XXVI Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação 22 a 24 de
julho de 2015
ESTUDO DA SINALIZAÇÃO DA BIBLIOTECA PÚBLICA DE SANTIAGO DO
CHILE
Autora: Solange Mendes e Silva Santos. Universidade Anhembi Morumbi. E-mail:
[email protected]
Introdução: Bibliotecas são onde a comunicação é praticada e para onde
convergem alguns frutos das experiências humanas. Seu espaço pode e deve
contribuir na experiência do usuário, já que todo espaço emite sinais, positivos e
eficazes ou não, como aponta Kurpersmith (1980, p. 55), dizendo que estes
podem ajudar ou ser obstáculo, à medida que a biblioteca pode usa-los “como
ferramenta de instrução.” (KUPERSMITH, 1980, p. 55, tradução nossa). Barbalho
(2000, p. 97-98) aponta a necessidade de usar esse espaço e a comunicação
visual para alcançar seus objetivos. Destaca a sinalização, citando (2000, p. 4344) seu potencial na construção da identidade da biblioteca e empatia com o
usuário. Quanto ao termo “sinalização”, Magalhães&Velho (2006, não paginado)
referem-se à sua importância na organização dos espaços, utilização segura,
difusão de informação, e marketing. Sánchez Avillaneda (2005, p. 40), refere-se a
um “conjunto de sinais gráficos” ou “estímulos”, para “regular a mobilidade social
no espaço”, além de “tornar mais aproveitáveis os serviços”. Daí a importância de
reflexão no desenvolvimento do projeto. Tanto mais se aplica isso à biblioteca
pública, que, segundo Fonseca (2007, p. 56) é por excelência, destinada a todos.
E, diante dos atuais desafios, a Biblioteca Pública de Santiago (BPS) no Chile é
um modelo inovador, onde buscamos investigar o quanto sua peculiar sinalização
contribui para seu sucesso.
Método da Pesquisa: Além das teorias, optamos por trabalhar com um exemplo
real como a BPS. Realizamos revisão bibliográfica com termos-chave, como:
“comunicação”, "sinalização", “mediação de sentidos”, “bibliotecas públicas”,
utilizando fontes primárias e secundárias. A multiplicidade de sentidos e de
agentes nos levou a usar pesquisa de campo e observação in loco (ambos com
roteiro). Utilizamos uma metodologia qualitativa exploratória: entrevistas
semiestruturadas aplicadas a 20 usuários e 3 funcionários.
BSP e uma Sinalização Humana: Semelhantemente ao assinalado por Teixeira
Coelho (1997, p. 78) que diz que a biblioteca atual deve ser um centro de
informação, discussão e crianção, a BSP, segundo seu desenvolvedor, Oyarzún
(2005, não paginado) busca criar redes, experiência, aprendizagem, reflexão e
comunicação. Dividida em salas para cada perfil de usuário e interesses, lá “a
informação é administrada intersetorialmente”, como um conjunto de pequenas
lojas especializadas, “onde o ser humano é o principal” (OYARZÚN, 2005, não
paginado, tradução nossa). Essa abordagem criativa coloca o usuário como
cliente e a sinalização mais próxima do design e do marketing. Com efeito, o
projeto traz uma unidade peculiar expressa por cores, grafia e um “traço” próprio
que harmoniza com a decoração interna do edifício, propondo uma rede de
sentidos, onde cada parte mescla pictogramas de traços simples (porém de
sugestões complexas de comportamentos e preferências), com expressões
adaptadas com a mesma expertise, como a imagem abaixo nos sugere:
Figura 1: Junção de 2 fotos: a primeira de uma estante da sala “Juvenil” e, a segunda, ao lado, da
estante do tema correspondente na sala “Colecciones Generales”.
Fonte: arquivo pessoal
O pictograma da Sala Juvenil (imagem da esquerda) sugere um comportamento
peculiar, e usa expressão adaptada, em comparação com a usada na estante da
Sala “Colecciones Generales” que une os pictogramas das outras salas, e usa
uma expressão mais diretas. As entrevistas revelaram que esse cuidado surte
efeito de compreensão e integração com a biblioteca, ainda que outros usuários,
em menor número, tenham expressado preferência por métodos mais
tradicionais. Já entre os funcionários há a percepção de que os usuário não
percebem sequer a existência da sinalização, recorrendo sempre aos
funcionários. Para aproximadamente metade dos usuários, principalmente
adolescentes, o entretenimento em geral é o foco principal da utilização da
biblioteca, e para estes a sinalização é incompreensível. Desses usuários a
biblioteca não prescinde, vendo neles potencial, ou simplesmente deixando-os
livres. Entre os usuários mais experiências em bibliotecas a sinalização é
compreendida e usada quase que integralmente, mas a constante entre todos os
perfis é a empatia e a identificação com a biblioteca, seus serviços e
programação, havendo também desejos expressos de maior participação, mérito
não exclusivo da sinalização, mas do conjunto que forma a BSP.
Considerações Finais: Mobiliário, iluminação e decoração adequados tornam um
ambiente mais agradável e, isso é sentido por toda a convidativa BPS. Mas
quando não se têm recursos, a dedicação dos profissionais a esse objetivo é
percebida positivamente pelo usuário, e nisso a sinalização é pode contribuir
muito. Ainda que existam os usuários que não se deixam seduzir por esse
ambiente, há os que fazem da sinalização uma aliada, gerando, em muitos casos,
frutos para além da participação no cotidiano e programação da biblioteca. Para
cada idade há um aspecto da sinalização que mais seduz ou contribui. E, como
sempre vão existir diferentes reações e posturas, é importante que haja
sinalização diversificada e de qualidade. Semelhantemente, sempre existirão os
que preferem “bibliotecas tradicionais”, mas, para a biblioteca pública sobreviver
precisa renovar-se, mesmo com outros processos contrários em curso em nossa
sociedade, como o declínio da cultura escrita (assunto em voga na atualidade).
Palavras-chave: Sinalização de Bibliotecas; Comunicação visual; Bibliotecas
Públicas; Biblioteca Pública de Santiago.
Referências:
BARBALHO, Célia Regina Simonetti. Sob o olhar do usuário: um estudo
semiótico da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. 2000. 234 f. Tese
(Doutorado em Comunicação e Semiótica)--Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, São Paulo, 2000.
FONSECA, Edson Nery da. Introdução à biblioteconomia. Brasília, DF: Briquet
de Lemos, 2007. 152 p.
KUPERSMITH, John. Informational graphics and sign systems as library
instruction media. Drexel Library Quarterly, Philadelphia, n. 16, p.54-68, jan.
1980.
MAGALHÃES, Cláudio Freitas de; VELHO, Ana Lucia. Sinalizar é comunicar a
informação a alguém, em um determinado espaço. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 7., 2006.
Curitiba. Anais... Curitiba: AEND Brasil, 2006. Não Paginado.
OYARZÚN SARDI, Gonzalo. Biblioteca de Santiago: una biblioteca pública para el
Siglo XXI. Pez de Plata. Bibliotecas Públicas a la Vanguardia. Revista de
Opinión para el Desarrollo de las Bibliotecas Públicas, n. 5, 2005. Não
Paginado. Disponível em: <http://eprints.rclis.org/7043/1/vanguardia.pdf>. Acesso
em: 01 fev. 2014.
SÁNCHES AVILLANEDA, María del Rocío. Señalética:
fundamentos. Buenos Aires: Alfagrama Ediciones, 2005. 184 p.
conceptos
y
TEIXEIRA COELHO. J. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo:
Iluminuras, 1997. 383 p.
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Solange Mendes e Silva Santos