Volume 16 REV. MED. RES. |n°3-4| Jul - Dez - 2014 ISSN 2237-7131 REVISTA DO MÉDICO RESIDENTE COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA DO PARANÁ (CERMEPAR) 2014 - 2016 Presidente Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi (Hospital Erasto Gaertner - Curitiba) Vice Presidente Samir Ale Bark (HNS do Rocio) 1º Secretária Denise Akemi Mashima (Hospital Regional Universitário do Norte do Paraná - Londrina) Tesouraria Marcos Christiano Lange (UFPR) Diretoria cientifica cultural Dra. Carla Sakuma de Oliveira Bredt Conselho Fiscal Adriano Keijiro Maeda Luiz Salim Emed João Carlos Simões Endereço: Rua Victório Viezzer 84 - Vista Alegre 80810-340 Curitiba - PR Telefone: (41) 3240-4049 Fax: (41) 3240-4001 e-mail: [email protected] Capa Afresco mitológico de Pompéia, Século II A.C. Exposto no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles mostra Apolo à esquerda, o centauro Quíron que foi o preceptor de Esculápio, à direita, sentado. ASSOCIAÇÃO DE MÉDICOS RESIDENTES DO PARANÁ (AMEREPAR) Presidente: Ariane Sayuri Tamura [email protected] Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Revista do Médico Residente [recurso eletrônico] / R454 LICCAN - Liga Acadêmica Curitibana de Cancerologia – v.16, n.3/4 ( jul./dez. 2014). Curitiba: LICCAN, 1999- p.155-218 : il.; 29cm Trimestral Acesso: http://www.revistadomedicoresidente.com ISSN 2237-7131 1.Medicina. 2. Internato e Residência. I.Título. CDD 610 CDU 61 Sumário Contents Editorial - Editorial 159 A Medicina e a compaixão Medicine and Compassion João Carlos Simões 160 O futuro da saúde em risco The future health at risk Roberto D’Avila, Carlos Vital, Mauro Britto Artigo Original - Original Article 161 Qualidade de Vida em Oncologia: Análise dos Resultados entre pacientes tratados com quimioterapia em estágio clínico avançado. Quality of live in Oncology: Analysis of Mean Results among patients treated with chemotherapy in advanced clinic stage Eurico Cleto Ribeiro de Campos, TCBC-PR1 Suelen Pereira Cordeiro, Jane da Costa Testoni, Paulo Fabrício Nogueira Paim, Fábio Roberto Fin, Christiane Costa Calciolari 168 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV Atendidas no Hospital Erasto Gaertner The Profile HLA-C and Reproductive History of Women Infected with HPV attended in Hospital Erastus Gaertner. Tatiane Élen de Souza, Marina Barbara de Sousa Xavier, Rejane Carolina Franco, Maria da Graça Bicalho 179 Diferença Dosimétrica recebida por órgão de risco na braquiterapia ginecológica: a influência proporcionada pelo tamponamento vaginal na dose sobre o reto Dosimetric difference received by organ at risk in gynecologic brachytherapy: the influence afforded by vaginal tamponade in dose on the rectum Rejane Carolina de Oliveira Franco, Patricia Mineiro de Oliveira, Isabelle Peron, Marcio Umeda Takashima, Cintia Maçãs Soares, Melissa Funchal 183 Autoestima, qualidade de vida, religiosidade/espiritualidade e depressão, em pacientes submetidas à mastectomia ou quadrantectomia com linfadenectomia axilar Self concept, quality of life, religiosity/spirituality and depression, in patients undergone mastectomy or quadrantectomy with axillary lymphadenectomy Maria Carolina Mendes de Oliveira, Lorraine Lorene Félix Cardoso, Flaviano Andrade e Lopes, Neil Ferreira Novo, Yara Juliano, Taylor Brandão Schnaider Artigo de Revisão - Review Article 190 A formação humanista na medicina Humanistic training in medicine Jaqueline Midori Okada, Jorge Luis Pinho Woll, Júlia Tavares Lopes, João Carlos Simões 193 Solilóquio na informática Soliloquy in computing João Carlos Simões, Lucas Abreu Relato de Caso - Case Report 200 Osteossarcoma primário de mama: relato de caso Primary breast osteosarcoma: case report Fabio Roberto Fin, Marciano Anghinoni, Eurico Cleto Ribeiro de Campos, Emannuely Juliani dos Santos Souza 204 Cancer de penis: relato de caso Penis cancer: case report Eduardo Chin , Cristiano Machado, Valdir Martins Lampa Jr, Emanuel Grasselli, Marco Aurelio Sebben, Mariana Pirajá Genta 210 Reconstrução mamária em paciente portador da síndrome de Poland Breast reconstruction in pacient with Poland syndrome Dayson Luiz Nicolau dos Santos, Alexandre Tieppo Zarpellon, Ivana de Oliveira Gus, Marco Aurélio Sebben, Mariana Pirajá Genta 213 Fasceíte necrotizante em parede torácica após drenagem de cisto sebáceo infectado: relato de caso Necrotizing fasciitis in the chest wall after drainage of sebaceous cyst infected: case report Fábio Maurizio Nery, Ana Paula Nudelmann Gubert, Álvaro Fonseca Kaminski, Maurício Ricardo Baggio, Carolina Marquetto, Douglas Ribas Schumann, Geraldo Alberto Sebben Expressões médicas - Medical expression 217 Expressões médicas: falhas e acertos Medical expression: failures and hits Simônides Bacelar Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez| 155 A Revista do Médico Residente (ISSN 22377131) é uma publicação trimestral da Liga Curitibana de Cancerologia com apoio da Comissão Estadual de Residência Médica do Paraná (CERMEPAR) e Associação de Médicos Residentes do Paraná (AMEREPAR) Cartas e artigos devem ser enviados para: Revista do Médico Residente E-mail: [email protected] [email protected] Site: http://www.revistadomedicoresidente.com Endereço: R. Saldanha Marinho, 2103 - Curitiba - PR, 80730-180 A Revista do Médico Residente é enviada por meio eletrônico a todos os médicos cadastrados no CRM-PR, Comissões de Residências Médicas, Entidades Médicas do Brasil, Bibliotecas, Centros de Estudos e publicações diversas. Autorizada a republicação de artigos com a citação da fonte. NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA Maria Isabel Schiavon Kinasz (CRB9-626) CONSULTORES INTERNACIONAIS Jatin P. Shah (Memorial Hospital) – NY (EUA) João Luis Raposo D’Almeida – Lisboa (Portugal) Júlio César Fernandes – Montreal (Canadá) Milena Braga – Baltimore (EUA) Ricardo Lopez (FAESS) – (Argentina) Roger H. Kallal (North Western Memorial) – Chicago (EUA) Luiz Alencar Borba (Universidade de Arkansas) – (EUA) DIAGRAMAÇÃO Lucas Abreu FUNDADOR E EDITOR CIENTÍFICO João Carlos Simões (FEPAR) - Curitiba (PR) EDITORES ASSOCIADOS Alcino Lázaro da Silva (UFMG) - Belo Horizonte (MG) Carlos Vital Tavares Correa Lima (CFM) - Recife (PE) Vinicius G. Gava (FURG) - Porto Alegre (RS) Fernando Carbonieri (Academia Médica) - Curitiba (PR) CONSELHO EDITORIAL Ademar Lopes (Hosp. AC Camargo) - São Paulo (SP) Allan Cezar Faria Araújo (UNIOESTE) - Cascavel (PR) André Lopes Carvalho (USP) - Barretos (SP) Andy Petroainu (UFMG) - Belo Horizonte (MG) Antonio Carlos Lopes (UNIFESP) - São Paulo (SP) Antonio Nocchi Kalil (Santa Casa) - Porto Alegre (RS) Armando d’Acampora (UFSC) - Florianópolis (SC) Carlos Edmundo Rodrigues Fontes (UEM) - Maringá (PR) Carlos Teixeira Brandt (UFPE) - Recife (PE) Ivan Tramujas da Costa e Silva (UFAM) - Manaus (AM) Ivo Pitanguy (UFRJ) - Rio de Janeiro (RJ) José Eduardo de Siqueira (UEL) - Londrina (PR) Luiz Alberto Sobral Vieira Jr (HUCAMoraes – UFES) - Vitória (ES) Fábio Biscegli Jatene (USP) - São Paulo (SP) Marcos Desidério Ricci (USP) - São Paulo (SP) Marcus Vinicius Henriques Brito (UEPA) - Belém (PA) Maria do Patrocínio Tenório Nunes(USP) - São Paulo (SP) Miguel Ibraim A. Hanna Sobrinho (UFPR) - Curitiba (PR) Nicolau Kruel (UFSC) - Florianópolis (SC) Orlando Martins Torres (UFMA) - São Luis (MA) Reginaldo Ceneviva (USP) - Ribeirão Preto (SP) Ricardo Amaral Filho (UFAM) - Manaus (AM) Roberto Gomes (Sociedade Bras. Cancerologia) - Vitória (ES) Saul Goldemberg (UNIFESP) - São Paulo (SP) William Saad Hossne (UNESP) - Botucatu (SP) CONSELHO DE REVISORES André Lopes de Carvalho - Barretos (SP) Antonio Sérgio Brenner (UFPR) - Curitiba (PR) César Alfredo Pusch Kubiak (UNICENP) - Curitiba (PR) Flávio Daniel Tomasich (UFPR) - Curitiba (PR) Gilmar Amorim de Sousa (HC da UFRN) - Natal (RN) Gustavo Cardoso Guimarães (Hosp. AC Camargo) - São Paulo (SP) Hamilton Petry de Souza (PUC) - Porto Alegre (RS) Hélio Moreira Júnior (UFG) - Goiânia (GO) Humberto Oliveira Serra (HUUFMA) - São Luis (MA) Ione Maria Ribeiro Soares Lopes (UFPI) - Teresina (PI) José Eduardo Aguilar do Nascimento (UFMT) - Cuiabá (MT) José Ivan Albuquerque Aguiar (HU M.A. Pedrossian UFMS) - C. Grande (MS) Juarez Antonio de Souza (Hospital Materno-Infantil) - Goiânia (GO) Luiz Alberto Batista Peres (UNIOESTE) - Cascavel (PR) Luiz Carlos Von Bahten (PUCPR) - Curitiba (PR) Luiz Paulo Kowalski (Hosp. AC Camargo) - São Paulo (SP) Manoel R. M. Trindade (UFRGS) - Porto Alegre (RS) Marcelo Thiele (UNICAMP) - Campinas (SP) Mário Jorge Jucá (Hospital Universitário UFAL) - Maceió (AL) Milton de Arruda Martins (USP) - São Paulo (SP) Nilton Ghiotti de Siqueira (UFAC) - Rio Branco (AC) Orlando Costa e Silva Jr (FMRP) - Ribeirão Preto (SP) Paulo Kotze (PUC) - Curitiba (PR) Paulo Roberto Dutra Leão (HUJM) - Cuiabá (MT) Ricardo Antônio Rosado Maia (UFPB) - João Pessoa (PB) Ricardo Ribeiro Gama (FEPAR) - Curitiba (PR) Robson Freitas de Moura (Escola Baiana de Medicina) Salvador (BA) Rogério Saad Hossne (UNESP) - Botucatu (SP) Simone Maria de Oliveira (UFSER) - Aracaju (SE) Simônides Bacelar (UNB) - Brasília (DF) Taylor Brandão Schnaider (UNIVAS) - Pouso Alegre (MG) Thelma Larocca Skare (FEPAR) - Curitiba (PR) 156 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 INSTRUÇÕES AOS AUTORES AUTHORS INSTRUCTIONS Aprovado para indexação na base de dados do LILACS ISSN 2237-7131 MISSÃO A Revista do Médico Residente (ISSN 2237-7131), editada desde 1999, é órgão oficial da Liga Acadêmica Curitibana de Cancerologia e, com o apoio da Comissão Estadual de Residência Médica do Paraná, é editada trimestralmente com um único volume anual e tem por missão a publicação de artigos científicos da área biomédica e de artigos especiais que contribuam para o ensino e desenvolvimento da Residência Médica do Brasil. A Revista do Médico Residente aceita artigos escritos em português, espanhol e inglês nas seguintes categorias: artigos originais, artigos de revisão ou atualização, relatos de casos, ensaios, artigos de opinião, conferências, artigos de história e cartas ao editor.. A revista passou em 2011 para o formato exclusivo digital/eletrônico. Os sistemas digitais utilizados são: um em formato PDF, por meio do qual é possível folhear cada revista na tela do computador, imprimir e salvar os arquivos; e o segundo tem como base o software SEER (Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas), que dá o caráter científico às publicações eletrônicas. Os formatos e as edições anteriores podem ser acessadas em: http://www.revistadomedicoresidente.com MANUSCRITOS Os artigos enviados para publicação devem ser inéditos e enviados somente por meio eletrônico (para: [email protected] quando o autor principal receberá resposta por e-mail da confirmação do recebimento. Os manuscritos devem estar acompanhados de uma carta de autorização, assinada pelo autor principal, seguindo o modelo abaixo e enviado eletronicamente. Uma vez aceito para publicação, torna- se o artigo propriedade permanente da Revista do Médico Residente, com reserva dos direitos autorais. MODELO DE EMAIL DE AUTORIZAÇÃO O autor abaixo assinado, em nome dos coautores nominados (se houver ) transferem para a Revista do Médico Residente todos os diretos de publicação, em qualquer meio, do artigo (título), assumem que é inédito, não foi encaminhado para outro periódico e que o estudo foi conduzido com aprovação prévia do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP – da instituição onde foi realizado ou com o consentimento livre e informado nos estudo com pacientes. Incluir nome completo, endereço postal, telefone, fax, e-mail. Os artigos devem ser digitados em espaço simples em fonte Arial ou Times New Roman tamanho da fonte 12, devidamente numeradas, iniciando com a do título. Devem ser escritos de forma clara e concisa, usando-se a terceira pessoa do singular ou plural, constando as partes adequadas do preparo de cada artigo referidas abaixo. Incluir também: 1. Declaração de responsabilidade do autor pelo conteúdo do manuscrito e se há conflito de interesse (de acordo com resolução do CFM nº 1595/2000). 2. Indicar fontes de financiamento do trabalho, se houver, e o n.º do processo. 3. Ofício da aprovação do trabalho pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição. REFERÊNCIAS A Revista do Médico Residente segue o “Uniform Requirementes for Manuscripts Submitted do Biomedical Periodical Journals”, elaborado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www. icmje.org), conhecido como “Convenção de Vancouver”. RMR REVISÃO ENTRE OS PARES (PEER REVIEW) A Revista do Médico Residente tem os artigos avaliados pelos pares (peer-review). Os artigos anônimos são encaminhados via e-mail para dois membros também anônimos do Conselho dos Revisores ou do Conselho Editorial escolhidos pelo editor que, por meio de preenchimento de um roteiro de análise anexo, que envolvem relevância da contribuição, título, redação, originalidade, validades dos métodos, dos resultados e procedem a aprovação ou não. A critério do Editor Científico, o artigo poderá ser submetido a revisores externos. Artigos rejeitados serão devolvidos aos autores anexados com as sugestões dos revisores. Somente serão enviados ao Conselho de Revisores os trabalhos que estiverem dentro das Normas de Publicação. A Revista do Médico Residente analisa para publicação os seguintes tipos de artigos: editoriais, artigos originais, artigos de revisão, relatos de casos, artigos de história, ensaios especiais, notas prévias e cartas ao editor. A Revista do Médico Residente apoia a posição do International Committe of Medical Journal Editors (ICMJE) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) para registro de ensaios clínicos. Portanto, a partir de 1.º de Janeiro de 2010, somente passaram a ser aceitos para publicação os ensaios controlados aleatoriamente (randomized controlled trials) e ensaios clínicos (clinical trials), pesquisas que tenham recebido número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE (www.icjme.org). O número de identificação deverá constar no final do artigo. TIPOS DE ARTIGOS Editorial: é o artigo inicial da revista. Geralmente escrito pelo editor principal ou solicitado por ele para algum editor ou nome de relevância na área da saúde. Artigo original: é o resultado completo de um trabalho clínico ou experimental, prospectivo ou retrospectivo, randomizado e, às vezes, duplo cego, constituído de resumo com até 300 palavras, descritores com no máximo cinco palavras-chave que estejam contidas nos Descritores de Ciências da Saúde – DeCS (http://decs. bvs.br) ou no MESH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html). Não devem ser usadas palavras-chave que não constem no DecS/ MESH, pois poderão ser recusadas. Incluem: introdução, métodos, resultados, discussão, conclusão, abstract, keywords e referências. As referências devem ser limitadas a cerca de trinta (30), citando todos os autores até seis. Com mais de seis autores, cita-se depois dos seis nomes a expressão et al. Artigos de revisão: o estilo é livre, devendo ser conciso, completo e atual, acompanhado de uma análise crítica do autor. É necessário resumo e abstract. As referências são limitadas a cinquenta (50). Relato de caso: descrição de casos clínicos peculiares, geralmente raros e de interesse. Necessita resumo e abstract não estruturado. Número de autores, até seis (6). Artigos de história: constituem relatos históricos sobre instituições, pessoas ilustres, técnicas e fatos da Medicina e da área da Saúde. Necessita resumo e abstract. Só é permitido um autor. Artigo especial: são ensaios, conferências, análises críticas. Discursos escritos ou discussão de temas especiais dirigidos principalmente para a residência médica. Necessita resumo e abstract. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 157 Nota prévia: representa uma contribuição original clínica ou técnica apresentada de maneira resumida, não excedendo quinhentas (500) palavras e no máximo cinco (5) referências. Carta ao editor: são comentários sobre temas ou artigos publicados na Revista do Médico Residente, podendo ou não conter referências. ORGANIZAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS Página de rosto: o título do artigo deve ser conciso e explicativo representando o conteúdo do artigo e redigido em português e em inglês. Nome completo do(s) autor(es) e seus títulos profissionais e nome da instituição onde o trabalho foi realizado,e de cada autor, cidade, estado e país. Incluir, ainda, o endereço completo do autor responsável e seu endereço eletrônico. Resumo: deve ser estruturado e não exceder 300 palavras. Deve conter ainda o objetivo, com justificativa e propósito do trabalho. Métodos: descrição do material, dos pacientes ou animais, descrição dos procedimentos. Resultado: descrição das observações com dados estatísticos e sua significância. Conclusão: resposta da pergunta ou objetivo inicial. Descritores (antes unitermos): utilizar até cinco (5), recomendados pelos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): http://decs.bvs.br PREPARAÇÃO DO TEXTO Título: deve ser preciso e explicativo representando o conteúdo do artigo. Introdução: deve salientar o motivo do trabalho e a hipótese formulada com citação pertinente. Porém, sem fazer revisão extensa da literatura. No final da introdução deve ser referido o(s) objetivo(s) do trabalho. Referir o nome da Instituição onde foi realizado o trabalho e os títulos acadêmicos de todos os autores (negrito), por ordem Ética: toda matéria relacionada à i nvestigação humana e à pesquisa animal deve ter aprovação prévia da Comissão de Ética da Instituição onde o trabalho foi realizado, cumprindo resolução n.º 196/96 do CNS e os preceitos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Métodos: identificar a amostragem, aparelhos, material, as drogas e substâncias químicas utilizadas, inclusive os nomes genéricos, dosagens e formas de administração. Não utilizar nomes comerciais ou de empresas. Não usar nomes dos pacientes, iniciais ou registros de hospital. Explicar qual método estatístico foi empregado e o grau de significância. Resultados: devem ser apresentados em sequência e de maneira concisa, sem comentários e fazendo quando pertinente referências às tabelas e ou figuras. Utilizar abreviaturas aprovadas e padronizadas. GRÁFICOS, QUADROS, TABELAS E FIGURAS As figuras devem ser as referidas no texto e devem vir logo após a referência no texto. As figuras não devem ser inseridas no documento principal. As legendas devem ser colocadas abaixo das figuras, descritas em folha separada e colocadas após as referências e tabelas. Quando se tratar de tabelas e gráficos, as legendas ficarão acima delas. Deve ser identificada no verso, através de etiqueta, com o nome do autor, número e orientação espacial com setas. Os números das fotos para artigos originais devem ser limitados a seis (6) e para relato de caso a quatro (4). Exceções serão julgadas pelo Editor Científico. Procurando uniformizar os termos anatômicos, os autores deverão usar a Terminologia Anatômica, São Paulo, Editora Manole , 1ª ED, 2001. Discussão: deve comparar os principais achados e significados com os anteriormente publicados na literatura. Salientar os novos e interessantes aspectos do estudo. Não repetir os dados dos resultados. Conclusão: deve ser clara e precisa e responder aos objetivos do estudo. Evitar informações que não sejam baseadas em seus próprios resultados. Abstract: deve conter até 300 palavras e ser estruturado como no resumo: Objective, Methods, Results, Conclusion and Keywords. Referências: a revista segue, como já referido, as normas de Vancouver. As referências devem ser restritas aos últimos cinco anos e numeradas consecutivamente na ordem em que foram mencionadas pela primeira vez no texto. Até seis autores, todos devem ser referidos. Acima de seis autores, referem-se os seis primeiros e a expressão et. al. Abreviaturas dos títulos dos periódicos devem ser conforme àquelas usadas no Index Medicus. Endereço para correspondência: informar o endereço completo e eventual e-mail do autor principal ou chefe do serviço. EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS Citações: As citações bibliográficas no texto devem ser numeradas em algarismos arábicos sobrepostos e entre parênteses, na ordem do texto. Exemplo: Em 1956, o endocrinoplogista Seyle(3)... Revista: Pacheco JF, Dias R, Silva MG, Tristão AR, de Luca LA. Prevenção de aderências pélvicas: Estudo experimental em ratas com diferentes modalidades terapêuticas. RBGO.2003 Set; 25(5):359-64. Livro: Goodwin FK, Jamison KR. Maniac-Depressive Illness. New York: Oxford University Press; 1990. Capítulo de Livro: Módena JLP, Pereira LCC. Carcinoma gástrico precoce: In: SOBED, Endoscopia Digestiva. Ed. Rio de Janeiro: MEDSI:2000. p. 402-27. Tese e Monografia: Wu FC. Estudo da ação de aderências sobre anastomose cólica: trabalho experimental em ratos (Dissertação – Mestrado) Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP;2000. Em Material Eletrônico: Dickering K, SCherer R, Lefebvre C. Systematic Reviews: Identifying relevant studies for systematic reviews. BMJ [serial online] 1994, 309:1286-91. (cited 2002 Apr20); Available from: http://bmj.com/cgi/content/full/309/6964/1286. 158 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 Editorial A MEDICINA E A COMPAIXÃO RMR Medicine and Compassion João Carlos Simões ‘‘À vida do médico não se propõem recompensas, mas deveres.’’ ( Luiz Venere Décourt ) Medicina, derivada do latim ars medicina, significa a arte da cura. A Medicina é a grande paixão do dia a dia e será a eterna companheira do médico vocacional. Para se fazer Medicina é preciso ter curiosidade e compaixão. A curiosidade é inata no ser humano. A compaixão precisa ser ensinada ao estudante de medicina. Rubem Alves escreveu que “ afinal de contas, a primeira condição de um médico, anterior à sua competência técnica, é a sua compaixão. Compaixão é sentir, de alguma forma, aquilo que o outro está sentindo. Retirada a compaixão o médico não passa de um mecânico que manipula carros sem sentir nada porque carros nada sentem. Pergunto agora à vocês, médicos amigos, professores, modelos a serem imitados, responsáveis pela formação dos novos médicos: qual é o lugar, nos currículos de medicina, onde tanta coisa complicada se ensina, para uma meditação sobre a compaixão? É na compaixão que a ética se inicia e não nos livros de ética médica. Ah! dirão os responsáveis pelos currículos – compaixão não é coisa científica. Não entra na descrição de casos clínicos. Não pode ser comunicada em congressos. Portanto, não tem dignidade acadêmica. Certo. Mas acontece que não somos automóveis a serem consertados por mecânicos competentes. Somos seres humanos. Amamos a vida, queremos viver. Sofremos de dores físicas e de dores de alma: o medo, a solidão, a impotência, a morte.” Ter compaixão precisa ser ensinado nas escolas médicas todos os dias! Que força estranha é esta que nos faz pousar as mãos sobre o corpo enfermo e, pelo menos, amenizar o sofrimento? Que força tamanha é esta que nos impregna de cuidar dos doentes mesmo se esquecendo de nós mesmos e de nossa família? Onde se encontra esta vontade de estudar todos os dias? Cuidar e gostar de gente é a razão de ser da vida do estudante e do médico vocacional É a sua grande motivação.Ensinar aos estudantes de medicina é a outra vocação do médico professor. Ser professor de medicina é continuar se transformando e aprendendo com os seus estudantes. Ensinar aos estudantes de medicina e aos residentes como se ensina aos filhos é hipocrático. Ensiná-los, como disse o saudoso professor Adib Jatene, que o médico precisa ser especialista em gente, compreender como as pessoas são diferentes e o quanto a sua atenção e dedicação a elas é fundamental no tratamento. João Carlos Simões - Fundador e Editor Científico da Revista do Médico Residente Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 159 Editorial O futuro da saúde em risco The future health at risk Roberto D’Avila 1 Carlos Vital 2 Mauro Britto 3 Ao final de seu primeiro ano, o programa Mais Médicos deixa no ar uma série de preocupações sobre o futuro da saúde no Brasil. Em relação à assistência, de forma urgente, o país deve estar atento à necessidade de avaliação da competência dos intercambistas estrangeiros. Afinal, está em jogo a segurança de milhões de pacientes. Ao aprovar a lei nº 12.871/13, o governo federal tornou possível que portadores de diplomas obtidos no exterior pudessem atuar sem antes mostrarem sua capacidade. Contudo, as denúncias de equívocos que se acumulam evidenciam que os riscos são muitos e que o marketing nem sempre resolve tudo. Buscar a revalidação dos diplomas dos intercambistas é um caminho para qualificar o atendimento. O governo não pode esquecer a temporariedade da iniciativa e precisa definir já uma fórmula para ampliar a cobertura assistencial, especialmente no interior distante. Dirigentes da Organização Mundial da Saúde alertam: medidas desse tipo não podem ser definitivas ou de longo prazo. É urgente a implementação de propostas que efetivamente atraiam e levem os médicos brasileiros para as áreas de difícil provimento. Uma delas é a criação de carreiras de Estado no SUS (Sistema Único de Saúde) para médicos e outras categorias (enfermeiros, dentistas e farmacêuticos). Ao oferecer as condições ideais desse tipo de contratação, o Estado beneficiará, sobretudo, a população desfavorecida, que contará com profissionais estimulados, infraestrutura adequada e equipes completas. As preocupações, no entanto, não se limitam ao campo assistencial. A qualidade da formação dos futuros médicos também está sob ameaça. Chama atenção a quantidade de novos cursos médicos no Brasil. Em 24 anos, o número passou de 83 para 235 (aumento de 283%). Desde 2011, passaram a funcionar 58 deles (53% privados). Esse quadro deixa o país no ranking mundial atrás apenas da Índia, que tem população seis vezes maior que a nossa e 381 escolas. Por ano, os 235 cursos em funcionamento no Brasil ofertam 20.539 novas vagas. Nos Estados Unidos, por exemplo, que têm 50% a mais de habitantes, esse total é de 17.364, distribuídas entre 141 escolas. No Brasil, apesar de ilhas de excelência, a falta de critérios tem feito com que escolas funcionem com estruturas limitadas, sem laboratórios, sem hospitais de ensino e sem professores especialistas, mestres ou doutores. A intenção do governo federal de oferecer 11.447 novas vagas de graduação em medicina até 2018 amplifica o sinal de alerta. O governo alega que esse aumento de vagas fixará médicos em áreas de difícil provimento. Trata-se de argumento falacioso. Estudos mostram que só 26% dos médicos fixam residência nos municípios de sua graduação. A permanência ocorre de forma significativa nos locais onde é feita a especialização. Sem atentar para esses aspectos, a proposta tem tudo para dar errado. Além disso, causam inquietude as mudanças das diretrizes curriculares aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, que priorizaram o internato dos alunos na rede pública. Na prática, estudantes poderão ser treinados até em postos de saúde. Sem estrutura nem professores em condições de proporcionar essa formação, a iniciativa camufla a real intenção do governo: suprir a carência do SUS com mão de obra barata. Esses dilemas afetam os programas de residência médica. A oferta de uma vaga de especialização para cada formando, anunciada pelo Ministério da Educação, é inexequível. Não há hospitais preparados nem preceptores suficientes para orientar os futuros especialistas. As medidas anunciadas para a assistência e o ensino da medicina nada têm de estruturantes. São açodadas e pecam por não enfrentar o debate com segmentos interessados –profissionais, universidades e a Comissão Nacional de Residência Médica. Preocupa-nos o futuro. O Brasil tem urgência em ser bem tratado e, para tanto, depende de uma ação responsável do Estado para encontrar, em parceria com a sociedade, as respostas que resgatarão a qualidade do ensino médico e da assistência na rede pública. 1. Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) 2. 1º Vice-presidente do Conselho Federal de Medicina 3. Conselheiro federal pelo Mato Grosso do Sul e representante do CFM na Comissão Nacional de Residência Médica 160 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 Artigo Original RMR Qualidade de Vida em Oncologia: Análise dos Resultados entre pacientes tratados com quimioterapia em estágio clínico avançado. Quality of live in Oncology: Analysis of Mean Results among patients treated with chemotherapy in advanced clinic stage Eurico Cleto Ribeiro de Campos1 TCBC-PR1 Suelen Pereira Cordeiro 2 Jane da Costa Testoni3 Paulo Fabrício Nogueira Paim4 Fábio Roberto Fin5 Christiane Costa Calciolari6 Resumo Objetivo: Apesar dos benefícios no controle de sintomas e taxas de sobrevida resultantes dos diferentes tratamentos em oncologia, muitos pacientes irão apresentar prejuízo na ativiwdade física, social, cognitiva e psicológica em decorrência dos efeitos colaterais dos medicamentos ou pela progressão clinica da doença, impactando negativamente em sua qualidade de vida. Objetivo foi avaliar a qualidade de vida entre pacientes portadores de câncer atendidos no Hospital da Polícia Militar do Paraná (HPMPR). Métodos: análise descritiva e transversal de 16 pacientes portadores de neoplasia em estágio clínico avançado e em tratamento quimioterápico. Dados epidemiológicos, clínicos e patológicos foram considerados. O protocolo EORTC 30 foi o instrumento utilizado para a avaliação da qualidade de vida dos pacientes. Resultados: Predominaram pacientes do sexo masculino em 62,5 % dos casos. Todos os pacientes eram sintomáticos ao diagnóstico, sendo a dor o sintoma mais prevalente e presente em 30% dos pacientes. Neoplasias do trato gastrointestinal foram detectadas em 37,5% dos casos. Em relação à performance status, Ecog 1 e ASA 1 foram detectados com frequências de 50% e 43,8%, respectivamente. Considerando a escala funcional, os itens função física, desempenho de papel e função social foram os mais afetados na avaliação da qualidade de vida. Fadiga e perda do apetite foram o sinal e sintoma mais frequentes. A medida global de qualidade de vida obteve índices elevados quando de 50% dos pacientes a classificaram como ótima. Conclusão: O atendimento oncológico multidisciplinar e contínuo ao paciente permite aprimorar o controle de sintomas, resultando em níveis mais elevados de qualidade de vida, impactando positivamente na adesão do paciente ao tratamento, na sua evolução e possivelmente na sobrevida. Descritores: Qualidade de vida; Oncologia; Quimioterapia. Trabalho realizado no Serviço de Cancerologia Clinica e Cirúrgica do Hospital da Policia Militar do Paraná – Curitiba - Paraná 1. Professor Adjunto de Cirurgia Geral da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Doutor em onconlogia pela (F.N. USP.) 2. Acadêmica de Bacharel em Enfermagem e estagiária do Centro Cirúrgico do Hospital da Polícia Militar do Paraná (HPMPR). 3. Enfermeira gestora do Hospital da Polícia Militar do Paraná (HPMPR). 4. Médico Clínico e Paliativista do Hospital São Vicente – Curitiba – Paraná. 5. Médico Cirurgião Oncológico do Hospital São Vicente – Curitiba – Paraná. 6. Fisioterapeuta e Doutora em Patologia pela Universidade de São Paulo. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 161 Qualidade de Vida em Oncologia Introdução O câncer corresponde a segunda principal causa de morte na população Brasileira, sendo superado pelas doenças cardiovasculares. Acredita-se que nos próximos dez anos, as neoplasias venham a se tornar a principal causa de morte. Para o ano de 2014 foram estimados 580.000 novos casos de câncer (1). A cirurgia, radioterapia e quimioterapia correspondem as principais modalidades terapêuticas em mais de 90% dos casos (2). Apesar de todos os avanços tecnológicos e no melhor conhecimento da biologia molecular das neoplasias com novos tratamentos baseados nas alterações moleculares presentes e com menores taxas de toxidade, muitos tratamentos acabam influindo na qualidade de vida dos pacientes de forma temporária ou definitiva, impondo limitações laborais, sociais e familiares (3). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), qualidade de vida pode ser definida como “ A percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (4). A qualidade de vida foi avaliada pelo protocolo EORTC 30 traduzido para o português e datado de 2000. Esse questionário é composto de 30 itens e diferentes escalas, a saber: escala funcional (função física, cognitiva, emocional, social e desempenho de papéis), escalas de sintomas (fadiga, dor e náuseas e vômitos),escala de sintomas (dispneia, falta de apetite, insônia, constipação e diarréia) além de uma escala de qualidade de vida e saúde global 4. Assim, a qualidade de vida do paciente é capaz de influir diretamente no sucesso do tratamento, e ser tão importante quanto aos conhecimentos técnicos e científicos baseados nos medicamentos e rotineiramente empregados na abordagem das neoplasias em estágio clinico avançado. O objetivo deste trabalho foi através do protocolo EORTC QLQ 30, avaliar a qualidade de vida de pacientes em Oncologia, assim como os principais fatores epidemiológicos e clínicos envolvidos no tratamento e prognósticos dos pacientes. Métodos Estudo descritivo e transversal, aplicado no Hospital da Policia Militar do Paraná, no ano de 2013. Forma selecionados os pacientes portadores de neoplasias confirmadas histologicamente e submetidos a alguma forma de tratamento além da quimioterapia: cirurgia e/ou radioterapia. Todos os pacientes eram portadores de neoplasias em estágios clínicos III ou IV. Informações epidemiológicas, clínicas e patológicas dos pacientes, foram coletadas dos prontuários disponíveis nos arquivos do Serviço de Oncologia do Hospital da Polícia Militar do Paraná. Foram incluídos no estudo os pacientes portadores de neoplasias confirmadas histologicamente e nos estágios clínicos III e IV e tratados exclusivamente no HPMPR. Pacientes tratados em algum momento do curso da doença em outros serviços de oncologia ou sem confirmação histológica da neoplasia, como também com informações incompletas nos prontuários, foram excluídos do estudo. Os laudos anatomopatológicos foram oriundos de um único serviço de Anatomia Patológica, assim como as classificações do ECOG e ASA, foram realizadas por um único medico oncologista. Análise estatística O tempo de seguimento foi calculado em meses e correspondeu ao intervalo de tempo decorrido entre a data da cirurgia e a data do último seguimento clínico do paciente. Para a análise estatística, foi empregado o SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows na versão 16.0. A mensuração das variáveis quantitativas foi expressa pelas médias e respectivos desvios-padrão, e as variáveis qualitativas pelas respectivas frequências absolutas e relativas. 162 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR Qualidade de Vida em Oncologia Para a mensuração de cada escala, foi obtido um escore bruto (EB) e correspondente ao valor da resposta do questionário, dividido pelo número de itens, conforme demonstrado por Paiva SM 5. O escore final da escala foi obtido através da seguinte fórmula: Escore final= [(EB -1)/variação x 100. A variação utilizada na fórmula final corresponde à subtração entre o maior e menor valor em relação ao item avaliado. RESULTADOS Em relação ao sexo, 10 pacientes (62,5%) eram do sexo masculino e seis (37,5%) sexo feminino. A idade média dos pacientes foi de 45 anos, com variação de 45 a 84 anos. Todos os pacientes apresentavam sintomatologia ao diagnóstico. Dor foi o sintoma isolado mais freqüente e presente em 30 % dos pacientes. Predominaram neoplasias do trato gastrointestinal em 37,5% dos casos. O gráfico 1 demonstra os principais sintomas e as respectivas porcentagens. O performance status foi avaliado através do ECOG (eastern cooperative oncology group). O gráfico 2 demonstra a distribuição dos 16 pacientes de acordo com o ECOG, identificando-se que 50% dos pacientes foram classificados como ECOG 1. Nenhum paciente foi classificado como ECOG 4. A classificação do ASA (American Society of Anesthesiology) também é determinada rotineiramente, por sua fácil aplicabilidade e valor prognóstico similar ao ECOG. Os seguintes valores foram encontrados para ASA 1, 2 3, respectivamente, 7 pacientes (43,8%), 5 (31,2%) e 4 pacientes (25%). Todos os pacientes eram portadores de neoplasias avançadas localmente ou metastáticas ao diagnóstico ou não. Estágio clínico III foi detectado em seis pacientes (37,5%) enquanto que 10 pacientes (62,5%) eram estágio clínico IV. Ao termino do estudo, três pacientes (18,8%) estavam vivos e assintomáticos, 11 pacientes (68,8%) vivos e com doença em atividade e dois óbitos pele doença (12,5%). O tempo médio de seguimento foi de 15,3 meses. Gráfico 1. Distribuição dos sintomas de acordo com a sintomatologia. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 163 Qualidade de Vida em Oncologia Gráfico 3. Distribuição dos pacientes de acordo com a classificação do ECOG. A tabela 1 demonstra a média e o respectivo desvio-padrão obtidos através da aplicação do questionário EORTC 30. Tabela 1. Resultados do instrumento de medida de qualidade de vida EORCT 30. Itens de escala Escala Funcional Função física Desempenho de papel Função emocional Função cognitiva Função social Escala de sintomas Fadiga Náuseas/vômitos Dor Sintomas Dispnéia Insônia Perda do Apetite Constipação Diarréia Dificuldades financeiras Medida Global de QV Legenda: QV – qualidade de vida. Média(%) Desvio Padrão 39,25 35,27 22,73 26,33 31,87 33,39 36,16 25,07 19,68 28,23 38,13 3,27 25,33 25,92 9,20 33,78 22,13 24,20 37,40 11,0 11,0 37,01 26,36 21,11 20,36 20,36 11,0 20,36 74,12 22,35 164 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR Qualidade de Vida em Oncologia DISCUSSÃO O câncer é uma das principais causas de morte no Brasil, notando-se incidências cada vez maiores, segundo o Instituto Nacional do Câncer 1. Muitos pacientes serão diagnosticados com neoplasias em estágio avançado, resultando em quadros clínicos por vezes mais sintomáticos e debilitados clinicamente e assim impactando negativamente em sua qualidade de vida. Apesar dos avanços clínicos e tecnológicos alcançados ao longo dos anos no tratamento do câncer, e principalmente na descoberta de novas drogas quimioterápicas, a toxidade destes medicamentos pode gerar efeitos adversos ao paciente, destacandose como os principais: dor, fadiga, dispnéia,emagrecimento e perda do apetite, dentre outros que também podem interferir significativamente na função física, emocional, social e cognitiva 7,8. A predominância do sexo feminino em relação ao masculino foi demonstrada por Lima et al. 9, devido a maior prevalência do sexo feminino em todas as faixas etárias. A maior frequência de sexo masculino no presente estudo pode ser decorrente do tipo de estudo adotado, em que foram selecionados pacientes portadores de neoplasias que são mais incidentes no sexo masculino, como câncer esofágico e gástrico, uma vez que as neoplasias do trato gastrointestinal foram predominantes. A dor é descrita como o sintoma mais freqüente na oncologia com freqüências que podem atingir até 90% dos casos10. Nesta série encontramos a dor como o sintomas mais prevalente e com freqüência inferior a descrita na literatura. Isto é decorrente dos pacientes estarem em tratamento quimioterápico e o atendimento ambulatorial é realizado em todas as consultas pelas equipes da dor e oncologia geral, realizando rotineiramente a revisão e controle de sintomas dos pacientes. O valor prognóstico e facilidade de aplicação do ASA em oncologia já foi demonstrado por Zequi et al 6. Nenhum paciente do estudo foi classificado como ECOG 4 ou ASA 4, uma vez que são pacientes que não atendem os critérios do performance status para quimioterapia. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da EORCT 30 é um dos principais instrumentos utilizado na avaliação da QV em oncologia. Destaca-se especificamente, por ser composto unicamente por 30 itens, fácil aplicabilidade e entendimento, alem de ser traduzido para o português e validado em diferentes estudos 5,9,11. Fadiga é um dos sintomas mais debilitantes e freqüentes em pacientes portadores de neoplasia em estágio avançado 12. Entre os sintomas avaliados, fadiga foi sintoma com a maior média (38,13). Lima et al.9 também identificaram a fadiga como o sintoma principal atribuindo os achados as condições clinicas e psicológicas preexistentes. Acreditamos que a maior média detectada para a fadiga seja decorrente do impacto que a doença e o tratamento causam no paciente e demonstrado através do performance status. Quanto aos sintomas predominantes, as maiores médias foram observadas para perda do apetite, insônia e dispnéia. O câncer promove no paciente um quadro de desnutrição e que resulta em perda do apetite, por ação de diferentes mediadores da resposta inflamatória como: fator de necrose tumoral, interleucinas e citoquinas pró-inflamatórias 13. A própria quimioterapia também apresenta efeitos colaterais no trato gastrointestinal, reduzindo também a ingestão alimentar do paciente . Nota-se uma média baixa para o item dificuldade financeira, uma vez que são pacientes militares ou dependentes e que contam como uma renda fixa e um plano de saúde exclusivo para os militares e por vezes diferindo dos pacientes dependentes do sistema único de saúde. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 165 Qualidade de Vida em Oncologia Assim, o acompanhamento nutricional é fundamental para o bem estar do paciente e continuidade do tratamento, devendo o profissional médico lançar mão de medicamentos estimuladores do apetite, antieméticos e vias predominantemente enterais de alimentação para a não interrupção do tratamento, mas sempre considerando a multidisciplinaridade na abordagem inicial e contínua da doença maligna. A maior média no instrumento EORTC 30 foi observada para a medida global de qualidade de vida, com valor de 74,12. Lima et al. 9 encontraram a maior média para o item medida global de qualidade de vida, com valor de 79,99. Para Bertoncello et al. 11 há uma interação linear entre os aspectos da qualidade de vida, pois ocorrendo freqüências elevadas de sintomas incapacitantes, a qualidade de vida dos pacientes sofrerá o impacto negativo. A elevada média observada no presente estudo, é decorrente principalmente da baixa prevalência de sintomas limitantes das atividades diárias como dor e dispnéia, assim como a baixa média observada para o item dificuldade financeira que impactam negativamente na vida dos pacientes. Conclusão Nosso estudo apresenta algumas limitações como: a casuística reduzida, a natureza transversal e a inexistência de análise para um tipo neoplásico exclusivo. De toda forma, acreditamos que o presente estudo tenha sido importante, uma vez que nossos dados são condizentes aqueles apresentados na literatura e por ter sido o primeiro a ser realizado em um ambiente hospitalar militar. Abstract Background: Despite the benefits in symptom control and survival rates resulting from the different treatments in oncology, many patients will experience impairments in physical, social, cognitive and psychological activity due to the side effects of medications or the clinical progression of the disease, negatively impacting in their quality of life. The objective was to evaluate the quality of life among patients with cancer treated at the Hospital of the Military Police of Paraná (HPMPR). Methods: A descriptive cross-sectional analysis of 16 patients with advanced clinical stage malignancy treated with chemotherapy. Epidemiological, clinical and pathological data were considered. The EORTC 30 protocol was the instrument used to assess the quality of life of patients. Results: Most patients were male in 62.5% of cases. All patients were symptomatic at diagnosis Pain was the most prevalent symptom in 30% of patients. Neoplasms of the gastrointestinal tract were detected in 37.5% of cases. In relation to performance status, ECOG 1 and ASA 1 were detected with frequencies of 50% and 43.8%, respectively. Considering the functional scale, the items physical functioning, role performance and social function were the most affected in the assessment of quality of life. Fatigue and loss of appetite were the most common sign and symptom, respectively. A global measure of quality of life achieved high rates when 50% of patients rated as excellent. Conclusion The cancer multidisciplinary care and ongoing patient allows enhance symptom control, resulting in higher levels of quality of life, impacting positively on patient adherence to treatment, follow-up and possibly on survival. Keywords: Quality of live; Oncology; Chemotherapy. 166 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 Qualidade de Vida em Oncologia Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. RMR Ministério da Saúde (Brasil). Instituto Nacional do Cancer. [Acesso em fev. 2014]. Disponível em:<http://www2.inca.gov.br. Fahy BN. Palliative care for the surgical oncologist: embracing the palliativist within. Surgery 2013; 153:1-3. Kanesvaran R, Tan MH. Targeted therapy for renal cell carcinoma: The next lap. J Carcinog. 2014;13:3. Fleck MP, Leal OF, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, Santos L et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). Revista Brasileira de Psiquiatria, 1999; 21(1): 19-28. Paiva SM. Avaliação da qualidade de vida de pacientes oncológicos em tratamento quimioterápico adjuvante. (Dissertação – Mestrado). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, 2006. Zequi SC, de Campos EC, Guimarães GC, Bachega W Jr, Fonseca FP, Lopes A. The use of the American Society of Anesthesiology Classification as a prognostic factor in patients with renal cell carcinoma. 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Tatiane Élen de Souza ¹ Marina Barbara de Sousa Xavier² Rejane Carolina Franco³ Maria da Graça Bicalho4 Objetivo: A infecção pelo papiloma vírus humano (HPV) é a principal causa para a progressão e desenvolvimento de câncer do colo de útero (CC), responsável pela morte de mais de 274.000 mulheres ao ano no mundo. A infecção pelo HPV pode promover lesões precursoras do câncer de baixo e de alto grau (NIC I, NIC II, NIC III) e o carcinoma invasor, sendo que apenas uma pequena parcela dessas mulheres infectadas pelo vírus evoluem para o CC (1%). A resposta imune contra antígenos protéicos do HPV é mediada por linfócitos T é e restrita ao HLA (Human Leucocyte Antigens) o complexo principal de histocompatibilidade humano. Consequentemente, os fenótipos HLA classe I podem estar associados com uma efetiva resposta imune contra o HPV. O presente estudo objetiva investigar a possível associação do gene HLA-C com a proteção ou propensão ao desenvolvimento de CC a partir da infecção pelo HPV, assim como analisar o perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas pelo vírus, analisando paridade e o número de abortamentos espontâneos por conta do perfil imunogenético dessas mulheres. Métodos: Para isso, foram realizadas genotipagens desses genes HLA-C em 30 mulheres diagnosticadas nos estágios NIC II e 30 NIC III atendidas no Hospital Erasto Gaertner e em 60 mulheres controles,sem lesões histopatológicas do útero, faixa etária entre de 15 a 45 anos. Foram utilizados os métodos salting out para extração do DNA,PCR-SSO (do inglês: Polymerase Chain Reaction-Sequence Specific Oligonucleotide Probes) para tipificação dos alelos HLA-C. Resultados: Os grupos alélicos que apresentaram distribuição diferente quando comparadas pacientes e controles foram HLA-C*05, HLA-C*08 e HLA-C*14 (p<0,001) sendo que o grupo alélico HLA-C*05 comportou-se como fator de risco para NIC II e NIC III e também associado a maior índice de abortos espontâneos nestas pacientes. O grupo alélico HLA-C*08 comportou-se como fator de risco para NIC III e maior predisposição para abortos, enquanto C*14 mostrou-se associado a fator de risco para NIC II e NIC III, porém não associado a abortos. Assim como os alelos C*03 e C*04 parecem estar associados a fatores de proteção para HPV,mas relacionados a aborto. Conclusão: Observamos também que as mulheres com maior número de gestações apresentavam NIC III (média de 2,3 filhos), enquanto que as controles apresentavam menor número de gestações (1,4 filhos em média), corroborando o fato de a multiparidade ser um fator de risco para CC. Descritores: Perfil HLA-C; História Reprodutiva; Infecção por HPV Trabalho realizado no curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná e Hospital Erasto Gaertner . Curitiba-Paraná. 1. 2. 3. 4. Estudante de Medicina Universidade Federal do Paraná Mestre em Biologia Universidade Federal do Paraná Residente em Radioterapia Hospital Erasto Gaertner Professor Orientador Doutor pela Universidade Federal do Paraná 168 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV INTRODUÇÃO: A infecção pelo papiloma vírus humano (HPV) é a principal causa e, provavelmente, necessário para que haja a progressão para o desenvolvimento de câncer do colo de útero (INCA 2010), sendo este um grande problema de saúde pública visto que é responsável pela morte de mais de 274.000 mulheres ao ano por todo o mundo (Parkin et al., 2005). O que presenciamos é a grande prevalência deste câncer em mulheres cuja faixa etária é inferior a 20 anos de idade, além de, principalmente, acometer as mulheres de classe socioeconômica relativamente baixa,nas quais grande parte não têm acesso aos programas de rastreamento, que é a forma de prevenção mais importante (WHO, 2006; Brasil. Ministério da saúde 2010). E,por essa deficiência na detecção precoce da infecção pelo HPV,estas mulheres apresentam um risco para câncer cervical invasivo de 100% superiores ao das mulheres pertencentes a classes sociais mais elevadas e que têm possibilidade de acesso aos meios de detecção e prevenção da doença (Parikh et al., 2003). A paridade elevada, uso prolongado de anticoncepcionais hormonais, infecção simultânea por HIV e o tabagismo são co-fatores que aceleram a progressão da infecção para o carcinoma. Assim, mulheres em condições sócio-econômicas baixas, com alta paridade e idade jovem ao primeiro parto apresentam alta prevalência de infecção por HPV (Kahn et al., 2007; Kjellberg et al., 2009), sendo outros possíveis co-fatores a infecção por Chlamydia trachomatis e por Herpes simples tipo 2, a imunossupressão e a deficiência de alguns nutrientes. Porém, fatores genéticos e imunológicos, relacionados ao hospedeiro, e variantes de determinado tipos de HPV, carga viral, integração viral, relacionadas ao vírus (muito embora não tenham ainda seu papel devidamente esclarecido) são também de extrema importância (Moñoz et al., 2006). RMR A infecção pelo HPV pode promover o desenvolvimento de tumores benignos da pele e das mucosas:lesões características em forma de verruga na região genital externa - condiloma acuminado - lesões precursoras do câncer anogenital de baixo e de alto grau (NIC I, NIC II, NIC III) e o carcinoma invasor (De Villers et al., 2004; Prendiville e Davies,2004;Zur Hausen, 2008; Stubenrauch e Iftner, 2009). No tocante à Reprodução Humana, o trofoblasto (primeiro dos anexos embrionários) expressa um antígeno polimórfico do MHC, o HLA-G e outros antígenos da classe I (o que não sabemos é se o HLA-C está relacionado à essa característica), que determinam e coordenam muitas funções imunológicas que incluem supressão imune e produção de citocinas e fatores de crescimento,tornando a placenta resistente ao ataque linfocitário, anticorpos citotóxicos e complexos antígenosanticorpos. A partir dos caracteres genéticos, a placenta produz também hormônios esteróides, protéicos, e uma variedade de proteínas com ação apoptótica, antiinflamatória e imunossupressora que regulam a expressão gênica das células trofoblásticas e uterinas, além de outros meios de proteção até mesmo contra aloantígenos paternos, por exemplo. Assim, o trofoblasto também atua como um imunoabsorvente, fixando anticorpos supressores e estabelecendo uma camuflagem imune bloqueando o eixo eferente do arco reflexo imunológico. Nas mulheres que abortam sucessivamente, por exemplo, as características críticas para a imunoproteção do trofoblasto não se estabelecem completamente e tem início processos imunológicos auto e aloimunes. Como resultado, não é permitido ao trofoblasto que se desenvolva e se estabeleça no ambiente materno pela duração da gravidez. Isto porque a compatibilidade HLA-DQ A1 entre a mãe e o feto resulta na destruição do embrião em estágios precoces da gravidez. Nesta circunstância, a compatibilidade parece semear resposta auto-imune celular e humoral, O HPV é transmitido de uma pessoa para que se torna mais agressiva quanto maior o a outra,a partir do contato sexual com a pele da número de falhas gestacionais que a mulher região acometida,sem que necessariamente apresenta (Ricardo Barini e cols.). haja troca de fluidos corporais entre os parceiros. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 169 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV A incidência do CC acomete a faixa etária de mulheres entre 20 e 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico, geralmente na faixa etária de 45 e 49 anos (BRASIL.Ministério da Saúde,2011). É o segundo câncer mais prevalente nas mulheres, estando atrás apenas do câncer de mama e na frente do câncer de cólon, reto, pulmão e estômago (World Câncer Report 2008). Em 2010, foram esperados 236.240 casos novos para o sexo masculino e 253.030 para sexo feminino. Estima-se que o câncer de pele do tipo não melanoma (114 mil casos novos) é o mais incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (52 mil), mama feminina (49 mil), cólon e reto (28 mil), pulmão (28 mil), estômago (21 mil) e colo do útero (18 Este estudo visa contribuir com mil) (Figura 1) os conhecimentos sobre a influência imunogenética na propensão às lesões de baixo e alto grau que podem evoluir para o carcinoma cervical e também a proteção contra o vírus e sua progressão, assim como a avaliação da história reprodutiva dessas mulheres infectadas pelo vírus na premissa de averiguar se há relação direta do HLA-C nos abortamentos repetitivos dessas mulheres. Com isso, procuramos viabilizar, futuramente, o processo de detecção ou mesmo da prevenção primária contra o câncer de colo de útero e contribuir para a tomada de decisões clínicas, cirúrgicas e epidemiológicas acerca deste tipo de lesão precursora de câncer que acomete tantas mulheres em vida reprodutiva. O presente estudo procura,a partir deste contexto, investigar a possível associação do gene HLA-C com a proteção ou propensão ao desenvolvimento de câncer cervical a partir da infecção pelo HPV, assim como analisar o perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas pelo vírus, analisando paridade e o número de abortamentos expontâneos por conta do perfil imunogenético dessas mulheres. Para isso, serão realizadas genotipagens desses genes HLA-C em mulheres em que tenham sido diagnosticadas NIC II e NIC III e em mulheres que nunca tiveram lesões histopatológicas do útero, sendo a faixa etária compreendida entre mulheres de 15 a 45 anos,pacientes do Hospital Erasto Gaertner. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: O impacto mundial do câncer mais que dobrou em 30 anos, segundo relatório da International Agency for Research on Câncer(IARC)\OMS (World Câncer Report 2008). O contínuo crescimento populacional, bem como seu envelhecimento, afetará de forma significativa o impacto do câncer no mundo. Esse impacto recairá principalmente sobre os países de médio e baixo desenvolvimento. A IARC/OMS estimou que, em 2008, metade dos casos novos e cerca de dois terços dos óbitos por câncer ocorreriam nessas localidades. De acordo com os dados mais atuais do INCA, no Brasil tivemos cerca de 18.430 novos casos em 2010 (INCA 2011) e no ano de 2008 constatouse 4.812 mortes por conta do CC (INCA 2011). A relação entre as verrugas comuns de pele e as genitais, sobretudo à etiologia e transmissão, sempre deixou dúvidas. Os achados clínicos e experimentais, inicialmente, é que confirmaram tal relação. O que os clínicos observavam era a concomitância no surgimento das verrugas de pele, como também as verrugas genitais. Experimentalmente, a inoculação de extratos de verrugas penianas na pele normal de outras regiões do corpo, em alguns pacientes induzia ao aparecimento de verrugas planas ou comuns (ORIEL, J.D. e ALMEIDA , J.D. 1970). 170 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV Outros locais, além do colo do útero, como ulva, ânus e pênis podem ter casos de câncer contendo HPV de alto risco, porém em menor proporção. Em relação ao pênis, encontrou-se risco aumentado para o desenvolvimento de câncer na presença dos fatores fimose, processo inflamatório crônico (balanopostite e liquen esclero-atrófico) e tratamento com corticóide de alta potência e fotoquimioterapia com ultra-violeta. O hábito de fumar tem relação com o câncer de pênis e é dose-dependente(Dillner J. et al, 2000). Papillomaviridae é uma família que infecta vertebrados, incluindo humanos. Os papiloma vírus possui um genoma de DNA circular de fita dupla, que mede de 6,8 a 8,4 Kb e codifica entre 8 e 10 ORFs (OPEN READING FRAMES). As ORFs E1 e E2 estão relacionadas com a replicação viral, as E6 e E7 com a oncogenicidade a L1 e L2 com a produção do capsídeo viral.A partícula viral destes vírus consiste em um capsídeo icosaédrico (formado por 72 capsômeros), nãoenvelopado, medindo de 52 a 55 nanômetros. A replicação e a montagem dos virios ocorre no núcleo celular. Alguns papilomavírus são oncogênicos, como o vírus do papiloma vírus humano (HPV). Papillomaviridae integra o grupo I do sistema de classificação de Baltimoree(INTERNATIONAL COMMITTEE ON TAXONOMY OF VIRUSES 2011). O papel carcinogênico dos Papilomavírus, foi primeiramente reconhecido por Rous e Beard, que observaram a transformação maligna em papilomas de coelhos. Compararam seus resultados com os condilomas humanos, sugerindo a possibilidade destes representarem um precursor do câncer epidermóide. O HPV é o grande precursor para que haja o desenvolvimento e a progressão para o câncer de colo de útero, porém o que ainda merece grande atenção é o porquê de apenas uma pequena parcela dessas mulheres infectadas pelo vírus evoluem para um câncer (aproximadamente 1%) e outras não (Remmink et al.,1997; Magnusson e Gyllesten,2000). Certamente, a maioria das lesões NIC não progridem, ou regridem, a sua citologia normal, indicando que outros fatores tal qual o funcionamento inadequado do sistema imunológico, RMR no que se refere à resistência do organismo a este patógeno invasor, assim como à predisposição genética que leve à susceptibilidade ou não na determinação do câncer cervical (Nimako M et al, 1997). O HPV possui oncoproteínas virais, E6 e E7 , que induzem uma proliferação celular mais acelerada e desordenada,podendo levar às atipias celulares e ,até mesmo, à malignização (HPV tipos 16 e 18). Há interferência nas proteínas do sistema imunológico e do ciclo celular, induzindo e mantendo a transformação celular, fazendo com que células infectadas formem lesões precursoras do câncer, podendo até mesmo evoluir para o carcinoma cervical. Com isso, há grande importância em se estudar os genes que codificam as proteínas celulares envolvidas com a resposta das células à infecção pelo HPV, sendo que certos genótipos podem evidenciar maior propensão ou maior proteção ao desenvolvimento de lesões précâncer, devido à ação de proteínas virais. A resposta imune contra o antígeno do HPV mediada pelos linfócitos T é restrita ao HLA (complexo principal de histocompatibilidade). Consequentemente, os fenótipos HLA classe I e II podem estar correlacionados com uma efetiva resposta imune contra o HPV associada a lesões cervicais ( Odunsi KO e Ganesan TS, 1997). O Complexo de Histocompatibilidade Principal Humano (HLA) compreende uma região de genes altamente polimórficos ,cujos produtos são expressos nas superfícies das células nucleadas ( Abbas,2005 ). As moléculas de HLA estão fisicamente agrupadas em três regiões distintas:região classe I ( porção mais telomérica, contém genes que codificam as moléculas clássicas: HLA-A, HLA-B e HLA-C; genes não clássicos HLA-E,HLA-F e HLA-G, cujas funções ainda não estão bem definidas, sendo um grupo de pseudogenes, cujos produtos não são expressos na membrana) ;região classe II (DP, DN, DO, DQ e DR, localizados próximos ao centrômero ) e a região classe III ( contém genes que codificam as moléculas do sistema complemento: C2, C4 e fator B; 21-hidroxilase e fator de necrose tumoral. É telomérica à região classe II. (Roitt,1999; Phelan, 1999). Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 171 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV A função básica das moléculas de HLA é promover o reconhecimento de antígenos pelos linfócitos T, ocorrendo tanto pela via citosólica ( HLA classe I ) quanto pela via endolítica ( HLA classe II ) ( Fraga e Neumann, 1998). Em se tratando da História Reprodutiva das mulheres portadoras do vírus, observamos que a infecção genital pelo HPV pode determinar motivos adicionais de preocupações por razões distintas que envolvem alterações na sua história natural de evolução e limitações importantes de suas opções terapêuticas. Em primeiro lugar, as infecções clinicamente aparentes da mucosa genital pelo HPV ocorrem com maior freqüência na gestação, levando ao aparecimento de verrugas genitais que crescem rapidamente e que podem causar a obstrução mecânica do canal de parto no final da gestação (Schwartz D. B., Greenberg N.B., Daoud Y., Reid R., 1988). A explicação para tal resultado seria o fato de que com múltiplas gestações o epitélio de transição do ectocérvice é mantido por muitos anos, ficando mais exposto ao vírus(Castellsagué e Munhoz ,2006). MÉTODOS: CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS: A amostra de pacientes consta de 60 mulheres portadoras do vírus HPV em tratamento no ambulatório do Hospital Erasto Gaertener, sendo que dentre estas, 30 pacientes estão no estágio NIC II e as outras 30 estão no estágio NIC III da doença. Para a amostra controle, analisamos a genotipagem de 60 mulheres saudáveis, sem lesões histopatológicas do útero ou histórico de NIC. A faixa etária, tanto das pacientes quanto das controles, está compreendida entre 15 e 45 Adicionalmente, as alterações do sistema anos. imunológico e do trato genital da gestante podem contribuir para a rápida progressão da NIC para MÉTODO SALTING OUT:EXTRAÇÃO DE o carcinoma cervical na gestação. ( Schneider DNA GENÔMICO A., Hotz M., Gisseman L., 1997 ). A exposição Extração do DNA do sangue perinatal ao vírus durante o parto pode resultar no desenvolvimento de papilomatose laríngea A partir de uma punção venosa na infância (AM J. Obstet Gynecol 1996). periférica, serão coletados 10 mililitros (mL) de sangue de cada indivíduo, e colocados em Estudos que estratificaram a idade tubos estéreis tipo vacutainer com EDTA para materna para a detecção de possíveis a coleta sanguínea. Essas amostras serão diferenças na incidência desta infecção de centrifugadas para obtermos a camada de acordo com a faixa etária, observaram taxas leucócitos, pois estas células é que possuem de detecção do vírus variando de 19% a 40% núcleo contendo material genético para a no grupo de gestantes jovens ( idade inferior a análise, e a extração de DNA ocorrerá por 25 anos) em oposição à taxa de 10% a 20% no método salting-out (JOHN ET AL., 1990, grupo das gestantes com idade superior a 25 modificado por LAHIRI e NURNBERGER, anos ( Walboomrs JM, Hopman E, Bleker OP 1991). As cinco etapas que, basicamente, ,et AL 1995; Obstet Ginecol 2000). explicam este método consistem em: Vários trabalhos relacionam a multiparidade e o risco de infecção pelo HPV e para o câncer invasor do colo uterino Adam et al. (2000)demonstraram que mulheres com três ou mais gestações foram consideradas de risco para a infecção HPV. Quanto ao câncer cervical, Castellsagué & Muñoz (2003) observaram um aumento do risco de câncer cervical em mulheres com maior número de gestações completas após ajuste para a idade de início da atividade sexual e o número de parceiros sexuais. -Obtenção da camada de leucócitos por centrifugação do sangue total coletado com anticoagulante EDTA. -Lise de eritrócitos através do uso de tampão de lise de células vermelhas (RCLB 1X) ph 7,6. -Quebra da membrana nuclear com SDS a 20% e remoção de enzimas como DNases e RNases por meio de proteinase K e tampão da proteinase K. -Precipitação de proteínas com NaCl 6M. 172 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV -Precipitação do DNA com etanol absoluto. Extração do DNA do sangue A partir de uma punção venosa periférica, serão coletados 10 mililitros (mL) de sangue de cada indivíduo, e colocados em tubos estéreis tipo vacutainer com EDTA para a coleta sanguínea. Essas amostras serão centrifugadas para obtermos a camada de leucócitos, pois estas células é que possuem núcleo contendo material genético para a análise, e a extração de DNA ocorrerá por método salting-out (JOHN ET AL., 1990, modificado por LAHIRI e NURNBERGER, 1991). As cinco etapas que, basicamente, explicam este método consistem em: RMR de mesma seqüência, sendo assim, diferentes microesferas podem ser utilizadas em um único tubo, substituindo o formato convencional de multipoços. Na tecnologia Luminex a região alvo do DNA é amplificada com o uso de oligonucleotídeos iniciadores biotinilados, sendo que, para a PCR, os kits LABType acompanham um D-mix, contendo as soluções necessárias para a reação (tampão, MgCl2 , dNTPs) e uma solução contendo os oligonucleotídeos iniciadores específicos para a hibridização com os éxons e íntrons específicos de cada gene, e a PCR é realizada no Termociclador Perkin-Elmer 9600. Cada produto de PCR marcado será -Obtenção da camada de leucócitos por desnaturado, mantido na forma de fita simples centrifugação do sangue total coletado com através do uso de tampões. O produto de anticoagulante EDTA. PCR em fita simples será rehibridizado às sondas complementares de DNA (sondas -Lise de eritrócitos através do uso de tampão de oligonucleotídeos seqüência-específicos) de lise de células vermelhas (RCLB 1X) ph 7,6. conjugadas com as microesferas , o DNA -Quebra da membrana nuclear com SDS a biotinilado (da amostra) será marcado com 20% e remoção de enzimas como DNases e conjugado de R-Ficoeritrina\Estreptoavidina RNases por meio de proteinase K e tampão da (SAPE). A leitura das reações será realizada utilizando-se um fluorímetro de fluxo (LABScan proteinase K. 100) , o qual emprega a tecnologia Luminex, em que um laser de cor vermelha com -Precipitação de proteínas com NaCl 6M. comprimento de onda de 633nm reconhece a cor da microesfera e outro laser, de cor -Precipitação do DNA com etanol absoluto. verde com comprimento de 532nm reconhece MÉTODO a intensidade da fluorecência emitida pela Ficoeritrina presente na superfície de cada Polymerase Chain Reaction-Sequence Specific microesfera, identificando se a mesma estava Oligonucleotide Probe (PCR-SSOP) ou não marcada com SAPE, determinando assim sua positividade. Este método consiste em realizar a tipificaçãodosalelosdosgenesHLA-C.Atipagem As tipagens serão realizadas com auxílio da reação em cadeia de polimerase utiliza-se do software HLA Visual,versão 2.0, podendo de sondas de oligonucleotídeos seqüencia- ser utilizada uma versão mais recente,que específicos,do inglês: Polymerase Chain faz a coleta de dados e a determinação dos Reaction-Sequence Specific Oligonucleotide alelos. O programa considera a combinação Probe, através dos Kits LABType específicos de microesferas hibridizadas com o DNA para cada um desses genes, fabricado por amplificado para determinar cada alelo ou one Lambda Inc. Este método vale-se da gene, com um padrão da percentagem e de tecnologia Luminex em seu método de tipagem quais microesferas que hibridizam em cada reversa por SSO-DNA.A partir de um sistema alelo ou gene. de multi-análise que consiste em um conjunto de microesferas codificadas por cores de Em seguida da PCR, os fragmentos diferentes comprimentos de onda,as quais de DNA amplificados serão separados por são analisadas num avançado Fluorímetro eletroforese em gel de agarose e tampão TBE de Fluxo. Microesferas codificadas por uma e visualizados por coloração com brometo de determinada cor contêm em sua superfície etídio durante exposição à luz ultravioleta. apenas sondas de oligonucleotídeos Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 173 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV RESULTADOS Análise de freqüências simples: A partir da contagem direta da freqüência alélica do HLA-C, alelos HLA-C*01 ao HLA-C*18, obtivemos a porcentagem de aparecimento destes alelos no grupo amostral de pacientes portadoras de NIC II e NIC III,bem como no grupo amostral de controles. Outro grupo alélico que se mostrou bastante prevalente, segundo a contagem direta de freqüências alélicas, foi o alelo C*07. Este grupo alélico predominou nas pacientes NIC III e controle em detrimento das NIC II. Num total de 14 alelos em um grupo de 60 analisados, correspondendo a 23,33% nas pacientes NIC III. Nos casos NIC II, este alelo foi o segundo mais prevalente: 9 alelos encontrados em um grupo de 60 alelos, o que corresponde a 15% do total. E também no grupo controle, o alelo C*07 teve a maior prevalência, até mesmo em relação aos casos NIC III: 34 alelos encontrados num grupo de 120 alelos, resultando em 28,33% do total de gene analisados. Observamos que o alelo C*04 é mais prevalente nas pacientes NIC II, resultando em um total de 12 alelos numa amostra de 60 , corresponde a 20% do total de alelos analisados. Porém, este alelo C*04 é o segundo alelo de maior prevalência nas pacientes NIC A tabela 1 abaixo analisa a contagem direta e a III, correspondendo a 11 alelos numa amostra comparação das freqüências alélicas de HLA-C de 60 alelos analisados, equivalendo a dos alelos HLA-C*01 ao HLA-C*18. 18,33%.Ainda verificando a freqüência do alelo C*04, observamos também que ele aparece como segundo de maior prevalência entre o grupo controle, sendo este representado por 2n=120, o alelo C*04 representa 19,16%, correspondendo a 23 alelos dos 120 alelos analisados. ALELOS PACIENTES(2n=120) NIC II NIC II(%) NIC III NIC III(%) CONTROLES(2n=120) n % HLA-C*01 2 3,33% 2 3,33% 7 5,83% HLA-C*02 6 10,00% 2 3,33% 3 2,50% HLA-C*03 4 7% 6 10% 12 10% HLA-C*04 12 20% 11 18,33% 23 19,16% HLA-C*05 4 7% 2 3,33% 6 5% HLA-C*06 3 5% 8 13,33% 11 9,16% 9 15% 14 23,33% 34 28,33% 2 3,33% 1 1,66% 6 5% HLA-C*07 HLA-C*08 HLA-C*09 0 0% 0 0% 0 0% HLA-C*10 0 0% 0 0% 0 0% HLA-C*11 0 0% 0 0% 0 0% HLA-C*12 5 8,33% 4 6,66% 7 5,83% HLA-C*13 0 0% 0 0% 0 0% HLA-C*14 1 1,66% 0 0% 1 0,83% HLA-C*15 7 11,66% 3 5% 5 4,16% HLA-C*16 4 6,66% 4 6,66% 3 2,50% HLA-C*17 1 1,66% 3 5% 3 2,50% HLA-C*18 0 0% 0 0% 1 0,08% 174 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV Análise Estatística: TABELA 2:COMPARAÇÃO ENTRE AMOSTRAS E ESTRATOS (ALELOS HLA-C) As comparações entre os grupos amostrais Caso e Controle das freqüências alélicas, gênicas e de homozigotos foram feitas utilizando-se as tabelas de contingência L X C, do programa BioEstat – Aplicações Estatísticas nas áreas das Ciências Biomédicas. C*03 CONTROL - p 10 110 4 56 10 110 6 54 CONTROL 10 110 NIC II+NIC III 10 110 NIC II CONTROL As diferenças serão consideradas estatisticamente significativas ( indicando associação ) nos casos em que p< ou igual 0,05. NIC III Nos casos em que a diferença entre as freqüências alélicas ou gênicas de pacientes e controles apresentarem significância estatística, será calculado “Odds Ratio” (“ OR” ou razão de probabilidades), através da fórmula: OR=(A x D) \ (B x D), Onde A,B,C e D são os valores correspondentes às letras do quadros 1: + + C*04 0,9216 0,9262 <0,001 - CONTROL 23 97 NIC II 12 48 CONTROL 23 97 NIC III 11 49 CONTROL 23 97 NIC II+NICIII 23 97 0,9469 0,9466 <0,001 Pacientes Controles _____________________________________________ Positivo para fator pesquisado A B + C*05 - p CONTROL 6 114 NIC II 4 56 CONTROL 6 114 NIC III 2 58 CONTROL NIC II+NIC III 6 114 6 114 0,9084 ______________________________________________ Negativo para fator pesquisado C D ______________________________________________ Quadro01- VALORES PARA CÁLCULO DE ODDS RATIO,Fonte: WOLF,1995 Quadro 1- VALORES PARA CÁLCULO DE ODDS RATIO A partir da análise entre as amostras e estratificados (alelos HLA-C), foram realizadas as seguintes comparações: grupo controle com NIC II, grupo controle com o NIC III e grupo controle com a soma de NIC II e NIC III. Ainda seguindo a contagem direta do número de alelos presentes e ausentes em cada um destes grupos, utilizamos as tabelas de contingência L X C, do programa BioEstat, a fim de encontrarmos os valores de p. Os grupos alélicos os quais obtivemos valores significativos,p<0,05,foram os grupos:C*03, C*04, C*05, C*08 e C* + C*08 - 6 114 NIC II 2 58 CONTROL 6 114 NIC III 1 59 CONTROL NIC II+NIC III 6 114 3 117 + C*14 <0,001 p CONTROL 0,8982 - 0,8982 0,4955 <0,001 p CONTROL 1 119 NIC II 1 59 CONTROL 1 119 NIC III 0 60 CONTROL NIC II+NIC III 1 119 1 119 0,8015 0,7229 <0,001 Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 175 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV O estudo que fizemos num terceiro momento foi a partir da análise da significância do valor de p nestes grupos alélicos (HLA-C*03, C*04, C*05, C*08, C*14 ) em cada mulher (30 NIC II, 30 NIC III e 60 controles) , e não mais no universo de genes ( 120 casos e 120 controles). A partir da genotipagem destes alelos em relação ao número de pacientes, foi verificado o comportamento destes alelos como sendo fatores de risco ou de proteção ( tabela 03). O valor de p foi significativo nos alelos C*04, C*08 e C*14 na genotipagem das pacientes analisadas,sendo interpretados como fatores de risco para NIC II (alelos C*05 e C*014) e para NIC III(alelos C*05, C*08 e C*14). Os alelos C*03 e C*04 parecem se correlacionar a fator de proteção, pois o valor de p foi significativo para o grupo controle não sendo significativo para o grupo de pacientes. Tabela 3:Genotipagem em relação ao número de pacientes + C*05 - p CONTROL 4 56 NIC II 3 27 CONTROL 4 56 NIC III 1 29 CONTROL 4 56 NIC II+NICIII 4 56 + C*08 - CONTROL 2 58 2 28 CONTROL 2 58 NICIII 1 29 CONTROL 2 58 NICII+NICIII 3 57 C*14 0,8708 <0,001 p NIC II + 0,8893 - 0,8565 CONTROL 1 59 1 29 CONTROL 1 59 NIC III 0 30 CONTROL 1 59 NIC II+NICIII 1 59 TABELA 04:PERFIL EPIDEMIOLÓGICO NIC II(n=30) NIC III(n=30) CONTROLES(n=60) 29,9anos Médio Compl(43,33%) 32,57anos ESCOLARIDADE Médio Completo(40%) 34,5anos Médio Completo(36,66%) FERTILIDADE 1,4 filhos 2,13 filhos 1,9filhos SEXUALIDADE 3,83 parceiros 7,53parceiros 2,833parceiros ETNIA 96,66%brancas 76,66%brancas 65%brancas ABORTOS 6,66%(2casos) 10%(3casos) 11,66%(7casos) IDADE 1ºR.S. 15,866 anos 15,53 anos 17,05anos IDADE 1ºPARTO 16,8 anos 16,53 anos 17,51anos FAIXA ETÁRIA(média) (média) Analisamos a história reprodutiva destas mulheres enfatizando a análise da fertilidade (número de gestações) e número de abortos. Observamos que as mulheres com maior número de gestações apresentavam NIC III (média de 2,3 filhos), enquanto que as controles apresentavam menor número de gestações (1,4 filhos em média), corroborando o fato de a multiparidade ser um fator de risco para CC. O índice de abortos correspondeu a 7 casos do grupo controle(11,66% das 60 mulheres),ligados aos alelos C*03 e C*04; 2 casos das pacientes NIC II (6,66% das 30) relacionados aos alelos C*05 e C*14; e 3 casos das NIC III ( 10% das 30) associados aos alelos C*05, C*08 e C*14. DISCUSSÃO <0,001 1.000 p NIC II Traçou-se também um perfil epidemiológico acerca da faixa etária média, escolaridade, fertilidade ( número de filhos), sexualidade ( número de parceiros sexuais ), etnia, abortos, idade da primeira relação sexual e idade da primeira gestação, correspondentes a NIC II, NIC III e controle em percentagem (Tabela 5). 0,8004 0,7222 <0,001 A infecção por HPV é a principal causa de progressão e desenvolvimento de CC,tanto nos estágios NIC II, NIC III ou mesmo carcinoma invasor. De posse dos dados analisados e todo o trabalho de pesquisa realizado, concluímos que o HPV desenvolve-se com maior prevalência em mulheres com idade entre 15 e 35 anos, jovens portanto, de classe socioeconômica relativamente baixa, por não terem acesso aos meios de prevenção e rastreamento. Além de carência na orientação a cerca das formas de contato e fatores de risco associados. Também verificou-se que quanto mais baixo o nível de instrução escolar, maiores são as taxas de CC nos estágios NIC da doença. 176 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV RMR Corroborando o que foi levantado no início deste trabalho, observamos em nossos resultados que a multiparidade está intimamente relacionada a fator de risco para CC, bem como início precoce da primeira relação sexual, número de parceiros sexuais (quanto maior o número de parceiros sexuais, mais grave são as formas da doença). Também idade prematura da primeira gestação (observamos maior prevalência de CC em mulheres que tiveram o primeiro filho dos 15 aos 20 anos em detrimento das que tiveram a primeira gestação depois dos 25 ou 30 anos). Foi verificada a associação entre os alelos C*03, C*04 e C*05 e C*08 com abortos,sendo que os primeiros alelos (C*03 e C*04) parecem se comportar como fatores de proteção para o CC. Já o alelo C*05 parece estar ligado a fator de risco para NIC II e NIC III, assim como o alelo C*08 mostra-se associado com fator de risco para NIC III. Por outro lado, o alelo C*14 que parece não correlacionar-se a abortos, comporta-se como fator de risco para NIC II e NIC III. Não foi conseguido provar a ligação direta da infecção por HPV e o CC com as taxas de aborto espontâneo, porém infere-se a associação do aborto de algumas pacientes NIC II e NIC III com determinados alelos HLA-C presentes na maioria delas. Concluímos que a análise dos dados e descobertas desta pesquisa podem auxiliar na prevenção e estudo do CC a partir da análise do perfil HLA-C e seus principais alelos envolvidos tanto quanto fatores de risco e\ou proteção da doença, bem como na presença ou não de abortos afim de diminuir as taxas deste e também a morbimortalidade pelo câncer de colo uterino. CONCLUSÃO ABSTRACT Objective: The Human papillomavirus (HPV) infection is the main cause to the development and progression of the cervical cancer (CC), responsible for the death of more than 274.000 womens per year in the world. The HPV infection is able to induce precursors lesions from low to high grade (NIC I, II, III) as far as invasive lesions; wherein only a few portion of women infected will exhibit an invasive cervical cancer (1%). The immune response against HPV protein antigens is mediated by T lymphocytes and restricted to HLA (Human Leucocyte Antigens); the main human histocompatibility complex. Consequently, the HLA phenotypes type I may be associated with a factual immune response against HPV. This study aims to inquire the potencial association among the HLA-C gene with protection or propensity to develop a cervical cancer from the HPV infection, as well evaluate the HLA-C profile and the reproductive history of virus-infected women, assessing their parities and the proportions of natural abortions with respect to immunogenic profile of these women. Methods: For this purpose, the HLA-C genotyping was performed in 30 women diagnosed with cervical intraepithelial neoplasm grade II and in 30 women with cervical intraepithelial neoplasm grade III, at Erasto Gaertner Hospital, facing them with 60 patients control group without histopathological lesions of the uterus, with the median age between 15 to 45 years old. There was used for the DNA extraction the salting out process and the Polymerase Chain Reaction-Sequence Specific Oligonucleotide Probes for the HLA-C alleles classification. Results: The alleles groups with distinct presentation when compared to the control group were HLA-C*05, HLA-C*08 e HLA-C*14 (p<0,001) wherein the HLA-C*05 allelic group behaved as a risk factor for developing NIC II and NIC III, also associated to a greater abortion number. The allelic group HLA-C*08 behaved as a risk factor for developing NIC III and a higher propensity for abortions, while C*14 showed association with NIC II e NIC III, nevertheless without relation to abortions. At the same way, the alleles C*03 e C*04 appear to be associated with protection factors against HPV, but related to abortions. Conclusion: It was also observed that the women with a greater pregnancies number were diagnosed with NIC III (median of 2,3), while the control group showed a lower pregnancies proportion(median of 1,4), confirming the relation between multiparity as a risk factor for cervical cancer. Keywords: HLA-C profile; Reproductive History;HPV Infection. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 177 O Perfil HLA-C e a História Reprodutiva de Mulheres Infectadas com HPV REFERÊNCIAS 1. Abbas AK, lichtman AH. Imunologia celular e molecular. 5 ed. Rio de Janeiro:Elsevier; 2005. 2. Adam E, Berkova Z, Daxnerova Z, Icenogle J, Reeves WC, Kaufman RH. 3. Papillomavirus detection: demographic and behavioral characteristics influencing the identification of cervical disease. Am J Obstet Gynecol 2000;182(2):257-64. 4. Ayres M, Ayres Jr M, Ayres DL, Santos AAS. Bioestat: aplicações estatísticas nas áreas das Ciências da Saúde. Belém; 2005. 5. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância de Câncer. Estimativas 2010: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2009. 6. Castellsagué X. Natural history and epidemiology of HPV infection and cervical câncer. Gynecologic oncology, New York 2008;110(3), suppl. 2:S4-S7. 7. 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Recebido em: 4/08/2014 Aprovado em 30/9/2014 Fonte de financiamento: nenhum Conflito de interesse: nenhum Endereço para correspondência: Tatiane Élen de Souza Hospital Erasto Gaertner Rua Ovande do Amaral, 201 Jardim das Américas, Curitiba - PR, 81520-060 (41) 3361-5000 E-mail: [email protected] 178 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 Artigo original RMR Diferença Dosimétrica recebida por órgão de risco na braquiterapia ginecológica: a influência proporcionada pelo tamponamento vaginal na dose sobre o reto Dosimetric difference received by organ at risk in gynecologic brachytherapy: the influence afforded by vaginal tamponade in dose on the rectum Rejane Carolina de Oliveira Franco1 Patricia Mineiro de Oliveira2 Isabelle Peron3 Marcio Umeda Takashima4 Cintia Maçãs Soares5 Melissa Funchal6 Objetivo: Este trabalho retrospectivo objetiva avaliar o valor do tamponamento vaginal sobre a dose do reto no procedimento da braquiterapia ginecológica. Métodos: Foram avaliados 22 planejamentos técnicos de pacientes submetidas a Braquiterapia ginecológica no serviço de Radioterapia do Hospital Erasto Gaertner no ano de 2013 com tumores de colo uterino localmente avançados que durante o procedimento braquiterápico fizeram uso do afastador retal. Resultado: Analisou-se as curvas de dose sobre o reto durante o procedimento de Braquiterapia Ginecológica, comparando as curvas da paciente com gaze sobre o reto e da mesma paciente sem a gaze. A dose média recebida sobre o ponto de cálculo do reto com a utilização do afastador foi de 2425,991 cGy e a dose estimada sobre o mesmo ponto na hipótese do afastador retal não ter sido utilizado foi de 2996,25 cGy. A avaliação estatística com o uso de teste T para dados pareados mostrou significância estatística em favor do uso do afastador retal, com p significativo < 0,001. Conclusão: Sendo assim, sugere-se a utilização de afastador retal nas inserções de braquiterapia vislumbrando menor dose retal, possibilitando menor incidência de para-efeitos nas pacientes. Descritores: Braquiterapia; Órgão de risco; Tamponamento vaginal; Complicações retais. Trabalho realizado no Serviço de Radioterapia do Hospital Erasto Gaertner . Curitiba, Paraná. 1. Médica Residente em Radioterapia no Hospital Erasto Gaertner 2. Médica Residente em Radioterapia no Hospital Erasto Gaertner 3. Residente em Física Médica no Hospital Erasto Gaertner 4. Médico Residente em Radioterapia no Hospital Erasto Gaertner 5. Médica Residente em Radioterapia no Hospital Erasto Gaertner 6. Física Médica Titular do Serviço de Radioterapia no Hospital Erasto Gaertner Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 179 Diferença Dosimétrica recebida por órgão de risco INTRODUÇÃO O câncer do colo uterino é o terceiro câncer mais frequente do sexo feminino no mundo e em vários países em desenvolvimento ele ocupa o primeiro lugar em incidência global1. No Brasil, ele representa o segundo câncer mais frequente do sexo feminino2. O tratamento desta patologia depende do seu estadiamento. Pacientes com tumor localmente avançado necessitam de Radioterapia Externa (Teleterapia) concomitante a Quimioterapia e Braquiterapia3. A braquiterapia é componente essencial para o sucesso do tratamento. Através dela é possível obter doses elevadas de irradiação para o volume alvo sem que as estruturas normais vizinhas recebam dose além dos limites de tolerância4. Esta técnica pode ser realizada com baixa taxa de dose(0,4 a 2Gy/h), média (2 a 12Gy/h) ou alta taxa de dose(>12Gy/h). Os implantes são temporários e os resultados são semelhantes entre as três modalidades5. O número de inserções varia de instituição para instituição, com alguns centros recomendando três a quatro aplicações, enquanto outros recomendam até 12 frações6,7. No Brasil, a maioria dos centros utiliza 4 frações. Houve evolução técnica substancial nessa modalidade terapêutica nos últimos 30 anos. Diferentes aplicadores foram desenvolvidos para adaptar a anatomia do colo e do útero. A maioria inclui uma sonda intrauterina(tandem) e dois colpostatos(ou ovoides). Os sistemas habitualmente mais utilizados são o de Manchester, o sistema de Fletcher(posteriormente Fletcher-Suit)8 e o de Henschke9. Alguns sistemas como o de Fletcher têm proteções internas nas superfícies posterior e anterior dos colpostatos para reduzir a dose para a bexiga e o reto. O implante ideal produz uma distribuição de dose em forma de pera, com dose alta no colo uterino e tecidos paracervicais e dose mínima no reto e bexiga. A fim de padronizar a maneira de relatar a dose e o volume do tratamento, foi desenvolvido o relatório número 38 da International Comission on Radiological Units and Measurements (ICRU)10. Ele lista um número de itens que devem ser incluídos no relato da braquiterapia, entre eles o tipo de sistema intracavitário aplicado, o isótopo utilizado, a dose recebida em determinados pontos relevantes ao controle do tumor e a dose no reto e na bexiga. Para que haja menor taxa de dose sobre o ponto de prescrição do reto, o ICRU 38 recomenda o tamponamento vaginal sobre o reto, geralmente com a utilização de gazes, para afastamento físico do órgão e consequentemente menor dose recebida. Por não se tratar de procedimento compulsório, em muitas aplicações não são inseridas gazes para afastamento do reto, estando sua inserção sujeita a preferência médica na hora do procedimento. Objetivamos com este estudo avaliar a diferença dosimétrica possível sobre o reto com e sem a utilização de tamponamento vaginal sobre o órgão durante o procedimento da braquiterapia. Uma vez que tal manobra possibilite menores doses absolutas no reto, possivelmente também seja minimizado o risco de complicações retais, tanto agudas como crônicas, trazendo benefício para as pacientes tratadas com braquiterapia ginecológica. MÉTODOS Estudo com delineamento retrospectivo, transversal e observacional. Foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner e objetivou avaliar a dose estimada no ponto de cálculo sobre o reto durante a braquiterapia ginecológica das pacientes com tumores de colo uterino localmente avançado. Foram incluídas pacientes com diagnóstico de câncer de colo de útero estadio clínico IIB, IIIA ou IIIB submetidas a braquiterapia ginecológica no serviço de radioterapia do Hospital Erasto Gaertner, com término das sessões prescritas entre 01 de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2013 e que durante o procedimento braquiterápico fizeram uso do afastador retal. Foram excluídas da análise as pacientes histerectomizadas, que utilizaram outro sistema de colpostatos diferente do mini-ovóide ou estiveram sob anestesia durante o procedimento. 180 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR Diferença Dosimétrica recebida por órgão de risco O estudo avaliou o planejamento técnico das pacientes selecionadas, analisando a dose estimada no ponto de cálculo do reto com a utilização do afastador retal e no mesmo planejamento foi avaliada a dose recebida pelo órgão caso o afastador não estivesse presente. O afastador retal utilizado era constituído de duas gazes com contraste para melhor visualização. TABELA 02 COMPARATIVO DE DOSE TOTAL MÉDIA COM E SEM GAZE (p < 0.001) 3000 2500 2425.991 2996.25 2000 1500 COM GAZE 1000 As doses foram calculadas em cada 0 planejamento técnico individual. Cada uma COM GAZE das pacientes foi submetida a 4 aplicações de braquiterapia ginecológica, sendo as doses sobre o órgão de risco (reto) avaliadas em cada planejamento e somadas ao final para comparação. Discussão SEM GAZE 500 S1 SEM GAZE DOSE TOTAL ABSOLUTA MEDIA (cGy) Os dados foram analisados Na aplicação ideal em braquiterapia estatisticamente utilizando o teste T para dados é possível atingir dose alta no tumor e ao pareados. mesmo tempo respeitar a tolerância dos tecidos normais. O tamponamento vaginal RESULTADOS através de gazes aumenta a distância entre as fontes e os órgãos em risco como reto e Foram avaliados os planejamentos bexiga, diminuindo, portanto, as doses para técnicos de 22 pacientes. Foram comparadas essas estruturas. A dose recebida pelo reto é as doses estimadas com e sem afastador retal um item a ser sempre incorporado no relato do de forma individual em cada paciente (tabela tratamento intracavitário e deve corresponder a 01) e também globalmente. A dose média 80% ou menos da dose prescrita no ponto A. recebida sobre o ponto de cálculo do reto com a utilização do afastador foi de 2425,991 cGy A relação entre a dose dada e a dose estimada sobre o mesmo ponto na no ponto de cálculo retal somando as doses hipótese do afastador retal não ter sido utilizado da radioterapia externa e da braquiterapia foi de 2996,25 cGy (tabela 02). com o desenvolvimento de complicações mostram uma forte correlação dose-resposta, A avaliação estatística com o uso de teste com o limiar para complicações ocorrendo T para dados pareados mostrou significância aproximadamente em 125Gy. Atualmente estatística em favor do uso do afastador retal, a sociedade americana e europeia de com p significativo < 0,001. braquiterapia recomendam que a dose a ser entregue no reto seja menor que 75Gy ao TABELA 01 somar a dose da radioterapia externa com a braquiterapia e que a Dose Biológica Efetiva (BED) seja menor que 125Gy11,12. COMPARATIVO DE DOSE ABSOLUTA TOTAL COM E SEM GAZE DOSE ABSOLUTA TOTAL EM 4 INSERÇÕES (cGy) 5000 4500 4000 3500 3000 COM GAZE 2500 SEM GAZE 2000 Como mostrado nessa análise de dados, a colocação de afastador retal diminui significantemente a dose recebida pelo reto, o que possivelmente resultará em menores índices de para-efeitos agudos e crônicos para as pacientes. 1500 1000 500 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 PACIENTES Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 181 Diferença Dosimétrica recebida por órgão de risco Em nossa análise, não foi avaliada a taxa de complicações retais agudas ou crônicas, porém o resultado de menores doses sobre o reto com a utilização de afastador retal, sugere menores taxas de complicações como proctite, fístulas ou estenoses. É importante lembrar do ponto de vista clínico que comorbidades como diabetes mellitus, doença inflamatória intestinal e doença hipertensiva contribuem para a predisposição aos para-efeitos da radiação, exaltando a insubstituível importância do acompanhamento da paciente. Conclusão Sendo assim, sugere-se rotineiramente a utilização de afastador retal nas inserções de braquiterapia além do frequente acompanhamento clínico, vislumbrando menor dose retal para maior benefício clínico para das pacientes. ABSTRACT Objective:This retrospective study aim to asses the value of the vaginal packing in relation to the dose received in the rectum at the gynecologic brachytherapy. Methods: It was evaluated 22 technical planning from patients who underwent gynecologic brachytherapy with a vaginal packing above the rectum during the procedure that was performed at the Erasto Gaertner Hospital, Radiation Oncology department, during the year 2013 due to a locally advanced cervical cancer. It was essayed the isodose curves above the rectum during the brachytherapy procedure, comparing these curves with the use of a vaginal packing and after the curves without the packing at the same patient. Results: The median dose received by the particular point for the rectum using the packing was 2425,991 cGy and the estimated dose at the same point if the packing would not be placed was 2996,25 cGy. The statistical analysis was performed by the T test for paired data and showed statistical significance, favoring the use of the vaginal packing, with p value< 0,001. Conclusion: Thus, it’s proponed the vaginal packing regular use to goal lower doses in the rectum, enabling lower incidence of side effects at these patients. KEY-WORDS: Brachytherapy; Organs at risk; vaginal packing; rectal side effects. REFERÊNCIAS 1. Jemal A, Bray F, Center MM, Ferlay J, Ward E, Forman D. Global cancer statistics. CA Cancer J Clin. 2011; 61:69-90. 2. INCA. Instituto Nacional do Câncer. 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Treatment results of high dose rate brachyterapy in patients with câncer of the cervix. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 1993;27:803-9 8. Fletcher GH, Shalik RJ, Wall JA. A physical approach to the design of applicators in radium therapy of cancer of the uterine cervix. Am J Roentgenol. 1952; 68:935-49 9. Henschke UK. Afterloading applicator for radiation therapy of carcinoma of the uterus. Radiology. 1960 May;74:834 10. ICRU 38: International Comission on Radiation Units and Measurements report 38: dose and volume specification for reporting intracavitary therapy in gynecology;1985. 11. Viswanathan AN, Beriwal S, De Los Santos JF, Demanes DJ, Gaffney D, Hansen J, et al. American Brachytherapy Society consensus guidelines for locally advanced carcinoma of the cervix. Part II: Highdose-rate brachytheraphy. Brachytherapy. 2012; 11:47-52 12. Potter R, Haie-Meder C, Van Limbergen E, Barillot I, De Brabandere M, Dimopoulos J, et al. 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Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR Artigo original AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/ ESPIRITUALIDADE E DEPRESSÃO, EM PACIENTES SUBMETIDAS À MASTECTOMIA OU QUADRANTECTOMIA COM LINFADENECTOMIA AXILAR SELF CONCEPT, QUALITY OF LIFE, RELIGIOSITY/SPIRITUALITY AND DEPRESSION, IN PATIENTS UNDERGONE MASTECTOMY OR QUADRANTECTOMY WITH AXILLARY LYMPHADENECTOMY Maria Carolina Mendes de Oliveira1 Lorraine Lorene Félix Cardoso1 Flaviano Andrade e Lopes2 Neil Ferreira Novo3 Yara Juliano3 Taylor Brandão Schnaider4 RESUMO OBJETIVO: O objetivo desta pesquisa foi avaliar autoestima, qualidade de vida, religiosidade/ espiritualidade e depressão, em pacientes submetidas à mastectomia ou quadrantectomia com linfadenectomia axilar. MÉTODOS: Estudo clínico, consecutivo, prospectivo, transversal e de centro único. A casuística foi composta por 25 pacientes, idade entre 23 e 65 anos, usuárias do serviço de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade do Vale do Sapucaí. Foram aplicados: instrumento contendo dados sócio-demográficos, Escala de autoestima Rosenberg (UNIFESP/EPM), Medical Outcomes Study 36-item Short-form Health Survey (SF-36), WHOQOL-SRPB e Inventário de Depressão de Beck (IDB). Foi empregado o teste de Mann-Whitney para comparar as dimensões do SF-36 e as facetas do WHOQOL-SRPB com a idade (≤ 50 anos e > 50 anos) e fixado em 5% o nível de rejeição da hipótese de nulidade. RESULTADOS: Com relação à autoestima: 1 paciente apresentou pontuação dentro da normalidade e 24 apresentaram baixa autoestima. Quanto ao SF-36: os menores escores médios, tanto nas pacientes com idade até 50 anos como nas acima de 50 anos, foram nas dimensões Aspectos Físicos, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Limitação por Aspectos Econômicos, Aspectos Emocionais e Saúde Mental, sendo que no domínio Aspectos Físicos ocorreu diferença estatística significante entre pacientes até 50 anos e acima de 50 anos. Com relação ao WHOQOL-SRPB: as facetas apresentaram escores semelhantes e mais próximos do valor máximo. Quanto à depressão: 18 não apresentaram (72%) e 7 apresentaram de forma leve/moderada (28%). CONCLUSÃO: As pacientes apresentam baixa autoestima e comprometimento da qualidade de vida, professam religiosidade e espiritualidade e a maioria não apresenta depressão. DESCRITORES: Autoimagem; Neoplasias da Mama; Qualidade de Vida; Religião; Espiritualidade; Depressão. Trabalho realizado no Centro de Ensino e Treinamento do Serviço de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso Alegre, MG, Brasil. 1. Acadêmica do Curso de Medicina da Universidade do Vale do Sapucaí 2. Residente (ME3) do Centro de Ensino e Treinamento do Serviço de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso Alegre, MG, Brasil. 3. PhD Professor(a) Titular do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde da Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso Alegre, MG, Brasil. 4. MD, PhD Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina e do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde da Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso Alegre, MG, Brasil. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 183 AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/IRITUALIDADE E DEPRESSÃO INTRODUÇÃO O câncer de mama é a neoplasia maligna mais temida pelas mulheres, devido à sua alta frequência e, sobretudo, pelos efeitos psicológicos de seu tratamento, que afetam a percepção de sexualidade e a própria imagem corporal. São esperados 57120 novos casos de câncer de mama, com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres, no Brasil, em 20141. O diagnóstico precoce do câncer de mama feminino permite uma indicação ampliada das cirurgias conservadoras, o que melhora a sobrevida total e a qualidade de vida. Entretanto, algumas pacientes preferem o tratamento radical devido ao medo da morte ou de recorrência da doença após uma cirurgia com preservação da mama2,3. A definição de qualidade de vida dada pela Organização das Nações Unidas prevê a percepção individual de um completo bem estar físico, mental e social. Por conseguinte, a avaliação da depressão, qualidade de vida e espiritualidade de mulheres portadoras de neoplasia mamária é de extrema importância, uma vez que permite um maior amparo e entendimento do quadro clínico de tais pacientes. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a autoestima, a qualidade de vida, a religiosidade/espiritualidade e a depressão de pacientes submetidas à mastectomia ou quadrantectomia com linfadenectomia axilar. MÉTODOS Trata-se de um estudo clínico, consecutivo, prospectivo, transversal e de centro único, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Sapucaí (UNIVAS) sob o Número CAAE 03993712.0.0000.5102 (Plataforma Brasil). A população de estudo foi constituída de 25 pacientes portadoras de neoplasia mamária, do Serviço de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade do Vale do Sapucaí (Pouso Alegre, MG), usuárias do Sistema Único de Saúde, abordadas no primeiro dia de pós-operatório, que concordaram em participar da pesquisa depois de esclarecimentos sobre a mesma, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios de inclusão foram: pacientes do gênero feminino, usuárias do Serviço de Mastologia, submetidas à mastectomia ou quadrantectomia com linfadenectomia axilar; idade entre 18 e 65 anos. Os critérios de não inclusão foram: recusa da paciente em participar do estudo; incapacidade de comunicação verbal. Foram utilizados os instrumentos: Escala de autoestima Rosenberg (UNIFESP/ EPM)4; Medical Outcomes Study 36-item Shortform Health Survey (SF-36)5, Espiritualidade (WHOQOL-SRPB)6 e Depressão (Inventário de Beck)7. Para avaliar a autoestima, foi utilizada a Escala de autoestima Rosenberg (UNIFESP/ EPM)4. Trata-se de um instrumento contendo 10 itens, sendo que cinco avaliam sentimentos positivos do humano sobre si mesmo e cinco avaliam sentimentos negativos; cada item é avaliado por uma escala de três pontos, do tipo Likert (concordo fortemente, concordo, discordo e discordo fortemente). O intervalo dessa escala varia de zero a 30; pontuações entre 15 e 25 estão dentro da normalidade, abaixo de 15 sugerem baixa autoestima e acima de 25 demonstram elevada autoestima. O Medical Outcomes Study 36-item Short-form Health Survey (SF-36)5 é um questionário multidimensional formado por 36 itens distribuídos em 11 questões. Foi traduzido para a língua portuguesa, adaptado para a cultura brasileira e validado para uso no Brasil por Ciconelli et al. Dez questões englobam as oito dimensões da vida de um indivíduo: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Uma questão é sobre a saúde geral comparada à de um ano atrás. Apresenta um escore de 0 a 100, em que zero corresponde ao pior estado geral de saúde e 100 ao melhor estado de saúde, com mais uma questão comparativa entre a saúde atual e a de um ano atrás. 184 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/IRITUALIDADE E DEPRESSÃO O WHOQOL-SRPB, traduzido para a língua portuguesa, adaptado para a cultura brasileira e validado para uso no Brasil por Panzini6 et al., avalia a espiritualidade, a religiosidade e as crenças pessoais relacionadas à Qualidade de Vida usando oito facetas: conexão com um ser ou força espiritual, paz interior/serenidade/harmonia, sentido da vida, admiração, totalidade/ integração, força espiritual, fé e esperança/ otimismo. O WHOQOL-SRPB não é um instrumento para avaliar a espiritualidade, mas sim, um instrumento que contempla, de forma ampliada, os aspectos espirituais, religiosos e crenças pessoais. O instrumento WHOQOLSRPB conta com 32 itens com respostas em escala likert de 5-pontos (1 = nada a 5 = extremamente), oito facetas, um índice geral do domínio e oito fatoriais pela média dos itens, resultados de 4 a 20. Os escores elevados indicam mais espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. O Inventário de Depressão de Beck (IDB)7, traduzido para a língua portuguesa, adaptado para a cultura brasileira e validado para uso no Brasil por Gorenstein e Andrade13, consta de 21 questões, configuradas no tempo presente e estabelecidas em uma escala de quatro pontos (zero a três). O propósito do IDB é a evolução da medida de depressão. Cada pergunta se relaciona com uma palavra chave e particular de cada problema. O zero representa um estado não depressivo. As pontuações podem flutuar de zero até 63, indicando as pontuações altas uma maior severidade na depressão. A guia que serve para a interpretação do IDB é: zero a nove = pontuação mínima, não apresenta depressão; 10 a 16 = apresenta depressão leve; 17 a 29 = apresenta depressão moderada; 30 a 63 = apresenta depressão severa. Foi empregado o teste de Mann-Whitney para comparar as dimensões do SF-36 e as facetas do WHOQOL-SRPB com a idade (≤ 50 anos e > 50 anos), sendo fixado em 5% o nível de rejeição da hipótese de nulidade. RMR RESULTADOS Os dados sócio demográficos demonstraram: nível educacional - 1 analfabeta, 11 com ensino fundamental, 9 com ensino médio e 4 com ensino superior; situação conjugal – 17 com companheiro e 8 sem companheiro; cor da pele – 24 brancas e 1 negra; psicoterapia – 1 sim e 24 não; tabagismo – 3 sim e 22 não. Com relação à autoestima: 1 paciente submetida à quadrantectomia com linfadedenectomia axilar apresentou pontuação dentro da normalidade (pontuação = 15) e 24 apresentaram baixa autoestima, sendo 8 submetidas à mastectomia com linfadedenectomia axilar (pontuação média = 6,37) e 16 submetidas à quadrantectomia com linfadedenectomia axilar (pontuação média = 8,25). Média dos valores atribuídos às dimensões do SF-36: capacidade funcional –≤ 50 anos 93,12 e > 50 anos 86,11; limitação por aspectos físicos –≤ 50 anos 54,69 e > 50 anos 19,44 * (diferença estatística significante, teste de Mann-Whitney); dor – ≤ 50 anos 74,75 e > 50 anos 72,44; estado geral de saúde –≤ 50 anos 59,94 e > 50 anos 68,22; vitalidade – ≤ 50 67,81 anos e > 50 anos 70,00; aspectos sociais – ≤ 50 anos 71,87 e > 50 anos 81,94; limitação por aspectos econômicos –≤ 50 anos 58,33 e > 50 anos 59,26; aspectos emocionais e saúde mental -≤ 50 anos 66,75 e > 50 anos 71,11. Média dos valores atribuídos às facetas do WHOQOL-SRPB: conexão com um ser ou força espiritual -≤ 50 anos 19,06 e > 50 anos 19,11; paz interior/serenidade/harmonia –≤ 50 anos 17,56 e > 50 anos 17,44; sentido da vida –≤ 50 anos 18,50 e > 50 anos 18,33; admiração –≤ 50 anos 18,19 e > 50 anos 19,11; totalidade/ integração –≤ 50 anos 17,50 e > 50 anos 18,44; força espiritual –≤ 50 anos 18,00 e > 50 anos 19,33; fé –≤ 50 anos 18,56 e > 50 anos 19,33; esperança/otimismo –≤ 50 anos 17,75 e > 50 anos 17,56. Quanto à depressão: 18 não apresentaram (72%) e 7 apresentaram de forma leve/moderada (28%). Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 185 AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/IRITUALIDADE E DEPRESSÃO DISCUSSÃO Revisão sistemática de artigos publicados entre 2000 e 2010 em revistas científicas indexadas, por meio de busca nas bases de dados bibliográficos SciELO, PubMed, PePSIC e PsycINFO, constatou que o adoecimento por neoplasia da mama acaba por adoecer também a imagem corporal da mulher assistida e que seu impacto varia conforme o tipo de procedimento cirúrgico realizado, os tratamentos complementares adotados, a rede de apoio que cerca a paciente e suas características individuais8. Estudo clínico e transversal, utilizando a escala de autoestima de Rosemberg, em 54 pacientes portadoras de neoplasia mamária, com idade variando entre 28-68 anos, verificou que as mulheres de faixa etária entre 43-55 anos apresentaram maior autoestima em relação às mais jovens entre 28-42 anos, contudo sem diferença estatística significante em relação às mais idosas entre 56-68 anos. Verificaram também que aquelas que haviam recebido um tratamento conservador, em ralação às mastectomizadas, tinham uma imagem corporal mais positiva, assim como uma correlação negativa entre deterioração da qualidade de vida depois da cirurgia e a imagem corporal9. Estudo clínico em pacientes submetidas à tratamento cirúrgico por câncer de mama, utilizando o instrumento de autoestima Rosenberg (UNIFESP/EPM) encontrou uma média de 7,9 no grupo mastectomizado e 9,8 no grupo de cirurgia conservadora, concluindo que a perda da mama promove um impacto negativo na autoestima das pacientes10. Nesta pesquisa verificou-se que as pacientes relataram baixa autoestima, contudo as que haviam recebido um tratamento conservador apresentaram uma pontuação mais elevada em relação às mastectomizadas. Estudo transversal e quantitativo, aplicando os instrumentos de caracterização dos entrevistados e o Medical Outcomes Study 36-item Short-form Health Survey (SF-36), em 50 mulheres com diagnóstico de câncer de mama e que foram submetidas à mastectomia com (G1)ou sem reconstrução mamária (G2) e à quadrantectomia que não necessita reconstrução (G3) ou que necessitava reconstrução e não foi realizada (G4), constatou que: os menores escores médios para todos os oito domínios foram verificados no G1; os Grupos G1 e G3 tiveram melhores escores em todos os domínios, na comparação com os grupos G2 e G4; comparando os grupos de mulheres mastectomizadas, o grupo G1 teve todos os escores superiores ao grupo G2, demonstrando melhor qualidade de vida das mulheres que se submeteram à reconstrução da mama; comparando os grupos de mulheres submetidas à quadrantectomia, o G3 teve todos os escores superiores ao G4, à exceção dos Aspectos Emocionais, onde o G4 teve uma leve elevação. Os autores concluíram que o grupo das mastectomizadas que não realizaram a reconstrução tem um nível muito baixo de qualidade de vida, seguido pelo grupo das que realizaram a quadrantectomia e não fizeram reconstrução11. Pesquisa descritiva, exploratória, transversal e quantitativa, aplicando os instrumentos formulário com dados pessoais, Índice de Katz e Índice de Lawton para Capacidade Funcional, European Organisation for Research and treatment of Cancer Quality of Life questionnarie (EORTC-QLQ-30) e European Organization for Research and Treatment of Cancer Breast Cancer-Specific Quality of Life Questionnaire (EORTC-QLQBR23) para qualidade de vida, em 42 mulheres após tratamento de neoplasias mamárias, evidenciou que as pacientes vivenciam alteração na capacidade funcional, o que prejudica a realização de suas atividades cotidianas e sua participação social, levando a um comprometimento na qualidade de vida12. 186 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/IRITUALIDADE E DEPRESSÃO Estudo descritivo, com abordagem quantitativa, aplicando o instrumento European Organization for Research and Treatment of Cancer Breast Cancer-Specific Quality of Life Questionnaire (EORTC-QLQ-BR23), em 20 mulheres portadoras de câncer de mama, observou comprometimento na qualidade de vida das pacientes, sendo que os escores mais baixos estiveram relacionados ao desempenho e satisfação sexual e às perspectivas futuras, e melhores escores relacionados à Escala de Sintomas13. RMR Pesquisa clínica não probabilística, por meio de uma entrevista semi-estruturada, em pacientes oncológicos, constatou que ocorre uma significativa influência da religiosidade/ espiritualidade na qualidade de vida destes humanos, assim como uma intensificação da fé após o diagnóstico da doença16. Neste estudo observou-se que todas as facetas do WHOQOL-SRPB apresentaram escores semelhantes e mais próximos do valor máximo, demonstrando serem os aspectos religiosos e espirituais, valiosas ferramentas Nesta pesquisa constatou-se que os que auxiliam o humano a enfrentar uma doença menores escores médios, tanto nas pacientes que o expõe ao risco de morte, influenciando com idade até 50 anos como nas acima de 50 positivamente em sua saúde. anos, foram nos domínios Aspectos Físicos, Estudo observacional de corte transversal, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Limitação descritivo, analíticoeprospectivoem25mulheres por Aspectos Econômicos e Aspectos em tratamento de neoplasia mamária, aplicou a Emocionais e Saúde Mental, sendo que no Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão domínio Aspectos Físicos ocorreu diferença (HADS), o instrumento de Qualidade de Vida estatística significante entre pacientes até 50 (WHOQOL-bref) e um formulário com perguntas anos e acima de 50 anos. preenchidas pelo examinador, relativas às Revisão não sistemática relacionada à condições socioculturais, dando ênfase a espiritualidade constatou que pacientes com antecedentes de eventos estressantes, como câncer relataram que a religião auxiliou-os a lidar perda de parentes próximos, separação ou com a doença, que a fé foi um fator importante divórcio que pudessem influenciar no aspecto na busca por significado e na capacidade de emocional das pacientes antes do diagnóstico. lidar com o diagnóstico, que o alto nível de Os resultados constataram que 52% das espiritualidade diminuiu a ansiedade diante da pacientes reconheceram que houve eventos doença e que suas vivências religiosas ajudou- estressantes antes do câncer de mama, 28% (sete) apresentaram ansiedade e 16% (quatro) os a sustentar suas esperanças14. apresentaram depressão17. Revisão sistemática nas bases de Estudo clínico em 472 mulheres, maiores dados LILACS, MEDLINE, PsycINFO e Web de 18 anos, em tratamento de câncer mamário of Science referente ao coping religioso/ ou ginecológico, utilizando o Patient Health espiritual (CRE) em mulheres com câncer de Questionaire (PHQ-9), constatou que 24% mama e dos efeitos na adaptação à doença, apresentam critérios de transtorno depressivo verificou a primazia do padrão positivo do CRE importante, existindo correlação da depressão quando comparado ao negativo, sendo que com dor, ansiedade e qualidade de vida três estudos não demonstraram relação entre o relacionada à saúde18. CRE positivo e o bem-estar físico e psicológico, ao passo que cinco estudos relataram que Estudo clínico, transversal, realizado em o CRE negativo estava associado a um pior 71 mulheres com câncer de mama, utilizando o ajustamento psicológico15. instrumento Inventário de Depressão de Beck – Short Form, observou que a prevalência de sintomas depressivos foi de 29,6% (21 casos) 19. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 187 AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/IRITUALIDADE E DEPRESSÃO Nesta pesquisa, verificou-se que 18 pacientes portadoras de neoplasia mamária não apresentaram depressão (72%) e 7 apresentaram depressão leve/moderada (28%), dados que corroboram os encontrados na literatura científica. CONCLUSÃO As pacientes apresentam baixa autoestima e comprometimento da qualidade de vida, professam religiosidade e espiritualidade e a maioria não apresenta depressão. ABSTRACT Objective: The purpose of this study was to evaluate the self-esteem, quality of life, religiosity/spirituality and depression in patients undergone mastectomy or quadrantectomy with axillary lymphadenectomy. METHODS: It is a clinical, consecutive, prospective, transversal and single center trial. The series consisted of 25 patients, aged between 23 and 65 years, users of the Mastology Service at Hospital das Clínicas da Universidade do Vale do Sapucaí. Instruments were applied: questionnaire containing socio-demographic data, self-esteem Rosenberg (UNIFESP/ EPM) Scale, Medical Outcomes Study 36-item Short-form Health Survey (SF-36), WHOQOL-SRPB and Beck’s Depression Inventory (BDI). The Mann-Whitney’s test was employed to compare the SF-36’s dimensions and the WHOQOL-SRPB’s facets in relation to age (≤ 50 years and > 50 years) and fixed at 5% the level of rejection of the null hypothesis. RESULTS: About the self-esteem: one patient showed a punctuation within normality and 24 showed low self-esteem. Regarding SF-36: the lowest mean scores in the patients, aged up to 50 years and over 50 years, were in the dimensions: physical aspects, general health, vitality, economic aspects limitation, emotional aspects and mental health, however, in the dimension physical aspects occurred a significant statistical difference between patients aged up to 50 years and older than 50 years. About the WHOQOL-SRPB: the facets had similar scores and closer to the maximum value. Regarding depression: 18 didn’t show (72%) and 7 had low/moderate (28%). CONCLUSION: The patients showed low self-esteem and quality of life impairment, profess religiosity and spirituality and the majority do not exhibit depression. KEYWORDS: Self Concept; Breast Neoplasms; Quality of Life; Religion; Spirituality; Depression REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Almeida TR, Guerra MR, Filgueiras MST. Repercussões do câncer de mama na imagem corporal da mulher: uma revisão sistemática. Physis Revista de Saúde Coletiva. 2012;22:1003-29. 9. Manos D, Sebastián J, Bueno MJ, Mateos N, de la Torre Morrow M, Scott SK, Menck HR, Mustoe TA, Winchester A. Body image in relation to self-steem in a simple of spanish DP. Factors influencing the use of breast reconstruction women with early-stage breast cancer. Psicooncología. postmastectomy: a national cancer database study. J Am 2005;2:103-16. Coll Surg. 2001;192:1-8. 10. Oliveira ACS, Sabino Neto M, Veiga DF, Archangelo SCV, Bajaj AK, Kon PS, Oberg KC, Miles DAG. A esthetic Andrade CHV, Novo NF, Ferreira, LM. Mastectomia: impacto outcomes in patients undergoing breast conservation therapy auto-estima das pacientes. Rev bras mastologia. 2006;16:156-60. for the treatment of localized breast cancer. Plast Reconstr 11. Simeão SFAP, Landro ICR, De Conti MHS, Gatti MAN, Surg 2004; 114:1442-9. Delgallo WD, De Vitta A. Qualidade de vida em grupos de Dini GM, Quaresma MR, Ferreira LM. Adaptação cultural e mulheres acometidas de câncer de mama. Ciência & Saúde Coletiva. 2013;18:779-88. Validação da versão brasileira da Escala de Auto-Estima de Rosenberg. Rev Soc Bras Cir Plást. 2004;19:41-52. 12. Fangel LMV, Panobianco MS, Kebbe LM, Almeida AM, Gozzo TO. Qualidade de vida e desmpenho de atividades Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma cotidianas após tratamento das neoplasias mamárias. Acta paul MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF- enferm. 2013;26:93-100. 36 (Brasil SF-36). Rev bras reumatol. 1999; 39(3):143-50. 13. Panobianco MS, Magalhães PAP, Oliveira ISBO, Gozzo TO. Depressão e fadiga na qualidade de vida de mulheres com câncer Panzini RG, Maganha C, Rocha NS, Bandeira DR, Fleck de mama. Rev Rene. 2011;12:247-52. MP. Validação brasileira do Instrumento de Qualidade de Vida/espiritualidade, religião e crenças pessoais. Rev Saude 14. Saad M, Masiero D, Battistella LR. Espiritualidade baseada Publica. 2011; 45(1):153-65. em evidências. Acta Fisiátrica. 2001;8:107-12. Gorestein C, Andrade L. Validation of a Portuguese version 15. Veit CM, Castro EK. Coping religioso/espiritual e câncer de mama: uma revisão sistemática da literatura. Psicologia, of the Beck Depression Inventory and the State-Trait Saúde & Doenças. 2013;14:1-22. Anxiety Inventory in Brazilian subjets. Braz J Med Biol 16. Geronasso MCH, Coelho D. A influência da religiosidade/ Res. 1996;29(4):453-7. espiritualidade na qualidade de vida das pessoas com câncer. Saúde Meio Ambient. 2012;1:173-87. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2014. Incidência de câncer no Brasil. (cited 2014 Jun01); Available from: http://www2.inca.gov.br 188 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 AUTOESTIMA, QUALIDADE DE VIDA, RELIGIOSIDADE/IRITUALIDADE E DEPRESSÃO 17. Santos Júnior NC, Santos MA, Castro JGD, Coelho CBO. Depressão, ansiedade e qualidade de vida em mulheres em tratamento de câncer de mama. Rev bras mastologia. 2010;20:81-5. 18. Ell K, Sanchez K, Vourlekis B, Lee PJ, Megan DJ, Lagomasino I, Muderspach L, Russel C. Depression, correlates of depression and receipt of depression care among low-income women with breast or gynecological cancer. J Clin Oncol. 2005;23:3052-60. 19. Cangussu RO, Soares TBC, Barra AA, Nicolato R. Sintomas depressivos no câncer de mama: Inventário de Depressão de Beck – ShortForm. J Bras Psiquiatr. 2010; 59:106-10. RMR Agradecemos ao Programa de Iniciação Científica PROBIC-FAPEMIG da Universidade do Vale do Sapucaí. Conflitos de interesse: nenhum. Fonte de financamento: nenhum. Recebido em : 13/8/2014 Aprovado em : 16/9/2014 Endereço para correspondência: Dr. Taylor Brandão Schnaider Av. Francisca Ricardina de Paula, 289 37550-000 Pouso Alegre, MG. [email protected] A revista do Médico Residente está indexada na base de dados do LILACS. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 189 ARTIGO DE REVISÃO A FORMAÇÃO HUMANISTA NA MEDICINA Humanistic training in medicine Jaqueline Midori Okada (1) Jorge Luis Pinho Woll (1) Júlia Tavares Lopes (1) João Carlos Simões (2) RESUMO Na formação acadêmica dos médicos, vê-se uma abordagem significativa de matérias teóricas e científicas para entender o funcionamento do organismo humano e para identificar patologias e erros nele. Entretanto, o foco positivista de especialização e de segmentação do conhecimento resulta numa visão específica do ser humano. Essa visão impede que médicos sejam mais generalistas e percebam o organismo como um todo e não como sistemas, órgãos ou patologias. Dessa forma, a presença de uma formação acadêmica médica humanista é essencial para combater esse posicionamento distante, o qual não possui vínculos emocionais com paciente. Mas, como pesquisado, poucas faculdades de medicina do país possuem uma matéria que aborda a humanização médica, que deve ser majoritariamente prática, para que os estudantes de medicina possam vivenciar experiências que só conseguiriam vivenciar ao final do curso ou após dele. Descritores: Humanidades; Medicina; Educação Medica INTRODUÇÃO Desde o início da medicina o seu foco tem sido o ser humano, em suas mais diferentes situações. No entanto com o seu avanço passou a ter mais importância a doença ou problema que afeta o homem do que ele como um todo e todos os outros fatores que o afetam além de uma bactéria, parasita ou disfunção fisiológica.Isso afeta a qualidade da medicina praticada em todos os locais. Para que essa tendência seja alterada, é necessária uma alteração no currículo de várias Faculdades de Medicina do Brasil por exemplo. E é preciso que seja abordado e exemplificado aos futuros médicos a importância da sua humanização e o impacto disso nos pacientes. A importância da formação humanista A medicina, mais do que tratar de alterações fisiológicas ou anatômicas das pessoas é acima de tudo uma ciência humana. O homem é o centro de seu estudo, não a doença que o afeta. Trabalho realizado na disciplina de História e Humanização da Medicina da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR) Curitiba-Paraná 1. Estudantes do primeiro período do curso de Medicina da FEPAR. 2. Professor Titular do curso de Medicina da FEPAR. 190 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR A FORMAÇÃO HUMANISTA NA MEDICINA Para que um médico tenha uma formação completa, portanto, em algum momento deve ser ressaltada a ele, a importância da humanização em sua profissão. A realidade dos cursos de medicina no entanto é a de que de 7 currículos de faculdades do Brasil pesquisados, apenas 3 abordam o tema em alguma disciplina ou módulo. Esse tipo de ensino reflete na qualidade do médico formado, pois aspectos emocionais, que serão levados em consideração por médicos humanizados, afetam, geralmente, positivamente tanto no diagnóstico correto para uma doença, como na forma que um paciente responde a um tratamento. Como pode ser abordada a humanização no curso O que distingue radicalmente o homem é a sua capacidade de atribuir significados lógicos e emocionais aos objetos e às ações: é a sua capacidade de instituir valores. (4) O humanismo, apesar de possuir uma definição (doutrina centrada no homem ou na humanidade”), não possui uma técnica. Ele é um valor que homem pode ou não adotar e possuir, portanto não pode ser abordado como uma matéria estritamente teórica, mas como algo prático. (2) Para que se forme um médico que realmente se importe com o paciente, deve-se em aula ressaltar-se a importância disso no seu trabalho, e nos resultados obtidos. Assim, mesmo o acadêmico mais cético poderá ver o sentido dessa questão. (3) Mas o humanismo não é, como se disse anteriormente, uma teoria, e o que mais contribui na formação de um médico humano é a experiência prática. É nela que não somente se ouve sobre o sofrimento dos pacientes, mas também se vê, e ainda, mais crucial, sente-o. Para que se veja na prática a importância do humanismo, é necessário também um exemplo. E esse é visto nos médicos e enfermeiros que trabalham em hospitais, clínicas, centros de reabilitação e outros estabelecimentos envolvidos com a saúde. CONCLUSÃO Nota-se que ainda que existam provas que um médico considere outros fatores além da doença do paciente em si, a maioria dos médicos formados hoje não tem isso abordado durante o curso. Devido a isso, é necessária uma alteração nas estruturas curriculares de faculdades de medicina do país para que a qualidade de cuidado da população melhore. (4,5,6,7,8) ABSTRACT There is a meaningful approach of theoretical and scientific subjects to understand the operating human organism in the physician’s academic degree. However, the positivist focus of specialization and branching of knowledge results in a specific view of the human being. This view averts physicians to be more generalists and to realize the organism as a whole and not as systems, organs or pathologies. Thus, the presence of a physician’s humanist academic degree is essential to oppose this distant positioning, which has no emotional bond with the patient. But as researched, few medical colleges have a subject that approaches the humanization of medicine, which must be mostly practical so that the medical students can go through life experiences that they could only go through in the end of the degree or after it. Keywords: Humanities; Medicine; Medical Education. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 191 A FORMAÇÃO HUMANISTA NA MEDICINA REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Pessotti I. A formação humanística do medico. Medicina Ribeirão Preto 1996, out./dez.; 29: 440-8. Humanismo. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [on line], 2008-2013. (cited 2014 Jun15); Available from: <http://www.priberam.pt/dlpo/humanismo>. Silva FV, Menezes, MDGAS. Formação profissional e humanização dos serviços de saúde. 2002; 5:59-74. Universidade de Santa Catarina-Ufsc. 2014. (cited 2014Jun01); Available from: <http://www.medicina.ufsc.br/ estrutura-curricular/>. Universidade de São Paulo-Usp. 2014. (cited 2014Jun01); Available from: <https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/ adeCurricular?codcg=5&codcur=5042&codhab=0&tipo=N> Universidade de São Paulo. Usp. 2014. (cited 2014Jun01); Available from: <https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/ Curricular?codcg=17&codcur=17050&codhab=0&tipo=N>. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pucpr. (cited 2014Jun01); Available from: <http://www.pucpr.br/ graduacao/medicina/estrutura.php5>. Faculdade Evangélica do Paraná. Fepar. (cited 2014Jun01); Available from: <http://www.fepar.edu.br/index.php/ estrutura-curricular53>. Recebido em : Aprovado em Fonte de financiamento: nenhum Conflito de interesse: nenhum Endereço para correspondência: João Carlos Simões Rua Nicolau J. Gravina, 65 CEP 82010-020 Cascatinha E-mail: [email protected] 192 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR ARTIGO DE REVISÃO SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA SOLILOQUY IN COMPUTING João Carlos Simões (1) Lucas Abreu (2) “ Disse-me, então, a Razão: supõe que tenhas chegado a alguma conclusão; onde guardarás isto para continuar a tratar de outros assuntos? Agostinho: certamente na memória. Razão: mas ela é assim tão poderosa que possas guardar tudo o que pensas? Agostinho: É difícil. Mais ainda: não pode. Razão: Então, deves escrever.” ( Santo Agostinho, Livro I, capítulo I – Solilóquios ) RESUMO Os autores procuram soliloquiar sobre a informática e a Internet no contexto da sua história e da dimensão que esta ferramenta traz para o progresso da informação para todas as pessoas e, principalmente, para o estudante de Medicina, para o Médico e para a população em geral. Descritores: Informática; Internet. INTRODUÇÃO Soliloquiar é falar só; é dialogar Como a nossa memória é limitada, com a própria alma. precisamos registrá-la graficamente. Assim os primeiros registros da memória foram feitos É uma insofismável afirmação sobre em pedra, depois em couro, papiro e papel. o óbvio que a Informática e a Internet foram Atualmente, com o auxílio da Informática e as grandes invenções que revolucionaram o Internet, este processo melhorou a qualidade século XX. da informação e a facilidade de acesso. Indubitavelmente, teve o mesmo Pessoalmente, escrever no teclado do impacto na socialização e democratização computador, ficou muito mais fácil e mais do conhecimento e da informação que rápido do que no teclado da máquina de a descoberta da imprensa por Johann escrever mas também continuo escrevendo Gutemberg, por volta de 1450, e que com caneta ou esferográfica. mereceu do escritor Victor Hugo, a seguinte citação, em 1831:” A invenção da imprensa Outra propriedade fantástica e imbatível é o maior acontecimento da história. É a dos computadores foi a de armazenar o que se revolução mãe...é o pensamento humano escreve, as mensagens, os dados, as fotos, os que larga uma forma e veste outra...é a artigos de revistas médicas, livros, ou qualquer completa e definitiva mudança de pele outra informação. dessa serpente diabólica, que, desde Adão, representa a inteligência.” 1. Professor Titular da disciplina de Oncologia do curso de Medicina da FEPAR 2. Especialista em Tecnologia da Informação - SIG Combibloc do Brasil Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 193 SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA As qualidades que o advento da tecnologia nos proporciona são inúmeras: espaço não é mais problema, a depender da capacidade do seu disco rígido, além disso, é o fim das traças ou do pó, tendo-se o cuidado de fazer uma cópia de segurança, ou seja, uma cópia de dados de um dispositivo de armazenamento a outro, para que possam ser restaurados em caso da perda dos dados (na informática isto se chama back-up). A internet também possibilitou a democratização da informação no campo da saúde. Tanto médicos como pacientes podem utilizar-se da rede para trocar informações de qualquer ordem, comumente, no campo da saúde, a informação reveste-se de cuidados maiores, já que nem tudo o que está na Internet pode ser considerada informação precisa e cientificamente comprovada. Para contrapor a esta nova relação Mister se faz necessário, também, deletar entre o paciente e as informações nem sempre sempre alguma coisa para que se possa atualizadas e precisas que eles buscam na Internet, é preciso que o médico saiba se abstrair, viver melhor e renascer. atualizar neste mesmo meio de comunicação, Victor Mayer-Schöenberger disse que saiba escutar atentamente o paciente e sua “pelo esquecimento, a nossa mente se alinha família, e faça uma reflexão crítica destas com o nosso passado, com nossas preferências informações para o apoio do paciente e seus do presente, tornando mais fácil a sobrevivência familiares, sem desprezá-la completamente. e a vida mais suportável. Esquecer nos ajuda a evoluir, a crescer, a seguir em frente – para BREVE HISTÓRIA DA INFORMÁTICA aprender novas coisas.” O primeiro uso da palavra computador foi gravado em 1613, referindo-se a uma INFORMÁTICA MÉDICA pessoa que realizou cálculos. Shortliffe e Perrault descrevem a informática médica da seguinte maneira: “ é o • 1944 – Mark I – Os primeiros computadores campo científico que trata do armazenamento, eletrônicos surgiram na mesma época recuperação, e uso otimizado da informação na Alemanha, Inglaterra e nos Estados biomédica, dados, e conhecimento para a Unidos, lar do Mark I. Com 4,5 toneladas, resolução rápida de problemas e tomada de ele demorava seis segundos numa decisões” multiplicação! Com o advento da Internet a Medicina já não é mais a mesma. O relacionamento médico- • 1946 – ENIAC – Foi o primeiro computador paciente tem passado por profundas alterações “multiuso”, os anteriores apenas nos últimos anos. Acredito, que o principal fato desempenhavam tarefas específicas, como é que as pessoas já não confiam cegamente cálculos de bombardeios em guerra. nos médicos, como antes. As notícias que aparecem nos meios de comunicação sobre • 1948 – O transistor é criado pela firma profissionais que se graduam com graves Bell Labs (graças aos engenheiros problemas na sua formação, os erros médicos, John Bardeen, Walter Brattain e William a deficiência na atenção médica pública, os Shockley). Este permite, nos anos 50, abusos dos planos de saúde, etc., abalaram tornar os computadores menos incómodos, o papel meio divino e infalível que o médico menos ávidos em energia eléctrica e por assumia em relação aos seus pacientes. conseguinte menos dispendiosos: é a revolução na história do computador! 194 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA • • • • 1954 - A grande reviravolta veio em, quando • Gordon Teal aperfeiçoou um transistor de junção feito de silício. O silício, ao contrário do germânio, é um mineral abundante, só ultrapassado em disponibilidade para o oxigénio. Isto, somado ao aperfeiçoamento das técnicas de produção, • baixou consideravelmente o preço do transistor e abriu as portas à “Revolução Eletrônica”. 1958 – Circuito integrado – O aumento de velocidade das máquinas se deve a invenção do CI (vários transistores integrados em uma • única peça de silício). 1960 – PDP-1 – Conforme o computador ficava mais versátil, começavam a pipocar novas aplicações para a invenção. E não demorou muito a surgir o primeiro videogame: em 1960, • já dava para jogar SpaceWar no PDP-1. 1968 – Mouse – O americano Douglas Engelbart lançou um aparelhinho chamado • “bug” (inseto). Ele não fez muito sucesso até os anos 80, quando ganhou o apelido de “mouse” (camundongo). 1983 – Word – A Microsoft de Bill Gates lançou o Word Microsoft Office, primeiro programa do pacote que, em poucos anos, monopolizaria o mercado de programas para escritório. 1984 – Impressora a laser – Primeira impressora a laser compatível com os PCs, a Laserjet começou a desbancar as impressoras matriciais dos anos 70 e as de jato de tinta, também de 1984. 1985 – CD-ROM – Surgiram os primeiros CD-ROMs, nova mídia com capacidade para 550MB, um salto: 387 vezes a capacidade de um disquete de 3 ½”, mas 12% da dos DVDs, que seriam lançados em 1996. 1987 -George E. Gerpheide projetou um dispositivo apontador em que se podia apontar usando os próprios dedos: o “touchpadpenas 1989 - O número de computadores em uso no planeta ultrapassou 100 milhões de unidades, havendo 500.000 só nos E.U.A. Já havia 105 redes espalhadas pelo mundo todo, várias delas com uma forma particular de endereçamento de e-mail’’ • 1971 – Microprocessador – Com a diminuição dos circuitos integrados, a indústria consegue condensar milhares deles numa única peça, O iPhone é uma linha de smartphones concebidos lançando o primeiro microprocessador, o Intel e comercializados pela Apple Inc. Ele roda o sistema operacional móvel iOS da Apple. A primeira geração 4004. • 1975 – Microsoft – Dois estudantes americanos, Bill Gates, aos 19 anos, e Paul Allen,aos 22 anos, adaptam a linguagem Basic para o Altair. Esse foi o primeiro programa (e o primeiro nome) da Microsoft. • • do iPhone foi lançado em 29 de junho de 2007” iPad é um dispositivo em formato tablete (tablet) produzido pela Apple Inc. O aparelho foi anunciado em 27 de janeiro de 2010, em uma conferência para imprensa no Yerba Buena Center for the Arts em São Francisco.2O iPad foi apresentado como um dispositivo situado a meio caminho entre um MacBook 1977 – Apple II – Foi o primeiro microcomputador e um iPhone. tal como o conhecemos hoje. Pela primeira vez, a máquina tinha um teclado e podia ser ligada DESENVOLVIMENTO DA INTERNET em um monitor, no caso, uma TV. Foi somente no ano de 1990 que a 1981 – Disquete de 3 ½” – Em 1976, sugiu Internet começou a alcançar a população o disquete de 5 ¼” (13cm de diâmetro). Em em geral. Neste ano, o engenheiro inglês 1981, a Sony lançou o modelo de 3 ½” (9cm de Tim Bernes-Lee desenvolveu a World diâmetro). Wide Web, possibilitando a utilização de uma interface gráfica e a criação de sites mais dinâmicos e visualmente mais interessantes. Foi, absolutamente, a maior criação tecnológica, depois da televisão na década de 1950. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 195 SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA Para facilitar a navegação pela Internet, surgiram vários navegadores (browsers) como, por exemplo, o Internet Explorer da Microsoft e o Netscape Navigator. O surgimento acelerado de provedores de acesso e portais de serviços on line contribuíram para este crescimento. Na Internet, os estudantes passaram a buscar informações para pesquisas escolares, enquanto jovens utilizavam, como diversão, os sites de games. As salas de chat tornaram-se pontos de encontro para bate-papo virtual a qualquer momento. Desempregados iniciaram a busca de empregos através de sites de agências de empregos ou enviando currículos por e-mail. As empresas descobriram na Internet um excelente caminho para melhorar seus lucros e as vendas on line dispararam, transformando a Internet em verdadeiros shopping virtuais. A partir de 2006, começou uma nova era na Internet com o avanço das redes sociais. Pioneiro, o Orkut ganhou a preferência dos brasileiros e foi extinta em 2014. Nos anos seguintes surgiram outras redes sociais como, por exemplo, o Facebook e o Twitter. NÚMEROS DA INTERNET Um ranking elaborado pela organização mostra que os Estados Unidos lideram a quantidade de assinantes do serviço: são 46,9 milhões de pessoas ou 21,6% da população total. Em seguida estão a China (35,9 milhões), Japão (26,4 milhões), Coréia do Sul (13,1 milhões) e França (9,6 milhões). O Brasil aparece em 13º lugar no ranking, com 3 milhões de assinantes. Segundo números do Ibope//NetRatings, que utiliza metodologia diferente em seus estudos, já que cerca de 55% dos 11,7 milhões de internautas residenciais usam a banda larga. No país, o acesso à internet em qualquer ambiente (residências, trabalho, escolas, lan-houses, bibliotecas e telecentros), considerando os brasileiros de 16 anos ou mais de idade, chegou a 67,5 milhões de pessoas no quarto trimestre de 2009. Com o Kindle e o IPAD, especialistas preveem fim do jornal e do livro impresso até 2018 – é óbvio que isto é só marketing – da mesma maneira que a televisão não acabou com o rádio. Esclarecendo que o Kindle é um pequeno aparelho criado pela empresa americana Amazon, que tem como função principal ler e-books (livros digitais) e outros tipos de mídia digital. O primeiro modelo da plataforma foi lançado nos Estados Unidos em Mais de 1 bilhão de pessoas em todo 19 de Novembro de 2007. o mundo tinham acesso à internet até o final O seu concorrente é o iPad que é um de 2009, segundo um estudo divulgado pelo aparelho, de 9,7 polegadas, une computador, Computer Industry Almanac. Em final de 2010, videogame, tocador de música e vídeo e o valor deve chegar a 1,8 bilhão. leitor de livro digital, estando situado entre um Já o número de assinantes de banda smartphone e um netbook. O iPhone é um smartphone larga em todo o mundo deve ultrapassar os 215 milhões até o final deste ano. Em 1999 desenvolvido pela Apple Inc. com funções de eram 5 milhões, enquanto 67 milhões de iPod, câmera digital, internet, mensagens de pessoas contrataram o serviço até 2002. No texto (SMS), visual voicemail, conexão wi-fi final de 2010, o valor deve ficar por volta dos local e, atualmente, suporte a videochamadas (FaceTime). A interação com o usuário é 500 milhões. feita através de uma tela sensível ao toque. Anunciado em 9 de janeiro de 2007, o iPhone foi lançado no dia 29 de junho de 2007 nos EUA, pela empresa Aple. Primeiro como 2G. A última atualização foi lançado em 2012 foi o 5G e não terminará por aí Segundo o PNAD existiam 83 milhões de usuários de Internet no Brasil em 2012, o que correspondia a 46,5% da população com 10 anos ou mais de idade. 196 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA INFORMÁTICA NA SAÚDE Concordo com Marvin Misky (um dos pais da Inteligência Artificial), que afirmou que a Internet fará a maior revolução na educação de todos os tempos. O potencial educacional da Internet se manifesta em múltiplas áreas e processos. O primeiro impacto ocorrerá na disponibilização de informação para o aprendiz, através das publicações eletrônicas e dos “sites” especializados. Na Medicina a experiência clínica e da prática, no contato presencial com o paciente, será sempre insubstituível, mas sobram milhares de possibilidades para elevar o nível de conhecimento e atualização dos médicos brasileiros, usando-se plenamente o potencial da Internet. Outra conseqüência muito interessante é que se dissolve a distinção entre educação formal e informal, uma vez que é tão fácil colocar cursos na Internet, a democratização da informação, que poderá abalar a função da universidade tradicional, abrindo a Internet novas oportunidades para todos que querem e podem ensinar. A Informática em Saúde representa uma área de caráter multidisciplinar que compreende as seguintes atividades: websites gerais de informação médica e saúde, o desenvolvimento de sistemas de informação hospitalar, as rede de comunicação digital para a saúde, as aplicações voltadas par a saúde comunitária, os sistemas de apoio à decisão, o processamento de imagens e sinais biológicos, a avaliação e controle de qualidade dos serviços de saúde, a Telemedicina, as aplicações voltadas a área educacional e o prontuário eletrônico (ou melhor, o prontuário do paciente) e a área de padrões para representação da informação em saúde1. (Leão, 1999). Entretanto, nas aplicações médicas na Internet, deve-se assegurar a consciência de que a informação ou opinião prestada não é um substituto para a consulta com o médico assistente e que é essencial contatar pessoalmente um médico caso haja piora da condição clínica. O fundamento da ética médica é o relacionamento médicopaciente2( Smith, 1999). A TELEMEDICINA Defini-se a Telemedicina como a utilização de recursos de telecomunicação e de informática quando aplicados na realização de procedimentos, diagnósticos e terapêuticos à distância, consultas e orientações, além de educação médica continuada á distância. Também é possível discutir resultados de exames bioquímicos e histopatológicos e de imagens. Isto possibilita que médicos brasileiros nivelam seus conhecimentos com colegas europeus e americanos ao acessarem, ao mesmo tempo, as últimas informações do website de qualquer Universidade nos Estados Unidos ou na Europa. Pacientes acessam novidades terapêuticas. O conhecimento tem vida mais curta, exigindo do médico contemporâneo uma constante atenção e vigilância do que acontece em sua volta. Mas se a informação está mais democratizada, não significa que está ao alcance de todos. As barreiras vão desde limitações econômicas até a falta de políticas públicas, passando pela resistência individual com o que é novo até a dificuldade de dominar uma nova forma de comunicação (Sigulem ET. AL, 1999). Um dos cursinhos (uma excrescência dos dias atuais) para preparação do concurso para a prova teórica de residência médica são realizados por teleconferência, mas não permitem a interação e resolução de dúvidas dos estudantes de medicina on-line. No programa de residência médica do diversos Hospitais Universitários, é possível o acesso a programas de atualização e educação continuada de diversas especialidades. Porém é necessário que este programa esteja inserido no programa de residência médica, com horário e dia de presença obrigatória, sob pena de não ser utilizado como uma boa ferramenta de atualização. 1 - Smith,T.Ethics in Medical Research, pg 176, Cambridge Press, 1999 2 - Leão BF – A saúde na era digital. Em: Ser Médico – Publicação do CREMERSP – Jan/Mar/99, ano II, no.6, pg 27-30. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 197 SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA SIGILO MÉDICO CONCLUSÃO Dentre os óbices geralmente apontados pela transmissão de informações médicas na Internet, deve ser ressaltada a questão do sigilo eletrônico. Com base nos conhecimentos atualmente disponíveis não é possível assegurar proteção total às informações, impedindo seu acesso por outras pessoas. A preocupação do Conselho Federal de Medicina e Conselhos Regionais tem sido encarada por alguns especialistas em informática médica de forma muito positiva. Alguns chegam a admitir que a informação eletrônica está mais bem protegida que o papel, já que com relativa facilidade o fichário ou prontuário de um consultório ou SAME pode ser furtado ou inspecionado por pessoas não autorizadas. Já que não existe total proteção para as informações eletrônicas, nem para bancos fortemente protegidos, não é razoável esperar uma proteção absoluta na área médica. Numa rede de computadores, a maioria das falhas de segurança e violações de sistemas decorre do mau uso pessoal, porque a senha é compartilhada com o colega, ou outras pessoas (Sigulem et. al., 1999). Reconheço em mim a inópia do conhecimento da Informática e Internet. Nunca fiz curso e não tenho tempo, nem paciência para me aperfeiçoar nas suas infindáveis novidades. Uso o computador para escrever. Uso diariamente o computador para enviar e responder mensagens. Uso a Internet para acesso a artigos de revistas médicas gratuitas – Uso o PowerPoint do computador para preparar aulas para as disciplinas da qual sou professor e para conferências em Congressos quando sou convidado. Coloco as fotos (autorizadas) das cirurgias e de pacientes que faço com meu i-phone e as armazeno nas pastas do computador. Acredito que você, jovem médico, fará muito mais e melhor. Abstract The authors seek to soliloquize, about computers and the Internet in the context of its history, and the dimension that this tool brings to the progress of information for all people, and especially for the medical student and to the doctors as well as the general population. Keywords: Computers; Internet. Índices Gerais de Recursos MEDWEB: http://www.gen.emory.edu/medweb/medweb. informatics.html Medical/Health Informatics Resources: http://www.imbi.unifreiburg.de/medinf/mi_list.htm Cartão Inteligente Hospitais Virtuais Hospital Virtual dos EUA: http://www.vh.org/ Hospital Virtual Brasileiro: http://www.hospvirt.org.br Informática Médica American Medical Informatics Association http://www.amia.org/ International Medical Informatics Association: http://www.imia. org/ Sociedade Brasileira de Informática em Saúde. http://www.sbis. epm.br Medical Informatics FAQ http://www.cis.ohio-state.edu/ hypertext/faq/usenet/medicalinformatics-faq/faq.html Núcleo de Informática Biomédica da UNICAMP. http://www.nib. unicamp.br Duke University Medical Informatics http://dmi-www.mc.duke. edu/ Stanford University: http://www-camis.stanford.edu/academics/ informaticsprgms.htm Bibliografia Médica PubMed: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed BIREME: http://www.bireme.br Grupo e*pub: http://www.epub.org.br HighWire Press: http://highwire.stanford.edu HealthGate: http://www.healthgate.com MedScape: http://www.medscape.com Radiografia Digital e PACS SCAR: http://www.scar.rad.washington.edu/ScarStuff/ SCARNews.html Global PACS Project (NSF) http://zax.radiology.arizona.edu/ gpacs/gpacs.html Realidade Virtual Medicine & VR: http://www.hitl.washington.edu/projects/ knowledge_base/ medvr/medvr.html 198 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR SOLILÓQUIO NA INFORMÁTICA Registro Médico Eletrônico FAQ - Electronic Medical Records http://iquest.com/~drbill/ FAQ_EMR.html ARTEMIS project http://www.cerc.wvu.edu/nlm/nlm.html Medical Records Institute http://www.medrecinst.com/ Web-Based Clinical Information System http://www.cpmc. columbia.edu/cisdemo/ The W3-EMRS Project: http://gray.lcs.mit.edu/medweb/ Telemedicina Telemedicine Information Exchange: http://tie.telemed.org/ Padrões e Nomenclatura Médica National Library of Medicine UMLS Project: http://www.nlm. nih.gov/ SNOMED International: http://www.snomed.org FAQ - DICOM http://www.xray.hmc.psu.edu/dicom/faq.html HL7 Reference: http://dumccss.mc.duke.edu/standards/HL7/ data-model/ hl7refm1.html REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Leão BF. A saúde na era digital. Ser Médico 1999 jan./ mar.;2(6):27-30 Smith T. Ethics in Medical Research. 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Recebido em : 20/7/2014 Aprovado em 15/9/2014 Fonte de financiamento: nenhum Conflito de interesse: nenhum Endereço para correspondência: João Carlos Simões Rua Nicolau J. Gravina, 65 CEP 82010-020 Cascatinha E-mail: [email protected] Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 199 Relato de caso OSTEOSSARCOMA PRIMÁRIO DE MAMA: RELATO DE CASO PRIMARY BREAST OSTEOSARCOMA: CASE REPORT Fabio Roberto Fin 1 Marciano Anghinoni 2 Eurico Cleto Ribeiro de Campos 3 Emannuely Juliani dos Santos Souza 4 RESUMO Osteossarcomas são tumores malignos primários do tecido ósseo, caracterizados pela produção de osteoide pelas células neoplásicas. Relata-se o caso de paciente do sexo feminino, 76 anos, que apresentava massa móvel e endurecida em quadrante superomedial da mama direita. A paciente foi submetida à segmentectomia mamária direita com linfadenectomia axilar nível I à direita em monobloco, dois meses após o início da investigação radiológica e anatomopatológica, que aventava o diagnóstico de osteossarcoma de mama. A hipótese foi confirmada pelo exame imunohistoquímico. A excisão cirúrgica com margens adequadas é o mais notável indicador para a sobrevida dos portadores de osteossarcoma. A resposta à radiação ou ao tratamento quimioterápico adjuvante não foi associada a menor incidência de morte por doença ou maior sobrevida livre de eventos. Descritores: Neoplasias da mama; Osteossarcoma; Mamografia. INTRODUÇÃO Osteossarcomas são tumores malignos primários do tecido ósseo, caracterizados pela produção de osteoide pelas células neoplásicas. A incidência da doença é desconhecida no Brasil, mas estima-se cerca de trezentos novos casos por ano (1). Osteossarcomas primários de mama são raros, usualmente suplementares a outras entidades. Tanto os aspectos clínicos, quanto o manejo ideal, permanecem indefinidos (2) . O escasso número de casos relatados, a peculiaridade do quadro histológico e a ausência de diretrizes definidas para a gestão terapêutica justificam a descrição deste caso de osteossarcoma primário de mama. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, branca, com 76 anos, procurou atendimento médico para avaliação de nódulo palpado durante o autoexame em mama direita, com dor local e aumento de volume há três meses. Nunca havia realizado exames de rotina para screening de lesões malignas de mama. Trabalho realizado no serviço de oncologia do hospital São Vicente - Curitiba, Paraná Cirurgião Oncológico pelo Conselho Federal de Medicina, Cirurgião Geral pelo Conselho Federal de Medicina, Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Cirurgião Oncológico do UNACON – Hospital São Vicente, Curitiba, Paraná, Brasil. 2. Especialista em Cancerologia Cirúrgica pela Sociedade Brasileira de Cancerologia, Especialista em Cirurgia Geral pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Cirurgião Oncológico e Chefe do Serviço de Cirurgia Oncológica do UNACON – Hospital São Vicente, Curitiba, Paraná, Brasil. 3. Professor Adjunto de Cirurgia Geral da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Cirurgião Oncológico do UNACON – Hospital São Vicente, Curitiba, Paraná, Brasil. 4. Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil. 1. 200 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 OSTEOSSARCOMA PRIMÁRIO DE MAMA: RELATO DE CASO Em menopausa desde os 50 anos, sem terapia de reposição hormonal. História pregressa de hipertensão arterial sistêmica, com controle medicamentoso, dislipidemia e uso de prótese em joelho esquerdo. História familiar em primeiro grau de câncer de mama. Ao exame físico apresentou massa móvel e endurecida em quadrante superomedial da mama direita, medindo cerca de 5 x 5 centímetros. Não foram detectadas alterações ao exame de axilas e fossa supraclavicular direita. À ultrassonografia constatou-se lesão nodular ovalada em mama direita, medindo 52 x 59 x 40 milímetros, circunscrita, lobulada, de textura heterogênea, com áreas de degeneração cística e calcificações em seu interior. Exame mamográfico demonstrou calcificações benignas e grande nódulo de cerca de 7 centímetros em mama direita, suspeito, classificado como grau 4 pelo sistema BIRADS (Figura 1). Exames laboratoriais apresentaramse normais, assim como o marcado tumoral CA 15.3, com valor de 10,7. A cintilografia óssea não demonstrou alterações. RMR O exame anatomopatológico por corebiopsy do nódulo em mama direita revelou área de proliferação celular fusiforme atípica. A imunohistoquímica sugeriu osteossarcoma de mama, diagnóstico não confirmado devido à escassez do material. Apacientefoientãosubmetidaàsegmentectomia mamária direita com linfadenectomia axilar nível I à direita em monobloco, dois meses após o início da investigação. O exame anatomopatológico da peça cirúrgica diagnosticou sarcoma osteogênico de mama direita, com margens livres e linfonodos negativos para disseminação da doença. O exame imunohistoquímico, confirmou o laudo anatomopatológico, apresentando o diagnóstico de sarcoma produtor de matriz óssea, positivo para proteína S-100, vimentina, CD68 e Ki67 (MIB-1). O diagnóstico de osteossarcoma osteoblástico primitivo da mama foi formulado. A paciente, atualmente, está em seguimento e realizando controle bimestral, a cintilografia óssea permanece normal. Não há evidência de doença após seis meses da ressecção cirúrgica da lesão. A paciente optou por não realizar tratamento adjuvante. DISCUSSÃO Figura 1. Mamografia demonstrando calcificações benignas e grande nódulo (aproximadamente 7 cm) em mama direita. Osteossarcomas são tumores malignos primários do tecido ósseo, extremamente raros (1,2) . Há distribuição bimodal quanto à idade de incidência, com picos no início da adolescência e nos adultos com mais de 65 anos. Nesta faixa etária, são geralmente outorgados à transformação sarcomatosa da Doença de Paget óssea ou de outras afecções benignas deste tecido (3). Habitualmente, apresentam-se em distribuição axial e em áreas submetidas à irradiação ou com anomalias ósseas subjacentes. Homens são afetados com maior frequência do que as mulheres e é mais comum em brancos do que em indivíduos de outras raças. Identificar as características moleculares centrais da patogênese de osteossarcoma tem instigado a comunidade científica, devido à incompreensão acerca das células de origem, a ausência de lesões precursoras identificáveis e sua complexidade genética no momento da apresentação. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 201 OSTEOSSARCOMA PRIMÁRIO DE MAMA: RELATO DE CASO Singularmente, diversas doenças genéticas humanas e neoplasias hereditárias, como a Síndrome de Li-Fraumeni (condição hereditária em que o p53 é inativado), estão ligadas a um risco superior de desenvolvimento de osteossarcoma. A neoplasia está associada a múltiplas anormalidades genéticas, que se encontram entre as mais observadas no câncer humano. Entretanto, os eventos que a originam são desconhecidos e a maioria se caracteriza pelo cariótipo complexo (4). A inativação combinada de vias supressoras de tumor é comum em osteossarcomas. A potencial contribuição das anormalidades da via p53 para a gênese do tumor é importante e outras vias moleculares de sinalização, como a Wnt, Notch, IGF e Mtor estão em estudo (4). Estudos recentes demostraram que a ligação miR-17/PTEN fornece um mecanismo para a desregulação do PTEN e contribui para o crescimento celular, migração e invasão pelo osteossarcoma (5). Ao diagnóstico, um quinto dos pacientes tem doença macrometastática evidente. Presume-se que micrometástases estejam presentes na maioria dos pacientes com doença clinicamente localizada. O prognóstico é pior em adultos maiores de 65 anos (6). Clinicamente, a maioria dos pacientes apresenta massa em tecidos moles, móvel, fixa e irregular, associada a dor localizada, normalmente de longa data. Geralmente não há envolvimento de pele e linfonodos, bem como ocorrência de sintomas sistêmicos (7) . Anormalidades laboratoriais não se correlacionam com a extensão da doença e a avaliação laboratorial é geralmente normal. Osteossarcoma extraósseo é a forma de apresentação que não envolve osso ou periósteo, mas apresenta capacidade de produzir material osteocondroide. Osteossarcomas primários de mama representam apenas 12,5% das neoplasias sarcomatosas mamárias (8). É difícil determinar a incidência real, uma vez que alguns dos casos já relatados, pouco mais de 100, incluem variantes metaplásicas e sarcomas osteogênicos que surgem em associação com tumor filoide e carcinossarcoma (9). Apatogênese do osteossarcoma primário da mama não é clara, embora a origem de células mesenquimais totipotentes do estroma mamário ou a transformação de fibroadenoma ou tumor filoide preexistente sejam cogitadas. É altamente agressivo, associado a elevadas taxas de recidiva e disseminação hematogênica precoce, principalmente para pulmões, ossos e fígado. Há relato de sobrevida global de 38% em cinco anos e recorrência de 43% em um ano (10). Apresentam-se frequentemente como lesões densas bem circunscritas, com calcificações grosseiras focais ou extensas à mamografia (7). À histologia, variantes fibroblásticas, osteoblásticas e osteoclásticas podem ser observadas e células fusiformes, indicadoras da produção de osteoide, também podem ser encontradas. As células tumorais são, geralmente, positivas para actina do músculo liso, vimentina e S-100 (7,10). O osteossarcoma primário de mama é diagnóstico de exclusão, é extremamente raro e precisa ser distinguido de uma variedade de lesões mamárias benignas e malignas que produzem tecido ósseo metaplásico (11). A hipótese de outros carcinomas mamários deve sempre ser levantada e o diagnóstico de lesão secundária a osteossarcoma primário do osso também pode ser considerado. Por fim, o diagnóstico de certeza requer a ausência de uma ligação direta entre o tumor e o esqueleto subjacente (10). A excisão cirúrgica com margens adequadas é o indicador mais importante para a sobrevida. A irradiação da mama é controversa, uma vez que estes pacientes têm um risco aumentado de complicações precoces da radiação. Esvaziamento axilar geralmente não está indicado (5). Apesar da combinação de quimioterapia adjuvante aumentar a taxa de sobrevida global dos pacientes com osteossarcoma primário do osso, a resposta do tratamento radio e quimioterápico no osteossarcoma extra-esquelético não foi associada a menor incidência de morte por doença ou maior sobrevida livre de eventos, com resultados exíguos pela escassez dos dados referentes à doença (12). 202 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 OSTEOSSARCOMA PRIMÁRIO DE MAMA: RELATO DE CASO ABSTRACT RMR Osteosarcomas are primary malignant tumors of bone, characterized by the production of osteoid by the neoplastic cells. We report an unusual case of primary osteosarcoma of the breast in a 76-year-old female patient, who presented with a mobile and hard mass in the superomedial quadrant of the right breast. The patient underwent right breast segmentectomy with right axillary lymphadenectomy in monoblock, two months after the onset of pathological and radiological investigation, which suggested diagnosis of breast osteosarcoma, further corroborated by immunohistochemical analysis. Surgical excision, associated with negative surgical margins, is the most important survival indicator for these patients. Radiation and chemotherapeutic treatment were not associated with a lower incidence of death due to disease or a longer event-free survival. Key-words: Breast Neoplasms; Osteosarcoma; Mammography. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Petrilli AS, de Camargo B, Filho VO, Bruniera P, Brunetto L, Jesus- Garcia R, Camargo OP, Pena W, Péricles P, DaviA, Prospero JD,Alves MT, Oliveira CR, Macedo CR, Mendes WL, Almeida MT, Borsato ML, dos Santos TM, Ortega J, Consentino E. Results of the Brazilian Osteosarcoma Treatment Group Studies III and IV: prognostic factors and impact on survival. 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Choi LE, Healey JH, Kuk D, Murray F, Brennan MF. Analysis of Outcomes in Extraskeletal Osteosarcoma: a Review of Fifty-three Cases. J Bone Joint Surg Am, 2014 Jan 01;96(1):e2. Conflitos de interesse: nenhum. Fonte de financamento: nenhum. Recebido em 31/7/2014 Aprovado em 20/9/2014 Endereço para correspondência Rua Saldanha Marinho, 2167. CEP: 80730-180. Curitiba, Paraná, Brasil. Email: [email protected] Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 203 Relato de caso CANCER DE PENIS: RELATO DE CASO PENIS CANCER: CASE REPORT Eduardo Chin 1 Cristiano Machado 2 Valdir Martins Lampa Jr 3 Emanuel Grasselli 4 Marco Aurelio Sebben 4 Mariana Pirajá Genta 5 RESUMO - O câncer de pênis é uma lesão rara e a incidência mundial é bastante variável, de acordo com os níveis socioeconômicos e culturais, como a pratica da circuncisão. Acomete indivíduos em todas as faixas etárias, predominando na terceira idade. Dos subtipos histológicos, o carcinoma epidermóide é o principal. Ha fortes evidencias que apontam para o HPV e líquen escleroso como principais fatores de risco. O aparecimento de uma lesão vegetante ou ulcera é o que costuma levar o paciente a buscar tratamento, normalmente já em estádios avançados, quando o procedimento cirúrgico já é mutilante. O diagnóstico precoce possibilita tratamentos menos agressivos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida destes homens. Sendo assim, o objetivo deste relato é ressaltar a importância de medidas preventivas e a identificação dos fatores de risco e atualizar sobre novos métodos diagnósticos e tratamentos. DESCRITORES – Neoplasia; Pênis; Carcinoma de Células Escamosas; Prevenção Primária. INTRODUÇÃO O câncer de pênis eì uma doença maligna rara, de alta morbimortalidade, que acomete principalmente homens em idade avançada. Doença rara em indivíduos jovens, a qual tem seu pico de incidência na sétima década de vida. [01] No Brasil, representa 2% de todos os tipos de câncer no sexo masculino, sendo expressivamente mais frequente nas regiões Norte e Nordeste, onde a taxa de incidência varia entre 1,3 a 2,7 por 100.000 e ultrapassa até mesmo os casos de câncer da próstata e bexiga. [01, 03] A doença acomete indivíduos de baixo nível socioeconômico, com maus hábitos de higiene e não circuncisados. Os principais fatores de risco são: historia de fimose, presente em aproximadamente 85% dos pacientes; infecção pelo papilomaviìrus humano (HPV), sendo os principais subtipos em nosso meio o 16 e 18; e o líquen escleroso. [02, 03] As principais medidas de prevenção são a higiene local adequada e a circuncisão precoce, pois a fimose predispõe aÌ retenção de células descamativas e resíduos da urina (esmegma), que podem causar irritação crônica com ou sem infecção bacteriana da glande ou do prepúcio. [01, 02] Trabalho realizado em conjunto com Departamento de Cirurgia Geral e Urologia do Hospital Santa Casa de Curitiba, Paraná. 1. Preceptor da Residência em Urologia do Hospital Santa Casa de Curitiba. 2. Chefe do Serviço de Urologia do Hospital Santa Casa de Curitiba. 3. Médico Residente em Urologia do Hospital Santa Casa de Curitiba. 4. Médico Residente em Cirurgia Geral do Hospital Santa Casa de Curitiba. 5. Acadêmica do Curso de Medicina da PUC-PR e Estagiária do Hospital Santa Casa de Curitiba. 204 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 CANCER DE PENIS: RELATO DE CASO Outros fatores de risco incluem nuìmero de parceiros sexuais e preexistência de doenças sexualmente transmissíveis. Embora parte destes estejam associada aÌ infecção por HPV. Estudos recentes indicam cerca de 40% de prevalência do HPV em lesões neoplásicas penianas. [01] Rash peniano, lacerações, estenose uretral e inflamações são igualmente descritas em associação com câncer de pênis. [01] Dos subtipos histológicos, 95% dos casos correspondem ao carcinoma epidermoide (CE) e seu prognostico relacionase com o estadiamento do tumor. [02, 03] A queixa do paciente com câncer de pênis eì comumente relacionada à̀ presença de lesão vegetante ou ulcera peniana. Os sintomas incluem o sangramento e mau cheiro da genitália. Todas as lesões penianas, particularmente aquelas em que o paciente apresenta o prepúcio não retrátil, requerem uma atenção especial e devem ser investigadas com suspeita de neoplasia. Ademais, a presença de fimose pode mascarar o diagnoìstico por ocultar o tumor. A inexperiência dos médicos em identificar clinicamente lesões precursoras ou lesões precoces do CE do pênis e a demora dos pacientes em procurar atendimento médico, seja por medo, vergonha ou mesmo desconhecimento, além da dificuldade de acesso aos serviços de saúde em nosso país, fazem com que o diagnóstico se dê tardiamente na maioria dos casos. [03] O câncer do pênis pode acarretar grande morbidade, tanto pela doença em si quanto pelo tratamento, que inclui a amputação parcial ou total do órgão. A taxa de mortalidade relacionada a esta neoplasia varia de 26,7 a 41%. [03] O diagnóstico precoce reduz estas taxas e possibilita tratamentos menos agressivos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida destes homens. Capacitar os médicos para o reconhecimento precoce deste tipo de câncer e, por outro lado, alertar a população leiga, certamente poderá melhorar este cenário. Foi este o principal fator motivador na realização deste relato de caso. RELATO DO CASO RMR MCJ, 61 anos, masculino. Motorista de caminhão por 25 anos e policial há 20 anos. Diabético insulino dependente há 13 anos. Nega outras comorbidades. Nega cirurgias prévias. Nega alergias. Nega tabagismo. Nega etilismo. Refere que iniciou atividades sexuais com aproximadamente 30 anos de idade e apresentou várias parceiras sem uso de preservativo. Apresenta pai falecido por câncer, porém não soube especificar. Apresenta treze irmãos, sendo dois vivos, um com câncer de próstata e outro com câncer colônico. Paciente refere que notou duas lesões avermelhadas em glande peniana em junho de 2013 (8 meses antes da primeira consulta – 25/02/13). Neste período a lesão aumentou de tamanho significativamente, levando a disúriador intensa, sangramento pós-miccional, odor fétido e corrimento. Refere ainda que apresentou perda de 12kg neste período e adinamia intensa. Paciente nega notar qualquer outro tipo de lesão em pênis antes do quadro atual. Ao exame, apresentava inúmeras pústulas em região inguinal esquerda. Lesão peniana extensa comprometendo glande com linfonodos inguinais bilaterais palpaveis. Sinais infecciosos e hiperemia importante com secreção purulenta. Exame de ressonância nuclear magnética evidenciou presença de linfonodo obturatório à esquerda e massa linfonodal inguinal bilateral. Raios-X de tórax sem alterações. Anatomopatológico de biópsia da lesão evidenciou carcinoma espinocelular moderadamente diferenciado. Figura 1 Lesão Peniana extensa-pré operatório Figura 2 Aspecto no pós operatório imediato Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 205 CANCER DE PENIS: RELATO DE CASO Realizada penectomia parcial associada Evidências sugerem que pacientes a esvaziamento inguinal higiênico bilateral, infectados com os tipos virais oncogênicos 16, sendo deixado dreno suctor à direita, tendo boa 18, 31 e 33 apresentam uma predisposição para o desenvolvimento do CCE. A evolução no pós operatório. apresentação clinica dos pacientes portadores DISCUSSÃO de HPV varia desde totalmente assintomáticos, lesões intrauretrais desconhecidas, ate Alguns fatores de risco tem sido grandes condilomas acuminados facilmente relacionados ao carcinoma epidermoide do identificados. (2) pênis desde as primeiras publicações sobre o assunto, no entanto, é provável que eles A interação entre HPV de alto risco com apenas coexistam com os verdadeiros fatores o genoma hospedeiro é suspeito de ser um de risco, que atualmente parecem ser a infecção importante evento para transformação maligna persistente por tipos oncogênicos dos HPV e e progressão do câncer. Essa interação rompe o líquen escleroso. Assim, a falta de higiene, o o gene E2, que é supressor do promotor de acúmulo de esmegma e a presença de fimose E6/E7, levando a expressão aumentada dos poderiam ser apenas fatores adjacentes aos oncogenes virais E6 e E7. A expressão de suas reais agentes causais. (03) Estudos recentes proteínas alteram o ciclo celular pela inativação e indicam cerca de 40% de prevalência do HPV eliminação dos produtos de genes supressores em lesões neoplaìsicas penianas. (1) de tumor (p53 e Rb). A perda das funções Em 2011, Miralles-Guri et al. relataram, de ambas as proteínas responsáveis pela de um total de 1.466 casos de carcinomas supressão tumoral contribui para a progressão de pênis descritos na literatura, 671 (45,7%) do processo neoplásico. Em geral, a atividade casos de carcinoma de células escamosas de Rb é inibida pela proteína viral E7, enquanto (SCC) inespecífico, 448 (30,5%) casos de a p53 é degradada subsequentemente à ligação SCC queratinizado, 117 (7,9%) casos de SCC com a proteína viral E6. As interações entre as típico, 57 (3,8%) casos de SCC verrucoso, proteínas virais e as proteínas celulares alteram 56 (3,8%) casos de SCC condilomatoso o controle do ciclo celular, fazendo da infecção (3,8%), 46 (3,1%) casos de SCC basaloide, 19 viral um potente fator de iniciação e promoção (1,3%) casos de tumor misto condilomatoso- de tumores. (1, 3) basaloide, 10 (0,6%) casos de SCC papiliìfero Segundo Koriyama et al., dos 120 casos e 42 (2,9%) casos de outras formas mistas de de câncer de pênis de células escamosas, 27 SCC. Segundo os autores, o HPV teve contribuição de forma geral na eram HPV positivos, representando 23% dos carcinogênese do câncer de pênis, em 38,92% casos. o HPV 16 foi encontrado em 24 dos 27 dos casos. No caso de tumores SCC basaloides, casos observados. No estudo sugeriu-se que a o HPV teve contribuição em 76% dos casos, integração do DNA do HPV de alto risco com o 58,9% nos casos de condiloma acuminado, genoma da célula hospedeira está associada 47,8% nos casos de não queratinizado, 43,5% a uma expressão aumentada de p16, que nos casos de queratinizado e 24,5% nos casos poderia ser um biomarcador para os casos de carcinoma de células escamosas peniano de verrucoso. (1) No Brasil, em estudo conduzido no relacionados ao HPV, achados semelhantes Rio de Janeiro, detectou-se DNA de HPV aos casos de câncer cervical. (7) em 72,5% dos 80 casos de câncer de pênis Dada a alta prevalência do HPV em estudados. HPV de alto risco foi detectado em nosso meio e uma baixa prevalência de Ca de 69% dos casos, enquanto HPV de baixo risco pênis, fatores genéticos e ambientais parecem foi detectado em 12% dos casos. Dos tipos de estar envolvidos em sua patogênese. Além HPV o mais frequente foi o tipo 16, presente em disso, intervalo de tempo entre a infecção pelo 52% dos casos. O SCC representou 90% dos HPV e o surgimento do CE do pênis pode ser casos, sendo moderadamente diferenciado em (1) de décadas, o que reforça a hipótese da ação 70,3% dos casos. sinérgica de outros agentes, como o tabagismo, por exemplo. (3) 206 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 CANCER DE PENIS: RELATO DE CASO O pênis e formado por tecidos que incluem pele, nervos, musculatura e vasos sanguíneos. Sendo assim, a apresentação clinica do tumor, depende de diferenças histológicas presentes no órgão. Diferentes tipos de neoplasias podem ser detectadas de acordo com a célula afetada. É a diferença celular em nível histológico que determina o tipo de câncer e também o tratamento. (2) As lesões geralmente vegetantes ou ulceradas variam quanto as dimensões e, com frequência, o paciente procura o atendimento medico tardiamente por falta de recursos locais ou por temer o tratamento cirúrgico. (2) Em um estudo recente observou-se que o local mais acometidos dos CE, in situ ou invasivos, era a glande, associada ou não com feridas em outros locais, seguido do prepúcio. O mesmo estudo também relatou presença de verrugas genitais em 14,2% dos pacientes com CE invasivo e em 60% dos pacientes com CE in situ, estes últimos coinfectados pelo HIV, ilustrando o papel da imunodeficiência na carcinogênese. (3) Correta descrição clínica e a classificação histopatológica das neoplasias malignas auxiliam os profissionais no planejamento do tratamento, oferecem indicação do prognóstico, auxiliam na avaliação dos resultados do tratamento e, ainda, contribuem para a pesquisa contínua acerca da doença. (2) Dois sistemas são usados em câncer de pênis, incluindo a classificação de Jackson e o sistema TNM. (2) A European Association of Urology elaborou,em2009,asseguintesrecomendações para o diagnóstico e estadiamento do câncer do pênis: exame físico e exame citológico e/ ou histopatológico do tumor primário; exame físico das regiões inguinais: no caso de linfonodos impalpáveis, biópsia do linfonodo-sentinela; quando esta última não estiver disponível, citologia de material aspirado com agulha fina guiada por ultrassonografia; no caso de linfonodos palpáveis, citologia de material aspirado com agulha fina; nos pacientes com metástase para linfonodos inguinais, tomografia pélvica e PET- CT scan; RMR para investigar metástases à distância, na impossibilidade de realizar PET-CT scan, tomografia abdominal e radiografia do tórax; em pacientes com metástase à distância, sintomáticos, scan ósseo. É importante ressaltar que, nos casos em que a lesão é mal delimitada ou quando coexistem morfologias variadas, é recomendável realizar mais de uma biópsia. Nas úlceras, é importante incluir a borda da lesão. Na suspeita de carcinoma verrucoso, a biópsia deve ser profunda o suficiente para ultrapassar a exuberante camada córnea e incluir toda a espessura da epiderme e da derme. (3) A raridade do CE do pênis e a falta de protocolos implantados no período abrangido pelo estudo explicam a heterogeneidade dos esquemas adjuvantes adotados. Ainda hoje, a raridade da doença limita a realização de estudos randomizados comparando diferentes abordagens terapêuticas. O tratamento do CE in situ do pênis pode ser medicamentoso ou cirúrgico, dependendo da extensão, da localização no órgão genital e da conveniência do paciente e do médico. No CE invasivo, entretanto, é sempre cirúrgico (postectomia, amputação parcial ou total do órgão) e, na dependência do estadiamento, pode ser associada linfadenectomia, radioterapia e/ou quimioterapia. De todo modo, o tratamento dos CE invasivos é agressivo e pode deixar sequelas físicas e psicológicas. (3) O tratamento cirúrgico convencional para carcinoma peniano envolve penectomia parcial ou radical com margem de segurança de 2 cm. Ambas conseguem controle local adequado. Essa abordagem é realizada no Brasil em 60% dos casos, representando a alta morbidade acompanhada pelo diagnóstico de câncer de pênis em nosso meio. (1) As lesões metastáticas que envolvem o corpo cavernoso são ocasionadas frequentemente por nódulos múltiplos e palpáveis. O tratamento de tumores com extensão maior e invasão dos nódulos regionais é controlado com cirurgia ou radioterapia. Porém, tumores profundamente invasivos, particularmente aqueles com lesões que envolvem o eixo distal ou que deformam a glande, Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 207 CANCER DE PENIS: RELATO DE CASO são controlados geralmente por penectomia parcial. Lesões mais extensivas ou tumores que envolvam a base e a parte uretral bulbar do pênis são controlados por penectomia total ou requerem cistoprostatectomia, ou, ocasionalmente, esvaziamento pélvico anterior ou total, com diversificação urinária. Os pacientes que apresentam metástase inguinal devem ser submetidos à linfadenectomia pélvica na região afetada. É fato conhecido que aproximadamente 20% dos tumores de pênis apresentam metástases linfonodais. Em contrapartida, 50% dos linfonodos clinicamente comprometidos não têm tumor e sim reação inflamatória. (2) Para doenças localmente avançadas ou doença irressecável, existe a indicação de quimioterapia porém ainda não é consenso de qual esquema é o ideal. Estudo recente publicado no British Journal of Cancer estudou a associação de Docetaxel, Cisplatina e 5-Fluoracil no tratamento do câncer peniano localmenteavançado e/ou metastático. Porém o estudo não evidenciou benefício significativo, sendo que apenas 10 dos 26pacientes apresentaram resposta positiva. Além disso, a associação causou intensa toxicidade nos pacientes. (6) Os tumores penianos tendem a evoluir de maneira lenta, inicialmente superficial, invadindo a seguir o córion, o tecido esponjoso da glande e os corpos cavernosos. A infiltração da uretra é rara e, em geral, ocorre apenas nas fases avançadas da evolução dos tumores dos corpos cavernosos. O comportamento biológico desses tumores tende a ser uniforme, com disseminação para linfonodos inguinais, linfonodos pélvicos e periaórticos, e raramente apresentam comprometimento visceral. Os pacientes não tratados ou cujo tratamento foi ineficaz, em geral, morrem por complicações secundárias às metástases inguinais, ou seja, hemorragias por lesões tumorais de grandes vasos ou processos sépticos. (2) Estudo, realizado por Steffens et al, avaliou a associação entre elevação da proteína C-reativa (PCR) e o prognótico do carcinoma de células escamosas peniano. Foi realizado estudo retrospectivo, avaliando-se dados de 79 pacientes. Os resultados mostraram que, realmente, valores elevados de PCR estão associados com pior prognóstico e sugerem o valor de 15mg/l como ponto de corte. A taxa de sobrevida em 5 anos para pacientes com PCR<15mg/l foi de 84,3% e para pacientes com PCR>15mg/l a sobrevida foi de 38,9%. Dentre os fatores de risco isolados, após análise com regressão multivariada, encontraram significância estatística isolada, apenas para presença de metástases linfonodais ao diagnóstico. Acreditam que isto tenha ocorrido devido a pequena amostra avaliada, porém existe a possibilidade da elevação inicial da PCR estar associada com fatores ocultos que causem o pior desfecho clínico nestes pacientes. Comparativamente, Johnson et al realizou estudo comparando a associação entre mortalidade e PCR intra tumoral, avaliada com imuno-histoquímica. Neste estudo evidenciou-se taxa de mortalidade 12 vezes maior nos pacientes com maior concentração de PCR intra tumoral. (5) Desde 2007, a Sociedade Brasileira de Urologia desenvolve uma campanha educativa nacional e de caráter permanente com a finalidade de erradicar o câncer do pênis, por meio da divulgação dos sinais e sintomas mais comumente encontrados e do exame da população em diferentes cidades do interior do país. (3) Atualmente no Brasil, o ministério da saúde disponibiliza a vacina quadrivalente, para meninas de 11 a 13 anos, a qual previne contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18). Em estudo realizado por Marty et al, a vacinação de meninos e meninas contra o HPV 6,11,16 e 18 mostrou notável benefício clínico em relação a vacinação isolada de meninas. Observouse uma redução de carcinomas relacionados ao HPV (31% para 77%) e verrugas genitais em homens (30% para 90%) bem como carcinomas relacionados ao HPV (14% para 68%) e verrugas genitais em mulheres (21% para 98%). (4) Este trabalho ressalta a importância do exame dermatológico minucioso da região genital como um passo na detecção precoce do câncer do pênis e de suas lesões precursoras. A implementação de programas multiprofissionais, envolvendo dermatologistas, urologistas, médicos do programa de saúde da família, patologistas, psicólogos e assistentes sociais, entre outros, certamente contribuiria para esta meta, proporcionando um atendimento integral, de melhor qualidade a estes homens. (3) 208 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR CANCER DE PENIS: RELATO DE CASO CONCLUSÃO O câncer de pênis é uma doença rara que acomete indivíduos de baixo nível socioeconômico, com maus hábitos de higiene e não circuncisados. O atraso no diagnostico, comumente presente, acarreta em elevada morbimortalidade. Diante disso campanhas de prevenção são necessárias para que se repasse aÌ população em geral o conhecimento sobre a associação dos maus hábitos de higiene e o efeito carcinogênico da fimose e da infecçaÞo pelo HPV no câncer de pênis. Essas informações permitiriam diagnosticar o câncer de pênis precocemente, o que reduziria a incidência e a severidade da doença, como também proporcionaria maiores chances de cura e aumento da sobrevida. ABSTRACT Pênis câncer is a rare lesion and the global incidence is quite variable, according to the socioeconomic and cultural levels, as the practice of circumcision. It affects individuals in all age groups, predominantly in the elderly. Of histological subtypes, squamous carcinoma is the principal. There are strong evidences that link HPV and lichen sclerosus as major risk factors. The appearance of a vegetating lesion or ulcer is what often leads patients to seek treatment, usually in advanced stages, when the surgical procedure is already mutilant. Early diagnosis allows less aggressive treatments, contributing to a better quality of life for these men. Thus, the objective of this report is to emphasize the importance of preventive measures and the identification of risk factors and update on new diagnostics and treatment methods. KEY WORDS – Neoplasm; Penis; Squamous Cell Carcinoma; Primary Prevention. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Carvalho JJM, Moreira RJ, Vedovato BC, Silva DB, Carvalho JZM, Trevizol AP et al. Câncer de Pênis em Jovem de 23 Anos associado a infecção por hpv 62 – relato de caso. DST. J bras Doenças Sex Transm. 2011; 23(1): 44-7. Reis AAS, Paula LB, Paula AAP, Saddi VA, Cruz AD. Aspectos clínico-epidemiológicos associados ao câncer de pênis. Ciênc. saúde coletiva [online] 2010;15(Suppl.1):1105-11. 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British Journal of Cancer 2013;108:229–33 | doi: 10.1038/bjc.2012.583 Enviado em : 10/9/2014 Aprovado em 1/10/2014 Endereço para correspondência: Marco Aurélio Sebben Rua Guilherme Pugsley, 1950 – Apart. 903 CEP 80.620-000 – Curitiba, Paraná E-mail: [email protected] Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 209 Relato de caso RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA EM PACIENTE PORTADOR DA SÍNDROME DE POLAND BREAST RECONSTRUCTION IN PACIENT WITH POLAND SYNDROME Dayson Luiz Nicolau dos Santos1 Alexandre Tieppo Zarpellon2 Ivana de Oliveira Gus2 Marco Aurélio Sebben3 Mariana Pirajá Genta4 RESUMO – A Síndrome de Poland é uma anomalia congênita rara. Sua manifestação clínica é extremamente variável, podendo ser caracterizada por ausência parcial ou total dos músculos peitoral maior, peitoral menor, serrátil e da mama, e do complexo areolopapilar. Menos comumente, pode-se encontrar defeitos em cartilagens e costelas, hipoplasia de tecidos subcutâneos da parede torácica, braquissindactilia ipsilateral e alopécia da região axilar e mamária. Os achados podem ser bilaterais, mas são mais frequentes do lado direito. A incidência no Brasil é 1: 30.000. DESCRITORES – Síndrome de Poland; Dispositivos para expansão de tecidos; Sindactilia; Reconstrução. INTRODUÇÃO É mais comum em homens e raramente é bilateral. A ausência da porção esternal do músculo peitoral maior é considerada a expresA Síndrome de Poland é uma doença são mínima dessa síndrome. O comprometicongênita, descrita em 1842, pelo Dr. Alfred Poland, no Guy Hospital, em Londres. No Brasil, mento de outros músculos adjacentes (peitoral estudos demonstram baixa incidência da síndro- menor, serrátil anterior, latíssimo do dorso e me (1:30.000); segundo a literatura, acredita-se oblíquo externo) já foi referido na literatura.(2) em influência genética e anomalias cromossôO presente trabalho relata o caso de micas.(2) As manifestações clínicas desta afecção são extremamente variáveis e raramente uma paciente portadora da síndrome e submetodas as características podem ser encontradas tida à cirurgia reconstrutora, conforme descrito em um único indivíduo.(1,5) a seguir. Trabalho realizado em conjunto entre Departamento de Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica do Hospital Santa Casa de Curitiba, Paraná. 1. Preceptor da Residência em Cirurgia Plástica do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. 2. Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Santa Casa – Curitiba/PR. 3. Médico Residente em Cirurgia Geral do Hospital Santa Casa de Curitiba. 4. Acadêmica do Curso de Medicina da PUC-PR e Estagiária do Hospital Santa Casa de Curitiba. 210 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA EM PACIENTE PORTADOR DA SÍNDROME DE POLAND RELATO DO CASO N.M.S., 28 anos, sexo feminino, natural do Rio de Janeiro – RJ. A paciente foi encaminhada ao ambulatório do Hospital Santa Casa de Misericórdia para avaliação de possível plástica mamária. Na consulta constatou-se que se tratava de Síndrome de Polland, com agenesia completa de mama esquerda e peitoral maior ipsilateral, sem demais alterações (Figuras 1A, 2A e 3A). Após estudo e discussão do caso, decidiu-se que a melhor forma de plástica mamária seria através da colocação de expansor de pele e posterior prótese definitiva. RMR (Figura 1B - Apos reconstrução ) (Figura 2b - Apos reconstrução - de lado) (Figura 3B - Apos reconstrução - perfil) DISCUSSÃO Figura 1A (Aspecto de frente da paciente ) Figura 2a (Aspecto de lado) Figura 3A (Aspecto de Perfil) Diante disso, foi realizada cirurgia para colocação do expansor de pele na região da mama esquerda. Expansor permaneceu por 2 meses, sem intercorrências. Novo procedimento cirúrgico foi realizado para troca do expansor de pele por prótese de poliuretano com volume de 400cc no local da mama esquerda. Neste mesmo procedimento, realizou-se a simetrização da mama direita pela técnica de Pitanguy - redução mamária com pedículo superior. Nas consultas ambulatoriais subsequentes a paciente revelou ótima evolução e satisfação com os resultados operatórios (Figuras 1B, 2B e 3B). Observou-se cicatrização satisfatória e simetrização adequada. Aproximadamente 6 meses após o procedimento, referiu depressão em região axilar esquerda. Como conduta futura foi decidido por realização de enxertia de gordura no local em questão. A síndrome de Poland, rara anormalidade congênita, com inúmeras manifestações, afeta principalmente a região torácica e é caracterizada pelo subdesenvolvimento ou ausência do músculo peitoral maior unilateral, e eventualmente sindactilia em mãos. (3) É detectada principalmente no lado direito do corpo e tem maior incidência em pacientes do sexo masculino. As deformidades congênitas ou do desenvolvimento do tórax raramente causam problemas funcionais graves, como nas anomalias maiores de membros. Também é esteticamente mais tolerada e camuflada quando comparada às fissuras faciais maiores.(2) As deformidades esqueléticas podem incluir desde o sunken chest, termo utilizado para as depressões torácicas associadas a displasia esquelética em geral, até a ausência das porções anteriores das costelas ou cartilagens costais. Em casos graves, pode haver movimentos paradoxais significativos do tórax e herniação anterior do pulmão. A escápula pode ser menor e alada (deformidade de Sprengel). A pele dessa região é hipoplásica e a tela subcutânea, mais delgada. Em geral, o complexo areolopapilar é posicionado mais superiormente nos homens e nas mulheres a mama é hipoplásica. As deformidades da mão podem apresentar-se como sindactilias variáveis, ausência de falanges médias, fusão dos ossos do carpo ou encurtamento do antebraço.(2) Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 211 RECONSTRUÇÃO MAMÁRIA EM PACIENTE PORTADOR DA SÍNDROME DE POLAND O avanço tecnológico, por meio da tomografia computadorizada, permitiu fazer um diagnóstico preciso das alterações ósteomusculares, aprimorando o tratamento cirúrgico.(1) Quando a correção de deformidades torácicas são necessárias, a tomografia computadorizada com reconstrução em 3D da parede torácica é a modalidade de escolha, especialmente em pacientes com ausência de algumas costelas ou anormalidades rotacionais do esterno. (4,5) As correções cirúrgicas das deformidades congênitas ou do desenvolvimento torácico podem ser importantes na prevenção de escoliose progressiva, restrição cardiopulmonar ao esforço e desenvolvimento psicológico adverso. (2) A literatura não refere casos de reabsorção óssea total e regional secundária à presença de prótese mamária. No entanto, sabe-se que a compressão resulta em absorção óssea e, subsequentemente, em remodelamento ósseo.(2) Com o advento dos expansores, podemos corrigir as mais variadas deformidades sem o uso de retalhos musculares. Amplamente difundidos, os expansores, são utilizados para reconstrução mamária, correção de alopecias e cicatrizes. Constituem solução eficaz e satisfatória para os pacientes portadores da síndrome relatada. (1) ABSTRACT – Poland’s syndrome is a rare congenital anomaly. Their clinical presentation is highly variable and can be characterized by partial or total absence of the pectoralis major, pectoralis minor, serratus and breast, and areolopapilar complex. Less commonly, you can find defects in cartilage and ribs, hypoplasia of the subcutaneous tissues of the chest wall, ipsilateral brachisyndactyly and alopecia of the axillary and mammary region. The findings may be bilateral, but are more frequent on the right side. The incidence in Brazil is 1: 30,000. KEY WORDS – Poland’s syndrome; tissue expansion devices; reconstruction, syndactyly REFERÊNCIAS 1. Castro, C.S.; Garcia, R.T.; Castro, V.M.; et al. Reconstrução mamária em paciente com síndrome de Poland e situs inversus totalis: relato de caso. Rev. Soc. Bras. Cir. Plast., v.22, p.261-5, 2007. 2. Pinto, E. B. D. S., Saldanha, O. R., Rocha, R. P. D., Carvalho, A. S. D., & Belboni, P. F. (2011). Complications after breast implant use in Poland’s syndrome: a case report. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 26(4), 703-706. 3. LEGBO, JN. Poland syndrome: Report of a variant. J Natl Med Assoc. 2006;98:97-9. 4. Mentzel HJ, Seidel J, Sauner D, Vogt S, Fitzek C, Zintl F. Radiological aspects of the Poland syndrome and implications for treatment: a case study and review. Eur J Pediatr. 2002;161:455–9.10.1007/s00431-002-0974-0 5. ULUDAG, Murat et al . Scapular winging in Poland syndrome. Clinics, São Paulo , v. 66, n. 5, 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_a rttext&pid=S1807-59322011000500037&lng=en&nrm=i so>. Enviado em : 19/09/2014 Aprovado em 20/10/2014 Endereço para correspondência: Dayson Luiz Nicolau dos Santos1 Rua Guilherme Pugsley, 1950 – Apart. 903 CEP 80.620-000 – Curitiba, Paraná E-mail: [email protected] 212 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR Relato de caso FASCEÍTE NECROTIZANTE EM PAREDE TORÁCICA APÓS DRENAGEM DE CISTO SEBÁCEO INFECTADO: RELATO DE CASO Necrotizing Fasciitis in the chest wall after drainage of Sebaceous Cyst infected: Case report Fábio Maurizio Nery(1) Ana Paula Nudelmann Gubert(1) Álvaro Fonseca Kaminski(2) Maurício Ricardo Baggio2) Carolina Marquetto(3) Douglas Ribas Schumann(3) Geraldo Alberto Sebben(4) RESUMO A fasceíte necrotizante é uma patologia incomum que acomete partes moles, de progressão rápida, etiologia polimicrobiana, com elevada morbi-mortalidade. Os locais mais atingidos são: períneo, abdome e extremidades. O trabalho relata um caso de fasceíte necrotizante em parede torácica, complicação após drenagem de cisto sebáceo infectado, em um paciente do sexo masculino, 46 anos, que descobriu ser portador de diabete melito durante o tratamento. Descritores: Fasceíte; Fasceíte Necrotizante; Parede Torácica. INTRODUÇÃO Caracteriza-se pela necrose extensa da fáscia superficial e profunda, com comprometiA fasceíte necrotizante foi descrita pela mento do tecido subcutâneo e pele. Pode evoprimeira vez por Hipócrates, no século 4 a.C., luir com toxicidade sistêmica, choque séptico, como sendo uma complicação da erisipela¹. Di- falência de múltiplos órgãos e sistemas e óbito. ferentemente desta, que não se prolonga além (¹, ²) da derme e epiderme, a fasciite necrosante é O objetivo do presente trabalho é relatar uma infecção não frequente dos tecidos moles, o caso de um paciente com fasceíte necrotizangeralmente causada por agentes não Clostrí- te de parede torácica, em função da escassa dios, produtores de necrotoxinas como o Es- quantidade de artigos encontrados na literatutreptococo beta-hemolítico do grupo A, Estafi- ra, e ressaltar a importância dos aspectos relococo, Gram negativos aeróbios e anaeróbios. lacionados ao diagnóstico precoce, tratamento A fasceíte necrotizante em parede torácica é agressivo e reconstrução com o menor dano relatada mais comumente no pós-operatório de funcional possível. cirurgias torácicas. Trabalho Realizado no Departamento de Cirurgia Geral e Residência Médica do Hospital São Vicente de Curitiba 1. Médicos Residentes de Cirurgia Geral 2. Médicos Cirurgiões e Preceptores da Residência Médica 3. Acadêmicos de Medicina e Membros da Liga Acadêmica de Clínica Cirúrgica do Hospital 4. Preceptor da Residência Médica, Chefe do Departamento de Cirurgia Geral e Diretor de Ensino e Pesquisa Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 213 fasceíte NECROTIZANTE EM PAREDE TORÁCICA RELATO DO CASO AOF, 42 anos, sexo masculino, natural e procedente de Curitiba-PR, procurou um Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) de Curitiba devido à presença de um cisto sebáceo inflamado em região anterior de tórax, com cerca de ½ cm de diâmetro e 10 dias de evolução. Foi medicado com anti-inflamatório e liberado. Quatro dias após, o paciente retornou apresentando abscesso de 2 cm no local. Relatou que foi puncionado pelo médico assistente e prescrito cefalexina para uso domiciliar. No dia seguinte, o paciente novamente retornou apresentando piora do quadro, aumento da hiperemia, edema, dor intensa em região torácica anterior e febre. Foi transferido para um hospital de pequeno porte onde foi iniciado ceftriaxona e onde permaneceu internado por dois dias. Apresentou na evolução sinais de toxemia evoluindo com choque séptico sendo então transferido para a UTI de nosso hospital. Ao exame físico apresentava sinais flogísticos e crepitação na parede do tórax. Iniciouse meropenem e vancomicina, posteriormente substituída por linezolida. Exames complementares: leucocitose (40.800/mm3), 25% de bastões, níveis glicêmicos elevados. A tomografia de tórax demonstrou densificação difusa de planos adiposos, associada à extensa quantidade de gás na parede torácica, predominando nas regiões anterior e lateral direita e esquerda, compatíveis com processo inflamatório e infeccioso (1), sendo diagnosticado como fasceíte necrotizante. Após estabilização hemodinâmica o paciente foi levado ao centro cirúrgico para debridamento agressivo, sendo identificados grande quantidade de secreção purulenta e tecido necrótico na fáscia torácica, desde a região clavicular até o processo xifóide. Realizaram-se no total cinco debridamentos (2) até resolução do processo infeccioso e necrótico. A primeira cirurgia reconstrutora foi uma rotação de retalho randômico dermo-gorduroso do abdome considerando-se os vasos epigástricos superiores. A rotação foi em direção esternal com cobertura de aproximadamente 2/3 da ferida (3). A área exposta restante foi recoberta por enxerto de pele total, retirado da região infraumbilical e realização de curativo de Brown (4). Devido à ocorrência de necrose parcial do enxerto foi necessária a realização de nova rotação do retalho para o fechamento completo (4). Figura 3 Desbridamento Figura 4 Rotação e enxertia de retalho abdominal Figura 1 Tomografia computadorizada do tórax mostrando presença de gás no tecido celular subcutâneo Figura 2 Aspecto apos desbridamento cirúrgico Figura 5 Aspecto final da cicatrização 214 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 fasceíte NECROTIZANTE EM PAREDE TORÁCICA RMR Não houve o desenvolvimento de microorga- Ocorre mais comumente nos extremos de idanismos nas culturas realizadas possivelmente de e no sexo masculino 5. De acordo com a devido a antibioticoterapia. literatura, pudemos observar três fatores de risco no paciente do nosso relato. Sexo masDISCUSSÃO culino, obesidade e diabete melito que foi diagUma entidade especial de fasceíte ne- nosticado durante o internamento.(3,5) crotizante é bem conhecida, a Síndrome de Na fisiopatologia das fasciites ocorre Fournier. Jean Alfred Fournier foi o primeiro uma invasão pela infecção dos planos fasciais a descrever esta infecção, caracterizando-a e trombose dos vasos perfurantes. Externacomo de etiologia idiopática e que afetava ho- mente bolhas hemorrágicas podem se formar. mens jovens. (4) Esta condição se caracteriza A pele pode apresentar diminuição de sensibipela necrose do fáscia das regiões genitais, lidade, hiperemia, edema e crepitação devido perineais, perianais e, ao contrário de sua descrição inicial, a doença está longe de ser consi- à formação de gás pelas bactérias causadores derada idiopática, acometendo homens e mu- da infecção. A saída de secreção escura e félheres de todas as faixas etárias. (5) Dentre as tida e bastante dor associada à ferida também principais causas estão as infecções urogeni- são observados. Nos exames de imagens, nota-se a pretais (epididimites, orquites, infecções das glânsença de ar nos tecidos afetados, conforme dulas bulbouretrais), anorretais (abscessos isse observa muito bem na tomografia de nosso quiorretais, complicações do câncer colorretal, diverticulites, perfurações colônicas), trauma e caso. No hemograma pode surgir leucocitose. causas dermatológicas, como a hidroadenite A leucocitose exacerbada é um importante fator preditivo da gravidade da doença.(1, 2) supurativa, por exemplo. (5,6) Como diagnóstico diferencial deve-se leReferências sobre a infecção ocorrendo primariamente na parede torácica descrevem var em conta o Pyoderma gangrenosum, uma como fatores causais situações como cirurgias doença cutânea rara que ocorre em indivíduos cardíacas, cirurgias gastroesofágicas, drena- predisponentes e cujo tratamento é baseado gem de empiema, pneumectomias, trauma to- em corticoterapia.(1) rácico, abscesso peritonsilar e até mesmo exeNeste relato o paciente apresentou quarese de lipoma. (7,8) dro típico com sinais flogísticos na pele e tecido Em trabalho publicado na Revista Brasi- celular subcutâneo além de crepitação, alteraleira de Ginecologia e Obstetrícia, Costa Silva ção importante no leucograma e a presença de e colaboradores relatam o caso de uma mulher ar anterior a fáscia muscular do músculo peitoidosa e obesa que após cirurgia para ressec- ral maior. Talvez o diagnóstico pudesse ter sido cão de nódulo benigno (lipoma) mamário evo- mais precoce, contudo a localização incomum luiu com grave infecção mamária e fasciite em e a pequena manifestação na pele foi como a parede do tórax. (8) Frota Filho e colaboradores relataram ponta de um iceberg, externamente a manifesum caso de fasciite necrosante no tórax após tação discreta e em níveis mais profundos um cirurgia cardíaca em paciente com Síndrome grande comprometimento. O desbridamento cirúrgico agressivo de Marfan. O paciente apresentou quadro ar(1) dos tecidos necróticos é a medida mais eficaz rastado, mas com boa evolução. no tratamento da fasciite necrosante de tórax, Júlio Coelho e colaboradores publicasendo a principal medida responsável pelas ram em 1998, na Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, um caso de fasciite em uma quedas nos índices de morbi-mortalidade. A mulher de 34 anos, sem fatores de risco e que meta inicial da antibioticoterapia deve levar em apresentou uma infecção iniciada em região de conta a ampla cobertura de aeróbios gram-pofossa ilíaca esquerda, limitada a região pré-pe- sitivos, gram-negativos e anaeróbios. O trataritoneal, estendendo-se até o tórax. (10) mento definitivo não pode ser realizado sem De maneira geral, tanto a Síndrome de uma completa reconstrução, que inclui uma Fournier quanto as demais fasciites necrosan- cobertura estável e confiável da parede torácites são favorecidas por condições que depri- ca, visando a melhor preservação funcional e mem a imunidade celular como o diabetes, estética, como foi a que ocorreu em nosso caso presente em até 60% dos casos, obesidade relatado. mórbida, alcoolismo, cirrose, doenças malignas (leucemias, câncer do cólon), desnutrição, lúpus eritematoso sistêmico, doença de Crohn e infecção pelo vírus HIV. Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 215 fasceíte NECROTIZANTE EM PAREDE TORÁCICA CONCLUSÃO A fasceíte necrotizante é uma infecção bacteriana que pode ser bastante destrutiva e rapidamente progressiva envolvendo o tecido subcutâneo e fáscias musculares. Associa-se a altas taxas de morbidade e mortalidade se não diagnosticada e tratada de forma adequada e precoce. Abstract A Necrotizing fasciitis is an uncommon condition that affects soft tissue, with rapid progression, polymicrobial aetiology, with high morbidity and mortality. The most affected sites are: perineum, abdomen and extremities. The paper reports a case of necrotizing fasciitis in the thoracic wall with complications after drainage of infected sebaceous cyst on a male patient,46 years old, has found to be the bearer of diabetes mellitus during treatment. Keywords: Fasciitis; Fasciitis necrotizing;Thoracic Wall REFERÊNCIAS 1. Frota Filho JD, Drews C, Leães P, Blacher C, Tostes F, Delatorre N et al. Fasceíte necrotizante do tórax em pós-operatório de cirurgia cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2001; 76: 245-9. 2. Coelho JCU, Gonçalves CG, Baretta GAP. Infecção em cirurgia. In: Coelho J. Manual de Clínica Cirúrgica – Cirurgia Geral e Especialidades. São Paulo: Atheneu; 2009. 3. American Diabetes Association. ADA Clinical practice recommendations. 2012; 35: 564-51. 4. Mehl AA, Nogueira DCN, Mantovani LM, Grippa MM, Berger R, Krauss D, Ribas D. Manejo da Gangrena de Fournier: experiência em um Hospital Universitário de Curitiba. Rev Col Bras Cir. 2010; 37(6): 435-41. 5. Vernon MPJ, Santora T, Rukstalis DB. Founier Gangrene. (cited 2013Mar.); Available from: http://emedicine.medscape.com/article/2028899-overview#showall. 6. Fournier AJ. Gangrene foudroyanta de la verge. Semaine Medicale.1883; 3: 345-8. 7. Losanoff JE, Missavage AE. Neglected peritonsillar abcess resulting in necrotizing soft tissue infection of the neck and chest wall. 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Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 RMR EXPRESSÕES MÉDICAS EXPRESSÕES MÉDICAS: falhas e acertos Medical expression: failures and hits Simônides Bacelar 1 Pressão arterial – nível pressórico – níveis pressóricos. O “aparelho de pressão” ou esfigmomanômetro indica a pressão do fluxo sanguíneo arterial, não exatamente a tensão ou a pressão arterial. Pressão arterial, por pressão sanguínea arterial, é designação imprópria nesse particular. A musculatura arterial e a cardíaca comprimem uma coluna sanguínea contra o aparelho medidor; entre a tensão desses órgãos e o esfigmomanômetro existe a resistência (peso da coluna sanguínea a considerar e que influi na avaliação do nível exato da tensão arterial.Compreende-se que a expressão “pressão arterial” significa pressão sanguínea arterial, o que configura ambigüidade, situação questionável em um termo técnico científico São também impróprias frases como “tomar (ou tirar) a pressão arterial”, “pressão arterial alta” ou “pressão arterial baixa”. As siglas PA (pressão arterial) e TA (tensão arterial) são também questionáveis. Há dois níveis de pressão sanguínea que são observados: a pressão feita pela contração cardíaca e a produzida pela pressão arterial. O termo mais adequado seria medir (tomar ou aferir) os valores de pressão sanguínea arterial sistólica e diastólica. Não existe uma sigla conhecida para ele. O termo nível pressórico, ou melhor: níveis pressóricos, tem sido adotado em referência à pressão sanguínea arterial. Pressórico é nome bem formado, consta na ortografia autorizada (VOLP, 2009), mas ainda não foi assentado em outros dicionários. Pelo exposto, as medidas tomadas pelos aparelhos são da pressão sanguínea, não da tensão arterial. Desse modo, dizer hipertensão arterial de 10 por 8 mmHg, por exemplo, é referência imprecisa. É discutível usar x em comunicados formais (PA=120x80) por configurar fórmula matemática ou recurso usado em rascunhos de apontamentos. Pode-se escrever “valores de pressão sanguínea de 120 por 80 mmHg” ou assinalar 120/80 mmHg. É bem conhecido que a influência do uso popular é considerável, e esse uso é compreensível na vida prática. Mas é oportuno acrescentar que praticamente todos os livros de metodologia e de redação científica de notórios autores recomendam enfaticamente o uso de linguagem precisa, dos termos técnicos e acadêmicos, essencialmente em situações de formalidade. Estádio – estágio Parônimos de significados diferentes. São objetáveis expressões como: “tratamento cirúrgico em vários estágios”, “estágio evolutivo de uma doença”, “tratamento estagiado”, “estágio larvar de desenvolvimento do parasito”, “doença renal crônica estagiada”, “estágio puberal”. 1.Cirurgião Pediátrico. Professor voluntário. Centro de Pediatria Cirúrgica do Hospital Universitário da Universidade de Brasília. Email: [email protected] Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014| 217 EXPRESSÕES MÉDICAS Nesses casos, estádio ou estadiado(a) são os termos mais adequados. Significa fase, estado, período, época, etapa: estádio de penúria, de progresso, sentidos concordantes com o étimo latino, stadium, que tem o mesmo significado. Frequentemente, estádio pode ser substituído por estado. Estágio é período de preparo e aprendizado profissional, situação transitória de preparação para um cargo ou carreira (A. G. Kuri, 1000 perguntas de português, 1983, p. 25). Do latim stagium, estada, demora junto de alguém (F. S. Bueno, Grande dic etim e pros da língua port, 1965). Indicava período em que o vassalo (cônego, advogado) era obrigado a passar no castelo do senhor, especialmente em ocasião de guerra, para prestar-lhe assistência (id., ibid.). Atualmente há vocabularistas que registram esses vocábulos como sinônimos (Aurélio, 1999; Michaelis, 1998; Fortes & Pacheco, Dic méd, 1968), mas há gramáticos que discordam (L. Sacconi, Não confunda, 1990; Nicola & Terra, 1001 dúvidas de port., 1997) e há dicionaristas que averbam a diferença (R. Paciornik, Dic méd, 1975; A. Cunha, Dic etim., 1982). Segundo S. Bath (Alguns registros de convergência e divergências léxicas, 2000), estádio tem dois sentidos campo desportivo e fase, período; estágio só tem essa segunda acepção, e pode significar, por extensão, aprendizado, trabalho provisório, de adaptação, aperfeiçoamento ou especialização. Em francês, stade; em espanhol, estadio. Na literatura médica em língua inglesa, é habitual stage que influencia o uso de estágio como tradução em português. estádios cirúrgicos, estádios hierárquicos, estádios ninfais. Dizemos, comumente, estadiamento de câncer, estadiamento cirúrgico, embora “estagiamento” apareça na linguagem médica, nome ainda ausente dos dicionários. Significa ato ou efeito de estadiar, ordinariamente usado para se referir ao processo de estabelecer o estádio de neoplasias malignas. Embora inexista nos dicionários, estadiamento é nome útil, bem formado e muito utilizado em medicina, o que o torna fato da língua e, assim, seu uso é legítimo. Assim, pode ser sinônimo de estádio. Estádio como palavra paroxítona não está nos dicionários de português, mas está presente na literatura médica. Estádio deve ser proparoxitonamente acentuado (N. Almeida, Dic de questões vernáculas, 1996). Estadiar consta no VOLP (Voc. Ort da Língua Port., 2009), o que justica a formação de termos como subestadiar, subestadiado. Estágio em lugar de estágio é muito comum na linguagem médica, o que legitima esse uso e, assim, não é errado usá-lo. Contudo, é de boa norma usar estádio como nome preferencial, mas não exclusivo, em situações de formalidade da linguagem científica. É de lamentar preferência do termo questionável e a rejeição do termo lídimo com base no uso geral. Recomendável dizer: estádios de uma doença, estádio de maturação, estádio de ciclo vital, 218 | Rev. Med. Res. | Curitiba | N. 3/4 |Jul - Dez - 2014 ISSN 2237-7131 WWW.REVISTADOMEDICORESIDENTE.COM