Abertura Boas Vindas Tema do Congresso Comissões Sessões Programação Áreas II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores Títulos Trabalho Completo AÇÃO EDUCADORA: EXPERIÊNCIAS COM A AFROBRASILIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Maria De Jesus Martins De Andrade Cunha, Thiago Coelho Silveira Eixo 2 - Projetos e práticas de formação continuada - Relato de Experiência - Apresentação Oral No decorrer do processo histórico da humanidade é notório as mais perversas práticas desumanas perpetradas cotidianamente contra os povos africanos e seus descendentes. Nesse sentido faz-se necessário e urgente resgatar e valorizar as diversas formas de manifestações da História e cultura afro-brasileira, africana e indígena. Para tanto a sociedade brasileira carece conscientizar-se da contribuição e importância do negro e do índio para a formação da nação brasileira, logo acredita-se que precisamos sair da inércia e desenvolver cada vez mais ideias que vicejam o autoconhecimento. Em consonância com o desenvolvimento e execução de política de promoção da igualdade racial na educação de Caxias idealizamos o projeto ora apresentado visando a dinamização da prática pedagógica do professor no tocante a diversidade étnico racial. Sabemos que o espaço escolar deve ser visto como um local de transformações sociais, onde o aluno deixa de ser apenas receptor de conhecimentos e passa a ser o agente da sua própria aprendizagem, levando em consideração que a maioria dos nossos alunos são afrodescendentes é necessário fazer um resgate da sua cultura para poder conhecê-la, admirá-la e preservá-la. A finalidade da educação tem sido sempre a expectativa de gerar um ensino mais eficaz, no sentido de torná-lo mais produtivo no cotidiano do educando. Baseando-se nisto, e ainda levando em consideração de que o ensino não pode se dá de forma dissociada, fragmentada e fora da realidade social, todavia apresentamos o relato de experiência intitulado “Ação Educadora: Experiências com a Afrobrasilidade na Formação de Professores” onde acreditamos que seja possível desenvolver ações de forma interdisciplinar junto aos docentes, discentes e comunidade. 3226 Ficha Catalográfica AÇÃO EDUCADORA: EXPERIÊNCIAS COM A AFROBRASILIDADE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Maria de Jesus Martins de Andrade Cunha i; Thiago Coelho Silveira ii. Secretaria Municipal de Educação de Caxias. INTRODUÇÃO A educação de qualidade deve levar em conta a diversidade de culturas e as memórias coletivas dos vários grupos étnicos que integram nossa sociedade. Nesse sentido Fernando Henrique Cardoso ressalta que “não há preconceito racial que resista à luz do conhecimento e do estudo objetivo”, logo está nítido que o conhecimento fortalece nos corações e mentes o ideal de uma sociedade mais justa e igualitária. A cada ano novas demandas se fazem presentes no contexto educacional brasileiro, pois estamos diante de uma sociedade em constante transformação e que urge por mudanças em sua tessitura social. Nesse sentido, o governo brasileiro implementou por meio das leis 10.639/03 e 11.645/08 o ensino de história e cultura afrobrasileira e indígena na Educação Básica. De acordo com as leis citadas, a implementação dos conteúdos curriculares que são inerentes à temática deveria acontecer de forma prioritária, mas não exclusiva, nas disciplinas de educação artística, literatura e história. Percebe-se que o texto legislativo indica que tais conteúdos deveriam está presentes em todas as disciplinas do currículo, mas o que se percebe é uma rejeição das demais disciplinas por estas temáticas como se elas configurassem um excesso curricular. Diante desta problemática, a coordenação pedagógica de História, do Núcleo de Ensino Fundamental II, da Secretaria Municipal de Educação (SEMEDUC) de Caxias-MA, decidiu iniciar a implementação curricular como prevê a legislação educacional em vigor trazendo a discussão para o corpo docente da área no município e indicando ações a serem tomadas. Assim, 3227 criou-se o projeto “Escola em Ação: vivendo a diversidade” como forma de organizar e direcionar o trabalho pedagógico a ser instaurado. Dessa forma, o presente texto visa relatar experiências desenvolvidas junto ao um grupo de professores de História no âmbito da formação continuada de professores do município de Caxias-Maranhão. Tais ações foram concretizadas no âmbito do projeto citado, com o apoio da Prefeitura Municipal de Caxias por meio da SEMEDUC, localizada na Praça do Panteon S/N Centro- Caxias/MA. Ao todo 75 colaboradores mobilizaram a comunidade escolar e caxiense na execução da programação planejada e socializada nos anos de 2007 a 2013 no mês de novembro, quando tradicionalmente se organiza a semana da consciência negra.. METODOLOGIA A metodologia consiste em desenvolver atividades diversificadas em sala de aula, onde as mesmas resultarão de esforços coletivos de professores, alunos e comunidade. Como metodologia, utilizou-se da pesquisa bibliográfica e de campo para conhecer e diagnosticar as incoerências entre o que reza a lei 10.639/03 e a lei 11.645/08 na obrigatoriedade à Educação das Relações Étnicas Raciais (ERER) e a História e Cultura Afrobrasileira e Indígena com a realidade dos conteúdos e ações implementadas nas escolas e comunidade do Município de Caxias. Tal necessidade se manifesta diante do diagnóstico da situação trabalhada, impondo-nos a formação continuada dos professores da rede municipal para o ensino da história e cultura afrobrasileira e indígena. Entendemos que a pesquisa bibliográfica se faz necessária, pois permite que se visualize que outras publicações já foram feitas acerca do tema. Dessa forma, é preciso [...] consultar material adequado à definição do sistema conceitual da pesquisa e à sua fundamentação teórica. Também se torna necessária a consulta ao material já publicado tendo em vista identificar o estágio em que se encontram os conhecimentos acerca do tema que está sendo investigado (GIL, 2008, p. 60). 3228 Assim, aliou-se a pesquisa documental e bibliográfica à pesquisa de campo para o planejamento e execução do projeto em questão. RESULTADOS, DISCUSSÕES E CONCLUSÕES As atividades realizadas são de natureza da comunicação, cultura, direitos humanos, educação, meio ambiente, saúde, trabalho, tendo como público alvo beneficiados diretamente com as ações os alunos, pais, gestores e professores das escolas públicas municipais de Caxias-MA totalizando aproximadamente 25 mil O projeto surgiu para implementar e trabalhar a lei 10.639/03 e a lei 11.645/08 que visa à obrigatoriedade dos conteúdos sobre a Educação das Relações Étnicas Raciais (ERER) e a História e Cultura Afrobrasileira e Indígena. Em consonância com o desenvolvimento e execução de políticas de promoção da igualdade racial, bem como de gênero, religiosidade, dentre outros aspectos interessantes a serem abordados na educação de Caxias. Nesse sentido a Secretaria Municipal de Educação por meio da Coordenação Pedagógica e professores da área de História do município de Caxias idealizaram o projeto “Escola em Ação: Vivendo a diversidade”, que objetiva elaborar e desenvolver ações que viabilize a: dinamização da prática pedagógica do professor e do aluno no tocante a diversidade étnico racial. Isso se faz necessário na medida em que se reconhece que: A formação de professores é território contestado em diferentes sentidos. Por um lado, essa formação envolve uma profissão objeto de grandes questionamentos e desvalorização, mais grave em nosso país em decorrência dos baixos salários e das precárias condições de trabalho. Além disso, as crises e dificuldades do sistema educacional são atribuídas por muitos aos professores por sua formação deficiente, que não os capacita para o enfrentamento bem-sucedido dos desafios do cotidiano escolar (MONTEIRO, 2013, p. 1920). Tais questões também são levantadas pelos professores de História em Caxias, levando-os à reivindicar que a formação continuada seja ofertada de forma regular no município. Sabemos que esta é uma prática já presente na cidade, no entanto, reconhece-se que diante de uma nova demanda devem 3229 ser tomadas novas ações. Assim, além das instituições já citadas, buscamos parcerias para a viabilização do trabalho entidades tais como as Escolas Municipais, a Secretaria Municipal de Assistência Social, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal da Mulher, terreiros de umbanda, grupos de danças tradicionais (Lili, capoeira, reisado, tambor de criola) e as comunidades quilombolas. Cada um dos parceiros demonstraram sua importância atuando no sentido de fortalecer o conjunto de ações referentes ao respeito, valorização, e concretude nas atitudes de justiça, lealdade e garantia de direitos sociais, políticos e educacionais frente a uma sociedade diversificada pelas etnias, valores, crenças, raças, costumes e diferentes culturas. Logo, buscamos contribuir para minimizar as desigualdades sociais, o preconceito, racismo, para que possamos viver em uma sociedade mais justa e igualitária. No âmbito do projeto foram definidos como objetivos primários: construir um grupo de estudo com a participação de profissionais engajados nessa discussão, para ampliar a temática nas escolas e na comunidade; construir no interior de nossas escolas públicas municipais um trabalho interdisciplinar, cujo foco seja a temática diversidade racial. De forma secundária, mas não menos importante, ainda foram definidos como objetivos: realizar anualmente a culminância do projeto “Escola em Ação: vivendo a diversidade”, com um grandioso evento no dia 20 de novembro para socializar os trabalhos produzidos por alunos e professores durante o ano; compreender a contribuição dos diversos grupos étnicos raciais para a formação da nação e da cultura brasileira; garantir que na formação continuada dos professores da rede municipal seja contemplada a obrigatoriedade da lei 10.639/03 e da lei 11.645/08. O projeto tem sido desenvolvido anualmente com culminância sempre no mês de novembro, como já citado, pois nesse período se consagra o dia 20 para comemorar a consciência negra. Dessa forma, desde o início do período letivo até novembro desenvolve-se ações como: pesquisas, estudos e discussões coletivas sobre o tema: Educação e Diversidade; realização de encontros com os parceiros para divulgação dos objetivos do projeto e discussão para aprofundamento dos conteúdos a serem trabalhados; utilização de figuras históricas da Cidade de Caxias, a exemplo: mulheres 3230 negras, trabalhadoras; elaboração de recursos didáticos com enfoque em brinquedos e jogos africanos; leitura e dramatização de mitos e lendas africanas; utilização de paradidáticos para análise e discussão em sala; visitas a áreas quilombolas; seleção de imagens de livros didáticos para construção de painel para exposição e apresentação de fatos de discriminação social; análise de músicas de compositores brasileiros e africanos que tratem da temática diversidade étnica racial; análise de filmes que abordem a temática diversidade étnica racial; exibição de documentários (TV Escola e outras fontes), em seguida os educadores produzirão textos que serão apresentados em roda de conversa na sala de aula e recitação de poesias referentes à etnia afrobrasileira. Para que fosse possível atingir um público cada vez maior, não se restringindo apenas à comunidade escolar, buscamos a publicização do projeto por meio de: entrevistas e informes em TV local; utilização de depoimentos de afro-descendentes da 3ª idade moradores na cidade de Caxias; visitas e reuniões com as escolas envolvidas; encontros mensais com os professores; convites e apresentação dos grupos de danças tradicionais do município e distribuição de informativos. Observamos que a cada ano ocorreu o aumento gradativo no número de alunos, professores, gestores e comunidades em geral no desenvolvimento e culminância do projeto, caracterizando como principal indicador, haja visto que no primeiro ano de execução houve a participação de mais ou menos 500 pessoas, já em 2012 estima-se que mais de 7 mil pessoas participaram na culminância o projeto. Fazendo uma análise crítica do alcance dos objetivos, percebemos como fatores positivos o desenvolvimento de projetos e ações nas escolas da zona urbana e rural que o foco principal é cultura afrobrasileira; o envolvimento das escolas da educação infantil; a participação crescente no desfile beleza negra; a produção de materiais didáticos, tais como vídeos, confecção de portfólio etc. e a confecção de vestimentas típicas, dentre outras ações com ênfase no tema da africanidade. Por outro lado, ainda não foi possível desenvolver realmente um trabalho interdisciplinar, pois não atingimos de forma satisfatória os professores de outras disciplinas. Nesse sentido, ainda acrescentamos que: 3231 Quase dez anos após a promulgação da Lei 10.639, que regulamentou a obrigatoriedade do ensino de história da África e cultura afro-brasileira nas escolas de nível fundamental e médio, o tema ainda é polêmico e a lei não é plenamente aplicada. Como o assunto é dos mais delicados, envolvendo questões centrais na construção da nacionalidade e identidade brasileiras no que diz respeito às formas como as heranças africanas e escravistas deixaram suas marcas, essas dificuldades são compreensíveis (MELLO E SOUZA, 2012, p. 17). Assim, ao passo que compreendemos a dificuldade em implementar a legislação reconhecemos também a necessidade de não cruzar os braços diante dos possíveis obstáculos, sendo o projeto “Escola em Ação: vivendo a diversidade” um exemplo de como um corpo docente ativo pode trabalhar para mudar a realidade educacional de onde estão inseridos. Podemos perceber uma contribuição significativa obtida nesta experiência para a formação educacional e social de alunos, educadores, gestores e comunidades envolvidas, quando constatamos o fato de vários estabelecimentos de ensino passarem a elaborar e desenvolver projetos didáticos de acordo com a realidade educacional de cada escola. Ou seja, do projeto pensado pela coordenação de História surgiram outros abordando a temática da história e cultura afrobrasileira e indígena. Os resultados do projeto foram enviados ao Ministério da Educação (MEC) para divulgação dos trabalhos realizados no âmbito do sistema educacional da Prefeitura Municipal de Caxias-MA. De modo que continuamos a executar o projeto, pois ele já faz parte das ações permanentes desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Educação. O projeto inicial envolvia apenas as escolas do 6º ao 9º ano e, para o ano letivo de 2014, passaremos a envolver os centros de Educação Infantil e as escolas do 1º ao 5º ano. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 10.639 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e 3232 Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Presidência da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 9 jan. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 23 jan. 2014. ______. Lei 11.645 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Presidência da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 10 mar. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 23 jan. 2014. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MELLO E SOUZA, Marina. Algumas impressões e sugestões sobre o ensino de história da África. Revista História Hoje, v. 1, n. 1, p. 17-28, jun. 2012. MONTEIRO, Ana Maria. Formação de professores: entre demandas e projetos. Revista História Hoje, v. 2, n. 3, p. 19-42, jun. 2013. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução. Brasília: MEC/ SEF, 1998. i Mestranda em Sociologia (UFPI). Especialista em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça (UFMA). Graduada em História (UEMA). Coordenadora pedagógica de História na Secretária Municipal de Educação de Caxias ii Mestre em História do Brasil (UFPI). Graduado em História (UESPI). Coordenador pedagógico de História na Secretária Municipal de Educação de Caxias. 3233