ANÁLISE DO PH DAS PRECIPITAÇÕES EM MACAÉ-RJ Lúcio de Souza [email protected] Luiz Francisco Pires Guimarães Maia [email protected] Universidade Federal do Rio de Janeiro ABSTRACT The acid rain is one of the more importants environmental events that happens nowadays, mainly inside or near urban-industrial areas. Many scientists have studied it’s formation and efects in the human life and the brazilian authorities include it’s evaluation when a new potential source is installed in some place. This work shows the results of precipitation pH analisys collected during 8 weeks in 7 differents places in Cabiúnas - Macaé, located in the north part of Rio de Janeiro State, to stablish the basic state of rain acidity for future comparasions after the implantation of a powerplant in the region. 1. INTRODUÇÃO A acidificação das águas das chuvas se origina mediante processos nos quais intervém em primeiro lugar a emissão de compostos de enxofre na forma de SO2, e de nitrogênio como NOx. Na continuação, estes compostos em estado gasoso são transportados, por vezes, à longas distâncias; paralelamente, se vêem submetidos à reações químicas, entre as quais se destaca a oxidação mediante a qual se convertem em ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico (HNO3), respectivamente. Ainda na continuação, se produz a deposição ácida, que pode se dar em forma úmida - pela incorporação desses ácidos às gotas de chuvas - chuva ácida, e por deposição seca, que é a simples sedimentação das partículas no solo. Finalmente, se fecha o ciclo com a absorção destes compostos de enxofre ou nitrogênio pelo solo, água ou vegetação. O caráter ácido ( pH < 5,6) ou básico ( pH > 5,6) de uma precipitação não somente vem determinado pela origem da massa de ar, senão que influi decisivamente a trajetória que a referida massa tenha percorrido até o lugar em que se produz a precipitação. Se em seu deslocamento a massa de ar atravessa zonas de alta emissão ou com qualidade do ar já degradada, implicando na formação de ácidos, o caráter ácido da precipitação se verá consideravelmente incrementado. Segundo a distância ao foco emissor, se distinguem quatro tipos de chuvas ácidas: a) convectivas - quando se produzem em menos de uma hora depois de ter havido uma emissão; b) de mesoescala - quando se produzem entre 1 e 10 horas depois da emissão, normalmente em um raio de 100 km. - estas se consideram no transporte transfronteiriço; c) sinóticas - em um raio inferior a 1.000 km e uma permanência de 10 a 100 horas; e d) planetárias - até 10.000 km de distância e tempos de permanência de mais de 100 horas. A intensidade da chuva ácida está em função de numerosos fatores, entre os quais há que destacar a velocidade com que se levam a cabo as reações químicas que originam os sulfatos ou nitratos, a presença de umidade na atmosfera e em definitivo a dinâmica atmosférica que transporta os íons de sulfato, de nitrato e de hidrogênio à distâncias mais ou menos longas. de barris de óleo e condensados e 163,1 bilhões de metros cúbicos de gás natural. A permanência na atmosfera do dióxido de nitrogênio em presença do radical hidroxila é de um (1) dia, enquanto que a do dióxido de enxofre nas mesmas circunstâncias é de até 7,7 dias. Deste diferente comportamento de ambos contaminantes, se infere que o dióxido de enxofre é o principal implicado nas chuvas ácidas dos tipos sinótico e planetário. Para a coleta das amostras de águas de chuvas foi necessária a implantação de uma pequena Rede de coletores composta por sete (7) funís de polietileno com recipientes acoplados, os quais foram instalados nos seguintes locais em Cabiúnas e entorno (Figura 1): A magnitude dos danos que pode provocar este fenômeno é considerável. A pequena escala, existem áreas muito degradadas no raio de ação de algumas centrais térmicas que utilizam carvão como combustível - geralmente de baixa qualidade, o que equivale a um elevado conteúdo de enxofre - no que a deposição de gotas acidificadas é mais freqüente. O presente trabalho investiga o “estado básico” da qualidade das águas das chuvas - traduzido pela ocorrência de chuvas ácidas - em Cabiúnas - Macaé, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, onde encontra-se instalada a Unidade da Petrobrás de Captação e Distribuição de gás natural da Bacia de Campos e algumas outras indústrias no entorno, e para onde também está prevista a implantação, até meados de 1999, de uma Usina Termelétrica à gás natural, cujas emissões mais significativas são de óxidos de nitrogênio. Macaé encontra-se potencialmente sujeita a ocorrência de chuvas ácidas , inclusive do tipo sinótico, pela influência de larga-escala dos 36 campos produtores da Bacia de Campos, cuja produção, em 1997, foi de 10 bilhões 2. MATERIAL E MÉTODOS • • • • • • • Local a - Vila Badejo - próximo ao Aeroporto de Macaé; Local b - residência unifamiliar localizada exatamente na área onde será instalada a UTE-RJ; Local c - bairro Barreto; Local d - no limite sudoeste interno da Estação de Cabiúnas - Petrobrás; Local e - no limite norte interno da Estação de Cabiúnas -Petrobrás; Local f - no interior da área de captação de água da Estação de Cabiúnas – Petrobrás, às margens Lagoa Cabiúnas; Local g - em área rural, localizada às margens da Rodovia RJ-178. A sistemática de coleta foi semanal, baseada no caráter dinâmicoclimatológico semanal de chegas de frentes frias à região. Com isso, cada coleta representaria as águas recebidas de um mesmo sistema frontal, o que evitaria, entre outros aspectos, misturas de águas de sistemas frontais distintos e transformações físico-químicas nas amostras. Visando a compatibilidade dos resultados, os coletores de chuva foram padronizadas tanto quanto possível, considerando material e alturas de instalação idênticas, sem interferências de obstáculos no entorno próximo, presença de outras fontes de emissão, etc. parâmetros meteorológicos (não citados) enquadraram-se à climatologia local. Os Períodos amostrais semanais de chuvas em Macaé-RJ obedeceram a seguinte cronologia: 3.2 - pH das Precipitações Período 1: 23/05/98 a 02/06/98; Período 2: 02/06/98 a 09/06/98; Período 3: 09/06/98 a 16/06/98; Período 4: 16/06/98 a 23/06/98; Período 5: 23/06/98 a 30/06/98; Período 6: 30/06/98 a 07/07/98; Período 7: 07/07/98 a 14/07/98; Período 8: 14/07/98 a 21/07/98. Os procedimentos para análises das amostras das precipitações coletadas consistiu basicamente na utilização de um phmetro e de um condutivimetro. As amostras foram devidamente armazenadas em recipientes lavados com água deionizada e colocadas na geladeira até o momento efetivo de análise. 2. RESULTADOS E CONCLUSÕES 3.1 - Cenário Meteorológico Ao longo do período amostral total de 23 de maio a 21 de julho de 1998, mantevese a regularidade de entradas de frentes frias na região de Macaé-RJ, com geração de precipitações variáveis em praticamente todos os Períodos assinalados anteriormente, excetuando-se a frente fria da semana 4 ( 16 a 23 de junho), cujas precipitações foram muito fracas e esparsas, impossibilitando, inclusive as análises de pH em virtude das insuficientes quantidades de amostras. Durante o período amostral, os ventos em Macaé-RJ sopraram com primeira e segunda predominâncias de 30º e 300º, respectivamente, tendo uma velocidade média de 8,8 km/h. Estes e os demais O grau de acidez de uma amostra é determinado a partir de seu valor de pH. Para a água da chuva, uma vez que na atmosfera encontra-se presente o gás carbônico, o pH neutro tem valor 5,6. Quanto maior (menor) que 5,6, mais básica (ácida) será a amostra. Foram coletadas amostras suficientes para análise laboratorial em praticamente todos os períodos, exceto para parte das localidades no Período 3 e na totalidade das localidades do Período 4. As análises de pH para as amostras coletadas semanalmente revelaram que todos os resultados foram superiores a 5,6, ou seja, todas as soluções precipitadas apresentaram caráter básico. Apenas na 5ª e 6ª semanas as amostras apresentaram valores pouco superiores a 5,6, ambos no Local d, conforme pode ser verificado na Tabela I. Os valores médios de todas as localidades foram superiores a 6,38 e, em muitos caso, superiores a 7,0. A plotagem conjunta dos valores de pH obtidos em cada local de monitoramento (Figura 2) revela uma nítida correlação de tendência entre cada série. Da 1ª a 3ª campanha ou período, a tendência foi de elevação dos valores individuais. Na 4ª campanha não houve precipitação suficiente para análise, ou seja, praticamente não ocorreu precipitação, o que deixou a atmosfera local com mais impurezas do que em situações regulares com precipitações. Com isso, ficou evidenciado na 5ª campanha uma redução total dos valores de pH, significando que a precipitação ocorrida exerceu uma efetiva ação de “lavagem” na atmosfera e conduziu a valores de pH mais próximos do neutro, tendendo a acidificação, caso não houvesse ocorrido a precipitação durante a 5ª campanha. A partir da 6ª campanha a tendência geral passou a ser de elevação, ou seja, aumento do pH. Constata-se, também, que os valores de pH no Local d destacadamente estiveram sempre inferiores aos valores obtidos para os demais locais. 4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O experimento realizado em Cabiúnas e entorno, no Município de Macaé-RJ, revelou que todas as amostras das precipitações apresentaram valores de pH superiores a 5,6, o que as caracteriza como soluções básicas ou não-ácidas, sem maiores conseqüências ao meio ambiente. Ficou nítido o comportamento ajustado nas tendências temporais do pH nos sete (7) locais. Num maior período sem precipitações, como na 4ª campanha, as impurezas acumuladas interferiram sobremodo nos resultados da campanha seguinte, reduzindo os valores de pH, muito embora sem tornar as soluções ácidas. Contudo, tendo em vista o desenvolvimento industrial da área de enfoque e de Municípios vizinhos, impulsionado pelo estímulo do Governo Federal pelas facilidades locais de fornecimento de gás natural da Bacia de Campos, recomenda-se uma avaliação periódica das condições de qualidade do ar e do pH das precipitações. 5. BIBLIOGRAFIA BONILLO, D. L. (1994): El Medio Ambiente. Ediciones Cátedra. Madrid. 385p CETKAUSKAITE, A; NEUMAN, J. e SABALIUNAS, D. (1996): Solvent-filled Dialysis Membranes in Environmental Analysis: A Preliminary Study. Chemija. No. 1. P: 77-81. Da CRUZ, H. (1996): Lluvia Acida: Impacto Ambiental de las Grandes Instalaciones de Combustión. Federación de Amigos de la Tierra – Buró Europeo de Medio Ambiente.Madrid. 140p. FIGUERÊDO, D.V. (1994): Chuvas ácidas na Região Metropolitana de Belo Horizonte/MG. Anais do VII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Vol.1, p:133-137. MOURA, D.S. (1992): Determinação de NH+, pH e Condutividade Elétrica das Águas das Chuvas na Cidade do Rio de Janeiro. Resumos da 15a Reunião da Sociedade Brasileira de Química. Vol 15, No 2. Figura 1 – Distribuição espacial das estações da coleta de chuva em Macaé-RJ ( a = 1, b = 2, ...) Tabela I Período pH(Local1)pH(Local2)pH(Local3)pH(Local4)pH(Local5) pH(Local6)pH(Local7) Mai/23-Jun/02 6,87 7,29 7,18 6,6 7,25 6,54 7,1 Jun/02-Jun/09 7,47 7,57 7,38 7,83 7,16 7,61 Jun/09-Jun/16 7,94 7,84 6,85 7,77 7,76 Jun/16-Jun/23 Jun/23-Jun/30 6,7 6,63 6,98 5,69 6,46 6,14 6,32 Jun/30-Jul/07 6,14 6,75 6,75 5,68 6,8 6,75 6,77 Jul/07-Jul/14 7,06 6,92 7,15 6,08 6,88 6,65 6,79 Jul/14-Jul/21 7,27 7,58 7,62 7,35 7,47 7,19 7,51 Mai/23-Jul/21 7,06 7,22 7,18 6,38 7,21 6,74 7,12 Figura 2 - Variação temporal do pH dos 7 Locais de monitoramento em Macaé-RJ Variação temporal do pH das oito (8) amostras de chuvas coletadas em Macaé-RJ no período de 23 de maio a 21 de julho de 1998. 8,1 pH(Local1) 7,6 Valor de pH (adimensional) pH(Local2) 7,1 pH(Local3) pH(Local4) 6,6 pH(Local5) 6,1 pH(Local6) 5,6 pH(Local7) 5,1 Mai/23-Jun/02 Jun/02-Jun/09 Jun/09-Jun/16 Jun/16-Jun/23 Jun/23-Jun/30 Sub-período amostral Jun/30-Jul/07 Jul/07-Jul/14 Jul/14-Jul/21