UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO BRUCELOSE Dawes Rodrigues Sousa Lima Palmas – TO, Janeiro 2010 DAWES RODRIGUES SOUSA LIMA Médico Veterinário, aluno curso de HIPOA BRUCELOSE Trabalho monográfico de conclusão do de especialização curso latu sensu em HIPOA, apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Athos de Assumpção Pastore. ii Palmas – TO, Janeiro 2010 iii BRUCELOSE Elaborado por Dawes Rodrigues Sousa Lima Foi analisado e aprovado com grau: _____________________________ Palmas – TO, __/___/____ ______________________________ Prof. Dr. Athos de Assumpção Pastore Palmas – TO, Janeiro 2010 iv RESUMO A brucelose é uma antropozoonose, uma doença primária de animais que pode ser transmitida ao homem e que ocorre com considerável freqüência nos rebanhos bovinos. Em geral, as principais manifestações da brucelose são falhas reprodutivas, com abortamentos em fêmeas e epididimite e orquite em machos, sendo uma das principais causas de condenação de órgãos e carcaças durante o processo de abate e classificação no frigorífico. O diagnóstico definitivo da brucelose é obtido através de exames laboratoriais diretos ou indiretos, com o objetivo de identificar os animais infectados e que estejam potencialmente eliminando o microrganismo e disseminando a doença. Apesar de ser preconizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento um programa de controle e erradicação da enfermidade, tem-se observado muitos casos de brucelose em abatedouros. Acredita-se que a dificuldade de obtenção de sucesso para o controle e erradicação da doença nos bovinos, e assim a diminuição do risco de infecção aos humanos, está na conscientização dos produtores. O presente relatório tem como objetivo abordar o tema brucelose bovina, através de uma revisão de literatura. v vi SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................... iv LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ viv LISTA DE ABREVIATURAS....................................................................................................ix 2. BRUCELOSE BOVINA ........................................................................................ 13 2.1. ETIOLOGIA ............................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.3 2.2. EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................... 55 2.3. PATOGENIA ...................................................................................................... 77 2.4. SINAIS CLÍNICOS .............................................................................................. 99 2.5. LESÕES MORFOLÓGICAS ........................................................................... 1010 2.6. DIAGNÓSTICO .............................................................................................. 1111 2.6.1. Diagnóstico Direto......................................................................................... 12 2.6.2. Diagnóstico Indireto .................................................................................. 1212 2.6.2.1. Soroaglutinação em Tubos ou Prova de Writh ......................................... 1313 2.6.2.2. Teste do Antígeno Acidificado Tamponado .............................................. 1414 2.6.2.3. Teste do 2-Mercaptoetanol....................................................................... 1414 2.6.2.4. Reação de Fixação do Complemento ...................................................... 1515 2.6.2.5. Teste Imunoabsorvente Ligado à Enzima ................................................ 1515 2.6.2.6. Teste do Anel Leitoso ............................................................................... 1616 2.7. TRATAMENTO............................................................................................... 1717 2.8. CONTROLE E ERRADICAÇÃO ..................................................................... 1818 2.9. LEGISLAÇÃO................................................................................................. 2020 2.9.1. Objetivos Específicos do Programa ........................................................ 2020 2.9.2. Estratégia ................................................................................................... 2020 2.9.3. Propostas Técnicas................................................................................... 2121 vii 2.9.3.1. Vacinação Contra a Brucelose ................................................................. 2221 2.9.3.2. Certificação de Propriedades Livres de Brucelose e Tuberculose ........... 2322 2.9.3.3. Certificação de Propriedades Monitoradas para Brucelose e Tuberculose2424 2.9.3.4. Controle do Trânsito de Reprodutores e Normas Sanitárias para Participação em Exposições, Feiras, Leilões e outras Aglomerações de Animais 2525 2.9.3.5. Credenciamento e Capacitação de Médicos Veterinários ........................ 2626 2.9.3.6. Diagnóstico e Apoio Laboratorial .............................................................. 2727 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 2929 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 3030 ANEXOS ............................................................................................................... 3232 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Localização da brucella nos linfonodos. .............................................. 88 Figura 2 - Teste de imunoabsorção ligado à enzima (ELISA). ......................... 1616 Figura 3 - Teste do anel leitoso (TAL). ............................................................. 1717 ix LISTA DE ABREVIATURAS MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento PCR Reação em cadeia da polimerase DNA Ácido desoxirribonucléico PNCEBT Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose TAAT Teste do antígeno acidificado tamponado 2-ME Teste do 2-mercaptoetanol RFC Reação de fixação de complemento OIE Escritório Internacional de Epizootias ELISA Teste imunoabsorvente ligado à enzima SLT Soroaglutinação lenta em tubos IELISA ELISA indireto CELISA ELISA competitivo TAL Teste do anel leitoso SIPAG/SFA- Serviço de Inspeção de Produtos TO Agropecuários/Superintendência Federal de Agricultura no Tocantins x 1. INTRODUÇÃO A brucelose é uma antropozoonose, de evolução crônica e caráter granulomatoso difuso, caracterizada pela infecção das células do sistema mononuclear fagocitário, causada por bactéria intracelular facultativa do gênero Brucella. Nos animais compromete, sobretudo, os sistemas reprodutivo e ósteoarticular, ocasionando com freqüência abortamento no terço final da gestação (CARTER & CHENGAPPA citado por ZAMBAN, 2008; METCALF et al citado por ZAMBAN, 2008). A doença é causada pela Brucella abortus. Outras espécies de Brucella como B. suis e B. melitensis também podem causar brucelose nos bovinos quando estes estão em contato com suínos, cabras e ovinos, que são, respectivamente, os portadores naturais daqueles agentes (ACHA e SZYFRES citado por LAGE et al, 2008). Além de ser uma zoonose, é também um fator limitante para o crescimento dos rebanhos bovinos, limita a oferta de alimentos e causa grandes prejuízos econômicos em muitos países e, por isso, possui importância socioeconômica e/ou de saúde pública em países cujo comércio internacional de animais e produtos de origem animal é significativo (OIE citado por ZAMBAN, 2008). As perdas advindas da infecção por B. abortus estão relacionadas à baixa eficiência reprodutiva dos animais, com consequente diminuição da produção do rebanho. A ocorrência de abortos acarreta um aumento do intervalo entre partos que leva à diminuição da produção de leite. Associados aos abortos, a alta frequência de natimortos e bezerros nascidos fracos, que geralmente morrem ou 1 têm seu crescimento prejudicado, reduz o número de bezerros disponíveis para comercialização. Estima-se que a diminuição da produção de carne e leite seja da ordem de 25% e que o decréscimo da produção de bezerros seja da ordem de 15% (Bernués et al citado LAGE et al 2008; MIRANDA et al. citado por LAGE et al, 2008 ). O impacto da doença fez com que a partir do ano 2001, adquirisse o status de doença com notificação obrigatória, com a aprovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (BRASIL, 2001). 2 2. BRUCELOSE BOVINA A brucelose é uma antropozoonose, uma doença primária de animais que pode ser transmitida ao homem, de evolução preferencialmente crônica, caracterizada pela infecção das células do sistema mononuclear fagocitário por uma bactéria pertencente ao gênero Brucella. Em geral, as principais manifestações da brucelose são falhas reprodutivas, com abortamentos em fêmeas e epididimite e orquite em machos. (RADOSTITS et al., 2002). Além dos problemas causados à saúde pública, determinados pela característica zoonótica da doença, a brucelose também gera prejuízos econômicos ao tornar o produto vulnerável às barreiras sanitárias, comprometendo a sua competitividade no comércio internacional (BRASIL, 2003). A brucelose foi primariamente identificada, na espécie humana, na Ilha de Malta, tendo sido seu agente causal isolado do baço de um soldado que dela sucumbiu (FERREIRA & FERREIRA, 1990). Além da denominação comum, brucelose, existem outras sinonímias como aborto epizoótico, doença de Bang, febre de Malta, febre ondulante, febre mediterrânea e melitococcia. (FERREIRA & FERREIRA, 1990) 2.1. ETIOLOGIA O gênero Brucella é caracterizado por pequenos cocobacilos Gramnegativos, que não possuem cápsulas, flagelos ou esporos, e são aeróbicos e 3 imóveis (CORRÊA & CORRÊA, 1992; BEER, 1988; HIRSH & ZEE, 2003). Segundo Radostits et al. (2002), as espécies de Brucella e seus principais animais pecuários hospedeiros são a Brucella abortus em bovinos, B. melintensis em cabras, B. suis em suínos, B. ovis em ovinos e B. canis em caninos. Ainda, Corrêa & Corrêa (1992) descreve que as Brucellas podem ser dividas em dois grupos antigenicamente distintos: as lisas (B. abortus, B.melintensis e B. suis) e as rugosas (B. ovis e B. canis). Em bovinos, a B. abortus é o microrganismo importante, e pelo menos nove biótipos desta espécie foram identificados, incluindo um número de cepas variantes (RADOSTITS et al., 2002). A infecção por B. abortus (moléstia de Bang) causa abortamento principalmente em bovinos e, menos comumente em ovinos e caprinos. Adicionalmente, eqüinos também podem ser infectados, os quais foram associados à existência de cernelhas fistulosas, mas comumente nesses animais não é observada infertilidade, abortamento ou outra evidência clínica de infecção (SMITH, 1994). Adicionalmente, por ser uma doença crônica pode atingir alta morbidade, mas fraca ou nula mortalidade (CORRÊA & CORRÊA, 1992). De acordo com Corrêa & Corrêa (1992), Beer (1988) e Hirsh & Zee (2003), esse gênero sobrevive ao congelamento e descongelamento, mas são bastante sensíveis à luz e à dessecação. A pasteurização mata as Brucellas de forma eficaz, mas em condições ambientais propícias, sobrevive por até quatro meses em leite, urina, água e solo úmido. Além disso, a Organización Mundial de la Salud (1986) descreve que quando submetida à ação de desinfetantes, como produtos clorados (2,5% de cloro ativo), soluções de formaldeído a 2% em temperatura ambiente acima de 15°C ou compostos fenólicos a 2,5%, a Brucella é 4 eliminada no prazo máximo de 15 minutos. Entretanto, o álcool 70° destrói prontamente a bactéria, e sob ação do carbonato de cálcio (1:10), é destruída em 30 minutos. 2.2. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, Molnár et al. (1997) mostraram que a ocorrência de brucelose bovina no estado do Pará variou entre 0,5 e 54,45% em vinte e dois rebanhos bovinos, os quais 756 (25,65%) manifestaram-se positivos, e que foi encontrado somente um rebanho livre de infecção, pois os outros eram provenientes de rebanhos não vacinados. Pesquisas estimam que a brucelose, uma doença endêmica no Brasil, causa prejuízos elevados, porém difíceis de serem calculados, pois a última estatística existente é datada de 1975, tendo sido estimado na época de 4% de animais soropositivos na região Sul, 7,5% na região Sudeste, 6,8% na região Centro-Oeste, 2,5% na região Nordeste e 4,1% na região Norte. Posteriormente, outros levantamentos sorológicos por amostragem, realizados em alguns estados, revelaram pequenas alterações na prevalência de brucelose: no Rio Grande do Sul, passando de 2% em 1975 para 0,3% em 1986 e em Minas Gerais de 7,5% em 1975 para 6,7% em 1980, crescendo, porém em Santa Catarina de 0,2 em 1975 para 0,6% em 1996 (BRASIL, 2001). A infecção ocorre em bovinos de todas as idades, e a disseminação dentro do rebanho ocorre pela transmissão vertical e horizontal, porém é mais comum nos animais sexualmente maduros, particularmente nos bovinos leiteiros. Na infecção in útero, as bezerras podem permanecer latentes no início da vida, 5 apresentando resultados sorológicos negativos até que ocorra o primeiro parto, para então começar a eliminar o microrganismo. Os bezerros nascidos de mães reagentes são na maioria das vezes sorologicamente positivos até os quatro a seis meses de idade, devido aos anticorpos presentes no colostro, mais tarde tornando-se negativos mesmo que a infecção em estado latente esteja presente em uma pequena proporção desses animais. Essa infecção latente nos animais sorologicamente negativos têm grande importância porque passam despercebidas e podem, potencialmente, servir como fonte de infecção (BLOOD & RADOSTITS, 1991; RADOSTITS et al.,, 2002). A transmissão horizontal ocorre por contato direto ou indireto com animais infectados, através das vias digestória, respiratória, penetração pela pele e conjuntiva intactas, bem como pela contaminação do úbere durante ordenha (RIRSH & ZEE, 2003). São considerados como principais meios de disseminação da doença os pastos e os cochos de alimento e de água contaminados pelas secreções e membranas fetais de vacas infectadas, pelos fetos abortados e pelos bezerros recém-nascidos acometidos pela doença. Adicionalmente, considera-se a possibilidade de introdução da infecção por moscas, cães, ratos, carrapatos, botas infectadas, forragem e outros objetos inanimados (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Os touros normalmente não transmitem a infecção das vacas infectadas para as não-infectadas mecanicamente. Entretanto, são responsáveis de emitir sêmen que contêm microrganismos, mas são improváveis transmissores da infecção. Por outro lado, o risco de transmissão do touro será muito mais alto, se o sêmen for usado pela inseminação artificial. Alguns touros infectados são 6 negativos nos testes de aglutinação sérica e podem ser apenas detectados pelo isolamento do microrganismo do sêmen ou testes de aglutinação no plasma seminal (RADOSTISTS et al., 2002). No bovino o período de incubação tem uma duração variável, entre 14 e 18 dias, também tem sido assinaladas 193-251 dias até o aborto como expressão visível de que foi produzida a infecção (BEER, 1988). 2.3. PATOGENIA As Brucellas acessam o organismo hospedeiro pelas mucosas do trato digestivo, genital, nasal, ocular ou por outras continuidades da pele, sendo que a principal porta de entrada é a mucosa orofaríngea (SIPAG/SFA-TO, 2006). De acordo com Radostits et al. (2002), o microrganismo tem predileção pelo útero prenhe, úbere, testículo, glândulas sexuais masculinas acessórias, linfonodos, cápsulas articulares e membranas sinoviais, devido ao fato de que nestes locais há maior disponibilidade de elementos necessários para seu metabolismo, como o eritritol (um álcool polihídrico de quatro carbonos). Após a invasão corpórea inicial a Brucella, um parasita intracelular facultativo, é fagocitado principalmente pelos macrófagos e carreados até os linfonodos que drenam a área (Figura 1), onde algumas Brucellas sobrevivem e se multiplicam por semanas a meses. Após essa multiplicação inicial, ganham a corrente sanguínea desencadeando vários períodos de bacteremia (RADOSTITS et al., 2002). 7 Figura 1 - Localização da Brucella nos linfonodos. Fonte http://www.mcguido.vet.br/brucelose.htm A incapacidade dos leucócitos em destruir, de modo eficiente, a B. abortus virulenta no sitio primário da infecção, é um fator chave na disseminação para os linfonodos regionais e para o sistema reticuloendotelial, como baço, fígado e linfonodos (principalmente os mamários e ilíacos), além de órgãos como o útero e o úbere. Nestes locais, a brucela pode acarretar alterações inflamatórias e anátomo-patológicas, caracterizadas por formação de granulomas difusos, esplenomegalia, hepatomegalia e, às vezes, hiperplasia linfóide (RADOSTITS et al., 2002; BISHOP citado por PAULIN, 2003). Segundo Radostits et al. (2002), a partir do quinto mês de gestação a concentração do eritritol eleva-se atingindo níveis máximos próximos ao parto, estimulando a multiplicação da bactéria de forma crescente. A invasão do útero prenhe resulta em uma grave endometrite ulcerativa nos espaços intercotiledonários. Ademais, o alantocórion, os líquidos fetais e os cotilédones 8 placentários são invadidos, e as vilosidades destruídas. Nas infecções agudas de vacas prenhes, até 85% das bactérias estão nos cotilédones, nas membranas placentárias e no líquido alantóide. 2.4. SINAIS CLÍNICOS Os achados clínicos dependem, sobretudo, do estado imune do rebanho. No gado prenhe não-vacinado altamente susceptível, o abortamento após o quinto mês de gestação é uma característica da doença nos bovinos. Nas gestações subseqüentes, o feto normalmente é gerado a termo, porém, com produtos fracos que poderão morrer em alguns dias. Entretanto, um segundo ou um terceiro abortamento pode ocorrer na mesma vaca. A retenção de placenta e a metrite são seqüelas comuns do abortamento, normalmente causadas por infecções mistas. A metrite pode ser aguda, com septicemia e óbito, ou crônica, desenvolvendo subfertilidade, infertilidade ou esterilidade (RADOSTITS et al., 2002; PAULIN, 2003). No aparelho reprodutivo masculino, a brucela pode levar à reação inflamatória do tipo necrosante nas vesículas seminais, testículos e epidídimos, ocorrendo orquite e epididimite. Dessa forma, o escroto pode apresentar edema doloroso agudo e aumento de volume de duas vezes o tamanho normal, com conseqüente desenvolvimento de subfertilidade, infertilidade ou esterilidade. Entretanto, os animais ainda podem retomar a fertilidade normal se o testículo estiver intacto, mas serão potencialmente disseminadores da doença quando 9 forem utilizados para inseminação artificial (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1986; RADOSTITS et al., 2002). No aparelho locomotor, há infecção articular com bursites, principalmente nas articulações carpianas e tarsianas. São também observadas espondilites, especialmente nas vértebras torácicas e lombares, podendo também atingir a medula óssea e bainha dos tendões (ORGANIZAÇIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1986). 2.5. LESÕES MORFOLÓGICAS Comumente são observadas lesões macroscópicas na placenta, associadas aos abortos por Brucella. Ocorre espessamento da região intercotiledonária com presença de um líquido gelatinoso amarelado, os cotilédonos estão necrosados, com coloração cinza-amarelada e cobertos por um exsudato amarronzado espesso. O conteúdo do abomaso pode estar turvo e mostrar coloração amarelo-limão. O feto abortado apresenta-se edematoso, com lesões de bronquite e broncopneumonia com predominância de um infiltrado de células mononucleares. Em geral, a brucela induz reação granulomatosa (HIRSH & ZEE, 2003). Nos tecidos, particularmente o sistema linforreticular, os microrganismos atraem macrófagos e proliferam no interior dessas células, levando à formação de pequenos granulomas. Esses granulomas podem ser visíveis a olho nu ou podem ter dimensões microscópicas e são lesões clássicas de brucelose (JONES et al., 2000). 10 Em machos, é comum aumento de volume palpável do epidídimo, envolvendo principalmente a porção da cauda. As lesões do epidídimo são caracterizadas por hiperplasia e degeneração hidrópica do epitélio tubular. Adicionalmente, como resultado de extravasamento de espermatozóides, ocorre a formação de um granuloma espermático. Nos touros com orquite, o escroto apresenta-se intumescido e aumentado por inflamação fibrinopurulenta da túnica vaginal. O parênquima testicular torna-se necrosado e, algumas vezes, repleto de pus. As lesões dos órgãos sexuais acessórios e extragenitais incluem, respectivamente, vesiculite e higromas (HIRSH & ZEE, 2003). 2.6. DIAGNÓSTICO O diagnóstico definitivo da brucelose é obtido através de exames laboratoriais diretos ou indiretos, com o objetivo de identificar os animais infectados e que estejam potencialmente eliminando o microrganismo e disseminando a doença. A maioria dos animais infectados é identificada utilizando testes sorológicos padrões, mas a infecção latente ocorre em alguns animais sorologicamente negativos. Além disso, os animais vacinados podem ser sorologicamente positivos e não-infectados, e títulos transitórios ocorrem esporadicamente em uma pequena porcentagem de animais para os quais não há uma explicação clara. Esses problemas diagnósticos tornam complicadas as explicações aos proprietários dos animais, e os programas de controle e erradicação de difícil aplicação (RADOSTITS et al., 2002). 11 2.6.1. Diagnóstico Direto No diagnóstico direto é feito o exame bacteriológico, executado a partir de espécimes suspeitos semeados em meios de cultura especiais. Uma vez isolada a brucela, é identificada o gênero através de estudos das características culturais, tintoriais, morfológicas e bioquímicas. Em meio sólido e em condições ideais, as colônias não são observadas até três a cinco dias de incubação, utilizando-se, portanto, incubação de 21 dias. As colônias se apresentam pequenas, translúcidas, brilhantes, convexas, de bordos arredondados e bem definidos e, geralmente, de coloração leitosa. As brucelas são cocobacilos curtos, pequenos e pleomórficos, não formam cápsulas ou esporos e nem se movimentam ativamente. São consideradas Gram-negativas e coram-se bem pelos métodos de Ziel-Neelsen e Koster modificado. À microscopia óptica, apresentam-se isoladas, aos pares ou em pequenos grupos (CORRÊA & CORRÊA, 1992; HIRSH & ZEE, 2003). O diagnóstico direto também pode ser realizado por meio da técnica de PCR, onde se detecta um filamento especifico do DNA bacteriano presente nas amostras analisadas (PAULIN, 2003). 2.6.2. Diagnóstico Indireto Na ausência de uma cultura positiva para B. abortus, um diagnóstico normalmente é obtido com base na presença de anticorpos no soro, no leite ou no 12 soro do leite, no muco vaginal ou no plasma seminal (RADOSTITS et al., 2002). O sorodiagnóstico é a base para o combate à brucelose em rebanhos, permitindo o monitoramento tanto de propriedades como de regiões inteiras, além de vigiar zonas de onde a doença já foi erradicada. Todos os testes devem ser utilizados respeitando-se as normas técnicas estabelecidas (ALTON citado por PAULIN, 2003). O PNCEBT do MAPA no Brasil, em 10 de janeiro de 2001, preconiza o TAAT como prova de triagem e, como provas confirmatórias, o 2-ME e a RFC (BRASIL, 2001). Apesar do diagnóstico da doença ser geralmente feito por sorologia, às diferenças de sensibilidade e especificidade nas provas dificultando a distinção entre anticorpos vacinais e de doença, obrigam a associação de procedimentos diagnósticos (RADOSTITS et al., 2002). A OIE recomenda a utilização de uma prova de alta sensibilidade e grande praticidade para rastreio, como o TAAT e outra para confirmação dos resultados positivos desta, definido como teste “ouro”, como a RFC ou o ELISA. Adicionalmente, o ELISA pode ser utilizado como prova de rastreio e de confirmação. 2.6.2.1. Soroaglutinação em Tubos ou Prova de Writh A SLT foi descrita por Wright & Smith, em 1897, sendo a primeira prova sorológica criada para brucelose. Executada num pH neutro, a SLT demonstra uma boa sensibilidade analítica na detecção dos isotipos bovinos, com exceção da IgG1. Por isso, causa muitas reações falso-positivas, devendo-se, portanto, se 13 dispor de provas mais especificas para confirmação do resultado (CORRÊA & CORRÊA, 1992; SMITH,1994). Entretanto, Alton citado por PAULIN (2003) refere que a SLT, em vários experimentos, demonstrou sensibilidade e especificidade baixas em relação a outros testes. 2.6.2.2. Teste do Antígeno Acidificado Tamponado O TAAT é uma prova qualitativa rápida, prática e de boa sensibilidade (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE SALUD, 1986). A alta sensibilidade, entretanto, pode resultar em falso-positivos, principalmente em efetivos com história de vacinação. O teste foi desenvolvido a partir da observação de que a IgG1 bovina é menos ativa em pH 7, mudando de comportamento com a acidificação do meio. O pH 3,65 (mais ou menos 0,05) aumenta o poder de aglutinação da IgG1 e reduz a reatividade da IgM. O TAAT é considerado a melhor alternativa para o diagnóstico massivo de rebanhos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE LA SALUD, 1986). 2.6.2.3. Teste do 2-Mercaptoetanol O 2-ME, tem sua especificidade aumentada por inibição da atividade aglutinante da IgM mediante processo químico, que consiste no tratamento do soro com o reagente 2-mercaptoetanol. Esta substância degrada a IgM em cinco subunidades monoméricas semelhantes não aglutinantes (FERRI citado por PAULIN, 2003). 14 2.6.2.4. Reação de Fixação do Complemento A reação de fixação do complemento (RFC) raramente exibe reações inespecíficas, sendo utilizada na diferenciação dos títulos de vacinação do bezerro dos títulos devidos à infecção. Na RFC as reações retrocedem mais rápido do que aquelas da SLT após a vacinação dos bezerros com a cepa B19. Os títulos da RFC não declinam conforme a doença se torna crônica e freqüentemente a RFC atinge os níveis diagnósticos mais rápidos do que a SLT após a infecção natural. Além disso, os avanços das técnicas laboratoriais recentes propiciaram uma velocidade e uma precisão muito maiores na realização deste teste, sendo, portanto, atualmente considerado a abordagem mais próxima de um teste definitivo para a infecção (RADOSTITS et al., 2002). 2.6.2.5. Teste Imunoabsorvente Ligado à Enzima Dentre os ELISA que tem apresentado melhores resultados para brucelose, estão os IELISA e o CELISA (Figura 2). O ELISA ganhou uma ampla aceitação para o diagnóstico sorológico de brucelose bovina por causa da sua capacidade de detectar anticorpos de todos os isótopos. O teste possui sensibilidade e especificidade, mas o IELISA pode não distinguir entre a resposta do anticorpo induzido pela vacinação com a cepa B19 da infecção pelo microrganismo, além de exigir investimento financeiro inicial considerável. Por 15 outro lado, o CELISA pode diferenciar animais vacinados dos infectados e é tecnicamente menos trabalhoso (RADOSTITS et al., 2002). Figura 2 - Teste de imunoabsorção ligado à enzima Fonte: http://www.vet.uga.edu/vpp/NSEP/Brazil2002/brucella/Port/diagnosis.htm 2.6.2.6. Teste do Anel Leitoso O TAL é um teste de baixo custo financeiro, satisfatório, prático e de alta sensibilidade para a supervisão dos rebanhos leiteiros para a brucelose. Uma pequena amostra de leite fresco de mais de 25 vacas é testada, sendo o rebanho classificado somente como suspeito ou negativo. A determinação final da condição de um rebanho suspeito e de cada animal em particular é concluída pelo exame sorológico sérico. O TAL revela anticorpos preferencialmente da classe IgA presentes no leite, aderidos às moléculas de gordura pela sua função de 16 fixador. Quando o anticorpo interage com o antígeno corado (hematoxilina ou tetrazólio), forma-se uma malha de aglutinação que flutua, junto com a gordura, para a superfície da amostra, revelando o anel colorido (Figura 3) (CORRÊA & CORRÊA, 1992; RADOSTITS et al., 2002; NIELSEN citado por PAULIN, 2003). Figura 3 - Teste do anel leitoso (TAL). Fonte: http://www.vet.uga.edu/vpp/NSEP/Brazil2002/brucella/Port/diagnosis.htm 2.7. TRATAMENTO As Brucella spp. são bactérias intracelulares facultativas que podem sobreviver e se multiplicar dentro dos macrófagos. Devido a esse fato, o tratamento da brucelose é malsucedido, pois ocorre seqüestro intracelular dos microrganismos nos linfonodos, na glândula mamária e nos órgãos reprodutivos. 17 Ademais, as falhas no tratamento são consideradas, não pelo desenvolvimento da resistência antimicrobiana, mas pela incapacidade da droga em penetrar a barreira da membrana celular (RADOSTITS et al., 2002). 2.8. CONTROLE E ERRADICAÇÃO Diversas medidas podem ser utilizadas para se obter o controle e a erradicação da brucelose bovina. Uma das medidas a serem tomadas, é a de se testar todos os bovinos em reprodução num rebanho, sendo que os positivos devem ser descartados do lote e enviados para o abate. Assim é possível se eliminar as vacas infectadas e reduzir a exposição e a transmissão dentro do rebanho. Adicionalmente, considera-se de particular importância a detecção e remoção das vacas infectadas antes do parto (RADOSTITS et al., 2002). Ao se adquirir novos animais, devem-se sempre realizar a quarentena, durante um período que deve ser suficientemente longo para que todos os bovinos tenham tido tempo para desenvolver a brucelose clínica não se tornando uma fonte para a transmissão dentro do rebanho. O tempo de quarentena varia normalmente de 120 dias a um ano ou até que todos os animais de reprodução completem uma gestação sem evidencia de infecção. Quando os animais de um lote forem expostos à infecção, é recomendado fazer o despovoamento de todos os bovinos do rebanho, pois estes podem ter sido infectados e atuarem como fonte de nova infecção (RADOSTITS et al., 2002). O isolamento ou controle dos animais infectados, o descarte dos fetos abortados, das placentas e dos 18 corrimentos uterinos, bem como a desinfecção das áreas contaminadas é de extrema importância. Ademais, é particularmente importante que as vacas infectadas sejam isoladas no parto. Todos os bovinos, eqüinos e suínos trazidos à propriedade devem ser testados, isolados e retestados. As vacas introduzidas que estão em gestação avançada devem ser mantidas no isolamento até após o parto, já que as infectadas ocasionais podem não revelar uma reação sérica positiva até após o parto ou abortamento. Devem-se utilizar substâncias antisépticas para a lavagem dos braços e mãos dos assistentes e veterinários, que entram em contato com tecidos e materiais contaminados (BLOOD & RADOSTITS, 1991). Nos programas de controle e erradicação da brucelose, a vacinação é considerada de suma importância. Para tanto, as bezerras entre três e oito meses de idade devem ser vacinadas com a vacina B19. As fêmeas adultas e os machos não podem ser vacinados, pois podem desenvolver os sinais clínicos da doença. Além disso, não há vacina segura para aplicação no ser humano (SIPAG/SFATO, 2006). Beer (1988) recomenda a investigação sorológica de controle dos nascidos desde os 5º e 6º meses de vida, até que os animais alcancem a maturidade sexual, proporcionando informações sobre o perfeito estado da descendência a efeitos epidemiológicos. Um ponto importante para o controle da disseminação da brucelose num território é o controle do tráfego e o comércio de animais (BEER, 1988), função realizada pelos órgãos governamentais de fiscalização. 19 A população em geral deve ser orientada para ingerir apenas leite submetido à pasteurização ou fervura prévia, além de cuidados semelhantes com queijos (SIPAG/SFA-TO, 2006). 2.9. LEGISLAÇÃO No Brasil há a atuação do MAPA (Anexo 1), através do PNCEBT (Anexo 2), que visa manter a integridade sanitária do rebanho e da população em geral, além de objetivar o comércio de carnes e derivados. 2.9.1 Objetivos Específicos do Programa O PNCEBT tem como objetivos: - Baixar a prevalência e a incidência de novos casos de brucelose e de tuberculose; - Criar um número significativo de propriedades certificadas que oferecem ao consumidor produtos de baixo risco sanitário. 2.9.2 Estratégia A estratégia de ação deste programa é clara: a certificação de propriedades livres e de propriedades monitoradas, de adesão voluntária, é um instrumento que os produtores e o setor agro-industrial podem utilizar para agregar valor aos seus produtos. Assim sendo, este não é um programa apenas 20 do governo federal e dos governos estaduais, mas sim um projeto que deverá envolver o setor produtivo e suas comunidades, o setor industrial e os consumidores, não esquecendo os médicos veterinários que atuam no setor privado. Em outras palavras, o setor público deverá atuar como agente certificador, dentro um processo que envolve diretamente toda a cadeia produtiva (Anexo 3). São também preconizadas medidas sanitárias compulsórias de eficácia comprovada, como a vacinação de bezerras contra a brucelose e o controle do trânsito de animais destinados à reprodução, objetivando baixar a prevalência e incidência de casos destas doenças, até níveis compatíveis com ações sanitárias mais drásticas, que caracterizam um programa de erradicação. Prevê-se que no espaço de uma década seja possível reduzir a prevalência de propriedades afetadas para valores próximos a 1%, nos estados que implantarem o programa dentro do cronograma previsto. Deve ser ressaltado que a vacinação contra brucelose tem prioridade máxima neste programa. Para garantir a qualidade técnica das ações do programa, foram elaboradas uma série de medidas que visam: (a) capacitar médicos veterinários e laboratórios, tanto oficiais como privados; (b) padronizar e modernizar os métodos de diagnóstico utilizados; (c) permitir as ações de fiscalização e monitoramento pelo serviço oficial de defesa animal; e (d) melhorar a integração deste com o serviço oficial de inspeção de produtos de origem animal (Anexo 4). 2.9.3 Propostas Técnicas 21 2.9.3.1 Vacinação Contra a Brucelose Com esta ação objetiva-se baixar consideravelmente a prevalência da brucelose bovina e bubalina. É obrigatória a vacinação de todas as fêmeas daquelas espécies, entre 3 e 8 meses de idade, com amostra B19. Em propriedades certificadas recomenda-se que as bezerras sejam vacinadas até 6 meses de idade, de forma a minimizar a possibilidade de reações vacinais nos testes de diagnóstico. Este programa implica em aumento significativo da produção de vacina B19 e, por isso, está sendo estabelecida rotina de estimativa de demanda anual e de organização da distribuição do produto, à semelhança do que hoje é feito para a vacinação contra febre aftosa. A vacinação de fêmeas adultas, que seria útil em regiões e propriedades com alta prevalência de infecção, só será permitida com imunógenos que não interferem nos testes de diagnóstico, após aprovação e nas condições definidas pelo MAPA. Os programas de vacinação contra brucelose tiveram início em 2002. Estabeleceu-se um prazo, até dezembro de 2003, para cada estado implantar em todo o seu território a obrigatoriedade de vacinação de bezerras contra a brucelose. A vacinação só poderá ser realizada sob responsabilidade de médicos veterinários, que deverão estar cadastrados no serviço oficial de defesa sanitária animal de seu estado de atuação. Espera-se que até dezembro de 2010 ao menos 75% da população de fêmeas adultas tenha sido vacinada, entre 3 e 8 meses de idade. Quando esta meta for atingida, a prevalência de brucelose deverá situar-se em níveis que permitam passar à fase de erradicação. 22 2.9.3.2 Certificação de Propriedades Livres de Brucelose e Tuberculose A certificação de propriedades livres de brucelose e de tuberculose tem como objetivo padronizar o controle destas enfermidades, dentro dos princípios técnicos sugeridos pelo Código Zoosanitário Internacional e aceitos internacionalmente. A adesão será voluntária, uma vez que as normas sanitárias exigidas só serão efetivamente cumpridas quando os pecuaristas se beneficiarem da condição sanitária adquirida. A experiência no país demonstra que se o combate às doenças endêmicas como a brucelose e a tuberculose, cujo controle é baseado em teste e sacrifício de animais, consistir apenas em exigências sanitárias, sem que sejam criados incentivos e mecanismos de compensação, a probabilidade de sucesso é reduzida. Tais incentivos deverão ser desenvolvidos em colaboração com a indústria. O saneamento das propriedades que entram em processo de certificação será feito testando todos os animais e sacrificando os reagentes positivos. Os testes em todo o rebanho serão repetidos até obter três testes sem um único animal reagente positivo, ao longo de um período mínimo de nove meses. Uma vez terminado o saneamento, a propriedade obtém o certificado de livre, cuja manutenção depende do cumprimento de todas as regras e normas sanitárias estabelecidas. As propriedades certificadas ficam obrigadas a repetir os testes anualmente, em todos os animais. Deve-se destacar a exigência de dois testes negativos para o ingresso de animais na propriedade, se os animais não forem provenientes de outra propriedade livre. Os testes de diagnóstico para brucelose são realizados exclusivamente em fêmeas de idade igual ou superior a 23 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses, e em machos e fêmeas não vacinadas, a partir dos 8 meses de idade. O início das atividades de saneamento para certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose depende do credenciamento de médicos veterinários que atuam no setor privado, através de cursos específicos de atualização e padronização de conhecimentos. Assim sendo, a certificação de propriedades livres será precedida pelo credenciamento de médicos veterinários, o que, por sua vez, depende da realização de cursos reconhecidos pelo MAPA e ministrados por universidades ou instituições de pesquisa em medicina veterinária, segundo normas estabelecidas pelo MAPA. Haverá, portanto, um período de transição até que propriedades entrem em fase de saneamento, o qual será essencial para garantir a qualidade das ações sanitárias preconizadas. O reconhecimento de cursos que permitirão o credenciamento de médicos veterinários é uma das prioridades, desde o 2º semestre de 2002. 2.9.3.3 Certificação de Propriedades Monitoradas para Brucelose e Tuberculose Em virtude da dificuldade de aplicação das normas técnicas estabelecidas para propriedades livres a uma parte importante da pecuária de corte, criou-se a certificação de propriedade monitorada para brucelose e tuberculose, também de adesão voluntária. Nestas, os testes de diagnóstico serão realizados por amostragem. Se não forem detectados animais reagentes positivos, a propriedade receberá o atestado de monitorada para brucelose e 24 tuberculose. Se forem encontrados animais reagentes positivos, os animais não incluídos na amostragem serão submetidos a teste de diagnóstico e todos os animais reagentes positivos serão sacrificados ou destruídos. Somente após esta etapa a propriedade receberá o certificado de monitorada para brucelose e tuberculose. Em propriedades monitoradas, os testes são realizados apenas em fêmeas com mais de 24 meses e em machos reprodutores, com periodicidade anual para brucelose e a cada dois anos para tuberculose. Só poderão ingressar na propriedade animais com dois testes negativos ou provenientes de propriedades de condição sanitária igual ou superior. À semelhança das propriedades livres, as propriedades monitoradas são obrigadas a ter supervisão técnica de médico veterinário credenciado. O certificado de propriedade monitorada para brucelose e tuberculose será atribuído exclusivamente a fazendas de gado de corte. O MAPA entende que esta pode ser uma forma eficaz de diminuir a prevalência destas enfermidades em propriedades com grande número de animais e de criação extensiva, enquanto garante o reconhecimento oficial de um trabalho sistemático de vigilância e saneamento. Para as indústrias exportadoras de carne, é muito importante poder dar garantias aos mercados consumidores de que o seu produto provém de propriedades onde o controle destas doenças é feito de forma sistemática, aplicando o conceito de gestão de risco. 2.9.3.4 Controle do Trânsito de Reprodutores e Normas Sanitárias para Participação em Exposições, Feiras, Leilões e outras Aglomerações de Animais 25 Existe legislação específica que determina a exigência, para animais destinados à reprodução, de atestado negativo para brucelose e tuberculose. Estas normas foram adaptadas ao regulamento do programa nacional, em particular quanto aos métodos de diagnóstico utilizados. Está prevista, em prazo a ser determinado pelo MAPA, a exigência de origem em propriedade com certificado de livre ou de monitorada, para todos os machos e fêmeas reprodutores que transitem entre estados ou que participem em exposições. 2.9.3.5 Credenciamento e Capacitação de Médicos Veterinários O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose envolve um grande número de ações sanitárias profiláticas e de diagnóstico a campo, sendo assim necessário credenciar médicos veterinários do setor privado, que vão atuar por delegação de competência do MAPA e das Secretarias de Agricultura dos estados (Anexo 5). A vacinação contra brucelose deverá ser realizada sob responsabilidade de médicos veterinários. A compra de vacina só poderá ser efetuada apresentando receita emitida por médico veterinário, em razão de tratar-se de uma vacina viva atenuada. Estes profissionais ficarão obrigatoriamente cadastrados no serviço veterinário oficial de seu estado de atuação. Para a execução das atividades de diagnóstico a campo e participação no programa de certificação de propriedades livres ou monitoradas, o MAPA só vai credenciar médicos veterinários que tenham sido aprovados em curso de 26 treinamento em métodos de diagnóstico e controle de brucelose e tuberculose, previamente reconhecido pelo MAPA. O Ministério estabeleceu, desde o ano de 2002, um esquema de reconhecimento de cursos, os quais são ministrados em instituições de ensino ou pesquisa de todo o país com o objetivo de atualizar os conhecimentos dos profissionais que vão atuar neste programa e, sobretudo, de padronizar as ações sanitárias. Os instrutores dos cursos de credenciamento são habilitados participando em seminários de referência do Programa Nacional, organizados pelo MAPA. A capacitação dos profissionais do setor privado e sua participação no programa nacional representam um desafio e uma oportunidade para a classe médico-veterinária demonstrar sua capacidade para resolver um sério problema de saúde pública e de saúde animal, através da integração do serviço veterinário oficial com o setor privado e da constante melhoria do padrão de serviços oferecidos aos pecuaristas. 2.9.3.6 Diagnóstico e Apoio Laboratorial A eficácia de um programa nacional de combate a qualquer doença depende em parte da qualidade e padronização dos meios de diagnósticos utilizados. No contexto deste programa, passam a estar determinados quais os testes de diagnóstico indiretos aprovados e seus critérios de utilização e interpretação: 27 1 - A prova do antígeno acidificado tamponado, que é muito sensível e de fácil execução, será o único teste de triagem, realizado por médicos veterinários credenciados; 2 - Os animais que reagirem àquele teste serão submetidos a um teste confirmatório, o teste do 2-mercaptoetanol, que é mais específico, sendo esta prova executada em laboratórios credenciados ou em laboratórios oficiais; 3 - A prova de fixação de complemento, ou outra que a substitua, será utilizada por laboratórios oficiais credenciados para efeitos de trânsito internacional e para diagnóstico de casos inconclusivos ao teste do 2mercaptoetanol; 4 - O teste do anel em leite (Ring Test) será utilizado para monitoramento da condição sanitária de propriedades certificadas; 5 - A prova de soroaglutinação rápida em placa poderá ser utilizada nas condições definidas pelo MAPA. Os testes acima mencionados colocam o diagnóstico de brucelose e de tuberculose no Brasil em sintonia com os padrões internacionais e, em particular, com as recomendações do Código Zoosanitário Internacional. Entretanto, o MAPA pretende atualizar e melhorar o padrão de diagnóstico, à medida que novos e melhores testes forem surgindo no mercado. 28 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Toda a evolução pressupõe o bem-estar da humanidade. No setor alimentar não poderia ser diferente, uma vez que se trata de uma necessidade diária de todos os seres vivos. A manutenção da integridade, capacidade e higidez dependem da ingestão diária de alimentos quantitativa e qualitativamente adequados, saudáveis e que não coloque em risco a saúde do consumidor. Todavia, oferecer segurança é matéria extremamente complexa, envolvendo os setores produtivos, transformadores de comercialização, os próprios consumidores e os poderes públicos. Conclui-se que o primordial de qualquer sistema de inspeção de alimentos é sempre de assegurar através dos diferentes e possíveis meios adequados de inspeção e controle, qualidade higiênica, sanitária e tecnológica dos alimentos industrialmente processados. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEER, J. Doenças Infecciosas em Animais Domésticos. São Paulo: Roca, 1988, 380p. BLOOD, D.C.; RADOSTITS, O.M. Clínica Veterinária. 7ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991, 1263p. BRASIL, Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Bovina. 9p. Ministério da Agricultura e do Abastecimento, Departamento de Defesa Animal. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/sda/dda/programahtm>. Acesso em 27 jan. 2010. CORRÊA, W.M; CORRÊA, C.N.M. Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos Domésticos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1992, 843p. FERREIRA, A.J.; FERREIRA, A. Doenças Infecto-Contagiosas dos Animais Domésticos. 4ª ed. Lisboa: Fundação Caloute Gulbenkian, 1990. 687p. HIRSH, D.C.; ZEE, Y.C. Microbiologia Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 446p. JONES, T.C.; HUNT, R.D.; KING, N.W. Patologia Veterinária. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2000. 1415p. LAGE, A.P., et al. Brucelose bovina: uma atualização. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v.32, n.3, p.202-212, jul./set. 2008. Disponível em < http:// www.cbra.org.br> Acesso em 16 jul. 2010 30 MOLNÀR, L.; MOLNÀR, E.; TÚRY, E. Concepções modernas para diagnóstico da brucelose. Revista Brasileira de Medicina Veterinária. V.19. n. 4 p. 157-162. 1997 ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Comitê Mixto FAO/OMS de espertos em brucelosis. Ginebra: OMS, 1986. 149p. RADOSTISTS, O. M, et al. Clínica Veterinária. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 1737p. PAULIN, L.M. Brucelose. Arquivos do Instituto Biológico de São Paulo, v.70, 2003. Disponível em <http://[email protected]/arquivo_v70 > Acesso em: 18 out. 2006. SIPAG/SFA-TO, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Treinamento sobre Inspeção de Carne e Derivados para Auxiliares de Inspeção de Matadouros Frigoríficos de Bovinos com Serviço se Inspeção Federal no Estado do Tocantins. 2006. ZAMBAN, L.T. Abordagem Sistemática da Brucelose Bovina sua Importância para a Pecuária Brasileira. Disponível em < http :// www.qualittas.com.br/documentos> Acesso em 06 jul. 2010 31 ANEXOS 32 ANEXO 1 Instituição do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal - PNCEBT 33 34 ANEXO 2 Composição do Comitê Científico sobre Brucelose e Tuberculose Animal do PNCEBT 35 ANEXO 3 Padronização dos instrumentos e das ações profiláticas, de diagnóstico, de saneamento de rebanhos e de vigilância sanitária ao combate à brucelose e tuberculose. 36 ANEXO 4 Comissão técnica científica e suas atribuições para o controle e erradicação da brucelose e tuberculose. 37 ANEXO 5 Normas para habilitação de médicos veterinários do setor privado junto ao PNCEBT MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA INSTRUÇÃO NORMATIVA SDA Nº 10, DE 15 DE JANEIRO DE 2004. O SECRETÁRIO DE DEFESA AGROPECUÁRIA, DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso da atribuição que lhe confere o art. 15, inciso II, do Decreto 4.629, de 21 de março de 2003, tendo em vista o disposto no art. 2º, da Instrução Normativa nº 2, de 10 de janeiro de 2001, Considerando o estabelecido no Capítulo X, do Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal, aprovado pela Instrução Normativa SDA nº 06, de 8 de janeiro de 2004, e o que consta do Processo nº 21000.010257/2003-09, resolve: Art. 1º Estabelecer as normas de habilitação de médicos veterinários do setor privado para atuação junto ao Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal - PNCEBT, para fins de execução de atividades previstas no Regulamento do Programa, referentes à realização de testes diagnósticos de brucelose e tuberculose e participação no 38 processo de certificação de estabelecimentos de criação livres ou monitorados para brucelose e tuberculose bovina e bubalina. Art. 2º A solicitação de habilitação deverá ser feita pelo médico veterinário interessado, na Unidade Local do serviço de defesa sanitária animal do(s) Estado(s) onde irá atuar. O serviço estadual avaliará a documentação exigida e encaminhará o processo ao Chefe do Serviço de Sanidade Animal da Delegacia Federal de Agricultura da Unidade Federativa. O ato de habilitação será efetuado pela Delegacia Federal de Agricultura da Unidade Federativa correspondente. Art. 3º A habilitação terá validade dentro da(s) Unidade(s) Federativa(s) de atuação do médico veterinário para a(s) qual(is) foi habilitado. Art. 4º A habilitação será gratuita. Art. 5º Para obter a habilitação, o médico veterinário deverá: I - estar em situação regular com o Conselho Regional de Medicina Veterinária da(s) Unidade(s) Federativa(s) de atuação; II - apresentar à Unidade Local do serviço de defesa sanitária animal da(s) Unidade(s) Federativa(s) de atuação certificado registrado de participação e aprovação em Curso de Treinamento em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose e Tuberculose Animal e de Noções em Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis, reconhecido pelo Departamento de Defesa Animal;ALTERADO 39 PELA INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº55, DE 04/08/2004 PUBLICADA NO DOU DE 05/08/2004 SEÇÃO 1 PÁGINA 5 II - apresentar à Unidade Local do serviço de defesa sanitária animal da(s) Unidade(s) Federativa(s) de atuação, certificado registrado de participação e aprovação em Curso de Treinamento em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose e Tuberculose Animal e de Noções em Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis, reconhecido pelo Departamento de Defesa Animal, ou, certificado de participação em Seminário para Padronização de Cursos de Treinamento em Métodos de Diagnóstico e Controle da Brucelose e Tuberculose Animal, emitido pelo Departamento de Defesa Animal.”(NR) III - possuir infra-estrutura e material adequados à execução dos testes de diagnóstico para brucelose e tuberculose, conforme discriminação a seguir: a) para o diagnóstico de brucelose: sala com ponto de água, geladeira com congelador, micropipetador automático de 30 L ou volumes variados, fonte de iluminação indireta, cronômetro, placa de vidro para soroaglutinação, material para colheita de sangue, ferros para marcação de animais vacinados e de animais reagentes positivos e formulários para emissão de atestados; b) os testes deverão ser realizados em ambiente com temperatura de 22ºC ± 4ºC aferida por termômetro. Temperaturas fora dessa faixa podem conduzir a resultados falso-positivos ou falso-negativos; c) para o diagnóstico de tuberculose: pelo menos duas seringas multidose próprias para tuberculinização de bovídeos, calibradas para 0,1 mL e equipadas com agulhas apropriadas para inoculação intradérmica, cutímetro 40 específico para teste de tuberculinização, tuberculinas PPD aviária e bovina, aparelho para tricotomia, ferro para marcação de animais reagentes positivos, formulários para emissão de atestados. Art. 6º Para fins da emissão de receituário destinado à aquisição de vacinas contra brucelose e responsabilidade técnica pela vacinação, é necessário que o médico veterinário esteja cadastrado no serviço oficial de defesa sanitária animal. Art. 7º O médico veterinário habilitado deverá: I - cumprir o Regulamento Técnico do PNCEBT e outras normas complementares estabelecidas pelo Departamento de Defesa Animal; II - fornecer informações relacionadas com esse Programa e apresentar uma via dos atestados de realização de testes de brucelose e tuberculose (ANEXO I) à Unidade Local do serviço oficial de defesa do Município onde se encontra a propriedade atendida, com periodicidade mensal; III - apresentar relatório de utilização de antígenos e tuberculinas, com periodicidade mensal, ao serviço oficial de defesa sanitária animal onde os mesmos foram adquiridos (ANEXO II); IV - registrar as informações dos testes de tuberculose em formulário próprio (ANEXO III), que poderá ser solicitado a qualquer momento pelo serviço oficial de defesa sanitária animal. 41 Art. 8º A habilitação poderá ser suspensa: I - a pedido do serviço de defesa sanitária animal do Estado ou pela Delegacia Federal de Agricultura da Unidade Federativa, em caso de descumprimento do Regulamento Técnico do PNCEBT, ou de outras normas estabelecidas em legislação sanitária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e, nesse caso, o médico veterinário somente poderá requerer nova habilitação depois de decorrido um ano da suspensão que, a critério do serviço oficial, poderá ou não ser concedido, considerando principalmente a irregularidade cometida; II - por interesse próprio, e, nesse caso, o médico veterinário poderá requerer nova habilitação a qualquer momento, cumprindo as formalidades previstas nesta Instrução Normativa. Art. 9º Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação. MAÇAO TADANO Publicada no DOU de 20/01/2004 , Seção 1 , Página 2 42