11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas IDENTIFICAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELA POPULAÇÃO DE ARAGUAÍNA, TO Rosely das Chagas Silva1; Beatriz Cardoso Roriz2; Claudia Scareli dos Santos3 1 Aluna do Curso de Licenciatura em Biologia; Campus Universitário de Araguaína; email: [email protected] PIVIC/UFT 2 Aluna do Curso de Licenciatura em Biologia; Campus Universitário de Araguaína; email: [email protected] PET/UFT 3 Orientadora do Curso de Licenciatura em Biologia; Campus Universitário de Araguaína; email: [email protected] RESUMO Neste trabalho são apresentadas as espécies vegetais utilizadas como medicinais pela população da cidade de Araguaína, TO. Foram entrevistados 600 moradores, com faixa etária entre 15-90 anos, de 20 bairros do município, onde 75,5% dos entrevistados afirmaram fazer uso da medicina popular em suas residências. Foram citadas 85 espécies vegetais distribuídas em 43 famílias botânicas sendo o maior número de citações para Lamiaceae (10,34%), Fabaceae (9,20%) e Asteraceae (8,05%). A espécie mais utilizada pela população de Araguaína foi a Lippia alba (Verbenaceae) seguida de Mentha villosa (Lamiaceae), Chenopodium ambrosioides (Amaranthaceae) e Citrus sinesnis (Rubiaceae). Não foi citado nenhum caso de intoxicação por plantas. Quanto às formas de preparo das plantas medicinais, são maioria das vezes são utilizados chás (60%), seguida de garrafada (9,63%), suco (8,89%) e como suco e de mencionaram que utilizam plantas medicinais como salada (5,88%), banhos (4,41%), e óleos (3,70%), emplasto (2,96%) e o xarope (2,22%) e inalação (0,74%). Os resultados obtidos corroboram como a literatura, com pequenas variações quanto aos nomes regionais, dos diferentes usos e formas de preparo, típico de um país de grande extensão como o Brasil. Concluímos que a população amostrada do município de Araguaína, TO, possui conhecimento sobre as plantas medicinais de diferentes espécies. Quanto ao preparo das espécies medicinais, na maioria das vezes é utilizado as folhas para o preparo de chás. O uso de óleos de frutos de espécies nativas foi registrado, para Mauritia flexuosa (Arecaceeae), Pterodon emarginatus e de Copaifera langsdorfii (Fababaceae) utilizados para cicatrização de feridas. Palavras-chaves: Asteraceae; Fabaceae; Lippia alba; Medicina popular; Espécies nativas. 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas INTRODUÇÃO A Etnobotânica é uma área da ciência, que consiste no estudo da interação humana com os aspectos do meio (MARTIN, 1995). Atualmente, ela é uma disciplina chave, pois consiste numa ponte entre o saber popular, cujo conhecimento tradicional é passado através de gerações e evidenciado pelo conhecimento científico (HAMILTON et al., 2003). São muitos os textos científicos que abordam os diferentes usos dos vegetais, seja para fins de recuperação de áreas degradadas, como fonte de alimentos, para obtenção de energia com o uso da lenha (BOTREL et al., 2006), para uso religioso (AZEVEDO; SILVA, 2006) e como medicinal (REZENDE; RIBEIRO, 2005; AZEVEDO; SILVA, 2006; BOTREL et al., 2006; LIMA et al., 2011). O uso terapêutico das plantas medicinais muitas vezes é a única forma de tratar diferentes enfermidades em comunidades e grupos étnicos (MACIEL et al., 2002). Segundo Azevedo e Silva (2006), o valor medicinal das espécies vegetais devido à divulgação da fitoterapia e no fato de serem economicamente mais viável quando comparada com os medicamentos industrializados. Nos últimos anos houve um aumento na comercialização de plantas medicinais, e é cada vez mais frequente a utilização dessas plantas para estudos farmacológicos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que 85% da população mundial utiliza espécies medicinais para o tratamento de enfermidades básicas de saúde. Entretanto, as plantas medicinais também podem provocar reações adversas ao ser humano, quando usadas inadequadamente. Oliveira et al. (2006), descrevem que os casos de intoxicação de plantas em adultos ocorre principalmente pelo uso inadequado de plantas medicinais, alucinógenas e abortivas. Desse modo, vemos que algumas plantas medicinais, possuem também caráter tóxico. As plantas tóxicas possuem substâncias que, por suas propriedades naturais, físicas, químicas ou físicoquímicas, alteram o conjunto funcional-orgânico em vista de sua incompatibilidade vital, conduzindo o organismo vivo a reações biológicas diversas logo, é necessário evitar a automedicação com plantas medicinais, uma prática comum ao Brasil (ALBUQUERQUE, 1980; BRASIL, 2008) e incentivar o desenvolvimento de pesquisas nessa área, principalmente em estados onde existe carência destes conhecimentos. A execução deste trabalho se justificava pela relevância do tema e na aplicabilidade na área biológica, principalmente no âmbito da etnobotânica, estabelecendo como objetivo maior conhecer como a população da cidade de Araguaína, utiliza as plantas medicinais e se ocorrem casos de intoxicação. A relevância do projeto também está em diagnosticar os casos de intoxicação por plantas e suas particularidades e propor, futuramente, medidas de esclarecimento à população da cidade de Araguaína e meios para diminuir a incidência destes casos. Este trabalho teve por 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas objetivos específicos coletar, preservar e identificar as espécies vegetais utilizadas como medicinais pela população da cidade de Araguaína, TO. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na cidade de Araguaína, localizada na região norte do Estado do Tocantins, coordenadas geográficas 07º11’28”de latitude, 48º12’26’ de longitude. Foram analisados a diversidade e o uso de plantas medicinais pela população em 20 bairros da cidade, são eles: Ana Maria, Araguaína Sul, Céu Azul, Bairro São João, Coimbra, Cimba, Eldorado, Jardim das Flores, Santa Terezinha, Setor Brasil, Setor Urbano, Neblina, Morada do Sol, Noroeste, Patrocínio, Raizal, Tecnorte, Tereza Hilário, Tiúba e Tocantins. Foram realizados o sorteio de 10 ruas e de três casas por rua de cada bairro, e em seguida um morador de cada casa sorteada passou por entrevistas informais e formais e para tal foi aplicado um questionário semi-estruturado sobre o uso de espécies medicinais, suas finalidades, modos de uso e formas de aquisição (Scareli-Santos et al., em preparação). O material foi identificado em campo e as espécies desconhecidas e que os entrevistados possuíam em seus jardins e/ou casa e autorizaram coletar, foram levadas ao laboratório e herborizadas para identificação, segundo a técnica de Fidalgo e Bononi (1984). Os resultados foram organizados em um banco informatizado com informações botânicas juntamente com o registro fotográfico. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistados 600 moradores dos 20 bairros do município, onde 75,5% dos entrevistados afirmaram fazer uso da medicina popular em suas residências. Foram entrevistadas pessoas com faixa etária entre 15 e 90 anos, sendo que a maior parte (22,83%) está na faixa etária de 31 e 40 anos, quanto ao gênero às mulheres corresponderam a 56,17% do público que participaram da pesquisa. Neste trabalho foram citadas pelos entrevistados 85 espécies vegetais distribuídas em 43 famílias botânicas sendo a maior número de citações para Lamiaceae (10,34%), Fabaceae (9,20%) e Asteraceae (8,05%). Espécies como o Rosmarinus officinalis (alecrim), Allium sativum (alho), Aloe vera (babosa) Anacardium occidental (caju) e Psidium guajava (goiaba) entre outras, são espécies conhecidas e seus empregos na medicina popular são amplamente conhecidos. Não foi citado nenhum caso de intoxicação por plantas. Algumas espécies vegetais apresentam nomes populares que são os mesmos utilizados no meio comercial, como Artemisia vulgaris (Asteraceae) denominada anador e a Menta arvensis 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas (Lamiaceae) cujo nome vulgar é vick. Outras espécies remetem seus nomes à sua indicação terapêutica, como por exemplo, o quebra-pedra (JESUS et al., 2009) Os resultados indicam que as espécies com maior emprego para o tratamento de diferentes enfermidades foram a erva cidreira, a hortelã, a laranjeira e o mastruz. A espécie mais utilizada pela população de Araguaína foi a Lippia alba (Verbenaceae) denominada popularmente de erva cidreira, um subarbusto com distribuição por todo o país, e que podem atingir até 1,5 metros de altura. Os participantes da pesquisa indicaram esta espécie para o tratamento da febre, dor de cabeça, gripe, diarreia, como calmante e também para amenizar as cólicas em bebês. Informações estas que foram corroboradas pela literatura. Além dessas aplicações a erva-cidreira pode ser eficiente no tratamento de cólicas uterinas e intestinais e também de enxaqueca (LORENZI; MATOS, 2002). Por apresentar distribuição cosmopolita, a erva cidreira apresenta diferentes nomes regionais entre eles temos: cidreira-brava, erva-cidreira-de-arbusto, cidrila, falsa-melissa, Salva-doBrasil, chá-de-tabuleiro, alecrim-selvagem, erva-cidreira, erva-cidreira-brasileira, erva-cidreira-docampo, cidreira-carmelitana, salva, salva-do-Brasil, salva-limão, alecrim-do-campo, salva-brava, sálvia e melissa. A hortelã, Mentha villosa, também conhecida como hortelã-rasteira, hortelã-de-panela, hortelã e menta-vilosa, é uma erva perene, ereta, com 30 a 40 cm de altura e nativa da Europa. Uma cultura que se adaptou bem a solos e climas de diferentes países, inclusive no Brasil. Os dados obtidos neste trabalho indicaram o uso do chá desta espécie para o tratamento de gripes, como calmante, como alívio da cólica menstrual e de dores de barriga, como auxiliar no processo de emagrecimento, nas infecções de garganta e como vermífuga. A literatura também indica seu uso como antiespasmolítica, antivomitiva, carminativa, estomáquica, anti-helmítica, e para o controle da diarreia com sangue (LORENZI; MATOS, 2002). Utilizado para febre, dor de cabeça, gripe e como calmante, o capim santo, foi citado pela população que participou da pesquisa. Lorenzi e Matos (2002) também afirmam seu uso no tratamento de cólicas uterinas e intestinais e nervosismo. Ainda segundo este autor, temos diferentes nomes populares para esta espécie, dentre estes temo: capim-cheiroso, capim-cidreira, capim-limão, capim-santo, capim-de-cheiro, capim-marinho, capim-cidró, chá-de-estrada, citronela de java, capim-cidrilho, patchuli, capim-catinga, capim ciri, grama-cidreira e capim-citronela. Quanto às formas de preparo das plantas medicinais, os entrevistados afirmaram que em 60% utilizam na forma de chá, seguida de 9,63% na forma de garrafada, 8,89% como suco e de 5,88% mencionaram que utilizam plantas medicinais como salada, seguida de 4,41% em banhos. Também foram citados o emplasto com 2,96% e o xarope com 2,22%. Somente a espécie Mentha arvensis, popularmente conhecida de vick, foi citada como emprego na inalação (0,74%) para 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas amenizar problemas respiratórios. O emprego do óleo como medicinal correspondeu a 3,70% das citações da pesquisa, onde os entrevistados mencionaram os óleos de Mauritia flexuosa (Arecaceeae), Pterodon emarginatus e de Copaifera langsdorfii (Fababaceae), utilizados para o tratamento de cicatrização de feridas. Em 1,48% dos entrevistados mencionaram o uso de gel de Arnica montana (Asteraceae) para combater dores musculares. Com relação à parte da planta utilizada como medicinal, foram citados na maioria das vezes as folhas (62,50%) seguido dos frutos com 12,50%, utilizadas tanto no preparo de chá, xaropes, garrafadas, emplastos e para inalação. Com menor número de citações está a raiz (2,21%) que é utilizada no preparo de chás de Drozera tuberosa (Drozeraceae) para tratamento de doenças renais e de Taraxacum officinale (Asteraceae) para amenizar problemas digestivos. Na grande maioria das vezes apresentou semelhança, os dados obtidos no presente trabalho corroboram como a literatura (FRANCO; BARROS, 2006; MOREIRA et al., 2002; PINTO et al., 2006), com pequenas variações quanto aos nomes regionais, dos diferentes usos e formas de preparo, típico de um país de grande extensão como o Brasil. Com os resultados obtidos, podemos concluir que a população amostrada do município de Araguaína, TO, possui conhecimento sobre as plantas medicinais de diferentes espécies, sendo as famílias para Lamiaceae (10,34%), Fabaceae (9,20%) e Asteraceae (8,05%) que apresentam maior número de citações e de indicações terapêuticas. Quanto ao preparo das espécies medicinais, na maioria das vezes é utilizado as folhas para o preparo de chás, seguida dos preparos de emplastos, garrafadas e sucos. Observamos o uso de óleos de frutos de espécies nativas, como a copaíba, o buriti e o pequi, todos relacionados com o tratamento de infecções. LITERATURA CITADA ALBUQUERQUE, J.M. Plantas tóxicas no Jardim e no Campo. Belém: FCAP, 1980.120 p. AZEVEDO, S.K.; SILVA, I.M. Plantas medicinais e de uso religioso comercializadas em mercados e feiras livres no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Acta Botânica Brasílica v. 20, n1, p. 185-194, 2006. BOTREL, R.T.; RODRIGUES, L.A. GOMES, L.J.; CARVALHO, D.A.; FONTES, M.A.L. 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