Departamento de Engenharia de Materiais CARACTERIZAÇÃO DO BURITI Aluno: Isabela de Paula Salgado Orientador: Fernando Betim Co-orientador: Sidnei Paciornik Introdução O buriti, de nome científico Mauritia flexuosa, trata-se de uma palmeira de estipe ereto da família Arecaceae, cuja maior distribuição encontra-se na Amazônia. Nessa região, a palmeira está entre as mais úteis, constituindo uma das espécies com maior número de usos tradicionais, tendo sido denominada como “A Árvore da Vida”. O buriti pode alcançar até 40 m de altura e possuir um caule de 13 a 55 cm de diâmetro. Inúmeros elementos do buritizeiro possuem aplicações – tais como as folhas, os frutos, óleo e tronco – com fins variáveis. O estudo presente focou-se em sua caracterização – desde seus aspectos biológicos, tipo de cultivo e aplicações gerais, até a sua influência em termos culturais e econômicos em suas áreas de distribuição. A partir da reunião de dados teóricos, é possível obter uma visão particularizada de aspectos importantes relativos à palmeira, fornecendo detalhes por vezes generalizados em determinadas fontes de referência. De maneira complementar, realizou-se um estudo prático a respeito de suas fibras através da análise da reação das mesmas à variação de temperatura e do estudo de sua estrutura microscópica. Para tais objetivos, utilizou-se a análise termogravimétrica (TGA), a calorimetria diferencial de varredura (DSC), o microscópio eletrônico de varredura (MEV) e a espectroscopia de energia dispersiva de raios-X (EDS) para a caracterização da amostra de fibras retiradas da folha do buriti. Esse estudo direcionou-se para esse âmbito prático, devido à importância dessas propriedades na aplicação das fibras em compósitos. Os compósitos são materiais multifásicos que, através da combinação de dois ou mais materiais distintos, procuram obter melhores propriedades finais ou um equilíbrio das fases constuintes. A maioria dos compósitos é formada por duas fases: a fase dispersa e a matriz, que a envolve. O compósito resultante dependerá das propriedades de tais fases, assim como da geometria (ou seja, a forma, o tamanho e a disposição das partículas) da fase dispersa. Quando fibras vegetais são utilizadas como reforço, torna-se possível a transferência de algumas de suas propriedades, como seu módulo de elasticidade, baixa densidade e resistência à tração. O interesse nessa aplicação se deve ao fato de que compósitos que se utilizam de fibras vegetais são considerados menos agressivos ao meio ambiente; o uso de fibra vegetal é igualmente vantajoso por constituir-se um recurso renovável e por se apresentar em grande variedade. A análise térmica é necessária para a aplicação das fibras em compósitos, pois o conhecimento do comportamento das mesmas de acordo com a variação térmica fornece dados em relação à sua degradação de massa prevista ao ser submetida ao processamento do compósito, o qual é feito em altas temperaturas. A importância da realização do MEV, por sua vez, se deve ao fato de que a estrutura interna das fibras e suas propriedades associadas interferem na adesão da interface fibra/matriz, assim como na capacidade de homogeneização – aspectos que influem nas propriedades mecânicas do compósito resultante. Materiais e Métodos Experimentais A. Leitura e análise do material teórico referencial Departamento de Engenharia de Materiais B. Análise Termogravimétrica (TGA) e Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) A análise termogravimétrica é uma técnica de análise instrumental que apresenta a variação de massa da amostra, em função da temperatura ou ao longo do tempo, em condições controladas. Nesse caso, a TGA tem como objetivo indicar a temperatura limite de utilização das fibras de amostra, destacando o início da perda de umidade e a sua temperatura de degradação. Tal conhecimento é particularmente importante no uso de fibras lignocelulósicas (isto é, que contêm lignina), como as do buriti, visto que há limitações de temperatura associadas à sua natureza higroscópica (capacidade de absorção de água) e hidrofílica, especialmente considerando que o processo dos compósitos envolve altas temperaturas, ocasionando a degradação hidrolítica das fibras. A calorimetria diferencial de varrimento (DSC), por outro lado, é uma técnica que demonstra o fluxo comparativo de energia calorífica entre uma amostra e uma referência, em função da temperatura. As medidas obtidas permitem a inferência de processos endotérmicos, nos quais há absorção de energia, e exotérmicos, onde há liberação de energia, os quais estão associados a alterações de propriedades físicas e/ou químicas da amostra. No presente caso, essa análise é necessária para constatar as mudanças progressivas decorrentes do aumento de temperatura, e relacioná-las às conclusões obtidas a partir da análise termogravimétrica. As análises de TGA/DSC foram realizadas simultaneamente no Analisador Térmico Simultâneo (STA-6000) da Perkin-Elmer (Figura 1), nas seguintes condições: Faixa de temperatura: 25 a 400ºC; Taxa de aquecimento: 10ºC/min; Atmosfera na amostra: N2; Vazão do gás: 20 mL/min; Volume do cadinho de alumina: 180 ml; Quantidade de material ~ 3,6 mg. Figura 1. Sta-6000 C. Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) e EDS (Espectroscopia de Energia Dispersiva de raios-X) O microscópio eletrônico de varredura (MEV) é um equipamento que produz imagens de alta resolução e ampliação, a partir da emissão de feixes de elétrons sobre o material; a troca de energia consequente dessa interação provoca certa radiação que, ao ser detectada, permite a obtenção de informações da amostra. A análise da estrutura interna das fibras através da microscopia eletrônica de varredura é necessária, pois além de auxiliar na identificação de espécies, no entendimento de processos fisiológicos e no esclarecimento dos mecanismos de adaptação dos vegetais aos diferentes ambientes, fornece informações tais como rugosidade, tamanho dos poros (vasos) e comprimento das fibras (MARINELLI, 2008). As análises realizaram-se nas condições: Operação: alto vácuo Voltagem do filamento: 20 KV Tempo de deposição de ouro sobre a superfície da amostra: 100s. Departamento de Engenharia de Materiais O processo de preparo das amostras se baseou, primeiramente, na execução do corte e separação de três fibras (advindas da folha do buriti); em seguida, as mesmas foram submetidas a hidratação em água deionizada, de maneira a evitar a alteração e facilitar a seção de corte. Uma vez findo o processo, realizou-se o corte transversal e longitudinal das fibras, as quais assumiram, aproximadamente, 1 cm de comprimento. Uma vez que os cortes foram devidamente realizados, as fibras foram organizadas de maneira a serem dispostas no porta amostras do microscópio. Por fim, as amostras foram submetidas ao recobrimento com ouro (100 s) – uma vez que é necessária uma camada de material condutivo para a condução de elétrons. Na figura a seguir, é demonstrada a disposição das fibras antes de sua inserção no aparelho. Figura 2. Disposição das fibras para a análise A espectroscopia de energia dispersiva de raios-X (EDS) é uma técnica analítica para a caracterização microscópica dos materiais. O princípio por trás de seu funcionamento encontra-se na energia emitida pelo material em resposta à incidência de partículas carregadas. A análise é pontual, variando de acordo com a área focalizada pelo feixe; como há distinção energética entre elétrons de um átomo, é possível, no ponto de incidência do feixe, determinar quais elementos químicos encontram-se presentes naquele local. O uso conjugado de MEV e EDS proporciona uma análise visual e qualitativa do material, proporcionando não apenas o conhecimento estrutural, mas também composicional da amostra analisada. Resultados e Discussão 1. Caracterização Teórica Distribuição Geográfica O buriti possui distribuição considerável ao longo de áreas do Centro, Norte e Nordeste do Brasil, tais como: Amazonas, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia, Goiás e São Paulo; igualmente distribui-se ao longo do Norte da América do Sul, como Peru, Colômbia, Venezuela, Suriname e Guiana Francesa. Devido à sua grande abrangência, o buriti possui inúmeros nomes populares, entre os quais: miriti e muriti no Brasil; moriche na Venezuela; nas Guianas, awuara e boche; no Peru, como aguaje, entre outros nomes particulares. Tal palmeira estende-se frequentemente em áreas alagadas, sendo comum ao longo de igarapés e igapós, devido ao seu mecanismo de dispersão dar-se principalmente através da água. No Cerrado, ela caracteriza as veredas, isto é, áreas de grande umidade e relevo suave, que geralmente margeiam cursos d’água em áreas de nascente. Departamento de Engenharia de Materiais Aspectos Morfológicos O buriti é monocaule, de espécie dióica – ou seja, possui indivíduos masculinos e femininos; as plantas masculinas não produzem frutos, mas apenas cachos com flores alaranjadas. O período de formação de uma inflorescência masculina até a produção de flores é de 2 a 3 meses, com floração anual; o período correspondente às flores femininas dura 2 meses. Estima-se a produção de 450.000 flores por inflorescência nas plantas masculinas, e 3.600 nas femininas (RIBEIRO, 2010). O fruto tem forma elíptica, com casca composta por escamas triangulares; sua polpa possui pH em torno de 4,7 e é altamente rica em vitamina A. Por sua vez, os óleos do buriti têm proteínas e vitaminas C e E em abundância. A maturação dos frutos pode variar de 7 a 11 meses; a produção média dos mesmos é de 1 a 10 cachos por safra, onde cada cacho pode conter até 2000 frutos. O endocarpo do fruto (ou bucha) é formado por um tecido esponjoso, com grande teor de celulose. A semente é ovoide e possui, em média, 2,5 cm de diâmetro. Cada buriti adulto possui de 8 a 20 folhas, as quais podem atingir até 3 m de comprimento. A folha é composta pela capemba (bainha), talo (pecíolo) e palha. A produção de novas folhas custa de 3 a 4 meses. Quando as folha novas ainda encontram-se fechadas (referidas como “olho” do buriti), então as mesmas podem ser usadas para a obtenção de seda, isto é, uma fibra fina e resistente que recobre as folhas do buriti. A lâmina foliar é subdividida em segmentos lineares em forma de espinho. A coroa assume forma arredondada devido à disposição das folhas, as quais possuem bainha aberta e pecíolo longo (SAMPAIO, 2012). As raízes do buriti são aéreas, possibilitando trocas gasosas no caso de alagamentos. Relações Ecológicas A Mauritia flexuosa possui particular importância quanto à preservação da fauna, uma vez que seus frutos são consumidos por inúmeras aves e mamíferos – tais como araras, capivaras e antas –, constituindo-se, inclusive, como estoque de alimento em épocas de estações secas. Além disso, o buriti atua como habitat estrito de algumas espécies, tais como as aves andorinhão-do-buriti (Reinarda squamata C.), maracanã-do-buriti (Orthopsittaca manilata B.) e rouxinol-do-rio-negro (Icterus chrysocephalus L.), além de peixes cardinais (Paracheirodon axelrodi S. e P. simulans G.) (RIBEIRO, 2010). O buriti é igualmente responsável pela manutenção de cursos e nascentes d’água no Cerrado, uma vez que agem como “filtros” ao remover sedimentos e nutrientes, fornecendo água limpa para os habitats à jusante. Suas raízes são do tipo pneumatóforo, e suprimem a falta de oxigênio nos brejos, localizados nas áreas mais úmidas das veredas (POTT, 2004). Ao todo, a palmeira apresenta-se como fonte de água e alimento, sendo fundamental para o ecossistema presente. Aplicações Há uma ou mais funções associadas a cada elemento do buriti, o que o torna fonte de utilidades variadas em áreas específicas – desde a médica até a ornamental, além de sua grande participação na culinária regional. Por exemplo, o fruto de buriti pode produzir dois tipos de óleo vegetal utilizados nas indústrias química e alimentícia: os óleos oléicos (extraídos da polpa) e os óleos láuricos (extraídos das sementes). Na Amazônia, o óleo do buriti pôde, inclusive, representar uma fonte de energia elétrica alternativa para determinadas comunidades (MEDINA, 2005). Entre os usos, destacam-se: Departamento de Engenharia de Materiais Tabela 1: Usos do buriti ELEMENTO DA PLANTA Palha Fruto Óleo Estipe Tronco Semente Seda Embira Raízes Fibra UTILIZAÇÃO Cobertura de telhado, artesanatos, vassouras, paredes Polpa: doces e similares, sucos, vinhos; Casca: óleo e ração para animais Hidratante para a pele, remédio para cicatrização de queimaduras e para problemas respiratórios, protetor solar natural, biodiesel Confecção de móveis, ripas para telhado; de seu interior é possível obter a seiva necessária para a produção de açúcar Construções, adubo, vinho não fermentado Artesanato, café, ração para animais Fio de costura, tecidos, redes, artesanatos Esteira, tapete, artesanatos Remédio contra reumatismo e fonte de água Artesanato, uso em compósitos Importância Socioeconômica Em uma grande parte de seus locais de ocorrência, o buriti representa apreciável importância econômica para comunidades rurais, havendo inúmeros exemplos de seu impacto em mercados formais e informais. Frequentemente, há venda de seus frutos ou utilização de suas fibras em confecções artesanais – por vezes informais e precárias, mas fontes de recursos consideráveis para os habitantes locais. A produção artesanal com fibras do buriti no município de Paulino Neves, no Maranhão, é praticada em todos os seus povoados, como verificado pela PIVOT em junho de 2006, constituindo-se uma das três maiores fontes de renda da população local. A sua organização provê uma renda média entre R$65 e R$250 ao mês (SARAIVA et al., 2007). Já a demanda por frutos, no Brasil, não é considerável, tendo o consumo concentrado em regiões específicas: em Roraima, por exemplo, o principal subproduto do buriti é o suco produzido através de sua polpa. Contudo, o potencial produtivo supera a demanda. Em Iquitos, no Peru, a extração da palmeira consistiu na terceira maior atividade econômica para a comunidade de Roca Fuerte em 2002, representando 31% do rendimento do mercado e envolvendo 75% das residências locais. Um total de 7063 mercadorias da fruta do buriti foi enviado ao mercado na época, sob a estimativa de valer U$14,832. A colheita de frutas do buriti possuía uma demanda de 20 a 150 toneladas por mês em Iquitos, representando grande fonte de renda às famílias rurais (MANZI, 2009). Relevância Cultural O buriti possui, além de sua influência em economias regionais, uma relevância cultural em comunidades específicas, através de sua participação em tradições locais. Na cidade de Belém, por exemplo, o buriti é empregue na confecção de brinquedos utilizados no Círio de Nazaré, a festa da Padroeira do Pará. Os brinquedos, feitos durante o ano inteiro, são vendidos rapidamente aos paraenses e turistas que comparecem à festividade. Já na região amazônica, o buriti possui valor cultural para algumas tribos indígenas, uma vez que, na época de aparição dos frutos maduros da palmeira, realizam-se festas e casamentos. No caso da tribo Apinayé de Departamento de Engenharia de Materiais Goiás, um homem deve carregar uma tora de buriti da floresta para o centro da vila, de maneira a demonstrar sua força e apresentar-se apto para o casamento. (MEDINA, 2005) Cultivo O cultivo de buriti ainda é uma técnica em adaptação e disseminação, uma vez que os mesmos não costumam ser cultivados em regiões em que se encontram próximos na natureza. Dessa maneira, apenas o extrativismo é praticado em abundância. Contudo, a viabilidade econômica dessa atividade está diretamente relacionada à abundância do recurso, assim como à capacidade regenerativa da planta e do solo no entorno. Portanto, torna-se necessária a adequação e controle dessa atividade, uma vez que, caso o extrativismo seja mal executado, o mesmo pode exercer pressão excessiva sobre os recursos e comprometer os buritizais da região. Há exemplos, no entanto, de estímulos ao cultivo e preservação dos buritis: no Acre, políticas de incentivos ao aproveitamento da espécie vêm sendo efetivadas, uma vez que se tem como objetivo a comercialização da polpa do buriti em larga escala. No Peru, moradores começaram a introduzir os buritizeiros em seus jardins e campos apenas recentemente e particularmente desde 1999, com o reestabelecimento da comunidade e o aparecimento da CEDIA (Centro para el Desarollo del Indígena Amazônico). Em 2002, CEDIA reflorestou o território próximo à comunidade com buritizeiros e promoveu seu cultivo. Igualmente por iniciativa da CEDIA, promoveram-se práticas alternativas para a colheita de frutos do buriti – tal como a atividade de “escalar” até o topo da palmeira, de maneira a evitar o derrubamento dos buritizeiros. (MANZI, 2009) Dessa maneira, torna-se claro que, a longo prazo, o cultivo do buriti é indispensável e que a conservação da espécie depende de proteção ambiental adequada e reflorestamento das áreas afetadas. 2. Caracterização Experimental Análise Termogravimétrica (TGA) e Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) As análises térmicas TGA/DSC observaram o comportamento das fibras entre o intervalo de 25ºC e 400ºC. O gráfico 1, que relaciona perda de massa e temperatura, demonstra os Gráfico 1. Curvas TGA e DSC Departamento de Engenharia de Materiais resultados obtidos, onde a análise termogravimétrica está representada pela curva azul, e a calorimetria diferencial de varredura pela curva vermelha. A partir da curva termogravimétrica, é possível notar a ocorrência de quatro eventos de perda de massa, com temperaturas de degradação distintas. No primeiro momento, entre 26,2ºC e 100ºC, a massa inicial sofre pequena variação, o que caracteriza a perda da água presente na fibra. Posteriormente, em aproximadamente 110ºC, há certa estabilidade térmica – estado de manutenção das propriedades de maneira mais imutável possível sob influência do aumento de temperatura. A amostra mantém seu peso até aproximadamente 180ºC. O aumento progressivo de temperatura, no entanto, incorre em nova decomposição térmica: o segundo e terceiro eventos ocorrem na faixa térmica entre 200ºC e 340ºC, correspondendo à decomposição da celulose e hemicelulose, e degradação da lignina. Nos patamares de temperatura, é possível verificar a quantidade de massa desprendida da reação; nessa faixa, houve uma perda de massa de 50,244%. Por fim, há ainda um quarto evento de degradação correspondente a aproximadamente 350ºC. A curva da Calorimetria Diferencial de Varredura apresenta um pico endotérmico, que se estende desde a temperatura ambiente até aproximadamente 85ºC, correspondente à libertação de água de formação da fibra lignocelulósica. Há o aparecimento de um pico exotérmico, o qual está relacionado à deterioração da fibra (queima e/ou evaporação dos seus componentes). Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) e EDS (Espectroscopia de Energia Dispersiva de raios-X) A partir do MEV, obtiveram-se as seguintes microscopias das fibras: Figura 3. MEV transversal Figura 4. MEV longitudinal Através da microscopia transversal da fibra (Fig.3), é possível notar certo padrão na disposição das microfibrilas – tubos responsáveis pelo transporte de água e nutrientes da planta –, assim como espaços intermediários entre as mesmas. A microscopia longitudinal (Fig.4) permite a inferência de certa regularidade no alinhamento das fibrilas. É possível concluir, igualmente, que a fibra de buriti apresenta rugosidade e porosidade. De maneira a analisar a composição da parede da fibra, assim como de sua parte interna, realizou-se a Espectroscopia de Energia Dispersiva de raios-X nas seguintes condições: Departamento de Engenharia de Materiais Base (13) Buriti Longitudinal Tensão de aceleração: 20.0 kV Ampliação: 400 Detector: NanoTrace Figura 3. Identificação dos pontos de análise EDS Gráfico 2. EDS do ponto 2 Gráfico 3. EDS do ponto 3 Os pontos, destacados na figura 5, foram analisados quanto à composição química através da Espectroscopia de Energia Dispersiva de raios-X. Demonstra-se, através dos gráficos 2 e 3, Departamento de Engenharia de Materiais que há presença destacada de carbono, oxigênio, ouro e cálcio. Os picos de ouro provavelmente devem-se ao recobrimento realizado na superfície da fibra para a sua análise no MEV. A presença de carbono e oxigênio era prevista, pois ambos são elementos presentes em fibras lignocelulósicas, as quais são formadas por componentes estruturais, como celulose, hemicelulose e lignina, e componentes não-estruturais, tais como água e minerais. Conclusões O estudo teórico permitiu inferir a influência generalizada do buriti tanto ecológica quanto socialmente, uma vez que o mesmo possui importância ornamental e estratégica na preservação da fauna, assim como grande relevância na cultura e economia de suas áreas de distribuição devido à sua grande variedade de usos. A análise termogravimétrica das fibras apresentou os processos de degradação de seus constituintes (hemicelulose, celulose e lignina), demonstrando grande perda de massa entre 200ºC e 340ºC. A calorimetria diferencial de varredura, por outro lado, demonstrou os picos de energia associados a esses mesmos processos. Os resultados permitem que se conclua que a degradação da fibra em temperaturas inferiores reduz a estabilidade térmica dos compósitos. A microscopia e a análise da composição química da fibra apresentaram resultados semelhantes a outras fibras vegetais, tal como a presença de carbono e oxigênio, e a grande porosidade do material – o que lhe garante uma densidade inferior a da água, como reportado na literatura. Para uma análise mais completa do uso das fibras de buriti em compósitos, seria adequada a implementação de experimentos relativos às suas propriedades mecânicas. Agradecimentos Aos professores Bojan Marinkovic e Roberto R. de Avillez pela colaboração. Referências 1 - MARINELLI, Alessandra L., et al. Desenvolvimento de compósitos poliméricos com fibras vegetais naturais da biodiversidade: uma contribuição para a sustentabilidade amazônica. Polímeros: Ciência e Tecnologia, p. 92-99, 2008. 2 - MEDINA, Gabriel. Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica. 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Manual Tecnológico de Aproveitamento Integral do Fruto e da Folha do Buriti (Mauritia flexuosa). Brasília, DF, 2012. 80 p. Instituto Sociedade, População e Natureza. 7- POTT, V.J.; POTT, A. Buriti - Mauritia flexuosa. Fauna e Flora do Cerrado, Campo Grande, 2004. Disponível em: < http://www.cnpgc.embrapa.br/~rodiney/series/buriti/buriti.htm >. Acesso em: 15 de Julho de 2014 8 - SARAIVA, Nicholas; SAWYER, Donald. Análise do potencial econômico e socioambiental do artesanato do buriti em comunidades tradicionais nos Lençóis Maranhenses. VII Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, Fortaleza, 2007. 9 - MANZI, Maya; COOMES, Oliver T. Managing Amazonian palms for community use: A case of aguaje palm (Mauritia flexuosa) in Peru. Forest Ecology and Management, v. 257, n. 2, p. 510-517, 2009. 10 – BARBOSA, Anderson de P. Características estruturais e propriedades de compósitos poliméricos reforçados com fibras de buriti. Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, 2011. 160 p. 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