X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
Núcleo Regional Sul
Efeito da Calagem e do Manejo da Água na Oxirredução do Solo e na
Disponibilidade de Zinco para Arroz Irrigado em um Solo dos Campos Naturais
da Região Sul do Estado do Amazonas
Marlon Rodrigues(1); Vairton Radmann(2); Rogério Oliveira de Sousa(3); Ledemar Carlos
Vahl(3); João Paulo Sousa Gomes(4); Claudia Filomena Schneider Sehn(5); Gerson Lübke
Buss(6)
(1)
Graduando em Agronomia pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário,
s/n, Pelotas, RS, Caixa postal 354, CEP 96010-900, e-mail: [email protected]; (2)Doutorando no Programa de PósGraduação em Manejo e Conservação do Solo e da Água (PPG MACSA), FAEM/UFPel; (3)Professor, Doutor, Departamento de
solos, FAEM/UFPel; (4)Graduando em Agronomia, FAEM/UFPel; (5)Eng. Agrª FAEM/UFPel; (6)Doutorando no PPG MACSA,
FAEM/UFPel.
RESUMO– A disponibilidade de Zn para o arroz irrigado
é influenciada por vários fatores, dentre os quais se
destacam a calagem e o manejo de água para a cultura. O
objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da calagem e do
manejo da água na dinâmica da redução do solo, do pH e
da disponibilidade de Zinco para arroz irrigado em um
solo dos campos naturais da região Sul do Estado do
Amazonas. O estudo foi conduzido em casa de vegetação
do Departamento de Solos da FAEM-UFPel, no Capão do
Leão-RS onde foram testados os seguintes tratamentos:
(T1: Calagem + lâmina de água continua; T2: Calagem +
solo saturado; T3: Sem calagem + lâmina de água
contínua; T4: Sem calagem + solo saturado; T5
Testemunha - Irrigação formando lâmina de água
contínua sem aplicação de calcário e sem aplicação de
adubação química completa) com 4 repetições. Ainda foi
aplicado adubação NPK, Sulfato de cobre, Sulfato de
zinco, além da correção da acidez do solo por meio de
MgO e CaO. Ao longo do experimento foi realizada a
coleta de solução do solo, totalizando 8 amostragens. O
alagamento levou o pH do meio até próximo à
neutralidade, diminuiu o Eh e a concentração de Zn do
solo. Já a calagem elevou o pH do solo e
consequentemente diminuiu a concentração de Zn na
solução do solo.
Palavras-chave: pH, Eh, alagamento, saturação.
INTRODUÇÃO- Embora exista um fenômeno de
"autocalagem" em solos alagados, recomenda-se a
utilização de calcário para o arroz irrigado semeado em
condições de solos seco, já que a inundação é iniciada
entre 20 e 30 dias após a emergência. Nesse caso, a
correção da acidez e as condições de solo mais adequadas
ao crescimento da cultura, provocadas pela inundação,
ocorrem próximo ao final da fase vegetativa, limitando
assim a produtividade (Embrapa, 2005). A calagem
promove ainda o suprimento de Ca + Mg para a planta,
porém limita a disponibilidade de Zn no solo. Segundo
Quaggio (2000), ao se elevar o pH de um solo ácido, a
disponibilidade do Zn diminui devido ao aumento da
retenção no complexo coloidal ou a redução da
solubilidade de suas fontes.
Em solos sob alagamento ocorre o consumo do
estoque de oxigênio pela respiração microbiana e o
potencial redox (Eh) diminui indicando presença de
ambiente redutor (Sousa et al., 2009). Juntamente às
alterações do Eh ocorrem variações no pH do solo, sendo
observado um aumento em solos ácidos, por causa do
consumo de H+, e em solos alcalinos há uma redução do
pH devido a acumulação de CO2 (Ponnamperuma, 1972).
A concentração de Zn decresce após o alagamento,
devido, provavelmente, à precipitação do Zn(OH)2 como
resultado do aumento do pH, precipitação do ZnCO3 em
virtude da acumulação do CO2, resultado da
decomposição da matéria orgânica e precipitação do ZnS
sob condições altamente reduzidas (Camargo et al.,
1999). Já em solos saturados predomina um ambiente de
oxirredução, no qual ocorrem fenômenos de reoxidação
do Fe (II) e precipitação. Na primeira fase, formam-se
óxidos e hidróxidos de Fe amorfos (Moraes 1982), com
alta reatividade, que retém grande quantidade de Zn,
diminuindo, assim, a sua disponibilidade. Parte do Zn é
co-precipitado com o Fe e permanece ocluso. Os ciclos de
redução e oxidação do solo podem, assim, causar
deficiência de Zn.
Naturalmente os solos de campos naturais da região
sul do Amazonas apresentam deficiência de Zn, mesmo
após sucessivos cultivos com o emprego da adubação
química com a presença de micronutrientes. Conforme
estudo realizado por Radmann, (2011), 93% dos solos de
campos cultivados apresentaram níveis baixos de Zn.
Sendo assim, o objetivo do trabalho foi de avaliar o
efeito da calagem e do manejo da água na oxirredução do
solo, do pH e a disponibilidade de Zinco para arroz
irrigado em um solo dos campos naturais não cultivados
da região Sul do Estado do Amazonas.
MATERIAL E MÉTODOS- O ensaio foi conduzido em
casa de vegetação do Departamento de Solos da
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM), da
Universidade Federal de Pelotas (UFPel). As unidades
X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
experimentais foram compostas por amostras de 6,5 kg de
solo seco coletado na camada superficial (0-20 cm) de um
campo natural não cultivado no município de Humaitá,
região sul do AM. A análise química do solo apresentou
os seguintes resultados: pH (H2O) = 4,55; pH (KCl) =
3,78; CTC (pH7) = 8,01; Ca = 0.30 cmolc dm-3; Mg = 0,11
cmolc dm-3; Al = 2,34 cmolc dm-3; Na = 0,01 cmolc dm-3;
K = 0,06 cmolc dm-3; H+Al = 7,53 cmolc dm-3; m = 83%;
V = 5,99% P = 0,59 mg dm-3; Zn = mg dm-3. Uma mistura
de óxido de cálcio e de magnésio p.a. foi aplicada na
dosagem necessária para aumentar a saturação de bases
do solo para 50%. O fósforo foi aplicado antes da
semeadura em dose única de 40 mg kg-1 na forma de
superfosfato simples. Nesta ocasião foi aplicado uma dose
de potássio de 38 mg kg-1 na forma de cloreto de potássio.
Para a correção de zinco e cobre foi aplicado 3,412 mg
kg-1 de Zn na forma de sulfato de zinco (Zn 22,75%) e
2,545 mg kg-1 de Cu na forma de Sulfato de cobre (Cu
25,45%), respectivamente. A dose de nitrogênio de 100
mg kg-1 na forma de ureia e potássio na dose de 76 mg kg1
na forma de cloreto de potássio, ambos aplicados em
cobertura dividido em quatro e duas vezes
respectivamente. Doze sementes de arroz da cultivar BRS
Pelota foram semeadas por vaso, e depois do desbaste
manteve-se 8 plantas por vaso.
O estudo compreendeu a avaliação dos efeitos dos
fatores Calagem, com os níveis com e sem uso de
calcário; e Manejo, com os níveis de irrigação por
inundação (alagado) e saturação (encharcado), mais um
tratamento adicional sem calagem combinado com
irrigação por inundação (alagado) sem adubação química.
Os tratamentos (T1: Calagem + lâmina de água continua;
T2: Calagem + solo saturado; T3: Sem calagem + lâmina
de água contínua; T4: Sem calagem + solo saturado; T5
Testemunha - Irrigação formando lâmina de água
contínua sem aplicação de calcário e sem aplicação de
adubação química completa) consistiram da combinação
dos níveis dos fatores experimentais + tratamento
adicional, num esquema fatorial 2x2+1, com quatro
repetições. Os vasos foram dispostos em um
delineamento inteiramente casualizado, totalizando 20
unidades experimentais.
As coletas de solução do solo foram realizadas uma
vez por semana, após aplicação do alagamento nas
unidades experimentais. As análises de pH e Eh da
solução do solo foram realizadas utilizando o método de
Sousa et al. (2002). A partir da solução de solo coletada
foi determinado o Zn em laboratório da FAEM seguindo a
metodologia descrita em Embrapa (1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO- O pH da solução do
solo de todos os tratamentos aumentou com o alagamento
(Figura 1). Este comportamento do pH é característico do
solo alagado, pois as reações de redução ocorrem com
consumo de íons H+ (Ponnamperuma, 1972).
A calagem do solo (T1 e T2) proporcionou os maiores
valores de pH da solução, e estabilizou o pH em 6,4,
Núcleo Regional Sul
enquanto que nos tratamentos não calcareados (T3, T4 e
T5), os valores de pH estabilizaram-se em 5,8 do final do
período de alagamento. Em relação ao manejo de água,
não houve diferença nos valores de pH entre os
tratamentos alagado e saturado.
Figura 1 – Valores médios de pH da solução do solo dos
tratamentos (T1: Calagem + lâmina de água continua; T2:
Calagem + solo saturado; T3: Sem calagem + lâmina de
água contínua; T4: Sem calagem + solo saturado; T5
Testemunha) ao longo de 7 semanas.
Os valores de potencial redox (Eh) diminuíram ao
longo do período de alagamento, em todos os tratamentos,
indicando um maior estado de redução decorrente do
alagamento e da saturação do solo. Nos tratamentos com
calagem foram observados os menores valores de Eh em
todo o período de alagamento (Figura 2).
Figura 2 – Valores médios de Eh da solução do solo dos
tratamentos (T1: Calagem + lâmina de água continua; T2:
Calagem + solo saturado; T3: Sem calagem + lâmina de
água contínua; T4: Sem calagem + solo saturado; T5
Testemunha) ao longo de 7 semanas.
Os valores médios de Zn na solução do solo do nível
sem calagem combinado com os níveis de manejo (T3 e
T4) foram superiores aos demais tratamentos (T1, T2 e
T5) até a 4ª coleta, porém decrescendo nesse intervalo a
medida que o solo é reduzido aumentando o pH. A partir
da 5ª coleta os valores médios foram semelhantes em
todos os tratamentos até o final. A concentração de Zn
decresceu após o alagamento, provavelmente como
resultado do aumento do pH, precipitação do ZnCO 3 em
2
X Reunião Sul-Brasileira
de Ciência do Solo
Fatos e Mitos em Ciência do Solo
Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014
virtude da acumulação do CO2, resultado da
decomposição da matéria orgânica. (Camargo et al.,
1999).
No nível com calagem combinado com os níveis de
manejo (T1 e T2), os valores médios dos teores de Zn
foram baixos e semelhantes entre si ao longo do cultivo,
principalmente pelo aumento do pH proporcionado pela
calagem.
O baixo teor de Zn no solo e o não fornecimento do
nutriente via adubação no tratamento adicional, este
apresentou teor baixo e estável ao longo de todo o cultivo.
Núcleo Regional Sul
QUAGGIO, J.A. Acidez e calagem em solo tropicais.
Campinas: Instituto Agronômico de Campinas, 2000, 111p.
RADMANN, V. Atributos químicos de solos cultivados com
arroz na região sul do estado do Amazonas. - Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia.
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel. Universidade Federal
de Pelotas. Pelotas, 2011.
SOUSA, R. O.; BOHNEN, H.; MEURER, E. J. Composição da
solução de um solo inundado conforme a profundidade e o
tempo de inundação, utilizando novo método de coleta. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 26, n. 2, p. 343-348.
2002.
SOUSA, R. O.; VALH, L.C. & OTERO, X. L. Química de solos
inundados. In: MELO, V. F.; ALLEONI, L. R.F. (Ed.). Química
e mineralogia do solo- Parte II Aplicações. Viçosa: SBCS,
2009. Cap. 20, p. 485-528.
Figura 3 – Valores médios de Zn da solução do solo dos
tratamentos (T1: Calagem + lâmina de água continua; T2:
Calagem + solo saturado; T3: Sem calagem + lâmina de
água contínua; T4: Sem calagem + solo saturado; T5
Testemunha) ao longo de 7 semanas.
CONCLUSÕES– A calagem em solo alagado e saturado
proporciona maior pH da solução quando comparado ao
normalmente observado.
O aumento do pH decorrente do alagamento, da
saturação e da calagem reduz o teor de Zn na solução do
solo.
AGRADECIMENTOS- A FAPEAM pela concessão de
bolsa de estudo (Programa RH-Doutorado-FAPEAM).
REFERÊNCIASCAMARGO, F. A. de O.; SANTOS, G. de A.; ZONTA, E.
Alterações eletroquímicas em solos inundados. Ciência
Rural,Santa Maria, v. 29, n. 1,p. 171-180. 1999.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisas de Solo. Manual de
Métodos de Análise de solo. 2a ed. Rio de Janeiro, 1997.
EMBRAPA. Sistemas de produção. Cultivo do arroz irrigado
no Brasil: Coeficientes técnicos do arroz irrigado no RS.
Pelotas: Embrapa Clima temperado, 2005. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Arr
oz/ArrozIrrigadoBrasil>. Acesso em: 20 ago. 2014.
MORAES, J.F.V. Effect of phosphate on zinc adsorption on
aluminum and iron hydrous oxides and in soils. Riverside:
University of California, 1982. 168p. Tese de Doutorado.
PONNAMPERUMA, F. N.; The chemistry of submerged soils.
Advances in Agronomy, v. 24, p. 29-96, 1972.
3
Download

arquivo do resumo extendido - Sociedade Brasileira de Ciência do