III SIMPÓSIO BRASILEIRO DE FAMÍLIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO Psicologia: Prevenção e Intervenção www.nac.ufpr.br/sbf2011 21 e 22 de outubro de 2011, Curitiba - PR Teatro Bom Jesus Realização: Núcleo de Análise do Comportamento da UFPR e FAE Centro Universitário CONFERÊNCIAS E PALESTRAS FAMÍLIAS POR ADOÇÃO: AMORES CONQUISTADOS .............................................. 7 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber COMPREENDER E AVALIAR SERIAL KILLERS E PEDOFILOS .............................. 9 Maria Adelaide de Freitas Caíres A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA EM UM PROCESSO DE DISPUTA PELA GUARDA DO FILHO.................................................................................................. 11 Patrícia Piazzon Queiroz O RELACIONAMENTO DO CASAL, HABILIDADE SOCIAL E A SEXUALIDADE ............................................................................................................... 13 Roseli Deolinda Hauer AUTISMO E TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO: CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PARA A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL ....................................................................... 14 Cintia Guilhardi; Claudia Romano; Leila Bagaiolo; Glauce Carolina Vieira Santos A FAMÍLIA E AS RELAÇÕES PARENTAIS NO CURSO DE VIDA ............................. 15 Maria Auxiliadora Dessen QUANDO A CRIANÇA PRECISA DE TERAPIA .............................................................. 17 Joana Singer Vermes LAVAR, ARRUMAR, CONTAR... QUANDO AS MANIAS TORNAM-SE UM PROBLEMA: O COMPORTAMENTO OBSESSIVO-COMPULSIVO ................................................................................................ 18 Denis Roberto Zamignani PARA ENCONTRAR E VIVER UM GRANDE AMOR..................................................... 20 Ailton Amélio da Silva PREVENINDO A VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA ....................................... 24 Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams PROFESSORES PRECISAM DE CURSOS? ....................................................................... 26 Ana Priscila Batista ; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber HABILIDADES SOCIAIS NO TRABALHO? ..................................................................... 31 Suzane Schmidlin Löhr GUARDA PROTETIVA: O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR DAS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL.................................. 34 Laiana Delakis Recanello ATENÇÃO PRECOCE E O MODELO CENTRADO NA FAMILIA ............................... 37 Maria Augusta Bolsanello OBESIDADE INFANTIL E PRÁTICAS DE ALIMENTAÇÃO ........................................ 39 Ana Paula Franco Mayer ; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO. O QUE FAZER ? ................................... 41 Tatiana I. J. de Sá Riechi BULLYING: PROFESSORES E ALUNOS .......................................................................... 43 Cloves Amorim FAMÍLIA E A ADMINISTRAÇÃO DE SENTIMENTOS ....................................................44 Vera Regina Miranda QUANDO A DOENÇA DE ALZHEIMER OCORRE COM ALGUÉM DA FAMÍLIA ...........................................................................................................46 Rubens De Fraga Júnior A DOENÇA MENTAL NA FAMÍLIA .....................................................................................48 Hamilton M. Grabowski PARA ENCONTRAR E VIVER UM GRANDE AMOR........................................................50 Ailton Amélio da Silva PAINÉIS AMOR CATIVO: ASPECTOS RELEVANTES DOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS ENTRE PRESIDIÁRIOS E SUAS COMPANHEIRAS ................................................................................................... 54 Luciane Marcos da Costa; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber CARACTERIZAÇÃO DE PROJETO DE ESTIMULAÇÃO PRECOCE COM BEBÊS EM INSTITUIÇÃO ABRIGO................................................................. 58 Mariana Fernandes Barbosa, Christiana Gonçalves Meira de Almeida AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CRIANÇAS VÍTIMAS DAS ENCHENTES NO VALE DO ITAJAÍ/BRASIL .................................................................. 61 Sueli Terezinha Bobato ; Vanessa Teodoro DEPRESSÃO E COMPORTAMENTO DE CULPA EM MÃES ENLUTADAS ...................................................................................................... 65 Maria Cecília de Abreu e Silva ; Sulliane Teixeira de Freitas ; Jocelaine Martins da Silveira ESTILOS E PRÁTICAS PARENTAIS MATERNAS E O SEXO DO BEBÊ .............................................................................................................. 69 Elisa Rachel Pisani Altafim ; Sária Cristina Nogueira ; Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues GRUPO DE APOIO A PAIS DE CRIANÇAS COM DOENÇAS CRÔNICAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ................................................................ 72 Larissa Ribeiro Alves ; Cristiani Aparecida da Silva ; Ana Paula Viezzer Salvador; Lidia Natalia Dobrianskyj FAMÍLIAS DE JOVENS ABRIGADOS: DIÁLOGOS E SENTIDOS CONSTRUIDOS ................................................................................................. 76 Nadine de Biagi Ziesemer; Marie Ballande Romanelli; Doriana Gaio; Silvia Queiroz; Maria Angélica Pizani ADOÇÃO HOMOAFETIVA .................................................................................................. 79 Hellen Tsuruda Amaral ; Vitoria Baldissera de Souza ; Rafael Gomes Amaral da Silva ; Leiliane Silva do Nascimento ; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS PARENTAIS, ESTILOS DE AMOR E ESTILOS DE APEGO DE BOWLBY ........................................................... 82 Kharina Ribeiro Guides ; Cristina Lopes Pereira ; Larissa Ribeiro Alves ; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber SÍNDROME DE DOWN E AS RELAÇÕES FAMILIARES .............................................. 85 Rafaela de Carli ; Mariane A. ; Andressa L. Picolo REDE COMUNITÁRIA - INTEGRANDO SABERES SOCIAIS E ACADÊMICOS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO ......................................... 88 Maria Angélica Pinto Nunes Pizani ; Silvia Maria Prado Lopes Queiroz e colaboradores QUEM SÃO OS PRETENDENTES À ADOÇÃO? UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE CARACTERÍSTICAS E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO .............................................................................................. 91 Cristina Lopes Pereira ; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber DEPRESSÃO, AUTOESTIMA E ESTILOS PARENTAIS PERCEBIDOS POR DOLESCENTES DE FAMÍLIAS INTACTAS E FAMÍLIAS SEPARADAS ................... 94 Leiliane Silva do Nascimento; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber; Aline Lenhart Nesi COMO OS ESTUDANTES DE PSICOLOGIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL PERCEBEM A ADOÇÃO NO BRASIL? .......................................... 96 Lidia Natalia Dobrianskyj Weber ; Cristina Lopes Pereira ; Leiliane Silva do Nascimento; Gisele Regina Stasiak CONSIDERAÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO SEXUAL ESCOLAR .......................... 99 Sueli Puiani; Andreia Bichiato do Amaral; Lidemara Bertioti; Aline Graziela; Thiago de Almeida RESILIÊNCIA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE OS FATORES DE RISCO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ...................................... 102 Ana Paula Sesti Becker; Josiane da Silva Delvan; Karoline Braun ROTINA E CONFLITOS PARA CASAIS ............................................................................ 105 Andrea Soutto Mayor; Caroline Ferreira Pontes; Thiago de Almeida A HOMOFOBIA NO AMBIENTE DE TRABALHO .......................................................... 108 José Airton da Silva; Thiago de Almeida; Maria Luiza Lourenço CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO COMPORTAMENTO SEDUTOR COMPULSIVO .................................................................................................... 111 Thiago de Almeida; Monica L. Zilberman O TÉRMINO DE UM RELACIONAMENTO AMOROSO: SENTIMENTOS PREDOMINANTES E IMPACTOS NA VIDA DIÁRIA APÓS A SEPARAÇÃO ........... 114 Katiane C. S. Goulart; Luciana Lazarini; Bianca C. Bronini e colaboradores VIVÊNCIAS DA INFIDELIDADE CONJUGAL FEMININA ........................................... 117 Débora Lago de Sousa; Rosita Barral Santos; Thiago de Almeida O ‘DEVIR’ DO AMOR E DA SEXUALIDADE NO PROCESSO DO ENVELHECIMENTO...................................................................................................... 120 Ester Santiago Duarte Carqueijeiro Antunes; Andrea Soutto Mayor; Thiago de Almeida REPRESENTAÇÕES DOS HOMENS HETEROSSEXUAIS ACERCA DO CIÚME CONTEMPORÂNEO ................................................................................... 123 Maria Raquel Moretti Pires; Maíra Costa Abreu; Marília Criscuolo Urbinati; Rafael De Tilio; Thiago de Almeida APLICAÇÃO DO PROGRAMA DE QUALIDADE NA INTERAÇÃO FAMILIAR PAIS E FILHOS NO ESTADO DE RONDÔNIA ................. 125 Alessandra Cardoso Siqueira e colaboradores ESTRESSE, CRIATIVIDADE E TEMPO LIVRE ENTRE ADOLESCENTES E SUA RELAÇÃO COM AS PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS ......................... 127 Norma Sant‟Ana Zakir; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber; Cláudia Tucunduva Ton; Aline Lenhart Nesi APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA SON-RISE COMO ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO COM AUTISMO ATRAVÉS DE UM RELATO PARCIAL DE CASO ............................................................................................................... 129 Aneliana da Silva Prado SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE, SAÚDE SEXUAL PARA O IDOSO E A QUESTÃO DA AIDS ....................................................................................................... 132 Maria Luiza Lourenço ; Thiago de Almeida O ACOMPANHANTE DA CRIANÇA HOSPITALIZADA: SIGNIFICAÇÕES DO PROCESSO DE SAÚDE, DOENÇA E HOSPITALIZAÇÃO NA INFÂNCIA ......... 135 Menezes, M. ; Moré, C.L.O.O. ; Barros, L. COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL E COMPORTAMENTO EXTERNALIZANTE EM CRIANÇAS: UMA REVISÃO DE ESTUDOS TEÓRICOS ........................................ 138 Ana Priscila Batista ESTILOS PARENTAIS: COMPARAÇÃO ENTRE FAMÍLIAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM E SEM ALTAS HABILIDADES ................................................ 140 Ana Paula Viezzer Salvador ; Lidia N. D. Weber e colaboradores A RELAÇÃO ENTRE ESTILOS PARENTAIS E O DESEMPENHO ACADÊMICO DE ADOLESCENTES .................................................................................. 142 Chanary Procek ; Ana Paula Viezzer Salvador ; Lidia N. D. Weber e colaboradores AVALIAÇÃO DE UM GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS COM ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA ............................................................................................... 144 Aline Lenhart Nesi ; Ana Paula Viezzer Salvador ; Chanary Procek e colaboradores COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM CRISE EPILÉPTICA AFEBRIL: ABORDAGEM NEUROPSICOLÓGICA .................. 146 Ana Caroline Bonato da Cruz ; Davi Sidnei de Lima; Sergio Antônio Antoniuk e colaboradores O ESTIGMA, A PROSTITUIÇÃO FEMININA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA: ASPECTOS E INTERFACES PRESENTES E RELEVANTES À SOCIEDADE ........... 148 Diego da Silva ; Ivonete Ferreira Haiduke ; Patrícia Cardoso Campos Nogueira AS MÚLTIPLAS FACES DA VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: REFLEXÕES E DESAFIOS ................................................................................................... 150 Alessandra Cardoso Siqueira; Eraldo Carlos Batista; Benedito Alves de Oliveira MUNDO DA LUA: USO DE DROGAS E FAMÍLIA .......................................................... 152 Ana Carolina Buzzá Machado; Marina Guebert ; Nicolle Roman Ferreira e Maria Cristina Neiva de Carvalho A FRUTA NÃO CAI LONGE DO PÉ: VIOLÊNCIA TRANSGERACIONAL ................ 154 Elaine Chaves ; Gabriela Rossetto Demeneck ; Maria Cristina Neiva de Carvalho ; Viviane Ferreira PERCEPÇÃO VISUAL E MEMÓRIA VISUAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM CRISE EPILÉPTICA AFEBRIL .................................................... 156 LIMA, D. S; CRUZ, A. C. B.; RIECHI, T. I. J. S. e colaboradores PROGRAMA DE MELHORIA DA INTERAÇÃO FAMILIAR – PROMIF ................... 158 Lissandra Medeiros Santos ; Solange de Fátima Ilivinski ; Luiza Helena Cosmo Spaki e colaboradores SENTIMENTOS, DIFICULDADES E EXPECTATIVAS DOS PAIS EM RELAÇÃO AOS FILHOS SUPERDOTADOS INSERIDOS EM ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO .................................................... 160 Paula Mitsuyo Yamasaki Sakaguti ; Maria Augusta Bolsanello PRATICAS EDUCATIVAS PARENTAIS E RELAÇÃO COM DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DOS FILHOS ...................................................... 162 Laura Zitronenblatt ; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber e colaboradores ATUAÇÃO DO PSICOLOGO EM EQUIPE INTERDISCIPLINAR NO SERVIÇO DE ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA – SUPORTE E ATENÇÃO AS FAMILIAS ...................... 164 Luciana Maísa da Silva Sydor ESCALA DE QUALIDADE DE INTERAÇÃO FAMILIAR – EQIF; ESTUDO DA VALIDAÇÃO E AFERIÇÃO DO INSTRUMENTO PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA .......................................................................................... 166 Marta Assis Loureiro ; D. Florencio Castro ; Lidia Natália Dobrianskyj Weber CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOLOGIA PARA A ORIENTAÇÃO PARENTAL ................................................................................................. 168 Daniella Bauer Pereira de Almeida Bastos ; Ademar Heemann CONFERÊNCIAS E PALESTRAS FAMÍLIAS POR ADOÇÃO: AMORES CONQUISTADOS Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Núcleo de Análise do Comportamento e Programa de Pósgraduação em Educação da Universidade Federal do Paraná [email protected] A adoção é um tema bastante complexo e delicado e, apesar de a adoção existir desde os tempos mais remotos, pesquisas recentes mostram que os preconceitos que envolvem este assunto ainda persistem, como enraizados, em grande parte da população. A conscientização e o esclarecimento só serão possíveis a partir da realização de pesquisas científicas sobre o assunto, visando aprofundar o estudo dos aspectos envolvidos na adoção, bem como, a dinâmica existente no dia-a-dia das famílias. A adoção pode ser vista como uma transgressão à ordem natural, ou como um meio de sobrevivência da espécie, sendo tão natural quanto a procriação: “... adoção é uma construção social cercada de inúmeros valores culturais e históricos. (...) Adoção seria um processo por que as pessoas passam para transformar uma criança em filha e, com isso, podem exercer um papel parental de proteção, cuidado e amor para com a criança” (Weber, 2011). As famílias por adoção são constantemente descritas na literatura como vulneráveis a diversos fatores de risco. Steinhauer (1998) lista diversos fatores que têm correlação com a falta de sucesso na adoção: Crianças com história de privação severa e múltiplas tentativas de colocação; Crianças com diagnóstico de desordem de comportamento antes da adoção; Crianças que foram retiradas de um relacionamento longo e de sucesso em Foster home ou Casa Lar; Adoção envolvendo uma criança que apresenta uma forte vínculo emocional com um membro da família de origem ou da Foster home (Casa Lar); Adoção na qual um ou os dois pais adotivos tem expectativas excessivas em relação à criança adotada; Adoção onde a criança, como resultado de experiências prévias, desenvolveu uma personalidade bem estabelecida e de comportamento, ou tenha necessidades exageradas que interferem com a aceitação e integração com a família adotiva; Idade da criança na adoção. No entanto, diversas pesquisas realizadas com a equipe do Núcleo de Análise do Comportamento da 7 UFPR demonstram evidência que a dinâmica familiar das famílias por adoção não estão sujeitas às diversas vulnerabilidades apontadas anteriormente pela literatura. Em pesquisa sobre estilos e práticas parentais (Weber, Pereira & Dessen, 2008), os resultados apontam os filhos adotivos percebem, em seus pais, maior envolvimento, supervisão, clima conjugal positivo, modelo, punição paterna e revelam maior sentimento positivo por seus pais do que os filhos genéticos. Por outro lado, os adolescentes não-adotados perceberam maior comunicação negativa e clima conjugal negativo em seus pais. Assim, em vez de um grupo apontado como “de risco” e percebido ainda com preconceito, os dados sugerem características altamente protetivas nas famílias adotivas brasileiras que merecem ser investigadas de forma mais sistemática e profunda. O que resultados de pesquisas mostram de maneira clara é que a família por adoção possui a mesma essência de uma família genética, mas suas características são diversas e não devem ser perdidas de vista. Em meio a uma sociedade ainda preconceituosa, a generalizações de casos dramáticos e ainda falta de estudos nacionais sobre o tema, desvela-se que as adoções têm tido mais amores do que dissabores. O amor de uma família por adoção é construído, como qualquer outra forma de afeto que deve ser sempre nutrido. O amor sempre deve ser conquistado. Palavras-chave: adoção, família, casa-lar, filiação REFERÊNCIAS Steinhauer, P.D. (1998). The least detrimental alternative: a systematic guide to case planning and decision for children in care. Toronto: University of Toronto Press. Weber, L.N.D., Pereira, C.L. & Dessen, M.A. (2008). Parental practices in one parent and two parent adoptive Brazilian families. International Journal of Psychology, 43, 703-703. Weber, L.N.D. (2001). Adote com carinho: um manual sobre aspectos essenciais da adocão. Curitiba: Juruá. 8 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS COMPREENDER E AVALIAR SERIAL KILLERS E PEDOFILOS Maria Adelaide de Freitas Caíres Psicóloga clínica e forense; Mestre em Psicologia da Saúde; Neuropsicóloga do IPq-HCFMUSP (1987 a 2005); especialista na prova de Rorschach, em Neuropsicologia e em Psic. Jurídica; autora do Livro: Psicologia Jurídica – implicações conceituais e aplicações práticas [email protected] A prática em psicodiagnóstico, seja para fins clínicos ou periciais, exercida por mais de três décadas, permitiu reunir dados sobre a dinâmica de funcionamento psicológico – cognitivo e afetivo-emocional –, os quais correlacionei com estressores psicosssociais, na sua maioria vivenciados ao longo da primeira infância. Os dados colhidos sobre o ciclo vital e o ciclo criminal foram corroborados através dos resultados apurados na testagem psicológica, que incluía o exame de personalidade e o neuropsicológico. A observação clínica apontava para a ocorrência, reiterada, de fatores que poderiam ser considerados como de risco. Para verificá-los dois levantamentos documentais foram realizados e analisados estatisticamente. As casuísticas foram compostas de 120 casos de vítimas examinadas no ambulatório NUFOR (Núcleo de estudos e pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), por solicitação das Delegacias Especiais, durante minha atividade como coordenadora e supervisora do núcleo forense, para o primeiro grupo e, para o segundo, de 40 casos de criminosos, escolhidos aleatoriamente dentre centenas, cuja perícia fora requisitada pelo Poder Judiciário na qualidade de perita oficial contratada do IMESC (Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo) ou de perita nomeada. As variáveis: distúrbio de linguagem, distúrbio de atenção com ou sem hiperatividade e a violência doméstica foram comparados com os tipos penais de homicídio, lesão corporal, uso e tráfico de drogas e crime sexual (abuso e estupro) e também com a reincidência criminal. Os resultados, que serão apresentados sob a forma de gráficos, confirmam nossa hipótese clínica, qual seja, violências 9 perpetradas em tenra idade desvia os processos naturais de desenvolvimento psicológico e da maturação cortical e, particularmente, da construção da personalidade deixando como sequelas em alguns aspectos as desordens tanto na identidade pessoal como na social, além de falhas na organização dos afetos, em especial da leitura afetiva de fatos e pessoas. Embora o N não garantiu a caracterização dos estressores selecionados como fatores de risco, demonstrou que os mesmos estão de fato ocorre em 100% dos casos, incluindo nestes os que cometeram crime em série. Os dados sugerem uma leitura de que o crime possa ocorrer como expressão de uma história de conflitos, que favorece tanto o adoecer como a criminalidade. No presente trabalho, destacaremos os casos criminais. 1. NUFOR - Entre os anos de 1998 a 2005. 2. IMESC – entre os anos de 1986 a 1996 10 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS A ATUAÇÃO DO TERAPEUTA EM UM PROCESSO DE DISPUTA PELA GUARDA DO FILHO Patrícia Piazzon Queiroz – IAAC [email protected] O pai de Julio procurou atendimento psicológico para o filho de 8 anos. Ele e a mãe da criança estavam em disputa judicial pela guarda: “Agora o Julio está bem. Mas já passou por coisas muito difíceis para a idade dele. Tem várias coisas gravadas aqui (CD) para você entender. Não dá para contar tudo. Ele está sob a minha guarda, mas ainda tem um processo rolando para a guarda definitiva. Eu não o trouxe aqui por causa disso, mas por querer que ele fique bem. Sei que ele já sofreu, ele está bem, mas não deve ser fácil.” A terapeuta identificou que Julio foi exposto a contingências de incontrolabilidade: a. mãe bateu o próprio carro algumas vezes no do pai com a criança dentro; b. a mãe foi buscá-lo com um mandato judicial na casa dos avós paternos e o levou mesmo o menino insistindo que não queria ir; c. no período em que esteve sob a guarda da mãe, ela impediu o contato com a família paterna enquanto a criança ficava praticamente com a empregada; d. o pai conseguiu um mandato para buscar a criança na cidade onde morava com a mãe; e. a mãe foi à escola sem autorização judicial para levá-lo de volta a cidade dela; f. a mãe não telefonava com freqüência e quando o fazia, dizia que o levaria embora ou falava mal da rotina de vida da criança, mesmo com Julio se opondo aos comentários dela e pedindo que parasse. Ficou evidente para a terapeuta que a separação dos pais tinha sido tumultuada e a mãe não aceitava a situação. Sua relação com o filho não era sistemática e não estava sob controle dos comportamentos e sentimentos do filho, mas era função dos seus sentimentos de raiva, irritação e frustração na relação com ex-marido. Os avós paternos sempre foram presentes na vida da criança e diante das situações vividas por ele faziam todas as suas vontades sem dar limites. Essas contingências levaram Julio a desenvolver um repertório de comportamento de: a. não acreditar no que as pessoas combinavam com ele; b. evitar se envolver afetivamente, pois poderia perder a relação a qualquer momento; c. dificuldade em seguir regras; d. dificuldade em emitir tactos dos seus sentimentos. A terapeuta 11 adotou os seguintes procedimentos: a. realizavam acordos e estes sempre eram cumpridos; b. emitia comportamentos afetivos; c. dava modelos para o cliente expressar sentimentos; d. solicitava como prêmio, quando ganhava um jogo, abraços, cócegas etc., instalando repertório adequado de toque; f. propunha regras; g. os assuntos referentes a guarda e a mãe foram introduzidos gradualmente e eram interrompidos quando a criança expressava desconforto na situação; h. solicitava para Julio descrever a rotina do seu dia a dia e relação com os colegas. Diante da consistência entre o falar e fazer da terapeuta, Julio foi estabelecendo um vínculo afetivo e de confiança, passou a falar sobre a sua relação com a mãe e a expressar seus sentimentos de conflito entre gostar dela e não gostar de coisas que ela fazia. Ele também descrevia adequadamente seu comportamento com os colegas e expressava seus sentimentos nas situações. Julio descrevia sua relação com o pai, madrasta e irmão e aos poucos passou a expressar seu ciúme do irmão (filho da nova relação marital do pai) para a terapeuta. A relação de confiança entre terapeuta e cliente o levaram a solicitar a ela que escrevesse um relatório ao Juiz expressando sua vontade de ficar com o pai e explicitou seu medo de decepcionar a mãe. 12 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS O RELACIONAMENTO DO CASAL, HABILIDADE SOCIAL E A SEXUALIDADE Roseli Deolinda Hauer Psicóloga Clínica (CRP 080134) Especialista em Sexualidade Humana [email protected] O tema sexualidade humana é sempre marcado por curiosidade, sempre envolto em situações de brincadeiras, risos, piadas e gozações. Quando nos referimos ao relacionamento sexual nos casais, ainda poderemos encontrar segredos, temas polêmicos, ansiedade, disfunções e desconhecimento. A história de vida e do relacionamento do casal será sempre acompanhada da história cultural, religiosa, educação, questões sócio- econômicas, e da interação destes fatores que resultará a história pessoal. Duas histórias de vida que agora decidem viver juntos compartilhando sonhos, projetos e experiências. Toda esta história de relacionamento e casamento agora será acompanhada, regulada pelos pressupostos de como deve ser um relacionamento e ainda contemplando expectativas do que seriam as crenças básicas sobre o relacionamento. As primeiras experiências românticas do casal, seus pensamentos, sentimentos e comportamentos podem interferir diretamente na vida afetiva e sexual do casal. As expectativas sociais, a ansiedade de desempenho, a pouca experiência de alguns parceiros podem interferir inteiramente no desempenho sexual. Faz-se necessário afirmar aqui a importância do diálogo no casal, e aqui é que precisamos comentar sobre as vantagens das habilidades sociais no relacionamento interpessoal. O casal que dentro das suas competências pessoais consegue expressar sentimentos, pensamentos, colocar-se no lugar do outro, com certa facilidade, pode ser que consiga também expressar o que gosta ou o que não gosta dentro do relacionamento sexual. 13 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS AUTISMO E TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO: CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PARA A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL Cintia Guilhardi (Grupo Gradual) Claudia Romano (Grupo Gradual) Leila Bagaiolo (Grupo Gradual) Glauce Carolina Vieira Santos (Grupo Gradual) [email protected] O autismo e os transtornos invasivos do desenvolvimento (TIDs) são definidos, essencialmente, como distúrbios do desenvolvimento, com bases em alterações neurológicas que afetam principalmente três aspectos: (1) as interações sociais; (2) o comportamento verbal e (3) variabilidade de repertórios comportamentais. As alterações nesses aspectos variam de indivíduo para indivíduo e, por isso, esses transtornos são examinados dentro de um continuum ou o que se convencionou denominar espectro. Diferentes procedimentos e métodos de intervenção têm sido aplicados com o objetivo principal de reverter, pelo menos parte dessas alterações e produzir melhor qualidade de vida para os indivíduos diagnosticados dentro desse espectro. A Análise do Comportamento teve e tem papel importante no desenvolvimento de tecnologia comportamental eficiente na intervenção sobre esses distúrbios. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo destacar essas contribuições. Palavras-chaves: Autismo; Análise do Comportamento; Análise Aplicada do Comportamento; Tecnologia Comportamental. 14 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS A FAMÍLIA E AS RELAÇÕES PARENTAIS NO CURSO DE VIDA Maria Auxiliadora Dessen Universidade de Brasília [email protected] É no contexto familiar e, principalmente, das relações proximais entre os membros da família, que o indivíduo adquire habilidades cognitivas e competências sociais essenciais para o seu desenvolvimento. Embora a noção de família pareça óbvia, este não é o caso, pois há uma multiplicidade de estruturas e arranjos familiares dentro e entre diferentes culturas, que vão além das famílias nucleares e tradicionais. Mas, iIndependentemente da variedade de estruturas, cada família tem papéis e regras de funcionamento e uma forma específica de se organizar, além de adotar um processo de comunicação próprio. Em seu processo de comunicação, o subsistema parental é reconhecido como a fonte mais significativa de influências para o desenvolvimento dos filhos. Pais e mães (ou cuidadores) são os principais responsáveis por promover o clima necessário para a introdução de novos padrões relacionais, particularmente nas primeiras etapas do curso de vida do indivíduo. Para a realização de suas tarefas de parentalidade, os pais recorrem a diferentes estratégias, que refletem suas metas, sua história de interação e sua disposição pessoal para lidar com seus filhos. As práticas parentais constituem, assim, instrumento valioso por meio das quais as expectativas e regras, presentes no ambiente familiar e social, são expressas. Ainda que as crianças pequenas sejam motivadas a seguir as regras, uma vez que elas estão ligadas e próximas aos seus pais, gradativamente, na medida em que elas vão crescendo, amadurecendo, adolescendo e se tornando adultas, as crenças e expectativas se transformam e os padrões de interação entre elas e seus pais também se modificam. Durante o curso de vida, o processo de parentalidade se forma e se transforma dentro de um sistema de relações em mudança, que envolve muitos aspectos da qualidade das relações entre os diferentes membros da família. Considerando que: (a) a família continua garantindo a sobrevivência e a proteção da espécie humana, fornecendo afeto e suporte 15 emocional e psicológico a seus membros, proporcionando, muitas vezes, um clima adequado para a aprendizagem de competências de regulação, socialização e monitoramento de escolhas sociais; e que (b) os padrões de comunicação familiar podem mudar consideravelmente, qualitativa e quantitativamente, ao longo do curso de vida da família, em função das mudanças esperadas nas diferentes etapas do desenvolvimento, o nosso objetivo, nesta palestra, é suscitar algumas reflexões sobre a família e suas relações parentais na perspectiva do curso de vida. Na primeira parte, a definição e a formação da família são apresentadas como constituindo a base para a compreensão da parentalidade. Em seguida, o conceito de parentalidade e as práticas parentais, e suas implicações para o desenvolvimento infantil, são discutidas. A terceira parte é dedicada a mostrar as mudanças que ocorrem nas relações parentais à medida que o indivíduo avança no curso de vida. E, finalmente, concluímos esta apresentação reiterando a importância do „clima familiar‟ para o desenvolvimento saudável dos filhos. Palavras-chave: família, relações parentais, desenvolvimento humano, curso de vida. 16 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS QUANDO A CRIANÇA PRECISA DE TERAPIA Psic. Ms. Joana Singer Vermes Núcleo Paradigma, São Paulo [email protected] Terapeutas analítico-comportamentais infantis têm recebido crianças com diversas queixas, sendo algumas delas ligadas a transtornos psiquiátricos (tais como depressão, transtorno obsessivocompulsivo, transtornos de tiques, fobias, enurese, encoprese, déficit de atenção e hiperatividade) e outras que não se enquadrariam a nenhum diagnóstico, mas que produzem sofrimento à criança e à família, bem como limitam a condução de uma vida plena. Alguns desses problemas são: dificuldade da criança em dormir na própria cama, intensas brigas entre irmãos, recusa em ingerir determinados alimentos, bullying¸ dificuldade em fazer amizades, masturbação em locais inadequados, birras etc. O presente trabalho visa caracterizar alguns fatores do comportamento da criança que merecem atenção por parte de pais, professores, médicos e terapeutas e que, em decorrência, poderiam levar ao encaminhamento à psicoterapia. Embora se reconheça que, em alguma medida, todas as crianças apresentam alguma dificuldade, alguns elementos podem apontar para a necessidade da busca pela psicoterapia. Uma das principais condições refere-se às situações nas quais a criança apresenta uma dificuldade que, além de produzir sofrimento, limita suas atividades normais e - mais importante: os pais e/ou pessoas que cuidam da criança não apresentam repertório adequado para a lida com esse problema. Outro contexto comum está relacionado àquelas situações nas quais os próprios cuidadores são parte principal do problema. Neste sentido, o terapeuta teria a função de mediar e procurar soluções para melhoria da relação entre a criança e esses adultos. Outra situação que dificilmente prescinde do trabalho psicoterapêutico está ligada ao manejo de problemas relacionados a queixas psiquiátricas. Isso porque, dada a complexidade dos comportamentos, dificilmente adultos que não sejam especializados poderão cuidar dessas dificuldades de forma satisfatória. O trabalho apresentado discute situações nas quais é possível tentar cuidar dos problemas das crianças sem necessariamente o trabalho psicoterapêutico. Sugerem-se, então, algumas medidas alternativas, tais como orientação de pais, atividades extra-curriculares, ou inserção de outros profissionais ligados à saúde. 17 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS LAVAR, ARRUMAR, CONTAR... QUANDO AS MANIAS TORNAM-SE UM PROBLEMA: O COMPORTAMENTO OBSESSIVO-COMPULSIVO Denis Roberto Zamignani Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento, São Paulo [email protected] Os problemas diagnosticados sob o rótulo Transtorno Obsessivo-Compulsivo – TOC envolvem a presença de obsessões e compulsões. Obsessões são pensamentos, imagens ou idéias repetitivas e indesejáveis, que invadem a consciência e que costumam causar muito desconforto ou medo. Compulsões, também chamadas rituais compulsivos são ações voluntárias, geralmente realizadas de forma estereotipada, realizadas para eliminar ou neutralizar estes pensamentos ou para prevenir a ocorrência de algum evento temido. Esse tipo de experiência é, em geral, acompanhado de sofrimento, ansiedade e angústia, ume vez que o pensamento obsessivo tende a ser devido de natureza desagradável. O TOC é um transtorno bastante heterogêneo, e pode se manifestar por pensamentos e rituais muito diversos entre si. Os tipos mais comuns de TOC envolvem pensamentos relacionados a contaminação ou sujeira, e rituais de limpeza; dúvidas obsessivas, com rituais de checagem e verificação; obsessões religiosas, com orações ou auto-flagelo; obsessões relacionadas a doença ou morte de entes querido; obsessões sobre sexualidade; acumulação e colecionismo; rituais relacionados a contagem e repetição. O TOC é um fenômeno multideterminado, que envolve certa vulnerabilidade biológica, associada a alguns aspectos de história de vida. A família do portador de TOC, na tentativa de ajudá-lo pode contribuir para a sua manutenção ajudando na realização dos rituais ou alterando o ambiente de forma a facilitar a sua realização. Tal participação alivia momentaneamente o sofrimento do portador, mas tende a perpetuar o sofrimento e o problema, por não permitir o desenvolvimento de um repertório de enfrentamento. Por esta razão, recomenda-se que a família solicite ajuda profissional para um melhor enfrentamento do problema, com vistas a um controle mais efetivo. A melhor e mais efetiva alternativa de tratamento envolve a integração entre terapia comportamental e tratamento 18 medicamentoso. Nos últimos anos muitas substâncias foram desenvolvidas pela farmacologia de maneira a diminuir o sofrimento do portador, com efeitos colaterais bastante discretos, se comparados àqueles provocados pelas drogas menos recentes. Por outro lado, a terapia comportamental tem se ocupado em desenvolver estratégias terapêuticas diversas, que são capazes de dar conta das várias manifestações envolvidas no transtorno obsessivo-compulsivo. Uma marca da terapia comportamental contemporânea tem sido o esforço em abranger o comportamento do portador como um todo, e não apenas focalizar a intervenção exclusivamente sobre os sintomas obsessivo-compulsivos. Desse modo, estratégias que levem em consideração a reintegração do indivíduo em suas atividades cotidianas são fundamentais e bastante utilizadas. Para isso, podem ser contratados acompanhantes terapêuticos ou pode-se treinar pais ou professores para dar suporte às atividades de enfrentamento planejadas para o contexto extra-consultório. O presente trabalho visa apresentar algumas características do transtorno conforme concebido pelos manuais de psiquiatria (DSM, CID), bem como questões relevantes para o seu entendimento e identificação. As diferenças entre as “manias” comuns e o limite a partir do qual o problema requer tratamento, as possíveis causas do problema, bem como as alternativas de tratamento disponíveis, serão tratados na apresentação. Em seguida, serão apresentadas brevemente algumas estratégias terapêuticas propostas pela psicologia para o manejo deste tipo de problema. 19 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS PARA ENCONTRAR E VIVER UM GRANDE AMOR Prof. Dr. Ailton Amélio da Silva Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo [email protected] Este resumo apresenta os cinco principais caminhos para iniciar um relacionamento amoroso e as cinco medidas que contribuem para aumentar as chances de que um relacionamento desse tipo ganhe estabilidade e evolua positivamente. Caminhos para iniciar relacionamentos amorosos Realizei um estudo com cinco grupos de pessoas bastante diversificadas (casadas, solteiras, estudante universitários, estudantes do secundário etc.), em quatro cidades brasileiras, para verificar como elas iniciaram seus namoros1. Este estudo mostrou que quase todos esses namoros foram iniciados através dos seguintes cinco caminhos: 1- Transformação de um relacionamento não amoroso já existente (amizade, profissional, colega de escola etc.) em amoroso: 37%. 2- Apresentação por um conhecido em comum: 32%. 3- Flerte com um desconhecido seguido de abordagem: 20%. 4- Encontros acidentais (por exemplo, estar em uma fila ou sentar-se ao lado de alguém em um ônibus ou metrô e puxar conversa): 4% 5- Uso de serviços (internet, agência de casamentos e anúncios em jornais ou revistas): 1%. 6- (Outros caminhos: 6%). Cada um desses caminhos tem vantagens e desvantagens. Cada um deles é mais adequado em certas situações e para certos tipos de pessoas e inadequado para outras situações e pessoas. Por exemplo, pessoas que tenham características que são raras na população dificilmente se deparam com parceiros compatíveis nos locais que frequentam ou que poderia frequentar no dia a dia. Isso acontece, por exemplo, com mulheres acima de certa idade e que são muito qualificadas. Nesse caso, a atividade mais provável para encontrar parceiros compatíveis é a internet. Para isso ilustrar isso, vamos supor que só existam cinquenta parceiros compatíveis entre si que morem aqui na cidade de São Paulo. Nesse caso, haverá muito pouca chance de elas se encontrem acidentalmente 20 nesta cidade. No entanto, se elas colocarem seus perfis em um bom site de relacionamento na internet, ai elas terão uma chance muito maior de se encontrarem. Cinco fatores que contribuem para o sucesso de um relacionamento amoroso2 Os relacionamentos amorosos geralmente não sobrevivem apenas do romantismo e da atração sexual entre os parceiros, como as novelas, os romances e as letras das músicas românticas querem nos fazer crer. Existem diversos fatores contribuem para que este tipo de relacionamento seja iniciado e evolua positivamente ou para que fique estagnado ou pereça. Três deles foram identificados por Caril E. Rusbult e B. P. Bunnk, da Universidade de Michigan, através de uma importante pesquisa longitudinal: satisfação, alternativas e investimentos (RUSBULT & BUNNK, 1993). Dois outros fatores, a escolha de um parceiro adequado e as barreiras contra a dissolução do relacionamento, foram apontados por diversos outros estudos. Vamos apresentar agora uma noção desses cinco fatores. Primeiro fator: escolha de um parceiro compatível Algumas características pessoais, que são muito importantes para um relacionamento amoroso, são muito difíceis de mudar. Portanto, é melhor selecionar parceiros que as possuam do que tentar mudá-los durante o relacionamento. É desaconselhável aceitar alguém condicionalmente. Por exemplo, é desaconselhável aceitar um parceiro amoroso contando que ela vai se tornar muito mais sociável do que é, deixar um vício, ficar rica, cursar uma faculdade etc. Um parceiro que é aceito condicionalmente já inicia o relacionamento como devedor. Segundo fator: satisfação com o relacionamento A satisfação com o relacionamento afeta todas as suas fases, desde a escolha do parceiro, passando pelo seu início, progresso, estabilidade e término até a sua revitalização quando isso acontece. A satisfação também é importante para diversos tipos de relacionamentos: amizade, relacionamento entre parentes, relacionamento entre pessoas que trabalham juntas e relacionamento amoroso. O grau de satisfação de um relacionamento é determinado pela proporção entre custos e benefícios. Vários fatores podem ser fontes de custos e benefícios: características fixas ou dificilmente mutáveis das pessoas (inteligência, personalidade, sociabilidade, certas características físicas etc.); os diversos tipos de relacionamento com o parceiro (desempenho sexual, qualidade e quantidade de comunicação etc.); compartilhamento de tarefas e responsabilidades (ajudar em tarefas caseiras e nas tarefas de manutenção da casa: fazer supermercado, efetuar pagamento de contas etc.); criação e manutenção de relações sociais (amizades, relacionamentos com parentes etc.), entre outros. John Gottman, autor de vários livros e pesquisas sobre os fatores que contribuem para o sucesso do casamento, afirma que para um relacionamento dar certo é necessário que cada parceiro proporcione para o outro cinco benefícios para cada custo (GOTTMAN, 1998). Embora esta 21 proporção possa ser questionada, parece bastante óbvio que preferimos a companhia daqueles que nos proporcionam mais benefícios do que custos. Alguns estudos indicaram que importa mais para a satisfação a forma como o parceiro é percebido do que como ele é na realidade. Terceiro fator: alternativas a permanecer no relacionamento Existem melhores opções fora do relacionamento do que nele? Geralmente são considerados dois tipos de opções fora do relacionamento para responder a esta pergunta: (1) ficar só (muitas vezes é "melhor ficar só do que mal acompanhado") ou (2) trocar de parceiro. Uma das maiores causas da separação no mundo, segundo um estudo realizado em 186 culturas pela antropóloga Laura Betzig, da Universidade de Michigan, a traição é a segunda maior causa do divórcio - só perde para a esterilidade (Betizig, 1989). Como não é possível enfraquecer as atrações que existem fora do relacionamento, o que dá para fazer é melhorar as atrações que existem dentro dele e as forças que dificultam sair dele. Ou seja, devemos cuidar dos outros quatro fatores que são apresentados neste artigo: selecionar um parceiro compatível, aumentar as satisfações no relacionamento atual, investir no relacionamento e selecionar parceiros que possuam barreiras contra a sua dissolução e desenvolvê-las. Quarto fator: investir no relacionamento Para que um relacionamento dê certo é necessário investir, acreditar e apostar nele. É necessário "entrar com os dois pés na canoa". Agir desta forma é o oposto do imediatismo do "toma lá, dá cá". Isto, obviamente, não significa ser ingênuo e apostar em relacionamentos com baixas chances de sucesso. Cada vez mais acreditamos menos no casamento e, por isso, tentamos nos proteger das consequências do seu fracasso. Esta falta de crença e excesso de proteção contribui para que ele não dê certo. Antigamente o casamento era concebido como uma união mais plena e duradoura. Por exemplo, o regime do compartilhamento de bens era a comunhão total e era considerado indissolúvel. Atualmente o casamento padrão acontece com a comunhão parcial de bens e ele é visto como relativamente descartável. Muitos casais estão optando pela separação total de bens através de um pacto antenupcial. Existem várias formas de investir em um relacionamento. Psicologicamente isto acontece quando os cônjuges "deixam de ser eu e tu e se tornam um pouco nós". Outra forma é a aceitação incondicional do parceiro (o que não significa concordar com tudo que ele faz). Outras formas de investimento: desenvolver projetos conjuntos (casa, carreira), amparar o outro nos maus momentos, defender o outro publicamente etc. Barreiras Existem dois tipos de barreiras contra a dissolução de um relacionamento amoroso: as internas e as externas. As barreiras internas são constituídas pelos valores, crenças e inibições psicológicas que 22 se contrapõem aos términos dos relacionamentos amorosos. Por exemplo, uma pessoa que tenha sentimentos e valores que a impeça de tomar decisões que impliquem em sofrimentos para a sua família terá mais inibições para sair de um relacionamento amoroso e lutará mais para que ele dê certo do que alguém que tenha um grau menor destas características. Existem duas maneiras de trabalhar com este tipo de barreira para aumentar as chances de que um relacionamento perdure: (1) selecionar parceiros que tenham este tipo de atitudes e valores que ajudem a proteger o relacionamento e (2) fortalecer tais atitudes e valores. Por exemplo, dialogar com o parceiro com o objetivo de aumentar a visibilidade das consequências negativas das separações. As barreiras externas são constituídas por aqueles obstáculos impostos por outras pessoas e pelas estruturas sociais contra a dissolução do relacionamento amoroso. A opinião pública, as consequências legais e econômicas são alguns exemplos deste tipo de barreira. Acredito que é possível ter um relacionamento amoroso vivo, criativo e prazeroso, com o mesmo parceiro, durante toda a vida. Vale a pena construir e viver um relacionamento assim. Não conheço nenhum outro setor da vida que pode nos afetar de forma tão profunda e tão ampla quanto este. Pense nisso. Notas 1. Este tópico foi baseado em um capítulo do meu livro: Silva, A. (2001). O Mapa do Amor. São Paulo: Editora Gente. 2. Este tópico foi baseado em capítulos dos meus livros: Amélio, A. A. (2009). Relacionamento Amoroso. São Paulo: Publifolha. Amélio, A. A. (2005). Para Viver um Grande Amor. São Paulo: Editora Gente. REFERÊNCIAS Betizig, L. (1989). Causes of conjugal dissolution: A cross cultural study. Current Anthropology, 30, 654 - 676. Gottman, J. (1998). Casamentos. (Traduzido do original em inglês por T. B. Santos). Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda. Rusbult,C. E. A & Buunk, B. P. (1993). Commitment processes in close relationships: An interdependence analysis. Journal of Social and Personal Relationships, 10, 175-204. 23 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS PREVENINDO A VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA E NA ESCOLA Profa. Dra. Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams Universidade Federal de São Carlos Departamento de Psicologia LAPREV (Laboratório de Análise e Prevenção da Violência) [email protected] Essa apresentação irá descrever exemplos de projetos desenvolvidos no LAPREV (Laboratório de Análise e Prevenção da Violência/UFSCar) ilustrativos de prevenção de violência na família e na escola. Como exemplo ilustrativo de prevenção da violência na família, serão apresentados dados referentes ao Projeto Parceria. Trata-se de um projeto de 16 semanas de duração (sessões semanais), financiado pelo CNPq, que desenvolveu e tem avaliado um programa de intervenção a mães vítimas de violência pelo parceiro, de forma a prevenir problemas comportamentais nos filhos. Múltiplas medidas avaliativas são coletadas com as mães e a criança-alvo em três momentos (antes, durante e após 4-6 meses de conclusão): informações dadas na Entrevista Inicial a Vítimas de Violência Doméstica, desempenho no Inventário de Estilo Parental (IEP), no Inventário de Potencial de Abuso (CAP) e no Questionário de Capacidades e Dificuldades da Criança – SDQ. Adicionalmente, a observação da interação mãe-criança é registrada e filmada em quatro situações diferentes em uma casa laboratório que reproduz o ambiente domiciliar consistindo em uma réplica de casa com diversos cômodos com câmaras digitais e espelho unidirecional. Finalmente, o projeto envolve a coleta de dados de modo continuo (auto-registro diário pela mãe) de seu Senso de Bem Estar e Senso de Competência Parental. O projeto de intervenção individual desenvolvido com um referencial teórico-metodológico Cognitivo-Comportamental envolve: a) um componente psicoterapêutico para analisar o impacto que a violência possa ter causado no desenvolvimento da mulher (a participante recebe um livreto para tal módulo, Projeto Parceria, vol. 1 “Uma vida livre da violência”) e b) um componente educacional (Projeto Parceria, vol. 2 “Educação Positiva de seus filhos”), em que ela aprende sobre manejo não coercitivo do comportamento dos filhos, por 24 meio de discussões, role-playing, modelação e vídeo-feedback. Dados ilustrativos serão apresentados de sessões da observação interação mãe-criança que no estágio pré-intervenção caracteriza-se por uma alta freqüência de atenção a comportamentos negativos da criança. Em seguida será descrita a aplicação do projeto em forma de treino domiciliar a 17 mães com alto risco psicossocial e seus adolescentes com histórico de vitimização previamente denunciados ao Fórum Judicial, com resultados positivos segundo as mães e adolescentes. Em relação à prevenção da violência na escola serão apresentados dados de dois projetos: 1) o Projeto Escola que Protege (projeto financiado pelo MEC/SECADI), no qual o LAPREV capacitou presencialmente mais de 1600 profissionais no Estado de São Paulo da rede pública de ensino e profissionais ligados à Rede de Proteção Social a crianças e adolescentes, buscando fortalecer tal rede no que se refere ao enfrentamento da violência contra a criança e adolescente. Uma breve descrição do curso de 40 horas de duração com 6 aulas semanais, além de horas destinadas a um trabalho prático será dada, com dados ilustrativos da avaliação dos professores que foi muito positiva; e 2) o Projeto Violência Nota Zero (financiado pela FAPESP e pelo MEC), ainda em andamento com o objetivo de diminuir a violência escolar. Serão apresentados dados do teste piloto de um folder para prevenção de bullying para crianças do ensino Fundamental. 25 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS PROFESSORES PRECISAM DE CURSOS? Ana Priscila Batista Departamento de Psicologia – UNICENTRO Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFPR [email protected] Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Departamento de Psicologia – UFPR Programa de Pós-Graduação em Educação - UFPR Cada vez mais são veiculadas notícias e se tem conhecimento acerca dos problemas enfrentados pela escola e pelo professor, sendo alguns: comportamento agressivo entre alunos, em direção ao professor, do professor direcionado aos alunos, vandalismo, bullying, falta de conhecimento sobre identificação e encaminhamento adequado de diversos tipos de problemas de comportamento de crianças e adolescentes (vítimas de violência, uso de drogas, problemas de comportamento externalizantes e internalizantes, etc). Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo analisar alguns fatores que contribuem para essas situações e, perante tal panorama, responder a presente questão-título: professores precisam de cursos? Mais especificamente: professores precisam de cursos em que aprendam a lidar de forma eficiente com tais problemáticas? Para isso, foi feita uma análise da literatura pertinente e foram utilizados alguns dados de duas pesquisas, publicados em forma de livros pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO): 1) “O Perfil dos Professores Brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam...”, publicada em 2004, e 2) “Formação de professores para o ensino fundamental: instituições formadoras e seus currículos”, publicada em 2009. Inicialmente serão apresentadas algumas conclusões dessas pesquisas que são consideradas importantes para a presente análise. De forma geral, alguns importantes dados da primeira pesquisa (UNESCO, 2004) mostram: o fato de os professores brasileiros apresentarem-se empobrecidos, o que coloca em questão as políticas de valorização do magistério; parcela significativa dos professores sinaliza a importância do impacto da relação professor/aluno no processo de ensino/aprendizagem, sendo esse considerado por eles o segundo fator, em termos de importância, 26 entre os que mais influenciam a aprendizagem, sendo o primeiro fator apontado referente ao acompanhamento e apoio da família; o fato de a grande maioria dos professores pesquisados secundarizarem a tarefa de transmitir conhecimentos atualizados e relevantes, privilegiando como finalidade da educação a formação de cidadãos conscientes e o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Por fim, os dados desse estudo demonstram a necessidade de investimento em um processo amplo e de políticas públicas integradas, com ênfase na valorização do magistério, compreendido sob as mais diferentes conjunções. A segunda pesquisa, realizada em 2008, pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, sob coordenação das pesquisadoras Bernardete A. Gatti e Marina R. Nunes, analisou a estrutura curricular e as ementas de 165 cursos presenciais de instituições de ensino superior do país que promovem a formação inicial de docentes nas áreas de Pedagogia, Letras: Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Biológicas. Sobre os cursos de Pedagogia, importantes constatações foram: o currículo proposto nesses cursos apresentam um conjunto disciplinar bastante disperso; na análise das ementas das disciplinas de formação profissional, predominam os referenciais teóricos, com associação em poucos casos às práticas educacionais; a parte curricular que propicia o desenvolvimento de habilidades profissionais específicas para a atuação nas escolas e nas salas de aula é bem reduzida; poucos cursos propõem disciplinas que permitam algum aprofundamento e formação de competências na área de educação infantil, educação de jovens e adultos e educação especial; nos estágios obrigatórios não há propriamente projeto ou plano de estágio; a escola, enquanto instituição social e de ensino, é elemento quase ausente nas ementas. Quanto às demais licenciaturas – Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Biológicas, verificouse que: predomina a formação disciplinar específica, em detrimento da formação de professores para essas áreas do conhecimento; raras instituições especificam em que consistem os estágios e sob que forma de orientação são realizados; na maior parte dos ementários não foi observada uma articulação entre as disciplinas de formação específicas e as de formação pedagógica; saberes relacionados a tecnologias no ensino estão praticamente ausentes; as disciplinas de conhecimentos relativos aos sistemas educacionais são inexpressivas. Esse estudo reafirma o que já foi apontado em vários estudos sobre as licenciaturas: que elas ocupam um lugar secundário no modelo de universidade brasileira, sendo que, dentro desse quadro, a formação de professores é considerada atividade de menor categoria e quem a ela se dedica é pouco valorizado. A partir das conclusões dessas pesquisas, pode-se observar que a profissão de professor é pouco valorizada, seja pela remuneração, seja pelo espaço a ela dedicado em cursos universitários. Durante o processo de formação, há pouca articulação entre teoria e prática, além de abordagem 27 inexpressiva da realidade educacional em seus diversos âmbitos. Mesmo sendo pouco abordada em cursos de formação, a relação professor-aluno é considerada bastante importante pelos professores como fator que influencia a aprendizagem, sendo que eles também valorizam a formação de cidadãos conscientes e o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico por seus alunos. A respeito dessa interação professor-aluno, sabe-se que diversos fatores estão presentes e influenciam o comportamento do professor, tais como: o comportamento dos alunos, de outros professores e demais profissionais da escola; exigências da escola e instâncias superiores; planos de aula a cumprir; condições de trabalho; o comportamento dos pais; crenças sobre os alunos e suas famílias; situações presentes na vida pessoal; história passada vivida com seus professores; formação profissional; contextos social, político, econômico e cultural em que se inserem (Pereira, Marinotti & Luna, 2004; Batista & Weber, 2011). Além disso, diversos fatores também influenciam o comportamento de cada aluno. Este já apresenta formas de se comportar que foram aprendidas no seu ambiente familiar, nas interações com professores anteriores, com pares e comunidade em que está inserido. No contexto escolar, as regras estabelecidas, o comportamento do professor, dos colegas e o clima emocional presente, são fatores que influenciam o comportamento do aluno. A diversidade de comportamentos dos alunos em um mesmo contexto, sala de aula, deve ser considerada e o professor deve estar sensível à individualidade de cada um ao mesmo tempo em que mantém as mesmas regras para toda a turma, o que não é considerado uma tarefa fácil e exige habilidade e conhecimento. Também é importante considerar que além dos professores se preocuparem com a didática adequada para o ensino de conteúdos acadêmicos específicos, cada vez mais se enfatiza a necessidade da escola e do professor trabalhar aspectos referentes ao desenvolvimento como um todo, inserindo aí a formação de valores. Conforme Novak e Pelaez (2004), as escolas são uma importante fonte de transmissão social, pois a entrada no sistema educacional expõe a criança a valores extra-familiares. Assim, as funções da educação se referem tanto ao aumento do desenvolvimento cognitivo da criança quanto à promoção do seu desenvolvimento social. Entretanto, pode-se observar nas pesquisas descritas acima que os professores nem sempre recebem uma formação ou capacitação adequada para isso, além do fato de, muitas vezes, não apresentarem tais habilidades em seus repertórios pessoais. Assim, diante desse panorama, fica claro que a resposta para a questão “Professores precisam de cursos?” é sim. E ainda, além de cursos que abordem as áreas deficitárias apresentadas pela pesquisas, precisam de cursos que abordem especificamente as relações interpessoais estabelecidas na escola, bem como cursos que capacitem professores para o trabalho com as diferentes 28 problemáticas, podendo-se dizer que esta necessidade é premente. Alguns estudos já vêm sendo realizados nesse sentido e, ao serem avaliados, mostram resultados positivos (Ormeño, 2004; Terzian & Fraser, 2005; Del Prette & Del Prette, 2006; Brino, 2006; Correia-Zanini & Rodrigues, 2010; Stelko-Pereira & Williams, 2010). A partir disso, observa-se que os professores podem ser considerados agentes responsáveis pela aquisição de comportamentos dos alunos, podendo participar direta e ativamente do processo de ensino de comportamentos desejados, além de se configurarem como elementos-chave na proteção à criança e ao adolescente. A partir dos resultados desses estudos, fica claro que professores são peças fundamentais para o desenvolvimento de cursos e programas interventivos de prevenção de problemas de comportamento, promoção de habilidades sociais em alunos, proteção à criança e ao adolescente no sentido de identificar comportamentos-problema e realizar os devidos encaminhamentos. Isso pelo fato de estarem presentes no contexto em que as crianças se inserem e interagirem diariamente com elas. Para Brino (2006), os professores continuam atuando com crianças após a capacitação, mesmo que a cada ano dê aula a novos alunos, o que garante a continuidade do trabalho. Assim, a aprendizagem não se constitui em uma ação isolada em um determinado tempo, sendo que pode ser utilizada e implementada ano após ano, atingindo um número maior da população. Entretanto, é preciso atentar ao formato de tais cursos, para que não se constituam apenas como fontes de transmissão de informações e que, de fato, propiciem atividades, vivências e envolvam um acompanhamento que leve à modificação do repertório comportamental dos professores de forma à obtenção de resultados positivos. Para Pereira, Marinotti & Luna (2004), é preciso levar em consideração o repertório de entrada dos professores nesses cursos, pois ele pode deter uma quantidade significativa de informações. Além disso, os professores podem ter dificuldade para lidar com novos conhecimentos, seja intelectualmente (integrando-as, relacionando-as), seja do ponto de vista pragmático (o que fazer com eles na sala de aula). Para finalizar, é importante destacar que os professores precisam de cursos sim, mas todo o sistema em que eles estão inseridos e recebem formação também precisam ser revistos e avaliados. De nada adianta culpabilizar apenas os professores por não apresentarem o repertório esperado e, assim, compensar isso por meio do envolvimento deles em cursos. Isso pode ser um dos passos para a mudança da realidade, entretanto, é imprescindível uma análise ampla de todos os fatores que contribuem para a problemática para que, dessa forma, intervenções mais amplas e adequadas possam ser efetivadas. 29 REFERÊNCIAS Batista, A. P. & Weber, L. N. D. (2011) Estilos de liderança de professores da educação infantil: uma análise a partir do modelo de estilos parentais. Em S. R. G. Pietrobon, & N. T. Ujiie, (Orgs.). Educação Infantil: Saberes e Fazeres. Curitiba: Ed. CRV. Brino, R. F. (2006). Professores como agentes de prevenção do abuso sexual infantil: avaliação de um programa de capacitação. 2006. Tese de doutorado. Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2006. Correia-Zanini, M. R. G. & Rodrigues, O. M. P. R. (2010). Os efeitos de um curso para professores sobre o comportamento de seus alunos. Em: Resumos de Comunicação Científica da XL Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, ISSN 2176-5243, Curitiba. Del Prette, Z. A. P & Del Prette, A. (2006). Treinamento de habilidades sociais na escola: o método vivencial e a participação do professor. In: Bandeira, M.; Del Prette, Z. A. P & Del Prette, A. Estudos sobre habilidades sociais e relacionamento interpessoal. São Paulo: Casa do Psicólogo. Gatti, B. A. & Barreto, E. S. (Coord.) (2009). Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO. Novak, G. & Peláez, M. (2004). Child and adolescent development: a behavioral systems approach. Califórnia: Sage Publications. Ormeño, G. I. R. (2004). Intervenção com crianças pré-escolares agressivas: suporte à escola e à família em ambiente natural. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação Especial. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. Pereira, M. E. M., Marinotti, M. & Luna, S. V. (2004). O compromisso do professor com a aprendizagem do aluno: contribuições da análise do comportamento. In: Hübner, M. M. C. Análise do comportamento para a educação: contribuições recentes. Santo André: ESETec. Stelko-Pereira, A. C. & Williams, L. C. A. (2010). Programa preventivo de violência escolar: uma avaliação de processo. Em: Resumos de Comunicação Científica da XL Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, ISSN 2176-5243, Curitiba. Terzian, M. A. & Fraser, M. W. (2005). Preventing aggressive behavior and drug use in elementary school: Six family-oriented programs. Aggression and Violent Behavior 10, 407–435. UNESCO (2004). O Perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam. Pesquisa Nacional UNESCO, – São Paulo : Moderna. 30 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS HABILIDADES SOCIAIS NO TRABALHO? Profa. Dra. Suzane Schmidlin Löhr Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná [email protected] Quem somos, como nos vemos perante os grupos a que pertencemos, ou seja, a imagem que construímos de nós mesmos, está diretamente ligada a como nos comportamos nos diversos âmbitos de vida. A família, escola, trabalho, são contextos que contribuem, portanto, para a construção da identidade de cada um de nós. O foco nesta apresentação será nas influências do mundo do trabalho na nossa constituição como indivíduos. Lassance e Sparta (2003) mostram que o trabalho tem diferentes significados conforme a época e a cultura analisada. A Bíblia, no livro Gênesis, aborda o trabalho com a conotação de castigo divino. Deus expulsa Adão e Eva do paraíso pela sua desobediência, ao provarem da árvore do bem e do mal. Neste momento Deus diz a Adão que deverá ganhar o pão com o suor de seu rosto. Na antiguidade grega, o trabalho era considerado algo menos nobre, deixado para os escravos, enquanto os demais cidadãos realizavam atividades de contemplação, dedicavam-se ao ócio ou à política. A partir do séc. XV a reforma religiosa muda a forma de ver o trabalho. De castigo ou algo degradante, o trabalho passa a ser considerado uma virtude. Observa-se uma inversão de posicionamento e o alvo de críticas agora passa a ser o ócio. Na cultura ocidental pós-moderna em que hoje vivemos, o trabalho tem conotação ambígua. Ao mesmo tempo em que é valorizado por contribuir para a formação integral do indivíduo, é também questionado por servir como ferramenta de controle de uns sobre outros, reflexo do capitalismo. Controle não mais na forma escrava do passado, mas indiretamente, utilizando de mecanismos sutis de coerção, por vezes disseminados pelos meios de comunicação. A ambigüidade de definição do trabalho pode fazer com que ele seja promotor da saúde, ou um agente patogênico. Giardini Murta e Troccolli (2004) descrevem o trabalho como uma fonte de gratificação pessoal, que atende a 31 diversas necessidades humanas. Porém apontam-no, ao mesmo tempo, como uma fonte de adoecimento, referindo-se aos momentos em que ele envolve fatores de risco e a pessoa não dispõe de recursos para manejo e contra-controle. Segundo Caniato, Cesnick e Araújo (2010) vários modelos de análise do trabalho surgiram nos últimos séculos. Os modelos fordista e taylorista de final do séc. XIX e início do séc. XX, deram lugar ao modelo toyotista. Os dois primeiros modelos mais focados na produção em massa, viabilizada pelas linhas de montagem, dividindo o trabalho em duas categorias (intelectual/concepção e manual/execução) enquanto o terceiro modelo oriundo do Japão, enfatiza o trabalho em equipe. Com a terceira perspectiva vem também a chamada Gestão por competências. Brandão (2007) faz uma revisão de literatura da produção científica brasileira no que tange a competências para o trabalho. Enfatiza que desde que no mundo do trabalho a gestão por competências passou a ser defendida e buscada, há maior aporte de estudos tentando descrever as competências ligadas a diferentes profissões. É interessante notar que em vários estudos levantados pelo autor as habilidades sociais eram mencionadas como uma das competências centrais, mostrando uma valorização das habilidades que promovem o relacionamento interpessoal no rol de competências esperadas por parte de profissionais das mais diversas áreas. Segundo Del Prette e DelPrette (2001) “os novos paradigmas organizacionais que orientam a reestruturação produtiva tem priorizado processos de trabalho que remetem diretamente à natureza e qualidade das relações interpessoais” . Destacam alguns aspectos hoje desejados pelas empresas, como: valorização do trabalho em equipe, intuição, criatividade, autonomia na tomada de decisões, estabelecimento de canais não formais de comunicação complementando os formais, valorização da qualidade de vida e da auto-estima, aspectos estes que direta ou indiretamente envolvem habilidades sociais. Os autores lembram que as habilidades sociais se apresentam em diferentes graus de complexidade, fazendo com que classes mais complexas possam ser decompostas em diversas habilidades, as quais podem ser formadas por outras subclasses. Designam assim as classes mais complexas de molares e as mais específicas de moleculares. Um exemplo por eles citado e que é exigido em diversas atividades no mundo do trabalho, é a classe molar de coordenar grupo, a qual é composta por subclasses moleculares como elogiar, fazer perguntas, resumir, dentre outras, que se combinam em classes maiores como mediar o estabelecimento e seguimento de normas, organizar as etapas da tarefa, etc. A literatura mostra que as habilidades sociais podem facilitar as relações no contexto do trabalho, promovendo maior envolvimento entre os trabalhadores, o que pode melhorar a qualidade de vida dos mesmos. Porém há questões relativas ao trabalho que precisam ser analisadas com cautela. 32 Mesmo o modelo toyotista, que a princípio parece enaltecer a cooperação, ao ser aplicado em sociedades capitalistas, nas quais a produção determina a manutenção ou não da equipe, faz com que muitas pessoas se desencantem do trabalho. Tal desencanto leva a que o trabalho seja encarado não como um importante fator na construção da subjetividade e sim como um mal necessário para a obtenção de dinheiro, o qual, por sua vez, permite comprar momentos de prazer. Concluindo, como o nome já diz, as habilidades sociais envolvem habilidades e como tal, podem ser desenvolvidas por meio de cursos e treinamentos, além da exposição direta da pessoa a situações envolvendo relacionamento interpessoal. Ter manejo produtivo de habilidades sociais, participar de cursos e treinamentos para incrementar tais habilidades, pode contribuir para um bem estar geral da pessoa. A etapa seguinte, que envolve a escolha dos âmbitos em que colocará as habilidades sociais em prática, depende da própria pessoa. Assim, permanece a pergunta: Habilidades sociais no trabalho ? REFERÊNCIAS Brandão,H.P.(2007). Competências no trabalho: uma análise da produção científica brasileira. Estudos de Psicologia, 12(2), p 149-158 Caniato,A.M;Cesnick,C.C.; Araújo,J.da S. (2010) Subjetividades cúmplices e o sofrimento psicossocial na contemporaneidade. Psicologia e sociedade 22(2), 236-246 Del Prette,A.; Del Prette, Z. (2001). Psicologia das relações interpessoais – vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Editora vozes Esperidião, E.; Munari, D.B. (2005). A formação integral dos profissionais de saúde: possibilidades para a humanização da assistência. Ciência, Cuidado e Saúde. v.4(2), p.163-170 Giardini Murta,S. : Tróccoli,B.T.(2004). Avaliação de intervenção em estresse ocupacional. Psicologia: teoria e pesquisa, vol.20(1), p 39-47 Lassance, M.C.; Sparta, M. (2003). A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Revista brasileira de orientação profissional, v.4 (1-2), p. 13-19. 33 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS GUARDA PROTETIVA: O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR DAS CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL Laiana Delakis Recanello, ¹ Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP [email protected] O presente estudo tem como finalidade analisar o instituto da guarda protetiva, sob a égide do Estatuto da Criança e do Adolescente. Além disso, avaliar as situações de vulnerabilidade em que as crianças são expostas, em virtude da conduta omissiva e comissiva dos genitores. Verifica-se que a Constituição Federal de 1988 iniciou um movimento no Brasil, já pulsante no âmbito internacional, ao dispor acerca da necessidade da proteção integral das crianças e adolescentes. Neste contexto, nasceu em 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e Adolescente. A guarda protetiva pode ser definida como uma medida de proteção de colocação em família substituta, o qual a autoridade competente, após o acolhimento institucional e impossibilidade da criança em retornar de imediato à família natural, concede provisoriamente a guarda da criança em situação de vulnerabilidade social a outrem, ante a verificação dos pressupostos de grau de parentesco e/ou relação de afinidade e afetividade, tais podem ser exemplificados na figura dos avós, tios, padrinhos, vizinhos, amigos, ou seja, pessoas que nutrem uma relação de afinidade e afetividade com a criança e, por conseguinte, com a família natural. A mencionada medida visa possibilitar a realização de políticas públicas para reestruturação familiar e futura reinserção da criança na família de origem. A referida guarda está em consonância ao disposto no artigo 1º, §1º, artigo 19, §3ª e artigo 25, parágrafo único todos da Lei 12.010/2009, mais conhecida como “Nova Lei de Adoção”. Os artigos supracitados pormenorizaram como prioridade a manutenção da criança e do adolescente no ¹Mestranda do Programa de Mestrado em Ciência Jurídica do Centro Sociais Aplicadas da. Bolsista da Fundação Araucária. 34 seio familiar, voltando-se a orientação e promoção da família, bem como a preferência da família extensa para os casos de guarda, tutela e adoção, haja vista o vínculo de afinidade e afetividade. Assim, o legislador buscou a unidade familiar e a inclusão da família extensa para a manutenção dos vínculos biológicos e afetivos. Os princípios constitucionais basilares de tal instituto é a dignidade da pessoa humana, doutrina da proteção integral, princípio da solidariedade familiar e princípio da afetividade. O artigo 98 do Estatuto da Criança e Adolescente enumera três bases genéricas para a verificação de situações de vulnerabilidade pessoal e social em que a criança pode ser exposta. Por esta razão, tal normativa é o coração do Estatuto da Criança e do Adolescente, eis que define as condições para a aplicação das medidas de proteção elencadas no artigo 101 do ECA. No que tange ao artigo 98, inciso II do ECA, o qual alude sobre a falta, omissão ou abuso dos pais, as hipóteses mais recorrentes que configuram na exposição de crianças a situação de vulnerabilidade pela conduta dos genitores são: a) abandono material e imaterial, b) abuso de substâncias psicoativas e álcool; c) prisão; d) violência doméstica. Cumpre ressaltar que a análise deve ser casuística e as hipóteses são intermináveis. Ademais, tendo em vista a excepcional e provisoriedade da medida de proteção de acolhimento institucional, a concessão da guarda protetiva é uma das alternativas para manutenção do vínculo familiar e, consequentemente reestruturação da família e reinserção da criança no seio familiar. A guarda protetiva visa minimizar os danos causados pela retirada abrupta da criança do convívio familiar, bem como impedir que a mesma fique institucionalizada por longos períodos. Além disso, através do cuidado e zelo substituto prestados por pessoas com vínculo de afinidade e afetividade não há a criação de um novo sistema, mas se busca mudar a realidade da família para a resolução dos próprios conflitos, reduzindo os possíveis traumas das crianças removidas no que tange a adaptar-se a novas pessoas e lugares. Verifica-se para que, para que haja efetividade na reinserção da criança na família natural, há a necessidade de políticas voltadas à promoção da família, bem como apoio a família extensa, através de uma “rede proteção” articulada entre as entidades governamentais e não-governamentais, os profissionais do Serviço de Atendimento a Criança e Adolescente, bem como com o suporte técnico e financeiro da União, dos Estados e dos Municípios. O método utilizado no presente estudo é o dedutivo, através da análise geral acerca das questões relacionadas à guarda protetiva, o direito a convivência familiar e necessidade de políticas públicas na área da infância e juventude. Os procedimentos instrumentais utilizados é a análise de material doutrinário e da legislação vigente. 35 Por fim, não restam dúvidas que há situações em que a guarda protetiva responde adequadamente às necessidades de proteção da criança, vez que lhe permite conviver com a família extensa, sem, contudo perder o vínculo com a família de origem. Palavras chaves: Guarda Protetiva. Convivência familiar. Políticas Públicas. REFÊRENCIAS ASSIS, Jorge César. Estatuto da criança e do adolescente. Curitiba: Juruá, 2000. v. 2. Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e Conselho Tutelar: orientações para criação e funcionamento. Brasília: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, 2007. COSTA, Ana Surany Martins. Filiação socioafetiva: Uma nova dimensão afetiva das relações parentais. Instituto Brasileiro de Direito de Família. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=381> Acesso em 17/10/2008. CURY, Munir; SILVA, Antônio Fernando do Amaral e; MENDEZ, Emílio Garcia. Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. DEL-CAMPO, Eduardo Roberto Alcântara; OLIVEIRA, Thales Cezar de. Estatuto da criança e do adolescente. São Paulo: Atlas, 2005. DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed., rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. JESUS, Ivaise Jann de. Criança maltratada: retorno à família? Um estudo exploratório em Santa Maria RS. Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, n.54, abr. 2005. LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da criança e do adolescente. 9. ed., rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2006. MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (Coord). Curso de direito da criança e do adolescente: aspectos teóricos e práticos. 2. ed. rev e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. MINUCHIN, Patrícia; CALAPINTO, Jorge; MINUCHIN, Salvador. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artmed, 1999. REINTEGRAÇÃO FAMILIAR: Assegurando direitos e fortalecendo os vínculos. Disponível em:<http://www.abmp.org.br/congresso2008/experiencias/153439Relato%20de%20experie ncia%20NARF%20para%20a%20ABMP.doc> Acesso em: 17/06/2009. PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. 36 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS ATENÇÃO PRECOCE E O MODELO CENTRADO NA FAMILIA Maria Augusta Bolsanello Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná [email protected] [email protected] Os programas de estimulação precoce surgiram, nas décadas de sessenta e setenta, para atender crianças com deficiências, na faixa etária de zero a três anos e tinham como quadro de referência o modelo médico. Este modelo era centrado na relação profissional-criança, com ênfase na figura do profissional, o qual decidia quais procedimentos de avaliação e intervenção deveriam ser implementados, sem levar em conta o contexto familiar, educacional e comunitário onde a criança estava inserida (Guralnick, 1997; Dunst, Johanson, Trivette & Hamby, 1997, Bolsanello & PérezLópez, 2007). A família não era participante dos programas de estimulação precoce e muitas vezes a mãe era considerada fonte de problemas (Turnbull, Turbiville & Turnbull, 2000). Nas últimas décadas, nos países citados acima, os programas de estimulação precoce sofreram uma transformação notável, sobretudo em relação à participação das famílias, que passou de um papel secundário a um papel de destaque nestes programas. Esta transformação resultou mudanças em ações políticas e educacionais embasadas, sobretudo: (a) na necessidade em se examinar o desenvolvimento infantil em seu contexto mais poderoso, o da família, reconhecendo-se que este desenvolvimento não é biologicamente fixado mas influenciado em grande escala pelo ambiente (Bronfenbrenner & Evans, 2000); (b) na crença de que os pais podem beneficiar significativamente suas crianças especiais, se obtiverem informações e orientações adequadas além de acesso a apoios sociais e educacionais; (c) no reconhecimento de que a intensidade e a especificidade dos programas de estimulação precoce tem que ser adaptadas às características e ao funcionamento da família (Guralnick, 1997). Dentro deste novo enfoque, a estimulação precoce toma uma nova denominação – atenção precoce – consistindo em um conjunto de intervenções dirigidas à população infantil de zero a seis anos, à família e ao seu contexto, tendo por objetivo responder às 37 necessidades transitórias ou permanentes que apresentam crianças de risco ou com transtornos em seu desenvolvimento (Gat, 2000). Desta maneira, a estimulação/atenção precoce passa a ser considerada como um conjunto de serviços, apoios e recursos que são necessários para responder tanto às necessidades de cada criança quanto às necessidades de suas famílias, sempre visando a promoção do desenvolvimento infantil (Dunst & Bruder, 2002). Agora profissionais e pais devem caminhar juntos na responsabilidade de promover o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Desta feita, o modelo centrado na relação “profissional-criança” evolui para um modelo centrado na relação “familia-criança”, por influência de dois aportes teóricos que tem contribuído com as estratégias necessárias para o atendimento em atenção precoce: o ecológico (Bronfenbrenner, 1996) e o transacional (Sameroff & Fiese, 2000). Ambos evidenciam a influência dos diferentes contextos ambientais sobre o desenvolvimento infantil. Criança, família e contexto constituem uma unidade que deverá materializar-se em um programa de intervenção. Nenhuma equipe profissional, por mais interdisciplinar e competente que seja, pode esquecer esta realidade individual e social, afetiva e existencial da criança. Tanto o aporte ecológico quanto o transacional representam a integração de conceitos provenientes de várias disciplinas científicas que ao longo dos tempos foram influenciando as formas de prestação de serviços no âmbito da intervenção/educação infantil especializada. No modelo centrado na família, as necessidades e desejos da mesma guiam toda a prestação de serviços, reconhecendo-se que as relações entre os vários membros da família, nuclear e alargada, assim como as relações entre a família e a comunidade são importantes para o funcionamento da família e para o desenvolvimento da criança. 38 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS OBESIDADE INFANTIL E PRÁTICAS DE ALIMENTAÇÃO Psic. Ms. Ana Paula Franco Mayer Profa. Dra. Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Universidade Federal do Paraná, Departamento de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Educação [email protected] A presente palestra tem por objetivo compreender o sobrepeso e a obesidade infantil e como a família pode atuar sobre esse fenômeno. Entre os transtornos nutricionais infantis a obesidade infantil é um dos mais frequentes problemas de saúde pública e está avançando de forma rápida e progressiva como uma epidemia, sem diferenciar etnia, sexo, idade ou nível social. Percebendo a complexidade dessa doença será explanado os conceitos que a ela se referem, entre eles, o conceito de sobrepeso, obesidade, peso normal e desnutrição. Na sequência será apresentada a sua prevalência, que segunda à faixa etária, observa-se um aumento gradativo da obesidade e do sobrepeso desde a infância até a idade adulta, chegando, até mesmo, a triplicar nos jovens nos últimos 20 anos. Esse aumento, que vem ocorrendo nas últimas décadas, acontece em diversos países. Para a população brasileira, a prevalência de sobrepeso/obesidade apresenta crescimento entre as décadas de 70 e 90, e sua frequência varia entre 5 a 18%, dependendo da região estudada. Outro ponto abordado será as conseqüências físicas e psicológicas que a obesidade pode desenvolver tanto na infância como na fase adulta, pois as crianças com excesso de peso têm um elevado risco de se tornarem adolescentes e adultos também com excesso de peso e, portanto, possuindo um grande risco de sofrer dos problemas de saúde associados. A literatura vem mostrando que o excesso de peso é um fator de risco à qualidade de vida afetando a saúde física, ocasionando ou agravando quadros de hipertensão, diabetes mellitus, doença coronariana, apneia do sono, derrame, aumento do colesterol e triglicerídeos, problemas ortopédicos. Em relação às complicações psicológicas, a criança afetada pela obesidade pode apresentar baixo desenvolvimento 39 de habilidades sociais, baixa autoestima e baixo autoconceito, depressão, distúrbios da autoimagem e discriminação. Por fim, será mostrado que uma das formas de prevenção da obesidade infantil é uso de práticas de alimentação adequadas pelos pais aos seus filhos. Essas práticas são estratégias comportamentais específicas, empregadas pelos pais para controlar o que e o quanto os seus filhos comem. Existem diversas práticas de alimentação utilizadas pelos pais na alimentação dos seus filhos. Segundo Musher-Eizenman e Holub (2007), as doze práticas de alimentação infantil que podem ser utilizadas pelos pais são: (1) controle da alimentação feito pela criança: os pais deixam o controle da alimentação ser feito pela criança; (2) controle das emoções: pais usam a comida para controlar os estados emocionais da criança; (3) incentivo ao equilíbrio e variedade: os pais proporcionam o equilíbrio e variedade na alimentação dos seus filhos; (4) ambiente: os pais deixam alimentos saudáveis disponíveis em casa; (5) alimento como recompensa: pais utilizam a comida como recompensa ao bom comportamento do seu filho; (6) envolvimento: pais estimulam o envolvimento dos seus filhos no planejamento e preparação das refeições; (7) modelo: pais comem alimentos saudáveis para dar exemplo para seus filhos; (8) monitoramento: pais ficam atentos no consumo de alimentos menos saudáveis pelos seus filhos; (9) pressão: pais pressionam seus filhos a comerem mais nas principais refeições; (10) restrição por saúde: pais controlam o consumo de comida dos seus filhos com o propósito de limitar comidas menos saudáveis e doces para manter seus filhos mais saudáveis; (11) restrição para controle do peso: pais controlam o consumo de comida dos seus filhos com o objetivo de diminuir ou manter o peso deles; (12) ensino sobre nutrição: pais ensinam o valor nutricional dos alimentos aos seus filhos para incentivar o consumo de alimentos saudáveis. 40 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO. O QUE FAZER ? Prof. Dra Tatiana I. J. de Sá Riechi Laboratório Neuropsicologia- PPG-Psico/UFPR [email protected] Os Transtornos do desenvolvimento podem ser definidos como quaisquer quadros clínicos ou eventos, de origem genética ou adquirida até os primeiros meses de vida, que podem comprometer o desenvolvimento cerebral do indivíduo, podendo causar deficiências, físicas e/ou mentais, bem como restrições à funcionalidade e à participação social. Encontram-se incluídos deficiências como mental, paralisia cerebral, epilepsia, transtorno específico de aprendizagem, transtorno neuropsiquiátrico, síndromes, má formação, entre outras. Diante da melhoria dos avanços tecnológicos e humanos das UTIs neonatais os índices de mortalidade infantil diminuíram significativamente nas ultimas décadas. Com isto é possível se observar a presença expressiva de crianças que sobreviveram a diversos fatores pré, peri e neonatais que num passado muito remoto não teriam sobrevivido, porem mais vulneráveis a riscos de morbidades e alterações de desenvolvimento. A primeira questão a resposta ao que fazer diante dos transtornos de desenvolvimento é considerar a sua presença e o aumento expressivo da incidência dos transtorno do desenvolvimento, diante dos fatores anteriormente apresentados. Além de que, a criança não é um adulto em miniatura. Diante deste novo paradigma, o conceito de infância e a atenção a criança desde a concepção até o final da adolescência, alerta para a importância da visão biopsicossocial sobre o desenvolvimento infantil, suas peculiaridades, ampliação dos fatores de risco e deficiências. A segunda parte da resposta aponta para a necessidade da avaliação precoce dos transtornos de desenvolvimento. Desenvolver métodos e técnicas para a identificação precoce de sinais sugestivos de alterações futuras de desenvolvimento ao longo da vida do individuo. De maneira geral, os múltiplos procedimentos de avaliação rastreiam domínios nas áreas orgânicas, cognitivas, motoras, linguagem, sociais, emocionais, entre outras. Quanto mais eficaz e mais cedo for possível a avaliação dos sinais de risco, mais cedo e eficiente poderá ser a intervenção. Desta forma, coloca-se 41 a terceira questão a resposta proposta ao título desta fala. O que se deve fazer diante do transtorno de desenvolvimento, ações práticas de promoção das potencialidades e da reabilitação das deficiências. É fundamental que crianças com transtornos de desenvolvimento e suas famílias participem de programas e planos de atenção e estimulação psicossociais, desde a identificação precoce das alterações. Os programas de estimulação e intervenção precoce devem ser resultantes e políticas publicas de saúde e educação que priorizem a inclusão social e, garantam qualidade de vida as crianças e adolescente com transtornos de desenvolvimento assim como, a seus familiares. 42 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS BULLYING: PROFESSORES E ALUNOS Prof. Cloves Amorim PUCPR/FEPAR/FAVI [email protected] O fenômeno bullying é universal, variando sua freqüência, mas lamentavelmente o Brasil foi reconhecido como campeão nesta prática. “Bullying é o desejo consciente e deliberado de maltratar uma pessoa e colocá-la sob tensão”. O cenário do Bullying é composto pela vítima, pelo agressor e pelas testemunhas. As vítimas podem ser caracterizadas como prudentes, sensíveis, tranqüilos, introvertidos e tímidos;; normalmente não tem um bom amigo e se relacionam melhor com os adultos do que com os seus pares; se são meninos, normalmente são mais frágeis fisicamente do que os seus pares. Enquanto os agressores são impulsivos e raivosos; apresentam pouca empatia como os estudantes vitimizados; costumam ser desafiadores e agressivos com os adultos, incluindo pais e professores; costumam apresentar outras condutas anti-sociais como vandalismo, delinqüência e consumo de drogas;os meninos costumam ser mais fortes fisicamente do que o resto dos companheiro em geral e das vítimas em particular; não possuem problemas especiais com sua autoestima. Um terceiro segmento são as testemunhas. “Eles não sofrem e nem praticam bullying, mas sofrem as suas conseqüências, por presenciarem constantemente as situações de constrangimento vivenciadas pelas vítimas”. Muitos espectadores/testemunhas repudiam as ações dos agressores, mas nada fazem para intervir. Após um breve histórico e caracterização do fenômeno serão apresentados alguns programas de prevenção. As principais estratégias listadas na literatura especializada são: treinamentos em habilidades sociais e em resolução de problema, resolução de conflitos em sala de aula, reforço da autoestima e também o desenvolvimento de uma cultura da paz. A título de Ilustração será descrito e apresentado um programa de prevenção realizado em uma escola pública na cidade de Curitiba. Ênfase será dada na dimensão da construção de uma cultura da paz que se inicia na Educação Infantil, bem como as ações e atividades que podem ser empreendidas pelos docentes e pelo corpo técnico administrativo da escola. 43 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS FAMÍLIA E A ADMINISTRAÇÃO DE SENTIMENTOS Profa. Ms. Vera Regina Miranda PUC-PR, POSITIVO [email protected] A família é uma rede complexa de relações e emoções, considerada a matriz do desenvolvimento humano e responsável por aprendizados relativos ao senso de pertencimento e de identidade e às vivências das relações verticais (poder desigual e hierarquia, junto ao sistema decisório-pais) e horizontais (igualdade junto aos pares-irmãos). No lócus familiar pode-se dar vazão ao apego e desapego,segurança, disciplina, comunicação e ao confronto com o princípio da realidade,que pressupõe frustrações e controle de impulsos. Minuchin (1990) enfatiza que a educação e a socialização são processos complexos e conflituosos,pois os pais não podem proteger e guiar, sem ao mesmo tempo controlar e reprimir e os filhos não podem crescer e se tornarem individualizados, sem rejeitar e atacar. Através das relações com iguais e desiguais em poder e hierarquia tem-se um verdadeiro laboratório social sobre disputa, admiração, negociação, cooperação, diferenciação, dominação,submissão, entre outras habilidades e sentimentos que vão servir como um treino para o enfrentamento da vida nos contextos externos a este núcleo. Vale ressaltar que durante o ciclo vital dos membros familiares e da própria família os sujeitos defrontam-se com tarefas evolutivas, sendo que cada etapa exige suas adaptações e reorganizações,objetivando a sobrevivência funcional deste grupo.Todas estas vivências, somadas às múltiplas experiências com nascimentos e mortes,momentos de encontros e conflitos entre os membros familiares suscitam inúmeras emoções (alegria, tristeza, medo, raiva, vergonha, ciúme) que acompanham a trajetória humana de todo os seus participantes. Vivemos inúmeras transformações sociais e culturais advindas do mundo contemporâneo, que propõe múltiplos modelos familiares a partir dos divórcios, recasamentos, relações homoparentais e homafetivas, entre outros.Todas estas transformações parecem evidenciar uma pós-modernidade que valoriza a instantaneidade e a descartabilidade e, muitas vezes favorece o individualismo e, estes aspectos todos conclamam a múltiplas emoções e 44 a uma urgência pela adequação a esta nova realidade,de perdas e ganhos. Há grande necessidade de espaço para comunicar sentimentos,temores e promover questionamentos sobre a família que se pensava e a família que se vive. Acredita-se que o uso de alguns recursos intermediários como histórias e jogos podem sensibilizar a troca entre os membros familiares,oportunizando aproximação entre pais e filhos e melhor administração e elaboração de sentimentos,através de propostas lúdicas de intervenção,principalmente quando houver a presença de crianças e jovens.A utilização de objetos intermediários na abordagem (seja ela nos contextos clínicos ou escolares) constitui uma parada para tratar de temas vividos ou a serem vivenciados pelos membros familiares, sem o caráter de obrigação e de confronto ,que costumam incrementar a ansiedade. Face ao caráter de ludicidade, histórias e jogos interativos quando conciliam aprendizagem (auto-responsabilidade, auto e heteropercepção, trocas afetivas) e prazer,podem ser muito benéficos a todos os seus participantes,que ensinam e aprendem,uns com os outros. Palavras –chave: Família,funções familiares,intervenções familiares. 45 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS QUANDO A DOENÇA DE ALZHEIMER OCORRE COM ALGUÉM DA FAMÍLIA Geriatra Dr. Rubens De Fraga Júnior [email protected] A doença de Alzheimer é caracterizada por déficits proeminentes de memória, seguidas de déficits de iniciativa e visuoespacial , bem como dificuldade de encontrar palavras , e fala vazia. Podem ocorrer dificuldade de julgamento, abstração, comprometimento das funções executivas (não consegue avaliar riscos). As atividades instrumentais da vida diaria pioram progressivamente (dirigir, telefonar, fazer o banco). Nas fases moderadas a severas o paciente não realiza atividades básicas da vida diaria. No estágio final a doença compromete todas as funções cerebrais. Há fortes evidências que intervenções individualizadas de famílias, melhoram o senso de bem estar dos cuidadores e retardam a institucionalização do portador de Alzheimer . A família enfrenta a doença de Alzheimer do seu ente querido atravéz de cinco estágios: A NEGAÇÃO O SUPERCUIDADO A RAIVA A CULPA A ACEITAÇÃO O cuidador do portador de Alzheimer pode experenciar sintomas de Isolamento , de Impaciência , Irritabilidade, Fadiga, Perda de propósito ou sentido da vida,Baixa auto-estima ,e Distúrbios do sono. Os familiares podem enfrentar o estresse do dia a dia de cuidados ao portador de Alzheimer: Exercitamdo-se regularmente 46 Relaxando (técnicasa de relaxamento) Comendo alimentos saudáveis Identificando as emoções negativas e Praticando habilidades de enfrentamento Buscando apoio da família, dos amigos, e de um Grupo de apoio Podemos ajudar a família a enfrentar o cuidado da doença de Alzheimer: 1 Mantendo contato - mostre que você se importa! 2 Tratando o portador de alzheimer com respeito e dignidade 3 Fazendo as pequenas coisas 4 Sendo específico ao oferecer ajuda 5 Educando-se sobre a doença de alzheimer 6 Inclindo todos os membros da família em atividades 7 Sendo um bom ouvinte 8 Encorando a todos um estilo de vida saudável 9 Permittindo aos membros da família algum tempo para si próprios 10 Mantendo todos os membros da família em sua mente Finalmente, buscando ajuda em grupos para familiares de portadores de Alzheimer como a associação Brasileira De Alzheimer(ABRAz) pella pagina eletrônica www.abraz.com.br e pelo telefone 0800 55 1906. 47 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS A DOENÇA MENTAL NA FAMÍLIA Dr.Hamilton M. Grabowski CONSULTÓRIO particular, Curitiba [email protected] Antes de falar dos transtormos mentais que afligem as famílias é mostrado que a dinâmica familiar normal também é influenciada pela Emoção Expressa que são formas de comunicação muitas vezes inadequadas e não-assertivas que se não compreendidas podem produzir sentimentos negativos na família.Muitas vezes são hostilidades que surgem de forma dissimulada ou mesmo com a estimulação de sentimentos que gerem culpa ou preocupação no outro.Neste ponto os desajustes conjugais também tem uma influência marcante na nas dinâmicas familiares, em virtude que a interação entre marido e mulher é vital para o desenvolvimento dos filhos. Em relação aos transtornos Psiquiátricos própriamente ditos são relacionados os Transtornos de Abuso de substancia,As psicoses, Depressão, Transtorno Bipolar do Humor e Transtornos de personalidade.É abordado dentro de cada patologia os aspectos comportamentais que mais interferem na dinâmica familiar de uma maneira mais específica , e quais os sentimentos de transferência e contra-transferência assim como os mecanismos de defesa subjacentes que permeiam as relações familiares. Com relação ao uso de substâncias há uma marcante negligência em relação aos cuidados dos filhos que podem levar a atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e até alterações comportamentais. Nas alterações de personalidade são citadas os subtipos paranóide, antissocial,emocionalmente instável e borderline cujo funcionamento dos indivíduos em seu meio afetam de maneira significativamente os relacionamentos familiares.Os transtornos de jogo patológico privando a família do conforto financeiro com conseqüente desagregação pelos prejuízos trazidos.A depressão um transtorno muitas vezes não percebido pela família produz sentimentos de baixa auto-estima, perda da produtividade social e profissional trazendo um sentimento entre os membros da família de se sentirem sempre sobrecarregados podendo também terminar no desfecho 48 grave de suicídio. O Transtorno Bipolar que produz a maior manifestação de emoção expressa na família, com as flutuações de humor ocorrendo em um membro da família que se traduz em uma instabilidade das relações. Finalmente o impacto das psicoses, cuja deterioração mental dos indivíduos produz profundas alterações na dinâmica familiar. O autor mostra também como a doença mental é vista pela sociedade e quais os mecanismos de defesa que são utilizados pelas pessoas para reagir a estes eventos, tais como negação, raiva, culpa e medo entre outros.O tratamento deve seguir uma abordagem plena com aspectos sociais, psicológicos médicos e espirituais.Mostra a importância da psicoeducação para a compreensão de todos estes transtornos. 49 CONFERÊNCIAS E PALESTRAS PARA ENCONTRAR E VIVER UM GRANDE AMOR Prof. Dr. Ailton Amélio da Silva Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo [email protected] Este resumo apresenta os cinco principais caminhos para iniciar um relacionamento amoroso e as cinco medidas que contribuem para aumentar as chances de que um relacionamento desse tipo ganhe estabilidade e evolua positivamente. Caminhos para iniciar relacionamentos amorosos Realizei um estudo com cinco grupos de pessoas bastante diversificadas (casadas, solteiras, estudante universitários, estudantes do secundário etc.), em quatro cidades brasileiras, para verificar como elas iniciaram seus namoros1. Este estudo mostrou que quase todos esses namoros foram iniciados através dos seguintes cinco caminhos: 7- Transformação de um relacionamento não amoroso já existente (amizade, profissional, colega de escola etc.) em amoroso: 37%. 8- Apresentação por um conhecido em comum: 32%. 9- Flerte com um desconhecido seguido de abordagem: 20%. 10- Encontros acidentais (por exemplo, estar em uma fila ou sentar-se ao lado de alguém em um ônibus ou metrô e puxar conversa): 4% 11- Uso de serviços (internet, agência de casamentos e anúncios em jornais ou revistas): 1%. 12- (Outros caminhos: 6%). Cada um desses caminhos tem vantagens e desvantagens. Cada um deles é mais adequado em certas situações e para certos tipos de pessoas e inadequado para outras situações e pessoas. Por exemplo, pessoas que tenham características que são raras na população dificilmente se deparam com parceiros compatíveis nos locais que frequentam ou que poderia frequentar no dia a dia. Isso acontece, por exemplo, com mulheres acima de certa idade e que são muito qualificadas. Nesse caso, a atividade mais provável para encontrar parceiros compatíveis é a internet. Para isso ilustrar isso, vamos supor que só existam cinquenta parceiros compatíveis entre si que morem aqui na cidade de São Paulo. Nesse caso, haverá muito pouca chance de elas se encontrem acidentalmente 50 nesta cidade. No entanto, se elas colocarem seus perfis em um bom site de relacionamento na internet, ai elas terão uma chance muito maior de se encontrarem. Cinco fatores que contribuem para o sucesso de um relacionamento amoroso2 Os relacionamentos amorosos geralmente não sobrevivem apenas do romantismo e da atração sexual entre os parceiros, como as novelas, os romances e as letras das músicas românticas querem nos fazer crer. Existem diversos fatores contribuem para que este tipo de relacionamento seja iniciado e evolua positivamente ou para que fique estagnado ou pereça. Três deles foram identificados por Caril E. Rusbult e B. P. Bunnk, da Universidade de Michigan, através de uma importante pesquisa longitudinal: satisfação, alternativas e investimentos (RUSBULT & BUNNK, 1993). Dois outros fatores, a escolha de um parceiro adequado e as barreiras contra a dissolução do relacionamento, foram apontados por diversos outros estudos. Vamos apresentar agora uma noção desses cinco fatores. Primeiro fator: escolha de um parceiro compatível Algumas características pessoais, que são muito importantes para um relacionamento amoroso, são muito difíceis de mudar. Portanto, é melhor selecionar parceiros que as possuam do que tentar mudá-los durante o relacionamento. É desaconselhável aceitar alguém condicionalmente. Por exemplo, é desaconselhável aceitar um parceiro amoroso contando que ela vai se tornar muito mais sociável do que é, deixar um vício, ficar rica, cursar uma faculdade etc. Um parceiro que é aceito condicionalmente já inicia o relacionamento como devedor. Segundo fator: satisfação com o relacionamento A satisfação com o relacionamento afeta todas as suas fases, desde a escolha do parceiro, passando pelo seu início, progresso, estabilidade e término até a sua revitalização quando isso acontece. A satisfação também é importante para diversos tipos de relacionamentos: amizade, relacionamento entre parentes, relacionamento entre pessoas que trabalham juntas e relacionamento amoroso. O grau de satisfação de um relacionamento é determinado pela proporção entre custos e benefícios. Vários fatores podem ser fontes de custos e benefícios: características fixas ou dificilmente mutáveis das pessoas (inteligência, personalidade, sociabilidade, certas características físicas etc.); os diversos tipos de relacionamento com o parceiro (desempenho sexual, qualidade e quantidade de comunicação etc.); compartilhamento de tarefas e responsabilidades (ajudar em tarefas caseiras e nas tarefas de manutenção da casa: fazer supermercado, efetuar pagamento de contas etc.); criação e manutenção de relações sociais (amizades, relacionamentos com parentes etc.), entre outros. John Gottman, autor de vários livros e pesquisas sobre os fatores que contribuem para o sucesso do casamento, afirma que para um relacionamento dar certo é necessário que cada parceiro proporcione para o outro cinco benefícios para cada custo (GOTTMAN, 1998). Embora esta 51 proporção possa ser questionada, parece bastante óbvio que preferimos a companhia daqueles que nos proporcionam mais benefícios do que custos. Alguns estudos indicaram que importa mais para a satisfação a forma como o parceiro é percebido do que como ele é na realidade. Terceiro fator: alternativas a permanecer no relacionamento Existem melhores opções fora do relacionamento do que nele? Geralmente são considerados dois tipos de opções fora do relacionamento para responder a esta pergunta: (1) ficar só (muitas vezes é "melhor ficar só do que mal acompanhado") ou (2) trocar de parceiro. Uma das maiores causas da separação no mundo, segundo um estudo realizado em 186 culturas pela antropóloga Laura Betzig, da Universidade de Michigan, a traição é a segunda maior causa do divórcio - só perde para a esterilidade (Betizig, 1989). Como não é possível enfraquecer as atrações que existem fora do relacionamento, o que dá para fazer é melhorar as atrações que existem dentro dele e as forças que dificultam sair dele. Ou seja, devemos cuidar dos outros quatro fatores que são apresentados neste artigo: selecionar um parceiro compatível, aumentar as satisfações no relacionamento atual, investir no relacionamento e selecionar parceiros que possuam barreiras contra a sua dissolução e desenvolvê-las. Quarto fator: investir no relacionamento Para que um relacionamento dê certo é necessário investir, acreditar e apostar nele. É necessário "entrar com os dois pés na canoa". Agir desta forma é o oposto do imediatismo do "toma lá, dá cá". Isto, obviamente, não significa ser ingênuo e apostar em relacionamentos com baixas chances de sucesso. Cada vez mais acreditamos menos no casamento e, por isso, tentamos nos proteger das consequências do seu fracasso. Esta falta de crença e excesso de proteção contribui para que ele não dê certo. Antigamente o casamento era concebido como uma união mais plena e duradoura. Por exemplo, o regime do compartilhamento de bens era a comunhão total e era considerado indissolúvel. Atualmente o casamento padrão acontece com a comunhão parcial de bens e ele é visto como relativamente descartável. Muitos casais estão optando pela separação total de bens através de um pacto antenupcial. Existem várias formas de investir em um relacionamento. Psicologicamente isto acontece quando os cônjuges "deixam de ser eu e tu e se tornam um pouco nós". Outra forma é a aceitação incondicional do parceiro (o que não significa concordar com tudo que ele faz). Outras formas de investimento: desenvolver projetos conjuntos (casa, carreira), amparar o outro nos maus momentos, defender o outro publicamente etc. 52 Barreiras Existem dois tipos de barreiras contra a dissolução de um relacionamento amoroso: as internas e as externas. As barreiras internas são constituídas pelos valores, crenças e inibições psicológicas que se contrapõem aos términos dos relacionamentos amorosos. Por exemplo, uma pessoa que tenha sentimentos e valores que a impeça de tomar decisões que impliquem em sofrimentos para a sua família terá mais inibições para sair de um relacionamento amoroso e lutará mais para que ele dê certo do que alguém que tenha um grau menor destas características. Existem duas maneiras de trabalhar com este tipo de barreira para aumentar as chances de que um relacionamento perdure: (1) selecionar parceiros que tenham este tipo de atitudes e valores que ajudem a proteger o relacionamento e (2) fortalecer tais atitudes e valores. Por exemplo, dialogar com o parceiro com o objetivo de aumentar a visibilidade das consequências negativas das separações. As barreiras externas são constituídas por aqueles obstáculos impostos por outras pessoas e pelas estruturas sociais contra a dissolução do relacionamento amoroso. A opinião pública, as consequências legais e econômicas são alguns exemplos deste tipo de barreira. Acredito que é possível ter um relacionamento amoroso vivo, criativo e prazeroso, com o mesmo parceiro, durante toda a vida. Vale a pena construir e viver um relacionamento assim. Não conheço nenhum outro setor da vida que pode nos afetar de forma tão profunda e tão ampla quanto este. Pense nisso. Notas Este tópico foi baseado em um capítulo do meu livro: Silva, A. (2001). O Mapa do Amor. São Paulo: Editora Gente. 3. Este tópico foi baseado em capítulos dos meus livros: Amélio, A. A. (2009). Relacionamento Amoroso. São Paulo: Publifolha. Amélio, A. A. (2005). Para Viver um Grande Amor. São Paulo: Editora Gente. REFERÊNCIAS Betizig, L. (1989). Causes of conjugal dissolution: A cross cultural study. Current Anthropology, 30, 654 - 676. Gottman, J. (1998). Casamentos. (Traduzido do original em inglês por T. B. Santos). Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda. Rusbult,C. E. A & Buunk, B. P. (1993). Commitment processes in close relationships: An interdependence analysis. Journal of Social and Personal Relationships, 10, 175-204. 53 PAINÉIS AMOR CATIVO: ASPECTOS RELEVANTES DOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS ENTRE PRESIDIÁRIOS E SUAS COMPANHEIRAS Luciane Marcos da Costa Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Núcleo de Análise do Comportamento Departamento de Psicologia, Universidade Federal do Paraná [email protected] INTRODUÇÃO Ressalta-se a importância de compreender que esse relacionamento se dá em um contexto bastante específico, o contexto do encarceramento. Nessa situação os homens presos foram separados de sua família. Sendo que a maioria dessas famílias se constitui de mulheres e crianças de baixa renda, moradores das comunidades de periferia, que agora têm que lidar com os maridos e pais ausentes e as consequências que advém dessa situação, como: dificuldades financeiras, preconceitos, carência afetiva e ajustar o seu retorno após a libertação do mesmo. Os homens separados da vida familiar também são afetados, com o estigma de uma prisão, com o enfrentamento de novas contingências que podem contribuir para a estruturação de um novo padrão comportamental nem sempre reforçado fora do contexto do encarceramento (Western, 2004). As discussões sobre a vida familiar dos criminosos geralmente se concentram no crime suprimindo os efeitos desses atos e do encarceramento sobre o casamento ou relacionamentos amorosos. Estudiosos americanos concluíram através de seus estudos que o casamento oferece um caminho para fora do crime para os homens com histórico de prisão (Western, 2004), mas será que o mesmo ocorre aqui no Brasil diante da nossa realidade política e social? Esse estudo teve como objetivo realizar uma análise do relacionamento amoroso enquanto potencializador das contingências que levam à reincidência criminal ou à ressocialização do preso na sociedade. MÉTODO Pesquisa qualitativa e quantitativa, correlacional, estruturada e exploratória. 54 Participantes Foram cem (100) participantes: 50 homens e 50 mulheres. Os homens se constituem de internos de uma penitenciária do Estado do Paraná, internos por 01 (um) ano no Sistema Penitenciário, pelo menos, com algum tipo de relacionamento amoroso estável. A amostra de mulheres é constituída de companheiras (esposas, amásias, namoradas) de presos internos a 01 (um) ano majoritariamente no Sistema Penitenciário, não necessariamente dos mesmos presos entrevistados. Instrumento Questionário estruturado de triagem elaborado especificamente para os fins da pesquisa, neste constam 58 questões relativas à vida pregressa do preso, sua situação familiar, social e prisional atual. Procedimento A amostra masculina foi selecionada seguindo as seguintes etapas: após autorização da direção do estabelecimento para realização da pesquisa foi solicitada junto ao mesmo uma lista dos internos que recebiam visitas, destes selecionados aqueles que recebiam visitas de suas companheiras. Destes foram descartados aqueles que haviam pedido suspensão das visitas e os presos que estavam em isolamento. Em seguida, identificou-se a galeria e o cubículo onde cada um estava, sendo que 07galerias foram disponibilizadas. Foram pré-selecionados 20 internos de cada uma com número de prontuário inferior a 70.000, porque provavelmente tinham mais de 01 (um) ano de prisão. A lista foi feita pelo número do prontuário em ordem crescente. Foram selecionados de 07 a 08 presos de cada galeria para receberem o termo de consentimento, em caso de desinteresse de alguém o termo era enviado para o interno subseqüente a ele na lista de espera. Para a amostra feminina o questionário foi aplicado nos dias de visita, a frequência se deu de acordo com o comparecimento das mesmas. A participação foi voluntária, exigindo-se somente que a mesma tivesse um relacionamento estável com um interno a pelo menos um (01) ano. Para autorização da utilização dos dados encontrados, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Análise de Dados Foi feita uma tabulação dos dados obtidos na amostra feminina e outra na amostra masculina de forma matematicamente simplificada. Posteriormente, foi feita uma comparação entre eles e os dados foram tabulados de forma conjunta para levantamentos dos aspectos mais relevantes. A análise das respostas abertas foi feita com base em categorização de equivalência semântica de conteúdo. 55 RESULTADOS E DISCUSSÃO Apurou-se que o perfil apresentado pelos participantes assemelha-se ao expresso pelos dados oficiais obtidos no site do Departamento Penitenciário do Paraná e Relatório da CPI do Sistema Carcerário Brasileiro, referentes ao ano de 2008. A maioria dos apenados são adultos jovens, amasiados ou casados, de baixa escolaridade, presos em grande parte pelos seguintes crimes: assalto (artigo157), tráfico (artigo 33), homicídio (artigo 121) e furto (artigo155). Têm uma alta taxa de reincidência. Em relação ao seu relacionamento amoroso, de forma geral, os participantes o caracterizam como bom, no entanto a situação atual é considerada como ruim. Verificou-se que a funcionalidade do mesmo se dá de forma distinta para homens e mulheres. Para elas esse relacionamento é fonte de valorização e amor, sentem-se importantes e, por isso insistem num relacionamento cheio de constrangimentos e privações, mesmo sofrendo no dia a dia várias consequências desta opção. Para o homem esse relacionamento parece ser o elo entre ele o mundo exterior do qual foi excluído e enquanto está preso o relacionamento, os filhos e a mulher são realmente enaltecidos, mas isso se dá basicamente pela contingência de privação ao qual está sujeito, privação da liberdade, de afeto, de valorização, de respeito e de consideração. Foram também identificados três tipos básicos de mulheres: materialista, dependente e equilibrada. A materialista está ligada mais nas questões financeiras e sexuais do relacionamento, o companheiro representa um valor e um poder social necessário para ela. O segundo grupo é composto pelas mulheres dependentes, o relacionamento é tudo que têm e se agarram a ele com unhas e dentes como uma forma de se afirmarem. O terceiro tipo se constitui das mulheres denominadas de equilibradas, mantém o relacionamento, mas estão conscientes dos riscos, dos problemas que tem que enfrentar e estão seguras daquilo que esperam e desejam do relacionamento, geralmente são as mais valorizadas pelos companheiros. Conclui-se, que o relacionamento amoroso entre os presidiários e suas companheiras possui características específicas da dinâmica desse relacionamento, especialmente em relação a sua funcionalidade. Acredita-se que o relacionamento amoroso pode sim ser uma estratégia de impacto na ressocialização do preso desde que sua funcionalidade seja modificada. O intuito é fortalecer o casal para que este enfrente os obstáculos que estão a sua frente e as táticas a serem desenvolvidas para esse fortalecimento dependem de dados mais sólidos e exaustivamente testados, portanto aponta-se a importância em manter os estudos nesse sentido. REFERÊNCIAS Baum, William M. (2006). Compreender o Behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Artmed. 56 Caniato, A M.P. (2003). Da subjetividade sob sofrimento narcísico numa cultura da banalidade do mal. Obtido em 2211/09 http://www.estadosgerais.org/mundial_rj/download/5c_Caniato_18050803_port.pdf Capez, F. (2009). Curso de Direito Penal, 01- Parte Geral. São Paulo: SaraivaJur. Cecchetto, F.R. (2004). Violência e Estilos de Masculinidade. Rio de Janeiro: FGV Editora. Cecconello, A.M. (2003). Resiliência e Vulnerabilidade em Famílias em Situação de Risco. Obtido em: 19 de Abri de 2009 em: http://www.msmidia.com/ceprua/artigos/alessandra_tese.pdf. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. Sistema Carcerário Brasileiro. Relatório. Rio de Janeiro, 2008. Obtido em 22 de Novembro de 2009 em: http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/grupos-detrabalho/sistema-prisional/CPIsistemacarcerario.pdf/view. Cunha, W.H.A. (1975). Alguns princípios de categorização, descrição e análise do comportamento. Ciência e cultura, 28 (1), 15-24. Danna, M.F. & Matos, M.A. (1999). Ensinando observação: uma introdução. São Paulo: Edicon. DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO DO PARANÁ. Números. Apresenta números referentes ao perfil dos apenados do sistema penitenciário paranaense. Disponível em: http://www.depen.pr.gov.br. Acesso em: 12/12/09. Dougher, M. J., Hackbert, L. (2003). Uma explicação analítico-comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 5 (2).p. 127-184. Fagundes, A.J.F.M. (1992). Descrição, definição e registro de comportamento. São Paulo. Edicon. Falcke, D. & Wagner, A. (2001). 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De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) as crianças que vão para a instituição devem ter condições necessárias para a sobrevivência (moradia, alimentação, higiene e saúde), ter acesso à educação e socialização. Como possibilidade de promoção de saúde para essa população, o presente trabalho teve como objetivo descrever variáveis relevantes na implementação de um programa de estimulação precoce para bebês em instituição de abrigo. MÉTODO O programa foi desenvolvido com seis crianças de zero a dois anos institucionalizadas em uma casa abrigo em uma cidade do interior paulista e oito cuidadoras da instituição. Foi utilizado Protocolo do Inventário Portage Operacionalizado - IPO (Williams & Aiello, 2001) que analisa o desenvolvimento infantil de zero a seis anos nas áreas de: Linguagem, Desenvolvimento Motor, Cognição, Auto-cuidado e Socialização. Como forma de avaliação são descritos os critérios de observação dos comportamentos alvo, bem como as condições ¹Graduando curso de Psicologia – Faculdades Integradas de Ourinhos; ²Docente do curso de Psicologia – Faculdades Integradas de Ourinhos, doutoranda em Psicologia 58 antecedentes a serem manipuladas pelo observador na avaliação. No presente estudo foram avaliadas apenas as áreas de Linguagem, Socialização e Cognição. O programa foi composto por: a) caracterização da instituição e avaliação da demandas gerais; b) avaliação das demandas específicas de estimulação aos bebês; c) Elaboração e apresentação do programa de estimulação à direção da instituição e às cuidadoras; d) reuniões periódicas com educadoras; c) sessões de estimulação aos bebês. Para caracterização da instituição e avaliação da demanda foram realizadas 20 visitas, com duração média de uma hora e 30 minutos. Nessas visitas foram feitas observações naturalísticas em diversos períodos analisando interação entre as crianças e cuidadoras, situações de brincadeiras, momentos de refeição e de ensino. Foram realizadas três entrevistas com a direção e duas com cuidadoras para levantamento de informações referentes à história das crianças, rotina de funcionamento da instituição e outros aspectos relevantes ao trabalho. Para avaliação das demandas específicas de estimulação foi utilizado IPO. O inventário foi aplicado em sessões, três vezes por semana. Algumas sessões as crianças foram realizadas em grupos, em outras as crianças foram avaliadas individualmente ou com duas crianças em uma sala separada das demais. Após as avaliações foram realizadas reuniões com as cuidadoras para discutir informações sobre a importância da estimulação infantil, apresentação de inventário e resultados das crianças, estratégias de estimulação, modelos de comportamentos adequados e esclarecimento de dúvidas sobre desenvolvimento infantil. As sessões de estimulação foram realizadas três vezes por semana, baseadas nos comportamentos descritos no Inventário Portage, que eram compatíveis a idade de cada bebê, mas que ainda não haviam sido alcançados pelas mesmas. Foram propostas brincadeiras individuais e em grupos que também serviram de modelo de estimulação para as cuidadoras. RESULTADO E DISCUSSÃO Em relação às observações iniciais, semelhante aos estudos de Spada (2011), as situações de brincadeiras costumam ter horários previstos na rotina de funcionamento das atividades. Contudo, as crianças não decidiam livremente sobre o que iam brincar e não tinham modelos de possibilidades de utilização de objetos, pois as cuidadoras pouco se envolviam nas brincadeiras das crianças. As atividades de lazer aconteciam no “parquinho”, localizado no quintal. As crianças assistem TV na maior parte do período livre e o local é relativamente pequeno para a quantidade de pessoas. O envolvimento das cuidadoras com as crianças era mais restrito a informar sobre as regras (o que poderia ou não ser feito) de modo semelhante aos resultados encontrados em observações em instituições de Educação Infantil no estudo de Spada (2011). Em virtude desse quadro, constatou- 59 se que esse modo de interação poderia ser re-organizado para promover maior desenvolvimento das crianças. Das reuniões com as educadoras surgiram propostas de intervenção. Foi estabelecido que cada uma delas ficaria responsável por organizar atividades de estimulação para uma das crianças. Uma criança, com menor quantidade de comportamentos e com maior histórico de risco ficaria sob responsabilidade de três cuidadoras (uma de cada período: manhã, tarde, noite). As mesmas ficaram encarregadas de fazer quatro atividades de estimulação infantil relacionadas ao cotidiano da instituição: hora do banho e troca de roupas (mostrar o nome das partes do corpo), hora de comer (dar nome aos alimentos), em situações de brincadeira promover interação entre crianças, pois os mesmos não se socializavam, isto é, cada um brincava com o seu brinquedo. Após a reunião com as educadoras foi observada maior interação entre as crianças e adultos, em situações de brincadeiras. Análises dos resultados parciais da intervenção demonstram aumento do repertório verbal e de socialização das crianças com base no IPO. REFERÊNCIAS Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990. Spada, A.N.M. (2011). Educação Infantil de 0 a 3 anos – Um estudo sobre as práticas educativas desenvolvidas na creche pública. In: Zanata, E.M. ET al. Formação docente e universalização de ensino: proposições para o desenvolvimento humano. São Paulo Cultura Acadêmica. Taques, D. C. S. R.; Rodrigues, O. M. P. R. (2006) Evaluation of the behavioral repertoire of babies in the first four months of life: an analysis proposal. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. São Paulo, 16 (2). Williams, L. A. C., & Aiello, L. R. (2001). O inventário Portage Operacionalizado: Intervenção com famílias. São Paulo: Menonm/FAPESP. 60 PAINÉIS AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA DE CRIANÇAS VÍTIMAS DAS ENCHENTES NO VALE DO ITAJAÍ/BRASIL Sueli Terezinha Bobato¹ Vanessa Teodoro² Universidade do Vale do Itajaí [email protected] [email protected] INTRODUÇÃO O desastre natural causa grande impacto psicológico por constituir-se como um evento estressor intenso. A identificação de grupos da população que requer maior atenção torna-se fundamental para propor intervenções específicas. Entre estes está a atenção às crianças, sobretudo a aspectos relacionados à saúde mental desta população. As crianças mais atingidas necessitam de uma intervenção que inclui não somente a identificação do impacto, mas o tratamento de possíveis sintomatologias como depressão, ansiedade, estresse agudo, o que pode culminar em transtorno de estresse pós-traumático decorrentes das perdas em massa. O suporte emocional depende do resultado de uma avaliação realizada com os indivíduos envolvidos e do grau de comprometimento em priorizar e adequar o tratamento às vítimas (Baptista, 2008; Rodríguez, Davoli e Pérez, 2006). A partir da hipótese de que as crianças, após a vivência de enchentes, podem estar vulneráveis emocionalmente, foi proposto um estudo exploratório-descritivo de cunho quantitativo, como atividade curricular junto aos acadêmicos do 4º período do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí/SC. A atividade foi realizada no final do mês de novembro de 2008, na região do Vale do Itajaí em Santa Catarina, onde diversas famílias foram expostas a uma catástrofe natural causada por uma confluência de fatores ambientais que causaram enchentes e deslizamentos de terra. Como objetivos ¹Professora do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí ; ²Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí 61 foi proposto investigar possíveis sintomatologias relacionadas ao transtorno de estresse póstraumático relacionados aos eventos estressores na criança causados pelo impacto da situação; relacionar suas manifestações e intensidade e avaliar as repercussões e impacto no desenvolvimento da criança. MÉTODO A amostra envolveu 46 crianças e adolescentes com idade entre 7 e 17 anos, provenientes de sete cidades do Vale do Itajaí/SC que foram atingidas diretamente pelas enchentes. Das crianças investigadas, transcorridas três semanas das enchentes quando a escala foi aplicada, nove estavam abrigadas em um colégio que servia de alojamento a 360 pessoas, das quais 90 eram crianças. Às demais crianças, a coleta de dados foi realizada em suas casas ou em colégio onde estudavam, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos responsáveis. Como instrumento de coleta de dados foi utilizada uma escala para diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático a partir dos critérios do DSM-IV (2002). A escala foi composta de uma pergunta inicial que solicitava o relato de um fato que aconteceu e que realmente assustou a criança. Em seguida, apresentava 17 itens para avaliar a manifestação de sintomas, englobando a reexperienciação, evitamento e estimulação excessiva, variáveis relacionadas ao estresse póstraumático. As respostas eram fornecidas em um valor numérico correspondente à freqüência e à intensidade dos sentimentos e situações, onde 0 correspondia a nunca; 1 correspondia a uma vez por semana ou menos; 2 correspondia a 2 a 4 vezes por semana; e 3 correspondia a 5 ou mais vezes por semana. As informações foram tabuladas por meio de planilha eletrônica e demonstradas através de gráficos, com distribuição através de freqüência simples e intensidade dos sintomas a partir das respostas obtidas, conforme critérios do DSM-IV (2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados apontaram que a enchente ocorrida na região do Vale do Itajaí em novembro de 2008 constituiu-se como evento causador de intenso medo para a maioria dos participantes da pesquisa. Isto pode ser evidenciado a partir da pergunta inicial que solicitava o relato de um fato que aconteceu e que lhe assustou, onde das 46 crianças e adolescentes investigados, 40 relacionaram a enchente como algo causador de medo. Os resultados demonstraram que dos 46 sujeitos investigados, 19 apresentaram sintomatologias relacionadas ao TEPT, conforme evidenciado no gráfico abaixo. 62 51 50 49 48 47 46 45 44 43 42 41 40 39 38 37 36 35 34 33 32 31 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 Sujeitos Figura 1: Distribuição da freqüência e intensidade da sintomatologia para TEPT apresentada pelos participantes, considerando os critérios estabelecidos pelo DSM-IV (2002). Analisando separadamente as categorias, no critério de reexperienciação verificou-se que este indicador foi o que obteve os maiores escores em cinco das crianças investigadas. Os maiores índices foram encontrados nos itens: “lembranças aflitivas do evento”, “preocupação em relação a algo mau que possa acontecer” “agir ou sentir como o evento estivesse ocorrendo novamente/flashbacks” “esforços no sentido de evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas com o trauma” e “resposta de sobressalto/mais assustado”. No critério de evitação, seis participantes alcançaram os maiores escores, prevalecendo os itens relacionados ao “esforço/evitamento” e “desinteresse”, que fazem parte do critério B para transtorno de estresse pós-traumático segundo o DSM-IV (2002). E no critério de excitabilidade aumentada, três participantes tiveram pontuação máxima nos dois itens. Verifica-se que no item “sentimento de um futuro abreviado”, três participantes assinalaram que aquilo que pensavam em relação ao futuro, mudou com grande intensidade, indicador também a ser levado em consideração em intervenção posterior. Para maior contextualização da realidade encontrada, ressalta-se que as crianças que apresentaram maiores escores de estresse e que preencheram os critérios para TEPT com índices mais elevados em nível de intensidade encontravam-se abrigadas no momento da coleta de dados. Tal realidade aponta para a necessidade de diferenciar os fatores estressores que podem estar confluindo na problemática, incluindo os fatores predisponentes e perpetuadores, além da enchente como fator 63 precipitador. Conjuntamente à vivência de uma catástrofe natural, o abandono do lar e as mudanças de localidade também são considerados fatores de desgaste muito grande para a criança e adolescente, que tem que adaptar-se às novas estruturas sociais (Baptista, 2008). Os resultados ainda que limitados devido à utilização de apenas um instrumento foram valiosos para a identificação precoce de sintomatologias associadas ao evento estressor em consonância com outras vulnerabilidades pré-existentes, contribuindo para identificação das crianças mais impactadas. Aquelas identificadas com uma freqüência e intensidade sintomatológica maior foram chamadas a uma devolutiva e encaminhadas aos serviços da Clínica de Psicologia para suporte emocional e orientação à família. Esta estratégia teve como intuito mobilizar a rede social e afetiva disponível. REFERÊNCIAS American Psychiatric Association, APA (2002, 4ª ed. rev). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV-TR.. 4ª Reimpressão. Porto Alegre: Artmed. Baptista, M. N. (2008). O Impacto do Estresse na Criança. In: Assumpção Jr., F. B. & Kuczynski, E. Situações psicossociais na infância e na adolescência: contribuições Latino-americana ao estudo dos agentes estressores na criança (pp. 15-36). São Paulo, SP: Atheneu. Rodríguez, J; Davoli, M. Z; Pérez, R. (2006). Guía práctica de salud mental en situaciones de desastres: Serie Manuales y Guías sobre Desastres Nº. 7. Washington, D.C: Organización Panamericana de la salud. 64 PAINÉIS DEPRESSÃO E COMPORTAMENTO DE CULPA EM MÃES ENLUTADAS Maria Cecília de Abreu e Silva Sulliane Teixeira de Freitas Jocelaine Martins da Silveira Universidade Federal do Paraná [email protected] INTRODUÇÃO De acordo com o DSM-IV (2002) a depressão ou episódio depressivo maior caracteriza-se pela presença de humor deprimido ou perda do interesse e prazer pela maior parte das atividades. Seus principais sintomas são caracterizados por alterações no apetite ou peso, no sono, e na atividade psicomotora. Caracteriza-se, adicionalmente, por sentimentos de culpa e desvalia, falta de concentração, pensamentos recorrentes sobre morte, ideação suicida, planos e/ou tentativas de suicídio (Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais [DSM-IV], 2002). Para o analista do comportamento, o termo “depressão” descreve um conjunto de subprodutos de contingências caracterizadas pela predominância de controle aversivo e pela baixa taxa de reforçamento positivo. A explicação dos comportamentos geralmente descritos pelo quadro depressão requer uma análise funcional individual dos comportamentos e contextos nos quais ocorrem. Um dos contextos nos quais a depressão parece ocorrer com significativa frequência são os casos de mães enlutadas. A perda de um filho é relatada como uma experiência de difícil impacto na vida daqueles que a vivenciam. As contingências estabelecidas a partir deste evento costumam ser sucedidas por mudanças significativas na vida dessas mães, que frequentemente apresentam altos índices de depressão e de comportamento de culpa. Segundo Freitas (2000) a morte de um filho abala o equilíbrio familiar e a mãe, freqüentemente, sente mais culpa por ter falhado nos cuidados maternos, que podem ter contribuído no falecimento. De acordo com Stroebe, Schut e Stroebe (2007) o luto frequentemente está associado a maior morbidade e mortalidade. 65 Mães enlutadas parecem vivenciar contingências de reforço bastante similares às frequentemente descritas nos casos das pessoas com depressão. Em geral, apresentam um repertório social que leva aqueles que estão a sua volta a tornarem-se solícitos e/ou a absterem-se de se comportar de forma aversiva (Biglan, 1991). Queixas, lamentações, choros e outros comportamentos observados em quadros de depressão podem ser reforçados por meio de apoio social, como expressões de simpatia e acolhimento. Ainda que alguns ambientes sejam fonte de reforço social deste tipo, a ausência de repertório interativo mais assertivo pode tornar a interação potencialmente aversiva. O repertório social mantido por controle aversivo, desprovido de habilidades sociais, torna as relações sociais desinteressantes para os indivíduos que interagem com o depressivo, que pode passar a ser evitado socialmente. Dougher e Hackbert (2003) afirmam que esse padrão de reforço positivo para o comportamento de depressão, seguido pela extinção, cria um círculo difícil de ser quebrado, diminuindo a densidade de reforços sociais potenciais para o deprimido. Para Skinner (1974/2004) deve-se prestar atenção às conseqüências reforçadoras ou punitivas do comportamento, de modo a compreender as contingências que mantêm tal repertório. O foco de uma análise ou tratamento deve ser a mudança de comportamento, e não os estados afetivos gerados pela contingência. Assim, o presente trabalho visa compreender, através de análise de contingências, as variáveis estabelecedoras e mantenedoras dos quadros depressivos e do comportamento de culpa em mães enlutadas. MÉTODO Participantes Duas clientes (R. 31 anos, BDI = 25; I. 58 anos, BDI = 36) que foram procuraram atendimento psicológico na clínica-escola da Universidade Federal do Paraná. As clientes relatavam a experiência de morte de um(a) filho(a) e apresentavam comportamentos típicos do quadro de depressão (ex: tristeza, insatisfação, perda de interesse em atividades, idéias suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social). Além disso apresentavam queixa de depressão moderada ou grave segundo o Inventário de Depressão de Beck – BDI (Beck et al., 1961). Local Clínica-escola da Universidade Federal do Paraná. Materiais e Equipamentos 29 sessões transcritas de psicoterapia (15 - cliente R.; 14 - cliente I.); Filmadora digital Samsung SMX-C200NXA2; Gravador de audio Panasonic RR-US510; 16 DVDs. Instrumentos 66 (1) Protocolo de registro das sessões de atendimento; (2)Protocolo de Registro de supervisão; (3)Ficha de conceituação do caso (Tsai et al., 2009); (4) Funcional Analytic Psychotherapy Rating Scale – FAPRS (Callaghan et al. 2008); (5) Inventário de Depressão de Beck ("Beck Depression Inventory – BDI"; Beck et al., 1961). Procedimento As clientes foram informadas sobre a pesquisa, e após assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram atendidas por uma Psicóloga com formação em Terapia Comportamental com 5 anos de experiência por 15 sessões (cliente R.) e 14 sessões (cliente I). A cada sessão, a terapeuta preenchia o Protocolo de Registro da Sessão. As sessões eram seguidas de uma supervisão semanal, durante a qual a supervisora preenchia o Protocolo de Registro da Supervisão. As sessões foram transcritas integralmente. Os registros obtidos consistiram nos dados analisados. Foi realizada uma conceituação do caso, e uma posterior análise de contingências para compreender os objetivos do presente estudo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A avaliação realizada por meio do Inventário de Depressão de Beck ("Beck Depression Inventory – BDI"; Beck et al., 1961) apontou que ambas as participantes encontravam-se significativamente deprimidas, anos após a data da perda de seus filhos. R. e I. demonstravam comportamentos de diferentes topografias, mas funcionalmente semelhantes, que pareceram estar significativamente ligados à manutenção dos respectivos quadros de depressão. Foi realizada uma conceituação do caso para cada uma das clientes, a partir do modelo da FAPRS, proposto por Tsai e Al (2009). Na formulação do caso da cliente R foram verificadas as seguintes classes de comportamento indicadas como O1 e CRB1, ou seja, comportamentos problema que acontecem dentro e fora da sessão terapêutica : (a) esquiva da estimulação aversiva condicionada relacionada à morte da filha (b) comportamentos de dependência (c) comportamentos inadequados na relação com o filho (esquiva do papel de mãe) (d) repertório inadequado no relacionamento interpessoal em geral. Para a cliente I. foram identificadas as seguintes classes de comportamentos problemáticos ocorridos fora da sessão (O1) e na relação com a terapeuta (CRB1): (a) baixa frequência de variabilidade comportamental (b) comportamentos encobertos de culpa (c) comportamento evitativo de envolvimento e comprometimento (d) comportamento encoberto de desesperança e incontrolabilidade (e) comportamentos “ansiosos” e (f) aceitação da morte do filho. O comportamento de culpa apareceu com grande intensidade, e acompanhado de respondentes bastante aversivos, para as duas clientes. Parece ser advindo de histórias de vida em que há a 67 responsabilização por perda de coisas significativas, que se estendeu de maneira não adaptativa à situação de perda do filho. Além disso, também pareceu estar intimamente ligada à reação das clientes sobre a incontrolabilidade sobre os eventos, que parece ser ainda mais aversiva do que a própria culpa. Por fim, demonstrou fazer parte das contingências mantenedoras da depressão das clientes atendidas. REFERÊNCIAS Biglan, A. (1991). Distressed behavior and its context. The Behavior Analyst,13, 157-169. Dougher, M. J.& Hackbert, L. (2003). Uma explicação analítico-comportamental da depressão e o relato de um caso utilizando procedimentos baseados na aceitação. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2, 167-184. DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. 4ª ed. rev. Porto Alegre, Artmed, 2002. Freitas, N. (2000). Luto materno e psicoterapia breve. São Paulo: Summus. Skinner, B. F. (1974/2004). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix Stroebe M, Schut H & Stroebe W. (2007). Health outcomes of bereavement. Lancet, 370:1960-73. 68 PAINÉIS ESTILOS E PRÁTICAS PARENTAIS MATERNAS E O SEXO DO BEBÊ Elisa Rachel Pisani Altafim1 Sária Cristina Nogueira2 Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues3 [email protected] INTRODUÇÃO O bebê nasce extremamente frágil e dependente. No recém-nascido a necessidade de cuidados é indispensável para a sobrevivência. Melchiori e Dessen (2008) ressaltam que a dependência inicial da criança conduz o adulto à tarefa de cuidar e, também, cria a oportunidade para que se estabeleça uma relação cuidadores-criança que é a base do processo de socialização infantil. O relacionamento mãe-bebê e sua relação com o desenvolvimento posterior da criança representam uma área de grande interesse entre os pesquisadores do desenvolvimento infantil. Weber (2004) ressalta que, quanto mais forte for o vinculo inicial entre a mãe e o bebê, maior a probabilidade de a criança tornar-se independente no futuro. Esse relacionamento entre mãe-bebê repleto de sons, cheiros, vozes é vital para a sua história de afetividades futuras (WEBER, 2004). A família tem um papel fundamental na socialização, desde o nascimento do bebê, porque constitui o primeiro núcleo social da criança. Ao conjunto de práticas educativas parentais ou atitudes parentais dos cuidadores que tem como objetivo educar, socializar e controlar o comportamento de seus filhos, Gomide (2006) define como Estilo Parental. O estilo parental das mães e suas práticas parentais possuem uma estreita relação com os seus repertórios comportamentais. Diversas contingências podem atuar sobre o comportamento do bebê e, dentre elas, está o relacionamento entre pais e filhos. Uma das variáveis apontada pelas pesquisas como um fator de influência na determinação das práticas parentais é o sexo da criança. O presente estudo teve como objetivo comparar os estilos e práticas parentais de mães de bebês considerando o sexo do bebê. 1 UNESP-Bauru, bolsista de mestrado FAPESP; 2 UNESP-Bauru, bolsista de mestrado FAPES; 3 UNESP-Bauru 69 MÉTODO Participaram do presente estudo 49 mães adultas, com idade entre 20 a 40 anos (M= 27,68), sendo 24 mães de bebês do sexo feminino e 25 mães de bebês do sexo masculino. Os filhos das participantes tinham de 1 a 22 meses de idade (M = 8,06). As mães foram identificadas no projeto de extensão “Acompanhamento do desenvolvimento de bebês de risco: avaliação e orientação aos pais”, que funciona no Centro de Psicologia Aplicada, da UNESP, Bauru, e em duas creches localizadas no município de Bauru. O projeto ocorreu no Centro de Psicologia Aplicada (CPA), da UNESP-Bauru, e foi aprovado pelo Comitê de Ética local (Processo nº. 451/46/01/09). Para a coleta de dados foi utilizado o Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês (IEPMB). Para a realização de pesquisas sobre estilos e práticas parentais com mães de bebês (ALTAFIM; RODRIGUES; SCHIAVO, 2008; RODRIGUES; ALTAFIM; SCHIAVO; VALLE, 2011; RODRIGUES; ALTAFIM; SCHIAVO, 2011) incluindo a presente pesquisa, foi elaborado o instrumento “Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês” (IEPMB), (adaptado de GOMIDE, 2006). O IEPMB consta de 25 itens, sendo cinco de cada um dos conjuntos de práticas parentais: monitoria positiva, punição inconsistente, negligência, disciplina relaxada e abuso físico. A aplicação do instrumento foi realizada em uma sala de atendimento individual de forma a garantir privacidade e condições favoráveis para a tarefa. O pesquisador fez a leitura das instruções para o preenchimento do protocolo junto com a participante, garantindo sua compreensão. Todavia, permaneceu na sala, disponível para resolver dificuldades de leitura e preenchimento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi verificado que a média dos índices de estilos parentais das mães de bebês do sexo feminino (M = 1,46; DP = 5,28) foi superior à das mães de bebês do sexo masculino (M = -2,6; DP = 5,94), segundo resultados do teste t de Student (p= 0,01). Com relação as práticas parentais foi verifica diferença significativa para a prática monitoria positiva (p= 0,04), demonstrando que as mães de meninas (M= 9,29; DP = 1,04) utilizam-se mais dessa prática do que as mães de meninos (M= 8,38; DP =1,91). Nas demais práticas não foram encontradas diferenças significativas. A literatura demonstra que há diferenças nas práticas parentais relacionadas ao sexo da criança. Gomide (2006) encontrou diferenças significativas nas práticas maternas quando comparou o sexo dos filhos, as práticas comportamento moral e monitoria positiva apareceram mais no relato de mães de meninas, e as práticas abuso físico e disciplina relaxada foram mais utilizadas com meninos. 70 O presente estudo demonstra que é possível observar diferenças nos estilos e práticas parentais relacionadas ao sexo da criança desde as primeiras relações que as mães estabelecem com seus bebês. REFERÊNCIAS ALTAFIM, E.R.P; SCHIAVO, R.A; RODRIGUES,O.M.P.R. Práticas parentais de mães adolescentes: um estudo exploratório. Temas sobre Desenvolvimento, São Paulo, v. 16, p. 104110, 2008. GOMIDE, P.I.C. Inventários de Estilos Parentais (IEP): modelo teórico, manual de aplicação, apuração e interpretação. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2006. MELCHIORI, L. E.; DESSEN, M. A. A Teoria do Apego: contribuições para a compreensão do desenvolvimento humano. In: CAPELLINI, V.L.M. F; MANZONI, R. M (Orgs.). Políticas públicas, práticas pedagógicas e ensino-aprendizagem: diferentes olhares sobre o processo educacional. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2008. RODRIGUES, O. M. P. R.; ALTAFIM, E. R. P.; SCHIAVO, R. A.; VALLE, T. G. M. Estilos e Práticas Parentais de Mães Adolescentes: Um Programa de Intervenção. Pediatria Moderna, v. 47, p. 58-62, 2011. RODRIGUES, O. M. P. R.; ALTAFIM, E. R. P.; SCHIAVO, R. A. Práticas Parentais de Mães Adultas e Adolescentes com bebês de um a doze meses. Aletheia (ULBRA), 2011 (artigo aceito para publicação). WEBER, L. N. D. A evolução das relações parentais: uma abordagem etológica. Psicologia Argumento; v 22, n.38, p.19-25, 2004. 71 PAINÉIS GRUPO DE APOIO A PAIS DE CRIANÇAS COM DOENÇAS CRÔNICAS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Larissa Ribeiro Alves – UFPR Cristiani Aparecida da Silva – UFPR Chanary Procek – UFPR Ana Paula Viezzer Salvador – UFPR Lidia Natalia Dobrianskyj Weber [email protected] INTRODUÇÃO A grande dificuldade na adesão ao tratamento de doenças crônicas, fez com que o Serviço de Ambulatório Médico (SAM 2) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, responsável pelo atendimento pediátrico de crianças com diversas patologias, entre elas gastroenterologia e hepatologia pediátrica, procurasse alguma forma de apoio psicológico à família de pacientes atendidos. A principal queixa relatada pelos médicos pediatras do ambulatório se referia a pouca adesão das famílias ao tratamento e a dificuldade dos pais em estabelecer regras e limites relacionados à dieta alimentar, uso de medicações e comparecimento às consultas médicas. A adesão ao tratamento é definida por Guimarães (1999, citado em Picanço, 2006) como um conjunto de comportamentos emitidos em resposta às recomendações médicas. De acordo com o autor, uma doença crônica pode esgotar os recursos de enfrentamento e adaptação exigindo da família uma alteração e/ou aprendizagem de estratégias de solução de problemas, assim como redefinição de papéis e funções dentro da família. O suporte emocional dos pais, estabelecendo limites necessários para a condução da doença e possibilitando que a criança expresse suas emoções, facilita a melhor adaptação da criança à realidade da doença e às exigências do tratamento, como explica Martin e cols. (1998, citado em Picanço, 2006). No entanto, a literatura aponta a exposição prolongada a estressores muito severos 72 como principal problema enfrentado pelos pais (Lima & Enumo, 2001, citado em Picanço, 2006; Alonso, 2008, citado em Bermudez, Weber, Parolin, Coelho e Celli, 2011). Entendendo as dificuldades que se apresentam às crianças em decorrência da doença, ressalta-se a importância de os pais precisarem encontrar-se bem, física e mentalmente, para propiciarem ao filho o apoio necessário, proporcionando-lhes melhor qualidade de vida. A pesquisa se justifica por identificar as possíveis dificuldades que os pais encontram na realização desta tarefa, delineando mais claramente os problemas enfrentados pelas famílias e permitindo a criação de propostas de intervenção. MÉTODO O trabalho foi realizado em duas etapas: os três primeiros meses foram voltados à coleta e análise de dados com os pais das crianças atendidas, e os outros nove meses à intervenção com os pais e as crianças. Na fase de coleta de dados, 19 pessoas responderam ao questionário. Na fase de intervenção, 85 pais freqüentaram os grupos, sendo que alguns destes participantes se repetiam ao longo dos meses de acordo com as datas de consultas no ambulatório. A faixa etária dos pais variou entre 19 a 53 anos, sendo 53 participantes do sexo feminino e 32 do sexo masculino. Participaram dos grupos das crianças/adolescentes, ao longo da intervenção, 90 integrantes, com idades entre dois e 16 anos, sendo 38 do sexo feminino e 52 do sexo masculino. Os pais e seus filhos participavam dos grupos na ocasião de sua consulta médica no ambulatório (que eram marcadas em média uma vez por mês). A coleta de dados, realizada em encontros semanais, teve por objetivo identificar a demanda dos pais através de um questionário com 22 questões abertas, possibilitando uma avaliação qualitativa. As questões visavam investigar as estratégias de enfrentamento das famílias diante da doença e das rotinas hospitalares, o estado emocional e psicológico da família e dados como idade, sexo e escolaridade dos pais e da criança, patologia diagnosticada, tempo de tratamento, medicamentos em uso e rotina da família. Na segunda etapa os grupos eram realizados semanalmente com a duração de duas horas, sendo dividido em dois grupos, um composto pelos pais/responsáveis e outro pelas crianças/adolescentes. O primeiro era caracterizado como grupo de apoio para os pais/responsáveis que tinham a consulta médica de seu filho agendada para aquele dia, e contemplava troca de experiências, angústias, perspectivas quanto ao tratamento e recuperação das crianças, bem como aspectos de enfrentamento da família diante da doença e rotinas hospitalares. Estes temas eram abordados através de minipalestras, com duração de trinta minutos, com posterior espaço para discussão e relatos de experiência. Os grupos eram compostos, em média, por aproximadamente cinco pessoas. Com o 73 passar dos encontros, notou-se que o mais pertinente era a troca de experiências entre os participantes do grupo com apontamentos e questionamentos relacionados aos cuidados dos pais para com os filhos. Diante disto, o formato dos encontros passou de mini-palestras para grupo de apoio terapêutico. Paralelamente, no grupo das crianças/adolescentes trabalhou-se de maneira lúdica, com foco em identificar as principais questões sobre a doença e suas restrições, para depois propor reflexões. O grupo das crianças/adolescentes possuía um formato mais aberto e livre, por abranger diferentes faixas etárias, contemplando atividades semi-dirigidas que envolviam jogos, desenhos, leituras, que abordassem temas como: doença, escola, família, medo e preconceito. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na fase de coletas de dados identificaram-se aspectos relevantes, que embasaram o levantamento de possibilidades de intervenção. Um dado relevante mostrou que 84,21% dos pais gostariam de mudar como se sentiram com a doença do filho. Outro elemento significativo foi que 50% dos pais relataram que tiveram dificuldades para impor regras e limites e para manter diálogo com os filhos após o diagnóstico. Quando indagados sobre o trabalho da psicologia, 36% dos pais afirmaram que sentiram necessidade de acompanhamento psicológico e 12% que estavam em acompanhamento. Um resultado de grande expressão foi que, após o diagnóstico dos filhos, 100% dos pais desejaram que a situação acabasse ou desaparecesse de alguma forma. Os pais desempenham papel fundamental na adesão ao tratamento da criança, servindo como modelo de comportamento e apoio à criança enferma. Para auxiliar nesta questão, foram desenvolvidas mini-palestras com formato interativo. Com o passar dos encontros percebeu-se a necessidade dos pais em realizar uma troca de experiências entre eles. Como mencionado por Picanço (2006), dificuldades emocionais decorrentes da realidade imposta pela doença e rotinas hospitalares tornam-se fontes de estresse e em muitos casos não há um repertório para lidar com essas novas contingências. Aos poucos, a configuração dos encontros foi alterada, que passou ao formato de grupo de apoio semi-dirigido, no qual alguns temas previamente definidos eram trabalhados concomitantemente com a troca de experiências dos pais, como forma de minimizar o estresse relatado pelos participantes. O espaço era aberto e permitia que as acadêmicas sanassem as recorrentes dúvidas dos participantes com relação à educação dos filhos. Ao final de um ano e meio o resultado foi bastante satisfatório. O feedback recebido dos próprios pais, que tiveram a oportunidade de relatar o que mudou na sua relação com o filho e com a doença após a realização dos grupos. Relataram que conseguiram impor mais regras, como fazer com que o filho tomasse o remédio na hora certa e seguisse a dieta, aumentando, assim, a adesão ao tratamento. Relataram 74 também que o espaço era muito benéfico pela troca de experiências com outros pais, pois além de ser um lugar para conversar e desabafar era também um lugar onde descobriam, através do relato de outros pais, novas possibilidades para lidar com a doença do filho. REFERÊNCIAS Bermudez, B. E. B. V., Weber, L. N. D., Parolin, M. B., Coelho, J. C. U., e Celli, A. (2011). A adolescência de pacientes submetidos a transplante hepáticos. Adolescência & Saúde, 8, 18-31. Picanço, C. S.C. (2006) Insuficiência renal crônica: Práticas educativas parentais e adesão infantil ao tratamento. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. 75 PAINÉIS FAMÍLIAS DE JOVENS ABRIGADOS: DIÁLOGOS E SENTIDOS CONSTRUIDOS Nadine de Biagi Ziesemer Marie Ballande Romanelli Doriana Gaio – IFPR Silvia Queiroz Maria Angélica Pizani – IFPR. [email protected] INTRODUÇÃO O Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão do Cuidado (GEPEC) faz parte do Programa Rede de Cuidado, desenvolvido por professores e alunos do câmpus Curitiba do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e atua no cuidado integral dos diversos ciclos de vida. Atendendo a vertente que atua com crianças/adolescentes e seus familiares, foram desenvolvidas atividades na Chácara Padre Eduardo Michaelis (4 Pinheiros) em Mandirituba, região metropolitana de Curitiba. A Chácara 4 Pinheiros é uma organização não governamental que atende 80 crianças/adolescentes, do sexo masculino, tendo como missão oferecer educação integral à estas pessoas em vulnerabilidade social; possibilitando-lhes a autonomia e a cidadania, assim como a reconstrução dos vínculos familiares e a reintegração à comunidade, oportunizando seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social. A chácara é reconhecida internacionalmente por seu trabalho de incentivo ao protagonismo juvenil. Nela são desenvolvidas atividades de acompanhamento escolar, acompanhamento familiar, acompanhamento psicológico, formação profissional, atendimento médico-odontológico, capoeira, futebol, música, inglês, informática, serigrafia, horta agroecológica, artesanato, reciclagem e floricultura. O abrigamento é uma medida de proteção que se constitui como moradia temporária para crianças/adolescentes que tenham tido seus direitos violados e envolve a retirada de uma criança/adolescente do convívio com seu contexto social, para protegê-la. A retirada de uma criança/adolescente da sua família para a colocação em abrigo por medida de proteção é uma medida excepcional e temporária (ECA, 1990). Além disso, o Estatuto também reforça a necessidade do abrigo continuar mantendo os laços familiares das crianças e adolescentes abrigados, buscando o retorno familiar. 76 Apesar disso, vários autores estudam as questões relacionadas ao desabrigamento, ao processo de acolhimento e ao retorno familiar, mostrando seus problemas, sobretudo no que se refere à integração das políticas públicas e sua execução (SILVA e NUNES, 2004; AZOR e VECTORE, 2008; SIQUEIRA e DELL´AGLIO, 2007; VASCONCELOS, YUNES e GARCIA, 2009; SIQUEIRA et AL, 2010). Percebe-se a partir destes estudos a necessidade de se acompanhar as famílias, de ouví-las e promover encontros que favoreçam o restabelecimento de vínculo e a construção de parcerias e redes de apoio. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo apresentar experiências de encontros de famílias de crianças e jovens abrigados na Chácara 4 Pinheiros, em Mandirituba-Pr. MÉTODO A metodologia de trabalho consistiu em dois encontros com familiares de criança/adolescentes abrigados em 4 Pinheiros, a partir de um trabalho envolvendo diversas instituições, integrando profissionais/pessoas de diferentes áreas do conhecimento. Os participantes da pesquisa foram 30 familiares de 80 crianças/adolescentes abrigados na Chácara 4 Pinheiros. As proponentes do trabalho foram professoras do IFPR nas áreas de Psicologia, Enfermagem e Saúde Bucal, contando com alunos bolsistas sociais dos cursos técnicos: Produção de Áudio e Vídeo, Enfermagem e Massoterapia. Os encontros foram previamente discutidos e planejados pelas professoras do IFPR com os profissionais da chácara e professores de um projeto de extensão da UFPR. As reuniões foram realizadas na sede da Associação Brasileira de Amparo à Infância (ABAI), uma ONG parceira do abrigo, além de um Grupo de Voluntários da Igreja do Cabral. As atividades aconteceram em dois domingos. Pela manhã com atividades de desenvolvimento da família e durante o almoço e período da tarde, encontro e confraternização das famílias com os crianças/jovens abrigados. No primeiro dia foi trabalhado o desenvolvimento das crianças e jovens e as necessidades próprias de cada fase, como algo natural do desenvolvimento humano. Após a exposição, os familiares foram divididos grupos, cada um com um moderador (professoras e alunos do IFPR e voluntários da Igreja do Cabral). Em cada grupo o moderador orientou os participantes a pegarem uma figura que lembrasse algo positivo e negativo do relacionamento com o jovem que veio encontrar (que se encontra abrigado na chácara). O moderador escutou a explicação da pessoa e sintetizou em uma palavra-chave o teor do conteúdo. Esta mesma atividade foi realizada na Chácara 4 Pinheiros com os jovens. No segundo encontro foi retomada a atividade com as famílias e com os jovens. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os pontos negativos trazidos pelos familiares foram: maus tratos; desobediência; violência; quebra de relacionamento/isolamento; nervosismo/revolta; pobreza e bebida; sendo negativo para as 77 crianças/adolescentes: pai alcoolista; violência, drogas; uso de armas; morte; falta de dinheiro e condições ruins de vida. Os pontos positivos relatados pelas famílias foram: amor; mudança de vida; apoio; amizade; carinho; felicidade; fé; família é tudo; união. Pelas crianças/adolescentes: amor/carinho; confiança; amizade; família unida; fortalecimento; respeito e interesse. Os resultados deste levantamento apresentaram semelhanças. Evidenciou-se o interesse dos familiares e das crianças/adolescentes na reaproximação; mas que para que o retorno familiar seja efetivo a família precisa se reorganizar, tanto em relação às questões afetivas e de construção de relacionamento, quanto em relação às questões de sobrevivência, renda, trabalho, moradia, violência e de atenção individual à saúde (dependência química). O trabalho constitui-se como uma porta de diálogo, momento de escuta e troca de experiências entre as diversas famílias que têm em comum um jovem abrigado. Estes encontros reforçam a necessidade de interação e de fortalecimento das famílias em relação aos desafios pelos quais passam e as estratégias encontradas para a superação dos problemas. Além disso, estas atividades possibilitaram aos professores e alunos o contato com realidades que estimulam o cuidar do outro, desenvolvem o respeito e a cidadania. REFERÊNCIAS Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 6/9/2008. SILVA, M. R. D. da; NUNES, K. da S. Avaliação e diagnóstico do processo de reinserção familiar e social de crianças e adolescentes egressos de uma casa de passagem. Cogitare enferm; 9(1): 42-49, jan.-jun. 2004.p. 42-49. AZOR, A. e VECTORE, C. Abrigar/desabrigar: conhecendo o papel das famílias nesse processo. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2008, vol.25, n.1, pp. 77-89. SIQUEIRA, A. e DELL'AGLIO, D. Retornando para a Família de Origem: Fatores de risco e proteção no Processo de Reinserção de uma Adolescente Institucionalizada. Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. [online]. 2007, vol.17, n.3, pp. 134-146. SIQUEIRA, A.; ZOLTOWSKI, A.; GIORDANI, J.; OTERO, T.; DELL´AGLIO, D. Processo de reinserção familiar: estudo de casos de adolescentes que viveram em instituição de abrigo. Estudos de psicologia. vol. 15, n. 1, pp. 7-15., 2010. 78 PAINÉIS ADOÇÃO HOMOAFETIVA Hellen Tsuruda Amaral Vitoria Baldissera de Souza Rafael Gomes Amaral da Silva Leiliane Silva do Nascimento Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Núcleo e Análise do Comportamento, Universidade Federal do Paraná [email protected] INTRODUÇÃO A família homoafetiva é uma nova configuração familiar, que ainda sofre diversas formas de preconceito, enfrentando múltiplas dificuldades, como por exemplo quando busca a adoção. A adoção por pessoas homossexuais ainda enfrenta muitos desafios. Alguns estudos indicam não haver diferenças significativas entre famílias compostas por heterossexuais e homossexuais, tais como Erich, S.;Hall, S. K.; Kanenberg, H.; Case, K. (2009) e Tan e Baggerly (2009), mas o assunto ainda possui pouca visibilidade, carece de pesquisas e legislação. Deve ser analisado se a adoção homoafetiva oferece benefícios aos adotandos e adotantes; se as famílias compostas por homossexuais oferecem um ambiente adequado à criação de filhos; e ate mesmo se o que muda na homoparentalidade é significativo em relação à parentalidade heterossexual. Segundo Weber, Sviech, e Kaniak, (2004), através do levantamento de pesquisas e demais documentos acerca da adoção por homossexuais e entrevistas com pessoas com esta orientação sexual, havia diversos indicativos favoráveis à adoção homoafetiva. Essa pesquisa objetivou avaliar a literatura existente sobre a adoção por homossexuais, bem como a análise biográfica de homossexuais que são pais (por adoção ou pela biologia) e a opinião sobre adoção de pessoas homossexuais sem filhos. Procurou-se compreender aspectos específicos da vida familiar homossexual; investigar aspectos acerca de filiação e verificar as consequências e fatores de risco ou de proteção acerca de criação de filhos por casal homoafetivo. 79 MÉTODO 1) Revisão de Literatura Sistemática Foram analisadas 128 pesquisas qualitativas e quantitativas obtidas nas seguintes bases de dados: Ovid, Psycinfo, Science Direct, Scielo e Google Acadêmico. Procedimento de análise: foram buscados os cruzamentos “adoption+gay”; “adoption+homosexual”; “adoption+lesbian”. Enquanto que nas bases de dados nacionais, além dos cruzamentos acima (mas em português, “adoção+gay”, “adoção+homossexual”; “adoção+lésbica”), foram também pesquisados os termos: “adoção homoafetiva”; “adoção por casal homoafetivo”. 2) Pesquisa Empírica a) Participantes: 16 pessoais, com idade entre 18 e 55 anos, de ambos os sexos, provenientes de diversas cidades do Brasil e de orientação sexual homossexual. Houve dificuldade em se encontrar pessoas da amostra desejada, portanto mesmo com um número relativamente baixo de sujeitos, o número de participantes da pesquisa é considerável. b) Instrumentos: Foram elaborados dois questionários distintos, um para os participantes que possuem filhos, outro para os que não possuem filhos. O questionário são compostos por questões qualitativas e também pelas Escala de Qualidade de Interação Familiar – EQIF – (Weber, Brandenburg & Viezzer, 2003); Escala de autoestima de Rosenberg. c) Procedimento: Os sujeitos da pesquisa foram encontrados através de anúncios nas comunidades do site de relacionamento Orkut. Foram selecionadas as comunidades que apoiam os direitos homossexuais e a adoção. Os questionários e termo de consentimento foram enviados por email aos participantes e após preenchimento, recebidos também via email. RESULTADOS E DISCUSSÃO Percebeu-se que 87,5% dos sujeitos informaram as suas famílias que são homossexuais; 68,8% alegaram ter aceitação da família e 50,0% sofreram discriminação em função da orientação sexual. Dentre os que desejam ter filhos, o motivo mais recorrente é amplo e subjetivo, ou seja, ressaltam que seria a realização de um “sonho” (56,3%), mas 68,8% acreditam que o filho sofreria algum tipo de preconceito e 62,5% não creem que a sua orientação sexual influenciaria a orientação do filho. Boa parte dos entrevistados foi indiferente em relação ao gênero de um futuro filho (43,8%) e metade indicou alguma preferência pela cor da pele, sendo as crianças pardas as mais citadas (25% do total). A maior parte dos entrevistados acha que a idade da criança é relevante no processo de escolha (56,3%) e os bebês de até um ano foram os preferidos. Foi recorrente o discurso de que a chegada de um filho “mudaria tudo”, sendo as alterações na rotina e nas prioridades algumas das mais lembradas. Verificou-se que 87,5% dos entrevistados tem autoestima média. Também foi 80 aplicada a Escala de Qualidade de Interação Familiar (Weber, Brandenburg & Viezzer, 2003) e concluiu-se que a maioria dos participantes, quando analisados quanto a envolvimento, regras, punição corporal, comunicação e modelo dos pais tiveram escore médio. Do total de literatura pesquisada, 32,03% limitaram-se apenas à descrição de dados, 11,72% chegaram a conclusões negativas acerca da homoparentalidade, afirmando que pais e filhos sofrem mais preconceito e que isso prejudica o desenvolvimento biopsicossocial; 56,25% apontaram conclusões positivas quanto à adoção realizada por homossexuais com bom ajustamento psicossocial das crianças e pais. Concluiu-se, portanto, que a adoção por homossexuais não apresenta diferenças significativas em relação àquela realizada por heterossexuais, não justificando a negação desse direito a essas pessoas. Agradecimentos Aos entrevistados que cederam seu tempo e se expuseram para a viabilização desta pesquisa. Ao CNPq pela Bolsa de Iniciação Científica da primeira autora. REFERÊNCIAS Erich, S.; Hall, S. K.; Kanenberg, H.; Case, K. (2009). Early and late stage adolescence: Adopted adolescents' attachment to their heterosexual and lesbian/gay parents. Adoption Quarterly 12, 152-170. Tan, T. X.;Baggerly, J. (2009). Behavioral adjustment of adopted Chinese girls in single-mother, lesbian-couple, and heterosexual-couple households. Adoption Quarterly, 12, 171-186 Weber, L. N. D.; Sviech, E. M. A.; Kaniak, V., (2004). Adoção por homossexuais: análise de 13 anos de literatura. XI Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, Campinas.. Weber, L. N. D.; Brandenburg O. J. & Viezzer A. P. (2003). Validação do Instrumento EQIF (Escalas de Qualidade de Interação Familiar)[Resumo] Anais do XII Encontro Anual da Associação Brasileira de Medicina e Psicoterapia Comportamental (p.276). Londrina: ABPMC. 81 PAINÉIS RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS PARENTAIS, ESTILOS DE AMOR E ESTILOS DE APEGO DE BOWLBY Kharina Ribeiro Guides – UFPR Cristina Lopes Pereira – UFPR Larissa Ribeiro Alves – UFPR Lidia Natalia Dobrianskyj Weber – UFPR [email protected] INTRODUÇÃO Diversos estudos apontam como as práticas adotadas pelos pais para com seus filhos, bem como a qualidade do relacionamento familiar, influenciam consideravelmente as relações interpessoais futuras, inclusive as relações amorosas românticas. A elaboração da teoria dos estilos de apego desenvolvida por Bowlby (1984a, 1984b, 1988) reforça esse conceito, ela aponta como a exibição da criança a práticas parentais de baixo ou alto envolvimento podem ter como consequências análogas formas de se apegar. A teoria do apego auxilia na compreensão do nascimento dos estilos de amor, uma vez que a capacidade de apegar-se é uma competência inata (Silva, 2009), porém, o estilo de apego que determinada pessoa irá desenvolver não é inato, depende em grande porcentagem de seu cuidador, como mostra a teoria de Bowlby. No que diz respeito aos relacionamentos amorosos, a teoria de Alan Lee (1973), afirma que o amor não é algo que pode ser quantificado, apenas que pode apresentar-se diferente, e classificou em seis estilos principais, divididos em três estilos de amor primários (Eros, Ludus e Storge) e três secundários, que são: Mania (junção de Eros e Ludus), Pragma (junção de Ludus e Storge) e Ágape – junção de Eros e Estorge. A presente pesquisa visou verificar as relações entre a percepção da qualidade de interação familiar pregressa, os estilos de apego e os estilos de amor aprendidos de homens e mulheres. 82 MÉTODO Participantes Fizeram parte desta pesquisa 149 pessoas de ambos os sexos de diferentes estados civis, com idade entre 16 e 65 anos, dos quais 14,7% estavam sem parceiro amoroso e 85,3% estavam em um relacionamento amoroso no momento da pesquisa. Os participantes foram encontrados por conveniência em instituições e em suas próprias casas. Instrumentos O questionário elaborado ficou composto por 281 questões, divididas em cinco questões iniciais sobre dados demográficos e as seguintes escalas: Escala de Qualidade na Interação Familiar (Weber, Brandenburg & Viezzer, 2003), Escala de Estilos de Amor (Hendrick, Hendrik & Dicke, 1996), Escala de Experiências em Relações Amorosas e Apego (Bartolomew & Horowitz, 1991) e Inventory of Parent and Peer Attachment – IPPA (Armsden & Greenberg, 1987). Procedimentos A pesquisa foi dividida nas seguintes etapas: 1. Revisão de Literatura referente ao tema; 2. Elaboração do questionário (basicamente simultaneamente à etapa seguinte); 3. Elaboração do método da presente pesquisa; 4. Contato com os participantes; 5.A aplicação do questionário; 7. Análise de dados; 8. Resultados e discussão. Os dados obtidos foram analisados através do programa SPSS (Statistical Package for the Social Science), um programa de estatística que permite trabalhar com dados numéricos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os estilos de amor foram categorizados em baixos, médios e altos escores, com objetivo de uma análise mais detalhada das relações de cada estilo com as dimensões das escalas utilizadas, uma vez, apesar de haver predominância de um estilo de amor, outros estilos podem aparecer de maneira significante em cada indivíduo. As relações apresentadas entre as dimensões de praticas parentais e os estilos de apego e amor apontam como os filhos aprenderam modelos de apego com os pais. Na analise da escala EQIF, as dimensões “punição” e “comunicação negativa” por parte do pai correlacionaram-se positivamente com o estilo de amor Ludus (r=0,211; p<0,05). A menor comunicação com os amigos se relacionou negativamente com o estilo de amor Mania (r= - 0,170; p < 0,05), ou seja, quanto menor a comunicação com os amigos, maior esse estilo, que se caracteriza pela insegurança e baixa autoestima. O estilo de amor Storge foi o que apresentou maior número de relações estatisticamente significativas com as dimensões de práticas parentais avaliadas pela EQIF, mostrando que os 83 participantes que apresentaram alto escore no Estilo de amor Storge também apresentaram altos escores nas dimensões positivas da EQIF. Todas as dimensões não coercitivas paternas e maternas se relacionaram a esse estilo, lembrando que o estilo Storge se desenvolve aos poucos, e se caracteriza por alto envolvimento, bem como dedicação de atenção e de compartilhar os valores com o parceiro. Quanto aos estilos de apego, o baixo apego com os amigos apresentou relação estatisticamente significativa (x²= 13,361; gl=6; p<0,05) com o estilo de apego Receoso (43,2%). O médio e alto apego com os amigos se relacionaram ao estilo de apego Seguro. Os dados também revelam, por meio do teste Anova, uma tendência das pessoas com estilo de apego Seguro (F=26,27%) apresentarem maior Comunicação com Amigos. O apego total com os amigos, por sua vez, teve as seguintes correlações com as dimensões da EQIF: Clima Conjugal dos pais (r=0,340; p<0,001), Modelo da mãe (r=0,335; p<0,001) e Sentimentos para com a Mãe (r=0,318; p<0,001). Foi observado que quanto maior o apego com os amigos, maior é o escore obtido pelo participante no Estilo de Amor Storge (r=0,175; p<0,05), dado que é coerente com a literatura, uma vez que esse estilo surge de uma amizade profunda. É possível verificar como um ambiente familiar com acolhimento influencia no desenvolvimento de comportamentos seguros e da auto-estima, uma vez ligados a um estilo de amar sem grandes preocupações quanto à distância, e o não temor de um envolvimento afetivo. Agradecimentos: Aos entrevistados ; ao CNPq pela Bolsa de Iniciação Científica da primeira autora. REFERÊNCIAS BOWLBY, J., 1984.a, Apego - Apego e Perda, - vol. 1 da trilogia Apego e Perda, São Paulo, Ed., Martins Fontes. BOWLBY, J.,1984.b, Separação - Angústia e Raiva, - vol. 2 da trilogia Apego e Perda, São Paulo, Ed., Martins Fontes. BOWLBY, J. Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes.1988 SILVA, A. A. da. Relacionamento amoroso: como encontrar sua metade ideal e cuidar dela. São Paulo: Publifolha, 2009. 84 PAINÉIS SÍNDROME DE DOWN E AS RELAÇÕES FAMILIARES Rafaela de Carli ¹ Mariane A. Fracaro² Andressa L. Picolo ³ INTRODUÇÃO O estudo acerca das relações familiares, sendo o filho uma criança com síndrome de Down (SD) é relevante, pois, de acordo com Fernanda Rodriguez (2006), muitas são as pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde, as quais evidenciam que inúmeras famílias desenvolveram estratégias de sobrevivência emocional diversas, o que lhes permite manter-se, por um longo período, no estado de preocupação primária especial. Rodriguez (2006) nos fala que ao planejar a vinda de um filho ou filha, há uma tendência em sempre idealizarmos uma criança perfeita, bonita, saudável, com olhos azuis ou negros. Além disso, imaginamos ainda, que essa criança realizará os projetos e desejos que nós pais não conseguimos por em prática, ou seja, com os filhos a nossa esperança é que através deles se materializem os nossos sonhos, como, por exemplo, sendo o médico ou o advogado que o pai queria ser, mas não teve oportunidade. Para esclarecer melhor essa afirmação, a autora apresenta o seguinte argumento: O desapontamento de que um filho não seja perfeito oferece uma ameaça ao ego de muitos pais e um desafio a seus sistemas de valores, esse choque em relação a expectativas anteriores cria relutância para aceitar o filho como uma pessoa de valor, em desenvolvimento. (SMITH, 1985 apud RODRIGUES, 2000, p. 188). A chegada de um novo bebê em casa faz com que através de um meio natural, os pais dêem prioridade a ele na maior parte do tempo. Quando o bebê que chega tem a SD, esse desvio da atenção pode ser ainda maior, os pais estarão lidando com suas próprias emoções e com essa nova informação em suas vidas, que é a síndrome de Down. Conforme o tempo passa e a criança cresce e _________________________________ 1 – Acadêmica do sexto período do curso de Psicologia da Faculdade de Pato Branco – FADEP 2 – Acadêmica do sexto período do curso de psicologia da Faculdade de Pato Branco – FADEP/ e-mail: [email protected]* 3 – Acadêmica do sexto período do curso de psicologia da Faculdade de Pato Branco – FADEP 85 a atenção que se refere às suas necessidades médicas, escolares e sociais continua seguindo o seu desenvolvimento. Irmãos, mesmo sabendo que existem motivos para isso, estão conscientes de que os holofotes podem estar sobre seu irmão com SD em um tempo desproporcional e injusto, fazendo com que a atenção dos pais seja menos compartilhada com os outros membros da família. É relevante discutir a atuação do psicólogo, segundo a mesma autora, Fernanda Rodriguez (2006), nestes casos, dando instruções e apoio a família que sabe do diagnóstico do filho portador de deficiência mental. O estudo proposto limita-se a apresentar a relação entre a criança com síndrome de Down e sua família, exprimindo sua evolução e os princípios que regem a relação em questão, temos por objetivo geral, investigar as interações familiares da pessoa com Síndrome de Down e a sua aceitação neste ambiente social. MÉTODO Podemos enquadrar este estudo entre as pesquisas exploratórias. De acordo com Gil, (1991, p. 45) visando proporcionar maior familiaridade com o problema em pauta, buscando torná-lo mais explicito e podendo elaborar hipóteses. As características de determinadas pesquisa são agregadas pelo aprimoramento de idéias e descoberta de intuições. A pesquisa exploratória aprofunda o conhecimento da realidade, pois explica os acontecimentos, ou seja, os participantes serão indivíduos que possuem relações extremamente próximas á membros em condições de deficiência. Outro modelo de pesquisa a ser utilizado é a pesquisa bibliográfica, Gil (1991, p.48 e 50) define a mesma como aquela desenvolvida a partir de materiais já elaborados, constituídos de artigos científicos e livros. ANÁLISE DOS DADOS Depois de realizadas as entrevistas com quatro mães de crianças com necessidades especiais, as respostas foram comparadas e analisadas, e a partir disso, chegou-se a conclusão de que os primeiros passos para os indivíduos os quais estão diretamente relacionados com a doença é identificar questões e tarefas básicas, por exemplo, entender a si mesmo (seus sentimentos e suas reações); entender como outras pessoas se sentem e qual o efeito que o nascimento pode ter sobre elas; entender a síndrome de Down (características e causas) e principalmente entender o bebê com SD, sendo possível abranger isso através da relação com o mesmo e das experiências cotidianas. CONSIDERAÇÕES FINAIS De maneira geral, os entrevistados relatam considerar de extrema importância a tentativa em viver um dia de cada vez ao lado da criança com síndrome de Down, sem pensar demais criando expectativas para o futuro. É necessário que haja calma e tolerância diante de tal “desafio” e 86 principalmente lembrar-se de que toda a família possivelmente sente-se perturbada e irritada com a situação, mesmo que esses fatores não sejam nitidamente demonstrados. De fato, a idade da mãe é a única conseqüência que foi associada de forma consistente a uma probabilidade de ter um filho com síndrome de Down. Cunningham (2008) cita que, antes das grandes descobertas genéticas, havia opiniões científicas de que a SD era um retrocesso a uma forma mais primitiva de ser humano, até os macacos. O apelido “mongolóide”, para pessoas com síndrome de Down, vinha de uma crença de que eles eram uma subespécie a raças não-européias mais primitivas. Dentre estudos visando tratamento á síndrome de Down, há tentativas em bloquear o RNA mensageiro o qual diz para a célula produzir mais, pois foram identificados genes que levam uma expressão exagerada de proteínas em pessoas com síndrome de Down. Porém essa é uma tarefa complexa que ocorre no interior da célula e por enquanto é mais teórica do que prática. Outra alternativa, é buscar a desintoxicação por meio da dieta e da medicação. Isso não reduziria o problema durante a gestação, mas poderia ter um efeito logo após o parto e reduzir as lesões no cérebro em crescimento ou os problemas posteriores que são associados a alguns aspectos do envelhecimento prematuro dos SD. (Cunningham, 2008) Na medida do possível, os psicólogos realizam um trabalho visando propor algumas orientações á esses sujeitos e seus responsáveis, estimulando-os á sentirem-se úteis e capazes de melhorar sua realidade sempre. Percebe-se que a base para tal aproximação é através conversa, onde se mostra que todos nós temos algo em especial. Busca-se uma forma e sentido de alcançar estas crianças e adolescentes usando toda a sinceridade e criatividade. Foi possível através da conclusão do presente trabalho, agregar conhecimentos práticos conjuntos ao aparato teórico, os quais são de grande relevância para a formação acadêmica. Através do mesmo foi possível reunir e fornecer conhecimentos importantes para a área, ampliando a visão da SD e das relações familiares que a cercam, seguindo de uma visão pura e sem estigmas. REFERÊNCIAS CUNNINGHAM, C. Síndrome de Down: Uma introdução para pais e cuidadores. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. GIL, Carlos A. Como elaborar projetos de pesquisa. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1996. SILVA, Nara L. P; DESSEN, Maria A. Interação em Psicologia. Brasília: [n.a], p. 167-176, 2002. 87 PAINÉIS REDE COMUNITÁRIA - INTEGRANDO SABERES SOCIAIS E ACADÊMICOS PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO Maria Angélica Pinto Nunes Pizani Silvia Maria Prado Lopes Queiroz Co-autores: Anair Carlos de Castro Andrea dos Santos Rodrigues Alais Claudino Kryminice Angela Letícia Amaral; Claudir Schmidlin Helen Moreira de ; Juciane Branco Luana Vaz; Lucas Vieira Maluche Lucas Nocera; Luis Bourscheidt Luis Lima; Mayara Becker Neli Fátima Vodzicki; Rosa Mariko Kaetsu Roseli Fátima de Andrade; Sara Scheider Taborda [email protected] INTRODUÇÃO O Projeto “Abrindo Caminhos” iniciou em 2002, com o objetivo de oferecer caminhos alternativos para o desenvolvimento humano de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social no Bairro Tatuquara, Curitiba. Em 2008, diversas oficinas isoladas deram lugar a um "Contra-turno Escolar", visando a ampliar a formação educacional desse grupo. Contudo, a carência de recursos humanos dessa entidade limitava as possibilidades formativas. Visando superar essa dificuldade foi realizada, em 2011, uma parceria com o Instituto Federal do Paraná - IFPR que formulou o projeto de extensão “Rede Comunitária” para apoiar o trabalho pedagógico do contraturno escolar, estruturando ações que levem a aprender a ser, conviver, fazer e aprender a aprender, conforme os quatro eixos previstos por Delors (1996). Assim, o objetivo é contribuir para a 1Professora do Instituto Federal do Paraná (IFPR); 2 Professora do IFPR. 1 Aluna do IFPR; 2 Professora do IFPR; 3 Aluna do IFPR; 4 Aluna do IFPR; 5 Professor do IFPR; 6 Aluna do IFPR; 7 Professora do IFPR; 8 Aluna do IFPR; 9 Aluno do IFPR; 10 Aluno do IFPR; 11 Professor do IFPR; 12 Professor do IFPR; 13 Aluna do IFPR; 14 Aluna do IFPR; 15 Professora do IFPR; 16 Aluna do IFPR; 17 Aluna do IFPR. 88 formação pluridimensional das crianças e jovens que participam do projeto social, bem como dos alunos e servidores do IFPR participantes dessa ação, por meio da integração de saberes e práticas. MÉTODO São realizadas oficinas pedagógicas por uma equipe de professores e alunos do IFPR, de diferentes cursos e áreas do conhecimento. Acontecem duas vezes por semana, com as 45 crianças e adolescentes do turno da tarde, divididos em três grupos conforme a faixa etária e série. Busca-se proporcionar um ambiente formativo que seja atrativo, menores, lúdico e solidário. A equipe atua em quatro eixos: saúde, meio ambiente, artes e informática. O planejamento, execução e avaliação das ações são sempre conjuntas. Assim, independente da inserção principal em um dos quatro eixos, todos atuam nas diversas atividades propostas. São três os principais referenciais teóricos que conduzem o planejamento das ações. Os dez pontos do Paradigma do Desenvolvimento Humano, expressos no Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD] e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [IPEA], (1996), a educação para valores universais (Costa, 1997) e a capacitação para o autocuidado (Costa & Lima, 2002). O primeiro passo da atuação da equipe do IFPR foi a realização de um Pacto de Convivência com os adolescentes de 12 a 15 anos (Milani, 2005). Foram elencadas e debatidas as posturas esperadas dos educadores e dos participantes, sendo digitadas e assinadas por todos. Esse grupo participou durante as oito primeiras semanas do projeto de um jogo em computador, em forma de história em quarinhos, chamado “Turma de Valor”, a fim de fomentar o reconhecimento e discussão dos valores universais. Paralelamente, esse tema foi trabalhado com as crianças (7 a 11 anos) a partir da contação de estórias e atividades de fixação. Em seguida, foram realizadas atividades voltadas à elevação da auto-estima e construção de projetos de vida, buscando a valorização e o respeito a si mesmo e aos outros. A partir daí, as oficinas de saúde passaram a discutir os principais fatores que favorecem ou põe em risco a vida do ser humano, bem como suas formas de promoção/prevenção. O trabalho com os valores universais serviu ainda de base para um trabalho de valorização e respeito aos demais seres vivos e ao meio ambiente. Assim, as oficinas de meio ambiente têm proporcionado às crianças jogos educativos digitais, atividades de pintura e colagem sobre o tema e construção de brinquedos de material reciclável. Já os adolescentes realizaram a exploração do entorno do Projeto, por meio da percepção visual e da utilização de recursos fotográficos. Tendo como base as fotografias das situações adversas encontradas em relação ao meio ambiente, os jovens passaram a propor alternativas de superação dos problemas encontrados. 89 As oficinas de informática tem proporcionado aos participantes noções básicas de informática (editor de textos, planilha eletrônica, editor de apresentações e uso da Internet), estimulando sua utilização nas atividades de reforço escolar. Finalmente, as oficinas de artes são dirigidas para exploração da criatividade por meio de diversos materiais artísticos e do cotidiano como: papéis diversos, tecidos, madeira, lápis de cor e cera, tintas e materiais recicláveis. Além disso, o grupo do IFPR trabalha a musicalização, por meio da construção e exploração de instrumentos musicais com materiais recicláveis, integrando esse trabalho artístico à temática da conservação do meio ambiente. Como encerramento das atividades foi prevista uma Mostra de Trabalhos, em que serão apresentadas, pelas próprias crianças e jovens, todas as atividades realizadas durante o ano para seus familiares e convidados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Essa dinâmica de trabalho, interdisciplinar e multiprofissional, tem oportunizado aos alunos do IFPR um espaço privilegiado de aprendizagem inclusiva e integradora, formadora de profissionais mais comprometidos com a responsabilidade sócio-ambiental. Considerando-se a necessidade de criação de vínculos mais profundos entre a equipe do IFPR e as crianças e adolescentes do projeto social para obtenção de resultados mais amplos e duradouros, já podem ser observados ganhos no que se refere à elevação da auto-estima, ampliação de projetos de vida e motivação para o autocuidado destes. Esses resultados podem significar importantes fatores de proteção contra os riscos sociais aos quais esse grupo está exposto. Espera-se, com a continuidade desse trabalho, potencializar o desenvolvimento de todos os envolvidos, colaborando para seu crescimento pessoal e comunitário. Espera-se ainda que essa ação contribua efetivamente para o afastamento das crianças e adolescentes do caminho nocivo das drogas e da violência, bem como para resgatá-las de situações de risco e de desrespeito aos seus direitos fundamentais. REFERÊNCIAS Costa, A. C. G. (1997). Pedagogia da Presença. Belo Horizonte: Modus Faciendi. Costa, A. C. G., & Lima, I. M. S. O. (2002). Programa Cuidar. Livro do professor. Autocuidado: um conceito em evolução. Instituto Souza Cruz. Delors, J. (1996). Os quatro pilares da educação. In:____ (Coord.). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez. Milani, F. M. (2005). Tá Combinado! Construindo um Pacto de Convivência na Escola. Salvador: P&A. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) & Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). (1996). Relatório sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil. Brasília: PNUD. 90 PAINÉIS QUEM SÃO OS PRETENDENTES À ADOÇÃO? UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE CARACTERÍSTICAS E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO Cristina Lopes Pereira Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Núcleo de Análise do Comportamento, Universidade Federal do Paraná Prgrama de Pós-gradaução em Educação da Universidade Federal do Paraná [email protected] INTRODUÇÃO Verifica-se na literatura nacional uma escassez de trabalhos empíricos que envolvam não somente o levantamento de preferências de pretendentes à adoção, mas também a investigação de variáveis associadas com este perfil. Além disso, não foram encontrados estudos nacionais sobre características comportamentais de candidatos à adoção e mesmo na literatura internacional eles são raros. Diante deste contexto, a presente pesquisa pretende fornecer dados que contribuam para o desenvolvimento teórico sobre candidatos à adoção no Brasil. Pretende-se investigar o perfil predominante dos adotantes, os fatores que possam estar relacionados com determinadas preferências e a influência da ausência de filhos biológicos sobre o bem-estar psicológico dos pretendentes. MÉTODO Para a composição da amostra foi realizada uma amostragem de conveniência, constituída por 150 participantes, contactados por meio do curso para pretendentes à adoção da Vara da Infância e Juventude de Curitiba e de comunidades sobre adoção no site de relacionamentos Orkut. Os instrumentos utilizados foram as escalas de Satisfação com a vida (Diener, Emmons, Larsen & Griffin, 1985), Satisfação conjugal (Weiss & Palos, 1988), Autoestima (Rosenberg, 1965), Valores altruístas (Smith, 2000), Empatia (Davis, 1994). A análise dos dados foi realizada por meio do programa de estatística SPSS (Statistical Package for the Social Science), versão 15.0. 91 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados coletados apontaram que os pretendentes à adoção desta presente pesquisa não possuem preferência quanto à cor de pele (40,0%) e ao gênero do futuro filho (52,0%), mas desejam adotar crianças com no máximo três anos (24,0%) e aceitam aquelas que apresentarem doenças leves ou tratáveis (42,0%). Constatou-se a influência de algumas variáveis no perfil requerido pelos adotantes. Há uma maior indiferença quanto ao sexo da criança entre participantes sem filhos (x=14,286; gl=1; p<0,001) e casados (x=4,248; gl=1; p<0,05); há menos participantes que sinalizam a adoção de crianças saudáveis entre os protestantes (x=10,413; gl=8; p>0,05) e maior tolerância em relação às adoções inter-étnicas (x=12,698; gl=2; p<0,05) e tardias (x=10,005; gl=5; p>0,05) entre os adotantes com menor escolaridade. Verificou-se que não há relação entre o relato de comportamentos empáticos e de valores altruístas com a escolha pela cor de pele e idade da criança. Porém, aqueles adotantes que fazem menos exigências em relação ao estado de saúde da criança também atribuem maior importância ao ato de ajudar os outros (F=3,285; p<0,05). A investigação sobre a relação entre variáveis de bem-estar psicológico e parentalidade indicou algumas diferenças apenas entre as mulheres em relação com a satisfação com a vida e satisfação conjugal. As mulheres que não tiveram filhos genéticos, seja por infertilidade (t=-2,353; p<0,05) ou por terem postergado a maternidade (t=2,485; p<0,05), apresentaram menor satisfação com a vida quando comparadas às adotantes que tem filhos genéticos. Por outro lado, os dados evidenciaram que as mulheres que optaram por não terem filhos biológicos estão mais satisfeitas em seu casamento do que as participantes que tiveram filhos genéticos (U=35,000; p<0,05) ou que não puderam ter filhos genéticos (U=86,500; p<0,05). Não foi encontrada nenhuma relação estatisticamente significativa entre autoestima e parentalidade entre participantes homens ou mulheres. Os dados obtidos nesta pesquisa são importantes por permitirem uma percepção maior das variáveis associadas à escolha dos adotantes quanto ao perfil da criança. Além do mais, possibilitam a discussão da relação entre bem-estar e parentalidade genética, indicando fatores úteis para a compreensão de características comportamentais de pretendentes à adoção e sua percepção sobre a vida, o que permite traçar estratégias de prevenção e discussão em cursos de preparação de adotantes. 92 Agradecimentos: a todos os pretendentes à adoção participaram da pesquisa, nosso muito obrigada! À Capes pela bolsa de Mestrado para a primeira autora. REFERÊNCIAS Davis, M.H. (1994). Empathy: A Social Psychological Approach. Madison: WCB Brown & Benchmark. Diener, E., Emmons, R.A., Larsen, R.J. & Griffin, S. (1985). The Satisfaction with Life Scale. Journal of Personality Assessment, 49(1), 71-75. Rosenberg, M. (1965). Society and the adolescent self-image. Princeton, NJ: Princeton University Press. Smith, T.W. (2006). Altruism and Empathy in America: Trends and Correlates. NORC unpublished report. Weiss, P.S. & Palos, A.P. (1988). Desarollo y validación de la escala de la satisfación marital. Psiquiatria, 4(1), 9-20. 93 PAINÉIS DEPRESSÃO, AUTOESTIMA E ESTILOS PARENTAIS PERCEBIDOS POR ADOLESCENTES DE FAMÍLIAS INTACTAS E FAMÍLIAS SEPARADAS Leiliane Silva do Nascimento Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Aline Lenhart Nesi UFPR, Núcleo de Análise do Comportamento [email protected] INTRODUÇÃO O estudo das relações familiares tem ganhado destaque na comunidade acadêmica. As formas como os pais utilizam para educar seus filhos e os comportamentos resultantes da interação familiar ganha destaque frente à temática das famílias intactas e as “famílias separadas”. Diante da relevância desse tema a presente pesquisa tem como objetivo verificar se há diferença na qualidade de interação familiar cujos pais são separados e nas que os pais são casados, por meio do relato de crianças e adolescentes de uma escola pública de Ponta Grossa, Paraná. MÉTODO Participaram dessa pesquisa 251 crianças e adolescentes com idades variando de 10 a 21 anos. Foram utilizadas as Escalas de Qualidade de Interação Familiar - EQIF (Weber e cols., 2003), de Exigência e Responsividade (Lamborn e cols., 1991), Escala de autoestima (Rosemberg, 1965; 2003); Escala de Resiliência (Wagnild & Young, 1993); e CDI - Child Depression Inventory (Kovacs, 1992). A fim de relacionar filhos de pais casados e separados com as dimensões do EQIF (envolvimento, regras e monitoria, punição inadequada, comunicação positiva dos filhos, comunicação negativa, clima conjugal positivo, clima conjugal negativo, modelos e sentimento dos filhos). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados revelam que os participantes percebem pais separados como menos envolvidos, com menor apresentação de regras, piores modelos parentais e sua comunicação positiva e seus sentimentos para com a figura paterna, são reduzidos. Os jovens perceberam as mães casadas com 94 melhor clima conjugal e modelo parental enquanto as mães separadas foram descritas com pior clima conjugal. Sobre os estilos parentai há diferença estatisticamente significativa entre pais casados e separados. Os pais separados foram enquadrados com maior frequência como negligentes (χ2=10,26, gl=3, p<0,05) e os pais casados como autoritativos (48%). Em relação às mães há uma alta frequência de mães negligentes, tanto entre as casadas (43%) como entre as separadas (40%). Em relação ao comportamento dos filhos, os escores de autoestima (t=-0, 296, p>0,05), resiliência (t=0,255, p>0,05) e depressão (X²=10,26, gl=3, p<0,05), não apresentam diferença estatisticamente significativa entre famílias separadas e intactas. Os resultados contribuem para a discussão de que os filhos percebem uma queda na qualidade de interação familiar, nos estilos parentais e na própria comunicação após a separação. Os pais precisam ter acesso a informações recentes sobre práticas educativas para desenvolverem repertório de comportamentos adequados, independente de morarem ou não com seus filhos, estabelecendo relações de confiança, diálogo, aconselhamento e auxilio nos momentos difíceis. Os resultados também revelam aspectos importantes sobre a temática estudada, contribuindo para a desmistificação, de que os filhos de pais separados necessariamente são problemáticos. É necessário mais estudos sobre essa população levando em consideração o tempo de divórcio dos pais, e características pessoais de cada membro da família. Palavras chave: Divórcio, práticas educativas, estilos parentais. REFERÊNCIAS Kovacs, M. (1992). Children‟s Depression Inventory – CDI Manual. Canadá: Multi-Health Systems. Lamborn, S. D., Mounts, N. S., Steinberg, L. & Dornbusch, S. M. (1991). Patterns of competence and adjustment among adolescents from authoritative, authoritarian, indulgent, and neglectful families. Child Development, 62, 1049-1065. Rosenberg, M. (1965). Society and the adolescent self-image. Princenton: Princenton University Press. Wagnild GM, Young HM. (1993). Development and psychometric evaluation of resilience scale. Journal of Nursery Meas, 1, 165-78. Weber, L.N.D., Salvador, A.P.V. & Brandenburg, O. (2006). Qualidade de interação familiar: instrumentos de medida e programas de prevenção. Em M. Bandeira, Z. Del Prette & A. Del Prette (Orgs.), Estudos sobre habilidades sociais e relacionamento interpessoal (pp. 125-14). São Paulo: Casa do Psicólogo. Weber, L.N.D., Stasiack, G.R. & Brandenburg, O.J. (2003). Percepção da Interação Familiar e Autoestima de Adolescentes. Aletheia, 17(18), 95-105. 95 PAINÉIS COMO OS ESTUDANTES DE PSICOLOGIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL PERCEBEM A ADOÇÃO NO BRASIL? Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Núcleo de Análise do Comportamento e Programa de Pós-graduaçãp em Educação da UFPR Cristina Lopes Pereira Programa de Pós-graduaçãp em Educação, Universidade Federal do Paraná Leiliane Silva do Nascimento Universidade Federal do Paraná NFaculdade Sant´Ana, Ponta Grossa, PR. Gisele Regina Stasiak [email protected] INTRODUÇÃO Verifica-se na sociedade brasileira a existência de muitas ideias estereotipadas e errôneas sobre a adoção de crianças (Araújo & Oliveira, 2008; Camargo, 2005; Gatti, Vargas & Campos, 1993; Mello & Dias, 2003; Weber, 1999A, 1999B, 2001). Neste contexto, profissionais de Direito, Serviço Social e Psicologia têm um importante papel a desempenhar no esclarecimento dos aspectos jurídicos, sociais e psicológicos da adoção. Por este motivo, pretende-se investigar a opinião que os estudantes universitários destes cursos possuem sobre diferentes aspectos relacionados com a adoção. Os dados obtidos por meio desta pesquisa possibilitarão identificar possíveis ideias pré-concebidas entre os estudantes e permitirão refletir sobre o quanto as universidades têm instrumentalizado os estudantes para auxiliarem no processo de desmistificação da adoção e no fortalecimento desta prática no Brasil. MÉTODO Participaram da pesquisa 735 universitários de instituições públicas e privadas, de ambos os sexos, com idades entre 17 e 63 anos (idade média: 25,60; d.p.= 8,78). Dentre estes participantes, 260 são estudantes de Psicologia, 255 de Serviço Social e 220 de Direito. Para a composição da amostra foi realizada uma amostragem de conveniência, por meio do contato com professores e coordenadores de curso de universidades públicas e privadas. 96 O questionário elaborado para esta pesquisa contém 61 questões, sendo 14 itens sobre dados pessoais dos participantes e 47 itens de múltipla escolha abordando diferentes aspectos da temática adoção de crianças. A aplicação do questionário foi realizada de forma coletiva na sala de aula da universidade ou faculdade em um horário pré-agendado. Todos os estudantes assinaram o Termo de Consentimento Esclarecido e Informado. A análise dos dados foi realizada por meio do programa de estatística SPSS (Statistical Package for the Social Science), versão 15.0. O teste utilizado na análise foi o Qui-Quadrado e o nível de significância adotado foi p<0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos resultados indicou que a maioria dos estudantes tem opinião favorável sobre a adoção por casais homoafetivos, contrariando os dados encontrados por Araújo e Oliveira (2008), que investigaram a opinião de universitários do direito e da psicologia, especificamente, a respeito da adoção por casais homoafetivos. Na presente pesquisa, os estudantes universitários mostram-se receptivos em relação a esta forma de adoção, porém a maioria deles julga ser mais provável que a criança sofra preconceito nesta forma de constituição familiar. Os dados apontam que os estudantes consideram que valores morais e/ou religiosos motivam as pessoas a adotarem uma criança e que os pretendentes à adoção devem poder escolher a criança que desejam adotar. A respeito da possibilidade dos pais adotivos devolverem a criança após a adoção, caso ocorram problemas de adaptação ou de comportamento da criança, os estudantes do curso de Direito se posicionaram contrariamente a esta atitude, enquanto os alunos de Psicologia e Serviço Social, não tinham uma opinião formada, declarando terem dúvidas sobre o tema (X2=12,793; gl=8; p>0,05). Em relação aos filhos adotados, a maioria dos estudantes não considera que eles sejam mais suscetíveis ao desenvolvimento de problemas emocionais e de comportamento, porém, consideram importante que a criança adotiva sempre tenha acompanhamento psicológico. Apesar destes dados parecem contraditórios, eles sugerem que o filho por adoção é percebido pelos estudantes universitários como potencialmente problemático e por este motivo seria importante um acompanhamento terapêutico como prevenção. A associação entre filhos adotivos e problemas de comportamento faz parte do senso comum e também converge com as informações encontradas em outras pesquisas que investigaram as opiniões de pessoas sobre aspectos associados com a adoção de crianças (Gatti & cols., 1993; Mello e Dias, 2003; Weber, 1999A). Entretanto, pesquisas internacionais mostram que é um equívoco a associação automática entre filhos adotivos e desenvolvimento de problemas emocionais e de 97 comportamento e que possíveis experiências adversas vivenciadas no período pré-adoção podem ser superadas pela criança. Os resultados desta pesquisa apontaram que a maioria dos universitários investigados nesta amostra se mostram flexíveis e receptivos a adoções modernas e diferenciadas, como a adoção por casais homoafetivos. Por outro lado, os dados mostram que os universitários reproduzem alguns estereótipos sociais relacionados à adoção ao associar o ato de adotar com caridade, ao valorizar os interesses dos adotantes, em detrimento das necessidades da criança adotada e ao julgar, ainda que de forma sutil, os filhos adotivos como potencialmente problemáticos. Agradecimentos Agradecemos à CNPq pelo apoio financeiro, aos professores que cederam espaço em suas aulas para a aplicação da pesquisa e a todos os estudantes universitários que dividiram conosco alguns de seus pensamentos e opiniões sobre adoção de crianças. À CAPES pela bolsa de Mestrado da primeira autora REFERÊNCIAS Araújo, L.F. & Oliveira, J.S.C. (2008). A adoção de crianças no contexto da homoparentalidade. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 60(3), 40-51. Camargo, M.L. (2005). Adoção tardia: representações sociais de famílias adotivas e postulantes à adoção (mitos, medos e expectativas). Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis, SP, Brasil. Gatti, A.L., Vargas, M.M. & Campos, D.C. (1993). Estudo exploratório sobre opiniões e motivações acerca da adoção. Estudos de Psicologia, 10(2), 63-80. Mello, I.S.P.B. & Dias, C.M.S.B. (2003). Percepção de Homens e Mulheres Acerca de Quem Entrega um Filho para Adoção. Psicologia Ciência e Profissão, 21(3), 76-83. Weber, L.N.D. (1999A). Laços de ternura: pesquisas e histórias de adoção. Curitiba: Juruá. Weber, L.N.D. (1999B). Aspectos psicológicos da adoção. Curitiba: Juruá. Weber, L.N.D. (2001). Pais e filhos por adoção no Brasil: Características, expectativas e sentimentos. Curitiba: Juruá. 98 PAINÉIS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA EDUCAÇÃO SEXUAL ESCOLAR Sueli Puiani Andreia Bichiato do Amaral Lidemara Bertioti Léia Flamino De Freitas Aline Graziela Thiago de Almeida (Ites) [email protected] INTRODUÇÃO Embora a sexualidade humana seja um fenômeno complexo que tem sido interesse de vários professores e pesquisadores em diferentes abordagens teóricas uma dúvida vem á tona: como abordar este tema em sala de aula? Levando-se em consideração que Nunes (1987) aponta que a questão da sexualidade envolve a intencionalidade humana, a expressão e a vivência dinâmica dos afetos e um conjunto de representações simbólicas às quais o desejo se vincula, este texto trata-se de um levantamento bibliográfico e tentará discutir esse assunto. O que se concebe enquanto educação sexual? Werebe (1998) define a educação sexual como “todas as ações, deliberadas ou não, que se exercem sobre um indivíduo, desde o seu nascimento, com repercussão direta ou indireta sobre suas atitudes, comportamentos, opiniões, valores ligados à sexualidade”(p.139). A educação sexual, num sentido amplo, processo global, não intencional, sempre existiu, em todas as civilizações, no decurso da história da humanidade, de maneira consciente ou não, com objetivos claros ou não, assumindo características variadas, segundo a época e as culturas. Primeiramente, "sexualidade" e "sexo" são fenômenos culturais distintos na medida em que expressam as relações sociais e políticas que inevitavelmente medeiam o modo como as pessoas experienciam seus corpos, prazeres e desejos, incluindo o fato de que essas experiências são construídas em relação a determinadas ideias normativas (Mottier, 2008). Em outras palavras, sexualidade não é um fenômeno exclusivamente biológico e, tampouco, pode mais ser compreendida como um artefato apenas natural, pois, os animais fazem sexo, a partir de um 99 impulso instintivo e inato, para a reprodução. A sexualidade compreende atos, relacionamentos e significados. Nós seres humanos, entretanto, vivemos o sexo na nossa sexualidade e, portanto, ele é uma questão cultural. Em outras palavras, na medida em que os homens vivem numa sociedade, a sexualidade tem representações, simbolismos; ela torna-se um fato cultural e histórico (Maia, 2006). Logo, as crenças e os valores relativos à sexualidade variam segundo a cultura e o momento histórico no qual o homem se insere. Dessa forma, evidencia-se que o conceito de sexualidade é um conceito abrangente, pois além da necessidade de considerar o modo como culturalmente se percebe e vive as práticas sexuais e suas representações, também é importante lembrar que ela se configura no indivíduo erotizado a partir de uma predisposição difusa e polimorfa que se amolda segundo as experiências individuais do sujeito, mediadas por valores, ideais e modelos culturais. Ao levarmos em conta essas considerações preliminares que nortearão nossas práticas para o educando, sexo e sexualidade são convidados a participarem de nossas atividades docentes com a naturalidade e com a linguagem certa que o tema deve ser encarado direcionada a faixa etária dos alunos em questão. Muito das preocupações do educador se assenta em tratar do assunto focando orientar os alunos sobre meios contraceptivos e instruir o uso de camisinha, por exemplo, prevenção de doenças. A própria proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (Brasil, 1997), que prevê a orientação sexual na escola limita-se à discussão de temas que exploram os aspectos biológicos e preventivos: corpo, diferenças sexuais e prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis DSTs/Aids. Mas, e aqueles que nem tem isso claro na mente, por sequer terem vivenciado a experiência do primeiro beijo? Existe uma certa dificuldade em introduzir um tema tão importante para a formação pessoal e escolar a partir de moldes de borracha simulando órgãos genitais que muitas vezes não despertam o interesse dos alunos tendo em vista a grande possibilidade deles acorrerem a tais informações pela internet e afins. Evidentemente, sem desmerecer a importância destas questões que visam à saúde sexual da população, deve-se ressaltar que a sexualidade envolve questões que extrapolam o biológico e merecem uma reflexão sobre o contexto sociocultural em que os jovens estão inseridos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, é a partir de uma reflexão ampla e crítica que o estudo da sexualidade humana deveria estar respaldado. Em outras palavras, a sexualidade, enquanto uma questão ampla e social, que existe em todo ser humano, não pode ser entendida, interpretada, refletida ou estudada sem considerar as suas múltiplas determinações e suas várias manifestações. Portanto, entender a 100 sexualidade como um conceito amplo é um pressuposto essencial para ações educativas eficazes, uma vez que é necessário pretender abarcar no processo reflexivo as mediações sociais, históricas e individuais presentes na educação sexual, se queremos contribuir para a emancipação dos educandos também nesse campo. REFERÊNCIAS Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual (1a a 4a série). Brasília: MEC/SEF. Maia, A. C. B. (2006). Sexualidade e Educação Sexual: questões sobre a repressão. In A. Silva et al (Orgs.). Infância e Adolescência em perspectiva: volume I. (pp.9-16). São Vicente: Prefeitura Municipal de São Vicente.. Mottier, V. (2008). Sexuality: a very short introdution. New York: Oxford University Press. Nunes, C. A. (1987). Desvendando a Sexualidade. Campinas: Papirus. Werebe, M. J. G. (1998). Sexualidade, Política e Educação. Campinas: Autores Associados. 101 PAINÉIS RESILIÊNCIA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO SOBRE OS FATORES DE RISCO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Ana Paula Sesti Becker Josiane da Silva Delvan** Karoline Braun Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI/ SC. [email protected] INTRODUÇÃO Os estudos mais recentes sobre o desenvolvimento infantil enfatizam a importância de se examinar o contexto em que este ocorre e, em especial, o efeito da presença simultânea de múltiplos fatores de risco, tanto biológicos como ambientais. Estes estudos têm demonstrado que os cuidados prestados às crianças são conseqüências de muitos fatores, incluindo cultura, nível socioeconômico, estrutura familiar e características da própria criança. Há na literatura psicológica, uma constante associação entre a qualidade do ambiente e o desenvolvimento psicológico das crianças, e a importância de fatores de risco biológicos e sociais para o desenvolvimento infantil (Martins, 2004). Neste contexto, surge a expressão “fatores de risco” que tem sido associada ao desenvolvimento humano. Segundo Haggerty, Sherrod, Gamely & Rutter (2002), vários autores procuraram definir e identificar esses fatores ou as adversidades, a fim de avaliar sua influência no desenvolvimento de crianças e principalmente para organizar intervenções voltadas à redução de problemas de comportamento nesta população. Por fatores de risco, entende-se como sendo as variáveis ambientais ou contextuais que aumentam a probabilidade da ocorrência de algum efeito indesejável no desenvolvimento (Haggerty et al., 2002). Ou seja, os fatores de risco são aqueles que aumentam a probabilidade de um indivíduo apresentar comportamentos negativos e mal adaptados durante o seu desenvolvimento. Entende-se por resiliência, o processo pelo qual o indivíduo consegue superar as adversidades, adaptando-se de forma saudável ao seu contexto. Deslandes & Junqueira (2003) afirmam que resiliência não é o oposto a risco, são conceitos diferentes, porém são aspectos ** Professora Drª do curso de Psicologia da UNIVALI/ SC. 102 complementares. Embora o enfoque de risco e resiliência sejam diferentes, percebê-los como um conjunto possibilita um enfoque global, permitindo maior flexibilidade e fortalecimento na aplicação dos conceitos em busca da promoção da saúde. Desta forma, acredita-se ser de fundamental importância relacionar fatores de risco e resiliência e resiliência no processo de desenvolvimento infantil. Neste estudo, o objetivo foi investigar na literatura especializada, quais são os fatores de risco ao desenvolvimento infantil e resgatar o conceito de resiliência. Como objetivos específicos foram delimitados e identificadas as variáveis que podem tornar a criança vulnerável ao risco e levantar os mecanismos envolvidos no processo resiliente e suas implicações no processo de desenvolvimento infantil. MÉTODO Este estudo consistiu em uma abordagem qualitativa, de levantamento bibliográfico desenvolvido a partir do material teórico já existente na área, constituído principalmente por artigos científicos e livros sobre o tema. Foram seguidos os seguintes procedimentos para o levantamento das fontes bibliográficas, seleção e análise do material encontrado: a. Inicialmente, foi realizado um levantamento de dados bibliográficos na literatura especializada sobre o tema de pesquisa. A fonte para o levantamento de dados e a busca de material constituiu-se de meios disponíveis como: navegadores da web, bases de dados e bibliotecas. Em levantamento realizado nas bases de dados SCIELO, LILACS e banco de teses em busca de fatores de risco ao desenvolvimento infantil, foram encontrados vinte e quatro obras que englobam tema de pesquisa, sendo três em língua inglesa. Este levantamento considerou os trabalhos publicados entre os anos de 2000 a 2007. b. Em um segundo momento, com o material já coletado, foram realizadas leituras explanatórias dos materiais levantados. A leitura explanatória foi realizada de forma direcionada e objetiva ao material útil para a pesquisa, e aconteceu através da leitura dos resumos, das palavras – chave: desenvolvimento infantil, fatores de risco e resiliência, tendo auxílio do referencial teórico. Isto serviu para selecionar o material que seria utilizado na pesquisa. c. Posteriormente à seleção do material, foi realizada uma leitura analítica que teve a finalidade de ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes de forma que possibilitassem a obtenção de respostas ao problema de pesquisa.(Gil, 1991). d. Como a última etapa de realização da pesquisa é a mais complexa, foi realizada a leitura interpretativa, procurando relacionar o material bibliográfico selecionado para o estudo. RESULTADOS E DISCUSSÕES Este estudo teve como objetivo investigar na literatura especializada, quais são os fatores de risco ao desenvolvimento infantil e resgatar o conceito de resiliência. Portanto, foi constatado que a resiliência é um construto relativamente novo na Psicologia e poucas são as publicações que o 103 relacionam com o desenvolvimento infantil. Vários conceitos foram encontrados e pode-se perceber que a definição de resiliência se sustenta através de outros conceitos como adaptação / superação e ajustamento, estresse, fatores de risco e proteção, vulnerabilidade, entre outros. Contudo, pode-se observar que existe pouco consenso entre os autores, podendo o conceito de resiliência variar desde a capacidade inata que acompanha e protege o desenvolvimento, bem como uma habilidade adquirida que o sujeito apresenta frente às situações adversas. Foi possível verificar na literatura o exercício de duas forças opostas sobre as pessoas: de um lado as ameaças, o sofrimento, os perigos, os fatores de risco, o que vários autores chamaram de condições adversas ou experiências estressantes, ou seja, tudo o que torna o indivíduo vulnerável; e do outro lado estariam a competência, o sucesso, a capacidade de enfrentar, resistir, adaptar, reagir, isto é, o que as torna resilientes. Isto ocorre pelo fato de existir uma relevância no modo de se lidar com o estresse no desenvolvimento do indivíduo. Como já foi discutido, o conceito de resiliência traz justamente essa possibilidade de entendermos o estresse como grande oportunidade de crescimento e fortalecimento pessoal. Porém, é preciso encontrar um equilíbrio entre proteger as crianças de riscos e proporcionar-lhes as oportunidades de desenvolvimento necessárias para a promoção de resiliência. Ou seja, expô-las aos eventos estressantes e capacitando-as a lidar com eles. Não obstante se possa omitir que o conceito de resiliência está intimamente relacionado aos fatores de risco ao qual o sujeito está exposto ao longo do seu processo de desenvolvimento; realizar este estudo nos impulsiona para as possibilidades de superação frente às situações de doença, violência, miséria, entre outras variáveis, apontadas na literatura pesquisada. Pesquisar sobre a resiliência é, portanto, ver a possibilidade de quebra de previsões e de expectativas frente à continuidade desses problemas. REFERÊNCIAS Deslandes, S.F. & Junqueira, M.F.P. (2003). Resiliência e maus tratos à criança. Caderno de Saúde Pública, 19 (1), 227-235. Gil, A.C. (1991). Como elaborar projetos de pesquisa, 3º ed. São Paulo: Atlas. Haggerty, R.J., Sherrod, L.L., Gamely, N. & Rutter, M. (2002). Stress, risk and resilience in children and adolescents: process, mechanisms and interventions. New York: Cambridge University Press. Martins, M.F.D. et al. (2004). Qualidade do ambiente e fatores associados: um estudo em crianças de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Caderno de Saúde Pública. [on-line], v. 20, n. 3 [citado em 08 de outubro de 2011], p. 710-718. Disponível em <http:// www.scielo.br/pdf/csp/v20n3/07.pdf>. 104 PAINÉIS ROTINA E CONFLITOS PARA CASAIS Andrea Soutto Mayor (Universidade Severino Sombra – USS)1. Aline Caroline Ferreira Pontes Thiago de Almeida2. [email protected] INTRODUÇÃO Intimidade, rotina e conflitos nos relacionamentos amorosos A intimidade pode ser definida como o conhecimento profundo de alguém, conhecendo seus vários aspectos ou sabendo como esse alguém responderia em diferentes situações, por causa das muitas experiências em comum (Morris, 1997). Segundo Bader (2002) a intimidade traz consigo uma preocupação crescente com o bem-estar do parceiro, que inclui o medo de magoá-lo. Queiramos ou não admitir, passados os primeiros arrebatamentos dos apaixonados, o tempo passa, a familiaridade com o outro influencia os rumos da relação e ao conviver e conhecer melhor os parceiros escolhidos descobre-se que existem imperfeições nos seres amados. De acordo com Perel (2007) a familiaridade é apenas uma manifestação da intimidade. Este desvelamento contínuo do outro vai muito além dos hábitos superficiais e entra num mundo interior de pensamentos, convicções e sentimentos. Penetramos mentalmente em nossa cara-metade. Destarte, alguns pontos que antes eram encantadores, ou mesmo, não observados, começam a ser percebidos e passam a incomodar os componentes desta díade estabelecida. Consequentemente, o romantismo pode ficar cada vez mais rarefeito e os conflitos, impaciências e as tão temidas cobranças tornam-se realidades cotidianas vivenciadas pelo casal. Interjeições do tipo: “você não era assim...”; “você me enganou: parecia tão atencioso...” e, ainda, “no início era tudo tão diferente...”, começam a pertencer ao dia-a-dia dos casais. É importante ressaltar que os conflitos ocasionais são uma conseqüência natural, afinal, cada indivíduo dessa relação, vem de uma criação, trazendo consigo sua história familiar, 1.Profa. Dra. USS ; Prof. Mestre. 105 assim como manias, defeitos e subjetividades particulares. O problema está em detectar se essas diferenças são tão incompatíveis que possam se tornar uma ameaça real ao futuro da relação. MÉTODO Este estudo objetivou abordar questões como rotina, entendida como seqüência de atos, intimidade, entendida como conhecimento profundo do outro, e desejo, a fim de avaliar como esses fatores podem influenciar positivamente e negativamente na vida amorosa de um casal. Ressalta, também, a problemática da comunicação no relacionamento amoroso, baseando-se no fato de homens e a problemática da comunicação no relacionamento amoroso, baseando-se no fato de homens e mulheres, devido a um contexto sociocultural, adotarem formas bem distintas de interpretar, perceber e dialogar. Rotina e comunicação nos relacionamentos amorosos A rotina é uma seqüência de usos ou atos que fazemos todos os dias de forma mecânica. Ela é essencial para a vida, pois permite que executemos ações e padrões de comportamento que nos mantém socialmente adaptados. Contudo, há pessoas que se acomodam tanto que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos. A rotina pode ser algo positivo ou negativo de acordo com a forma como se a percebe e conduz. Nesse sentido, poder-se-ia classificar a rotina em benéfica ou mortífera (Cifuentes, 2001). A rotina benéfica é aquela que se instaura naturalmente e que é indispensável. Ela permite que se cumpra com regularidade, constância e pontualidade os deveres e compromissos. É ela que propicia uma vida sólida e dá segurança ao indivíduo. Entretanto, a rotina mortífera, é aquela que passa do hábito para o costume e torna-se acomodação. Esta rotina torna os seres práticos, mecânicos, automatizados, como robôs sem vida. Leva-os a ficar sem energia, apáticos, e muitas vezes, indiferentes. Essa rotina se caracteriza pela monotonia densa, que torna a vida insípida, uniforme, tediosa e previsível, que passa a reclamar por uma renovação. Logo, a rotina torna-se prejudicial quando não mais se renovam os planos, os programas, a maneira de lidar consigo, com os outros e com o mundo, ou seja, quando não se reinventa formas diferentes de fazer e perceber as mesmas situações. Rotinas adequadas e inadequadas para o relacionamento. Grande parte dos casais tem contato com a rotina que pode comprometer a manutenção e a qualidade do relacionamento constituído. Vivenciar uma rotina não produz emoção, tais quais aquelas similares a que sentimos ou identificamos por ocasião dos primeiros arroubos romântico, não traz entusiasmo e, na maioria das vezes, é o agente principal do desamor tornando-se, assim, o pivô da separação do casal. Para estes casos, a rotina pode provocar desgaste da relação, dificuldade 106 de comunicação e desentendimentos entre o casal. Nesse sentido, é importante ressaltar que os conflitos ocasionais são uma conseqüência natural, afinal, cada indivíduo dessa relação, vem de uma criação, trazendo consigo sua história familiar, assim como manias, defeitos e subjetividades particulares. O problema está em detectar se essas diferenças são tão incompatíveis que possam se tornar uma ameaça real ao futuro da relação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Relacionamentos amorosos são exemplos de uma interação extremamente sofisticada e não existem quaisquer avaliadores que predigam com 100% de acerto a manutenção ou a dissolução do mesmo. Somente os parceiros da díade formada, por meio de sua convivência e da forma com que lidam com os conflitos inerentes à relação, são capazes de decidirem o futuro deste. Um relacionamento duradouro resulta da capacidade de o casal solucionar os conflitos que são inevitáveis em qualquer relação. Não há como erradicar conflitos completamente, mas podemos contar com o nosso parceiro como nosso aliado para podermos resolvê-los conforme forem surgindo ou temos a escolha de o(a) identificarmos como o(a) nosso(a) rival e aumentarmos ainda mais os conflitos inerentes a quaisquer interações humanas. REFERÊNCIAS Bader, M. J. (2002). Arousal: The secret Logic of sexual Fantasies. Nova York: St. Martins. Cifuentes, R. L. (2001). As crises conjugais. São Paulo: Editora Quadrante. Perel, E. (2007). Sexo no cativeiro. Rio de Janeiro: Objetiva. Morris, D. (1997). Intimate Behavior: A Zoologist Classic Study of Human Intimacy. Nova Iorque: Kodansha Globe. 107 PAINÉIS A HOMOFOBIA NO AMBIENTE DE TRABALHO José Airton da Silva (Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE) Thiago de Almeida (ITES) Maria Luiza Lourenço (Faculdade de Educação – USP) [email protected] INTRODUÇÃO A discriminação baseada na orientação sexual no ambiente de trabalho é bastante comum (Chung, 1995). Em virtude disso, a luta contra a discriminação, o preconceito e a violência dirigida contra homossexuais vêm se tornando questão de destaque no que se refere à mobilização por parte dos grupos homossexuais. O que se percebe é que as diretrizes de igualdade e proteção aos homossexuais constituem, na verdade, mais a exceção do que a regra propriamente dita. Em seus estudos, Croteau (1996) afirma ainda haver preconceito quando da revelação da orientação sexual no ambiente de trabalho. Apesar de ser visto como um fenômeno complexo oriundo de diversas causas, grupais ou individuais, é possível definir o preconceito como “atitude hostil ou negativa para com determinado grupo, baseada em generalizações deformadas ou incompletas”, segundo Aronson, (1999) citado por Nunan (2003, p. 59). Argumenta-se que o preconceito contra homossexuais no ambiente de trabalho é reflexo da discriminação enfrentada por esses indivíduos pela sociedade que geralmente ainda percebe a homossexualidade como um conjunto de atitudes anormais e desviantes. Nesse sentido, fala-se em homofobia, termo utilizado e associado ao preconceito contra os homossexuais. Derivada das palavras gregas homos que quer dizer “o mesmo” e phobikos que quer dizer “ter medo e/ou aversão a”, a palavra homofobia foi utilizada oficialmente por George Weinberg, em 1972, no seu livro: “A Sociedade e o Homossexual Saudável”. Usada para definir a repulsa de alguns indivíduos face às relações afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo, a homofobia é caracterizada pelo medo e desprezo pelos homossexuais, muitas vezes por se considerar crenças que 108 assumem que a heterossexualidade é a única forma de sexualidade normal, natural, aceitável e, portanto, hegemônica (Silva, 2007). Este estudo reúne alguns apontamentos na literatura acerca da questão da homofobia circunscrita no ambiente laboral. Homofobia: será que ele é? Será que eu sou também? Defendida também como o medo que algumas pessoas têm delas próprias serem homossexuais ou de que outras pessoas as vejam ou percebam como tais, a homofobia inclui preconceito, discriminação, abuso verbal e atos de violência originados por esse medo e ódio – o tratamento e as atitudes dos colegas diante do gay (seja por medo de serem confundidos como membros do grupo gay, seja para não se excluírem do grupo dominante ao qual pertencem), são tendenciosas ao afastamento e à discriminação. Assim, identifica-se homofobia até mesmo em homossexuais que vivem em constante gerenciamento da identidade homossexual (seja para se adequarem ao ambiente hostil, seja para manter segredo da orientação sexual); e também, em algumas situações, negam a própria homossexualidade por meio de atitudes e comportamentos característicos de heterossexuais, por medo ou para evitar sanções e comportamentos homofóbicos. Por esta perspectiva, infere-se que a homofobia engendra um círculo vicioso, no qual ela mesma se retroalimenta. Outro motivo apontado como justificativa dos maus tratos dados aos homossexuais associa-se a crença de que relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo possam ser responsáveis pelo aumento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em relação à disseminação de ISTs entre práticas afetivas e sexuais entre a população heterossexual (Almeida, 2007; Petrilli Filho, 2004). Quando no auge da descoberta da AIDS e de outras doenças afins, os níveis de homofobia contra esse grupo minoritário eram altos, por serem os homossexuais os mais atingidos por essas doenças. As pessoas acreditavam ser possível contrair a doença por meio do contato físico com os homossexuais e, mesmo diante de esforços de educação nesse sentido, o medo da AIDS tornou-se a razão adicional porque lésbicas, gays e bissexuais não são bem-vindos em diversos ambientes, segundo McQuarrie (1998). Com o tempo, em virtude da transmissão de conhecimento viabilizada por campanhas sociais, a discriminação e o preconceito contra os portadores do vírus HIV diminuíram, mas contra os homossexuais não. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a Constituição Brasileira de 1988 tenha trazido avanços importantes quanto à valorização da diversidade humana, no sentido de rejeitar qualquer tipo de discriminação de raça, gênero, sexo, crenças religiosas, idade e defender a igualdade de direitos, a liberdade e o respeito às diferenças humanas, acredita-se que muito ainda há por se fazer. Não raramente, a homossexualidade e o 109 homoerotismo são considerados como atitudes anormais, desviantes e estranhas que evidenciam padrões de comportamento e convívio sociais não determinados pela sociedade. Talvez, atitudes manifestas relacionadas a homofobia não sejam tão bem percebidas. Contudo, o preconceito contra os homossexuais no ambiente laboral pode ser percebido sob diversas ações de gestão organizacional que levam o indivíduo homossexual à demissão, a ser vítima de sanções e punições não decorrentes de mau comportamento ou desempenho ruim, mas à retaliação de oportunidades, à exclusão social dentro da empresa. Isso, embora não aconteça em todos os lugares, pode ser aqui ressaltado como situações freqüentes em diversos ambientes de trabalho que compõem o mercado de empregos, havendo uma ou outra exceção que exime o homossexual de viver tais situações, estando essa exceção relacionada ao tipo de empresa em que se trabalha, ao tipo de vínculo empregatício, e principalmente, ao ambiente de inserção do empregado homossexual. Enfim, o preconceito e a humilhação não podem superar o desejo de ser feliz e intimidar o desejo de liberdade das pessoas e os direitos a viverem em sociedade. REFERÊNCIAS Almeida, T. (2007). Amor e sexualidade na Contemporaneidade: a perspectiva homoerótica do enamoramento. In Anais do XI Congresso Brasileiro De Sexualidade Humana: Amor & Sexo na Contemporaneidade. Recife: SBRASH. Chung, Y. B. (1995). Career decision making of lesbian, gay and bisexual individuals. The Career Development Quarterly, 44(2), 178-186. Croteau, J. M. (1996). Research on the Work Experiences of Lesbian, Gay and Bisexual People: an Integrative Review of Methodology and Findings. Journal of Vocational Behavior, 48(18), 195-209. McQuarrie, F. A. E. (1998). Expanding the concept of diversity: discussing sexual orientation in the management classroom. Journal of Management Education, 22(2), 162-172. Nunan, A. (2003). Homossexualidade: do preconceito aos padrões de consumo. Rio de Janeiro: Caravansarai. Petrilli Filho, J. F. (2004). Vulnerabilidade às IST/aids entre atiradores do serviço militar obrigatório: uma apreciação sociocomportamental. (189 p.). Dissertação de Mestrado. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), USP, Ribeirão Preto. Silva, J. A. (2007). H & H: Homoerotismo e Homofobismo masculino no mercado de trabalho. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade Frassinetti do Recife/FAFIRE, Recife. 110 PAINÉIS CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO COMPORTAMENTO SEDUTOR COMPULSIVO Thiago de Almeida (ITES) Monica L. Zilberman (HC-USP) [email protected] INTRODUÇÃO Um número crescente de estudos tem investigado os processos pelos quais as pessoas estabelecem, desenvolvem e influenciam a manutenção dos laços emocionais durante todo o ciclo de vida (Almeida, Rodrigues & Silva, 2008; Sophia et al, 2007). A experiência do amor envolve um certo grau de reciprocidade e de equilíbrio entre os parceiros. No entanto, muitos pacientes se queixam de dificuldades em se estabilizar em relacionamento afetivossexual com uma única parceria elegida para tal finalidade e, dessa forma, investem seu tempo e demais recursos, em diferentes parcerias e, portanto, estendem o relacionamento para além da fase inicial de sedução. Estes pacientes relatam: 1) Um histórico de relações sucessivas e intermitentes que conduzem ao sofrimento; na maioria dos casos, eles tomam a iniciativa de romper, ou ainda, afastarem-se do parceiro; 2) Pensamentos obsessivos e intrusivos de seduzir parceiros; 3) Comportamentos de flerte compulsivos, mesmo contrário à sua vontade consciente; 4) Que o principal objeto de desejo é o comportamento de conquista, e não necessariamente, a pessoa conquistada; 5) Que eles dificilmente conseguem manter um relacionamento amoroso com um único parceiro, em médio ou em longo prazo, tendo dificuldades em manter a fidelidade e compromisso a essa pessoa; 6) Alimentam expectativas, esperanças e fantasias de se engajar a uma parceria em potencial, quando seu comportamento sedutor não surte os efeitos de conquista desejados; 7) Investem boa parte de seu tempo e esforços em flertar com outras pessoas. Quando sentem o parceiro se apaixonou, seu interesse romântico pode instantaneamente, arrefecer; 8) Que o comportamento sedutor repetitivo é geralmente estabelecido com pessoas que oferecem alguma condição de desafio (padres e freiras, pessoas que já se comprometeram a outras, celebridades, homossexuais, entre outras possibilidades); 111 9) Que o interesse pelo outro pode reduzir drasticamente mesmo sem ocorrer sexo; 10) Geralmente foram mal sucedidas as suas tentativas para reduzir ou parar o comportamento sedutor e pensamentos intrusivos relacionados com o flerte. RESULTADO E DISCUSSÕES A dinâmica anteriormente descrita se assemelha ao comportamento intitulado Donjuanismo (Lubbe, 2003), também conhecida como satiríase, ninfomania ou impulso sexual excessivo, entendida como um comportamento relacionado à sexualidade excessiva e compulsiva que se manifesta por sua necessidade de ter muitos encontros e conquistas sexuais. No entanto, ele difere precisamente porque agindo sexual não é essencial para a caracterização da sedução compulsiva mas o esforço conquista em si. Lee (1988) sugeriu uma taxonomia de Estilos de Amor, a saber: Eros, Ludus, Storge, Pragma, Mania e Ágape. A dinâmica da sedução compulsiva se assemelha ao estilo Ludus caracterizada pelo estabelecimento de parcerias variadas e, muitas vezes, simultâneas. Ludus é associado com a emoção dos que procuram mais que a busca de laços afetivos. Os relacionamentos fundamentados neste estilo de amor são superficiais e não priorizam o envolvimento com os outros, visto como restritivas à liberdade do parceiro lúdico. Outro ponto de vista complementar do comportamento sedutor é fornecido pela Teoria do Apego, formulada por Bowlby (1969/1984). Este é um conceito teórico de desenvolvimento socioemocional, que considera a existência de uma necessidade humana inata para formar laços emocionais com primeiros cuidadores (que correspondem, geralmente, a mãe ou ao pai). O tipo de vínculo que irá desenvolver posteriormente na vida adulta depende muito do estilo da pessoa que cuida da criança e pode ser: segura, ansioso-ambivalente, e evitativo. Este último é caracterizado por baixos níveis de compromisso, de intimidade e de cuidado com o outro, que se assemelha ao comportamento sedutor compulsivo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a escassez de estudos e dada a relevância deste fenômeno, este estudo sugere mais pesquisas que abordem essa questão, pois, consideramos fundamental o entendimento do comportamento sedutor e o estabelecimento de abordagens terapêuticas que promovem a formação de laços emocionais de longa duração, de modo que as pessoas que sofram com esta dinâmica possam, haja vista que muitos deles desejam, estabelecer uma família. REFERÊNCIAS Almeida, T., Rodrigues, K. R. B., & Silva, A. A. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia (UFRN), 13, 83-90. Bowlby J. (1984). Apego: A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1969). 112 Lee, J. A. (1988). Love-styles. In R. J. Sternberg & M. L. Barnes (Eds). The Psychology of love. (pp. 38-67). New Haven: Yale University Press. Lubbe, T. (2003). Diagnosing a male hysteric: Don Juan-type. International Journal of Psychoanalysis, 84(4), 1043-59. Sophia, E. C., Tavares, H., Berti, M. P., Pereira, A.P., Costa, A. L., Oliveira, C. N., Gorenstein C., & Zilberman, M. L. (2009). Pathological love: impulsivity, personality, and romantic relationship. CNS Spectrums 14, 268-74. 113 PAINÉIS O TÉRMINO DE UM RELACIONAMENTO AMOROSO: SENTIMENTOS PREDOMINANTES E IMPACTOS NA VIDA DIÁRIA APÓS A SEPARAÇÃO Katiane C. S. Goulart Luciana Lazarini Bianca C. Bronini Ana Paula Parada Elisângela M. M. Pratta Thiago de Almeida (ITES) [email protected] INTRODUÇÃO O término de um relacionamento amoroso é uma situação vivenciada pela maioria dos indivíduos em sua vida adulta. Féres-Carneiro (2003) ressalta que, embora a separação possa ser, às vezes, a melhor solução para um casal cujos membros não se consideram capazes de continuar tentando ultrapassar suas dificuldades, ela é sempre vivenciada como uma situação extremamente dolorosa, havendo um luto a ser elaborado. Ultimamente, o processo de separação amorosa vivenciado pelos componentes da relação, muito mais que antes, devido às transformações sociais e, conseqüentemente de princípios e valores, acarreta muito sofrimento físico e psíquico ao indivíduo. Embora, a separação tenha se tornado algo comum e freqüente nos dias atuais, ainda é vivenciada com muito sofrimento pelas pessoas, desse modo, prejudicando a vida pessoal, familiar, profissional, acadêmica e saúde física e psíquica. Devido à dificuldade de se estabelecer uma única forma de vivenciar a separação, bem como compreender o sofrimento físico e psíquico dos indivíduos resultantes dessa separação, o presente estudo objetiva investigar como homens e mulheres vivenciam o processo de dissolução da relação conjugal, e busca compreender as formas de enfrentamento e os sentimentos emergentes após o término de relacionamento amoroso. MÉTODO Participantes Este estudo contou com a participação de seis pessoas, de ambos os sexos, na faixa etária de 21 a 30 anos. Todos são discentes da Universidade Camilo Castelo Branco na cidade de Descalvado/SP, dos cursos de Letras, Fisioterapia e Pedagogia. Os participantes foram selecionados de acordo com os 114 critérios, a seguir, descritos: (1) Ter vivenciado um término de relacionamento amoroso no período de um mês a um ano, a fim de padronizar um tempo específico com relação a vivencia da separação; (2) Estar dentro da faixa etária de idade estabelecida pela pesquisa, visando a padronização da idade; (3) Não estar namorando atualmente; (4) Ter vivenciado um relacionamento amoroso (namoro) durante o período igual ou maior a um ano; (5) Não ter vivenciado uma situação de se casar; e, (6) Não apresentar história de comprometimento psicológico ou psiquiátrico graves, na tentativa de evitar conteúdos específicos de quadros psicopatológicos. Materiais Esta pesquisa utilizou os seguintes materiais: (1) Roteiro de Triagem, contendo os critérios para a seleção dos participantes para a entrevista, relativos à faixa etária, vida relacional e saúde mental; (2) Entrevista Semi-Estruturada, contendo tópicos relativos à vida atual, família, infância, adolescência e vida amorosa do participante. Esta tem o intuito de realizar uma investigação mais ampla dos aspectos relacionados ao desenvolvimento, personalidade e relacionamentos do indivíduo, em seu contexto social; e, (3) Gravação e transcrições das entrevistas. Procedimentos de Coleta de Dados Ao entregar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), as pesquisadoras o leram e explicaram as informações contidas no TCLE a fim de que os participantes tivessem uma visão mais clara da colaboração delas. Após o esclarecimento de todas as possíveis dúvidas, o termo era assinado. Nesse momento, o sigilo era enfatizado aos participantes e esclarecido o uso do gravador, o qual não foi recusado por nenhum participante. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas e digitalizadas. Procedimento de Análise de Dados Para a análise qualitativa do material, este estudo utilizou em sua etapa de planejamento, o esquema trazido por Biasoli-Alves (1988) para realização das entrevistas. Nele, observaram-se seis etapas: (1) construção do roteiro; (2) execução da entrevista e registro literal dos dados; (3) transcrição literal; (4) as leituras das transcrições; (5) sistematização dos dados; e, (6) a redação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Referente aos relacionamentos amorosos pode-se citar que houve pontos em comum entre os entrevistados. Todos relataram que os primeiros namoros ficaram registrados como um relacionamento significativo mais precoce, vivenciando o seu término com intenso sofrimento, embora tenham relatado percepções agradáveis no início do relacionamento. Nesse sentido, os resultados corroboram com a literatura que ressalta como a de Almeida, Rodrigues e Silva (2008), os quais caracterizam o início de uma relação amorosa os indivíduos como um processo, no qual as pessoas depositam nele, um conjunto de desejos e expectativas que quase sempre lhes cegam parcialmente para a realidade. Mas, como pode se pressupor, a paixão é transitória, e a relação amorosa realmente começa quando se consegue sair de um aparente estado de transe e encarar a 115 realidade assim como ela é. Em outras palavras, investir no conhecimento da fase inicial do relacionamento amoroso pode diminuir consideravelmente desassossegos que poderiam ser evitados como a dor de uma separação e mesmo contribuírem para a manutenção da relação. Os resultados obtidos demonstraram que as mulheres vivenciam o processo de separação buscando isolamento e experenciando o luto, enquanto os homens buscam o contato social como forma de se livrarem do sofrimento causado pela separação. Frente a isso homens e mulheres vivenciam o luto pela separação, porém por meio de estratégias de enfrentamento diferenciadas, o que pode estar ligado a própria expectativa em relação aos gêneros. Nesta pesquisa, observou-se também que a maioria dos homens mostrou tentativas de se livrarem do sofrimento causado pela separação por meio de atividades de lazer com amigos, tentando dar um novo sentido para suas vidas, ou então, vivenciando outras aventuras que deixaram de realizar durante o relacionamento. No que se refere às mulheres, o luto mostrou ser vivenciado com muito sofrimento, pelo fato de idealizarem a relação, criando expectativas irreais. Elas, então, sinalizam não entender o fato do ex-companheiro procurar rapidamente se relacionar novamente com outra pessoa. CONSIDERAÇÕES FINAIS A relação entre os resultados obtidos no grupo de homens e mulheres para este estudo fornece algumas informações sobre como cada gênero vivencia o processo de separação amorosa, em que se pode constatar as diferenças quanto as estratégias de enfrentamento do sofrimento e as mudanças ocasionadas. Porém, pode-se dizer que todos os participantes desse estudo vivenciaram o luto pela separação com sofrimento e dor. Verificou-se que os homens tendem a vivenciar o sofrimento de maneira mais amena do que as mulheres, comportando-se e manifestando seus sentimentos de forma discreta. Os resultados obtidos demonstraram que as mulheres vivenciam o processo de separação buscando isolamento e experenciando o luto, enquanto os homens buscam o contato social como forma de se livrar do sofrimento causado pela separação. Frente a isso homens e mulheres vivenciam o luto pela separação, porém, por meio de estratégias de enfrentamento diferenciadas, o que pode estar ligado à própria expectativa em relação aos gêneros. REFERÊNCIAS Almeida, T., Rodrigues, K. R. B., & Silva, A. A. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia (UFRN), 13, 83-90. Biasoli-Alves, Z. M. M. (1988). Intersecções das abordagens qualitativas e quantitativas. In D. G. Souza, V. R. Otero, & Z. M. M. Biasoli-Alves (Orgs.). Anais da 18ª Reunião Anual de Psicologia da Sociedade de Psicologia. (pp. 487-489). Ribeirão Preto, SBP. Féres-Carneiro, T. (2003). Modelos de família e intervenção terapêutica. Interações, 8(6), 57-80. 116 PAINÉIS VIVÊNCIAS DA INFIDELIDADE CONJUGAL FEMININA Débora Lago de Sousa Rosita Barral Santos Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), BA Thiago de Almeida1 [email protected] INTRODUÇÃO Para Drigotas e Barta (2001) a infidelidade pode ser definida como uma “violação das normas dos parceiros que regulam o nível emocional ou da intimidade física com pessoas fora do relacionamento” (p. 177). Pittman (1994) define a infidelidade como uma quebra de confiança ou como o rompimento de um acordo, e nos coloca que há vários tipos de infidelidade. Dessa forma, a infidelidade pode ser sexual, emocional, ou até, ambas. ` De acordo com Almeida, Rodrigues e Silva (2008) a infidelidade sexual é qualquer comportamento que envolva um contato sexual, como beijar, toques íntimos, sexo oral ou quaisquer outros tipos de relações sexuais, entretanto, a infidelidade emocional é definida pela formação de um vínculo emocional e afetivo por uma terceira pessoa, que envolveria um tipo de relacionamento onde ocorreriam conversações íntimas, sentimentos como paixão, encontros marcados, ou um encanto pelo outro. Segundo Heilborn (2006) a forma como cada cultura considera adequado o uso dos corpos diz respeito às ideias dominantes na sociedade em cada momento histórico. Atualmente, por exemplo, a infidelidade no sexo masculino é culturalmente mais aceita e quase “estimulada”, encontrando justificativa através do instinto masculino, no desejo (Vavassori, 2006). Levando-se em consideração que a infidelidade provoca as mais variadas emoções e reações entre parceiros que a vivenciam, o presente estudo busca compreender os significados da infidelidade para mulheres que já foram infiéis na relação conjugal. 1. (Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior “Dr. Aristides de Carvalho Schlobach” – ITES) 117 MÉTODO Participantes Este estudo foi realizado com cinco mulheres casadas, com idade variando entre 30 a 38 anos, que já foram infiéis na relação conjugal, as entrevistadas serão mencionadas como E1; E2; E3; E4; E5 com a finalidade de anonimatá-las. Local de coleta dos dados As entrevistas foram realizadas na Clínica Escola de Psicologia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Vitória da Conquista (BA) para maior preservação do sigilo das mulheres. Procedimento de coleta dos dados Juntamente com Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi apresentado um roteiro para obtenção de informações de dados pessoais das mesmas. Procedimento de análise dos dados Este estudo se caracteriza por uma pesquisa qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta dos relatos foi uma entrevista semi-estruturada que, segundo Martins e Bicudo (1989) é percebida como um encontro social, que possui características particulares, dentre as quais é possível citar a empatia, intuição e imaginação. Após a transcrição dos relatos, estas mulheres foram submetidas aos quatros passos da análise, descritos por Martins e Bicudo (1989): (1) Leitura integral dos relatos; (2) Realizou-se uma leitura crítica e reflexiva dos relatos, numa perspectiva psicológica; (3) Agruparam-se as unidades de significados encontradas em categoria; (4) Fez-se uma síntese das unidades de significado. Resultados A partir do roteiro para obtenção de informações foi possível caracterizar o perfil das participantes. Tabela 1-Caracterização do perfil das participantes Identificação Idades Estado Tempo Escolaridad Civil de e Profissão Religião Casada E.1 30 anos Divorciada 6 anos 2º grau Professora Evangélica E.2 31 anos Solteira 14 anos 2 º grau Vendedora Católica E.3 38 anos Desquitada 12 anos 3 º grau Pedagoga Não tem E.4 32 anos Casada 11 anos 3 º grau Pedagoga Evangélica E.5 37 anos Divorciada 10 anos 3 º grau Administra Evangélica dora 118 A análise dos resultados propiciou a construção de seis categorias: (1) A frustração e a insatisfação na relação conjugal; (2) O envolvimento emocional como justificativa para a infidelidade; (3) A dupla moral sexual; (4) A culpa e o arrependimento pela infidelidade; (5) O prazer na relação extraconjugal e, (6) A infidelidade culminando na separação conjugal. Os resultados evidenciaram que a insatisfação dessas mulheres com seus relacionamentos e o fato delas encontrarem em outros homens atributos que não eram percebidos em seus parceiros, as levam a um novo envolvimento afetivossexual. Também foi relatado o sentimento de culpa em função da discriminação e do julgamento que a sociedade faz com as mulheres infiéis. Os conhecimentos dos significados da infidelidade apontados nesta pesquisa podem ser úteis ao campo da Psicologia para auxiliar na vivência destas mulheres, bem como contribuir para a maior compreensão das relações conjugais na contemporaneidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na verdade, a idéia de fidelidade para a espécie humana não é uma lei natural, isto é, os seres humanos não são monógamos por natureza, mas devido a condicionantes culturais tais como religião, moral, dentre outras possibilidades. Entretanto, dizer simplesmente que a fidelidade não é natural é meramente querer dizer que a infidelidade o é, e não acrescenta nada ao que já se sabe sobre este assunto. Tanto uma como a outra são naturais, dependendo da pessoa em questão, da sua cultura, da sociedade em que se vive, da sua história pessoal, somente para citar alguns. Dessa forma, todos podemos ser (in)fieis em determinada altura da nossa vida, depois de sermos (in)fieis a maior parte da nossa vida. Assim, em relação à temática não há uma polarização absoluta. REFERÊNCIAS Almeida, T., Rodrigues, K. R. B., & Silva, A.A. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia (UFRN), 13, 83-90. Drigotas, S. & Barta, W. (2001). The cheating heart: scientific explorations of infidelity. Current Directions in Psychological Science, 10(5), 177-180. Heilborn, M. L. (2006). Entre as tramas da sexualidade brasileira. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 14(1), 43-59. Martins, J., & Bicudo, M. A. V. (1989). A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e recursos básicos. (1ª. ed.). São Paulo: Moraes/Educ. Pittman, F. (1994). Mentiras privadas: a infidelidade e a traição na intimidade. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. Vavassori, M. B. (2006). Mudanças e permanências: um olhar antropológico sobre as relações de gênero na cultura brasileira. Revista Estudos Feministas (Florianópolis), 14 (2), 549-571. 119 PAINÉIS O ‘DEVIR’ DO AMOR E DA SEXUALIDADE NO PROCESSO DO ENVELHECIMENTO Ester Santiago Duarte Carqueijeiro Antunes Andrea Soutto Mayor1. Universidade Severino Sombra – USS Thiago de Almeida (ITES)2. [email protected] INTRODUÇÃO É fato que o envelhecimento da população brasileira é hoje uma realidade. Outro fato é que a sexualidade faz parte da natureza e obedece a uma necessidade fisiológica e emocional. Manifestase de forma diferente nas fases progressivas do desenvolvimento humano e sua expressão é determinada pela maturidade orgânica e mental. Infelizmente, convivemos em uma sociedade que priva possibilidades dos idosos de pensarem sua sexualidade e a procura de relacionamentos amorosos de forma autônoma e destituídas de preconceitos e estereótipos. Esse texto se propõe a fazer uma reflexão neste âmbito ao mostrar que independentemente da idade ou das eventuais limitações físicas da Terceira Idade os idosos podem obter acesso e ter os mesmos privilégios do exercício da sexualidade quanto qualquer outro segmento da população. A sexualidade na Terceira Idade Se a questão da afetividade e da sexualidade está presente em todos os momentos da vida, não será no processo do envelhecimento que estaria ausente. Contudo, percebe-se que ao investigarmos o processo de envelhecimento, que o conhecimento atual aquilatado a respeito do mesmo, em relação a alguns temas como o estudo do amor e da sexualidade, carece de identidade, e é constituído por elementos de discursos teóricos e ideológicos fundamentados em legados herdados ultrapassados, muitas vezes, oriundos das ciências sociais e da medicina (Neri, 1993). A sexualidade faz parte da natureza e obedece a uma necessidade fisiológica e emocional. 1Profa. Dra– USS ; 2. Prof. Mestre 120 Manifesta-se de forma diferente nas fases progressivas do desenvolvimento humano e sua expressão é determinada pela maturidade orgânica e mental. A sexualidade é uma forma de comunicação que visa o prazer, o bem-estar, a autoestima e a busca de uma relação íntima, compartilhando o amor e o desejo com outra pessoa para criar laços de união mais intensos. A relação sexual tem sido considerada uma atividade própria, e quase monopólio das pessoas jovens, das pessoas com boa saúde e fisicamente atraentes. A ideia de que as pessoas da Terceira Idade também possam manter relações sexuais não é culturalmente muito aceita, preferindo-se ignorar e fazer desaparecer do imaginário coletivo a sexualidade deles. Apesar desses tópicos culturais, na Terceira Idade conserva-se a necessidade psicológica de uma atividade sexual continuada não havendo, pois, idade na qual a atividade sexual, os pensamentos sobre sexo ou o desejo acabem (Varella, 2007). Devido ao desconhecimento e à pressão cultural, muitas pessoas da Terceira Idade, nas quais ainda é intenso o desejo sexual, experimentam um sentimento de culpa e de vergonha, chegando a crer serem anormais pelo simples ato de se perceberem com vontade do prazer. É preciso desmistificar esta realidade. É certo que com o envelhecimento se produzem transformações fisiológicas no homem e na mulher, mas não são inibidoras da atividade sexual. Na Terceira Idade não se perde o apetite sexual. Simplesmente, já não têm pressa. Enquanto os mais novos obtêm maior gratificação na quantidade, durante a Terceira Idade reina a qualidade. “O que muda é apenas a freqüência dos desejos e os ritmos das relações sexuais, mas a sexualidade continua viva.” (Capodieci, 2000, p. 64). Na percepção de Capodieci (2000) a geração atual de Terceira Idade, muitos não tiveram orientação sexual ou são frutos de uma educação muito severa. Os pais destes tinham por orientação sexual os conceitos e preconceitos repressores, herdados de outra geração mais repressora ainda, e para muitos, o sexo era para ser praticado na escuridão com o intuito de dele nascerem filhos. Na visão de Risman (2005) o que se percebe, então, é que a escassez de informações sobre o processo de envelhecimento, assim como das mudanças na sexualidade em diferentes faixas etárias e especialmente na Terceira Idade, tem auxiliado a manutenção de preconceitos e, conseqüentemente, trouxeram muitas estagnações das atividades sexuais das pessoas com mais idade. Segundo Neri (1993): “Vários elementos são apontados como determinantes ou indicadores de bem-estar na velhice: longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo; competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda; 121 continuidade de papéis familiares e ocupacionais, e continuidade de relações informais em grupos primários (principalmente rede de amigos).” (p. 10). Se além desses elementos acima, ainda a maturidade trouxer o afeto, a paixão, o namoro, o amor, o sexo, a cumplicidade, o companheirismo, dentre outros, o idoso pode estar certo que, poderá ter uma satisfatória vida afetiva onde as possibilidades de relacionamento amoroso nesta etapa da vida, apesar de algumas vezes serem difíceis, são mais viáveis do que muitas pessoas imaginam (Almeida & Lourenço, 2007). Dessa forma, se o idoso permitir-se tais vivências pode-se supor que ele terá um envelhecimento positivo, ao contrário, daqueles que somente darão vazão a um saudosismo passivo, ou ainda, a quaisquer outras posicionamentos imobilizadores e negativos. A capacidade de amar não tem limite cronológico. O limite está no campo psicológico, no preconceito e na intolerância social. O limite não está no real do corpo, ou na capacidade de sonhar, de simbolizar e de viver a vida (Butler & Lewis, 1985). CONSIDERAÇÕES FINAIS Resgatar o direito a uma vida amorosa e sexual na Terceira Idade implica poder pensar o amor em suas formas de transformação, ou seja, outras formas de amor que passam pela ternura, pelos contatos físicos, a expressão corporal, o olhar, o toque, a voz, redescobrindo as primeiras formas de amor do ser humano. Na Terceira Idade não se deixa de amar, mas reinventam-se formas amorosas. É de extrema importância poder pensar que a partir da redescoberta do sexo e do amor, enfim, de sua sexualidade, as pessoas da Terceira Idade reconquistam o lugar vital de homem e mulher e não mais o de “velho”, que tem como futuro o fim da vida. Novamente, é na relação com o outro que está à importância da redescoberta do desejo de viver. As fantasias sexuais, sob forma de sonho, ou sublimadas em expressões artísticas, retomadas na relação direta de namoro ou na relação com os familiares, netos, bisnetos, amigos, recolocam na vida, independentemente da idade ou da limitação física da Terceira Idade. REFERÊNCIAS Almeida, T., & Lourenço, M. L. (2007). Envelhecimento, amor e sexualidade: utopia ou realidade? Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 10(1), 101-113. Butler, R. N., & Lewis, M. I. (1985). Sexo e amor na Terceira Idade. (Trad. I. Carvalho Filho). São Paulo: Summus. Capodieci, S. A. (2000). A idade dos sentimentos: amor e sexualidade após os sessenta anos. (Trad. A. Angonese). São Paulo: EDUSC. Neri, A. L. (Org.). (1993). Qualidade de vida e idade madura. São Paulo: Papirus. Risman, A. (2005). Sexualidade e Terceira Idade: uma visão histórico-cultural. Textos Envelhecimento, 8(1). Varella, D. (2007). Tempo, o dono da vida: o amor na maturidade. Recuperado em junho/2008 de < http://fantastico.globo.com >. 122 PAINÉIS REPRESENTAÇÕES DOS HOMENS HETEROSSEXUAIS ACERCA DO CIÚME CONTEMPORÂNEO Maria Raquel Moretti Pires Maíra Costa Abreu Marília Criscuolo Urbinati Rafael De Tilio Thiago de Almeida [email protected] INTRODUÇÃO O ciúme pode ser um elemento presente nos relacionamentos afetivos, sendo este sentimento, um fenômeno que ocorre com freqüência entre os seres humanos. Esse sentimento pode representar tanto a manifestação de amor, quanto, um sentimento angustiante e doentio, portanto, pode desestruturar a saúde física e psicológica das pessoas envolvidas no relacionamento afetivo. Os objetivos gerais desta pesquisa investigou representações sociais de sete homens heterossexuais, de 18 a 35 anos, em um relacionamento afetivo por mais de um ano, residentes em Ribeirão Preto SP. MÉTODO Participantes Participaram desse estudo sete homens heterossexuais, de 18 a 35 anos, em um relacionamento afetivo por mais de um ano, residentes em Ribeirão Preto SP. Instrumento Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi estruturadas e seguiu um roteiro prédefinido abrangendo a temática proposta, com temas relevantes para obtenção de dados necessários para alcançar os resultados e os objetivos pretendidos na pesquisa. O roteiro de entrevista foi elaborado abrangendo os seguintes itens: representações do ciúme para os entrevistados em âmbito individual e social; motivações relativas ao ciúme; prejuízos e malefícios que esse sentimento pode trazer ou não ao relacionamento afetivo; agressividade masculina relacionada ao ciúme dentro dos relacionamentos afetivos. UNIP 2. UNIP 3. UNIP. 4. Prof. Dr. UNIP 5. Prof. Mestre ITES 123 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para alguns participantes o ciúme pode ser identificado como um sentimento presente nos relacionamentos afetivos e visto como prova de amor e segurança entre o casal, desde que, não seja exacerbado. Outros participantes acreditam que o sentimento não deveria existir e acreditam que dificulta a relação afetiva. Este dado corrobora com a ambigüidade que Almeida, Rodrigues e Silva (2008) quando discorrem que se por um lado, para muitos, o ciúme representa uma manifestação de amor, ele também pode ser considerado, por outro lado, para outras pessoas, como um sentimento que produz angústia, pode atingir formas doentias e abalar a saúde física e mental dos envolvidos. Verificou-se que o sentimento pode ser gerado por insegurança, baixa autoestima, desconfiança e por dificuldade de comunicação entre os parceiros afetivos, tal como apontado por autores como Ferreira-Santos (2003) e Rosset (2004). O sentimento pode ser visto como necessário ao relacionamento, pois, pode unir o casal, pois, pode acarretar em uma relação de amor, cuidado mútuo e segurança afetiva e se não ocorre, pode ser observado como dificuldade no relacionamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO O que podemos concluir com esta pesquisa é que esse sentimento pode ser um elemento presente nos relacionamentos e que em alguns casos, se ocorrer de forma exacerbada pode ser nocivo aos parceiros, desta forma, pode ser gerado por insegurança, baixa autoestima, desconfiança e por dificuldade de comunicação entre os parceiros afetivos. O sentimento pode ser visto de forma saudável e necessária ao relacionamento, pois, em alguns casos promove a união afetiva do casal, demonstrando dessa forma aos parceiros, uma relação de amor, cuidado mútuo e segurança afetiva, mas, se não ocorre o ciúme, pode ser observado como dificuldade no relacionamento. Conclui-se que pode ser nocivo, pois, quando exacerbado pode gerar violência física e psicológica. Em algumas falas pode-se verificar que o ciúme quando exacerbado pode ocasionar deste constrangimentos verbais até a morte. REFERÊNCIAS Almeida, T., Rodrigues, K. R. B., & Silva, A.A. (2008). O ciúme romântico e os relacionamentos amorosos heterossexuais contemporâneos. Estudos de Psicologia (UFRN), 13, pp. 83-90. Ferreira-Santos, E. (2003). Ciúme: o medo da perda. São Paulo: Claridade. Rosset, S. M. (2004). O casal nosso de cada dia. Curitiba: Sol. 124 PAINÉIS APLICAÇÃO DO PROGRAMA DE QUALIDADE NA INTERAÇÃO FAMILIAR PAIS E FILHOS NO ESTADO DE RONDÔNIA Alessandra Cardoso Siqueira(FAROL)1 Arlete Guth da Costa(FAROL) Bárbara Dalinze M. Silva(FAROL) Cristiane Aparecida Andreatta(FAROL) Diene Carla dos Santos Nepomuceno(FAROL) Flávia Renata Gonçalves Silva(FAROL) Ireide Batista Leite Santos(FAROL) Kelly Cristina Costa de Almeida(FAROL) Kézia Rosa de Souza(FAROL) Mirley Cristine Pereira(FAROL) Vanessa de Melo Santana (FAROL)2 [email protected] Pensando na história da humanidade, o estudo da criança é bastante recente. Segundo Rappaport (1981), até épocas relativamente próximas ao século XIX, as crianças eram tratadas como pequenos adultos, inclusive participando de eventos considerados para adultos. No entanto, nos séculos XIX e XX, observou-se uma crescente mudança em relação ao modelo de tratar e ensinar as crianças, isso por que, o estudo científico sobre o desenvolvimento infantil intensificou-se, estabelecendo novas formas de ensinamentos. Quando se refere ao comportamento, Weber (2007, p. 30), cita a existência de três grandes fatores que influenciam os nossos comportamentos: “[...] a herança genética e todos os comportamentos que temos como uma espécie; a aprendizagem que temos a partir do momento em que nascemos (nossa história de vida) e as influências culturais presentes em 1 Docente e coordenadora do curso de psicologia da FAROL, orientadora do projeto “Eduque com Carinho”. Email: [email protected] 125 casa sociedade em que se vive” [...]. Menciona ainda, que a identificação dos comportamentos da criança não é um fato isolado, ou seja, deve-se prestar atenção ao que vem antes (antecedente) e depois (consequente) de um comportamento, pois tais eventos controlam e fortalecem o comportamento. O sentimento de si próprio como indivíduo pode ser observado desde os primeiros meses de vida da criança. Considerando a educação uma condição básica para o convívio social, aos pais cabe a função de educar seus filhos, o que implica o uso de autoridade, estabelecimento de regras e limites, e proibir o indispensável que possibilite à criança controlar sua impulsividade. Durante essa fase, os pais frequentemente se sentem confusos sobre quais as melhores estratégias a adotar, uma vez que, os seus estilos parentais terá um grande impacto sobre o desenvolvimento biopsicossocial de seus filhos. Visando promover a interação e a dinamicidade entre a escola, os pais e os filhos, este programa foi implantado com o objetivo de orientar os pais a se tornarem mais seguros e participativos e, assim, ajudarem seus filhos a se tornarem responsáveis, autônomos, competentes, autoconfiantes e afetivos, treinando-os e capacitando-os para eles mesmos aprendam a manejar as contingências de práticas educativas, proporcionando uma melhor qualidade no relacionamento entre pais e filhos, onde, a alteração ambiental refletirá consequentemente em mudanças no comportamento destes. O programa foi desenvolvido em escolas de duas cidades do estado de Rondônia, em dias e horários diferentes. O método de trabalho utilizado foi manual para aplicadores desenvolvido e organizado pelas Psicólogas Lídia Weber, Ana Paula Salvador e Olívia Brandenburg, bem como o instrumento de medida. Sabe-se que as práticas parentais positivas não acontecem num passe de mágica. Conforme aponta Weber (2007), no decorrer dos encontros os pais relataram uma eficácia quase que momentânea dos resultados obtidos. Através dos relatos pode ser observado que os objetivos deste programa foram alcançados, onde, os próprios pais participantes indicaram novos participantes e lugares para este programa ser desenvolvido... “se este programa tivesse aqui há alguns anos atrás, as coisas lá em casa seriam bem diferentes, estariam em outro nível”(relato de uma mãe). Palavras-chave: Desenvolvimento, Práticas parentais e Educação positiva. 2 Discentes do curso de psicologia da FAROL e estagiarias no projeto “Eduque com Carinho” 126 PAINÉIS ESTRESSE, CRIATIVIDADE E TEMPO LIVRE ENTRE ADOLESCENTES E SUA RELAÇÃO COM AS PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS Norma Sant‟Ana Zakir - Universidade Federal do Paraná. Lidia Natalia Dobrianskyj Weber - Universidade Federal do Paraná. Cláudia Tucunduva Ton - Universidade Federal do Paraná. Aline Lenhart Nesi - Universidade Federal do Paraná. [email protected] INTRODUÇÃO Os contextos sociais e profissionais exigem cada vez mais habilidades de administração do próprio tempo. Essas habilidades devem resultar tanto no cumprimento pontual de compromissos e organização competente da agenda, quanto na preservação de espaços destinados ao atendimento das próprias necessidades de saúde e bem-estar. A adolescência constitui um momento especialmente relacionado a essa vivência. Esta pesquisa teve como objetivo verificar as correlações entre atividades em tempo livre, criatividade e stress entre adolescentes, bem entre essas varáveis e a percepção dos estilos educativos parentais, e identificar, em caráter exploratório, relações de dependência entre as variáveis em questão. MÉTODO Os dados foram coletados com 125 alunos com 14 anos do Ensino Fundamental e Médio em instituição de ensino público de grande porte, salas de aula padrão e sala da administração ou orientação cedida pela direção. Os recursos humanos foram preenchidos por professora de Psicologia participante do programa de Pós-Doutorado e orientadora, professora de programa de Pós-Doutorado e 8 estagiários de graduação em Psicologia e pós-graduação em Psicologia e Pedagogia. A coleta ocorreu por meio das escalas de Responsividade e Exigência (Lamborn, Mounts, Steinberg e Dombush -1991); Teste “Pensando Criativamente com Palavras” (Wechsler & Torrance, 2003); Escala de stress para Adolescente – ESA, (Tricoli e Lipp - 2006); Avaliação de 127 Níveis de Cortisol Circulante, (Lipp, 2000; Souza, 2004; Teixeira 2003). Qualidade de Interação Familiar, (Weber e cols., 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de Cluster das práticas educativas maternas em três grupos mostrou que os filhos de mães com práticas educativas mais adequadas apresentaram uma média maior de criatividade, maior tempo livre e menor estresse. Por outro lado, as mães com piores práticas educativas têm filhos com estresse elevado, menor criatividade e um número menor de horas livres durante a semana. Em relação às práticas educativas maternas, houve resultados semelhantes para estresse e criatividade, mas não foi encontrada relação significativa com tempo livre. A análise de regressão revelou que as práticas educativas que mais se destacaram em relação ao estresse e criatividade dos jovens foram envolvimento como fator de proteção e comunicação negativa e punição como fatores de risco. Os dados mostram correlação significativa e inversa entre tempo livre e estresse, mas não indicou relação significativa dessas variáveis com a criatividade. Entre os fatores que podem contribuir para a compreensão dessas relações, estão baixa responsividade e pouco envolvimento dos pais, grande volume de informações e excesso de atividades extracurriculares para os jovens, inclusive aquelas preparatórias para a inserção no mercado de trabalho. REFERÊNCIAS Lamborn, S. D., Mounts, N. S., Steinberg, L., & Dornbusch, S. M. (1991). Patterns of competence and adjustment among adolescents from authoritative, authoritarian, indulgent, and neglectful families. Child Development, 62, 1049-1065. Lipp, M. E. N. (2000) O stress da criança e suas conseqüências. In: Crianças Estressadas: causas, sintomas e soluções. LIPPR, M. E. N. (Org.). Campinas: Papirus. P. 13-42. Souza, F. B. (2004) A unidade do uso de medidas avaliativas no contexto psicoterapêutico, sobre o enfoque da Análise do Comportamento. Monografia (Especialização em Psicoterapia na Análise do Comportamento). Universidade Estadual de Londrina, Londrina – PR. Teixeira, N. A. (2003) Os glicocorticóides e a neuroimunomodulação. In. Lipp, M. E. N. (org). Mecanismos neuropsicológicos do stress: teoria e aplicações clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 43-50. Tricoli, V. A. C. e Lipp, M. E. N. (2006). Escala de Stress para Adolescentes. São Paulo: Casa do Psicólogo. Weber, L.N.D., Salvador, A.P.V. & Brandenburg, O. (2006). Qualidade de interação familiar: instrumentos de medida e programas de prevenção. Em M. Bandeira, Z. Del Prette & A. Del Prette (Orgs.), Estudos sobre habilidades sociais e relacionamento interpessoal (pp. 125-14). São Paulo: Casa do Psicólogo. Wechsler, S. M. (2003) Assessing Brazilian creativity with Torrance Tests. In. M. S. Stein (org.) Creativity Global Correspondents. New York: Winslow Press 128 PAINÉIS APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA SON-RISE COMO ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO COM AUTISMO ATRAVÉS DE UM RELATO PARCIAL DE CASO Aneliana da Silva Prado, UFPR - Curitiba [email protected] INTRODUÇÃO Este trabalho é fruto de um relatório apresentado na disciplina “Pessoas com Necessidades Especiais II”, no curso de Psicologia na Universidade Federal do Paraná em Curitiba (Prado, 2011). Ele apresenta uma breve exposição do Programa Son-Rise® como metodologia de trabalho com pessoas desde 18 meses até 60 anos de idade diagnosticadas com Autismo, Transtornos do Espectro Autista, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), Síndrome de Asperger e outras dificuldades do desenvolvimento, e relata parcialmente, devido ao limite de espaço, um caso no qual este método tem sido utilizado. Sua relevância se justifica por ser um programa ainda pouco conhecido no Brasil, havendo apenas uma instituição (“Inspirados pelo Autismo”) creditada no país que realiza treinamento de pais, profissionais e facilitadores. O material aqui apresentado tem como fonte bibliográfica principal o site da instituição nos EUA – Autism Treatmeant Center of America (ATCA) – no qual a mãe da criança realizou o curso Start-Up; informações do treinamento realizado pela mãe com os voluntários, e também relatos de sessão da autora. Seu objetivo é apresentar as principais características do programa e demonstrar seus resultados com uma criança diagnosticada com TID de causa não específica a fim de se fazer conhecido este método como mais uma possibilidade de intervenção para esse tipo de transtorno. MÉTODO Rafael3, 6 anos, diagnosticado aos 2a3m com TID de causa não-específica. Facilitadora: mãe. Voluntários: pai, acompanhante terapêutica (AT), avó, a autora deste trabalho, e uma prima da criança (que saiu do programa em meados da elaboração deste relatório). Aplicação: 55 horas semanais. É aluno de inclusão numa escola particular de Curitiba e frequenta as aulas acompanhado pela AT. 3 Nome fictício a fim de preservar a identidade da criança e da família. 129 O Son-rise é um programa direcionado aos pais, criado para ser coordenado por eles. É realizado no “quarto do brincar”: qualquer cômodo da casa onde não haja distrações, a porta esteja fechada, com prateleiras altas que contenha os brinquedos favoritos da criança, e onde tenha possibilidade de se observar (www.inspiradospeloautismo.com.br/3/2/2.html). Neste caso, o quarto do brincar é o próprio quarto da criança que foi adaptado segundo as orientações do programa. É estritamente recomendado o não uso da manipulação física. As atividades lúdicas são pensadas a partir do estágio em que a criança está e quais os objetivos que se pretende atingir com a criança, e sua proposição à criança se dá no momento em que ela está em interação com o facilitador, mas podem surgir brincadeiras espontâneas. O facilitador deve ser acessível à criança, e a chave é a “celebração” (com energia, empolgação e entusiasmo) dos comportamentos desejados. Uma característica particular deste programa é o “juntar-se”4 (Jordan & Rosenbloom, 1979). O “juntar-se” é quando o facilitador imita a criança – da forma mais fiel e natural possível – em seu comportamento repetitivo ou estereotipia ao invés de puni-la ou tentar evitar seu comportamento. No momento do “juntar-se” qualquer indicação de interação da criança para com o facilitador deve ser celebrada. Esse é um estilo de interação responsivo e não diretivo5. Entende-se que juntar-se a uma criança em seus comportamentos repetitivos e ritualísticos fornece a chave para se decifrar o mistério destes comportamentos, e facilita o contato de olho no olho, o desenvolvimento social e a inclusão dos outros na brincadeira da criança. A utilização da motivação da própria criança impulsiona o aprendizado e constrói a fundação para a educação e a aquisição de habilidades. O princípio do Son-rise é que o emprego de uma atitude otimista e sem julgamento maximiza a diversão, a atenção e a motivação da criança durante o programa. (www.autismtreatmentcenter.org/contents/about_son-rise/index.php) Cada facilitador deve fazer ao menos duas sessões semanais com duração de 2 horas cada. Método no quarto: 1 – Avaliar; 2 - Criar vínculo: a) Juntando-se; b) Dando controle; c) Sendo fáceis de lidar; d) Celebrando; e) Não pedindo nada; 3 – Desafiar a criança com os objetivos propostos. Ao fim de cada sessão são relatados: 1. Atividades exclusivas e repetitivas; 2. Comunicação nãoverbal (contato visual, gestos simples, choro e manha); 3. Comunicação; 4. Duração da atenção Interativa; 5. Flexibilidade, bem como as dificuldades e/ou ganhos ocorridos. É descrito o comportamento da criança e como o facilitador respondeu a ele. RESULTADOS E DISCUSSÃO Este relatório foi elaborado ao final de três meses de implementação do programa Son-rise com Rafael (início 01/03). Alguns avanços pontuais foram selecionados como exemplo: no quarto: a) 4 5 Referência: Material de Apoio do Workshop da Inspirados pelo Autismo – Nível I. © Inspirados pelo Autismo (2009). Referência: Material de Apoio do Workshop da Inspirados pelo Autismo – Nível I. © Inspirados pelo Autismo (2009). 130 Aumento do tempo de atenção interativa: sessão 01/06: 45min de atenção compartilhada: interpretação da leitura, diálogo espontâneo, pediu colo, pegou a bola para a facilitadora sentar. Sessão10/06: brincou de esconde-esconde. Na escola: b) maior interação com os colegas. Ex. antes não gostava de bola, agora joga futebol com outras crianças (relato AT). Ademais, notou-se uma melhora generalizada na interação de Rafael. O programa provoca tanto uma reestruturação da dinâmica familiar quanto uma mudança de paradigma sobre o autismo, considerando-o não como uma desordem comportamental, mas relacional (www.autismtreatmentcenter.org). O tratamento foca essa relação e propõe um prognóstico bastante positivo. Como expõe Fiamenghi & Messa (2007) o nascimento da uma criança com necessidade especial interfere na dinâmica familiar e, em se tratando da implementação do método Son-rise, pode-se afirmar que a família é convocada a inserir-se no tratamento da criança ou adulto autista, o que também tende a provocar mudanças. Algumas dificuldades do programa seriam: a duração; a demanda de voluntários; e o contexto sócio-econômico da maioria da população brasileira que dificultaria a realização da carga horária indicada. Porém, é um método que apresenta alta probabilidade de sucesso segundo dados apresentados pelo site do (www.autismtreatmentcenter.org/contents/reviews_and_articles/index.php), ATCA e também pelos resultados desses meses de observação e participação no programa. É importante salientar que os voluntários estão sendo treinados e que Rafael continua em tratamento. Além disso, deve-se informar que Rafael fez anteriormente acompanhamento com outro método terapêutico. Os outros tratamentos são o medicamentoso, fonoaudiologia, terapia ocupacional e algumas restrições na dieta. Agradecimentos : Aos pais de Rafael, por permitirem a apresentação deste relato. REFERÊNCIAS Fiamenghi, G. A.; Messa, A. A. (2007). Pais, filhos e deficiência: estudos sobre as relações familiares. Psicologia, Ciência e Profissão, 27 (2), 236-425, 2007. Jordan, G; Rosenbloom, R. M. (1979). Son-rise: A Miracle Of Love [Filme-vídeo]. G. Jordan, Dir.; R. M. Rosenbloom, Prod. Estados Unidos: NBC. 90 min. color. Prado, A. S. (2011). Apresentação Programa Son-rise®. Trabalho não publicado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 131 PAINÉIS SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE, SAÚDE SEXUAL PARA O IDOSO E A QUESTÃO DA AIDS Maria Luiza Lourenço (FE/USP) Thiago de Almeida [email protected] INTRODUÇÃO O aumento do número de idosos na população brasileira é um fato que chama atenção por suas características e conseqüências (Pavarini, Mendiondo, Barham, Varoto & Filizola, 2005; Pavarini, Barham, Mendiondo, Petrilli Filho & Santos, 2009). Embora não seja uma exclusividade do Brasil, posto que o envelhecimento seja um fenômeno universal, o aumento do tamanho da população brasileira acima dos 60 anos ocorre com algumas peculiaridades devido à velocidade com que esse processo acontece. As estatísticas indicam que teremos no Brasil, em 2025, mais de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Isso se deve ao aumento da expectativa de vida da população idosa. (IBGE, s. d.). O objetivo deste artigo é revisar criticamente as evidências científicas disponíveis sobre o estudo da questão AIDS em Idosos, assim como suas contribuições para a psicologia. MÉTODO Realizou-se uma busca computadorizada pela literatura que trata da felicidade, utilizando a base de dados MedLine sem limite de tempo, com os termos de busca: “Terceira Idade Resultados e discuss”; “Envelhecimento”; “Sexualidade para o idoso”; “AIDS e Idosos” RESULTADOS E DISCUSSÃO Se, por um lado, o envelhecimento populacional trouxe os benefícios de uma maior longevidade, por outro, trouxe um novo perfil de morbimortalidade. No lugar das doenças crônicas não transmissíveis geralmente relacionadas com idosos como a hipertensão, diabetes, artrite, insuficiência renal crônica, osteoporose e demências, com reduções na mortalidade entre pessoas idosas, resultaram em aumentos no número de idosos mais vulneráveis às doenças infecções sexualmente transmissíveis como o HIV. 132 No Brasil, a forma de transmissão predominante é por via heterossexual (http://www.aids.gov.br/pagina/idosos) , tanto no sexo feminino (90,4% dos casos) como no masculino (29,7% dos casos). Entre os homens, a segunda principal forma de transmissão é homossexual (20,7% dos casos), seguida de uso de drogas injetáveis (19%). Nas mulheres, a segunda maior forma de transmissão se dá entre usuários de drogas injetáveis, com 8,5% dos casos. Segundo Miguel Jr. (2009) os dados do Ministério da Saúde brasileiro são alarmantes e desesperadores, pois superam o número de 43 mil casos de diagnósticos soropositivos em indivíduos com idade igual ou superior a 50 anos de idade, o que é muito preocupante, pois representa cerca de 9,1% da totalidade de casos de AIDS diagnosticados. Assim 2% da população acima de sessenta anos são portadores do vírus HIV, o que significa que 5.500 idosos têm a doença. Dados do boletim epidemiológico de AIDS do Ministério da Saúde de 2006 revelam o aumento dos casos de AIDS nos idosos, principalmente no sexo feminino. O índice de AIDS aumentou no período de 1996/2006, resultado da combinação de vida sexual mais ativa e pouco uso de preservativos. Infelizmente, em boa parte do mundo e principalmente no Brasil, ainda não encontramos preparo e adequação suficientes dos serviços de saúde e políticas públicas, para a prevenção e tratamento da população idosa contaminada pelo vírus HIV. Os recursos humanos, materiais e tecnológicos parecem não estar aptos a lidar com as características do envelhecimento, especialmente no que se refere ao perfil de doenças que acometem os idosos (Silva, Gonçalves, Alvarez, Sena & Vicente, 2006). A mudança do perfil epidemiológico e a observação do aumento do número de casos de AIDS acima dos 60 anos nos fazem reestruturar conceitos até então vigentes, e por muitas vezes, preconceituosos. O acesso às informações e a transformação cultural permitiram modificações comportamentais relacionadas à sexualidade do idoso, não só com o ato sexual em si, mas com a proximidade, satisfação e a sensação do outro. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos idosos, apesar do surgimento de inúmeras doenças, naturalmente existentes pelo fator envelhecimento, também não deixam de vivenciar as diversas formas de sua sexualidade, muitas vezes amparadas em medicamentos que minimizam os danos gerados, além de estar associada a sua dimensão psicoafetiva. Infelizmente, o perfil de saúde em nosso país e no mundo em relação à população idosa também sofre mudanças, pois, no lugar das doenças crônicas não transmissíveis geralmente relacionadas com o envelhecimento, estamos nos deparando com as doenças decorrentes de infecções sexualmente transmissíveis como o HIV. A AIDS sempre foi vista como uma doença de jovens e adultos, como se a população mais velha não fosse sexualmente ativa. Mas os números 133 mostram que a epidemia cresceu nessa população, principalmente nos últimos anos e que os preconceitos que cercam a vivência da sexualidade em pessoas acima dos 60 anos limitam e dificultam a abordagem sobre o HIV, além da ausência de políticas públicas de saúde referente a essa população. REFERÊNCIAS Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. (s.d.). Projeção da expectativa de vida para 2050. [citado 2005 Jan 14]. Recuperado em 28 de jun. 2008 de http://ibge.gov.br/estatistica/população/projeção . Miguel Jr., M. (2009). AIDS entre os idosos. Medicina Geriátrica. Recuperado em 06 de dez. de 2010 de http://www.medicinageriatrica.com.br/2009/05/24/aids-entre-os-idosos-brasileiros-parte-1-aspectosepidemiologicos/. Pavarini, S. C. I., Mendiondo, M. S. Z., Barham, E. J., Varoto, V. A. G., & Filizola, C. L. A. (2005). A arte de cuidar do idoso: gerontologia como profissão? Texto contextoenfermagem, 14 (3), 398-402. Pavarini, S. C. I., Barham, E. J., Mendiondo, M. S. Z., Petrilli Filho, J. F., & Santos, A. A. (2009). Family and social vulnerability: a study with octogenarians. Revista Latino-Americana de Enfermagem (USP. Ribeirão Preto), 17, 374-379. Silva, L. W. S., Gonçalves, L.H.T., Alvarez, A. M, Sena, E. L S, & Vicente, F. R. (2006). Perfil da família cuidadora de idoso doente/fragilizado do contexto sociocultural de Florianópolis, SC. Texto Contexto Enfermagem, 15(4), 570-77. 134 PAINÉIS O ACOMPANHANTE DA CRIANÇA HOSPITALIZADA: SIGNIFICAÇÕES PROCESSO DE SAÚDE, DOENÇA E HOSPITALIZAÇÃO NA INFÂNCIA DO Menezes, M. 1 Moré, C.L.O.O. 2 Barros, L. 3 Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa – FP-UL - Portugal [email protected] INTRODUÇÃO As evidências sobre os efeitos da separação, privação e institucionalização para a saúde mental das crianças incentivaram a tomada de medidas efetivas para a inclusão de familiares durante o processo de hospitalização infantil, assim como a constatação de que a presença da família durante esse processo, favorece o desenvolvimento da criança e possibilita aos acompanhantes o aprendizado dos cuidados básicos com a criança hospitalizada. O conhecimento das significações que os adultos elaboram sobre o processo de saúde e doença possibilita compreender a construção das significações das crianças, visto a influência que as crenças e atitudes parentais têm sobre o desenvolvimento infantil (Barros, 2003). Crepaldi (1999) refere que as representações da doença da criança para os pais, se constroem a partir de uma multiplicidade de fatores, como o que viram e ouviram sobre as doenças infantis, as “(...) imagens e significações que acumularam, advindas do grupo social ao qual pertencem” (p.85), além da própria experiência de ter um filho doente. Desse modo, o presente trabalho objetivou compreender as significações do processo de hospitalização a partir da perspectiva do acompanhante da criança hospitalizada, buscando identificar seus conhecimentos sobre os processos de saúde, doenças e tratamentos que ocorrem na infância. MÉTODO Esta pesquisa de cunho qualitativo faz parte de uma Tese de Doutorado em Psicologia, na qual participaram 20 acompanhantes de crianças com idades entre 5 a 12 anos, de ambos os sexos 135 acometidas por doenças agudas (15) e crônicas (5) que encontravam-se hospitalizadas pelo tempo médio de 3 a 5 dias nas clínicas médica e cirúrgica pelo Sistema Único de Saúde - SUS, em um hospital pediátrico de uma cidade do Sul do Brasil. Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semi-estruturada, além de observações sistemáticas, realizadas com registro cursivo e 1Dra. Laboratório de Psicologia da Saúde, Família e Comunidade - LABSFAC–UFSC; 2 Prof.ª Dra. Programa de PósGraduação em Psicologia –UFSC; 3 Prof.ª Dra. e anotações do diário de campo. Os dados foram analisados a partir da Teoria Fundamentada Empiricamente através da análise de conteúdo das entrevistas. A presente pesquisa foi aprovada por dois Comitês de Ética, sob os pareceres Nº 667/07 e Nº 009/08 – FR – 176955. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os participantes foram 15 mães, 3 pais, 1 avô e 1 irmã que acompanhavam crianças hospitalizadas. A maior freqüência de idade ocorreu entre as mães e os pais e situou-se no intervalo entre 30 a 39 anos. A escolaridade dos acompanhantes oscilou entre o Ensino Fundamental incompleto (5ª a 7ª séries) e Ensino Médio. Em relação às ocupações profissionais, a maior parte das mães desempenhava apenas as funções de cuidados com a casa e filhos (do lar), em serviços domésticos em geral, serviços de embelezamento e cuidados pessoais. Entre os pais as ocupações profissionais mais freqüentes foram: trabalhos agrícolas, condução de veículos, movimentação de cargas e manutenção veicular. O estado civil com maior freqüência entre os participantes foi casado e a renda mensal variou entre 1 a 3 salários mínimos. A análise de conteúdo possibilitou a organização das informações em cinco grandes categorias: a) conceitos gerais de saúde, doenças, hospitalização e tratamentos de crianças para o acompanhante; b) conhecimentos do acompanhante sobre a doença e a hospitalização da criança; c) vivência do acompanhante mediante a doença e a hospitalização da criança; d) relação do acompanhante com a equipe de saúde do hospital; e e) redes de suporte familiar, social, de serviços de saúde e hospitalar, sendo as categorias compostas de 28 subcategorias e 60 elementos de análise. Os resultados evidenciaram que os acompanhantes revelaram significações de saúde e doença de crianças relacionados à evitação de comportamentos de risco e à falta de cuidados parentais. O hospital foi definido como um local que trata as doenças, mas restringe e isola, causando sofrimento. Também os acompanhantes evidenciaram sentimentos e experiências positivas e negativas referentes à vivência de acompanhar a criança na internação hospitalar, indicando que a maioria utilizou estratégias de enfrentamento caracterizadas como facilitadoras. As relações com a equipe de saúde evidenciaram que os acompanhantes valorizam o interesse e o cuidado que a 136 equipe dispensa aos mesmos, indicando que na comunicação com o médico, existem lacunas relacionais, o que já não ocorre na relação com os enfermeiros. Os pais possuem um papel central que precisa ser por eles reconhecido com a ajuda da equipe de saúde, pois, lhes permite conhecer e compreender as reações infantis mais comuns e esperadas, possibilitando a utilização dessa relação mais privilegiada para auxiliar o filho nos momentos difíceis. Agradecimentos À CAPES pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS Barros, L. (2003). Psicologia Pediátrica: perspectiva desenvolvimentista. 2ª ed. Lisboa: Climepsi Editores. Crepaldi, M.A. (1999). Hospitalização na infância: representações sociais da família sobre a doença e hospitalização de seus filhos. Taubaté: Cabral Editora Universitá 137 PAINÉIS COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL E COMPORTAMENTO EXTERNALIZANTE EM CRIANÇAS: UMA REVISÃO DE ESTUDOS TEÓRICOS Ana Priscila Batista Departamento de Psicologia – UNICENTRO Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFPR Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Departamento de Psicologia – UFPR Programa de Pós-Graduação em Educação – UFPR [email protected] O comportamento antissocial é considerado um dos principais problemas na infância, tido como o precursor do processo de desenvolvimento de comportamentos inadequados que podem ocorrer mais tarde. Vários termos já foram utilizados para descrever crianças com esse tipo de comportamento-problema, sendo que cada termo tem uma história associada com seu uso. O objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão de literatura acerca de estudos teóricos sobre comportamento antissocial e problemas de comportamento externalizante, em geral, em crianças. Os critérios considerados para a seleção dos artigos foram: artigos publicados de forma completa; em língua portuguesa, inglesa ou espanhola; publicados a partir do ano de 2000; nas bases de dados: scielo, lilacs e pepsic; estudos de psicologia ou pertinentes à psicologia; referentes à infância e/ou adolescência; foram excluídos artigos exclusivamente médicos, com objetivo principal relacionado a outras temáticas (por exemplo: nascidos prematuros, enurese, deficiência mental etc.) relacionados ao desenvolvimento e avaliação de instrumentos, bem como aqueles que se repetiram. Foram utilizados vários descritores, tais como: comportamento antissocial, comportamento externalizante e comportamento agressivo. De acordo com os critérios, foram encontrados 27 artigos teóricos relacionados a conceitos, características e revisão de literatura. Percebeu-se que 138 muitos dos trabalhos realizados utilizaram conceitos distintos para tratar de eventos e comportamentos semelhantes, tais como problema de comportamento, comportamento agressivo, comportamento antissocial, problemas de comportamento exteriorizado e externalizante, dentre outros. Outros temas também foram abordados: delinqüência juvenil, bullying, relação entre depressão materna e problemas de comportamento, relação entre a exposição à violência e problemas de comportamento e influência ambiental na saúde mental da criança. Quanto à metodologia dos estudos, agrupou-se os artigos em três conjuntos: revisão de literatura de algum tema específico, em bases de dados delimitadas; estudos que trataram de descrever as características de comportamentos, transtornos, fatores ou eventos relacionados; artigos referentes a análises conceituais e teóricas de determinado tema. Os resultados e conclusões são diversos e uma grande parte relata fatores de risco em que a criança é exposta e que se relacionam a determinados problemas de comportamento, sendo que a menção a ambientes familiares adversos, práticas parentais negativas e à violência doméstica, foram os fatores mais citados. De forma geral, pode-se concluir que tal temática vem sendo bastante explorada na literatura, mesmo com a utilização de diversos termos e a partir de diferentes perspectivas teóricas e metodológicas. Em concordância com a conclusão de grande parte dos trabalhos, aponta-se para a necessidade de propostas de prevenção de tais problemáticas, embasadas no conhecimento das variáveis relacionadas, como as demonstradas nas pesquisas, possibilitando o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes. Palavras-chave: infância, comportamento antissocial, comportamento externalizante. 139 PAINÉIS ESTILOS PARENTAIS: COMPARAÇÃO ENTRE FAMÍLIAS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM E SEM ALTAS HABILIDADES Ana Paula Viezzer Salvador Lidia N. D. Weber Franciny Sombrio Maria Luíza Melo Machado Pollyanna Carolina de Azevedo Hamilton Pierdoná Priscila Lopes Albuquerque Paula Sakaguti Universidade Federal do Paraná [email protected] O desenvolvimento da criança e do adolescente está intimamente ligado aos contextos familiar e escolar. É na relação com os pais que a criança encontra o suporte para lidar com as demandas escolares, pois são eles que transmitem as primeiras informações e interpretações sobre o mundo. Dentro desse contexto, o objetivo dessa pesquisa foi o de comparar estilos parentais de crianças/adolescentes que possuem altas habilidades com crianças/adolescentes que não possuem altas habilidades. Para tal objetivo foi utilizada uma amostra de 48 crianças e adolescentes de instituições públicas de ensino da região de Curitiba-PR, com idade entre 9 e 18 anos. Ressalta-se que essa amostra foi dividida em dois grupos de igual número, sendo 24 participantes com altas habilidades de uma instituição (alunos que frequentam sala de recursos) e 24 participantes sem altas habilidades de outra instituição. Os instrumentos utilizados foram: Escala de Estilos Parentais (Escalas de Exigência e Responsividade) e Escala de Ansiedade para Adolescentes. Os questionários foram aplicados coletivamente com a devida autorização das instituições. Os dados foram analisados quantitativamente através de testes estatísticos (Teste t de Sudent e Quiquadrado). Verificou-se que, ao comparar os dois grupos, a variável ansiedade apresentou-se com média mais alta para aqueles sem altas habilidades (t = -3,911; p < 0,05). Quanto às análises dos estilos parentais e suas duas dimensões (exigência e responsividade), observou-se que a exigência 140 do pai apresentou-se com média maior para o grupo com altas habilidades (t = 2,117; p < 0,05). Vale pontuar que a responsividade do pai e a exigência e responsividade da mãe não apresentaram diferenças significativas entre os grupos (p > 0,05). Com relação a análise dos estilos parentais, o teste qui-quadrado não apontou diferenças significativas (p > 0,05), entretanto, foi possível observar algumas porcentagens interessantes. Em relação ao estilo parental do pai, observou-se que entre os alunos que apresentam altas habilidades a porcentagem foi de: 34,8% com pai participativo; 30,4% com pai negligente; 17,4% com pai autoritário; e 17,4% com pai permissivo. Entre os alunos que não apresentam altas habilidades, a porcentagem foi de: 45,8% com pai negligente; 29,2% com pai participativo; 16,7% com pai permissivo; e 8,3% com pai autoritário. Em relação ao estilo parental da mãe, observou-se que entre os alunos que apresentam altas habilidades a porcentagem foi de: 29,2% com mãe negligente; 25,0% com mãe participativa; 25,5% com mãe autoritária; e 20,8% com mãe permissiva. Entre os alunos que não apresentam altas habilidades, a porcentagem foi de: 52,2% com mãe negligente; 34,8% com mãe participativa; 8,7% com mãe permissiva; e 4,3% com mãe autoritária. A pesquisa demonstrou certa diferença entre os grupos analisados, porém vale lembrar que a amostra coletada é relativamente pequena. Portanto, pretende-se coletar mais dados com o intuito de enriquecer ainda mais o trabalho proposto. Ressalta-se também a importância de estudos nesta área, visto que a interação familiar tem extrema importância para o desenvolvimento de um repertório comportamental adequado dos filhos. Palavras-chave: estilos parentais; práticas parentais; altas habilidades. 141 PAINÉIS A RELAÇÃO ENTRE ESTILOS PARENTAIS E O DESEMPENHO ACADÊMICO DE ADOLESCENTES Cristiani Aparecida da Silva Chanary Procek Ana Paula Viezzer Salvador Lidia N. D. Weber Eduardo de Almeida Silva Universidade Federal do Paraná [email protected] As práticas educativas parentais representam um importante fator para o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades da criança necessárias tanto ao ambiente escolar quanto ao relacionamento social. Considerando a importância das interações familiares, pesquisadores têm estudado cada vez mais as práticas e estilos parentais (autoritativo, permissivo, autoritário e negligente) como também a influência de cada estilo no desenvolvimento social e escolar dos filhos. O objetivo do presente estudo foi o de verificar a relação entre estilos parentais e o desempenho escolar de adolescentes em duas disciplinas específicas (matemática e português). A pesquisa foi realizada com 236 participantes de escolas públicas de Curitiba, de turmas de 6ª e 7ª séries. O método utilizado foi a aplicação de um questionário composto por uma escala (Estilos Parentais - Escalas de Exigência e Responsividade), e por peguntas sobre o desempenho acadêmico, nas quais o aluno deveria responder se suas notas bimestrais em matemática e português estavam acima ou abaixo da média. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente através do Teste t de Student e do Qui-Quadrado. Verificou-se uma relação significativa (p < 0,05) entre o desempenho em matemática e português e as dimensões de exigência do pai (t = -2,667 e t = 0,569) e de exigência da mãe (t = -2,839 e t = -2,426), sendo que os alunos com notas escolares acima da média relataram ter pais com maior nível de exigência. Verificou-se também relação significativa (p < 0,05) entre o desempenho em matemática e a dimensão de responsividade da mãe (t = -2,927), sendo que os alunos com notas escolares em matemática acima da média relataram ter mães com maior nível de responsividade. Quando analisada a classificação dos quatro estilos parentais, 142 observou-se que entre os alunos com notas de matemática abaixo da média, 54,7% eram filhos de pais negligentes, 18,9% filhos de pais permissivos, 15,1% filhos de pais autoritativos e 11,3% filhos de pais autoritários. Quanto aos alunos com notas de português abaixo da média, observou-se que 48% eram filhos de pais negligentes, 24% filhos de pais autoritativos, 22% filhos de pais permissivos e 6% filhos de pais autoritários. Ao analisar os alunos com médias escolares acima da média em matemática e português, observou-se que a maioria eram filhos de pais autoritativos (40,5% e 36,7%). Pôde-se concluir que os estilos parentais, assim como as dimensões que o compõem, especialmente a exigência, estão relacionados com o desempenho acadêmico dos filhos, confirmando que a família pode exercer forte influência no desenvolvimento de habilidades necessárias diante do contexto escolar. Palavras-chave: estilos parentais; práticas parentais; desempenho acadêmico. 143 PAINÉIS AVALIAÇÃO DE UM GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS COM ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA PÚBLICA Aline Lenhart Nesi Ana Paula Viezzer Salvador Chanary Procek Cristiani Aparecida da Silva Eduardo de Almeida Silva Antoniela Yara Marques da Silva Heloísa Formigão Leiliane Silva do Nascimento Maria Luíza Melo Machado Fernanda Suemi Oda Camila de Moura Universidade Federal do Paraná [email protected] As queixas recorrentes em escolas brasileiras se focam em temas relacionados a habilidades sociais e bullying. Muitas pesquisas enfocam o contexto de violência presente no ambiente escolar, tanto na relação aluno-aluno, quanto na relação aluno-professor, o que poderia ser explicado pelo déficit no repertório de habilidades sociais dos alunos e professores. Apesar de tal afirmação, é necessário considerar a existência de outras variáveis importantes, como por exemplo, o ambiente familiar. Diante deste complexo contexto, no qual família e escola exercem forte influência, o presente trabalho teve como objetivo avaliar um programa de intervenção, que foi aplicado em alunos de cinco turmas de 5ª série, com idade entre 11 e 15 anos, de uma escola estadual da cidade de Curitiba. O programa, intitulado “Espaço Interação”, foi realizado ao longo de sete encontros semanais, durante o período de aula, e tinha como propósito o desenvolvimento de habilidades sociais. Após um semestre da realização do programa, com o objetivo de avaliar seu resultado, foi feita a aplicação de um questionário composto por quatro escalas (Escala multidimensional de reatividade interpessoal de Davis – EMRI; Escala de ansiedade para adolescentes; Escala de violência psicológica e Escala de bullying). Os dados foram analisados através do Teste t de 144 Student e Correlação de Pearson. A aplicação foi feita em 121 alunos, entre os quais 41,9% participaram da intervenção e 58,1% não participaram (grupo controle). Verificou-se a partir dos resultados obtidos, que houve uma diferença significativa na média de reatividade interpessoal (t = 1,929; p < 0,05), sendo que o grupo que participou da intervenção apresentou maior índice. Esse dado demonstra que a intervenção pode ter contribuído para o desenvolvimento de habilidades como “consideração empática”, “tomada de perspectiva do outro” e “personal distress”, que são as três dimensões que compõem a escala de reatividade interpessoal. Pôde-se observar que houve uma correlação significativa entre reatividade interpessoal e bullying (r = -0,275; p < 0,05), mostrando que quanto maior é o nível de reatividade interpessoal, menor é o nível de comportamentos agressivos em relação aos colegas. Este dado é importante por mostrar que ao se trabalhar o desenvolvimento da reatividade interpessoal, pode-se obter um efeito indireto para minimizar a incidência do bullying. Além disso, analisando todos os participantes, verificou-se uma correlação significativa entre ansiedade e violência psicológica (r = 0,596; p < 0,05). Ao se comparar os resultados de reatividade interpessoal (t = -2,526; p < 0,05) e de ansiedade (t = -2,345; p < 0,05) entre meninos e meninas, verificou-se que as meninas apresentaram médias significativamente maiores nas duas variáveis. Pôde-se concluir que a intervenção realizada apresentou efeitos positivos no que se refere ao desenvolvimento de reatividade interpessoal. Os dados encontrados também mostram a necessidade de outros tipos de intervenção (com professores e famílias), pois se verificou que estes alunos vivem numa contingência fortemente coercitiva, apresentando alto nível de ansiedade e de exposição à violência psicológica. Palavras-chave: habilidades sociais; empatia; bullying; ansiedade. 145 PAINÉIS COGNIÇÃO E APRENDIZAGEM EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM CRISE EPILÉPTICA AFEBRIL: ABORDAGEM NEUROPSICOLÓGICA Ana Caroline Bonato da Cruz (UFPR) Davi Sidnei de Lima (UFPR) Sergio Antônio Antoniuk (CENEP – HC/UFPR) Isack Bruck (CENEP – HC/UFPR) Tatiana Izabele Jaworski de Sá Riechi (CENEP – HC/UFPR) Centro de Neuropediatria do Hospital de Clinicas (CENEP – HC/UFPR) [email protected] INTRODUÇÃO As disfunções cognitivas associadas à epilepsia são amplamente relatadas pela literatura (Motamedi & Meador, 2003; Sillanpaa & Schmidt, 2009; Souza-Oliveira, et al., 2010), sendo que muitas variáveis tomam importância, tais como idade de inicio, duração, freqüência das crises, etiologia, lateralidade da lesão, número de medicações antiepilépticas, história de crise febril e estado de mal epiléptico (Guimarães, 2006). Nesse contexto, a relação entre funções cognitivas e substrato neural precisa ser estabelecida através da avaliação neuropsicológica, que proporciona dados quantitativos e qualitativos, auxiliando no diagnóstico da disfunção, no plano de intervenção e na qualidade de vida do paciente. Objetivo Avaliar o desempenho cognitivo de crianças e adolescentes com crise epiléptica afebril, encaminhados para avaliação neuropsicológica com queixa de dificuldade de aprendizagem e comportamento. MÉTODO A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CEP/HC/UFPR: 2351.245/2010-10). Participaram pacientes do Ambulatório de Primeira Crise e Crise(s) Recente(s) do Centro de Neuropediatria do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, com idade entre 6 e 16anos, ambos os 146 sexos, de janeiro de 2008 a março de 2011. Os pacientes encaminhados a Neuropsicologia com queixa de aprendizagem responderam ao Protocolo de Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram avaliados n=52 pacientes, com média etária de 11a6m (+3a7m), 30 (58%) do sexo masculino e 22 (42%) feminino, 85% do Ensino Fundamental Regular e 69% com queixa de dificuldade de aprendizagem e comportamento; 34 (65%) com diagnóstico clínico de epilepsia e 18 (35%) indeterminado; 13 (25%) com crise parcial, 30 (58%) generalizada e 9 (17%) indeterminada; 81% com bom controle das crises, sendo 64% em uso de medicação. O Resultado do Quociente Intelectual Total indicou 27% acima da média, 31% na média e 42% abaixo da média, sendo o valor médio do Quociente Intelectual Verbal de 92,84 (+20,45) e a média do Quociente Intelectual de Execução de 104,96 (+20,37). A importância da avaliação neuropsicológica é apresentada em muitos estudos que indicam prejuízos sobre a cognição e o QI (coeficiente de inteligência) em crianças epilépticas. A precocidade e a duração das crises são fatores que estão ligados diretamente a déficits cognitivos. Dificuldades de memorização e lentidão mental estão destacadas entre as deficiências cognitivas. As crises epilépticas em momentos cruciais podem acarretar prejuízos cognitivos, principalmente relativos à memória e atenção. Mesmo nas crianças com inteligência normal, há incidência maior de diversos transtornos cognitivos e comportamentais que afetam direta ou indiretamente o aprendizado. Há registros de elevada co-morbidade neurológica e cognitiva na epilepsia. (Grunspum & Grossmann, 1992; Souza & Guerreiro, 1996; Montamedi,2003; Winckler & Melo, 2006). CONCLUSÃO Os resultados da Avaliação Neuropsicológica indicam prejuízos cognitivos dos pacientes, apontando para déficits que as variáveis orgânicas das crises epilépticas podem acarretar no processo de aprendizagem. Há necessidade de continuidade do estudo, visando correlacionar as dificuldades que podem interferir no rendimento acadêmico e justificar a queixa de dificuldade de aprendizagem e comportamento de crianças com crises epilépticas afebris. Palavras-Chave: Avaliação Neuropsicológica; aprendizagem; cognição; epilepsia; crises epilépticas; 147 PAINÉIS O ESTIGMA, A PROSTITUIÇÃO FEMININA E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA: ASPECTOS E INTERFACES PRESENTES E RELEVANTES À SOCIEDADE Diego da Silva Ivonete Ferreira Haiduke Patrícia Cardoso Campos Nogueira Faculdade de Administração Ciências, Educação e Letras- Curitiba- Paraná [email protected] O presente trabalho tem por objetivo estudar as influências que o estigma, a prostituição e a dependência química exercem na vida da população de uma forma geral, abordando aspectos e conceitos principais relacionados a cada tema. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Estigma são características individuais que as pessoas possuem atuando em suas vidas de forma que prejudique o seu convívio social, tornando essa pessoa marcada, vista pelos outros e por ela mesma como portadora de alguma anomalia. Existem ganhos secundários no estigma, como a piedade das outras pessoas. Os principais exemplos de estigmas referem-se quase sempre a desonestidade, relacionamentos destrutivos, distúrbios mentais, homossexualidade, desemprego, a falta de tolerância religiosa, de nacionalidade, dependência química, prostituição, deformidades físicas, entre outros. A prostituição feminina é um fenômeno social, econômico, cultural que define-se pelo fato da mulher trocar sexo por dinheiro. Esse fenômeno já existe desde os primórdios da sociedade, e teve participação importante na constituição e desenvolvimento das cidades. Cada prostituta tem uma história singular de vida, portanto, os motivos gerais que levam a mulher a se prostituir são inúmeros, dentre eles a necessidade de sobrevivência aliada com facilidades da profissão, como dinheiro recebido de forma rápida e maleabilidade de horários. A droga muitas vezes está presente na prostituição como uma forma da mulher suportar sua profissão. Os estigmas presentes também são variados, sendo eles quanto a faixa etária e aparência, imoralidade, origem social, exercer 148 profissão em outras cidades e estados para que familiares e conhecidos não as reconheçam, entre outros. Através da luta de entidades que cuidam dos direitos das prostitutas, a profissão está regulamentada e inclusa na Classificação Brasileira de Ocupações. A dependência química caracteriza-se pela necessidade psicológica e/ou física de alguma substância que altere a consciência. É uma doença crônica, porém, passível de controle, portanto, está inclusa no D.S.M (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais). A dependência química afeta de forma prejudicial a vida do indivíduo, principalmente suas relações familiares e profissionais. O tratamento em comunidades terapêuticas é uma das soluções mais comuns. Logicamente a prevenção é a solução mais eficaz. A falta de diálogo na família e na escola, aliados a carência afetiva e pobreza das relações, são aspectos que podem levar a pessoa a se tornar um dependente químico. Os estigmas mais comuns na dependência química são a falta de segurança do dependente em si mesmo ao se reinserir na sociedade, a associação que as pessoas fazem da droga com a violência, e o fato do dependente achar que pode parar de consumir as drogas no momento em que ele quiser. Para conseguir a droga, o dependente químico não se preserva em nada, podendo recorrer até mesmo a prostituição. Palavras-chave: Estigma, prostituição, dependência química. 149 PAINÉIS AS MÚLTIPLAS FACES DA VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR: REFLEXÕES E DESAFIOS Alessandra Cardoso Siqueira (FAROL) Eraldo Carlos Batista (FAROL) Benedito Alves de Oliveira (FAROL) [email protected] Nos tempos modernos, a violência permeia todas as áreas de relação do indivíduo, sendo a violência escolar uma das principais preocupações da sociedade, uma vez que esta deixa de ser apenas produto de uma cultura de violência externa e passa ser constituída também no espaço escolar. Ou seja, além dos problemas familiares, econômicos, políticos, emocionais que interferem no desenvolvimento dessa violência cotidiana na escola, existe um tipo específico, gerado no interior da própria escola. Constituída principalmente pelo desrespeito, pelas ameaças e pelas agressões praticadas pelos alunos, a violência vem ganhando novas formas com o decorrer do tempo, sendo presenciada e negligenciada muitas vezes em todos os seguimentos da instituição escolar. Esta forma de violência vai além das características encontradas nos fatores externos da escola, encontrando-se nos aspectos envolvidos e desenvolvidos por ela como a relação professor-aluno, aluno-instituição e também entre os alunos. Nesse sentido, a violência escolar caracteriza-se como todo ato que impede, em sentido amplo, o pleno desenvolvimento dos atores sociais aí presentes não tendo sua origem somente neste ambiente como também expandindo-se para outros grupos e instituições de convivências dos atores escolares. Concretiza-se como resultado de uma cultura de violência vivenciada no cotidiano escolar por esses alunos, onde não só o aluno, mas todos os envolvidos são ao mesmo tempo geradores e depositários de atos de violência. O objetivo deste estudo foi investigar a percepção dos alunos e professores acerca das manifestações de pequenos atos que dão origem a violência no contexto escolar. A pesquisa foi realizada com 108 alunos e 11 professores de terceiro, quarto e quinto anos do ensino fundamental de uma escola da rede pública do estado de Rondônia. Como instrumentos de coletas de dados foram utilizados entrevistas, observação e a aplicação de um questionário, o qual visava diagnosticar a percepção de estudantes e professores acerca das diversas formas de manifestação que a violência assume no ambiente escolar 150 e as variáveis possivelmente associadas a ela. Os resultados obtidos na escola pesquisada revelaram que a maioria das ações de violência identificadas, tanto por professores como por alunos, foram aquelas caracterizadas pelo desrespeito, ameaças e agressões verbais, psicológica e moral. Entretanto, 31% dos alunos entrevistados, não reconhecem essas ações como uma modalidade de violência, classificando apenas a agressão física como ato de violência. Palavras-chave: Violência; relação professor-aluno; escola. 151 PAINÉIS MUNDO DA LUA: USO DE DROGAS E FAMÍLIA Ana Carolina Buzzá Machado Marina Guebert Nicolle Roman Ferreira Maria Cristina Neiva de Carvalho Fonte: estágio de Psicologia Jurídica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná [email protected] O uso de drogas se enquadra em uma problemática multifatorial, pois é importante considerar diferentes aspectos acerca do uso. A droga atinge não somente o indivíduo, mas todo o contexto que ele está inserido, e em especial a família. Todos os membros são afetados, podendo trazer diferentes problemas para o ambiente familiar como adoecimento, discussões e até crises maiores. Muitos familiares quando descobrem o uso de drogas por um de seus membros preferem negar e criam barreiras para o fato e o usuário acaba se afastando deste contexto, preferindo os pares, pois já não se sente enquadrado nele. Com isso a família se sente culpada e o ambiente entra em crise e, a partir daí que algumas famílias buscam ajuda. Este trabalho tem como objetivo discorrer sobre as observações decorrentes do atendimento pelo Setor Técnico de usuários de drogas que se envolveram com a justiça e cumprem medida alternativa no Juizado Especial Criminal de Curitiba. Estes usuários podem retornar com suas famílias ao setor buscando algum tipo de auxílio. Com intervenção em todo o contexto, o trabalho se torna mais amplo, podendo abranger todos os envolvidos na problemática. Observou-se a importância da presença da família no acompanhamento e na motivação para mudança do usuário de drogas envolvido com a justiça tanto durante o período de uso quanto na recuperação. São realizadas intervenções nos atendimentos, nas suas diferentes modalidades, a usuários que chegam ao setor acompanhados ou não de seus familiares. Quando buscam ajuda a família está sofrida, necessitando de amparo e escuta psicológica, juntamente com o tratamento. Os familiares apresentam sentimentos de culpa e impotência. Ainda, ressalta-se que, os indivíduos relatam abandonar a família durante o uso da substância, invertendo os valores e prioridades que tinham, porém, buscam resgatar o vínculo durante o tratamento, podendo valorizar 152 esta experiência após algum tempo de abstinência. A família é um fator de proteção em relação ao uso de drogas e aos poucos o usuário vai percebendo e se aproximando disso. Os familiares buscam apoio e criam vínculo com o setor, recebendo estímulos saudáveis para lidar com a problemática. A família é a principal rede de apoio ao usuário que se dispõe ao tratamento, servindo como base concreta e psicológica ao indivíduo. O amparo e os sentimentos positivos motivam o usuário e com a recuperação dele a família também se beneficia. Palavras-chaves: Drogas, família, intervenção jurídica. 153 PAINÉIS A FRUTA NÃO CAI LONGE DO PÉ: VIOLÊNCIA TRANSGERACIONAL Elaine Chaves Gabriela Rossetto Demeneck Maria Cristina Neiva de Carvalho Viviane Ferreira Estágio de Psicologia Jurídica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná [email protected] A sociedade brasileira foi construída a partir de um modelo patriarcal, em que ao homem era conferido o poder sobre a mulher, seja na tomada de decisões ou sobre o seu papel de servir ao marido e ao lar. Apesar de diversas mudanças terem ocorrido a partir dos movimentos feministas, os vestígios de um tempo patriarcal ainda encontram-se refletidos. Pode-se dizer que milhares mulheres em todo o mundo são vítimas de agressão verbal, física, psicológica e até mesmo sexual, principalmente, por parte de seus companheiros, o que significa que a violência de gênero ocorre no contexto familiar. A função da família deve ser a de promover amparo, alcolhimento, identificação social, socialização, flexibilidade, delimitação de papéis sociais, expressão de afeto positivo, carinho proteção, satisfação das necessidades básicas, segurança, bem estar e conforto, portanto, não é esperado que nesse contexto exista qualquer tipo de agressão. A prática cotidiana de maustratos dentro da família tem prejuízos significativos para todos os seus membros. Em razão da transmissão intergeracional de violência, as crianças que vivenciaram ou observaram algum tipo de agressão em seus lares têm maior propensão a perpetuarem os mesmos comportamentos ou a aceitarem a violência como conduta comum praticada. Tais afirmativas corroboram com o fato de que homens educados em lares abusivos e violentos têm maior chance de perpetuarem a violência doméstica, assim como mulheres que anteriormente foram filhas em famílias com relação violenta têm maior probabilidade de serem vítimas. Frente às afirmativas, o presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre a percepção dos autores e das vítimas de violência doméstica acerca da família. Os dados foram coletados por meio de grupos de intervenção no Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, em Curitiba, os quais ocorriam separadamente, 154 ou seja, grupos de vítimas e de autores de violência. A partir dessa experiência foi constatado que, de modo geral, os homens autores de agressão encaram a relação familiar como uma díade entre homem e mulher ou companheiro e companheira, excluindo os filhos dessa relação. Após serem estimulados a pensarem a respeito de todo o sistema familiar, eles evitam verbalizar qual a influência que a violência doméstica pode gerar sobre seus filhos e, quando o fazem, demonstram preocupação com o que as crianças podem pensar sobre eles. Já as mulheres apresentam um discurso diferente, mencionando que a violência doméstica causa danos em todo o lar, com reflexões em si próprias, em seu companheiro e em seus filhos. Embora apresentem esse discurso, agem de maneira paradoxal, alegando não se desvencilhar de seu agressivo companheiro em razão de seus filhos, que exigem a presença do pai no lar. Em contrapartida, é possível observar que, em diversas situações, a denúncia foi realizada quando a agressão atingiu diretamente seus descendentes. Por meio dessa constatação, percebe-se que a tomada de decisão é em detrimento dos filhos, as próprias vítimas mencionam que só conseguem agir pensando em si mesmas quando seus filhos são independentes. Ademais, as vítimas acreditam que precisam suprir todas as necessidades do lar, inclusive prover qualquer tipo de cuidado ao seu companheiro e, apesar de se envergonharem de sofrerer agressões, trazem consigo a certeza de que a visão que seus filhos têm a respeito delas é a de uma super mulher e super mãe, a qual cuida da casa, dos filhos, do pai e ainda exerce atividade profissional externa. Conclui-se que intervenções destinadas à violência doméstica e familiar devem enfocar o sistema familiar e a percepção que os envolvidos na situação violenta têm sobre esse sistema. 155 PAINÉIS PERCEPÇÃO VISUAL E MEMÓRIA VISUAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM CRISE EPILÉPTICA AFEBRIL LIMA, D. S. CRUZ, A. C. B. RIECHI, T. I. J. S. ANTONIUK, S. A. BRUCK, I. [email protected] Objetivo Analisar o desempenho da percepção e memória visual em crianças e adolescentes com crise epiléptica afebril. MÉTODO Foram selecionados pacientes do Ambulatório de Primeira Crise e Crise(s) Recente(s) do Centro de Neuropediatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, com idade entre 6 e 16anos, ambos os sexos, de janeiro de 2008 a março de 2011. Os pacientes responderam ao Protocolo de Avaliação Neuropsicológica Breve Infantil, no qual está incluso o Teste da Figura Complexa de Rey. RESULTADOS Foram avaliadas n=45 pacientes, sendo 11 (24%) com diagnóstico clínico de crise parcial e 34 (76%) com crise generalizada; 10 (22%) apresentaram crise epiléptica única e 35(78%) mais de uma crise; 38 (84%) apresentavam crises sob controle, 5(11% ) crises recentes e 2 (5%) de difícil controle; sendo que 32 (71%) monoterapia, 5 (11%) politerapia e 8 (18%) sem medicação; a media etária foi de 11a3m(+3a3m); 27 (60%) do sexo masculino e 18 (40%) do sexo feminino; a principal queixa para avaliação foi dificuldade de aprendizagem e comportamento (66%). O Teste da Figura Complexa de Rey Copia indicou 2 (4%) na média, 22 (49%) abaixo da média e 20 (44%) acima da média; na reprodução de Memória 4 (9%) ficaram na média, 30 (67%) abaixo da média e 11(24%) acima da média. 156 CONCLUSÕES Há indicativos de prejuízo da percepção visual e, principalmente, da memória visual em pacientes com crise epiléptica, apesar das especificidades clínicas, como prevalência do bom controle das crises e monoterapia. Palavras-Chave: Avaliação Neuropsicológica; epilepsia; percepção e memória visual. *Laboratório de Neuropsicologia (LABNEURO) do Departamento de Psicologia (DEPSI) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital das Clinicas da Universidade Federal do Paraná (CENEP – HC/UFPR). 157 PAINÉIS PROGRAMA DE MELHORIA DA INTERAÇÃO FAMILIAR – PROMIF Lissandra Medeiros Santos Solange de Fátima Ilivinski Luiza Helena Cosmo Spaki Rosangela Odete de Souza Alves e Luciane Mendonça Fundação de Ação Social (FAS) Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) CIC [email protected] RESUMO Na estrutura da Prefeitura Municipal de Curitiba, a FAS é a gestora e articuladora da Política da Assistência Social do Município. Tendo como público alvo a população de Curitiba socialmente vulnerável e em situação de risco, e missão de desenvolver e implementar a política de assistência social, considerando as potencialidades da população. Para isso propõem uma gestão descentralizada no tocante aos espaços territoriais, favorecendo ações intersetoriais com foco na família. Para a prevenção das situações de risco, no que se refere à Proteção Social Básica, conta com a atuação dos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS. Já para situações de risco pessoal e social, violação de direitos, decorrentes de violência - Proteção Social Especial, o atendimento ocorre nos Centros de Referência da Assistência Social – CREAS, que dentre outras atividades, em 2008 iniciou as ações do Programa de Melhoria da Interação Familiar. Objetivos oferecer apoio psicossocial às famílias; promover o fortalecimento da identidade do grupo familiar; atuar no restabelecimento das funções próprias da família de proteger e permitir o desenvolvimento saudável de seus integrantes. MÉTODO Este trabalho está apoiado na proposta de Lidia Weber (2007a,b), em seu Programa de Qualidade da Interação Familiar, baseado em pesquisas de análise do comportamento e da disciplina positiva. Os temas centrais da proposta e que são trabalhados no decorrer dos encontros são (1) amor incondicional, (2) princípios do comportamento, (3) conhecer o desenvolvimento da criança, (4) 158 autoconhecimento, (5) comunicação positiva, (6) envolvimento, (7) usar conseqüências positivas, (8) apresentar regras, (9) consistência, (10) não usar punição corporal, (11) ser um modelo moral, (12) educar para autonomia. RESULTADOS Primeiramente participaram do projeto piloto famílias em descumprimento do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Em 2009, ampliamos o público para as famílias acompanhadas pelo CREAS e atendidas pelo Sistema de Garantia de Direitos e Rede de Proteção. O avanço ocorrido em 2010 foi a adaptação dos temas trabalhados, conforme faixa etária dos filhos. Em 2011 realizamos a primeira Oficina Lúdica do PROMIF, atendendo crianças em situação de violência e direitos violados, concomitante aos encontros de pais. Participaram destas oficinas crianças de seis a onze anos. A oficina lúdica seguiu os mesmos temas, porém adaptado à idade. Desde o início temos avaliado a prática e adaptado a proposta à nossa população. A primeira turma de 2008 encerrou com apenas sete participantes, enquanto em 2011 concluímos a primeira turma com 24 participantes. Dentre os resultados mais expressivos estão que 100% dos participantes relatam que o curso contribui para a educação dos filhos, 90% dos concluintes relataram melhora da interação familiar, da qualidade do vínculo e envolvimento afetivo. CONCLUSÃO A experiência demonstra a importância do trabalho com a família, apoiando-a para o desempenho de suas funções específicas, em especial junto às crianças e adolescentes, ajudando-a a refletir sobre sua organização e modo de resposta às situações do cotidiano, favorecendo a realização de movimentos em direção a adoção de novas maneiras de relacionar-se. Palavras- chave: família, vínculo e interação. 159 PAINÉIS SENTIMENTOS, DIFICULDADES E EXPECTATIVAS DOS PAIS EM RELAÇÃO AOS FILHOS SUPERDOTADOS INSERIDOS EM ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Paula Mitsuyo Yamasaki Sakaguti (SEED/PR) Maria Augusta Bolsanello (UFPR) [email protected] RESUMO O presente trabalho investigou as concepções de pais sobre as Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) dos filhos inseridos em atendimento educacional especializado em Sala de Recursos, no que diz respeito aos seus sentimentos, dificuldades e expectativas. Foram entrevistados doze pais (dois pais e dez mães), cujos filhos frequentam a Sala de Recursos para Altas Habilidades/Superdotação de uma escola pública da cidade de Curitiba, Paraná. Após análise qualitativa dos dados, com a utilização da análise de conteúdo, observou-se que os pais: (a) expressaram sentimentos de insegurança, medo, angústia, preocupação frente à educação e ao futuro de suas crianças, em contraponto com sentimentos de privilégio, felicidade e orgulho. A desmotivação pela escola, o desajustamento social e o sub-rendimento escolar são algumas das situações apresentadas pelos pais, nas quais refletem sua ansiedade e preocupação em relação aos filhos com AH/SD; (b) compartilharam e dialogaram com pessoas próximas ao convívio familiar e escolar sobre as características observadas em seus filhos quando ainda pequenos, em busca de apoio, informação ou indicação de locais de serviço especializado; (c) relataram suas dificuldades em lidar com o desenvolvimento sócio-emocional dos filhos; com a discrepância entre o alto potencial dos filhos e o desenvolvimento motor; com o sub-rendimento escolar; com a curiosidade dos filhos; e a solidão de não poderem compartilhar com outros pais suas angústias e dúvidas; (d) esperam que os filhos façam as escolhas a partir do próprio potencial, que sejam felizes, “normais”, desfrutem de políticas públicas que valorizem as AH/SD. Conclui-se, entre outras sugestões e recomendações, a necessidade de: apoiar os pais e a família por meio de informações e orientações sobre as AH/SD; fomentar o estabelecimento de uma nova dinâmica nas relações professor-família- 160 aluno com AH/SD; ampliar os serviços de atendimento educacional especializado; mobilizar a universidade para que participe ativamente da melhoria do ensino especial, em particular das AH/SD, em atividades de ensino, pesquisa e extensão, levando em conta o enfoque proposto no presente estudo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Palavras chaves: Altas Habilidades/Superdotação, Família, Educação Especial. 161 PAINÉIS PRATICAS EDUCATIVAS PARENTAIS E RELAÇÃO COM DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DOS FILHOS Laura Zitronenblatt Lidia Natalia Dobrianskyj Weber Barbara Bonotto Scalassara Bruno D. Muller Morera Universidade federal do Paraná [email protected] As práticas parentais referem-se aos comportamentos que os pais utilizam para a socialização e disciplina dos seus filhos. Elas baseiam-se em modelos culturais, que podem variar em cada comunidade. Influenciam na formação global da criança, principalmente quando se refere às emoções resultantes das estratégias disciplinares utilizadas, instâncias fundamentais no desenvolvimento de funções cerebrais em domínios psicológicos. A fim de verificar de que maneira as práticas parentais se relacionam com o desenvolvimento emocional das crianças, esta pesquisa investigou as reações dos pais frente a demonstrações de emoções negativas advindas de seus filhos. Foram utilizados a Escala de Enfrentamento de Emoções Negativas de Crianças (CCNES Coping with Children´s negative Emotions Scale) e o Índice de Estresse Parental (PSi – Parenting Stress Index) como instrumentos de coleta de dados em uma amostra de pais e crianças com idade entre os 7 e 12 anos, de escolas públicas e privadas. A CCNES indica que os pais, ao se depararem com emoções negativas vindas de seus filhos, podem apresentar tanto posturas positivas como negativas: reações de angústia, punição, focadas no problema, encorajamento, focadas nas emoções, e minimizadoras. O PSI é um índice que mede o grau de estresse dos pais em suas funções parentais cotidianas e divide-se nas subescalas de sofrimento parental, interações disfuncionais entre genitorcriança, e percepção de criança difícil. A análise dos resultados revelou correlação significativa entre o Estresse Parental e o comportamento parental de aplicar punições nos filhos quando eles apresentam respostas de emoções negativas (r=0,481; p<0,001). Isso significa que quanto mais estressante os pais perceberem a relação com seus filhos, maior a probabilidade de eles aplicarem 162 surras como prática educativa. Houve correlação positiva e significativa das variáveis “punição” e “criança difícil” (r=0,485; p<0,001), o que revela que os pais que mais punem são também aqueles que percebem suas crianças como difíceis. Houve também correlação significativa e inversa entre as variáveis “interação disfuncional entre progenitores e crianças” e “estratégias para ajudar as crianças a se sentirem melhor” (r=-0,348; p<0,001) o que aponta que, se a relação parental é disfuncional, os pais tenderão tem menor probabilidade de criar estratégias que ajudem seus filhos a se sentir melhor dentro de situações aversivas. Serão discutidas as conseqüências da utilização corporal e testados modelos explicativos com as diferentes variáveis investigadas (regressão linear). REFERÊNCIAS: BLANDON, A. Y.; CALKINS, S. D.; KEANE, S. P.; O'BRIEN, M. “Individual differences in trajectories of emotion regulation processes: The effects of maternal depressive symptomatology and children's physiological regulation”. Developmental Psychology, Vol 44(4), Jul 2008, 1110-1123. BRITO, H, S. “Estresse, resiliência e vulnerabilidade: comparando famílias com filhos adolescentes na escola”. Rev. Bras. Crescimento Desenvolvimento. Humano, Vol.16 (2), Ago 2006, p.25-37. CHANG, L.; SCHWARTZ, D.; DODGE, K. A.; MCBRIDE-CHANG, C. “Harsh Parenting in Relation to Child Emotion Regulation and Aggression”. Journal of Family Psychology, Vol 17(4), Dec 2003, 598-606. CONTRERAS, J. M.; KERNS, K. A.; WEIMER, B. L.; GENTZLER, A. L.; TOMICH, P. L. “Emotion regulation as a mediator of associations between mother–child attachment and peer relationships in middle childhood”. Journal of Family Psychology, Vol 14(1), Mar 2000, 111124. DILLON, J. A. (2009). “Play, creativity, emotion regulation and executive functioning”. Dissertação de Mestrado. Department of Psychology in the Case Western Reserve University. U.S.A. FANTUZZO, J. W.; BULOTSKY-SHEARER, R.; FUSCO, R. A.; MCWAYNE, C. “An investigation of preschool classroom behavioral adjustment problems and social–emotional school readiness competencies”. Early Childhood Research Quarterly, Vol 20 (3), 2005, 259-275. MELO, A. I. M. T. (2005). “Emoções no período escolar: estratégias parentais face à expressão emocional e sintomas de internalização e externalização da criança”. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Universidade do Minho, Portugal. SMITH, L. M. (2009). “Parent and teacher influences on preschool children’s emotion regulation, pre-academic and social skills”. Dissertação de Mestrado. Department of Human Development and Family Studies in the Graduate School of The University of Alabama. U.S.A. 163 PAINÉIS ATUAÇÃO DO PSICOLOGO EM EQUIPE INTERDISCIPLINAR NO SERVIÇO DE ESTIMULAÇÃO ESSENCIAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA – SUPORTE E ATENÇÃO AS FAMILIAS Luciana Maísa da Silva Sydor [email protected] INTRODUÇÃO Ter um bebê que necessita de atendimentos especializados demanda uma mudança significativa nas famílias e, por isso, o psicólogo é um elemento essencial numa equipe interdisciplinar que tenha como objetivo propiciar o desenvolvimento integral da criança. Como o bebê está num processo de aquisição de funções é importante intervir de maneira eficaz, aproveitando este momento crucial para a construção da relação mamãe-bebê e para o desenvolvimento neuropsicomotor. Este trabalho demonstra a atuação do psicólogo dentro de uma equipe de estimulação essencial realizado no Ambulatório de Reabilitação Mental/Autismo, da Secretaria Municipal de Saúde, da Prefeitura Municipal de Curitiba. Objetivo : dar suporte psicológico às famílias de bebês de risco encaminhados para o ambulatório; favorecer a relação mãe-bebê, a interação da tríade família-bebê-terapeutas e a adesão ao tratamento, avaliar a necessidade de encaminhamentos para outros serviços de psicologia que possam auxiliar para a melhora da dinâmica familiar e contribuir com os conhecimentos específicos durante os estudos de casos e desenvolvimento de planos terapêuticos. MÉTODO São realizadas sessões de anamnese; reuniões interdisciplinares para discussões de casos e elaborações de planos terapêuticos; sessões de orientações às famílias e sessões individualizadas com as mesmas, em atendimentos semanais, quinzenais ou mensais conforme a demanda. RESULTADOS E DISCUSSÃO Atualmente estão em estimulação no ambulatório 30 crianças, sendo que todas as famílias são acompanhadas pelo serviço de psicologia. Observa-se melhor adesão ao tratamento através de menor índice de faltas não justificadas às terapias e da colaboração em relação às orientações passadas pelos terapeutas envolvidos. Busca ativa por parte das famílias para conversas pontuais. 164 CONCLUSÃO O psicólogo é um instrumento de mediação importante no processo terapêutico em equipe interdisciplinar, atuando de maneira integral, visando não apenas o paciente, mas também a família e a equipe clínica, favorecendo assim um melhor desenvolvimento do mesmo e seu prognóstico. Palavras chave: atuação psicológica, equipe interdisciplinar, estimulação essencial. 1Psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de Curitiba 165 PAINÉIS ESCALA DE QUALIDADE DE INTERAÇÃO FAMILIAR – EQIF; ESTUDO DA VALIDAÇÃO E AFERIÇÃO DO INSTRUMENTO PARA A POPULAÇÃO PORTUGUESA Marta Assis Loureiro (Portugal) D. Florencio Castro 1 (Espanha) Lidia Natália Dobrianskyj Weber [email protected] [email protected] As práticas educativas parentais têm sido investigadas desde há várias décadas e são consideradas como importantes preditivos no desenvolvimento infantil e adolescente. Este trabalho visa a validação e aferição para a população portuguesa da “Escala de Qualidade da Interação Familiar - EQIF” (L. Weber, A. P. Viezzer e O. Brandenburg, 2009) que permite avaliar as práticas educativas parentais, juntamente com outros aspectos de interação familiar, a fim de apurar se estamos perante um contexto familiar de proteção ou de risco. O instrumento é composto por 2 escalas: a EQIF Pais, direccionada para Pais e a EQIF Filhos, para os adolescentes. Estas permitem responder sobre os comportamentos dos pais perante o ponto de vista dos filhos e sobre o comportamento dos filhos, sob o ponto de vista dos pais; a EQIF Filhos contém 40 itens agrupados em nove escalas (envolvimento, regras e monitoria, comunicação positiva dos filhos comunicação negativa, punição corporal, clima conjugal positivo, clima conjugal negativo, modelo parental, sentimento dos filhos) e a EQIF Pais contém 51 itens, igualmente agrupados nas nove escalas anteriormente citadas. Recolheu-se uma amostra de 125 participantes, composta por pais e adolescentes, com idades entre os 12 e 82 anos, que responderam a ambas as escalas. 166 O EQIF demonstrou boas propriedades psicométricas e pode ser considerado como uma medida válida de qualidade das interacções familiares; daí que este instrumento já ensaiado e testado num estudo-piloto, possa ser adaptado e validado para a população portuguesa. Este estudo já se encontra em curso como tese de Doutoramento da investigadora, pretendendo-se com esta pesquisa contribuir com futuras propostas de prevenção e intervenção para profissionais que trabalham com crianças e adolescentes. Dra. Afiliação Profissional: PsiLógicas – Centro de Avaliação, Formação e Investigação em Psicologia Aplicada 1.Prof. Dr. Director do Departamento de Psicología y Antropología da Universidad de Extremadura, Badajoz – Espanha 167 PAINÉIS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOLOGIA PARA A ORIENTAÇÃO PARENTAL Daniella Bauer Pereira de Almeida Bastos Ademar Heemann [email protected] RESUMO: O Objetivo deste trabalho é apresentar a produção teórica de duas autoras, Amanda Céspedes e Margot Sunderland, sem tradução no Brasil, com os resultados de experiência clínica e de pesquisa em neuropsicologia sobre a relação entre as condutas parentais e as condutas da criança, e, a partir desses fundamentos, sugerir um roteiro de orientação para pais sobre suas condutas com seus filhos. Palavras-chave: Condutas Parentais. Neuropsicologia. Orientação Parental. INTRODUÇÃO A infância como objeto de estudo científico teve inicio na obra de Freud, e hoje é tema essencial para a compreensão do comportamento humano e da personalidade adulta. Os estudos mais recentes em neuropsicologia investigam a interação entre as funções psicológicas e o funcionamento do sistema nervoso, construída na relação que acontece entre o indivíduo e o meio. A partir dessa perspectiva, investigou-se o papel da conduta dos pais no desenvolvimento da criança, seu comportamento e formação da sua personalidade, percebendo esse estudo como uma possibilidade de atuar na promoção da saúde mental e na prevenção da doença mental, uma vez que esse papel revela-se determinante e estabelece-se nas primeiras relações, especialmente nos dois primeiros anos. A concepção burguesa da infância via a criança como um ser que deve ser corrigido pelo adulto, assexuado, sem desejo próprio e imaturo (ARIÈS apud COSTA, 2007). A partir de Freud, a concepção de infância mudou, no final do sec. XIX (COSTA, 2007). “Mas foi no século XX que o 168 interesse e a valorização dessa faixa etária promoveu “profundas modificações” nos métodos educacionais, sendo considerado o Século da Criança” (VASCONCELLOS, 2009, p. 98). Atualmente, as ciências cada vez mais se interessam pelo desenvolvimento infantil e consideram a relação das experiências vividas na infância e a personalidade adulta. Os estudos realizados pela psicanálise, psicologia, pediatria, psicologia, psiquiatria e outros fornecem recursos para pais e educadores na tarefa de preparar as crianças para o convívio social, cada vez mais complexo e precoce. Mais recentemente, a neuropsicologia busca recursos para compreender e descrever o desenvolvimento da criança a partir de dados científicos e pesquisas que investigam a atividade cerebral e sua relação com as funções psicológicas e a formação da personalidade. De acordo com Adolphs, o cérebro humano é fundamentalmente adaptado para desenvolver-se em um contexto social e esse contexto contribui para muitas das especializações encontradas no córtex adulto (2009). Freqüentemente, a compreensão da criança e seu comportamento são resultado de mitos e tradições aos quais nem sempre correspondem as suas reais características e processos de desenvolvimento. O profissional da saúde mental enfrenta diversos desafios em sua prática, como a compreensão do sintoma ou transtorno, e a intervenção eficaz capaz de promover a diminuição do sofrimento do paciente e aumentar sua qualidade de vida, estando limitado por condições sociais e culturais. Nos atendimentos às crianças na clínica psicológica, apresenta-se a demanda de orientar os pais a respeito do comportamento dos seus filhos, ao constatar que em diversos casos, as queixas relativas a condutas desafiantes e anti-sociais não eram sinais de psicopatologia ou dificuldade inerente à criança, mas manifestações coerentes com a fase de desenvolvimento da criança – não reconhecidas pelos pais -, ou eram reflexos do ambiente familiar e da conduta negativa dos pais ou cuidadores para com essas crianças. A neuropsicologia traz novidade ao estudo do comportamento humano, utilizando-se de imagens funcionais do cérebro humano e sua relação com a conduta do paciente para compreender o comportamento. Além dos estudos das lesões cerebrais e sua influência no comportamento do paciente, a neuropsicologia considera decisivo o papel da interação social na formação das condutas. Deste modo contribui para a prática de orientação dos pais, fundamentando as indicações das práticas que lhes são mais adequadas e esclarecendo quais são as conseqüências de condutas parentais inadequadas. Neste artigo, utilizaremos os estudos de duas autoras, Amanda Céspedes e Margot Sunderland, cujas obras trazem fundamentos neuropsicológicos - resultados de prática e pesquisa - para fundamentar a tarefa de orientar pais sobre a melhor conduta para com seus filhos. 169 Os estudos de Amanda Céspedes Amanda Céspedes nasceu em Iquique, Chile, em 1947. É psiquiatra infantil e juvenil, pós-graduada em neuropsicologia e neuropsiquiatria infantil. Atua como professora na Pontificia Universidad Católica do Chile e é membro diretor da Fundación Mírame, entidade sem fins lucrativos voltada à inovação do sistema escolar de crianças com transtorno do desenvolvimento (inclusão escolar). A sua proposta é mudar o paradigma da educação que utiliza a autoridade, a punição e o controle, por um modelo empático, compreensivo, intuitivo, e que utilize ferramentas de comunicação afetiva e efetiva, mais adequadas à realidade das crianças e do mundo hoje. Propõe-se a autora a oferecer para professores, cuidadores, pais e interessados em desenvolvimento e comportamento infantil, acesso a informações aprofundadas e técnicas efetivas para conter excessos, guiar a formação e desenvolver as potencialidades e talentos de seus filhos, preservando as características próprias da criança. Esse novo paradigma para educar a criança tem por base a realização de duas tarefas: 1) identificação dos fatores que facilitam, provocam ou agravam a conduta desafiante e o comportamento anti-social das crianças e adolescentes, nas palavras da autora “submergir no misterioso e fascinante mundo mental e emocional infantil que se esconde atrás dessas condutas”; 2) buscar a causa desses comportamentos, na maioria das vezes multifatoriais, aplicando estratégias efetivas para abordar e solucionar esses comportamentos. (...) mostrar aos pais e professores que toda criança vem ao mundo programada para a harmonia e para a felicidade; sem dúvida, para alcançá-las, o menor precisa da companhia de adultos que os guiem e os eduquem emocionalmente. (...)mostrar que educar as crianças para a vida é uma tarefa nobre que se pode levar a cabo de modo melhor quando se possui certas habilidades (CÉSPEDES 2008, p.12 e 13). Para explicar aos pais as bases do comportamento e da relação entre pais e filhos, a autora apresenta o conceito de sistema somatopsiconeuroimunohormonal, visando apresentar a ampla rede de estruturas que atuam de modo decisivo na vida emocional: o corpo, a atividade mental, o módulo cerebral, o sistema de defesas e o sistema de glândulas que comandam inúmeros processos como crescimento, reprodução, metabolismo e outros (2008). E ainda, apresenta em maiores detalhes o módulo cerebral das emoções, descrevendo as estruturas que considera principais: a) córtex parietal do hemisfério direito: atua no reconhecimento de faces; b) córtex temporal superficial do hemisfério direito: atua na decodificação do conteúdo emocional da melodia da voz: timbre, inflexões, tom, ênfases, pausas, mensagens implícitas. c) sistema límbico: estruturas filogenéticas muito antigas que fazem conexão direta com o córtex do hemisfério direito: 170 - amígdalas cerebrais: grupos neuronais que adjetivam e classificam as mudanças internas produzidas pelos estímulos em emoções negativas e positivas. Permitem ao bebê, desde o nascimento, experimentar emoções positivas ligadas às experiências dos primeiros cuidados ou emoções negativas relacionadas com negligencia e abandono; - hipocampo: uma espécie de arquivo que seleciona, organiza e armazena dados, dentre eles, as primeiras experiências emocionais. - núcleos septais: núcleos neuronais que atuam na percepção das sensações de prazer, inicialmente, e mais tarde, atuam na presença de estranhos gerando respostas de medo; - sistema de neurônios espelho: conjunto de neurônios que possuem um mecanismo de compreensão das ações e intenções dos outros, gerando contágio emocional ou “efeito camaleão”. Atuam como substrato neurobiológico da empatia e da intuição. Com esses esclarecimentos, a autora fornece base para compreensão do funcionamento e da natureza do comportamento da criança. O papel dos pais e familiares, segundo Céspedes (2008), é de importância fundamental, especialmente na educação das emoções. Por outro lado, a falta de conhecimento do seu papel no comportamento do filho, e do processo de desenvolvimento é realidade de muitos pais: (...) sorpresa les causò a muchos padres saber que la mayoría de los problemas de conducta de sus hijos son provocados y mantenidos por las actitudes de los adultos, em especial actitudes erróneas respecto a la educación emocional oportuna y sistemática (2008, p.12)6. Para a autora, só é possível promover condutas saudáveis nos filhos se os adultos que os acompanham são capazes de educá-los emocionalmente para enfrentar a vida e seus desafios. Segundo ela, algumas condições são necessárias para ter êxito na tarefa de educar as emoções, para ser um educador emocional: ter conhecimento intuitivo ou formal sobre a infância e a adolescência, particularmente suas características psicológicas e tarefas do desenvolvimento; conhecer a importância do ambiente emocionalmente seguro na formação da afetividade infantil; apresentar um razoável equilíbrio psicológico em cada um dos membros da família; coesão familiar; enfrentamento adequado dos conflitos;gestão da autoridade e do poder; comunicação afetiva e efetiva. 171 Para contribuir com os pais, a autora apresenta alguns conceitos sobre o funcionamento neuropsicológico infantil e desse modo possibilita a preparação dos pais, educadores e cuidadores para lidar com a criança com conhecimento, pois muitas vezes o comportamento é apenas a parte visível de uma situação mais complexa, e há necessidade de se visualizar a gênese multifatorial da conduta da criança. Para compreensão da conduta de uma criança e posterior abordagem, a autora considera elementos biológicos, psicológicos e sociais: Tabela 1 – Fatores para compreensão do comportamento infantil Fatores biológicos Fatores psicológicos Fatores sociais 1) Temperamento: 1) Atribucionalidade: 1) Normas internalizadas ansiedade, instintos, estado capacidade de assumir as de forma oportuna e de ânimo, capacidade de consequências das próprias sistemática: respeito, desfrutar. ações. ordem e bom uso do 2) Emoções: estados 2) Locus de Control: internos passageiros que regulação social conduta. possuem valência positiva ou negativa. Surgem de emoções primárias instaladas no cérebro humano desde o nascimento: a alegria, a quietude, a raiva, o medo. 3) Caráter:dimensão da personalidade; solidez, consistência e objetividade tempo, retidão e honestidade. 2) Limites claros, consistentes e flexíveis. 3) Educação emocional na conduta que despertam nos demais confiança e credibilidade. Fonte: Calderón, 2008. Os estudos de Margot Sunderland A outra autora, Margot Sunderland é psicoterapeuta infantil. Atua há 20 anos com crianças e famílias, e já publicou mais de 20 livros sobre saúde mental infantil. Sua pesquisa em neurociência da interação entre pais e filhos envolveu mais de 800 pesquisas em todo o mundo, e suas conclusões resultaram, em 2006, no livro The science of parenting (A ciência da Parentalidade) não publicado no Brasil. Além das pesquisas, sua prática clínica com famílias possibilita explicar a ciência sem 6 “(...) causou surpresa a muitos pais saber que a maioria dos problemas de conduta de seus filhos são provocados e mantidos pelas atitudes dos adultos, em especial atitudes erradas em relação à educação emocional oportuna e sistemática”. (Trad. pelo autor). 172 perder de vista a realidade cotidiana que todos os pais enfrentam. A proposta da autora para este livro é de um guia prático, “escrito com base em fatos, ao invés de ficção ou opinião”, com base em estudos científicos sobre o impacto que as interações cotidianas entre pais e filhos podem ter no desenvolvimento cerebral e emocional da criança (SUNDERLAND, 2006). Assim como Calderón (2007, 2008), Sunderland (2006) entende que para compreender a criança e seu comportamento, é importante conhecer alguns fatos sobre o cérebro humano. A autora apresenta o cérebro da criança de modo que os pais possam compreender o sistema nervoso, o sistema emocional, a gênese do funcionamento infantil. Sua explicação aborda desde a evolução do cérebro desde a aparição dos primeiros hominídeos, há mais de três milhões de anos atrás, e como esse caminho evolutivo construiu o cérebro humano em três partes: 1) o cérebro reptiliano, o mais antigo dos três, partilhado por todos os vertebrados. Atuam nos comportamentos relacionados à sobrevivência e controle das funções metabólicas como fome, respiração, circulação, temperatura, fuga e ataque; 2) o cérebro mamífero, também conhecido por cérebro emocional, cérebro “de baixo” ou sistema límbico, essa região cerebral dispara fortes reações que precisam ser administradas pelo cérebro racional, que é exclusivo dos humanos. Essas fortes reações são as emoções – raiva, medo, afeto, curiosidade, alegria, tranqüilidade; 3) cérebro racional, ou lobos frontais, ou neocortex, é a parte mais nova do cérebro e também a maior em massa, correspondendo a 85% da massa total. Suas funções incluem: criatividade e imaginação, solução de problemas, reflexão e planejamento, auto-cuidado, bondade, empatia, consideração. É nesta parte do cérebro da criança que a conduta emocional dos pais causará os maiores impactos. A compreensão deste modelo evolutiva possibilita aos pais, educadores e cuidadores fundamentos para compreender o comportamento da criança, e com esta compreensão, encontrar estratégias eficazes de atuação, em prol do desenvolvimento sadio e da interação social harmoniosa. A criança sente e vive reações emocionais instintivas arcaicas, e precisa do suporte adequado de adultos para transformar tais reações em comportamentos sociais adaptados e ajustados para as diversas situações, especialmente as de frustração e medo. Figura 1: Representação da evolução do cérebro na espécie humana7 7 Como o cérebro evoluiu – o diagrama mostra um modelo de como o cérebro humano evoluiu, construindo camada sobre camada, tendo o cérebro reptiliano em seu núcleo. (Trad. pelo autor) 173 FONTE: SUNDERLAND, 2007. Todas as experiências entre os pais e filhos formarão conexões nas células cerebrais do néocortex da criança, pois o cérebro humano é desenhado para funcionar deste modo e assim adaptar-se ao ambiente que o recebe (Sunderland, 2006). O desenvolvimento do cérebro da criança ocorre, em sua maior parte, após o nascimento, sendo esculpido, em suas conexões, a partir das interações positivas e negativas com os pais. O desenvolvimento do néocortex, em especial, ocorre ao longo da existência, mas a grande influencia dos pais no desenvolvimento do cérebro emocional ocorre por que existem períodos críticos nos primeiros anos de vida, uma vez que 90% do crescimento do cérebro ocorrem nos cinco primeiros anos de vida. Após esse período, milhões de conexões nervosas estão feitas, ou não, em função das experiências de vida e em particular, das experiências emocionais vividas com os pais. (...) it‟s both awesome and sobering to know that as parents we have such a direct effect on the actual wiring and long-term chemical balance in our children‟s brain (Sunderland, 2007, capa do livro).8 Conforme a autora, essa adaptabilidade funcionará a favor ou contra o bem-estar da criança, uma vez que ela se adaptará não só aos ambientes que favorecem o desenvolvimento saudável e a aprendizagem do controle do sistema emocional, mas também a um ambiente agressivo, gerando com isso alterações na estrutura e na química cerebral, o que pode resultar em reações de agressão, descontrole dos impulsos e assim por diante. Ou seja, o modo com que os pais se comunicam com a criança, brinca com ela, confortam-na, e a tratam quando ela está sendo desobediente possui uma 8 “É impressionante e sério saber que, como pais, temos efeitos diretos no estado atual e no equilíbrio químico de longo termo no cérebro de nossas crianças.” (Trad. pelo autor). 174 importância real e concreta. Logo, pais emocionalmente positivos estimularão conexões cerebrais que capacitam o filho a lidar bem com o stress na vida adulta; a estabelecer relações saudáveis; a lidar com a raiva e a frustração; a ter compaixão e empatia; ter ambições de desenvolvimento e motivação para seguir em busca da realização dessas ambições; a vivenciar paz e tranqüilidade profundas; ser capaz de amar. Nos primeiros anos de vida, o cérebro racional da criança está em formação enquanto o cérebro emocional e o reptiliano estarão no comando - pois são responsáveis pelos processos vitais e de sobrevivência. Segundo a autora, é muito importante que os pais entendam exatamente o que isso significa na realidade: que o sistema emocional e os impulsos primitivos irão dominar a criança muitas vezes, por isso ela apresentará ataques de raiva, pânico, stress, gritos e outros estados alterados. Isso, em muitos casos não significa desobediência, é expressão da imaturidade do cérebro ainda pequeno; o neocortex da criança não está suficientemente desenvolvido para ser capaz de acalmar as explosões emocionais que acontecem em seu sistema nervoso em maturação. A desobediência virá em conseqüência da reação dos pais a esses estados emocionais. Daí a importância da conduta e do suporte emocional dos pais. A criança nasce com um grande numero de células nervosas, mas poucas conexões. Essas conexões são construídas ao longo das experiências cotidianas, desde a linguagem, exposição a estímulos, o modo como é tocada, relação entre o casal de pais, convivência – ou não – com outras crianças, ambiente de modo geral, cultura, enfim, todo acontecimento em torno da criança atua sobre ela e sobre a formação de sua rede sináptica, base do comportamento. Sem o conhecimento desse processo, os adultos encontram muita dificuldade em atuar de modo eficaz no processo de educação das crianças, pois é preciso haver uma base neurológica madura para determinados comportamentos. Até os dois anos de idade, está em franca evolução a rede de sinapses, de modo que o comportamento da criança tenderá a ser bastante espontâneo e pouco coordenado, ainda está sendo montada a rede que possibilitará o funcionamento adequado das funções executivas (como pensamento, linguagem, planejamento, memória, habilidades motoras). Figura 2. Esquema de formação das conexões nervosas 9 9 História do Cérebro. Conexões ao nascimento. Os diagramas mostram como o néocortex do bebê forma conexões de modo muito rápido, e como é esculpido pelas experiências nos primeiros anos de vida. No início, as células cerebrais são desconectadas, como fios de um computador. Um bebê recém-nascido possui 200 bilhões de células, mas poucas conexões. Em uma criança de um ano, as células do neocortex desenvolveram muitas conexões. Em uma criança de 2 anos, a rede tornou-se muito mais complexa e a poda sináptica começou. (Trad. pelo autor).s de vida. 175 FONTE: SUNDERLAND, 2006 Segundo Sunderland, entender o cérebro “antigo” pode ser muito útil aos pais, para compreender que medo, raiva, stress de separação, afetividade, ansiedade, são mecanismos emocionais inatos de sobrevivência do bebê, e gradualmente esses mecanismos devem ser educados. Esse sistema de sobrevivência foi desenhado de modo a salvar as crianças de serem mortas por predadores, e mantêlas perto dos genitores, e, embora os perigos da sociedade atual sejam outros, elas (as crianças) continuam sendo subjugadas por esses sistemas, já que o cérebro racional está imaturo para ajudálas a pensar, raciocinar, planejar e acalmar a si mesmas. Quando os pais respondem às tempestades emocionais de forma emocional consistente e positiva, os lobos frontais da criança criam conexões que, ao longo do tempo, torná-la-ão capaz de acalmar os estados de alarme do cérebro primitivo. A autora aborda a questão dos estilos parentais. Ela afirma que a química cerebral da criança é afetada de acordo com o estilo parental ao qual ela está exposta, citando especificamente a oxitocina e os opióides. A ocitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise, liberado no parto para atuar nas contrações uterinas e na produção do leite materno; os opioides são hormônios que geram sensação de bem-estar. Eles são produzidos nas situações de interação afetuosa ou acolhedora, e dessa forma atuam na construção dos laços afetivos entre pais e filhos. De outra forma, quando essas interações não acontecem, a liberação desses hormônios é impedida, o que poderá causar mudanças permanentes no cérebro da criança e nas suas manifestações emocionais. 176 Se a criança não é ensinada a lidar com estados emocionais intensos, o sistema de alarme do cérebro “baixo” pode ficar desregulado de modo a reagir desproporcionalmente aos estímulos. De acordo com os estudos de Beatson, (2003), Gordom, (2003), e Kloet, (2005), citados por Sunderland, a qualidade de vida é dramaticamente afetada pelo estabelecimento na infância, ou não, de uma boa regulação do sistema de alarme do cérebro. (2006, p. 25). Sunderland (2006), assim como Céspedes (2007, 2008), ressaltam a importância da amígdala no sistema de alarme do cérebro primitivo, sua função discriminadora do estimulo, a comunicação com o o hipocampo, hipotálamo, núcleos septais, e todo o sistema límbico, pronta para disparar o alarme frente ao que identifica como ameaça. Desse modo, a criança necessita ser ajudado a compreender a situação, a desenvolver conexões em seu cérebro racional capazes de administrar a reação emocional, afinar sua percepção e regular o sistema de alarme. Segundo a autora, quando os pais ajudam a criança a lidar com sentimentos e emoções intensas, um grande numero de células no cérebro racional começam a construir conexões, que naturalmente assumirão o controle nas situações futuras e na vida adulta, evitando assim uma série de dificuldades de relacionamento, de comportamento e mesmo doenças como a depressão clinica. Um questionamento bastante comum aos pais refere-se ao que seria “correto” fazer na relação com o filho, quais condutas deveriam adotar, já que as utilizadas não apresentaram bons resultados. Sunderland (2006) indica algumas ações para que os pais ajudem seus filhos: 1) levar as emoções e o stress da criança a sério. Isso significa que os pais devem procurar entender a situação sob o prisma da criança, e encontrar palavras adequadas à sua idade, para que haja comunicação efetiva; 2) reconhecer os sentimentos da criança com o tom de voz e a energia apropriados; 3) ser calmo e oferecer limites claros. Firmemente e calmamente dizer não, quando apropriado. Tentar persuadir ou distrair a criança, dentre outras estratégias, a fará sentir-se insegura emocionalmente, se sentir essa falta de segurança nos pais; 4) usar conforto físico. O contato físico afetuoso e tranqüilo libera químicos calmantes para o sistema nervoso da criança. Essas ações objetivam auxiliar a criança a amadurecer seu aparelho emocional, a aprender a utilizar de modo construtivo, no sentido piagetiano, as capacidades de seu cérebro, e tornar-se não apenas alfabetizado, culto, desenvolvido cognitivamente, mas ser um indivíduo educado emocionalmente. Para Sunderland (2007), as pessoas educadas emocionalmente são aquelas capazes de pensar com clareza sob pressão; acalmar a si mesmo quando as coisas dão errado, controlar o sistema de alarme ao stress do cérebro, e assim são capazes de crescer com situações difíceis da vida, ao invés de serem subjugadas por elas. Os indivíduos que não estabeleceram um sistema de resposta efetivo no cérebro podem sofrer de muitos problemas, conseqüências da falta da educação do sistema 177 emocional na infância - qualidade de vida afetada, problemas de relacionamento social, profissional, afetivo, depressão, ansiedade, agressividade destrutiva, fobias e obsessões, doenças psicossomáticas, letargia e falta de motivação. A autora pretende mostrar que os poderes dos pais de esculpir o cérebro são tão maravilhosos que é possível evitar que seus filhos vivam esses problemas. Os pais não podem evitar que o filho sinta dor, dificuldades ou que tenha problemas, mas influencia em como a criança na forma que ele vai aprender a responder a essas situações, com ou sem inteligência emocional. Enfim, a contribuição de Sunderland consiste em apresentar de forma extremamente didática, acessível e completa a gênese e a natureza do comportamento humano, e mostrar de modo bastante objetivo e concreto que a influência da conduta dos pais na conduta dos filhos ocorre no nível das conexões nervosas e atua esculpindo o sistema cerebral. A partir de suas explicações e conclusões, temos mais recursos para compreender como se formam os quadros de transtornos mentais na idade adulta, e trabalhar diretamente na prevenção desses transtornos. A contribuição de Calderón complementa a de Sunderland ao estabelecer pontes entre sua atividade na médica clínica, na atuação com pais e educadores e na pesquisa neuropsicológica, e desse modo possibilitar acesso - de modo simples e prático - a conceitos e teorias da neuropsicologia que são fundamentais para compreensão da conduta da criança e correta intervenção. CONSIDERAÇÕES FINAIS A sociedade atual, marcada pelo consumo, pela tecnologia e pela comunicação global, necessita resgatar e valorizar os valores humanos, em prol do desenvolvimento das futuras gerações. Na era do conhecimento, é um fato sério e preocupante constatar, na literatura e na prática clínica, o despreparo e a falta de conhecimento dos pais e educadores sobre o desenvolvimento da criança e sobre como as condutas parentais determinam as condutas da criança, fatos que geram conseqüências como doença mental, desajuste escolar, medicação indiscriminada, dificuldade de relacionamento e de amadurecimento emocional, entre outros. O trabalho realizado pelas autoras segundo a neuropsicologia vem a confirmar os estudos da pedagogia, da pediatria e da psicologia, as quais enfatizam a importância das primeiras relações e dos modelos de comportamento na formação da personalidade adulta (COSTA 2007, VASCONCELOS 2009. WEBER 2009). Considerando e conhecendo a construção social do cérebro e o papel determinante da conduta dos pais na conduta da criança, é possível facilitar aos pais a laboriosa tarefa de preparar seus filhos para uma vida adulta, social, de modo que cresçam de forma equilibrada e saudável. Com os fundamentos apresentados pelas autoras comentadas, pode-se visualizar os processos neuropsicológicos que estão envolvidos na relação entre pais e filhos, 178 provocar reflexões e sugerir um roteiro para orientar pais a fim de capacitá-los para a exigente tarefa de educar seus filhos, com base em três pontos: 1) informação cientifica para os pais sobre o sistema emocional, comportamento e aprendizagem infantil: esse é o ponto de partida; é fundamental que haja fundamento nas ações dos pais para com seus filhos, tendo clareza nas conseqüências de suas escolhas em suas condutas. 2) análise das condições necessárias para ser um educador emocional (pais ou educadores cujas condutas são positivas para o desenvolvimento integral, especialmente a educação emocional da criança), quais são e como aplicar: desse modo os pais conhecem os requisitos necessários para educar seus filhos de modo emocionalmente saudável, e assim preservar a criança de situações patogênicas. 3) exercícios de auto-avaliação para os pais em relação às suas condutas com os filhos: fundamental é conhecer sua própria conduta parental pois a consciência é o primeiro passo para a efetiva mudança. O conhecimento teórico apresentado nos pontos 1 e 2 terá significado para cada pai e mãe a partir da auto-avaliação e conscientização das próprias condutas, modelos, erros, acertos, oportunidades de melhoria. Portanto, trata-se de utilizar e aplicar os avanços e recursos da ciência em prol do desenvolvimento humano, do cuidado com as crianças e a preparação das novas gerações. REFERÊNCIAS ADOLPHS, Ralph. The social brain: neural basis of social knowledge. ANNU. REV. PSYCHOL. 2009; 60:693-716.46/ANNUEEY.PSYCH.60.110707.163514. CALDERÒN, Amanda Céspedes. Educar las emociones, educar para La vida. - Santiago de Chile: Ed. Vergara, 2008. __________. Ninos con pataletas, adolecentes desafiantes. – Santiago de Chile: Ed. Vergara, 2007. COSTA, Terezinha. Psicanálise com crianças. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar , 2007. VASCONCELLOS, Amélia Thereza de Moura. A criança e o futuro: fundamentos biopsicossociais. São Paulo: Editora de Cultura, 2009. SUNDERLAND, Margot. The science of parenting. – London: Dorling Kindersley, 2006. WEBER, Lidia. Eduque com carinho. – Curitiba: Juruá Editora. 3 edicao, 2009. 179