foram realizados. (TIMMER, 1997, resumo e tradução do autor) 93 Em paralelo ao escritório participaram de alguns concursos da Architecture and Friendship Association74. Ainda nesse ano (1913), ganharam um concurso para projetar uma igreja e a casa pastoral numa aldeia e em 1915 seu projeto para um hotel spa em Hoek van Holland ganhou um prêmio compartilhado de segundo e terceiro lugares. (PICAZO, 2011, p.101) Entretanto nenhum desses projetos foi construído, mas a história mudou em 1917 após vencerem um concurso para a construção de um conjunto residencial para idosos em Alkmaar. Esse é o marco inicial da sua prática arquitetônica independente, sediada em Haia. (Fig. 71 a 73) Figura 71– Conjunto residencial para idosos em Alkmaar. Duiker e Bijvoet vencem o concurso (1917). Versão apresentada no concurso. (MOLEMA, 1996, p.18) 74 Não encontrada a denominação em holandês. 94 Figura 72– Alkmaar, Duiker e Bijvoet, Fachada frontal em estado original, 1917. (MOLEMA, 1996, p.19) Figura 73– Alkmaar. Duiker e Bijvoet. Planta do térreo e superior como realizado,1917. (MOLEMA, 1996, p.17) 95 Ronald Zoetbrood (MEURS, 201, p.41) menciona que Duiker volta de Roterdã para Haia em novembro de 1916. Provavelmente ele tenha procurado trabalho mais perto de casa, devido à doença do pai, Fokke Duiker, falecido em 22 de setembro de 1917. O pai de Duiker era o diretor de uma escola particular primária em Zwarteweg em Haia, e com a sua morte, suas filhas Lucie e Truus, irmãs de Duiker, tiveram que deixar a residência dos funcionários, que fazia parte do contrato da escola. Além de suas participações em concursos e a construção do asilo Karenhuizen em Alkmaar, Duiker e Bijvoet trabalharam para os empreiteiros Van der Houwen nos projetos para o desenvolvimento de habitações em Haia. Os Van der Houwen também construíram as casas da Van Aerssenstraat, em parceria com arquiteto J. J. Hellendoorn, menos conhecido hoje em dia. Duiker e Bijvoet assumiram o comando de alguns projetos que os Van der Houwen tinham passado a Hellendoorn e em 04 de janeiro de 1917, quando Hellendoorn apresentou um quarteirão de doze casas para alugar na Van Aersenstraat em 's-Gravenhage no "Vademecum der Bouwvakken" era evidente que as últimas casas daquele fileira tinham muito em comum com outras casas projetadas por Duiker e Bijvoet em Haia, como o uso da diagonal no desenho do chão nos terraços, especialmente uma na esquina da Van Oldenbarneveldtlaan / Doornstraat, (Fig. 74 e 75) um projeto de 1919. (MOLEMA, 1996, p.32) Ainda é um mistério por que, apesar da quantidade de trabalho que Duiker e Bijvoet tinham em Haia eles terem se transferido no início de 1919 para Zandvoort a 70 quilômetros de distância. Mesmo depois, em 1921 eles continuavam trabalhando nos seus projetos de habitações em Haia e em novembro daquele ano foram encarregados de projetar uma escola técnica (Derde Ambachtsscool) em Scheveningen. (Fig. 76) Provavelmente esse projeto foi devido à influência do secretário da Sociedade de Escolas Técnicas de Haia (Vereeniging De Ambachtsschool ter 's- Gravenhage), Christiaan Willem Valken, que era sogro de Duiker. Também é possível que Duiker e Bijvoet conhecessem o então vereador pelo "Social Democratic Workers' Party” (SDAP), J. W. Albarda já que este 96 morava a apenas quatro casas do escritório de Duiker e Bijvoet na Van Aerssenstraat, onde recebia muitos iluministas socialistas. Figura 74– Casa de esquina na Doornstraat, Joh. van Oldenbarnevedtlaan, 1919. (MOLEMA, 1996, p.41) Figura 75 - Casa de esquina na Doornstraat, Planta do térreo, 1919. (MOLEMA, 1996, p.41) Figura 76– Derde Ambachtsscool em Scheveningen (1921). (http://www.nai.nl/content/478903 /digitalisering_archief_jan_duiker, acessado em 01/07/13) 97 Toda a produção de Duiker é em linhas gerais dividida em duas fases que diferem muito em termos de qualidade e de interesse histórico. Em Zonnestraal se individualiza um ponto de articulação cronologicamente quase central, ele resolve, mesmo que não de forma permanente, o dilema que caracteriza os primeiros dez anos de sua obra. O primeiro período é fortemente influenciado pelo problema do efetivo escoamento entre as duas matrizes fundamentais da sua formação como projetista. Uma decorrente da Escola de Engenharia atribui à técnica um valor criativo autônomo e de método, a outra, através da figura sobrejacente de Berlage75 lhe proporciona um desafio, mas canalizado apenas pela sugestão de um formalista anterior, Frank Lloyd Wright. Nos trabalhos do primeiro período prevalece a segunda matriz e é reprimida a primeira, uma divisão interna que se manifestou mais tarde e cuja recomposição sucessiva representou um dado relevante da trajetória de Duiker. Depois de anos de experiência, ficaram claras as influências dos seguidores holandeses de Wright e um uso consumístico da “imagerie” fornecida pela redação das edições Wastmuth (Ausgefilhrte Bauten, Entwilrfe von und Franck Lloyd Wright, Berlim, 1910.) Destacavam-se como exemplos mais positivos as simpáticas casas Thomsonplein de Haia em 1918, de volumes substancialmente puristas evidenciados por detalhes pré-neoplásicos. Mas é, sobretudo, a "grande oportunidade" (perdida), o projeto vencedor em 1918 no concurso para a Academia Real de Artes Plásticas, que dá a medida da relação ingênua com que os dois jovens projetistas, Duiker e Bijvoet, fazem a ligação entre formalidade acadêmica e o vocabulário wrightiano: percebe-se uma meticulosa análise dos encaixes e das aberturas das fachadas que se repete 75Bruno Zevi escreve: O entusiasmo dos arquitetos holandeses por Wright era incondicional, a tal ponto que faz lembrar a passagem de Franz Wickhoff em que diz que "grandes e profundamente originais artistas podem sufocar as rajadas moderadas inventivas de sucessivas gerações, forçando-as a uma contínua imitação." Poética da Arquitetura Neoplástica, Turim 1974. Isso ocorreu com Duiker através de Berlage, esta foi sempre a personalidade oficial que assumiu o encargo de Zonnestraal recomendando-o no Sindicato dos Trabalhadores de diamante. (MILELLI, 1978, p.81) 98 categoricamente nas laterais de um monumental ingresso, oprimindo uma modesta porta através da qual passa o plano de simetria. Em 1922, também na participação do concurso para a sede do "Chicago Tribune", além dos generosos esforços para resolver a questão do arranha-céu com uma linguagem moderna, repete-se em outros termos a ênfase na entrada e assimetria das massas que ocorreu no projeto da Academia Real, com um problema adicional: as lajes salientes fora de escala. (Fig. 77) Figura 77– Concurso para o Chicago Tribune (1922). (MOLEMA, 1996, p.49) 99 Antes deste arranha-céu, as casas em Jan van Oldebarneveldlaan e Doornstraat de 1920, em Haia, e o loteamento de 126 casas no mesmo ano em Kijkduin, exemplificam uma conexão mais consciente entre interpretação e modelo. As primeiras são um tutorial sobre a articulação de volumes medidos com dicas "De Stijl", similar às melhores obras de Jan Wils construídas no mesmo ambiente, e as segundas são a tentativa de uma interpretação quase literal das prairie houses, sem o bloqueio axial das casas de Robert van't Off em Huis ter Heide. (Fig. 78) Com a pequena casa para A. Suermondt em Aalsmeer (Fig. 67 a 70) nota-se a primeira ruptura linguística de Duiker. Parece que se abriu um novo leque de referências. A agressividade do ângulo e as inclinações incisivas podem recordar ecos “mendelsohnianos” na casa Sternfeld e na Chapelaria em Luckenwalde (Fig. 79), respectivamente, confirmando desta também o traçado horizontal, mas o volume do eixo cilíndrico é um estilo construtivista. Obra de aspecto incrivelmente atual que, se não fosse conhecida, seria muito difícil atribuir-lhe uma data na arquitetura moderna. O que se percebe com certeza é que foi interrompido o diálogo com Wright. Figura 78– Casa de Robert van't Off em Huis ter Heide. (1916). (http://en.nai.nl/collection/ view_the_collection/item/_rp_kolom2-1_elementId/1_669536, acessado em 01/07/13) 100 Figura 79– Fábrica de chapéus em Steinberg, Luckenwalde, projeto de Erich Mendelsohn. (1916). (Foto de autoria desconhecida, acervo próprio) Em Novembro de 1923, Duiker, Bijvoet e Wiebenga solicitam a patente de um método construtivo para edifícios em concreto armado, utilizando um novo desenho de elementos pré-fabricados. A patente, registrada com o número 14.521, foi concedida em Maio de 1926. (MOLEMA, 1996, p. 64) Descreve-se na patente: 1) Método de construção de edifícios de concreto armado com o auxílio de componentes deste material, pré-fabricados fora da obra: duas ou mais colunas e uma viga em T que se apoia nelas, as faces são acabadas e com largura suficiente para atuar como uma faixa de piso ou teto, que combinados e alinhados com outros elementos similares proporcionam uma superfície contínua (tradução do autor). Em Janeiro de 1928, a Revista de Amsterdam Tijdschrift voor Volkshuisvesting en Stedebouw76 publicou um artigo assinado por Duiker e Wiebenga sobre a construção de uma residência unifamiliar baseada nessa patente. Esse artigo também apresentava um esquema dessa residência em planta e perspectiva. 76 Revista de habitação e planejamento urbano; artigo de publicado na edição nº 9, denominado De bouw van het ééngezinshuis. 101 Em Novembro de 1930, este esquema foi apresentado no 3º CIAM em Bruxelas. Duiker via na utilização de elementos de concreto armado, conjugados com outros elementos mais delgados e de boa capacidade isolante, um meio de abandonar a ultrapassada e antieconômica construção tradicional de tijolos e madeira. (MUMFORD, 2000, p. 49) Na parte interna dessa habitação, Duiker procurava a economia de espaço, redução do comprimento e da área das fachadas e agrupamento das instalações sanitárias. Era evidente, do ponto de vista da estrutura, uma separação entre os elementos portantes e as divisórias, considerava-se que as paredes de tijolos não funcionavam de forma eficiente. El principio estructural correcto es la transmissión de la carga muerta de um suelo hacia las zonas de máxima resistência, y de ahí a las cabezas de los pilares y a la cimentación (quedando la función de las paredes reducidas a la de mero relleno de huecos y división de espacios), lográndose así una distinción clara entre materiales resistentes y de aislamiento. (MOLEMA, 1996, p. 67) Infelizmente em razão do peso das peças e dificuldades de montagem, aquele sistema demonstrou mais desvantagens do que vantagens, entretanto estava implícita outra forma de pensar. (Fig. 80 a 82) Figura 80– sistema pré-fabricado patenteado. (MOLEMA, 1996, p.65) 102 Figura 81– composição e montagem, axonométrica (MOLEMA, 1996, p.65) Figura 82– sistema pré-fabricado patenteado, perspectiva de casas geminadas. (MOLEMA, 1996, p.65) A casa em Aalsmeer precedeu a construção de um edifício arquitetonicamente pouco relevante, a lavanderia para o KSF, entretanto aquele projeto pareceu esclarecer a adesão a uma nova metodologia emergente nos Países Baixos: a Nova Objetividade. (Fig. 83 e 84) O resultado da colaboração com Wiebenga foram os apartamentos "Nirwana" (Fig. 85 a 90) construídos depois de algumas modificações em 1930, em Haia. Era um bloco extremamente compacto com uma distribuição interna decididamente anticonvencional em que se experimentaram placas finas de 103 concreto. Juntos ainda projetaram o loteamento com prédios "Hoogbouw" em Roterdã, 10 torres de doze andares, cada um com oito apartamentos que se derramavam em forma estrelar para uma insolação ideal. Figura 83– Lavanderia em Diemen na etapa final de construção em 1925. O projeto dessa lavanderia reforçou o contato que Duiker e Bijvoet tinham com o fundo KSF, do sindicato dos trabalhadores do diamante de Amsterdã, de Jan van Zutphen. Essa lavanderia oferecia o serviço gratuitamente aos trabalhadores em troca da recuperação do pó do diamante impregnado nas roupas. (MOLEMA, 1996, p.58) Figura 84– Lavanderia em Diemen, planta do térreo na primeira etapa. (MOLEMA, 1996, p.60) 104 Figura 85– Apartamentos Nirwâna, em Haia, foto do edifício recém-terminado. Com o retorno de Wiebenga dos Estados Unidos de América, ambos decidem se associar nessa experiência, que traduzia os modernos edifícios de apartamentos americanos (1927). (MOLEMA, 1996, p.103) Figura 86– Apartamentos Nirwâna, em Haia, perspectiva de Duiker para a solução de cinco blocos. A pouca familiaridade dos arquitetos com edifícios em altura, os levou a tomar algumas decisões equivocadas, como por exemplo, a livre organização interna de cada planta, que ocasionou muitos problemas com as instalações (1927). (MOLEMA, 1996, p.103) 105 Figura 87– Apartamentos Nirwâna, planta com 4 apartamentos por andar (1927). (MOLEMA, 1996, p.104) Figura 88– Apartamentos Nirwâna, planta com 2 apartamentos por andar (1927). (MOLEMA, 1996, p.104) 106 Figura 89– Apartamentos Nirwâna, perspectiva de uma pequena sala de jantar (MOLEMA, 1996, p.105) Figura 90– Apartamentos Nirwâna, elevação frontal do “projeto ideal” (1927). (MOLEMA, 1996, p.108) 107 Outros trabalhos menores, entre os quais o rigor do projeto da escola na Zwaardstraat, em Scheveningen, não superaram um nível experimental ou uma forma exemplar de projetar. Esses projetos seguiram parcialmente o processo de desenvolvimento que começou a partir de Zonnestraal. O verdadeiro legado da experiência do sanatório é encontrado em apenas três obras: a escola em Cliostraat (1929-30), o De Handelsblad Cineac (1934), ambos em Amsterdam e o complexo multifuncional "Gooiland" (hotel, cinema, teatro e lojas) em Hilversum (1934-35). A escola ao ar livre em Cliostraat retomou a invenção tipológica, a imaterialidade transparente, a minimização das espessuras, a simplicidade dos detalhes e o desconcertante imediatismo das passagens entre os diferentes elementos encontrados em Zonnestraal. É, sem dúvida, a consequência direta de sua obra prima. (Fig. 91 a 98) Já com o Cineac assim como Gooiland, evidenciam-se projetos novos e contribuições de explorações corajosas. Por exemplo, a investigação do "senso urbano" desses projetos contribui de forma muito clara para definir a posição cultural de Duiker, excêntrico e independente da principal corrente racionalista. O Cineac é um ponto de ressonância, uma sintonia da vida urbana que expõe o volume e o dialoga com toda a cidade, como se o letreiro gigante descesse pendurado do próprio céu. (Fig. 99 a 102) O hotel Gooiland é iniciado por Duiker e terminado por Bijvoet. A obra é menos pura do que as anteriores e talvez tenha viabilizado uma abertura da discussão através da complexidade. Aparecem formas livremente curvadas, distinções cromáticas e um estrondoso vocabulário de detalhes que qualificam pela primeira vez também os espaços internos. (Fig. 103 a 116) Durante esta obra, que parece antecipar em trinta anos, algumas questões de James Stirling, interrompe-se uma experiência arquitetônica que provavelmente não tinha esgotado a sua trajetória ascendente. (MILELLI, 1978, p. 13) 108 Figura 91– Escola ao ar livre, Amsterdã. Primeira implantação junto ao parque, em Cliostraat (1927-28). (MOLEMA, 1996, p.116) Figura 92– Escola ao ar livre, Amsterdã. Situação atual, com anexo de acesso. Foto de autoria desconhecida. (http://qing.blog.sina.com.cn/tj/5415c349330027nb.html, acessado em 28/07/2013) 109 Figura 93– Escola ao ar livre, Amsterdã. Foto de 1930 (MOLEMA, 1996, p.115) Figura 94– Escola ao ar livre, Amsterdã. Perspectiva da primeira proposta, implantação e entorno teóricos. (MOLEMA, 1996, p.117) Figura 95– Escola ao ar livre, Amsterdã. Isométrica esquemática do esqueleto de concreto armado. (MOLEMA, 1996, p.119) 110 Figura 96– Escola ao ar livre. Elevação principal com o bloco de acesso pela Cliostraat. Duiker desenhou seis projetos para a escola e quatro propostas para o bloco de acesso que abriga além do hall de entrada, dois apartamentos, um ateliê de atividades múltiplas e um bicicletário. (http://www.flickriver.com/photos/nai_collection/8157210726/, acessado em 24/07/13) Figura 97– Escola ao ar livre, Amsterdã. Edifício de acesso, quarto projeto – realizado, plantas. (MOLEMA, 1996, p.125) Figura 98– Escola ao ar livre, Amsterdã. Desenho de mesas. (MOLEMA, 1996, p.126) 111 Figura 99– Cineac, Amsterdã. No projeto para um “teatro ultramoderno para temas cotidianos”, Duiker se propôs um complexo programa, converter uma pequena e acanhada esquina no centro histórico num elemento completamente novo. (MOLEMA, 1996, p.156) Figura 100– Cineac, Amsterdã. As duas fachadas, lateral e frontal, 1933. (MOLEMA, 1996, p.161) 112 Figura 101– Cineac, Amsterdã. Planta da platéia, 1933. (MOLEMA, 1996, p.160) Figura 102– Cineac, Amsterdã. Maquete da estrutura metálica. (MOLEMA, 1996, p.163) 113 Figura 103 - Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Vista geral quando concluído. No ano anterior da sua morte Duiker recebeu a encomenda para projetar esse complexo no centro de Hilversum, que compreendia um teatro e um hotel de luxo com todos os serviços anexos Ele fez os primeiros desenhos em pequenas folhas de papel, pois estava acamado e gravemente doente. (MOLEMA, 1996, p.175) Figura 104– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Estudo 01 série A, 1934. (MOLEMA, 1996, p.176) 114 Figura 105– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Estudo 01 série B. (MOLEMA, 1996, p.177) Figura 106– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Projeto definitivo, térreo. (MOLEMA, 1996, p.178) 115 Figura 107– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Projeto definitivo. O complexo construído em 1936 foi ampliado nos anos seguintes (após a morte de Duiker), sob a supervisão de Bijvoet e a viúva Lucy Duiker. Em 1988 o edifício foi totalmente restaurado e convertido num centro cultural municipal. (MOLEMA, 1996, p.177) Figura 108– Hotel e Teatro Gooiland. Projeto definitivo, pavimento superior. (MOLEMA, 1996, p.179) 116 Figura 109– Hotel e Teatro Gooiland. Fachada lateral direita. (MOLEMA, 1996, p.180) Figura 110– Hotel e Teatro Gooiland. Terraço ajardinado. (MOLEMA, 1996, p.182) 117 Figura 111– Hotel e Teatro Gooiland. Terraço ajardinado. (MOLEMA, 1996, p.181) Figura 112– Hotel e Teatro Gooiland. Salão de chá e café em 1936. (MOLEMA, 1996, p.182) 118 Figura 113– Hotel e Teatro Gooiland. Detalhe de ligação do guarda corpo com a estrutura, no balcão curvo. (MOLEMA, 1996, p.183) Figura 114– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Cobertura do teatro. (MOLEMA, 1996, p.189) 119 Figura 115– Hotel e Teatro Gooiland. Acesso ao teatro após a restauração de 1988. (Acervo próprio) Figura 116– Hotel e Teatro Gooiland. Visão geral após a restauração de (http://www.flickriver.com/photos/klaasfotocollectie/3035575602/, acessado em 01/08/2013) 1988. 120 CAPÍTULO IV O Raio de Sol Sanatório Zonnestraal em Hilversum Jan van Zutphen precisava fazer uma escolha: usar os lucros do KSF para expandir os sanatórios já existentes, ou construir seu próprio sanatório. Ele decididamente escolheu a segunda opção e, em 1919, o fundo comprou uma grande propriedade em Hilversum, chamada Pampahoeve. Em 1911, o então proprietário Frederik Smidt, ex-cônsul, desenhou uma planta para a área e para um sanatório, pretendia lembrar-se de suas viagens através da propriedade, tornando-a um recorte absolutamente eclético. Ele encomendou um kit pré-fabricado de um palacete de madeira da Boulten & Paul Ltd. de Norwich, Inglaterra; o jardim, na parte posterior, era em estilo japonês. O lago retangular foi durante muito tempo a única coisa reconhecível da propriedade original. Adjacente ao jardim havia um labirinto. As casinhas ao longo da estrada da entrada principal também são dessa época. Ele deu o nome Pampahoeve à propriedade devido às planícies argentinas, que tanto admirava. (MEURS, 2010, p. 55) A crise no pós-guerra e problemas organizacionais atrasaram a construção do sanatório, embora o plantio e o trabalho paisagístico da propriedade tenham continuado. No mesmo ano de 1919, o pioneiro no campo da medicina social, o clínico geral Ben Sajet, foi escolhido para ser o futuro diretor médico, e Duiker e Bijvoet, escolhidos como "arquitetos consultores". O complexo construído viria a adotar o mesmo nome da fundação, Zonnestraal – Raio de Sol. 121 Em 1921, com o propósito de diminuir o desemprego foram convocados para trabalhar na propriedade, por volta de cem homens desempregados da cidade de Hilversum, a maioria deles trabalhadores do diamante. Eles construíram trilhas, drenaram várzeas e plantaram árvores. Jan van Zutphen não queria perder tempo nem oportunidade. "E então nós tivemos que nos dar por satisfeitos que alguma coisa estava sendo feita nesse tempo de malestar geral, que nos deixou mais perto dos nossos planos”. (MEURS, 2010, p. 67) Foram plantados grandes pomares de frutas e foi feito o reflorestamento de parte da várzea com a plantação de 275.000 novos pinheiros. Esse trabalho se mostraria muito importante no futuro, pois pinheiros seriam bem apropriados numa área para pacientes com tuberculose e as árvores frutíferas quando crescidas e produtivas podem ser aproveitadas pelos pacientes. Em 1927, com as obras do sanatório bastante adiantadas, a Fundação Zonnestraal adquiriu o direito de arrendar a propriedade do KSF em perpetuidade por um aluguel simbólico de um florim por ano. O terreno só poderia ser usado para a construção do sanatório, centros de cuidado e acompanhamento envolvendo terapia ocupacional, e colônias de trabalho para tuberculosos e outros pacientes dos Países Baixos. O KSF garantiu uma medida de controle; todas as plantas e alterações dependiam da aprovação do fundo. (MEURS, 2010, p. 70) A Nederlandsche Heidemaatschappij77 ajudaria na manutenção e funcionamento da propriedade. Os arquitetos se aproveitaram do inventário e do levantamento cadastral, uma espécie de mapa encomendado à NMH, que permitia uma imagem detalhada da propriedade, e iniciaram os estudos de implantação dos prédios do sanatório. Os primeiros projetos de Duiker e Bijvoet concentraram o sanatório na parte nordeste da propriedade, na interseção de duas trilhas vicinais. O lugar era uma mistura de árvores de troncos retorcidos, coníferas e partes descampadas. O complexo, em madeira, seria implantado com os eixos principais correspondentes às trilhas; um corpo principal, com dois pequenos pavilhões 77 Sigla NMH 122 em forma de asa, foi posicionado exatamente na interseção; outro corpo compacto e regular localizava-se a sudeste da trilha leste-oeste e provavelmente seria o bloco de convívio e apoio administrativo. (Fig. 117) A localização definitiva do sanatório era um sítio cercado de coníferas na parte sudoeste da propriedade. (Fig. 118 a 120) A área finalmente escolhida para o prédio principal e os dois pavilhões permitia a livre entrada da luz do sol, e mantinha uma passagem aberta para o campo. Luz, ar e ambiente se expressavam através do cenário natural e na expressão arquitetônica do prédio. “Os que passavam ali ficavam tão encantados com a forma e leveza da construção que carinhosamente a chamavam de ‘o barco branco’ no campo". (MEURS, 2010, p. 70) Embora nenhum documento ou livro dê evidências concretas, acredita-se que foi H. P. Berlage, em 1919, quem indicou os jovens engenheiros-arquitetos Jan Duiker e Bernard Bijvoet para o projeto de Zonnestraal. Permanecem desconhecidas as razões dessa indicação e de como eles foram encarregados definitivamente do projeto. Figura 117 - Primeira implantação do sanatório Zonnestraal em Hilversum, provavelmente ainda com forte influência de Berlage, Dezembro de 1919. (MEURS, 2010, P. 72) 123 Figura 118 – Implantação definitiva do sanatório Zonnestraal. A disposição do conjunto no parque constituía uma surpresa. A chegada era feita desde o caminho principal através de um novo caminho sinuoso, estabelecendo uma relação serial com o jardim inglês existente. (PICAZO, 2011, p. 132) Figura 119 – O novo caminho chega em direção perpendicular ao eixo de simetria do edifício principal, fazendo com que o parque atravesse literalmente a planta do sanatório. Esse transpasse duplo e paralelo, hierarquiza a via de serviço e a via de acesso social. (MEURS, 2010, P. 24 a5) 124 Figura 120 – O barco branco no campo. A chegada do paciente seguia um ritual solene. Desembarcava do veículo numa área coberta pela conexão superior, situada entre os corpos dos consultórios e da cozinha. Ali se submetia a um primeiro acolhimento e em seguida passava a descobrir o que seria o seu mundo durante os próximos anos. Subia a escadaria em caracol e chegava à sala de recreio e estar, de onde subitamente se encontraria com o eixo de um espaço fundamentalmente exterior. (MEURS, 2010, P. 24 a1) Quando Duiker morreu, Jan van Zutphen, o idealizador de Zonnestraal, escreveu em Het Volk78 (25 de fevereiro de 1935) que o conheceu através de Berlage, com quem entrou em contato em 1919 na ocasião da construção de Zonnestraal. "Berlage não podia aceitar fazer o projeto, então nos indicou o trabalho de Duiker e Bijvoet, que ele não conhecia pessoalmente, mas recomendou como dois jovens arquitetos com um futuro brilhante". (MEURS, 2010, p. 65, tradução do autor) A recomendação de Berlage pode ser associada ao concurso para a Academia Real de Artes Plásticas, que Duiker e Bijvoet venceram em 1919 e do qual Berlage foi membro do júri. (PICAZO, 2011, P. 93) 78 Het Volk: Dagblad voor de Arbeiderspartij, era o jornal diário do Sociaal Democratishe Arbeiders Partij. 125 É possível remontar os eventos daquele ano a partir do jornal diário Het Volk. No dia 2 de maio de 1919 o jornal anunciou que os resultados do concurso da Academia estariam expostos até 11 de maio. Naquele momento, Berlage estava trabalhando exclusivamente para a senhora Kröller-Müller. No dia 16 de agosto de 1919, foi anunciado que Berlage havia terminado seus serviços79 e estava independente de novo, mas que continuaria a morar em Haia. No verão de 1919, Berlage foi encarregado do projeto do Museu Municipal de Haia e provavelmente já estava trabalhando nele quando Jan van Zutphen o abordou sobre Zonnestraal. Na sexta-feira 11 de novembro, o jornal Het Volk relatou um encontro nas propriedades de Zonnestraal, em que van Zutphen anunciou que Duiker e Bijvoet seriam os arquitetos encarregados do sanatório Zonnestraal. Seriam assistidos por um conselho que teria Berlage como membro. (MEURS, 2010, p. 65) Não se sabe ao certo se Berlage conhecia Duiker e Bijvoet pessoalmente em 1919. Os três moravam em Haia, exerciam a mesma profissão e frequentavam rodas socialistas. Arthur Hoffmans alega que "Jan Duiker era um socialista comprometido. Assim como ele passou seus pensamentos socialistas para mim, seus pais os devem ter passado para ele. Frederiek Valken (ex-sogro de Duiker) me disse que Fokke Duiker (pai de Duiker) era socialista também”. (MEURS, 2010, p. 65) Duiker também foi relacionado ao Sociaal Democratishe Arbeiders Partij80 em um artigo de Het Volk em 25 de fevereiro de 1935: “Jan van Zutphen exaltou o companheiro de partido Duiker pelo seu comprometimento com Zonnestraal.” (MEURS, 2010, p. 65) Se Duiker realmente era um membro do SDAP isso explicaria a sua presença no funeral do ex-vereador e seu vizinho J. W. Albarda. É uma possibilidade que Albarda também tenha tido envolvimento na indicação de Duiker e Bijvoet para o projeto de Zonnestraal em 1919. Nessa época ele era um vereador voltado para a educação em Haia, e amigo de Berlage. Isso 79 80 Berlage tinha um contrato de exclusividade com a família da senhora Kröller-Müller. Sigla SDAP. 126 poderia explicar porque Berlage teria indicado Duiker e Bijvoet, e não um de seus outros conhecidos arquitetos socialistas mais experientes, como o arquiteto de Haarlem, Johannes Bernardus van Loghem, ou Jan Willem Eduard Buijs, de Haia. Van Zutphen propôs a Duiker um primeiro programa de necessidades que foi longamente discutido e aprofundado em uma colaboração frutífera com a equipe médica, utilizando também a experiência prática de uma pequena unidade de tratamento já construída em Pampahoeve. (Fig. 121) Vale relembrar que o protocolo médico adotado como orientação do programa do sanatório, era referenciado no Plano do Dr. Philip de Edimburgo e também nos métodos desenvolvidos em Cambridgeshire pelo Dr. Varrier-Jones, o que Duiker absorveu em profundidade. Tudo parecia ir muito bem conforme o planejado, mas uma queda repentina dos lucros dos negócios de diamantes de Amsterdã fez com que todos os planos fossem engavetados entre 1920 e 1923. A estagnação durante esse período criou uma oportunidade para Duiker, que junto de sua esposa Hermina Valken e do doutor Sajet, o diretor médico de Zonnestraal, viajaram para a Inglaterra e Escócia, para estudar as condições de tratamento da tuberculose e tomar contato com os resultados práticos das colônias rurais de recuperação e reintegração dos doentes. A partir de dois cartões-postais, datados de 6 e 12 de abril de 1920 de Berlage para van Zutphen, fica claro que Berlage queria acompanhar Duiker e Sajet pela Inglaterra, mas teve dificuldades em conseguir um passaporte. (MEURS, 2010, p. 66) Berlage ainda estava muito envolvido nos planos para Zonnestraal naquela época. Então a viagem de estudo de Duiker e Sajet, quase com certeza sem Berlage, provavelmente não aconteceu em 1919, e sim em 1920. O que significa que a primeira implantação para o sanatório (Dezembro de 1919) foi anterior à viagem. 127 Figura 121 – Encontro dos arquitetos e da equipe médica em Zonnestraal. Da esquerda em sentido horário: Duiker, Bijvoet, Dr. Sajet. Foto de 1920, autoria desconhecida. (International Institute for Social History – IISG – Amsterdã, arquivo de Zonnestraal, pp 16-17) É bem provável que a primeira planta tenha evoluído a partir de uma série de artigos que começaram em 22 de junho de 1916 no "Vademecum der Bouwvakken", o boletim em que Hellendoorn regularmente apresentava notas de seu trabalho. O Vademecum mostrava “a planta do local dos prédios da "Cook County Infirmary" em Oark Forest dos arquitetos Holabird & Roche e Richard E. Schmidt, Garden & Martin'. (MEURS, 2010, p. 66) (Fig. 122) Uma foto do sanatório municipal para pacientes com tuberculose em Chicago, publicada no Vademecum, reforça a tese de que Duiker e Bijvoet também estudaram esses artigos. (Fig. 40 e 123) Os prédios da foto induzem a uma comparação com os dos desenhos de Duiker do Hulpsanatorium Zonnestraal (início de 1920) (Fig. 124 e 125) Portanto as impressões colhidas na Inglaterra, sem a participação de Berlage, só poderiam ter sido incorporadas ao segundo projeto, de 1920. 128 Figura 122 - Implantação do Cook County Infirmary em Oark Forest dos arquitetos Holabird & Roche e Richard E. Schmidt, Garden & Martin. (Vademecum der Bouwvakken, 22/06/1915) Figura 123 – Sanatório municipal para doentes de tuberculose, Chicago, EUA; W. A. Otis & Edward H. Clark Architects, 1909. Conjunto pavilhonar. Provavelmente o mesmo que influenciou Duiker. (Vademecum der Bouwvakken, 22/06/1915). Figura 124 – Elevações do Hulpsanatorium Zonnestraal, 1920. A composição e os planos dos telhados demonstram um projeto ainda pouco significativo e muito influenciado pela escola berlagiana. (MEURS, 2010, P. 81) 129 Figura 125 - Planta do Hulpsanatorium Zonnestraal,1920. A implantação previa duas asas pavilhonares para pacientes e ao norte um bloco separado para apoios e pessoal. (MEURS, 2010, P. 80) Entre outras coisas, eles visitaram as dependências de acompanhamento dos pacientes pós-tratamento em Papworth (Cambridgeshire) onde foi estabelecido que o sanatório ao ser criado, tinha como primeira função definir qual estágio da doença tratar. Pacientes muito doentes deveriam ir para os hospitais não para os sanatórios e muito menos para um local de acompanhamento. (Fig. 126 a 132) A sequência de controle era prevenir, mapear, examinar, tratar e acompanhar. A grande extensão do lugar em que Zonnestraal se instalaria, tal qual Papworth, era propícia à última fase, o acompanhamento e reintegração social. 130 Os encarregados do sanatório dariam assistência aos pacientes com alta para que eles pudessem se reestruturar e evitar recaídas. No início da década de 20, a área natural em desenvolvimento era usada da melhor forma possível. Duiker projetou e construiu toda ordem de equipamentos como galinheiros, chiqueiros, hortas e tudo que pudesse dar autonomia ao complexo, entretanto nada muito significativo. E assim continuou até 1925 quando, com a ajuda da Cruz Vermelha, foi decidido expandir o Zonnestraal para um sanatório geral, e não apenas para os trabalhadores do diamante. (MEURS, 2010, p. 55) Figura 126 – Fundado em 1916, e ampliado em 1918, como uma colônia modelo para pacientes com tuberculose em Cambridgeshire, Inglaterra, esse sanatório influenciou definitivamente o projeto e o programa social e de necessidades desenvolvido por Duiker para Zonnestraal. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo_gallery , acessado em 19/05/2013) Figura 127 – Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Ar puro e helioterapia. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo_gallery , acessado em 19/05/2013) 131 Figura 128 - Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Cotidiano das longas internações. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo_gallery , acessado em 19/05/2013) Figura 129 - Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Os pacientes em fase final de recuperação viviam em cabines junto aos bosques e trilhas, onde iniciavam um processo de reenquadramento social. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_ heritage_centre/photo_gallery, acessado em 19/05/2013) 132 Figura 130 – Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Visão geral de uma enfermaria de pacientes masculinos em fase final de recuperação, mas ainda sob acompanhamento. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo_gallery , acessado em 19/05/2013) Figura 131 – Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida entre 1919 e 1920. Chegada de paciente grave para a unidade de cuidados intensivos. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo_gallery , acessado em 19/05/2013) 133 Figura 132 - Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920. Exame de paciente na sala de raio X. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo_gallery , acessado em 19/05/2013) Duiker começou então a definir o seu próprio programa arquitetônico sempre com uma ativa e dialogada participação do conselho. Os primeiros desenhos ficaram prontos no final de 1925 e registraram a articulação das fases de tratamento, desde a internação à reabilitação hospitalar, em um projeto que distribuía por vários edifícios as diversas atividades. (Fig. 133 a 145) Paralelamente à finalização dos projetos, a construção começou em 1926. Em janeiro de 1927 os primeiros dezesseis pacientes fixos chegaram e foram acomodados temporariamente na casa de chácara já construída em Pampahoeve. Em maio, como parte do programa de terapia ocupacional, foram instaladas uma carpintaria e uma oficina de pintura e os pacientes começaram a trabalhar para a conservação da propriedade. Os pacientes mais saudáveis também participaram da construção das oficinas e dos chalés. O prédio principal e a ala dos pacientes foram abertos em 12 de junho de 1928. (MEURS, 2010, p. 83) Até a inauguração foram construídos: o edifício principal onde se concentra a maior parte dos serviços, duas unidades de internação (das quatro planejadas), cinco galpões para o trabalho de reabilitação e uma série de pequenas cabanas de madeira equipadas para descanso e acompanhamento, espalhadas pelo bosque circundante. 134 Figura 133 – Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, térreo e porão. (MEURS, 2010, p.24 – a6) Figura 134 - Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, piso superior e cobertura. (MEURS, 2010, p.24 – a7) 135 Figura 135 - Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, cortes. (MEURS, 2010, p.24 – a8) Figura 136 – Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, elevações. (MEURS, 2010, p.24 – a9) 136 Figura 137 - Projeto final para Zonnestraal. Desenhos originais do pavilhão Dresselhuys, pavilhão B, planta do térreo, elevações, cortes e detalhes da sala de estar. (MEURS, 2010, p.24 – a10) Figura 138 – Desenhos revisados do pavilhão Dresselhuys, 1931. Planta do térreo, elevações e cortes da escada na asa diagonal. (MEURS, 2010, p.24 – a11) 137 Figura 139 - Projeto final para Zonnestraal, 1928. Desenhos originais do pavilhão Meulen, pavilhão A, planta do térreo. (MEURS, 2010, p.49 – a12) Figura 140 - Projeto final para Zonnestraal, 1928. Desenhos originais do pavilhão Meulen, elevações e cortes. (MEURS, 2010, p.49 – a13) 138 Figura 141 - Projeto final para Zonnestraal, 1927. Conjunto de oficinas e ateliês, planta do térreo e elevação frontal. (MEURS, 2010, p.49 – a14) Figura 142 – Construção pelos internos das oficinas e ateliês, 1927. (MOLEMA, 1996, p. 94) Figura 143 – Oficinas e ateliês recém concluídos, 1928. As primeiras oficinas eram originalmente inteiramente abertas nas extremidades, mas foram incorporados painéis deslizantes logo após a conclusão (MOLEMA, 1996, p. 94) 139 Figura 144 – Os pacientes mais saudáveis, durante o processo de reintegração social, viviam em cabines implantadas no bosque ao redor do sanatório. (MOLEMA, 1996, p. 98) Figura 145 – Reunião dos patrocinadores na inauguração de uma cabine para pacientes. Foto de H. Zillig, 1930. (International Institute for Social History – IISG – Amsterdã, arquivo de Zonnestraal, pp. 16 e 17) Figura 146 – Jan van Zutphen no centro, a direita o diretor médico J. L. van Lier (substituto do Dr. Sajet – afastado em 1926 após um desentendimento com Zutphen) e a esquerda a vice diretora, senhora Poortenaar, 1927. (Fotografia de autoria desconhecida, MEURS, 2010, p. 52) 140 Figura 147 – Abertura oficial do sanatório Zonnestraal em Hilversum em 12 de Junho de 1928. No centro o pintor holandês L. Heijermans, Jan van Zutphen e o diretor médico Van Lier; a esquerda Duiker com sua segunda esposa e logo atrás, a direita na foto, Bijvoet. (MOLEMA, 1996, p. 83) Oficialmente, o sanatório seria aberto exclusivamente a homens de todas as religiões e ideologias mas devido à grande influência de Jan van Zutphen, Zonnestraal continuou com sua ponta socialista até meados da década de 50. Questionou-se mais tarde, o isolamento social e afetivo que, durante o longo período de tratamento, ocorreria entre os internos e suas famílias. De acordo com a ideia de promover uma forma de vida em comunidade, transitória, mas autossuficiente, foram planejados um hotel, uma escola, alojamento de pessoal, oficinas de artes manuais, conserto de bicicletas e também a instalação de uma unidade de produção própria, com um laboratório para o corte e limpeza dos diamantes. (Fig. 148 e 149) Do programa original até 1931, Duiker só conseguiu construir o alojamento das empregadas e projetar uma escola "ao ar livre", cujo projeto serviria de base para a criação em 1932 da escola ao ar livre em Cliostraat, Amsterdã. (Fig. 91 a 98). Se a estreita relação entre o arquiteto e o sindicato permitiu fornecer, aos pedidos específicos, uma resposta arquitetônica rigorosa e fiel ao programa, essa mesma fidelidade foi, paradoxalmente, a principal causa de sua rápida obsolescência. (Fig. 150 a 152) 141 Figura 148 – De acordo com a ideia de promover uma forma de vida em comunidade, transitória mas autossuficiente, foi instalada de uma unidade de produção própria com um laboratório para o corte e limpeza dos diamantes. (MEURS, 2010, p. 53) Figura 149 – Oficina de conserto de bicicletas, 1930. (Fotografia de autoria desconhecida, MEURS, 2010, p. 59) 142 Figura 150 - Projeto final para Zonnestraal, 1930-1931. Desenhos originais do alojamento para 18 funcionárias. (MEURS, 2010, p.49 – a13) Figura 151 – O alojamento das empregadas tinha como objetivo viabilizar dependências baratas, ainda que modernamente equipadas. As células dormitórios se organizavam ao redor de uma sala central com iluminação zenital. (MOLEMA, 1996, p. 97) Figura 152 – Projeto para uma escola aberta em Zonnestraal. O desenho, apesar de compacto, incentiva o contato com o ambiente externo. (MEURS, 2010, p. 111) 143 Quando Duiker começou a projetar Zonnestraal, existiam numerosos elementos de conexão entre a busca de uma nova identidade projetual e um particular momento de crise em sua vida pessoal. Neste período, aconteceram uma série de eventos cruciais para a sua história e parecem todos concorrentes para definir uma situação nova e original. O sanatório é envolvido em contradições. Embora o projeto do conjunto de edifícios seja assinado por Duiker e Bijvoet, o projeto de construção de Zonnestraal é basicamente de Duiker já que o ano de 1925 marca sua separação de Bijvoet que se transfere para Paris, e lá viria a trabalhar principalmente com Pierre Chareau assinando com ele a casa-estúdio para o Dr. Dalsace, mais conhecida como a Maison de Verre (1931). (Fig. 153) Paralelamente aconteceu o divórcio de Duiker e Hermina Valken, sua exesposa vai ao encontro de Bijvoet em Paris e acaba por se casar com ele. Por sua vez Duiker logo depois também se casa com Lucy Kupper, arquiteta alemã ligada aos mais intransigentes grupos do funcionalismo holandês. Enquanto o nome de Bijvoet continuou a aparecer nos cabeçalhos dos projetos de Zonnestraal, na realidade participou efetivamente em seu lugar outro engenheiro, Jan Gerko Wiebenga autor entre outras obras, com Leendert van der Vlugt, de uma escola estritamente funcionalista em Groningen (1922). Figura 153 - Maison de Verre, Paris, 1928 a 1932. Projeto de Pierre Chareau em coautoria com Bernard Bijvoet e Louis Dalbet. (Arquivo do autor) 144 A escolha de um novo parceiro tão disciplinado confirma o reemergir de uma linha objetivista e técnica donde se pode deduzir uma nova situação de busca. A gestão executiva do canteiro de Zonnestraal foi confiada à experiência de Wiebenga que cuidou em particular da estrutura de concreto armado, mas aos poucos o seu trabalho se ampliou. Duiker continuou regularmente trabalhando no projeto e propondo intervenções. É uma maneira de continuar projetando, alterando e corrigindo tudo o que foi estabelecido graficamente, lidando diretamente com os inevitáveis imprevistos e com a sua contínua e exigente insatisfação. A tarefa que Duiker se impôs era, em primeira instância econômica, e não estética. "Quanto pode ser economizado nos custos da construção?" era mais importante que "Que estilo deve ser usado? Ele decidiu que a economia seria causa e consequência.” (MEURS, 2010, p. 110) O projeto de Zonnestraal revela uma longa batalha contra os custos. Duiker estava sempre economizando, tanto em espaço quanto em material. Seu trabalho era talhar e simplificar, refinação e purificação. Não era uma decisão de minimização plástica, embora a estrutura de concreto tenha ficado mais fina e elegante com a terminação em mísula. (Fig. 154). Ao podar seu projeto sempre que possível Duiker ficou apenas com o essencial. Era uma procura por um princípio. Dava-se atenção à forma também. Duiker sempre tentava maximizar o espaço e a espacialidade. Uma articulação sofisticada possibilitaria vista panorâmica, ritmo e satisfação plástica. A ordem dada por Duiker ao seu projeto era acima de tudo econômica e espiritual. Luxo não era importante. “Tudo mínimo, uma abstração das ordens clássicas, mas ainda assim clássicas”. (MILELLI, 1978, p. 13) A atitude é antidogmática, distante da obtusa fidelidade aos desenhos produzidos no escritório ou da aceitação em perder o controle do projeto. Duiker lima incessantemente cada peça com sofrida autocrítica. 145 Figura 154 –Sanatório Zonnestraal. Edifício principal em construção. Estrutura de concreto armado. A solução em mísula praticamente dissolve a terminação das vigas. Percebe-se a instalação dos montantes verticais de aço que receberiam posteriormente os caixilhos ou os painéis de vedação em concreto pré-fabricado. O profundo conhecimento técnico de Duiker e Wiebenga permitem levar a peças de concreto ao seu limite de resistência e desempenho. (MOLEMA, 1996, p. 82) Este projetar duvidoso e quase interminável parece trazer de volta a história da Academia Real, quando os jovens Duiker e Bijvoet superaram naquele concurso, os mais conhecidos protagonistas do cenário arquitetônico da época, inclusive o reconhecido líder da Escola de Amsterdã, Michel de Klerk, que ficou em segundo lugar. A grande oportunidade foi literalmente desperdiçada pela incapacidade dos dois projetistas em concluir o detalhamento final do projeto quando, quatro anos após o concurso, solicitados a entregar os desenhos para a construção, pediram mais tempo e recursos para um estudo mais aprofundado e assim lhes foi tirada a tarefa, e consequentemente rescindido o contrato.81 A frustração vivida nesta experiência não se repete em Zonnestraal porque Duiker desenvolveu uma metodologia de trabalho que não desperdiça a sua energia à procura do perfeccionismo estéril. Se a crise de impotência é removida, o projeto do sanatório revela a existência de outro problema metodológico não resolvido. Estritamente falando, o valor nodal deste trabalho, o seu estar na fronteira entre duas experiências linguísticas diferentes, não é tão claro e definitivo. Duiker e Bijvoet utilizaram grande parte do dinheiro do prêmio para comprar três casas e se estabelecer em Zandvoort. Continuaram a modificar a proposta e desenvolver novos modelos, sem preocupação com prazos e com a finalização do projeto. (VICKERY, 1972, p. 133) 81 146 Reconhece-se os resquícios persistentes que se manifestaram no momento de maior angústia, o início do projeto, ainda mais evidente num caso como este, onde a situação do terreno tão rural não fornece elementos condicionantes e de orientação. Confrontado com a folha em branco Duiker ainda ficou profundamente dividido entre a segurança do sistema acadêmico e a incógnita de um método que foi extraído dos dados objetivos do programa. Partir apenas destes, renunciando a qualquer formalização a priori, seria saltar um obstáculo com decisão. Em vez disso, o desenho da primeira implantação testemunha uma renúncia à liberdade de composição que, de fato, se submete à regra da especulação, marcada na planta por um eixo em direção sul-sudeste. Esse eixo, além de equilibrar pares de edifícios idênticos, atravessa um corpo central tornando totalmente simétrica a planta. Embora seja inegável que tal solução estrutura rigidamente todo o esquema, a análise comparativa das fases sucessivas do projeto parece revelar cada vez mais a intenção de sua subversão. Na verdade, excluindo-se a foto aérea que mostra a relação simétrica entre os pavilhões, a partir de outras imagens do complexo construído, e no nível do observador que o percorre, não se registra nenhum sinal desta rigidez. Duiker chegou a este resultado, através de continuas modificações feitas desde o final de 1925 até o término da construção em 1928, procedendo simultaneamente a um enriquecimento temático e um refinamento linguístico. O difícil equilíbrio foi procurado entre opostas polaridades, densidade de significado e simplicidade de comunicação. Conseguiu ser plenamente alcançado, tendo trabalhado "visceralmente", ou seja, escavando cuidadosamente o programa e extraindo dele toda a complexidade e multiplicidade, para expressá-las em seguida, com uma linguagem essencial e simples, mas de grande sensibilidade. (MILELLI, 1978, p. 15, tradução do autor) Sem dúvida é a extrema honestidade do processo que leva Duiker a inserir aos poucos os novos temas que corroem e desconjuntam a imagem congelada 147 do primeiro esquema, e não uma "conversão antissimétrica" que, historicamente, não lhe pode ser atribuída: é fácil observar como ainda, depois dessa experiência, ele tenha projetado a partir de padrões com composições axiais82. Agrupamento, distribuição e peças nodais como fatores de ligação exerciam um papel essencial no trabalho de Duiker. Já eram diferenciáveis em sua planta de 1917 para a Academia Real de Artes Plásticas e o seu projeto em 1927 para o palácio da Liga das Nações é dominado por eles. Os projetos eram sustentados por sistemas axiais explícitos e junções que funcionavam como pontos de apoio, assim como em Zonnestraal. A simetria era uma imposição, mesmo quando não era usada por necessidade. No Algeman Handelsblad o arquiteto Albert Boeken escreveu sobre: [...]um solto, aparentemente livre, mas basicamente muito sistemático agrupamento de espaços orientados pelo sol, para pacientes de tuberculose, um agrupamento para o qual a noção de composição não é apropriada, mas que parece muito mais natural no meio do campo e das árvores que qualquer outra composição arquitetônica [...] (MEURS, 2010, p. 73) A partir deste esquema83 que certamente é a primeira manobra projetual, a transição para a elaboração dos objetos que o compõem, ou seja, os pavilhões e o corpo central, introduz outra consideração geral. Antes de verificar-se em detalhes como são articulados os edifícios, pode-se notar que a organização da planta dos pavilhões permaneceu praticamente inalterada, enquanto a construção dos serviços centrais se modificou e evoluiu a cada novo desenho. A questão que se coloca diz respeito à verdadeira razão para essa disparidade de tratamento. (Fig. 155) A hipótese interpretativa pode levar à situação de crise pessoal que Duiker vivia durante a trajetória do trabalho de Zonnestraal mas que sintetiza talvez todo o seu trabalho como projetista. 82 Os projetos para o Palácio da Sociedade das Nações (1927), os escritórios "Adamas" (1928), a escola ao ar livre para Zonnestraal (1928), a fábrica "Jasmin" (1930-1934) e os alojamentos para enfermagem de Zonnestraal, são organizados em torno de composições axiais ou centrais. 83 Estudo número 3 (PICAZO, 2011, p. 125) 148 Figura 155 – Estudo de implantação nº 3, 1926. Um eixo define a absoluta simetria do conjunto e nota-se uma escadaria na fachada sul do edifício principal, indicado em amarelo. Essa rigidez compositiva paulatinamente vai sendo abandonada nos estudos seguintes. (MEURS, 2010, p. 73) O público em geral também reconheceu o caráter inovador da arquitetura de Duiker. O jornal Het Centrum escreveu em 1928: "À primeira vista, esses prédios dão a impressão de uma pequena cidade no Japão, ou de transatlânticos brancos com chaminés altas, pontes e ninhos de pássaros". (MEURS, 2010, P. 74) Essa era a aura higiênica, como Duiker disse mais tarde, que a arquitetura e a cidade deviam possuir. A comparação do sanatório com um navio deve ter sido música para os seus ouvidos. Em seu projeto ele se esforçou para conseguir a maior funcionalidade, como nos navios onde todo centímetro de espaço deve ser aproveitado. Isso ficou muito evidente no projeto do prédio principal. (Fig. 156) Zonnestraal se exprime como um diagrama sintético da busca de Duiker. No projeto para os pavilhões prevaleceram os resíduos acadêmicos, há uma primeira adesão catártica à objetividade. Mas no corpo central que representa sem dúvida o ponto culminante do projeto e que monopoliza o interesse tanto do projetista quanto do observador, poderia se dizer que sua superação ficou como a real contribuição de Duiker para a arquitetura moderna (MILELLI, 1978, p. 5). 149 Figura 156 – Zonnestraal, edifício principal, restaurado em 2003 segundo projeto dos arquitetos Wessel de Jonge e Henket & partners. (Acervo do autor) Talvez seja possível, finalmente, delimitar o campo no qual se pode mensurar a atitude de Duiker e os meios dos quais se utilizou para ampliar a sua busca funcionalista. Estes são indicativos de muitos interesses provocados por uma ampla receptividade às questões levantadas naquele debate do qual parecia ter se excluído, e também de uma nova postura mais tranquila que lhe permitiu recuperar, no sentido literal, a análise do espaço wrightiano dissipada, enquanto forma, na primeira abordagem. As metodologias dos projetos se diferenciam a partir dos pavilhões de internação. A solução da implantação previa a repetição de quatro construções idênticas, ou mais precisamente, simetricamente iguais em pares. O corpo repetido é muito simples, quase banal, e é obtido esquematicamente a partir da análise das funções mais importantes. Havia dois requisitos principais: a internação em quartos individuais e a reunião nas áreas comuns. Volumes claramente diferenciados envolvem essas atividades: lâminas estreitas com dois pisos que convergem para um baixo paralelepípedo. (Fig. 157 e 158) Os quartos do hospital são dispostos em duas alas, inclinadas a 45 graus, de acordo com as melhores exposições necessárias: o Sul, Sudoeste e Sudeste. 150 As escolhas principais foram determinadas pela correta insolação das fachadas que apresentam em todo seu comprimento as galerias para a helioterapia, e, pela manutenção rigorosa da vista panorâmica dos quartos. Assim é em parte justificada funcionalmente a mesma repetição simétrica dos pavilhões que apresentam por pares alternados de alas as mesmas condições de exposição. Se há diferenças, e de fato há, entre os pavilhões Meulen e Dresselhuys, elas são fruto daquele método de aprimoramento incessante de Duiker. Cada ala alinha, repetidas em dois andares, doze ou treze células individuais. Em uma das extremidades está o bloco de serviços comuns e escadas, das quais o tráfego converge para o térreo em uma ampla sala de estar comum depois de se atravessar as passagens envidraçadas. (Fig. 159 e 160) A sala de estar tem uma planta retangular quase completamente livre, apenas com poucas e baixas peças de mobiliário e fachadas envidraçadas. Nos pavilhões, uma laje plana balança generosamente nas laterais abrigando as áreas de repouso ao ar livre. Esses balcões, livres de paredes, constituem a transição com o espaço livre e uma tênue ligação entre os pavilhões e o corpo central. (Fig. 161) Cada dimensão do edifício é rigorosamente medida em planta por um módulo cuja unidade é a largura dos corredores estabelecida em 1,50 m. O módulo regula tanto o tamanho dos elementos que apoiam quanto os apoiados e também organiza as dimensões internas e externas. A estrutura de concreto é nua e de uma tenuidade extraordinária e embora não seja exposta, surpreendentemente, constitui a imagem de maior valor. O esqueleto parece coincidir com o invólucro e demonstra a prevalência da estrutura, é possível encontrar nele uma contradição orgânica. A compactação das salas separadas, tão clara no plano, não é expressa no desenho dos alojamentos, porque a extensão da estrutura, disposta no sentido longitudinal, enquadra e coliga três células por vez. (Fig. 162) 151 Figura 157 – Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Pavilhão Meulen, 1928. Planta do térreo original desenvolvida com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. (Desenho do autor) 152 Figura 158 - Sanatório Zonnestraal. Pavilhão Dresselhuys, 1931. Plantas originais do térreo e pavimento superior desenvolvidas com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. Foram acrescentadas a escada adicional e o elevador de macas. (Desenho do autor) 153 Figura 159 – Sanatório Zonnestraal. Em uma das extremidades dos pavilhões está o bloco de serviços comuns e escadas, das quais o tráfego converge para o térreo em uma ampla sala de estar comum. Foto da elevação Noroeste do pavilhão Dresselhuys. (Acervo do autor) Figura 160 - Sanatório Zonnestraal. Caixa de escadas do pavilhão Dresselhuys vista desde oeste. (MEURS, 2010, p. 144) 154 Figura 161 - Nos pavilhões, uma laje plana balança generosamente nas laterais abrigando as áreas de repouso ao ar livre. Esses balcões, livres de paredes, constituem a transição com o espaço livre e uma tênue ligação entre os pavilhões e o corpo central. (MEURS, 2010, p. 56) Figura 162 – Sanatório Zonnestraal. Axonométrica do sistema estrutural de concreto armado do pavilhão Meulen. A cada módulo de 9 metros entre pilares, são localizados 3 apartamentos de pacientes. (MEURS, 2010, p. 160) 155 Além desse detalhe, cada elemento da composição atende aos critérios da máxima objetividade e mínimo desperdício formal, a simplicidade e clareza do dispositivo encontram uma calibrada ressonância linguística. O pavilhão é resolvido como um mecanismo exato e eficiente, mas fechado em si mesmo. Não por acaso, é um padrão de repetição (na verdade repetido), vinculado à insolação. Mas há algo que não é convincente e que não estimula, nem mesmo o projetista. O que faltou nesta parte do projeto, Duiker parece que encontrou na evolução do restante. Se do complexo central, confronta-se diretamente a implantação, com o tempo, podem-se ver duas evoluções principais: a construção já não é simétrica com respeito ao eixo da composição global e a direção a esta perpendicular torna-se muito mais importante, de modo que, os corpos paralelos acentuam a sua individualidade e o edifício tende a decompor-se, caracterizando cada parte com o acréscimo de novos elementos. Não se tratam de experiências superficiais ou apenas variações linguísticas. Observa-se como os elementos crescem e se articulam com efeitos revolucionários. (Fig. 163) Na verdade, há uma série de intervenções que documentam as etapas através de soluções que ainda não foram depuradas e marcadas por concessões bastante supérfluas às referências "da moda". Entende-se, isto é, relevar o uso excessivo dos elementos "náuticos", como as escotilhas que felizmente desaparecem ao longo da construção. (MEURS, 2010, p. 83) Aliás, nota-se que a adoção do vocabulário arquitetônico dos parapeitos e corrimãos em tubos metálicos, que transformam qualquer terraço em deck de transatlântico, era de um maneirismo tal que não vale a pena tentar justificá-los. Mas considerando-se a construção feita a partir do ponto de vista do funcionamento, as atividades que ali se desenvolviam são profundamente diferentes dos pavilhões. 156 Figura 163 – O edifício principal de Zonnestraal visto desde o terraço do pavilhão Meulen. Os grandes balanços da cobertura sobre os terraços e o posicionamento dos caixilhos, das vedações e peitoris opacos, tornam o grande salão superior e a totalidade da volumetria absolutamente assimétricos. (Foto de autoria desconhecida, 1929, MEURS, 2010, p. 49) O paciente em estado grave, com pouca mobilidade, vivia no reduzido âmbito dos pavilhões das internações. Assim que sua condição lhe permitisse iria para fora e participaria das atividades do edifício principal que, como lhe diziam respeito diretamente, estavam concentradas no grande salão de vidro do primeiro andar, era onde se podia assistir a um teatro ou cinema, comer e encontrar com os outros internos. O grande terraço, em comunicação com a sala, servia para o tratamento complementar dos banhos de sol. O edifício principal não tinha quartos para internação mas apenas os espaços e serviços necessários para estadia e tratamentos. Em resumo, o pavilhão é um local de estar terapêutico, enquanto o corpo central é um nó de estar social e de circulação. (Fig. 164 a 166) Duiker organiza as principais atividades nos três corpos paralelos e no anexo que juntos fornecem o suporte físico e funcional para o volume do salão superior, disposto de forma elevada como uma ponte. (Fig. 167 a 169) 157 Figura 164 - O corpo central é um nó de estar social e circulação. Foto do salão superior restaurado em 2003 segundo projeto dos arquitetos Wessel de Jonge e Henket & partners. (Foto de Jannes Linders, 2011, acervo do autor) Figura 165 – Foto da conexão entre o estar social no piso superior pela escada helicoidal norte. Fotografia da obra de restauração em 2003. (Foto de Jannes Linders, acervo do autor) 158 Figura 166 – Sanatório Zonnestraal. Escada helicoidal norte localizada no edifício principal. (Acervo do autor) Figura 167 - Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Bloco principal, 1928. Planta do pavimento superior original desenvolvida com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. (1) refeitório, (2) estar, (3) cinema e teatro, demais áreas terraços e circulação. (Desenho do autor) 159 Figura 168 – – Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Bloco principal, 1928. Planta do térreo original desenvolvida com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. (Desenho do autor) 160 Figura 169 - Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Bloco principal, 1928. Duiker organiza as principais atividades nos três corpos paralelos e no anexo que juntos fornecem o suporte físico e funcional para o volume do salão superior, disposto de forma elevada como uma ponte. (Acervo do autor) No volume mais ao norte (1), à direita de quem chega pela passagem que atravessa o edifício, um pouco “à Bauhaus”, localizam-se as atividades administrativas e, do outro lado da entrada que se abre exatamente abaixo da ponte, a área de tratamento e exames médicos. Dessa última parte um tipo de anexo independente (A) para o tratamento de casos mais graves. O volume central (2) é totalmente utilizado pelas cozinhas e serviços relacionados com a preparação e armazenamento de alimentos; esses ambientes estão em comunicação direta, por meio de elevadores, com o refeitório sobrejacente. O terceiro bloco (3) é o nó tecnológico do sanatório e concentra o sistema de água quente, isso é contém a central térmica, um núcleo de banhos e duchas e as lavanderias. Sobre ela levanta-se imponente a chaminé de metal prateado que faz da base elevada um cilindro largo do reservatório de água. (Fig. 170) Outra exceção é feita para o recinto que liga o volume das cozinhas àquele tecnológico, separando o tráfego mecânico de serviço do de pedestres. Esta área, mais delimitada, desempenha um papel importante no projeto e constitui um sinal de advertência singular, a sua deformação contínua, de uma solução a outra para enfrentar os problemas, indica a importância que o próprio Duiker lhe atribui. (Fig. 171 e 172) Essas paredes brancas não oprimem o espaço, ao contrário, canalizam e ampliam ainda mais a visão, ligando o volume ao térreo. São partes da parede 161 que se estendem para o espaço externo. A solução adotada na frente sul é pouco ortodoxa e única: postula a autonomia da parede do volume e, ao mesmo tempo, torna ambíguo o ponto em que essa já não fecha mais o volume, mas livre, exibe somente a sua espessura. (Fig. 173 e 174) Figura 170 - A chaminé de metal prateado que faz da base elevada um cilindro largo do reservatório de água. (Acervo do autor) Figura 171 - Esta área, mais delimitada desempenha um papel importante no projeto e constitui um sinal de advertência singular, separando o tráfego mecânico de serviço do de pedestres. (Acervo do autor) 162 Figura 172 – As paredes brancas não oprimem o espaço, ao contrário, canalizam e ampliam ainda mais a visão, ligando o volume ao térreo. (Acervo do autor) Figura 173 – Frente sul, ou mais precisamente fachada sudeste do bloco industrial. (Acervo do autor) Figura 174 – A solução adotada na frente sul é pouco ortodoxa e única: postula a autonomia da parede do volume e ao mesmo tempo torna ambíguo o ponto em que essa já não fecha mais o volume, mas livre, exibe somente a sua espessura. (Acervo do autor) 163 Na busca por outras explicações, segue-se pelo caminho de acesso ao sanatório pela fachada norte84. Aproximando-se do edifício, não o percebemos como um obstáculo ou barreira, mas como uma massa descontínua, trespassada pela luz de fundo. Identificado o ingresso, adentra-se tendo já visualizado através da transparência a escada em espiral ascendendo ao nível superior e, atravessando a sala de convivência, depara-se com o terraço, de onde mais uma escada em espiral reconecta ao térreo. (Fig. 175 a 178) Figura 175 – Aproximando-se do edifício, não o percebemos como um obstáculo ou barreira, mas como uma massa despedaçada, trespassada pela luz de fundo. Identificado o ingresso, adentra-se tendo já visualizado através da transparência a escada em espiral ascendendo ao nível superior (foto de Hans R van der Woude, http://www.panoramio.com/photo_explorer#view=photo&position =19041&with_photo_id=21537917&order=date_desc&user=2412504, acessado em 01/06/2013) Figura 176 – Interior da escada espiral na fachada norte. (Acervo do autor) Com maior rigor deveria ser noroeste, entretanto a bibliografia sempre se refere a fachadas/frentes norte e sul, e assim as adotamos. 84 164 Figura 177 – Atravessando a sala de convivência, depara-se com o terraço, de onde mais uma escada em espiral reconecta ao térreo. (Acervo do autor) Figura 178 – Escada espiral na fachada sul do bloco industrial. (Acervo do autor) Obviamente, foi feita uma "visita guiada" com a qual se experimentou o verdadeiro sentido do dispositivo: a conexão interior-exterior que ocorre como um processo contínuo. Não é apenas uma promenade architecturale, é com certeza a essa moldura agradável do comportamento do paciente que se dedica a obra. Chegando-se ao coração do projeto olha-se com mais atenção para os recursos disponibilizados por Duiker que projetava, deixando para trás inconsistentes vínculos tipológicos, inventando os comportamentos e espaços que lhes favoreciam e trazendo à frente a simples relação de correspondência entre forma e função. Os conceitos nodais que fundamentam os edifícios de serviços estão todos ligados à experiência dinâmica do percurso, não é por acaso que os únicos elementos plásticos que interrompem a poesia do ângulo reto são os volumes cilíndricos das escadas. 165 Voltando ao primeiro plano, mas agora pelo contraste das formas, destacam-se como individuações do movimento arquitetônico, o volume em rampa que coagula toda a tensão horizontal da fachada sul com um cilindro erodido e analisado em seus componentes, quase no seu desenrolar no espaço. A chaminé executa uma função análoga, como prendendo ao chão em todo o complexo a tendência dos planos horizontais em expandir-se. Chaminé e escadas ocupam dinamicamente as bordas do volume; coerentemente o único cilindro "estático" é todo interno e contribui para definir o ponto de condensação da sala de estar. (Fig. 179) É necessário reconhecer também nos pavilhões o valor do cilindro, presente desde os primeiros estudos, mas o dispositivo é mais mecânico, uma rotação pura a 45 graus. Duiker também incluiu outro assunto cuja percepção tece a experiência geral do edifício: a desmaterialização da transparência, Duiker parece vir naturalmente para a realização do sonho coletivo de toda uma série de arquitetos modernos. Figura 179 - O volume em rampa que coagula toda a tensão horizontal da fachada sul com um cilindro erodido. (Acervo do autor) 166 O sonho, talvez ingênuo, nasceu de controvertida ansiedade de libertação da escravidão do trilith atávico, presente em investigação arquitetônica que parte do século XIX e da engenharia de decomposição "de Stijl". Zonnestraal está dividido horizontalmente, e é reduzido a um mínimo de quaisquer elementos que possam causar a interrupção da estratificação. A primeira redução é estrutural, as seções dos pilares são mínimas e todas para dentro. Depois, há a total eliminação das diferenças entre os materiais sob uma película branca única e absoluta, o que parece ser uma rejeição muito programática do ensino de Berlage. Desta vez o artifício racionalista consegue reduzir o trabalho no volume, cheio ou vazio, nos termos mais claros de branco ou em branco, ou branco sobre branco à Malevich. Ou seja, vazio, transparente, transparência total literalmente. Tudo muito simples, muito básico. [...]Transparência significa a percepção simultânea de diferentes localizações espaciais. O espaço não apenas recua, mas flutua em atividade contínua. A posição das figuras transparentes tem um significado múltiplo, como se se visse cada figura ora como mais próxima ora como subsequente. (MILELLI, 1978, p.23) A análise ainda segundo a ótica de Kepes, Milelli (1978, p. 23) acrescenta uma definição operacional: "A transparência é a interpenetração sem destruição ótica". Duiker a utiliza instintivamente com leveza única, Zonnestraal é todo permeável à luz, seus limites são diáfanos sem a consistência dos cantos. De uma maneira quase redundante se enchem de múltiplos significados conotativos do ser transparente: o ar e a luz, slogan abusado no International Style, e o seu significado terapêutico, o mesmo nome do sanatório, eles se tornam elementos positivos da arquitetura, recolhidos a partir do ecleticamente sentido figurado do adjetivo transparente (claro, verdadeiro) coincidente com o significado da palavra zakelijk, verdade. Duiker não elaborava teorias e, certamente, não tinha planejado os detalhes semiológicos, no entanto em Zonnestraal se realiza uma das experiências mais extraordinárias do acertamento do espaço-tempo cubista. (MILELLI, 1978, p. 23) 167 Uma observação pode ser feita sobre uma consequência negativa, talvez inevitável, da busca pela desmaterialização máxima. A luz que inunda de cada lado os espaços internos não é selecionada e analisada e a caracterização dos ambientes, pouco especificada no mobiliário, é suspensa em favor da lógica da transparência total. Questiona-se se Duiker apagou completamente as influências wrightianas. Ao mesmo tempo, a superação do racionalismo com uma análise do espaço dinâmico, com uma expansão dos limites do prédio pode ser também um resgate da metodologia wrightiana. Duiker certamente teve oportunidade de estudar as prairie houses, percebem-se fatos presentes no Zonnestraal com algumas dessas casas que apareceram na edição Wasmuth. A entrada sob a ponte, que atravessa o caminho de acesso social, tem um possível precedente na situação análoga da Avery Coonley House. (Fig. 180) Figura 180 - A entrada sob a ponte, que atravessa o caminho de acesso social, tem um possível precedente na situação análoga da Avery Coonley House de F. L. Wright. (Acervo do autor) 168 Existe um lado formal em Zonnestraal também. Nem tudo se resume à técnica. A beleza do conjunto vem de uma sublimação dos objetivos e da tradição de design da Beaux-Arts que também era empregada pelo arquiteto Henri Evers, com quem Duiker e Bijvoet trabalharam assim que saíram da Universidade, propiciando uma primeira experiência com a tecnologia moderna do concreto. O edifício da prefeitura de Roterdã tinha uma armação reforçada de concreto que era inteiramente escondida. Na visão de Duiker a sociedade estava em processo de transformação, e ele aceitava as consequências disso em sua arquitetura, tanto na forma quanto no uso de novos produtos e desenvolvimentos na indústria de construção. O resultado era uma mudança contínua nos seus projetos e desenhos de trabalho. É a isso que a arquitetura de Duiker deve seu significado simbólico. Zonnestraal foi determinado por um ideal, pela imagem de uma sociedade saudável que faz uso de toda a tecnologia moderna disponível. Assim ele revela não só uma abordagem funcional, mas também uma ambição formal. Uma questão interessante foi a sua discordância com o diretor médico J. L. van Lier sobre o uso da cor, em outubro de 1927. Van Lier argumentou que às vezes era necessário se curvar às necessidades médicas, "que eventualmente seriam diferentes do senso artístico… E em primeiro lugar isso não era sobre um trabalho de arte arquitetônico: era sobre um instrumento que eu terei que fazer uso". (MEURS, 2010, p. 201) O tema da cerca e a solução de extensão para o exterior das paredes é deduzida a partir da W. Willits House. Já a ênfase na horizontalidade; o elevado volume cruciforme que projeta suas lajes fixas e também o significado da base da chaminé; o plano transversal e o sentido de continuidade espacial se equiparam às prairie houses, incluindo em particular a Robie House. A hipótese fica em aberto. Gottfried Semper disse em seu livro, Der Stil, que a arquitetura tem uma forma de trabalho (Werkform) e uma forma arte (Kunstform). Para Duiker, a forma de arte era em grande parte um resultado da forma de trabalho. A fachada não é algo que se acrescenta, como um carpete, mas sim 169 compartilha o mesmo status das outras paredes e da cobertura. Mas a fachada é parte do que o teórico de arquitetura Mark Wigley chama de "uma vestimenta saudável, um traje terapêutico". (MEURS, 2010, p. 71) Não uma casca grossa, mas muitas vezes uma pele fina e transparente. A esbeltes e o refinamento são ditados pelas possibilidades estruturais e as tecnologias de isolamento. A esse respeito Duiker escreveu em uma carta para o arquiteto J.A. van der Steur em 1928: [...]Através de uma apreensão do tempo…Nosso entendimento da arquitetura é purificado…Ou nós destruímos a nova ideia de estupidamente construir com paredes de tijolos, tão pesadas que toda a alegria de viver dentro delas é eliminada, ou nós nos livramos de todas as amarras e construímos um sistema de pisos e colunas que se sustentam sozinhos, e as paredes que os acompanham…Só assim pode aparecer uma arquitetura que não seja "diletante", nem ‘forte e saudável’, mas sim de uma magreza saudável, e acima de tudo leve, arejada e assim cheia de alegria de viver.” (MEURS, 2010, P. 71) Talvez Duiker, que também era um ótimo músico (há relatos de seus duetos ao piano com Bijvoet)85, ao realizar Zonnestraal tentou algo incomum na arquitetura: a reescrita de uma partitura para outros instrumentos. (Fig. 181) Figura 181 – A restauração do sanatório Zonnestraal de Hilversum foi concluída em 2008, segundo projeto dos arquitetos Wessel de Jonge e Henket & partners. Algo primoroso. (Acervo do autor) 85 Segundo VICKERT, 1971, p. 133 170 CONCLUSÃO Zonnestraal: "raio de sol". O nome evoca e sintetiza com precisão e eficácia uma atmosfera psicológica, um ideal estético, um programa funcional, um projeto social. O significado de se concluir uma pesquisa com uma dedicatória ao Sanatório de Hilversum, "obra-prima" de Johannes Duiker inaugurado em 1928, é, antes de tudo adquirir mais um pedaço do vasto, e ainda em muitos lugares incompleto, mosaico da arquitetura do século XX. Não se pode imaginar edifícios mais diferentes uns dos outros do que Zonnestraal e Goetheanum86 de Rudolf Steiner, que datam do mesmo período, no entanto, ambos afundam as suas raízes no mesmo solo que se revela bastante homogêneo - o mito da natureza, o culto da luz, o sentido de comunidade, a sociedade como amor. A absoluta transparência em Hilversum coincide com o seu oposto, a densidade da matéria em Dornach: uma janela sobre as complexas interferências que tornam o mundo de Mies e de Wright muito menos autônomo do que se está habituado a pensar. (Fig. 181 e 182) Confrontar-se com Zonnestraal significa entender o que é transitório e o que é permanente em uma obra arquitetônica. Da atmosfera, dos ideais, das funções e do contexto social nada ficou. Mas, apesar do tempo, Zonnestraal ainda se oferece para estimular a necessidade de um espaço diferente, 'outro', 'qualitativo'. O que permaneceu é o que é de fato a arquitetura, a sublimação espacial das necessidades transitórias em pulsação permanente. A história da arquitetura, então, é a história das invenções dos espaços. 86 Goetheanum é a sede mundial do movimento antroposófico. Localizado em Dornach, Suíça, o conjunto inclui dois teatros, espaços para exposições e palestras, biblioteca, livraria e os escritórios da Sociedade Antroposófica. O nome é uma homenagem a Johann Wolfgang von Goethe. 171 Nela os arquitetos, clientes e usuários são anulados como indivíduos, como sistemas sociais e temas ideológicos, para reemergirem como homens concretos, em equilíbrio entre o hoje e o sempre, entre cultura e estrutura antropológica. Tal qual afirmou Otto Wagner (1993, p. 34): [...] De entre todas las artes plásticas, [se me hace difícil hablar de artes em plural, pues sólo existe un arte,] la arquitectura es [casi] la única verdaderamente creativa y fructífera, es decir sólo ella está em condiciones de crear formas que se revellen a la humanidad como bellas, sin tener que buscar sus modelos em la Naturaleza. Aunque estas formas tengan su embrión em estructuras naturales y su origen em los materiales, la obra final se encuentra tan alejada del punto de partida que há de considerarse como una creación completamente nueva. Por tanto, no debe sorprendernos oír decir que: En la arquitectura ha de reflejarse la expressión más elevada, rayana en lo divino del saber humano. [...] 172 Figura 182 – O Goetheanum original foi projetado por Rudolf Steiner. Destruído por um incêndio criminoso em 31 de dezembro de 1922, foi reconstruído inteiramente em concreto e reinaugurado em 1928. (http://de.academic.ru/pictures/dewiki/71 /Goetheanum_Dornach2.jpg, acessado em: 04/11/2012) Figura 183 – Sanatório Zonnestraal em Hilversum, Países Baixos, projeto de Johannes Duiker, colaboração de Bernard Bijvoet, projeto de estrutura de Jan Gerko Wiebenga (1919 – 1932). Foto desde a fachada norte. (Acervo próprio) 173 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHAM, POL. La construction des sanatoriums d’altitude. L’Architecture d’aujourd’hui, Paris, v. 5, p. 17-23, 1938. ADAMS, ANNMARIE. Medicine by Design: The Architect and The Modern Hospital, 1893-1943. Minneapolis: University of Minnesota press, 2008. 171 p. Architecture, Landscape, and American Culture Series. AIZPÚRUA, JOSÉ MANUEL. Arquitectura Racionalista. San Sebastian: La Gaceta Literaria, 1928. AYMONINO, CARLO. La vivienda racional. Barcelona: Gustavo Gili, 1976. BELENGUER, MARIA MELGAREJO. La arquitectura desde el interior, 1925-1937 – Lilly Reich y Charlotte Perriand. Madri: Fundación Caja de Arquitectos, 2011. 262 p. coleção arquia/tesis, num. 34. BELLI, CARLO. Construzione degli Ospedali-Ospici e stabilimenti affini. Milão: Ulrico Hoepli, 1913. BENEVOLO, LEONARDO. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Editora Perspectiva, 1976. 813 p. BRAUNFELS, WOLFGANG. Arquitectura monacal em Occidente. Barcelona: Barral, 1975. 119 p. BRUNE, PAUL. Histoire de l'Ordre Hospitalier du Saint-Esprit, C. Martin ed., 1892 BRUNI, LEONARDO. História do Povo Florentino. [S.l.: s.n.], 1442. Versão moderna: Hankins, James. History of the Florentine People. Cambridge: Harvard University Press, 2001. vol. 1. ISBN 9780674005068. CASTRO VILLALBA, ANTONIO. Història de la construcción medieval: aportaciones. Barcelona: UPC, 1996. COLIN, SILVIO. Elementarismos - Poéticas pictóricas das vanguardas novecentistas e sua influência no movimento moderno. REVISTA AU – 174 ARQUITETURA E URBANISMO, São Paulo: n. 187, out. 2009. Disponível em: http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/187/intersecaoelementarismos-153333-1.asp. Acessado em 12/05/2013. COLQUHOUN, ALLAN. La arquitectura moderna: uma historia desapasionada. Barcelona: Gustavo Gili, 2005. 287 p. ISBN: 84-252-1988-4. COMELLES, ESTEBAN e outros. L’hospital de Valls: Assaig sobre l’estructura i les transformacions de les institucions d’assistència. Tarragona: Institut d’Estudis Tarraconenses Ramon Berenguer IV, 2002. CURTIS, WILLIAN J. R. Arquitetura moderna desde 1900. Porto Alegre: Bookman, 2008. 736 p. D’ALEMBERT, JEAN le ROND. Partie Mathématiques, en DENIS DIDEROT. Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, par une Societé de gens de lettres. Paris: 1751 - 1772. DEFERRARI, ROY JOSEPH. Basil, Saint, Bishop of Caesarea, ca. 329-379. Londres: London Heinemann, Possible copyright status: Permission Granted to Digitize Item, Digitizing sponsor: Andrew W. Mellon Foundation, Book contributor: Robarts - University of Toronto, Collection: Robarts; Toronto, 1926, disponível em: http://archive.org/search.php?query=creator%3A%22Basil%2C+SaSai%2C+Bish op+of+Caesarea%2C+ca+329-379%22, acessado em: 25/11/2012. DIJK, HANS van. Twentieth-Century Architecture in the Netherlands. Rotterdam: 010 ed, 1999. ENCYCLOPEDIA BRITANNICA; 15th Edition, 1991; 29 Vol. + 9 Extras ESCHOLIER, RAYMOND. Hotel – Dieu. Lyon: Édité par Les Laboratoires CIBA, 1938. 47 p. coleção Les Vieux Hopitaux Français. FONSECA, JOÃO DUARTE. 1755, o terramoto de Lisboa: The Lisbon earthquake. Lisboa: Argumentum, 2004. 139 p. ISBN 9789728479329 175 FRAMPTON, KENNETH. Historia crítica de la arquitectura moderna. Barcelona: Gustavo Gili, 1997. 400 p. 7ª edição. ISBN: 84-252-1628-1. FRASCINA, FRANCIS; HARRISON, CHARLES; PERRY, GILL. Primitivismo, cubismo y abstracción, Madri: Akal,1988, 344 p. ISBN: 9788446008682. FOUCAULT, MICHEL e outros. Les machines a guérir: aux origines de l’hópital moderne. Bruxelas: Mardaga, 1979. GARRIDO, GINÉS. Mélnikov em Paris, 1925. Madri: Fundación Caja de Arquitectos, 2009. 262 p. coleção arquia/tesis, num. 33. GIEDION, SIGFRIED. Espacio, tempo y arquitectura: el futuro de uma nueva tradición. Madrid: Dossat, 1980. GLICK, THOMAS F. et al. Medieval Science, Technology and Medicine: an Encyclopedia. London: Routledge, 2005. ISBN 0-415-96930-1 HITCHCOCK, HENRY-RUSSEL. Frank Lloyd Wright: in the Nature of Materials 1887-1941. Nova Iorque: Hawthorn, 1942. JOHNSON, PHILIP. El Estilo Intenacional: Arquitectura desde 1922. Murcia: Colegio Oficial de Aparejadores y Arquitectos Técnicos, 1984. LACASA, LUIS. Europa y América: Bajo y sobre el racionalismo de la arquitectura. Madri: Colegio Oficial de Arquitectos, 1976. LAIN ENTRALGO, PEDRO. Historia de la Medicina. Barcelona: Salvat, 1985. LAND, CARTEN (ed.). Hospital da Luz e Casas da Cidade – Complexo Integrado de Saúde da Luz – Luz Integrated Health Complex. Ratingen: CAPA Edition, 2011. 204 p. ISBN 978-3-00-032455-0. MEURS, PAUL; VAN THOOR, MARIE-THERESE. Zonnestraal Sanatorium: The History and Restoration of a Modern Monument. Rotterdam: NAI, 2010. 280 p. ISBN 978-90-5662-696-9. 176 MIGUEL, JAIR DINIZ. Arte, Ensino, Utopia e Revolução – Os ateliês Artísticos Vkhutemas/Vkhutein (Rússia/URSS, 1920-1930). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006. MILELLI, GABRIELE S. Zonnestraal Il sanatorio di Hilversum. Bari: Dedalo libri, 1978. 88 p. ISBN 978-88-220-3317-8 MILLER, TIMOTY S. The birth of the hospital in the Byzantine Empire. BaltimoreLondres: The Johns Hopkins University Press, 1997. MIQUELIN, LAURO CARLOS. anatomia dos edifícios hospitalares. São Paulo: CEDAS, 1992. 241 p. MOLEMA, JAN. jan duiker, Barcelona: Gustavo Gili, 1996. 207 p. ISBN 84-2521520-X OWSEI, TEMKIN. Byzantine Medicine: Tradition and Empiricism, Dumbarton Oaks: John Scarborough ed., Symposium on Byzantine Medicine, 1985. Papers 38. ISBN: 0-88402-139-4. OZENFANT / LE CORBUSIER. Acerca del purismo, escritos 1918/1926, Madri: El Croquis Editorial, 1997. 267 p. ISBN: 84-88386-06-0. PARKER, PHILIP. HOSPITALES WEBSTER’S TIMELINE HISTORY 1610 - 2007, San Diego: ICON, 2009. 40 p. PEVSNER, NIKOLAUS. Historia de las tipologias arquitectónicas, Barcelona: Gustavo Gili, 1979. PICAZO, PEDRO IGLESIAS. La habitación del enfermo: Ciencia y arquitectura em los hospitales del Movimiento Moderno. Madri: Fundación Caja de Arquitectos, 2011. 266 p. coleção arquia/tesis, num. 32. ROSENFIELD, ISADORE. Hospital Architecture and beyond. Nova Iorque: Reinhold, 1969 SMITHSON, ALISON. Team 10 Meetings, 1953-1984. Nova Iorque: Rizzoli, 1991. 177 TAMAYO, RUY PÉREZ. De la magia primitiva a la medicina moderna. México: Fondo de Cultura Económica, 1997. VILLALBA, ANTONIO CASTRO. História de la Construcción Medieval, Barcelona: UPC, 1996. TAUT, BRUNO. Escritos expressionistas, Madri: El Croquis Editorial, 1997. 299 p. ISBN: 34-88386-10-9. TAVORA, FERNANDO. DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO. Porto: FAUP, 2008. 75 p. ISBN: 978-972-9483-22-6 TIMMER, HAN. Henri Evers 1855-1929; architect, geschiedschrijver, hoogleraar, Bibliografieën en oeuvrelijsten van Nederlandse architecten en stedebouwkundigen. Stichting Bonas ed., 1997. 48 p. ISBN: 9789080240124 UNDERWOOK, EDGAR ASHWORTH (ed.). Science, medicine and history: Essays on the evolution of the scientific thought and medical practice written in honour of Charles Singer. Nova Iorque: Oxford University Press,1953. VICKERY, ROBERT. Bijvoet and Duiker, Cambridge: The MIT Press on behalf of Perspecta, 1971. Vol. 13-14. pp. 130-161. WAGNER, OTTO. La arquitectura de nuestro tiempo , Madri: El Croquis Editorial, 1993. 156 p. ISBN: 84-88386-02-8 / 84-88386-03-6. WALLACE, A. T. Sir Robert Philip: A Pioneer in the campain against Tuberculosis, em Medical History. Londres: Dawsons of Pall Mall, 1961. WEBB, SIDNEY; WEBB BEATRICE POTTER; PEDDIE R. A. The History of Trade Unionism. Nova Iorque: Bibliolife - Cornell University Library – digital collections, 2009, 594 p. ISBN-13: 978-1115553957. WRIGHT, FRANK LLOYD. Autobiografia 1867 [1944], Madri: El Croquis Editorial, 1998. 667 p. ISBN: 84-88-386-11-7. ZEVI, BRUNO. A linguagem moderna da arquitetura, São Paulo: Edições 70, 2002. 176 p. ISBN: 978-97-2441-149-1. 178 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1– Incêndio do Hotel-Dieu em 1772; ESCHOLLER, Les Vieux Hospitaux Français, p. 33................ 14 Figura 2 – Ilustração que adorna o manuscrito “Livre de La Vie Active”, representando o recebimento dos enfermos segundo a sua posição social no infirmarium e no hospitale pauperum; (ESCHOLLER, 1938, p. 8) ..................................................................................................................................... 16 Figura 3 – ilustração que adorna o manuscrito “Livre de La Vie Active”, representando o interior de uma sala de doentes; a pessoa com melhor posição social acomoda-se num leito individual; (ESCHOLLER, 1938, p. 9) ............................................................................................................................................................. 17 Figura 4 – Pintura de Giotto, século XII, Adoração dos Magos, Capela de Gliscrovegni, Itália http://www.cappelladegliscrovegni.it, acessado em: 09/03/2013 ......................................................................... 20 Figura 5 – ilustração de VIOLLET-LE-DUC quanto ao modo de organização de uma enfermaria na alta Idade Média; (PICAZO, 2011, p. 30) ....................................................................................................................... 25 Figura 6 – Pedro o Eremita mostra o caminho de Jerusalém aos cruzados (Iluminura francesa de 1270), autor desconhecido, http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Roman_du_ Chevalier_du_Cyg ne_f176v_ Pierre_l%27 ErmitE.jpg; acessado em: 01/08/13............................................... 27 Figura 7 – Ilustração das alas Ospedale di Santo Spirito (1473 – 1477) em Roma. As duas enfermarias longitudinais, com a capela octogonal no centro, ficaram concluídas em 1477. (gravura em chapa de cobre de Philippe Benoist, 1813, com base na pintura de Jean-Baptiste Bayout, por volta de 1810, LAND, 2011, p. 135) ............................................................................................................. 29 Figura 8 – Planta térrea do Ospedale di Santo Spirito (1473 – 1477) em Roma. Foi inaugurado pelo Papa Sisto V em 1478. Em destaque as duas enfermarias longitudinais, com a capela octogonal no centro (Oswald Kühn, Krankenhauser em Handbuch der Architektur, parte 4, volume 5, Stuttgart, 1897, LAND, 2011, p. 134)............................................................................................................... 29 Figura 9 – ilustração da Peste negra na Bíblia de Toggenburg, 1411, autor desconhecido, (http://phys.org/news97780475.html, acessado em: 21/04/13) ............................................................................ 30 Figura 10 – ilustração da Peste negra na Bíblia de Toggenburg, 1411, autor desconhecido, (http://phys.org/news97780475.html, acessado em: 21/04/13) ............................................................................ 30 Figura 11 – Hospital Real de Todos-os-Santos no Largo do Rossio, em Lisboa, 1504 (Painel de azulejos do século XVIII na fachada principal do hospital, atualmente no Museu da Cidade de Lisboa, LAND, 2011, p. 136) ...................................................................................................................................................... 31 Figura 12 – Enfermaria do Hôpital de la Charité, Paris, ilustrando os Irmãos Hospitalários durante a distribuição de refeições, (Gravura em chapa de cobre de Abraham Bosse, por volta de 1700, LAND, 2011, p. 137)...................................................................................................................................................................... 32 Figura 13 – Enfermaria no Pesthof de Hamburgo por volta de 1609, ilustrando os várias operações médicas e pastorais para os doentes agonizantes, notar ao fundo as celas fechadas, com pequenos visores, para os doentes mentais, (Gravura em chapa de cobre de autoria desconhecida, 1785, apud LAND, 2011, p. 138)............................................................................................................. 34 Figura 14 – Enfermaria no da Charité em Berlim,1785, (ADAMS, 2008, p. 64) ................................................. 36 Figura 15 – Enfermaria do Hospital de São José, Lisboa, ilustrando o rei D. Pedro V em visita aos doentes durante uma epidemia de febre, 1857. À esquerda um padre e uma irmã de caridade; o médico pode ser visto à direita, ao lado do rei (Gravura em madeira do Le Monde Illustré, 1861, apud LAND, 2011, p. 138) ............................................................................................................................................ 37 179 Figura 16 – Planta de situação do Hotel-Dieu em meados do século XVIII (PICAZO, 2011, p. 22) .......... 38 Figura 17 – Representação de uma enfermaria no Hotel-Dieu, com altar ao centro em destaque. Fac-símile de uma gravura do século XVI, folha de rosto de um manuscrito intitulado: Le Pardon, gráces et facultes octroyés à Monseigneur l’archevêque patriarche de Bourges et primat d’Aquilain aux bienfaiteurs de l’Hotel-Dieu ... (ESCHOLIER, 1938, p. 5) ................................................... 39 Figura 18 – Visita da duquesa D’Orleans ao Hotel-Dieu em 1657 (ESCHOLIER 1938, p. 17)..................... 39 Figura 19 – Entrada do Hotel-Dieu em 1650, gravura de D’Aprés Sylvestre (ESCHOLIER 1938, p. 17) ......................................................................................................................................................................................................... 39 Figura 20 – Aspectos do Hotel-Dieu, séc. XVIII, as enfermarias ocuparam as pontes sobre o rio Sena em vários andares, Les Cagnards de l’Hotel-Dieu au début de l’Empire (ESCHOLIER, 1938, p. 5) ....................................................................................................................................................................................................... 40 Figura 21 – Aspectos do Hotel-Dieu, meados do séc. XVIII, Le Petit Point et l’Hotel-Dieu, vue prise du Pont de l’Archveché (ESCHOLIER, 1938, p. 5) ................................................................................................. 40 Figura 22 – Aspectos do Hotel-Dieu, meados do séc. XVIII, Le Pont de l’Hotel-Dieu, vers 1806 – aquatinte de Nartes (ESCHOLIER, 1938, p. 5) .................................................................................................................... 40 Figura 23 – Aspectos do Hotel-Dieu, meados do séc. XVIII, Vue prise d’une Arche du Pont SaintMichel sur l’Hotel-Dieu et Notre Dame, vers 1804 (ESCHOLIER, 1938, p. 5) ....................................................... 41 Figura 24 – Planta de uma enfermaria do Hospital Geral de Bamberg (1787 – 1789). Entre os quartos situavam-se os banheiros, nota-se que as bacias estão entre os eixos das camas, e eram acessadas por meio de um dispositivo deslizante ao lado dos leitos. (LAND, 2011, p. 141) ........................ 45 Figura 25 – Ilustração com a vista área do Hospital Geral de Viena (1783-1784), projetado para acomodar 2000 doentes, conforme concepção de Fauken. Previa-se também instalar, ao fundo do hospital a Narrenturm – Torre dos Loucos. ( gravura sobre cobre de Joseph Peter Scheffer, por volta de 1795, LAND, 2011, p. 143) .............................................................................................................................. 47 Figura 26 – Planta da remodelação da Charité de Berlim. O corpo frontal, concebido com base no modelo de Bamberg, já não incluía quartos de ambos os lados de um corredor central e escuro, e localizava as áreas sanitárias em corredores secundários perpendiculares ao corredor principal (LAND, 2011, p. 144) ................................................................................................................................................. 48 Figura 27 – Fachada principal do hospital pediátrico D. Estefânia em Lisboa (1858-1877) (Gravura sobre madeira, por volta de 1880, ADAMS 2008, p. 27) .......................................................................... 49 Figura 28 – Planta do hospital pediátrico D. Estefânia em Lisboa, de H.Senftleben: Florence Nightingale’s Bemerkungen über Hospitäler. Memel 1866. P. 62. (LAND, 2011, p. 145) ............................. 49 Figura 29 – Pavilhão para o serviço de cirurgia (1866-1867) construído no perímetro da Charité de Berlim. O sistema de ventilação na cobertura, tornou-se um padrão nos edifícios hospitalares no período do Império Alemão, segundo Reich (litografia com data e autoria desconhecidas, ADAMS, 2011, p. 81)..................................................................................................................................................................... 51 Figura 30 – Ilustração com vista aérea do hospital municipal de Eppendorf, em Hamburgo, Alemanha. O Complexo projetado para tratamento de doentes em regime de internação era constituído por mais de 70 pavilhões térreos. O edifício frontal, único com mais pisos, foi construído para os serviços de oftalmologia e pediatria. (LAND, 2011, p. 147) ................................................ 54 Figura 31 – O cirurgião Ernst von Bergmann (1936-1907), entre os seus assistentes, no bloco operatório do serviço de cirurgia da Universidade de Berlim. Segura uma serra cirúrgica na mão direita, para iniciar uma amputação de braço. A paramentação branca passou a ser usada de 1886 em diante. O doente está para ser anestesiado com uma máscara de éter. Gravura sobre madeira, baseada num desenho de Werner Zehme, 1891. (LAND, 2011, p. 148) ......................................... 54 180 Figura 32 – Trabalhador operando o cilindro de lapidação de diamantes, 1920, fotografia de autoria desconhecida, International Institute for Social History (IISG), Amsterdã, Zonnestraal archive pp. 016-017, 2010.......................................................................................................................................................... 55 Figura 33- O nome "moléstia-magra" é um reflexo dos efeitos da doença para o paciente, que praticamente definhava (http://kvond.wordpress.com/2009/10/22/was-tuberculosis-thecondition-of-spinozas-emendation-of-the-intellect/, acessado em: 24/07/13). ..................................................57 Figura 34– A tuberculose espinhal pode resultar em uma corcunda, e era muito comum nos Países Baixos pré-guerra tanto em adultos como crianças. Pôster do Centro de Prevenção de Tuberculose de Amsterdã 1899 (autoria desconhecida, acervo do Beatrixoord Tuberculosis Museum, Appelscha). ................................................................................................................................................................... 57 Figura 35– Craigleith era uma casa suficiente espaçosa para permitir que finalmente fosse posto em prática o plano de fundação de um hospital especializado em tuberculose, foto de autoria desconhecida. (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) ..................................................................................................................................................................................... 60 Figura 36- Numa área descentralizada de Edimburgo, a propriedade de sete acres possuía esplendidos bosques e a condição ideal para a implantação de uma colônia para tratamento dos pacientes. (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) ..................................................................................................................................................................................... 60 Figura 37- Em 1903, quando o rei Eduardo tornou-se o patrono do hospital, foram construídos mais três pavilhões e uma lavanderia (em verde). (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) ...................................... 61 Figura 38- Em 1907 construíram-se mais dois pavilhões e um edifício administrativo. (http://www.craigleithhill.co.uk/craigleith_house.html, acessado em 05/05/2013) ...................................... 61 Figura 39- Em 1916 se criou o Royal Victoria Hospital Tuberculosis Trust, que permitiu a aquisição de uma pequena propriedade em Southfield, onde Dr. Philip organizou um sanatório escola, voltado ao ensino de medicina e pesquisa especializadas em tuberculose. (http://flickriver.com /photos/23351536 @N07/2245387952/, acessado em 05/05/2013)...................... 63 Figura 40– Sanatório municipal para doentes de tuberculose, Chicago, EUA; W. A. Otis & Edward H. Clark Architects, 1909. Provavelmente o mesmo que influenciou Duiker. (MEURS, 2010, p. 065)..................................................................................................................................................................................... 64 Figura 41- Sanatório Hoog Laren em Blaricum, Países Baixos (1903), ala infantil, crianças desenvolvendo atividades didáticas e, simultaneamente em seção de Helioterapia, fotografia de autoria desconhecida. (Beatrixoord Tuberculosis Museum, Appelscha, 2010) .................................................. 65 Figura 42– As mensagens nos murais, pôsteres e folhetos das clínicas de prevenção da tuberculose, atribuíam um efeito quase místico aos poderes regenerativos do sol. É o tempo da Helioterapia. Pôster nos centros de prevenção contra a tuberculose, autor desconhecido (MEURS, 2010, p. 054) .................................................................................................................................................................. 66 Figura 43– Sábado, 28 de Setembro, dia de conscientização dos fracos sobre a força do raio de sol contra a tuberculose! Pôster de Albert Hahn Jr., 1930 (MEURS, 2010, p. 054, tradução do autor). ................................................................................................................................................................................................... 66 Figura 44– Capa da edição original (http://covers.openlibrary.org/b/id/6651174-M.jpg, acessado em: 19/07/2013). ....................................................................................................................................................... 67 Figura 45– Projeto de H. P. Berlage (1856-1934) para a sede da ANDB, localizada atualmente na Henri Polaklaan 9, Amsterdã. (Foto do autor, 2004)................................................................................................ 68 Figura 46– Jan van Zutphen, encomendou para as primeiras doações pequenas latas para a coleta de dinheiro. Museu de Amsterdã. (Acervo próprio) ......................................................................................... 69 181 Figura 47– Jan van Zutphen, no centro da foto, com os demais fundadores do KSF, fazendo a contagem do dinheiro arrecadado em doações, 1905, autor desconhecido. (MEURS, 2010, p. 52) ......................................................................................................................................................................................................... 70 Figura 48– Capas da revistaVeshch/Gegenstand/Objet, editadas por El Lissitzky e Ilya Ehrenburg, http://www.russianartandbooks.com/cgi-bin/russianart/03034R; acesso 03/02/2013 ....................................................................................................................................................................................... 74 Figura 49– Capas da revista berlinenseG, de Gestaltung, editadas por El Lissitzky e Ilya Ehrenburg. (http://cidesignmuseum.org/en/yellowView.aspx?ActiveID=145; acessado em: 19/06/2013) ..................................................................................................................................................................................... 75 Figura 50– Instalação Prounenraum para a Grande Exposição de Arte de Berlim (Grosse Berliner Kunstausstellung) – 1924 (http://www.moma.org/explore/multimedia/audios/ 244/2439; acessado em: 24/07/2013)................................................................................................................................. 76 Figura 51 – Proun, El Lissitzky, The New Man (Neuer) from Figurines: The Three-Dimensional Design of the Electro-Mechanical. (http://www.moma.org/collection/object.php ?object_id=88312; acessado em: 05/05/2013) ................................................................................................................ 76 Figura 52– Malevich – Planits. (http://en.wahooart.com/@@/8DP8WM-Kazimir-SeverinovichMalevich-Future-Planits-for-Leningrad.-The-Pilot's-Planit, acessado em 24/07/13)............................................ 77 Figura 53– Kazimir Malevich, Architekton Gota (Arkitekton Gota), 1923, plástico, 85.3 x 56 x 52.5 cm. (Russian State Museum, St. Petersburg, Exposição ArchiSculpture - Guggenheim Bilbao – Bilbao, Espanha – 28/10/2005 a 19/02/2006) ................................................................................................................ 78 Figura 54– Escritórios suspensos em Moscou / Wolkenbügel. (http://terraincritical.wordpress.com /2010/10/29/a-modernist-architectural-and-aesthetictheory-database/; acessado em: 24/07/13) ....................................................................................................................... 79 Figura 55– Revista ABC - Beiträge zum Bauen. (http://www.buch-antiquariat.ch/ de/deT01/sa/57113/; acessado em: 24/07/13) .............................................................................................................. 80 Figura 56– Revista ABC - Beiträge zum Bauen, projeto de Hannes Meyer para a Petersschule, Basiléia,1926.(http://digitalgallery.nypl.org/nypldigital/dgkeysearchdetail.cfm?trg=1&strucID=10 72040&imageID=1515916&parent_id=1058763&word=&snum=&s=¬word=&d=&c=&f=&k =0&sScope=&sLevel=&sLabel=&sort=&total=351&num=0&imgs=20&pNum=&pos=8, acessado em: 24/07/13).................................................................................................................................................................................. 81 Figura 57– Projeto de Hannes Meyer para a Petersschule, Basiléia,1926. (FRAMPTON, 1994, p. 135) ....................................................................................................................................................................................................... 82 Figura 58– projeto de Meyer e Wittwer para a Sociedade das Nações. (FRAMPTON, 1994, p. 135) ....................................................................................................................................................................................................... 83 Figura 59– projeto de Meyer e Wittwer para a Sociedade das Nações. A tão proclamada “objetividade” também era percebida no corte do auditório, fruto de sofisticados cálculos de acústica. (FRAMPTON, 1994, p. 135) ..................................................................................................................................... 83 Figura 60– Pintura A Vaca de Theo van Doesburg. (FRASCINA,1988, p. 199) ................................................. 84 Figura 61– Fábrica Van Nelle, foto de autoria desconhecida, 1929. (NAI Collection, Roterdã, http://zoeken.nai.nl/CIS/object/2504, acessado em: 12/08/2013) ......................................................................... 86 Figura 62– Edifício Larkin (1904-1906), F. L. Wright, Buffalo, Nova Iorque, EUA. (http://architecture.about.com/od/franklloydwright/ig/Guggenheim-Exhibition/LarkinBuilding.htm, acessado em 23/06/2013) ............................................................................................................................ 87 182 Figura 63– Duiker e Bijvoet foram os vencedores do concurso para a Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Os arquitetos não conseguiram entregar o projeto final no prazo estabelecido e o contrato foi desfeito. (MOLEMA, 1996, p. 23) ................................................................... 88 Figura 64– Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Piso térreo. Em muitos aspectos o projeto lembra o primeiro desenho para a escola Schevenningen. (MOLEMA, 1996, p. 24) .................................................................................................................................................................................................... 88 Figura 65– Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Piso superior. A estrutura de concreto armado foi a primeira colaboração entre Duiker e Wiebenga. (MOLEMA, 1996, p. 24) ......................................................................................................................................................................................................... 89 Figura 66– Academia Real de Artes Plásticas (1917-1919), Amsterdã. Perspectiva do pátio interno. Referencias e o exercício de mera formalidade e monumentalidade Wrightianas. (MOLEMA, 1996, p. 25) ............................................................................................................................................................... 89 Figura 67– Residência em Aalsmeer (1924). Fachada posterior. Essa casa definiu o início do período moderno de Duiker. (MOLEMA, 1996, p. 55) .................................................................................................. 90 Figura 68– Residência em Aalsmeer (1924). Fachada Frontal. A caixa de escada cilíndrica abriga também a chaminé. (http://livemodern.com/buildblogs/f3048ddf88fb536ee30a7b9b4af3c2ef; acessado em 12/08/2013) ......................................................................................................................................................... 90 Figura 69– Residência em Aalsmeer, Duiker e Bijvoet, (1924). Foi completamente restaurada em 1988. (MOLEMA, 1996, p. 56) .................................................................................................................................................. 91 Figura 70– Residência em Aalsmeer, Duiker e Bijvoet, (1924). Plantas, cortes e elevações. (MOLEMA, 1996, p. 57) ............................................................................................................................................................... 91 Figura 71– Conjunto residencial para idosos em Alkmaar. Duiker e Bijvoet vencem o concurso (1917). Versão apresentada no concurso. (MOLEMA, 1996, p.18) ......................................................................... 93 Figura 72– Alkmaar, Duiker e Bijvoet, Fachada frontal em estado original, 1917. (MOLEMA, 1996, p.19)......................................................................................................................................................................................... 94 Figura 73– Alkmaar. Duiker e Bijvoet. Planta do térreo e superior como realizado,1917. (MOLEMA, 1996, p.17) ................................................................................................................................................................ 94 Figura 74– Casa de esquina na Doornstraat, Joh. van Oldenbarnevedtlaan, 1919. (MOLEMA, 1996, p.41)......................................................................................................................................................................................... 96 Figura 75 - Casa de esquina na Doornstraat, Planta do térreo, 1919. (MOLEMA, 1996, p.41) .................. 96 Figura 76– Derde Ambachtsscool em Scheveningen (1921). (http://www.nai.nl/content/ 478903 /digitalisering_archief_jan_duiker, acessado em 01/07/13) ..................................................................... 96 Figura 77– Concurso para o Chicago Tribune (1922). (MOLEMA, 1996, p.49) ................................................ 98 Figura 78– Casa de Robert van't Off em Huis ter Heide. (1916). (http://en.nai.nl/collection/ view_the_collection/item/_rp_kolom2-1_elementId/1_669536, acessado em 01/07/13) ......................... 99 Figura 79– Fábrica de chapéus em Steinberg, Luckenwalde, projeto de Erich Mendelsohn. (1916). (Foto de autoria desconhecida, acervo próprio)........................................................................................... 100 Figura 80– sistema pré-fabricado patenteado. (MOLEMA, 1996, p.65) ............................................................. 101 Figura 81– composição e montagem, axonométrica (MOLEMA, 1996, p.65) ............................................... 102 Figura 82– sistema pré-fabricado patenteado, perspectiva de casas geminadas. (MOLEMA, 1996, p.65)...................................................................................................................................................................................... 102 Figura 83– Lavanderia em Diemen na etapa final de construção em 1925. O projeto dessa lavanderia reforçou o contato que Duiker e Bijvoet tinham com o fundo KSF, do sindicato dos 183 trabalhadores do diamante de Amsterdã, de Jan van Zutphen. Essa lavanderia oferecia o serviço gratuitamente aos trabalhadores em troca da recuperação do pó do diamante impregnado nas roupas. (MOLEMA, 1996, p.58) ......................................................................................................... 103 Figura 84– Lavanderia em Diemen, planta do térreo na primeira etapa. (MOLEMA, 1996, p.60) ........ 103 Figura 85– Apartamentos Nirwâna, em Haia, foto do edifício recém-terminado. Com o retorno de Wiebenga dos Estados Unidos de América, ambos decidem se associar nessa experiência, que traduzia os modernos edifícios de apartamentos americanos (1927). (MOLEMA, 1996, p.103) ................................................................................................................................................................................................ 104 Figura 86– Apartamentos Nirwâna, em Haia, perspectiva de Duiker para a solução de cinco blocos. A pouca familiaridade dos arquitetos com edifícios em altura, os levou a tomar algumas decisões equivocadas, como por exemplo, a livre organização interna de cada planta, que ocasionou muitos problemas com as instalações (1927). (MOLEMA, 1996, p.103) ..................................... 104 Figura 87– Apartamentos Nirwâna, planta com 4 apartamentos por andar (1927). (MOLEMA, 1996, p.104) ................................................................................................................................................................................... 105 Figura 88– Apartamentos Nirwâna, planta com 2 apartamentos por andar (1927). (MOLEMA, 1996, p.104) ................................................................................................................................................................................... 105 Figura 89– Apartamentos Nirwâna, perspectiva de uma pequena sala de jantar (MOLEMA, 1996, p.105) ................................................................................................................................................................................... 106 Figura 90– Apartamentos Nirwâna, elevação frontal do “projeto ideal” (1927). (MOLEMA, 1996, p.108) ................................................................................................................................................................................................ 106 Figura 91– Escola ao ar livre, Amsterdã. Primeira implantação junto ao parque, em Cliostraat (1927-28). (MOLEMA, 1996, p.116) .................................................................................................................................... 108 Figura 92– Escola ao ar livre, Amsterdã. Situação atual, com anexo de acesso. Foto de autoria desconhecida. (http://qing.blog.sina.com.cn/tj/5415c349330027nb.html, acessado em 28/07/2013) .................................................................................................................................................................................. 108 Figura 93– Escola ao ar livre, Amsterdã. Foto de 1930 (MOLEMA, 1996, p.115) .......................................... 109 Figura 94– Escola ao ar livre, Amsterdã. Perspectiva da primeira proposta, implantação e entorno teóricos. (MOLEMA, 1996, p.117) ...................................................................................................................... 109 Figura 95– Escola ao ar livre, Amsterdã. Isométrica esquemática do esqueleto de concreto armado. (MOLEMA, 1996, p.119) ........................................................................................................................................ 109 Figura 97– Escola ao ar livre, Amsterdã. Edifício de acesso, quarto projeto – realizado, plantas. (MOLEMA, 1996, p.125) ........................................................................................................................................................... 110 Figura 98– Escola ao ar livre, Amsterdã. Desenho de mesas. (MOLEMA, 1996, p.126) ............................. 110 Figura 99– Cineac, Amsterdã. No projeto para um “teatro ultramoderno para temas cotidianos”, Duiker se propôs um complexo programa, converter uma pequena e acanhada esquina no centro histórico num elemento completamente novo. (MOLEMA, 1996, p.156) ......................................... 111 Figura 100– Cineac, Amsterdã. As duas fachadas, lateral e frontal, 1933. (MOLEMA, 1996, p.161) ................................................................................................................................................................................................ 111 Figura 101– Cineac, Amsterdã. Planta da platéia, 1933. (MOLEMA, 1996, p.160) ....................................... 112 Figura 102– Cineac, Amsterdã. Maquete da estrutura metálica. (MOLEMA, 1996, p.163) ....................... 112 Figura 103 - Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Vista geral quando concluído. No ano anterior da sua morte Duiker recebeu a encomenda para projetar esse complexo no centro de Hilversum, que compreendia um teatro e um hotel de luxo com todos os serviços anexos Ele fez 184 os primeiros desenhos em pequenas folhas de papel, pois estava acamado e gravemente doente. (MOLEMA, 1996, p.175) ......................................................................................................................................... 113 Figura 104– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Estudo 01 série A, 1934. (MOLEMA, 1996, p.176) ................................................................................................................................................................................................ 113 Figura 105– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Estudo 01 série B. (MOLEMA, 1996, p.177) .............. 114 Figura 106– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Projeto definitivo, térreo. (MOLEMA, 1996, p.178) ................................................................................................................................................................................................ 114 Figura 107– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Projeto definitivo. O complexo construído em 1936 foi ampliado nos anos seguintes (após a morte de Duiker), sob a supervisão de Bijvoet e a viúva Lucy Duiker. Em 1988 o edifício foi totalmente restaurado e convertido num centro cultural municipal. (MOLEMA, 1996, p.177) ................................................................................................................... 115 Figura 108– Hotel e Teatro Gooiland. Projeto definitivo, pavimento superior. (MOLEMA, 1996, p.179) ................................................................................................................................................................................................ 115 Figura 109– Hotel e Teatro Gooiland. Fachada lateral direita. (MOLEMA, 1996, p.180) ........................... 116 Figura 110– Hotel e Teatro Gooiland. Terraço ajardinado. (MOLEMA, 1996, p.182) .................................. 116 Figura 111– Hotel e Teatro Gooiland. Terraço ajardinado. (MOLEMA, 1996, p.181) .................................. 117 Figura 112– Hotel e Teatro Gooiland. Salão de chá e café em 1936. (MOLEMA, 1996, p.182) ............. 117 Figura 113– Hotel e Teatro Gooiland. Detalhe de ligação do guarda corpo com a estrutura, no balcão curvo. (MOLEMA, 1996, p.183) ............................................................................................................................. 118 Figura 114– Hotel e Teatro Gooiland, Hilversum. Cobertura do teatro. (MOLEMA, 1996, p.189) ........ 118 Figura 115– Hotel e Teatro Gooiland. Acesso ao teatro após a restauração de 1988. (Acervo próprio) ............................................................................................................................................................................................ 119 Figura 116– Hotel e Teatro Gooiland. Visão geral após a restauração de 1988. (http://www.flickriver.com/photos/klaasfotocollectie/3035575602/, acessado em 01/08/2013) ........ 119 Figura 117 - Primeira implantação do sanatório Zonnestraal em Hilversum, provavelmente ainda com forte influência de Berlage, Dezembro de 1919. (MEURS, 2010, P. 72) ................................................... 122 Figura 118 – Implantação definitiva do sanatório Zonnestraal. A disposição do conjunto no parque constituía uma surpresa. A chegada era feita desde o caminho principal através de um novo caminho sinuoso, estabelecendo uma relação serial com o jardim inglês existente. (PICAZO, 2011, p. 132) ............................................................................................................................................................. 123 Figura 119 – O novo caminho chega em direção perpendicular ao eixo de simetria do edifício principal, fazendo com que o parque atravesse literalmente a planta do sanatório. Esse transpasse duplo e paralelo, hierarquiza a via de serviço e a via de acesso social. (MEURS, 2010, P. 24 a5) ........................................................................................................................................................................................... 123 Figura 120 – O barco branco no campo. A chegada do paciente seguia um ritual solene. Desembarcava do veículo numa área coberta pela conexão superior, situada entre os corpos dos consultórios e da cozinha. Ali se submetia a um primeiro acolhimento e em seguida passava a descobrir o que seria o seu mundo durante os próximos anos. Subia a escadaria em caracol e chegava à sala de recreio e estar, de onde subitamente se encontraria com o eixo de um espaço fundamentalmente exterior. (MEURS, 2010, P. 24 a1) ...................................................................... 124 Figura 121 – Encontro dos arquitetos e da equipe médica em Zonnestraal. Da esquerda em sentido horário: Duiker, Bijvoet, Dr. Sajet. Foto de 1920, autoria desconhecida. (International Institute for Social History – IISG – Amsterdã, arquivo de Zonnestraal, pp 16-17).......................................... 127 185 Figura 122 - Implantação do Cook County Infirmary em Oark Forest dos arquitetos Holabird & Roche e Richard E. Schmidt, Garden & Martin. (Vademecum der Bouwvakken, 22/06/1915) .............. 128 Figura 123 – Sanatório municipal para doentes de tuberculose, Chicago, EUA; W. A. Otis & Edward H. Clark Architects, 1909. Conjunto pavilhonar. Provavelmente o mesmo que influenciou Duiker. (Vademecum der Bouwvakken, 22/06/1915). ..................................................................... 128 Figura 124 – Elevações do Hulpsanatorium Zonnestraal, 1920. A composição e os planos dos telhados demonstram um projeto ainda pouco significativo e muito influenciado pela escola berlagiana. (MEURS, 2010, P. 81) ......................................................................................................................................... 128 Figura 125 - Planta do Hulpsanatorium Zonnestraal,1920. A implantação previa duas asas pavilhonares para pacientes e ao norte um bloco separado para apoios e pessoal. (MEURS, 2010, P. 80)..................................................................................................................................................................................... 129 Figura 126 – Fundado em 1916, e ampliado em 1918, como uma colônia modelo para pacientes com tuberculose em Cambridgeshire, Inglaterra, esse sanatório influenciou definitivamente o projeto e o programa social e de necessidades desenvolvido por Duiker para Zonnestraal. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo _gallery, acessado em 19/05/2013) ................................................................................................................................... 130 Figura 127 – Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Ar puro e helioterapia. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo _gallery, acessado em 19/05/2013) ................................................................................................................................... 130 Figura 128 - Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Cotidiano das longas internações. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo _gallery, acessado em 19/05/2013) ................................................................................................................................... 131 Figura 129 - Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Os pacientes em fase final de recuperação viviam em cabines junto aos bosques e trilhas, onde iniciavam um processo de reenquadramento social. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/ papworth_ heritage_centre/photo_gallery, acessado em 19/05/2013) .......................................................... 131 Figura 130 – Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920, época da visita de Duiker. Visão geral de uma enfermaria de pacientes masculinos em fase final de recuperação, mas ainda sob acompanhamento. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/phot3 2o_gallery, acessado em 19/05/2013) .............................................................................................................................. 132 Figura 131 – Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida entre 1919 e 1920. Chegada de paciente grave para a unidade de cuidados intensivos. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo _gallery, acessado em 19/05/2013) ................................................................................................................................... 132 Figura 132 - Sanatório Papworth, Cambridgeshire, Inglaterra. Fotos de autoria desconhecida provavelmente entre 1919 e 1920. Exame de paciente na sala de raio X. (http://www.papworthhospital.nhs.uk/content.php?/about/papworth_heritage_centre/photo _gallery, acessado em 19/05/2013) ................................................................................................................................... 133 Figura 133 – Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, térreo e porão. (MEURS, 2010, p.24 – a6) ........................................................................................................................ 134 Figura 134 - Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, piso superior e cobertura. (MEURS, 2010, p.24 – a7) ........................................................................................................... 134 186 Figura 135 - Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, cortes. (MEURS, 2010, p.24 – a8) ........................................................................................................................................................ 135 Figura 136 – Projeto final para Zonnestraal, 1926. Desenhos originais do edifício principal, elevações. (MEURS, 2010, p.24 – a9) .................................................................................................................................. 135 Figura 137 - Projeto final para Zonnestraal. Desenhos originais do pavilhão Dresselhuys, pavilhão B, planta do térreo, elevações, cortes e detalhes da sala de estar. (MEURS, 2010, p.24 – a10) .................................................................................................................................................................................................... 136 Figura 138 – Desenhos revisados do pavilhão Dresselhuys, 1931. Planta do térreo, elevações e cortes da escada na asa diagonal. (MEURS, 2010, p.24 – a11) .............................................................................. 136 Figura 139 - Projeto final para Zonnestraal, 1928. Desenhos originais do pavilhão Meulen, pavilhão A, planta do térreo. (MEURS, 2010, p.49 – a12) ......................................................................................... 137 Figura 140 - Projeto final para Zonnestraal, 1928. Desenhos originais do pavilhão Meulen, elevações e cortes. (MEURS, 2010, p.49 – a13) ............................................................................................................. 137 Figura 141 - Projeto final para Zonnestraal, 1927. Conjunto de oficinas e ateliês, planta do térreo e elevação frontal. (MEURS, 2010, p.49 – a14) .............................................................................................................. 138 Figura 142 – Construção pelos internos das oficinas e ateliês, 1927. (MOLEMA, 1996, p. 94) ............... 138 Figura 143 – Oficinas e ateliês recém concluídos, 1928. As primeiras oficinas eram originalmente inteiramente abertas nas extremidades, mas foram incorporados painéis deslizantes logo após a conclusão (MOLEMA, 1996, p. 94)...................................................................................................................................... 138 Figura 144 – Os pacientes mais saudáveis, durante o processo de reintegração social, viviam em cabines implantadas no bosque ao redor do sanatório. (MOLEMA, 1996, p. 98)......................................... 139 Figura 145 – Reunião dos patrocinadores na inauguração de uma cabine para pacientes. Foto de H. Zillig, 1930. (International Institute for Social History – IISG – Amsterdã, arquivo de Zonnestraal, pp. 16 e 17) ......................................................................................................................................................... 139 Figura 146 – Jan van Zutphen no centro, a direita o diretor médico J. L. van Lier (substituto do Dr. Sajet – afastado em 1926 após um desentendimento com Zutphen) e a esquerda a vice diretora, senhora Poortenaar, 1927. (Fotografia de autoria desconhecida, MEURS, 2010, p. 52) ......... 139 Figura 147 – Abertura oficial do sanatório Zonnestraal em Hilversum em 12 de Junho de 1928. No centro o pintor holandês L. Heijermans, Jan van Zutphen e o diretor médico Van Lier; a esquerda Duiker com sua segunda esposa e logo atrás, a direita na foto, Bijvoet. (MOLEMA, 1996, p. 83) .................................................................................................................................................................................... 140 Figura 148 – De acordo com a ideia de promover uma forma de vida em comunidade, transitória mas autossuficiente, foi instalada de uma unidade de produção própria com um laboratório para o corte e limpeza dos diamantes. (MEURS, 2010, p. 53) ......................................................... 141 Figura 149 – Oficina de conserto de bicicletas, 1930. (Fotografia de autoria desconhecida, MEURS, 2010, p. 59) ................................................................................................................................................................... 141 Figura 150 - Projeto final para Zonnestraal, 1930-1931. Desenhos originais do alojamento para 18 funcionárias. (MEURS, 2010, p.49 – a13) ................................................................................................................... 142 Figura 151 – O alojamento das empregadas tinha como objetivo viabilizar dependências baratas, ainda que modernamente equipadas. As células dormitórios se organizavam ao redor de uma sala central com iluminação zenital. (MOLEMA, 1996, p. 97) ................................................................ 142 Figura 152 – Projeto para uma escola aberta em Zonnestraal. O desenho, apesar de compacto, incentiva o contato com o ambiente externo. (MEURS, 2010, p. 111) ............................................................... 142 187 Figura 153 - Maison de Verre, Paris, 1928 a 1932. Projeto de Pierre Chareau em coautoria com Bernard Bijvoet e Louis Dalbet. (Arquivo do autor) ..................................................................................................... 143 Figura 154 –Sanatório Zonnestraal. Edifício principal em construção. Estrutura de concreto armado. A solução em mísula praticamente dissolve a terminação das vigas. Percebe-se a instalação dos montantes verticais de aço que receberiam posteriormente os caixilhos ou os painéis de vedação em concreto pré-fabricado. O profundo conhecimento técnico de Duiker e Wiebenga permitem levar a peças de concreto ao seu limite de resistência e desempenho. (MOLEMA, 1996, p. 82) ............................................................................................................................................................ 145 Figura 155 – Estudo de implantação nº 3, 1926. Um eixo define a absoluta simetria do conjunto e nota-se uma escadaria na fachada sul do edifício principal, indicado em amarelo. Essa rigidez compositiva paulatinamente vai sendo abandonada nos estudos seguintes. (MEURS, 2010, p. 73) ...................................................................................................................................................................................................... 148 Figura 156 – Zonnestraal, edifício principal, restaurado em 2003 segundo projeto dos arquitetos Wessel de Jonge e Henket & partners. (Acervo do autor) ....................................................................................... 149 Figura 157 – Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Pavilhão Meulen, 1928. Planta do térreo original desenvolvida com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. (Desenho do autor) ...................................................................................................................................................... 151 Figura 158 - Sanatório Zonnestraal. Pavilhão Dresselhuys, 1931. Plantas originais do térreo e pavimento superior desenvolvidas com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. Foram acrescentadas a escada adicional e o elevador de macas. (Desenho do autor) ................................................................................................................................................................................................. 152 Figura 159 – Sanatório Zonnestraal. Em uma das extremidades dos pavilhões está o bloco de serviços comuns e escadas, das quais o tráfego converge para o térreo em uma ampla sala de estar comum. Foto da elevação Noroeste do pavilhão Dresselhuys. (Acervo do autor) ............................ 153 Figura 160 - Sanatório Zonnestraal. Caixa de escadas do pavilhão Dresselhuys vista desde oeste. (MEURS, 2010, p. 144) ............................................................................................................................................................... 153 Figura 161 - Nos pavilhões, uma laje plana balança generosamente nas laterais abrigando as áreas de repouso ao ar livre. Esses balcões, livres de paredes, constituem a transição com o espaço livre e uma tênue ligação entre os pavilhões e o corpo central. (MEURS, 2010, p. 56) .............. 154 Figura 162 – Sanatório Zonnestraal. Axonométrica do sistema estrutural de concreto armado do pavilhão Meulen. A cada módulo de 9 metros entre pilares, são localizados 3 apartamentos de pacientes. (MEURS, 2010, p. 160) .................................................................................................................................. 154 Figura 163 – O edifício principal de Zonnestraal visto desde o terraço do pavilhão Meulen. Os grandes balanços da cobertura sobre os terraços e o posicionamento dos caixilhos, das vedações e peitoris opacos, tornam o grande salão superior e a totalidade da volumetria absolutamente assimétricos. (Foto de autoria desconhecida, 1929, MEURS, 2010, p. 49) ........................ 156 Figura 164 - O corpo central é um nó de estar social e circulação. Foto do salão superior restaurado em 2003 segundo projeto dos arquitetos Wessel de Jonge e Henket & partners. (Foto de Jannes Linders, 2011, acervo do autor) ......................................................................................................... 157 Figura 165 – Foto da conexão entre o estar social no piso superior pela escada helicoidal norte. Fotografia da obra de restauração em 2003. (Foto de Jannes Linders, acervo do autor) ......................... 157 Figura 166 – Sanatório Zonnestraal. Escada helicoidal norte localizada no edifício principal. (Acervo do autor) ........................................................................................................................................................................ 158 Figura 167 - Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Bloco principal, 1928. Planta do pavimento superior original desenvolvida com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, 188 Molema e Milelli. (1) refeitório, (2) estar, (3) cinema e teatro, demais áreas terraços e circulação. (Desenho do autor) .................................................................................................................................................................... 158 Figura 168 – – Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Bloco principal, 1928. Planta do térreo original desenvolvida com base em desenhos e informações publicadas por Meurs, Molema e Milelli. (Desenho do autor) ...................................................................................................................................................... 159 Figura 169 - Sanatório Zonnestraal em Hilversum. Bloco principal, 1928. Duiker organiza as principais atividades nos três corpos paralelos e no anexo que juntos fornecem o suporte físico e funcional para o volume do salão superior, disposto de forma elevada como uma ponte. (Acervo do autor) ........................................................................................................................................................................ 160 Figura 170 - A chaminé de metal prateado que faz da base elevada um cilindro largo do reservatório de água. (Acervo do autor)........................................................................................................................... 161 Figura 171 - Esta área, mais delimitada desempenha um papel importante no projeto e constitui um sinal de advertência singular, separando o tráfego mecânico de serviço do de pedestres. (Acervo do autor) ........................................................................................................................................................................ 161 Figura 172 – As paredes brancas não oprimem o espaço, ao contrário, canalizam e ampliam ainda mais a visão, ligando o volume ao térreo. (Acervo do autor)..................................................................... 162 Figura 173 – Frente sul, ou mais precisamente fachada sudeste do bloco industrial. (Acervo do autor) ................................................................................................................................................................................................. 162 Figura 174 – A solução adotada na frente sul é pouco ortodoxa e única: postula a autonomia da parede do volume e ao mesmo tempo torna ambíguo o ponto em que essa já não fecha mais o volume, mas livre, exibe somente a sua espessura. (Acervo do autor)................................................. 162 Figura 175 – Aproximando-se do edifício, não o percebemos como um obstáculo ou barreira, mas como uma massa despedaçada, trespassada pela luz de fundo. Identificado o ingresso, adentra-se tendo já visualizado através da transparência a escada em espiral ascendendo ao nível superior (foto de Hans R van der Woude, http://www.panoramio.com/ photo_explorer#view=photo&position=19041&with_photo_id=21537917&order=date_desc&u ser=2412504, acessado em 01/06/2013) ........................................................................................................................ 163 Figura 176 – Interior da escada espiral na fachada norte. (Acervo do autor) ................................................. 163 Figura 177 – Atravessando a sala de convivência, depara-se com o terraço, de onde mais uma escada em espiral reconecta ao térreo. (Acervo do autor) ...................................................................................... 164 Figura 178 – Escada espiral na fachada sul do bloco industrial. (Acervo do autor) ..................................... 164 Figura 179 - O volume em rampa que coagula toda a tensão horizontal da fachada sul com um cilindro erodido. (Acervo do autor)............................................................................................................................. 165 Figura 180 - A entrada sob a ponte, que atravessa o caminho de acesso social, tem um possível precedente na situação análoga da Avery Coonley House de F. L. Wright. (Acervo do autor) ............. 167 Figura 181 – A restauração do sanatório Zonnestraal de Hilversum foi concluída em 2008, segundo projeto dos arquitetos Wessel de Jonge e Henket & partners. Algo primoroso. (Acervo do autor) .......................................................................................................................................................................................... 169 Figura 182 – O Goetheanum original foi projetado por Rudolf Steiner. Destruído por um incêndio criminoso em 31 de dezembro de 1922, foi reconstruído inteiramente em concreto e reinaugurado em 1928. (http://de.academic.ru/pictures/dewiki/71 /Goetheanum_Dornach 2.jpg, acessado em: 04/11/2012) ........................................................................................................................................ 172 Figura 183 – Sanatório Zonnestraal em Hilversum, Países Baixos, projeto de Johannes Duiker, colaboração de Bernard Bijvoet, projeto de estrutura de Jan Gerko Wiebenga (1919 – 1932). Foto desde a fachada norte. (Acervo próprio) ............................................................................................................... 172 189