n. 217, 6 de setembro de 2011. Ano V. terrorismo de estado: No dia 11 de setembro de 1973, o golpe no Chile desencadeou perseguições, prisões e execuções, e concentrou milhares de pessoas presas no Estádio Nacional, construído para Copa do Mundo de 1962. Toda a ação teve apoio dos EUA, com seu presidente Nixon e articulação da CIA, configurando uma ação do terrorismo internacional de Estados. para não esquecer ... O Brasil se encontrava há 9 anos sob governo dos militares no momento do golpe chileno e já havia adquirido knowhow para exportação de técnicas de tortura e repressão política. O Brasil contou com o apoio e a omissão da sociedade civil, financiamento de empresários, o aparato intelectual da Escola Superior de Guerra, fundada em 1949, cujos filhotes circulam, até hoje, pelas universidades e governos, a dedicação do embaixador Lincoln Gordon e o pronto reconhecimento do golpe, em 1964, do presidente dos EUA Lyndon Johnson. Neste caso, o terrorismo de Estado prosseguiu sistematicamente e deixou suas marcas... e lembrar. A tortura e as execuções oficiais e oficiosas seguiram como marca das ditaduras no Brasil e na América Latina. Redimensionou a eficiência das polícias com torturas científicas. Os clamores internacionais pelos direitos humanos, articulado por organizações internacionais e igrejas expuseram, anos mais tarde, as violências durante e depois da ditadura civil-militar. O Brasil formou uma polícia especializada em massacrar for export, oferecida aos demais golpistas. Esteve presente no Chile, no Uruguai e na Argentina, mostrando suas habilidades em torturar e matar. e hoje... Mas, ainda hoje, o know-how eficiente segue funcionando com anuência e clamor popular, amplificado pelos meios eletrônicos que fazem, por exemplo, com que um vídeo de policiais executando dois bandidos seja um dos mais vistos na semana. Os policiais riam e se divertiam exigindo que um dos pré-cadáveres estrebuchasse e o outro se apressasse em morrer. Os esquadrões da morte continuam existindo, a prisão está pacificada, as organizações de direitos humanos estão mais preocupadas com seus negócios e as igrejas se ocupam de outras questões. Passou. Passou? o terror ordinário O terror e a morte prosseguem, também, no Estado democrático: a polícia e a prisão racionalizam e rotinizam o terror pelas ações de democratas hipócritas, cheios de grana ou mesmo pauperizados, com ou sem poder, mas repletos de compaixão. Não há Estado sem a crença de cada um no medo que este impõe, nem prisão, nem terrorismo de Estado ou de grupos na sociedade. Para haver Estado é preciso que, antes de tudo, cada um o tema. O medo não desaparecerá enquanto se acreditar no Estado e nas prisões. Enquanto isso, os cabotinos associam cultura do medo a terrorismos e bandidos. Em nome da segurança do Estado, o cidadão vaga como um idiota buscando refúgio em leis. nunca mais No sul do país, não se sabe bem porque, mostra-se aos olhos mais atentos, a perseverança conservadora, ainda que ali se zele por uma tradição mais esquerdista, especialmente no campo das chamadas “políticas públicas”. Na cidade de Rio Grande, interior do Rio Grande do Sul, o prefeito escancarou o fascismo incrustado no dia a dia com uma homenagem ao general Golbery do Couto e Silva, nome forte do golpe de 1964, por conta do centenário de seu nascimento. Apenas 2, de 13 vereadores, foram contra a homenagem. Mas alguns jovens, nascidos após a abertura política, não se calaram diante disso que é inadmissível em qualquer época ou lugar. A eles, o total apoio! Enquanto isso, cidades mais ‘liberais’ continuam caladas e cúmplices destes nomes que permanecem nas câmaras, nos tribunais, nas delegacias, nas empresas, nas instituições... na sua casa. pelo fim do exército Um liberal brada pelo fim do serviço militar obrigatório no Brasil. Argumenta que a conscrição só faz sentido em países que vivem guerras civis ou estados de guerra permanente. O liberal, que propõe um serviço civil alternativo, defende não apenas o fim da obrigatoriedade, mas também que as Forças Armadas passem por um processo de modernização investindo em equipamento e capital humano para produzir “soldados qualificados” e afirma que o serviço militar seria um dos poucos momentos de socialização republicana dos cidadãos no Brasil, desde que fosse estendido às mulheres. Na contramão dessa sanha liberal, muitos anarquistas como Tolstoi e Maria Lacerda de Moura atacavam a conscrição não com o objetivo de melhorar o Estado, mas como uma prática de insubmissão. a leste e a oeste Cenas de gente nadando na piscina de Kadafi vieram acompanhadas de declarações de um dos seus filhos de que a guerra continuará. Aqueles que a mídia nomeou de “rebeldes” festejam uma suposta vitória e o suporte diplomático-militar ocidental, enquanto o ditador segue esbravejando. Especula-se, então, o que será da Líbia. Mais um país arejado pela Primavera Árabe? É o que afirmaram governantes, jornalistas, diplomatas. Enquanto isso, a oeste de Trípoli, onde a tal primavera começou, está o “novo” governo da Tunísia formado pelo segundo escalão da ditadura anterior; a leste, onde a primavera continuou, estão os militares egípcios que instauraram uma ditadura no lugar da outra. Todos, no entanto, desempenhando o papel de garantidores da transição à democracia com o apoio em grana, bala e muita diplomacia dos democráticos e humanitaristas ocidentais. à direita e à esquerda Levar a democracia ao norte da África é o objetivo que explicita uma composição entre progressistas e direitistas europeus. Pacificar os árabes do Magreb significa acalmar convulsões políticas dando continuidade aos negócios do petróleo, ao mesmo tempo em que ajuda a fixar os africanos na África, evitando que cruzem o Mediterrâneo para tentar a vida na Europa. Por isso, democracia, direitos humanos e desenvolvimento para os árabes do deserto são projetos que satisfazem tanto humanitaristas quanto xenófobos. Assim, de consciência limpa e ódio saciado, respiram melhor europeus à esquerda e à direita. sem norte ou sul Pelas vastidões do Saara caminham povos sem pouso. São “tribos”, berberes, tuaregues. No oceano de areia, escaldante de dia e gélido à noite, esses homens circulam, percursos vários, há séculos. Participaram de composições efêmeras com monarquias, impérios, colônias e deles se apartaram. Foram combatidos; combateram. Muitos se sedentarizaram e viraram governo, outros querem ser um. Outros, ainda, seguem passando. Na Líbia, na Tunísia, no Egito... o que se passa?