ANÁLISE DA POROSIDADE TOTAL DE UM ARGISSOLO VERMELHO – AMARELO SOB DIFERENTES COBERTURAS VEGETAIS Paulo André Trazzi1, Rogério Colombi1, Pedro Peluzio de Oliveira2, Otacílio José Passos Rangel3, Renato Ribeiro Passos4. 1 UFES/Departamento Engenharia Florestal, Avenida Carlos Lindemberg, s/n, Centro, Jerônimo Monteiro, ES, [email protected], [email protected], 2 UFES/Departamento Engenharia Rural, Alto Universitário, s/n, Guararema, Alegre, ES, [email protected] 3 Engº Agrônomo, D.Sc em Solos e Nutrição de Plantas, Prof. do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus de Alegre, Alegre, ES, [email protected] 4 Engº Agrônomo, D.Sc em Solos e Nutrição de Plantas, Prof. Adjunto do Departamento de Produção Vegetal do CCA-UFES, [email protected] Resumo: O presente trabalho teve por objetivo avaliar as alterações na porosidade total calculada e determinada de um Argissolo Vermelho Amarelo (EMBRAPA, 1999). As amostras de solo foram coletadas na área experimental do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES), Campus de Alegre, em três profundidades, sendo 0-5, 5-10 e 10-20 cm para as coberturas vegetais de eucalipto (Eucalyptus sp.), sorgo (Sorghum bicolor Mench) e mandioca (Manihot esculenta Crantz.). O delineamento foi montado em blocos inteiramente casualisado no esquema de parcelas subdivididas. Os resultados experimentais mostraram que as diferenças entre profundidades não afetam estatisticamente a variação do resultado dos diferentes métodos de obtenção da porosidade total. Enquanto que para a cobertura vegetal, as médias de porosidade total obtidas pelos diferentes métodos se mostraram diferente e também que a cobertura vegetal “mandioca” apresentou maior porosidade pelo método da porosidade determinada e pelo método da porosidade calculada pelo anel volumétrico. Para o método da porosidade calculada pela proveta, o maior resultado foi observado para a cobertura “eucalipto”. Palavras-chave: Atributos físicos do solo, métodos de determinação de porosidade, uso do solo. Área do Conhecimento: Ciências Agrárias INTRODUÇÃO Os solos agrícolas funcionam como um sistema complexo que retém e transmite água, ar, nutriente e calor às sementes e plantas, de maneira que é fundamental um ambiente físico favorável ao crescimento radicular, para maximizar a produção das culturas (LETEY, 1985; HAMBLIN, 1985 citados por TORMENA et al., 2002). Podemos afirmar que um solo compactado modifica suas estruturas, aumenta os níveis de erosão, altera o fluxo de água e as trocas gasosas, sendo que a porosidade de aeração for menor que 10 – 15%, tornam – se limitante para o desenvolvimento da maioria das plantas (STOLZY, 1974). A densidade, a resistência do solo à penetração e a porosidade do solo são parâmetros frequentemente utilizados para caracterizar o estado de compactação dos solos e os efeitos decorrentes dos efeitos dos sistemas de preparo sobre a estrutura e propriedades físicas dos solos Albuquerque, et al., (1995);Centurion e Dematte (1985); Corsini e Ferraudo (1999); Eltz et al., (1989); Klepker e Anghinoni (1995); Tormena e Roloff (1996); Tormena et al., (1998), citado por Watanabe et al., (2002). Klein (1998) menciona que a densidade do solo é afetada por sistemas de manejo do solo que alteram o espaço poroso, alterando as propriedades físico-hídricas do solo, como a porosidade, a retenção de água no solo, a disponibilidade de água às plantas e a resistência à penetração. Carvalho et al., (2004); Maria et al.,(1999); Voorhees (1992) citados por Suzuki et al., (2006), afirma que a partir de parâmetros físicos como a densidade, a resistência do solo à penetração e a porosidade de aeração, associados ao conhecimento da parte aérea e radicular das culturas, têm-se buscado valores restritivos ou críticos ao crescimento, ao desenvolvimento e ao rendimento das culturas. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a porosidade total calculada pelos métodos do anel volumétrico e método da proveta e porosidade total determinada em um Argissolo Vermelho Amarelo sendo três profundidades (0-5, 5-10 e 1020 cm) sob três diferentes coberturas vegetais (sorgo, eucalipto e mandioca). METODOLOGIA O trabalho foi conduzido no Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES), Campus de XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação - Universidade do Vale do Paraíba 1 Alegre em 2009, e no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCAUFES) em 2009, situada no município de AlegreES. O município de Alegre está situado a 20º45’48” de latitude Sul e 41º31’57” de longitude Oeste e altitude de 150 metros. O clima predominante é quente e úmido no verão e seco no inverno, com precipitação anual média de 1.200 mm e temperatura média anual de 23ºC, sendo as máximas diárias de 29ºC e mínimas de 20ºC. O solo da área de onde foram realizadas as coletas é um Argissolo Vermelho Amarelo (EMBRAPA, 1999) sendo a área em que se retiraram as amostras de solo está distribuída em uma faixa homogênea de solo. As amostras de solo foram retiradas em três profundidades (0-5, 510 e 10-20 cm) em três coberturas vegetais eucalipto (Eucalyptus sp.), sorgo (Sorghum bicolor Mench) e mandioca (Manihot esculenta Crantz.) variedade Cacau Branca, com 3 repetições. Sendo o manejo aplicado caracterizado pelo sistema de produção convencional do solo (aração + gradagem) e controle fitossanitário para pragas, doenças e invasoras com aplicação de produtos fitossanitários adequados. As avaliações foram feitas no laboratório de Física dos Solos do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo localizado no Município de Alegre-ES. Os atributos físicos do solo foram avaliados a três profundidades (0-5 cm, 5-10 cm e de 10-20 cm de profundidade). Em cada local, para as profundidades estabelecidas coletou-se uma amostra com estrutura deformada com auxílio de enxadão e uma com estrutura indeformada com o auxilio de amostrador de Ulhand com anéis de metal com volume conhecido. Para a determinação da densidade do solo pelo método da proveta e densidade de partículas pelo método do balão volumétrico, foram utilizadas amostras deformadas, utilizando metodologias propostas pela EMBRAPA (1997). O método da proveta consiste em encher uma proveta (de 100 mL, com peso conhecido) com solo, colocando de cada vez aproximadamente 35 mL de terra fina seca em estufa (TFSE), deixandoo cair de uma vez e em seguida compactar o solo batendo a proveta 10 vezes sobre o lençol de borracha de 5 mm de espessura, com distância de queda de mais ou menos 10 cm; repetir esta operação por mais duas vezes, até que o nível da amostra fique nivelado com o traço do aferimento da proveta. Pesar a proveta com a amostra de solo. Por diferença, obter a massa de solo seco (Ms). Calcular a densidade do solo (Ds), sendo Ds = Ms/Vt. O método do balão volumétrico consiste em transferir 20 g de TFSE peneirada em malha de 2 mm, e colocar em um balão volumétrico de 50 ml. Adicionar, ao balão, 25 ml de álcool etílico. Agitar o balão durante um minuto e deixá-lo em repouso por 15 minutos. Completar o volume do balão com álcool fazendo sua leitura na bureta (X). Então, calcula-se a densidade de partículas usando a expressão Dp = 20/V, sendo V = 50 - X. Para a determinação da densidade do solo pelo método do anel volumétrico e da porosidade total determinada, foram utilizadas amostras indeformadas para cada profundidade estabelecida, com o auxilio de amostrador de Ulhand com anéis de metal com volume (Va) e massa conhecidos, conforme Embrapa (1997). A porosidade total determinada foi obtida através da saturação completa das amostras. o Estas foram pesadas e levadas à estufa a 110 C, por 48 horas (ou até atingir peso constante). As amostras são novamente pesadas, indicando massa de solo seco (Ms). E assim, por diferença de massa do solo saturado pelo solo seco em estufa, obtem-se a massa de água referente ao volume total de poros do solo. Com esta mesma massa (Ms), pode-se obter a porosidade total calculada através da expressão: P = (1 - Ds/Dp), sendo Ds: densidade do solo (obtida pelo método do anel volumétrico e método da proveta) e Dp: densidade de partículas (obtida através do método do balão volumétrico), de acordo com EMBRAPA, (1997). O delineamento utilizado foi em blocos casualizados no esquema de parcelas subdivididas. As coberturas vegetais constituíram as parcelas e as profundidades as subparcelas. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software SAEG. RESULTADOS Na Tabela 1 são apresentados os resultados do teste F, para porosidade total calculada pelo método do Anel volumétrico (Pcal Anel), porosidade total calculada pelo método da proveta (Pcal Prov) e porosidade total determinada (Pdet) para os fatores cobertura vegetal e profundidade e interação entre estes fatores. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação - Universidade do Vale do Paraíba 2 Tabela 1: Análise de variância do teste F, para as variáveis porosidades totais calculada pelo método do anel volumétrico (Pcal Anel), porosidade total calculada pelo método da proveta (Pcal Prov) e porosidade total determinada (Pdet) para os fatores em estudo (Cobertura e Profundidade). Fonte de Pcal Prov Pcal Anel Pdet variação * * * Cobertura 8,65 10,15 14,71 ns ns ns Profundidade 1,64 0,48 0,23 ns ns ns Interação 0,25 0,36 2,11 ns não significativo; * significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F. A tabela 2 apresenta os testes de média das porosidades totais em função da cobertura vegetal, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Tabela 2: Valores médios para porosidade total calculada pelo método do anel volumétrico (Pcal Anel), porosidade total calculada pelo método da proveta (Pcal Prov) e porosidade total determinada (Pdet), em m³/m³, para o fator Cobertura Vegetal. Cobertura Vegetal Porosidade Total Pdet Pcal Anel Pcal Prov Sorgo 0,4795 b 0,3140 b 0,4957 b Eucalipto 0,4719 b 0,3296 b 0,5354 a Mandioca 0,5464 1 0,4130 a 0,4989 b As médias seguidas de mesma letra, na coluna, não diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. DISCUSSÃO Analisando a tabela 1, a porosidade total obtida pelos três métodos (determinada, calculada pelo anel e calcula pela proveta), a interação cobertura x profundidade não foi significativa, isso indica que o fator cobertura atua independentemente do fator profundidade. Assim, os fatores devem ser estudados separadamente. Para profundidade, na tabela 1 nota-se que não houve diferença significativa entre os diferentes níveis. Isso implica que estatisticamente não há diferença entre as médias dos valores de porosidade total para as três profundidades. E para o fator cobertura, cujos valores para F foram significativos, existe pelo menos uma média estatisticamente diferente das outras. Na tabela 2, para porosidade total determinada e calculada através do anel volumétrico, a cobertura vegetal “mandioca”, apresentou maiores valores de porosidade total em relação às outras duas coberturas vegetais. Já para a porosidade total calculada pelo método da proveta, o maior valor foi obtido pela cobertura vegetal “eucalipto”, enquanto que o “sorgo” e a “mandioca” apresentaram estatisticamente os mesmos valores médios. Dados apresentados na tabela 2 mostram que para a cobertura vegetal “mandioca”, os valores médios de porosidade total foram significativamente maiores, quando comparados às outras coberturas, através dos métodos de porosidade determinada e porosidade pelo método do anel. Ao passo que, a porosidade total calculada pelo método da proveta, o maior valor de porosidade total foi para a cobertura vegetal “eucalipto”. Isso pode estar associado ao fato de que a obtenção da porosidade total pelo método da proveta trabalha-se com amostras deformadas, podendo alterar significativamente os resultados. CONCLUSÃO Os maiores valores de porosidade total determinada e calculada pelo método do anel volumétrico obtidos na cobertura vegetal mandioca indicam que o solo encontra – se melhor estruturado do que o solo sob eucalipto e o solo cultivado com sorgo, favorecendo assim a uma melhor agregação e, em conseqüência, da porosidade do solo. Maiores valores de porosidade do solo são importantes, dada a influência deste atributo sobre os processos físicos como a aeração e infiltração de água, bem como sobre o desenvolvimento das raízes das plantas. Dentre as coberturas vegetais, a “mandioca” apresentou maior porosidade pelo método da porosidade determinada e pelo método da porosidade calculada pelo anel volumétrico. Para o método da porosidade calculada pela proveta, o maior resultado foi observado para a cobertura “eucalipto”. Não houve efeito significativo de profundidade sobre a porosidade do solo obtida pelos diferentes métodos. REFERÊNCIAS EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Manual de métodos de análises de solos. 2.ed. Rio de Janeiro, 1997.412p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solo. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1999. 412 p. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação - Universidade do Vale do Paraíba 3 KLEIN, V.A. Propriedades físico-hídricomecânicas de um Latossolo Roxo, sob diferentes sistemas de uso e manejo. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 1998. 150p. STOLZY, L.H. Soil atmosphere. In: CARSON, E.W., ed. The plant root and its enviroment. Charlotlesville, University Press of Virginia, 1974. p.335-361. SUZUKI, L.E.A.S.; REINERT, D.; REICHERT, J.M. & LIMA, C.L.R. Densidade restritiva ao crescimento radicular em função da argila. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA, NOVOS DESAFIOS DO CARBONO DO MANEJO CONSERVACIONISTA, Aracaju, 2006. Anais. Aracaju, 2006. TORMENA, C.A. et al., Densidade, porosidade e resistência à penetração em latossolo cultivado sob diferentes sistemas de preparo do solo. Scientia Agricola, v.59, n.4, p.795-801, out./dez. 2002. WATANABE, S.H. et al., Propriedades físicas de um latossolo vermelho distrófico influenciadas por sistemas de preparo do solo utilizados para implantação da cultura da mandioca. Acta Scientiarum, Maringá, v. 24, n. 5, p. 1255-1264, 2002. 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