Eficiência do Uso de Nitrogênio pelo Arroz, Afetados pelo Sistema de Irrigação Intermitente José Bernardo Moraes Borin(1); Ibanor Anghinoni(2) ; Felipe Carmona(3), Amanda Martins(4), Joaquim Faraco(5); José Antônio Alves(6); Isadora Jaeger(7) (1) Mestrando em Ciências do Solo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. [email protected]; (2) Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (3) Pesquisador do Instituto Riograndense do Arroz Irrigado. (4) Mestranda em Ciências do Solo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (5) Graduando em Engenharia Agronômica na Universidade Luterana do Brasil; (6) Graduando em Engenharia Agronômica na Universidade Luterana do Brasil; (7) Graduanda em Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. RESUMO – Dada a importância ao arroz irrigado no Estado do Rio Grande do Sul, onde o manejo da cultura é fator imprescindível aos altos rendimentos de grãos obtidos na região. Sendo assim, a utilização da água deve ser feita de forma racional, principalmente quando no período de maior necessidade da cultura é o período de maior escassez. Como alternativa ao manejo de irrigação do arroz irrigado, com objetivo de fazer uso de uma menor quantidade d’água, sem causar prejuízos ao produtor, tem-se a necessidade de obter dados relevantes e pertinente. Foi avaliado em Uruguaiana e em Cachoeirinha, na safra 2011/12, o rendimento de grãos, a massa seca e a eficiência do uso do nitrogênio, em diferentes manejos de irrigação e parcelamentos da aplicação do nutriente. Onde não foram encontradas diferenças entre os parcelamentos do N, tendo também uma eficiência do uso do nutriente que não difere significativamente. Palavras-chave: arroz irrigado – nitrogênio – eficiência manejo. INTRODUÇÃO - Na produção de arroz irrigado no RS, o sistema de irrigação utilizado é o de irrigação por inundação, com manutenção de lâmina de água contínua por um período médio de 80 a 100 dias, dependendo do ciclo da cultivar. A quantidade de água utilizada neste sistema na lavoura varia de 7.000 a 12.000 m³ ha-1 e a eficiência de uso da água (EUA) varia de 0,8 a 1,1 kg de arroz produzido por metro cúbico de água utilizado (Marcolin et al., 2009). Em condições extremas, o requerimento de água pode superar 15.000 m³ ha-1 (SOSBAI, 2010). A irrigação é o item que mais impacta o custo de produção da lavoura de arroz irrigado do RS, correspondendo a 14,3% do custo total (IRGA, 2009), sendo esse o recurso natural que mais limita o aumento da área cultivada. Dependendo do regime de precipitação pluvial e do gerenciamento dos mananciais hídricos pelo produtor, extensas áreas, principalmente nas regiões arrozeiras gaúchas denominadas Fronteira Oeste e Campanha, são afetadas pela escassez de água durante o ciclo da cultura, o que normalmente ocorre no período reprodutivo, justamente o mais sensível ao déficit hídrico (Yoshida, 1981). Além disso, nas regiões urbanas, há freqüente conflito de interesse no uso dos recursos hídricos, especialmente nas bacias hidrográficas dos rios Gravataí e Sinos, o que gera desgaste da imagem dos orizicultores frente à opinião pública, especialmente em épocas de estiagem. Recentemente, trabalhos têm sido desenvolvidos, especialmente na Ásia, para avaliar sistemas que possam aumentar a EUA, tais como: cultivo em solo saturado, irrigação intermitente, cultivo em condição de aerobiose, cultivo sobre camalhões e cultivo utilizando vários tipos de mulching para reduzir perdas por evaporação (Bouman and Tuong, 2001; Tuong and Bouman, 2003; Tuong et al., 2005). Porém, maior ênfase tem sido dada ao sistema de irrigação intermitente, alternando ciclos com solo inundado e solo com drenagem severa, além do cultivo em condição de solo saturado. No Rio Grande do Sul, esforços em pesquisas relativas à irrigação intermitente vêm sendo realizados recentemente, sendo que os resultados indicam produtividades semelhantes em relação à irrigação contínua e redução de até 32% no consumo de água (Martini et al., 2009), além de redução na transferência de nutrientes da lavoura para o ambiente (Ávila et al., 2009). Há uma significativa interação do manejo da água com as demais práticas de manejo da cultura, influenciando seu desempenho. Dentre elas, inclui-se a disponibilidade no solo e eficiência no uso de nutrientes pela cultura, especialmente o nitrogênio. Nesse contexto, a irrigação intermitente surge como alternativa, já que minimiza a necessidade de uso da água por determinado período de tempo, durante o ciclo da cultura. Entretanto, a mudança do estado de oxi-redução do solo, como resultado da intermitência da irrigação, pode alterar a disponibilidade de nutrientes na solução do solo, assim como a absorção pelas plantas, em especial o nitrogênio. Faz-se necessário, portanto, estabelecer a eficiência de uso de nitrogênio pelas plantas de arroz em solo - FERTBIO 2012 Maceió (AL), 17 a 21 de setembro - Resumo Expandido submetido à oxidação temporária, comparativamente ao método de irrigação contínua. Este trabalho tem como objetivos avaliar a eficiência agronômica do uso de nitrogênio pela cultura do arroz, manejado sob diferentes formas, em função da adoção de diferentes métodos de irrigação intermitente. MATERIAL E MÉTODOS - O Experimento foi conduzido nas Estações Experimentais do IRGA, em Cachoeirinha e Uruguaiana na safra 2011/12. Os solos das áreas experimentais foram Neossolo Litólico eutrófico típico em Uruguaiana e Gleissolo Háplico distrófico típico em Cachoeirinha. Os tratamentos testados foram os seguintes: - T1: Irrigação contínua (IC) com altura média de lâmina de água de 5,0 cm desde o estádio V3-V4, até o estádio R6, quando será suprimida a irrigação, até a colheita. - T2: Irrigação intermitente, com entrada d’água em V3-V4 até V6, com supressão total da irrigação até o estádio V8, retornando com a irrigação contínua com altura média de lâmina de água de 5,0 cm, com supressão da irrigação em R6, até a colheita. - T3: Irrigação intermitente, com entrada d’água em V3-V4 até V6, com supressão total da irrigação até o estádio V8, irrigação contínua até R1 e após, reposição de água a cada 10 dias com altura média de lâmina de água de 5,0 cm, com supressão da irrigação em R6, até a colheita. - T4: Irrigação intermitente, alternando ciclos de solo inundado e drenado com entrada d’água em V3-V4 até V6 , com supressão total da irrigação até o estádio V8, retornando com a irrigação contínua com altura média de lâmina de água de 5,0 cm até R2, com supressão da irrigação por 15 dias, retornando novamente a lâmina d´água, efetuando-se a supressão da irrigação em R6, até a colheita. Utilizou-se a cultivar IRGA 424. A semeadura realizada na segunda quinzena de outubro, na densidade de 100 kg ha-1 de sementes. A adubação de base com fósforo e potássio foi realizada considerando expectativa de resposta alta à adubação (SOSBAI, 2010), sendo que, por ocasião da semeadura, foram aplicados, a lanço, 60 kg de P2O5 e 120 de K2O, sob as formas de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. Em todos os tratamentos, o início da entrada da água foi no estádio V3, logo após a aplicação do herbicida e da primeira adubação nitrogenada de cobertura (SOSBAI, 2010). As parcelas tinham a dimensão de 12 x 10 m, sendo que todas foram entaipadas (altura média de 40 cm) e com entrada de água individual. Cada parcela foi subdividida em três, para aplicação diferenciada de nitrogênio: 0 de N; 150 kg ha-1 de N em duas aplicações (66% em V3 e 34% na iniciação do primórdio floral) e 150 kg ha-1 de N em três aplicações (34% em V3, 33% em V6 e 33% em V8 na iniciação do primórdio floral). O delineamento experimental foi de blocos casualizados, dispostos em parcelas divididas, com três repetições, sendo que os métodos de irrigação foram locados nas parcelas principais e os sistemas de manejo do N nas subparcelas. Com relação às análises de planta, foi mensurado o rendimento de massa seca da parte aérea nos estádios V6 e R2 (antes da emissão da panícula, no “emborrachamento”). Já a quantidade de N total acumulada na parte aérea e absorvida pelas plantas de arroz foi determinada nos mesmos estádios de avaliação de rendimento de massa seca, pela metodologia descrita por Tedesco et al. (1995). O rendimento de grãos foi obtido pela extrapolação da produção obtida na área útil da sub-parcela para um hectare, corrigindo-se a umidade para 130 g kg-1. A área colhida para avaliação foi de 6,0 m². A recuperação aparente de nitrogênio (RAN) foi calculada pela diferença entre a absorção de N pelas plantas nas sub-parcelas com e sem aplicação desse nutriente, dividido pela dose de aplicação de N. Já a eficiência agronômica de uso do nitrogênio (EAUN) foi calculada a partir da diferença de rendimento de grãos nas sub-parcelas com e sem N, dividido pela taxa de aplicação de N. A eficiência fisiológica de uso do nitrogênio (EFUN) foi calculada pela razão entre o rendimento de grãos e a absorção total de N nas sub-parcelas. Os resultados referentes à absorção de nutrientes, rendimento de grãos, RAN, EAUN e EFUN serão submetidos à ANOVA, sendo as médias comparadas pelo teste de Diferença Mínima Significativa, a 5 % de probabilidade de erro. RESULTADOS E DISCUSSÃO – A produtividade em Uruguaiana, teve uma variação de 7,5 a 14 Mg ha-1 e em Cachoeirinha, variaram entre 5,7 a 11,3 Mg ha-1 (Figura 1). A maior produtividade foi observada no tratamento onde o manejo efetuado foi a irrigação contínua com duas aplicações de N, em Uruguaiana. A produtividade mais afetada em Uruguaiana, atribui-se à intermitência mais acentuada, no T3, onde permaneceu durante todo o estágio reprodutivo sob estresses hídricos por períodos prolongado. Em Cachoeirinha, as subparcelas adubadas com N, tiveram maiores diferenças de produtividades em relação ao tratamento com 0N. A biomassa em Cachoeirinha variou entre 4,7 a 14,2 Mg ha-1 e em Uruguaiana a mesma foi de 6,1 a 19,9 Mg ha-1 (Figura 2). Condizendo assim, com a produtividade, em Uruguaiana a massa seca também foi superior à de Cachoeirinha, sendo que obteve-se a maior quantidade produzida no tratamento T2 em que o N teve duas aplicações. Observando-se que a parcela de maior produção de massa verde sofreu um estresse com uma intermitência de irrigação, porém, não tendo sido afetado seu rendimento de grãos. Diferente de Cachoeirinha, onde observou-se uma produção de massa seca indiferente entre o tratamento com uma intermitência e a irrigação contínua, contudo houve uma redução no rendimento do tratamento com a intermitência que foi parcelado o N em duas aplicações. A RAN apresentou diferenças significativas em Uruguaiana, quando comparados os manejos de aplicação de N, onde nos tratamentos T1, T2 e T3 quando houveram duas aplicações, o nitrogênio aplicado foi mais eficiente 2 - FERTBIO 2012 Maceió (AL), 17 a 21 de setembro - Resumo Expandido (Tabela 1). Em Cachoeirinha (Tabela 2), a EAUN variou entre 8 a 19 kg de grãos kg N aplicado-1, sendo esta eficiência superior à Uruguaiana. Em relação ao manejo de irrigação contínua e o T4 com três aplicações de N, foram inferiores estatisticamente. Esta eficiência não apresentou diferenças estatísticas em Uruguaiana. Com relação a EFUN, obtendo-se baixa variação dos dados, em nenhum dos experimentos teve diferenças estatisticamente. CONCLUSÕES – O rendimento de grãos e produção de massa seca do arroz irrigado é superior em Uruguaiana, apresentando pouca variação entre os tratamentos, em relação a Cachoeirinha. Tendo assim, o manejo como uma ferramenta de economia d’água, sendo sua otimização relacionada a inalteração da eficiência da absorção do nitrogênio. REFERÊNCIAS AVILA, L.A.; MARQUES, M.S.; MARTINI, L.F.D.; MEZZOMO, R.F.; BERNARDES FILHO, D.F.; SARTORI, G.M.S.; MARCHESAN, E. & SILVA,L.S. Irrigação intermitente reduz a transferência de nutrientes para o ambiente. In: VII CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, Porto Alegre, 2009. CD-ROM. BOUMAN, B.A.M. & TUONG, T.P. Field water management to save water and increase its productivity in irrigated rice. Agric. Water Mgmt., 49:11-30, 2001. IRGA, 2010. Disponível em <http://www.irga.rs.gov.br/arquivos/201000705150227.p df.> Acessado em: 20 de set. de 2010. MARCOLIN, E.; GENRO JUNIOR, S.A. & MACEDO, V.R.M. Eficiência de uso de água em função de sistemas de manejo da irrigação em arroz irrigado. In: VII CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, Porto Alegre, 2009. CD-ROM. MARTINI, L.F.D.; AVILA, L.A.; MEZZOMO, R.F.; MARCHESAN, E.; REFATTI, J.P.; CASSOL, G.V.; MACHADO, S.L.O. & MASSEY, J.H. Irrigação intermitente permite redução do volume de água aplicado sem afetar a produtividade do arroz irrigado. In: VII CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ IRRIGADO, Porto Alegre, 2009. CD-ROM. SOCIEDADE SUL-BRASILEIRA DE ARROZ IRRIGADO (SOSBAI). Arroz irrigado: Recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil/28. Reunião Técnica da Cultura do Arroz Irrigado, Bento Gonçalves RS: SOSBAI, 2010. 188p. TEDESCO, M. J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C. A.; BOHNEN, H.; WOLKWEISS, S. J. Análise de solo, plantas e outros materiais. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 1995. 174 p. TUONG, T.P. & BOUMAN, B.A.M. 2003. Rice production in water-scarce environments. In: KIJNE, J.W., BARKER, R., MOLDEN, D. (Eds.), Water Productivity in Agriculture: Limits and Opportunities for Improvement. CABI Publishing, Wallingford, UK, pp. 53–67. 2003. TUONG, T.P.; BOUMAN, B.A.M. & MORTIMER, M. More rice, less water-integrated approaches for increasing water productivity in irrigated rice-based systems in Asia. Plant Prod. Sci., 8:229- 239, 2005. YOSHIDA, S. Fundamentals of rice crop science. Los Baños, The International Rice Research Institute, 1981. 269p. 3 - FERTBIO 2012 Maceió (AL), 17 a 21 de setembro - Resumo Expandido - 14000 (A) 12000 12000 10000 8000 6000 0N 2X 3X 4000 Rendimento de grãos, kg ha -1 -1 Rendimento de grãos, kg ha (B) 14000 10000 2000 8000 6000 0N 2X 3X 4000 2000 0 0 IC V6-V8 V6-V8 R1+10+10 V6-V8 R2+14 IC V6-V8 Manejo da água de irrigação V6-V8 R1+10+10 V6-V8 R2+14 Manejo da água de irrigação Figura 1 - Rendimento de grãos de arroz irrigado em Uruguaiana (A) e Cachoeirinha (B), em relação ao manejo de água e manejo de aplicação de nitrogênio, na safra 2011/12. 0N 2X 3X 20000 20000 (B) 0N 2X 3X -1 Massa seca da parte aérea (kg ha ) -1 Massa seca da parte aérea (kg ha ) (A) 15000 10000 5000 0 15000 10000 5000 0 IC V6-V8 V6-V8 R1+10+10 V6-V8 R2+14 Manejo da água de irrigação IC V6-V8 V6-V8 R1+10+10 V6-V8 R2+14 Manejo da água de irrigação Figura 2 - Massa seca da parte aérea de arroz irrigado em Uruguaiana (A) e Cachoeirinha (B), em relação ao manejo de água e manejo de aplicação de nitrogênio, na safra 2011/12. Tabela 1 - Recuperação aparente de nitrogênio (RAN), em %; a eficiência agronômica de uso do nitrogênio (EAUN), em kg de grãos kg N aplicado-1; a eficiência fisiológica de uso do nitrogênio (EFUN); em kg de grão kg de N absorvido1 , nos diferentes manejos de irrigação e aplicação de nitrogênio, em Uruguaiana, na safra 2011/12. RAN EAUN EFUN Tratamento 2x 3x 2x 3x 2x 3x 95 Aa 15 Bb 9 Aa 4 Aa 36 Aa 50 Aa T1 78 Aab 46 Bab 8 Aa 8 Aa 39 Aa 29 Aa T2 104 Aa 60 Ba 7 Aa 7 Aa 27 Aa 46 Aa T3 83 Bb 95 Ab 11 Aa 14 Aa 52 Aa 50 Aa T4 Tabela 2 - Recuperação aparente de nitrogênio (RAN), em %; a eficiência agronômica de uso do nitrogênio (EAUN), em kg de grãos kg N aplicado-1; a eficiência fisiológica de uso do nitrogênio (EFUN); em kg de grão kg de N absorvido1 , nos diferentes manejos de irrigação e aplicação de nitrogênio, em Cachoeirinha, na safra 2011/12. RAN EAUN EFUN Tratamento 2x 3x 2x 3x 2x 3x 49 Ab 51 Ab 8 Aa 11 Ab 52 Aa 53 Aa T1 59 Ab 74 Aab 13 Ba 17 Aa 61 Aa 58 Aa T2 59 Ba 98 Aa 12 Aa 19 Aa 32 Aa 37 Aa T3 55 Ab 38 Ab 13 Aa 13 Bb 49 Ba 57 Aa T4 4