PR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS DE CURITIBA DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS - PPGEM LEANDRO YIN WENG ADIÇÃO DE AMIDO EM MASSA COMERCIAL PARA PRODUÇÃO DE LOUÇA DE MESA POR COLAGEM SOB PRESSÃO CURITIBA MAIO - 2009 LEANDRO YIN WENG ADIÇÃO DE AMIDO EM MASSA COMERCIAL PARA PRODUÇÃO DE LOUÇA DE MESA POR COLAGEM SOB PRESSÃO Projeto de Dissertação apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia, do Programa de PósGraduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Área de Concentração em Engenharia de Materiais, do Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus de Curitiba, da UTFPR. Orientador: Márcia Silva de Araújo, PhD. Co-orientador: José Alberto Cerri, D. Sc. CURITIBA MAIO - 2009 TERMO DE APROVAÇÃO LEANDRO YIN WENG ADIÇÃO DE AMIDO EM MASSA COMERCIAL PARA PRODUÇÃO DE LOUÇA DE MESA POR COLAGEM SOB PRESSÃO Esta Dissertação foi julgada para a obtenção do título de mestre em engenharia, área de concentração em engenharia de materiais, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais. _________________________________ Prof. Giuseppe Pintaúde, D. Sc. Coordenador de Curso Banca Examinadora ______________________________ ______________________________ Prof. Márcia Silva de Araújo, Ph. D. (UTFPR) Prof. Iêda Maria G. dos Santos, D. Sc. (UFPB) ______________________________ ______________________________ Prof. Lívia Maria Assis, D. Sc (UTFPR) Prof. José Alberto Cerri, D. Sc (UTFPR) Curitiba, 15 de maio de 2009 Aos meus pais Weng e Maria Rita e aos meus irmãos Andréa, Leonel e Danielle. AGRADECIMENTOS À Profª. Drª. Márcia Silva de Araújo por sua orientação, conhecimento e cordialidade. Ao Prof. Dr. José Alberto Cerri por sua co-orientação e disponibilidade. Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. A secretária Graça pelos cuidados com os alunos. Aos colegas do LAMIR da Universidade Federal do Paraná - UFPR pela simpatia e realização dos ensaios de difração de Raios-X e Fluorescência. A empresa Cermassa pelo fornecimento das massas cerâmicas. A empresa Manchester pelo fornecimento do silicato. A empresa Corn Products pelo fornecimento do amido. A todos os meus colegas do LAMAR, pelo dia-a-dia e pela amizade. Aos professores da Banca Examinadora por gentilmente aceitarem o convite. Aos meus pais, Weng e Maria Rita, por me ensinarem ética, honestidade e pelo amor. Aos meus irmãos Andréa, Leonel e Danielle pelo apoio moral e financeiro. Muito obrigado a todos. vi WENG, Leandro Yin, Adição de Amido em Massa Comercial para Produção de Louça de Mesa por Colagem sob Pressão, Dissertação (Mestrado em Engenharia) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2009. RESUMO Os processos utilizados atualmente na fabricação de louças de mesa baseiamse na conformação por colagem de massa fluída (slip casting) ou no torneamento (jiggering) de massas plásticas. Entretanto, as tendências observadas apontaram para a necessidade de geometrias que utilizem formas octogonais, quadrangulares e com relevos, associado à elevada produtividade com qualidade para garantir a competitividade. No entanto, essas demandas do mercado de louça de mesa não podem ser atingidas pelos processos tradicionais de fabricação. Por meio de um benchmarking foi possível comparar as técnicas tradicionais de fabricação aos mais recentes avanços, quanto à massa, às condições de conformação e secagem e o tipo de molde. Assim, o objetivo desse projeto foi ajustar duas massas cerâmicas comerciais com silicato de sódio, amido e NaOH para colagem sob pressão. As massas foram caracterizadas quanto à composição química, à distribuição e tamanho de partículas e ao comportamento térmico. Numa primeira etapa, foram determinadas as curvas de defloculação das suspensões com 60 e 65% de sólidos depois de permanecerem em repouso por 10, 30, 60 e 120 minutos. Numa segunda etapa, foram feitas análises reológicas, determinações de pH e análises térmicas das suspensões com 65% de sólidos. Tanto o amido quanto o hidróxido de sódio serviram como redutores de viscosidade, porém acima de uma relação amido/hidróxido de sódio foi possível observar o efeito geleificante. De modo a não alterar significativamente o comportamento reológico, ou seja, manter a viscosidade da suspensão e a tensão de escoamento baixas, a concentração máxima de aditivos para a Massa A e B foram 0,75 % amido / 0,75 % NaOH e 0,50 % amido / 0,50 % NaOH, respectivamente. Palavras-chave: Louça de Mesa, Colagem sob Pressão, Amido vii WENG, Leandro Yin, Adição de Amido em Massa Comercial para Produção de Louça de Mesa por Colagem sob Pressão, Dissertação (Mestrado em Engenharia) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2009. ABSTRACT The processes used currently in the table ware manufacture are based on the conformation for slip casting or jiggering of plastic masses. However, the observed trends point with respect to the necessity of geometry that use square forms, octogonal and with relives, associate to the raised productivity with quality to guarantee the competitiveness. However, these demands of the table ware market cannot be reached by the traditional processes of manufacture. By means of one benchmarking was possible to compare the traditional techniques of manufacture with the most recent advances related to the mass, the conditions of conformation and drying and the type of mold. Thus, the objective of this project was to adjust two commercial ceramic masses with sodium silicate, starch and NaOH to pressure slip casting. The chemical composition, the particles size and distribution and the thermal behavior of the masses were characterized. In the first stage, defloculation curves of suspensions with 60 and 65% of solids were obtained after remaining in rest for 10, 30, 60 and 120 minutes. In the second stage, rheologycal analysis, pH determinations and thermal analysis of the suspensions with 65% of solids were made. Such the starch as the NaOH can serve to reduce the viscosity, however above of a ration NaOH /starch it was possible to observe a geleification effect. In order not to modify the rheologycal behavior, which means to keep the suspension viscosity and yield tension in a low value, the maximum concentration of additives for the Mass A and the B were 0.75% starch/ 0.75% NaOH and 0.50% starch/0.50% NaOH, respectively. Key-words: Table ware, Pressure casting, Corn starch viii SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................... vi ABSTRACT ............................................................................................................... vii LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... x LISTA DE TABELAS .................................................................................................. xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... xii LISTA DE SÍMBOLOS .............................................................................................. xiii 1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1 1.1 Objetivos Gerais .......................................................................................................................2 1.1.1 2 PRODUÇÃO DE LOUÇA ...................................................................................... 3 2.1 Matérias-Primas Cerâmicas .....................................................................................................3 2.1.1 Argilas ...................................................................................................................................4 2.1.2 Feldspato ..............................................................................................................................6 2.1.3 Silicatos ................................................................................................................................7 2.1.4 Outros Minerais ....................................................................................................................9 2.2 Massas Cerâmicas ................................................................................................................ 10 2.2.1 Massa seca ....................................................................................................................... 11 2.2.2 Massa plástica ................................................................................................................... 11 2.2.3 Massa fluida ...................................................................................................................... 12 2.2.4 Reologia de Suspensões Cerâmicas ................................................................................ 12 2.3 Aditivos Usados em Massas Cerâmicas ............................................................................... 15 2.3.1 Defloculantes ..................................................................................................................... 15 2.3.2 Estabilização ..................................................................................................................... 17 2.3.3 Amido como ligante ........................................................................................................... 21 2.3.4 Consolidação por amido (starch consolidation) ................................................................ 24 2.4 Etapas da Produção da Louça .............................................................................................. 25 2.4.1 3 Objetivos Específicos ...........................................................................................................2 Métodos de conformação .................................................................................................. 26 2.5 Secagem ............................................................................................................................... 30 2.6 Queima .................................................................................................................................. 32 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 35 3.1 Materiais ................................................................................................................................ 35 3.2 Caracterização das argilas .................................................................................................... 36 3.3 Preparação da Massa Cerâmica ........................................................................................... 36 3.3.1 3.4 Preparação do pó seco ..................................................................................................... 36 Composição da massa fluida ................................................................................................ 36 3.4.1 Composições para obtenção das curvas de defloculação ................................................ 36 ix 3.4.2 4 3.5 Análises reológicas................................................................................................................ 40 3.6 Medida de pH ........................................................................................................................ 41 3.7 Análise Estatística ................................................................................................................. 41 3.8 Obtenção de Amostras para Análises de Comportamento Térmico ..................................... 42 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 44 4.1 Caracterização das Massas Cerâmicas Comerciais ............................................................. 44 4.1.1 Distribuição Granulométrica .............................................................................................. 44 4.1.2 Distribuição, composição química e mineralógica ............................................................ 45 4.1.3 Comportamento Térmico das Massas Cerâmicas ............................................................ 47 4.2 Suspensões Defloculadas com Silicato de Sódio ................................................................. 51 4.2.1 Estabilidade das suspensões defloculadas....................................................................... 51 4.2.2 Curvas de defloculação das suspensões .......................................................................... 52 4.3 Influência dos Aditivos Amido e NaOH nas Propriedades das Suspensões Modificadas .... 55 4.3.1 Estabilidade das suspensões modificadas........................................................................ 56 4.3.2 Análise Reológica das Suspensões .................................................................................. 59 4.4 5 Composição das massas com aditivos ............................................................................. 37 Comportamento Térmico das Massas Modificadas .............................................................. 70 CONCLUSÕES................................................................................................... 75 5.1 Sugestão para Trabalhos Futuros ......................................................................................... 76 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 77 x LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Estrutura cristalina da mica e montmorilonita (REED, 1995) ................... 4 Figura 2.2 - Representação esquemática da estrutura cristalina da caulinita ............. 6 Figura 2.3 - Representação esquemática de sílica: a. (SiO4)4- e b. SiO2, cristobalita, (CALLISTER, 1997) ............................................................................................. 8 Figura 2.4 - Estrutura cristalina do talco (AMOROS, 1994)....................................... 10 Figura 2.5 - Exemplo do processo de geleificação (DINGER, 2002)......................... 14 Figura 2.6 – Estrutura química do silicato de sódio (NIST, 2007) ............................. 16 Figura 2.7 – Curvas de defloculação para argilas cauliníticas para diversas concentrações (SANTOS, 1989) ........................................................................ 17 Figura 2.8 - Modelos de dupla camada elétrica (a) Modelo de Helmhotz; (b) Modelo de Gouy Chapman (SANTOS e SOUZA, 2001) ................................................. 18 Figura 2.9 - Dupla camada elétrica de uma partícula de argila (REED, 1995) .......... 19 Figura 2.10 - Mecanismos de estabilização (SANTOS e SOUZA, 2001) .................. 20 Figura 2.11- Comparação entre estabilização eletrostática e a eletroestérica (SANTOS e SOUZA, 2001) ................................................................................ 21 Figura 2.12 – Estrutura helicoidal da amilose (BASSANI, 2008) ............................... 22 Figura 2.13 – Estrutura e disposição das moléculas de (a) amilose e (b) amilopectina (NELSON, 2006) ................................................................................................ 23 Figura 2.14 - Processo de consolidação por amido .................................................. 25 Figura 2.15 – Principais métodos de conformação de cerâmicas ............................. 26 Figura 2.16 – Etapas do processo de secagem (SANTOS e SOUZA, 2001) ............ 31 Figura 3.1 - Esquema do Viscosímetro BROOKFIELD LV DV-III (BASSANI, 2008) . 40 Figura 3.2 - Esquema dos procedimentos para a obtenção das amostras para cada análise, com fotos ilustrativas das amostras ensaiadas ..................................... 42 xi Figura 3.3 – Molde de gesso com peça colada ......................................................... 43 Figura 4.1 – Distribuição granulométrica das massas cerâmicas comerciais com composições A e B. ........................................................................................... 44 Figura 4.2 – Difratometria de Raios-X da Massa A ................................................... 46 Figura 4.3 – Difratometria de Raios-X da massa B ................................................... 46 Figura 4.4 - Análise termodiferencial das Massas A e B ........................................... 48 Figura 4.5 - Curvas das Massas Cerâmicas com composição A e B, obtidas por termodilatometria ............................................................................................... 49 Figura 4.6 - Termogravimetria das Massas A e B ..................................................... 50 Figura 4.7 - Comparação das análises térmicas da Massa A ................................... 50 Figura 4.8 - Comparação das análises térmicas da Massa B ................................... 51 Figura 4.9 – pH da suspensões das Massas A e B sem aditivos .............................. 52 Figura 4.10 – Viscosidade da Massa A em relação à concentração de silicato de sódio................................................................................................................... 53 Figura 4.11 – Tensão de escoamento da Massa A em relação à concentração de silicato ................................................................................................................ 53 Figura 4.12 – Viscosidade da massa B em relação à concentração de silicato ........ 54 Figura 4.13 - Tensão de escoamento da argila B com variação de concentração de silicato ................................................................................................................ 55 Figura 4.14 – Tensão versus taxa de cisalhamento de aditivos em água ................. 56 Figura 4.15 – Superfície de resposta do pH da Massa A .......................................... 58 Figura 4.16 – Superfície de resposta do pH da Massa B .......................................... 59 Figura 4.17 – Resultados de Viscosidade da Massa A depois de 10 minutos de repouso .............................................................................................................. 60 Figura 4.18 – Resultados de Viscosidade da Massa A depois de 120 minutos de repouso .............................................................................................................. 60 xii Figura 4.19 – Resultados de Viscosidade da Massa B depois de 10 minutos de repouso .............................................................................................................. 61 Figura 4.20 – Resultados de Viscosidade da Massa B depois de 120 minutos de repouso .............................................................................................................. 61 Figura 4.21 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa A depois de 10 min. de repouso........................................................................................ 63 Figura 4.22 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa A depois de 120 min. de repouso...................................................................................... 63 Figura 4.23 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa B depois de 10 min. de repouso........................................................................................ 64 Figura 4.24 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa B depois de 120 min. de repouso...................................................................................... 64 Figura 4.25 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa A com variação de concentração de aditivos e 10 min de repouso .................................................. 66 Figura 4.26 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa A com variação de concentração de aditivos e 2 horas de repouso ................................................. 66 Figura 4.27 – Viscosidade da Massa A com variação de concentração de aditivos e 10 min. de repouso ............................................................................................ 67 Figura 4.28 – Viscosidade da Massa A com variação de concentração de aditivos e 2 horas de repouso ............................................................................................... 67 Figura 4.29 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa B com variação de concentração de aditivos e 10 min de repouso .................................................. 68 Figura 4.30 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa B com variação de concentração de aditivos e 2 horas de repouso ................................................. 69 Figura 4.31 – Viscosidade da Massa B com variação de concentração de aditivos e 10 min de repouso ............................................................................................. 69 Figura 4.32 – Viscosidade da Massa B com variação de aditivos e 2 horas de repouso .............................................................................................................. 70 Figura 4.33 – Análise térmica diferencial da Massa A sem e com aditivos ............... 71 xiii Figura 4.34 – Análise térmica diferencial da Massa B sem e com aditivos ............... 71 Figura 4.35 – Análise dilatométrica da Massa A sem e com aditivos ........................ 72 Figura 4.36 – Análise dilatométrica da Massa B sem e com aditivos ........................ 73 Figura 4.37 – Análise termogravimétrica da Massa A sem e com aditivos ............... 73 Figura 4.38 – Análise termogravimétrica da Massa B sem e com aditivos ............... 74 xiv LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 - Comparação entre os processos de fabricação .................................... 29 Tabela 2.2 - Mudanças sofridas por uma cerâmica com a temperatura .................... 34 Tabela 3.1 – Materiais e sua composição e principais características ...................... 35 Tabela 3.2 – Adição de silicato nas massas cerâmicas A e B................................... 37 Tabela 3.3 – Variação da percentagem em massa de aditivos na segunda etapa ... 39 Tabela 4.1 - Identificação de minerais presentes nas Massas .................................. 47 Tabela 4.2 - Resultados da composição química das massas cerâmicas comerciais A e B, obtidas por análise de FRX ..................................................................... 47 Tabela 4.3 – Resultados dos Gráficos Paretos com os fatores mais relevantes ....... 57 xv LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABC - Associação Brasileira de Cerâmica h - hora(s) kgf/cm2 - quilograma-força por centímetro quadrado kPa - quiloPascal mm - milímetros mm/min - milímetros por minuto MPa - MegaPascal pH - Potencial hidrogeniônico m/m - massa por massa RPM - Rotações Por Minuto ASTM - American Society for Testing and Materials DRX - Difração de Raios X ATD - Análise Térmica Diferencial FRX - Fluorescência de Raios X LAMIR - Laboratório de Análises de Minerais e Rochas DPS - Grau de saturação do poro LISTA DE SÍMBOLOS Z - Potencial Zeta d - Espessura da dupla camada D - Constante dielétrica τ - Tensão de cisalhamento - Viscosidade - Taxa de cisalhamento F - Força S - Unidade de área cisalhante n - Índice de potências τ0 - Taxa de escoamento Capítulo 1 INTRODUÇÃO 1 1 INTRODUÇÃO A participação da indústria cerâmica brasileira corresponde a 1 % do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 6 bilhões de dólares (BUSTAMANTE e BRESSIANI, 2000). Só a produção de cerâmica branca rende um faturamento de mais de 250 milhões de dólares e gera mais de 25.000 empregos diretos (ABC, 2006). Um dos métodos mais utilizados para conformação de cerâmica de mesa e sanitária é a colagem de barbotina. O processo de colagem de barbotina é um método antigo, praticado desde 1700 (RAMACHANDRA et al., 1999), sendo amplamente utilizado tanto para produtos cerâmicos tradicionais como para cerâmica avançada, por se tratar de um processo extremamente simples e confiável (COLLA, 2004). As principais vantagens da colagem, além da homogeneidade na sua microestrutura, são as possibilidades de produzir peças com geometrias complexas e a utilização de uma variedade de materiais como matérias-primas não-plásticas, dentre estas a alumina (CAMPOSa et al., 2001, ROMANO et al., 2007). Entre os avanços no processo mecânico podemos citar a colagem sob pressão (ZORZI, 2004), moldagem sob vácuo ou moldagem por centrifugação e slurry pressing (WOLFGANG et al., 2000). Com o intuito de acelerar a conformação, a desmoldagem e a secagem do corpo a verde, várias técnicas de solidificação estão sendo pesquisadas atualmente. O objetivo da solidificação é obter uma elevada resistência mecânica à verde, de modo que a peça conformada possa ser manipulada com maior facilidade. Além de permitir a fabricação de peças com dimensões mais próximas do especificado em projeto, tendo em vista que para cerâmicas técnicas existem dificuldades e alto custo para a usinagem de peças já sinterizadas (GILISSEN, 2000). Dentre as técnicas de solidificação já estudadas podemos citar o congelamento de suspensões (freeze casting); (NOVICH et al., 1992), coagulação direta de suspensões através de enzimas (GAUCKLER et al., 1999), gelcasting (JANNEY e OMATETE, 1998), geleificação com ágar-ágar (SANTACRUZ, 2003) ligantes com sol-sílica (ANJOS et al., 2006) e a consolidação por amido (CAMPOSb et al., 2001). 2 Capítulo 1 INTRODUÇÃO No presente estudo utilizou-se o amido como agente geleificante e o hidróxido de sódio para provocar a geleificação a temperatura ambiente, pois sem ele o processo de moldagem precisaria ocorrer a alta temperatura. O amido é um polissacarídeo obtido geralmente de vegetais como o milho, de baixo impacto ambiental e biodegradável. O amido é constituído basicamente de duas moléculas, a amilose e a amilopectina. Estas moléculas conferem ao amido a propriedade de geleificar em contato com a água (FRANCO, 2001). A consolidação por amido consiste na adição de amido à formulação da barbotina, baseando-se na propriedade de formação do gel, e obtendo assim, um corpo cerâmico à verde mais resistente. Neste campo de estudo têm sido realizadas pesquisas, dentre estas as realizadas por CAMPOSb et al. (2001) e ROMANO et al. (2007). Este trabalho de pesquisa faz parte do projeto “Processo de Colagem Cerâmica sob Pressão - Um Diferencial Competitivo para a APL de Louças e Porcelanas de Campo Largo / PR”, que foi aprovado e financiado por FINEP/SEBRAE/CNPq. 1.1 Objetivos Gerais Adequar a composição de duas massas cerâmicas comerciais para louça, pela adição de silicato de sódio, amido e hidróxido de sódio para colagem sob pressão. 1.1.1 Objetivos Específicos Realizar experimentos para adequar a composição das massas cerâmicas aditivadas. Estabelecer correlações entre o comportamento reológico de duas massas de composições diferentes e a concentração da massa seca e a quantidade de defloculante usado nas suspensões preparadas. A partir da concentração mais adequada de defloculante para cada dada concentração e composição de massa, estabelecer correlações entre o comportamento reológico e a quantidade de aditivos geleificantes. Sendo que a suspensão deveria ser estável e de baixa viscosidade, utilizando a menor quantidade de amido possível. Estudo do comportamento térmico das massas modificadas com aditivos. Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 3 2 PRODUÇÃO DE LOUÇA As louças geralmente recebem o nome de cerâmica branca, por utilizarem materiais cerâmicos de cores claras que quando queimadas igualmente apresentam tonalidade clara (SANTOS, 1989). As argilas mais utilizadas para esse tipo de produção são os caulins e materiais fundentes. A louça de mesa geralmente é composta por 50 a 60% de caulim e argila plástica que queima na cor clara, 10 a 30% de sílica e o restante de uma rocha feldspática utilizada como fundente (SANTOS, 1989). A “porcelana de ossos” contém 50% de ossos de animais calcinados, 25 a 30% de caulim e argila, e o restante de fundente (SANTOS, 1975). Dependendo da composição e temperatura de queima, as massas cerâmicas são denominadas de faianças, que por sua vez podem ser subdivididas em faianças calcárias, faianças calcáreo-feldspáticas e faianças feldspáticas. As mais utilizadas para a colagem de barbotina são as faianças feldspáticas, que contêm basicamente caulim, quartzo e feldspato e que após a queima apresentam elevada resistência mecânica e baixa absorção de água (MORELLI e BALDO, 2003). 2.1 Matérias-Primas Cerâmicas As propriedades de um produto cerâmico estão diretamente relacionadas à qualidade das matérias-prima, às suas quantidades e ao método de processamento (CORREIA et al., 2005). A massa cerâmica é composta basicamente de argila, feldspato e sílica. As massas contendo esses três componentes são conhecidas como “massas triaxiais” (SMITH, 1998; SANTOS, 1975). A matéria-prima deve apresentar um equilíbrio entre materiais plásticos e não plásticos, a ponto de proporcionar à massa características adequadas, tanto para a fase de colagem, quanto para a queima das peças (MORELLI e BALDO, 2003). Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 4 2.1.1 Argilas Na produção de peças cerâmicas de uso comum, geralmente, são utilizadas argilas obtidas de extração natural, devido ao menor custo. Por ser um material retirado diretamente in natura sua composição pode variar bastante (SANTOS e SOUZA, 2001). Em seguida estão correlacionados as argilas mais comuns e os minerais que os compõem: Bentonita A bentonita é a argila composta de 55 a 70% de montmorilonita ou mica ou ilita, Esta apresenta grande capacidade de troca iônica e podem ser divididas em: bentonitas que incham em contato com a água e podem aumentar até 20 vezes o seu volume seco, e; bentonitas que não incham e contêm grande quantidade de cátions de cálcio e magnésio (SANTOS, 1975). A montmorilonita ou esmectita são constituídas por duas folhas de silicatos tetraédricas e uma folha central octaédrica, unidas entre si por oxigênios comuns as folhas (Al1,67Na0,33Mg0,33) (Si2O5)2 (OH)2 ou 5/6Al2O3 ·1/6Na2O·1/3MgO·4SiO2 ·H2O, Figura 2.1. Figura 2.1 - Estrutura cristalina da mica e montmorilonita (REED, 1995) 5 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Com grande variedade catiônica, quando em contato com a água, a montmorilonita se hidrata aumentando o espaçamento basal, propiciando a troca de cátions. Em geral são compostas de pequenas partículas, possuem elevado grau de propriedades elásticas e coloidais e apresentam grandes variações nas propriedades físicas (SANTOS, 1975). A ilita e a mica-moscovita têm estrutura cristalina semelhante à montmorilonita, porém há uma maior substituição de alumínio por silício, conferindo uma maior carga à estrutura cristalina, é composta de camadas estruturais rígidas que não se expandem, apresentando distância interplanar basal fixa de 10,1 Å (SANTOS, 1989). A ilita caracteriza-se por ter maior quantidade de água e menor quantidade de íons alcalinos em relação à mica, sendo a ilita também denominada de mica hidratada (AMOROS, 1994). Não se pode determinar a exata estrutura química das ilitas porque estes minerais se apresentam sempre contaminados com impurezas difíceis de eliminar. Todos os minerais do grupo das ilitas são dioctaédricos, mas é provável que exista alguma série trioctaédrica (AMOROS, 1994). A bentonita é mais utilizada nas indústrias petrolífera, siderúrgica, de fundição, de tintas e vernizes, vinícola, da construção civil, perfuração de poços artesianos, indústria alimentícia animal, farmacêutica e de cosméticos (OLIVEIRA, 2003). Caulim ou Argila Caulinítica O caulim é composto principalmente pelo mineral caulinita e apresenta uma quantidade considerável de matéria orgânica e ácido húmico. Apresenta propriedades plásticas e ligantes quando úmida, com diferentes graus de formabilidade, reversibilidade da umectação, endurecimento e coesão após secagem e patamar de queima entre 900-1000 ºC (SANTOS e SOUZA, 2001). O caulim é encontrado naturalmente nas cores branca, amarela e rosa, sendo geralmente utilizado para completar uma distribuição granulométrica aumentando a velocidade de colagem das barbotinas através da melhora da permeabilidade das massas. Por ser mais refratário aumenta o coeficiente de expansão das massas e diminui a retração devido à queima, contribui para o clareamento e mulitização do material (MORELLI e BALDO, 2003; SANTOS, 1973; LUZ, 2005). Os caulins ricos em ferro, manganês ou titânio são escuros, queimam em cores claras a 1250 ºC, Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 6 mas têm cor escura a 1450 ºC, sendo utilizados em materiais sanitários. Os caulins que queimam em cor clara a 1450 ºC são utilizados em porcelana dura e porcelana técnica (SANTOS, 1975). A caulinita é formada pelo empilhamento regular de camadas 1:1 na qual cada camada é uma folha de tetraedros SiO4 e uma folha de octaedros Al2(OH)6 dando uma estrutura fortemente polar (Figura 2.2). A caulinita é eletricamente neutra, os íons alumínio ocupam dois terços das posições octaédricas para neutralizar as cargas residuais dos silicatos (SANTOS, 1973). Figura 2.2 - Representação esquemática da estrutura cristalina da caulinita (SANTOS, 1989) 2.1.2 Feldspato Apresenta granulometria fina e age como fundente, pois possui altos teores de K2O. Em alta temperatura (1200 ºC), forma uma fase líquida que auxilia na sinterização, aumentando a resistência mecânica e reduzindo a porosidade. Em Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 7 reação com a sílica compõe a parte vítrea do corpo cerâmico (SANTOS e SOUZA, 2001). O feldspato inclui materiais como a albita (NaAlSi3O8), a anortita (CaAl2Si2O8), a microlina [(Na, K) AlSi3O8] e o anortoclásio [K(AlSi3O8)] (SANTOS, 1989). São minerais com estrutura cristalina em camadas tridimensionais infinitas (SMITH, 1998) e se classificam em dois grupos segundo a sua cristalização. O grupo da ortoclasa é constituído pela ortoclasa (KAlSi3O8) e pela celsiana (BaAl2Si2O8). Ambos os minerais cristalizam-se em um sistema monoclínico e são solúveis um no outro em várias proporções, formando uma grande variedade de soluções sólidas. O grupo da plagioclasa é formado por compostos de proporções variáveis de cálcio e sódio, sendo que os extremos dessas composições definem os minerais do tipo albita (NaAlSi3O8) e a anortita (CaAl2Si2O8). Ambos cristalizam-se em sistema triclínico e são solúveis um no outro somente em proporções determinadas (AMOROS, 1994). Alguns íons podem substituir parcialmente o Si4+, formando carga total negativa. São equilibradas com íons alcalino-terrosos como Na+, K+, Ca2+ e Ba2+, que se colocam em posições intersticiais (SMITH, 1998). Os cátions grandes, K+ e Ba2+ dilatam o retículo tridimensional ligeiramente e determinam uma simetria maior, fazendo com que os feldspatos se cristalizem no sistema monoclínico. De forma similar, o Na+ e o Ca2+, que são cátions pequenos, provocam uma contração do retículo tridimensional que determina uma menor simetria, cristalizando os feldspatos em sistema triclínico (AMOROS, 1994). 2.1.3 Silicatos Silicatos são materiais compostos de silício e oxigênio, o mais simples é composto por quatro átomos de oxigênio e um de silício (SiO4)4- que forma uma estrutura teraédrica Figura 2.3 a. Várias estruturas de silicatos surgem das diferentes combinações das unidades tetraédricas, que podem ser arranjadas em uma, duas ou três dimensões. Se estes tetraedros se arranjam de maneira regular e ordenada, uma estrutura cristalina é formada. Existem três formas primárias cristalinas polimórficas da sílica (SiO2): quartzo, cristobalita (Figura 2.3 b.) e tridimita (CALLISTER, 1997). 8 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica a. b. Figura 2.3 - Representação esquemática de sílica: a. (SiO4)4- e b. SiO2, cristobalita, (CALLISTER, 1997) O quartzo é a parte inerte e não plástica da massa, tem baixo coeficiente de dilatação, elevada dureza e elevada resistência ao choque térmico. Melhora a permeabilidade das paredes formadas por barbotinas em moldes porosos, além de diminuir a deformação na secagem e na queima. Na queima, geralmente parte do quartzo permanece em forma cristalina e a parte mais fina funde com a parte líquida, formando a sílica vítrea (MORELLI e BALDO, 2003). 9 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2.1.4 Outros Minerais As massas de cerâmica branca que contêm outras matérias-primas, tais como a alumina, o talco ou cinza de ossos, são chamadas de massas não triaxiais (SANTOS, 1989). As matérias-primas geralmente utilizadas para a introdução de Ca e Mg em massas cerâmicas são a calcita (CaCO3), a dolomita (CaMg(CO3)2) e o talco (Mg3(Si2O5)2(OH)2). Entretanto, cada uma dessas matérias-primas apresenta certas peculiaridades que poderão resultar em comportamentos consideravelmente diferentes na massa (MARINO, 2000). A calcita é um dos minerais mais comuns, de fórmula estrutural (CaCO3) sendo o principal constituinte mineralógico dos calcários e mármores puros. É encontrada em massas rochosas sedimentares, nas quais é o único mineral preponderante, sendo o único presente em certas rochas calcárias. A dolomita é um carbonato comum que aparece principalmente como mineral essencial de rochas sedimentares (dolomitos) e seus equivalentes metamórficos (mármores dolomíticos), freqüentemente são associados à calcita. Pode originar-se a partir da calcita pela influência de soluções magnesianas. É o principal componente mineralógico dos calcários e mármores magnesianos. Em depósitos hidrotermais, é comum sua associação com sulfetos (DAROS, 2008). A dolomita é um carbonato duplo de cálcio e magnésio, que se decompõe sob aquecimento, segundo a Equação 2.1, para dar origem a duas decomposições térmicas: óxidos de cálcio e de magnésio, liberando gás carbônico (MARINO, 2000). CaMg(CO3)2 → CaO + MgO + 2 CO2 ↑ Eq. 2.1 A diferença fundamental entre a calcita e a dolomita está na presença de carbonato de magnésio na composição da dolomita. A calcita é constituída exclusivamente por carbonato de cálcio e decompõe-se em um único intervalo de temperatura. A fórmula empírica do talco é Mg3(OH)2(Si2O5)2 e cristaliza-se no sistema monoclínico (Figura 2.4). Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 10 Figura 2.4 - Estrutura cristalina do talco (AMOROS, 1994) Cada folha é eletricamente neutra porque não requer a presença de cátions externos alcalinos e alcalinos terrosos situados entre elas. Cada folha se encontra fortemente unida pelas forças de Van der Walls. O talco se apresenta na natureza como massa laminar hexagonal de cor branca (AMOROS, 1994). A superfície da partícula está completamente coberta por átomos de O 2 e camadas Si2O5, enquanto os grupos OH se encontram no interior das folhas, protegidos pela camada de Si2O5. Em conseqüência é um material bastante inerte (AMOROS, 1994). 2.2 Massas Cerâmicas Os diferentes métodos de conformação são divididos de acordo com a consistência da mistura da massa. Entre estes métodos estão a prensagem à seco, a extrusão, a moldagem plástica e a colagem. (FERNANDES, 1998). De acordo com a quantidade de água podemos classificar as massas em seca, plástica e fluída. Estas classificações serão discutidas a seguir. 11 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2.2.1 Massa seca Os pós secos consistem de partículas discretas e aglomerados aleatórios produzidos pela atração de Van der Walls, eletrostática, ou forças magnéticas interparticulares (SANTOS e SOUZA, 2001). Estes não têm bom escoamento, mas oferecem baixa resistência ao escoamento sob agitação. Quando um líquido de baixa viscosidade é misturado sob agitação ao pó seco são formados aglomerados. As forças de contato nos aglomerados são forças capilares do líquido, forças de coagulação das partículas, e forças de floculação provida da pasta adsorvida. O grau de saturação do poro (DPS) é definido conforme Equação 2.2 (REED, 1995). DPS = volume do líquido/ volume do poro Eq. 2.2 Nos aglomerados, geralmente chamados de grânulos, o DPS é menor que 1. Este tipo de material é geralmente utilizado na produção de cerâmica sob pressão (REED, 1995). 2.2.2 Massa plástica Quando uma pequena quantidade de líquido é adicionada à massa cerâmica seca, esta irá causar uma aglomeração quase total entre as partículas formando uma massa coesiva, muito resistente ao cisalhamento, e que poderá ter propriedades plásticas se uma fração significativa tiver tamanho submicrométrico e as partículas forem coaguladas. No estado plástico o DPS é < 1, e poderá conter 10% do volume líquido quando partículas floculadas se rearranjam em uma conformação de pacote aberto para acomodar o líquido adicional (REED, 1995). As massas plásticas são usadas para processos de extrusão, torneamento (jiggering) e modelagem plástica por pressão. No estado de pasta, havendo a adição de mais líquido no sistema com partículas coaguladas, o material fica inteiramente saturado (DPS=1) com aglomerados abertos com baixa força coesiva. 12 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica O comportamento do escoamento da pasta depende do tamanho das partículas coloidais e das forças de coagulação. A presença de um floculante pode aumentar significativamente esta coesão e a resistência ao cisalhamento. Os materiais pastosos são usados para a impressão de filmes, cerâmicas eletrônicas, decorativas, argamassas e cimentos puros (REED, 1995). 2.2.3 Massa fluida Quando um argilomineral é disperso ou defloculado em água por meio de um agente dispersante ou defloculante, o íon sódio Na + fica em solução e a superfície do argilomineral fica com uma carga negativa adsorvida (íons OH -), havendo uma repulsão entre elas, com dispersão no meio. Isso origina um sol coloidal, geralmente muito viscoso. Quando a suspensão da argila é concentrada (mais que 50% de sólidos), recebe o nome de barbotina defloculada (SANTOS, 1989). Na barbotina as partículas estão dispersas no líquido e o DPS é maior que 1. Uma boa suspensão para o processo de colagem, é aquela na qual a suspensão permanece concentrada e estável por um determinado tempo (REED, 1995). Ao contrário dos grânulos e corpos plásticos, as pastas e as barbotinas são incompressíveis. A resistência ao cisalhamento destes sistemas depende principalmente da viscosidade do líquido e das forças entre as partículas (SANTOS e SOUZA, 2001). 2.2.4 Reologia de Suspensões Cerâmicas Os sistemas coloidais cerâmicos são hidrofóbicos, apresentando a fase sólida dispersa (argilomineral), insolúvel no líquido dispersante (água), verificando-se uma interface sólido-líquido bem definida (OLIVEIRA, 2000). Devido ao grau de subdivisão das partículas, a fase dispersa se caracteriza por uma elevada superfície específica, onde as propriedades desse sistema coloidal são regidas pelos fenômenos de superfície (REED, 1995). Quando as partículas são grandes, a separação de fases tende a ser espontânea, de modo que o sistema não possui estabilidade. Entretanto, quando se trata de uma suspensão coloidal diluída e as partículas da suspensão são extremamente pequenas, suas velocidades de sedimentação também serão 13 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica pequenas (Lei de Stokes). Então a cinética do processo é controlada pela floculação. A separação de fases só ocorre depois que os aglomerados atingirem um diâmetro acima de 0,1μm, e começarem a sedimentar. Esta aglomeração ocorre através do movimento browniano que acontece devido à agitação térmica das moléculas, que faz as partículas colidirem e flocularem (COLLA, 2004). Conhecer o comportamento reológico é importante para escolher ou otimizar o equipamento de processamento cerâmico, a pesquisa e desenvolvimento de novas massas e o controle e monitoramento da consistência e do comportamento da massa no processo (REED, 1995). Os sistemas de processos cerâmicos contêm grânulos de material inorgânico, misturados a colóides e vários aditivos. A consistência da massa cerâmica é função dos parâmetros relacionados abaixo: 1. A quantidade, distribuição e propriedades da fase líquida. 2. A quantidade, tamanho e empacotamento das partículas. 3. Os tipos, quantidades e distribuição de aditivos adsorvidos na superfície das partículas. 4. As forças entre as partículas que podem ser atrativas ou repulsivas. No processamento cerâmico isto pode ser muito mais complexo, uma vez que uma pequena troca em qualquer um dos parâmetros acima mencionados, como a composição, temperatura, pressão ou agitação mecânica pode alterar significativamente a consistência e a forma de comportamento (REED, 1995). As estruturas em gel são caracterizadas por grandes estruturas de flocos conectadas por cadeias floculadas de partículas e canais de fluidos entre a estrutura. Propriedades da suspensão e condições de cisalhamento determinam quando a estrutura terá seu arranjo em equilíbrio. Enquanto a intensidade de cisalhamento é suficiente, as partículas comportam-se de forma independente, mas quando a intensidade é reduzida, forças atrativas unem as partículas novamente formando pequenos flocos. Estes flocos se ligam uns aos outros, aumentando a estrutura até que todas as partículas sejam incorporadas, formando uma estrutura única. As forças atrativas continuarão densificando, reforçando a estrutura e expelindo os fluidos dos canais. A Figura 2.5 mostra os processos de geleificação: Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 14 em A as partículas da suspensão são todas independentes uma da outra; em B alguns flocos começam a se formar; em C aparecem os estágios iniciais do crescimento da estrutura de flocos, canais fluidos aparecem entre os flocos; em D todas as partículas e flocos que parecem em C fazem parte de uma única grande estrutura (DINGER, 2002). Figura 2.5 - Exemplo do processo de geleificação (DINGER, 2002) A reologia das barbotinas geralmente tem sido abordada por métodos empíricos com equipamentos bastante simples como a taça de Ford e viscosímetros Brookfield ou Gallenkamp, por serem baratos e de fácil manuseio (DONDI, 2006). Com o aquecimento, a viscosidade de uma suspensão pode aumentar ou diminuir, o calor reduz a viscosidade do meio aquoso, mas aumenta em dobro a espessura da camada elétrica e a atividade eletroquímica (REED, 1995). Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 2.3 15 Aditivos Usados em Massas Cerâmicas 2.3.1 Defloculantes Os aditivos geralmente são adicionados para garantir características desejadas à barbotina, sendo o defloculante o principal, por não permitir a aglomeração das partículas. A importância da utilização de defloculante se justifica pela sua atuação junto aos flocos, que retêm grande quantidade de água no seu interior, subtraindo a quantidade de água do meio, aumentando a viscosidade. E por sua vez, o aumento da viscosidade dificulta a sedimentação (ORTEGA, et al.1997). O defloculante dispersa as partículas, a água volta ao meio, e a viscosidade diminui. Pode-se então obter uma suspensão mais densa e homogênea, melhorando a sedimentação e as propriedades do produto final, com uma parede de espessura uniforme do topo ao fundo da peça colada (SANTOS e SOUZA, 2001; COLLA, 2004). A floculação ocorre devido às atrações de partículas com cargas contrárias conhecidas por forças de Van der Waals, e assim, o papel do defloculante é produzir uma força contrária à de Van der Waals. Ao ser adicionado às suspensões aquosas, alguns sais alcalinos como polissilicatos de sódio e polifosfatos de sódio formam sóis estáveis. Estes agentes defloculantes (eletrólitos estabilizadores) fornecem cátion sódio à dupla camada de face maior das argilas, entretanto, o ânion polissilicato ou polifosfato é adsorvido na face menor. Este efeito pode transformar a face menor de carga positiva em carga negativa, pela cobertura de uma camada de polissilicato de carga negativa, de mesma natureza da carga de face maior. Assim as interações face-borda e borda-borda são destruídas e há maior possibilidade das partículas formarem um sol estável pela diminuição do tamanho dos aglomerados. Os íons fosfato e silicato possuem efeito duplo na viscosidade do sistema de água/argila, o primeiro efeito é “destruir” parcialmente a camada de água orientada na superfície dos argilominerais, e outro, é agir como agente sequestrante, formando complexos quelatos com íons di ou polivalentes que tendem a flocular as partículas de argilominerais (SANTOS, 1989). Isto permite obter uma barbotina com teores reduzidos de água contendo em torno de 70% de sólidos em massa. Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 16 Os defloculantes geralmente utilizados são hidróxido de sódio, carbonato de sódio, pirofosfato de sódio, hexafosfatos de sódio, metapolifosfatos de sódio, sendo o silicato de sódio, Figura 2.6, o mais utilizado devido ao seu baixo custo. Figura 2.6 – Estrutura química do silicato de sódio (NIST, 2007) O silicato de sódio é solúvel em água e aumenta a carga negativa das suspensões, não pela adição de cargas negativas orgânicas, mas pela remoção de cátions floculantes positivos, como por exemplo: Mg++, Ca++ e Al+++ (DINGER, 2002). Quando na relação SiO2 / Na2O se tem o dobro de silicato, obtém-se íons polissilicatos em solução aquosa que podem polimerizar com sais neutros (Na 2SO4, NaCl, KCl), formando colóides protetores e eliminando cátions floculantes (SANTOS e SOUZA, 2001). Há também os poliacrilatos de sódio ou de amônio, bastante eficientes e flexíveis, mas apresentam custo elevado e vida útil curta, quando misturados à barbotina, a suspensão deve ser utilizada imediatamente após o preparo. Os fosfatos de sódio também são eficientes, mas necessitam de uma quantidade muito grande, para que haja uma boa defloculação em relação ao silicato de sódio (MORELLI e BALDO, 2004). O ensaio de defloculação consiste em determinar o ponto mínimo de viscosidade de uma dispersão de argila, através de adições crescentes de defloculantes. Estes ensaios são realizados em viscosímetros do tipo escoamento ou de rotação, obtendo-se uma "curva de defloculação", geralmente em forma de U, Figura 2.7 (SANTOS, 1989). O ponto mínimo de viscosidade corresponde à máxima dispersão dos aglomerados das partículas. Essas curvas de defloculação variam de acordo com o agente defloculante e o tipo da argila utilizada. Com o excesso de eletrólito, atingese o potencial zeta crítico, e o sistema torna-se instável novamente. Ocorre a Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 17 aglomeração das partículas e começa o ramo ascendente da "curva de defloculação" (SANTOS, 1989). Figura 2.7 – Curvas de defloculação para argilas cauliníticas para diversas concentrações (SANTOS, 1989) 2.3.2 Estabilização A capacidade de troca iônica dos materiais cerâmicos leva a geração de cargas nas partículas, devido à substituição atômica, tal como acontece na caulinita, na qual a substituição do Si4+ por Al3+ é compensada por cátions K+. Em presença de água o K+ é liberado deixando a superfície negativa (SANTOS e SOUZA, 2001). Estas cargas superficiais dão origem à dupla camada elétrica. Quanto maior a densidade da carga superficial, maior a espessura da dupla camada elétrica e maior a força de repulsão entre as partículas (MORELLI e BALDO, 2004). Esta dupla camada foi descrita por Helmhotz como sendo uma camada rígida e por Gouy-Chapman como sendo uma camada difusa, Figura 2.8. Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 18 Figura 2.8 - Modelos de dupla camada elétrica (a) Modelo de Helmhotz; (b) Modelo de Gouy Chapman (SANTOS e SOUZA, 2001) Atualmente é bem aceita uma combinação das duas teorias, na qual a primeira camada próxima à superfície do sólido é rígida e a segunda camada é difusa, penetrando em direção ao líquido (SANTOS e SOUZA, 2001). Nas partículas minerais, o pH do meio e a presença e concentração de defloculantes afetam as cargas eletrostáticas das partículas (DINGER, 2002). Quando as densidades de cargas superficiais positivas e negativas são iguais, é atingido o ponto chamado de ponto isoelétrico ou ponto de carga zero (OLIVEIRA, 2000). O ponto isoelétrico é atingido em um pH ideal, que varia de acordo com o mineral, como por exemplo: o quartzo em pH 2, o talco em pH 2, a caulinita em pH 6-7 e a alumina em pH 9-9,5 (DINGER, 2002; SANTOS e SOUZA, 2001). No pH abaixo do ponto isoelétrico, em condições mais ácidas, a carga da superfície será positiva (DINGER, 2002). Controlando a floculação e defloculação do sistema, altera-se o mecanismo de estabilização da suspensão. Esta alteração pode ser eletrostática, estérica ou eletrostérica (OLIVEIRA, 2000). Na estabilização eletrostática há um aumento de carga superficial das partículas em relação ao meio, gerando aumento ou diminuição da repulsão. Pode ser obtida pelo controle do pH, na qual a adição de ácido reduz a carga negativa, diminuindo o potencial zeta e aumentando a atração e a floculação. A adição de 19 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica hidróxido aumenta a carga negativa e o potencial zeta das argilas, aumentando a defloculação (SANTOS e SOUZA, 2001). A estabilização estérica utiliza-se de polímeros que se adsorvem nas partículas gerando uma camada maior e impedindo que elas se aproximem, Figura 2.10. O aumento do pH reduz o tamanho dos flocos e aumenta a dispersão das lâminas mantendo as faces das partículas negativas, mas tornando positivas as extremidades das partículas das argilas (REED, 1995). As argilas geralmente adquirem carga negativa em água, que pode ocorrer por diversos motivos como a dissociação na superfície da argila, conforme mostra a Equação 2.8: - (argila - OH)H (argila – OH ) + H + Eq. 2.8 A valência residual da argila pode adsorver moléculas do meio. Isso ocorre devido à valência insaturada pela substituição catiônica ou ao alumínio apresentar ligações insatisfeitas, formando a camada difusa conforme Figura 2.9. Figura 2.9 - Dupla camada elétrica de uma partícula de argila (REED, 1995) Esta carga superficial gera um potencial que varia da superfície do sólido em direção ao meio líquido. A região entre a primeira e a segunda camada é conhecida como potencial zeta (Z) dada pela Equação 2.9. Z=4πed D Eq. 2.9 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 20 Na qual e, é a carga, d é a espessura da dupla camada e D é a constante dielétrica. Alterando-se o potencial zeta, propriedades como plasticidade e defloculação são alteradas. Quanto maior o potencial zeta, maior a repulsão e maior a defloculação (SANTOS e SOUZA, 2001). A viscosidade mínima ocorre quando o potencial zeta é alto e o fator de empacotamento é máximo. Quando o potencial zeta é reduzido, aglomerados são formados e a viscosidade aumenta. A estabilização eletroestérica é uma combinação da eletrostática com estérica, ocorre uma adsorção especifica de moléculas com grupos ionizáveis ou polieletrólitos nas superfícies das partículas, no qual os íons da dissociação desses grupos ionizáveis somam uma barreira eletrostática ao efeito estérico, Figura 2.11. Estes polieletrólitos podem ser naturais ou sintéticos e catiônicos ou aniônicos. Figura 2.10 - Mecanismos de estabilização (SANTOS e SOUZA, 2001) Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 21 Figura 2.11- Comparação entre estabilização eletrostática e a eletroestérica (SANTOS e SOUZA, 2001) 2.3.3 Amido como ligante Os ligantes são adicionados à barbotina para se obter uma peça à verde com resistência mecânica suficiente para sua manipulação e armazenagem. Ocorre através da formação de uma rede tridimensional entre as partículas resultando em forte adesão depois da evaporação da água. O amido é uma das principais reservas de carboidratos dos vegetais. As principais matérias-primas para a extração de amido são: a mandioca, a batata, o milho, o trigo e o arroz (FRANCO, 2001). Os processos industriais atuais permitem que o amido seja extraído com elevada pureza, apresentando aspecto branco e insípido. Trata-se de matéria-prima renovável e não tóxica. As dimensões dos grânulos de amido podem variar de 4 até 70 mm, assim como as características físico-químicas, que vão depender da espécie do vegetal, ou 22 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica se de mesma espécie, da idade, região da planta onde se encontra o amido e condições climáticas (FRANCO, 2001). Com a adição de água a temperatura ambiente e sob agitação constante a suspensão apresenta um aspecto leitoso, cujas partículas decantam após repouso. O amido é um polissacarídeo composto basicamente por dois tipos de moléculas: amilose e amilopectina, representado geralmente pela fórmula (C6H10O5)n + xH2O. A proporção média encontrada no amido é de 20 a 30% de amilose e de 70 a 80% de amilopectina, quantidades estas que influenciam diretamente nas propriedades do amido. A molécula de amilose, representada na Figura 2.12, pode variar bastante na sua massa molecular dependendo da condição da extração e sua cadeia linear pode conter de 200 a 2000 unidades de glicose. Apresenta forma helicoidal, que confere aos filmes e fibras uma estrutura mais elástica. (FRANCO, 2001). Figura 2.12 – Estrutura helicoidal da amilose (BASSANI, 2008) A molécula de amilopectina, Figura 2.13, é altamente ramificada e suas ramificações podem apresentar de 20 a 30 unidades de glicose, é mais compacta dificultando a entrada de moléculas como as de água e enzimas (FRANCO, 2001). Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 23 Figura 2.13 – Estrutura e disposição das moléculas de (a) amilose e (b) amilopectina (NELSON, 2006) Devido a sua grande versatilidade o amido é utilizado nos mais variados tipos de indústrias. Com ele é possível modificar as características do cozimento de alimentos, aumentar a estabilidade das pastas ao resfriamento e congelamento, aumentar a transparência das pastas ou géis, melhorar a formação de filmes, aumentar a adesão, adicionar grupamentos hidrofóbicos e conferir poder emulsificante, ou seja , o amido é utilizado nos mais variados tipos de indústrias. Na indústria de alimentos o amido tanto é usado como matéria-prima, como na fabricação de biscoitos, macarrões e panificação; quanto como espessante, em iogurtes, sobremesas, sopas e caramelos. Na indústria papeleira, o amido tem diversas funções como melhorar a resistência física do papel, auxiliar no refino, melhorar a lisura e a rigidez, aumentar a resistência à penetração de líquidos e evitar a formação de pó. O amido apresenta propriedade adesiva, sendo utilizado como cola em papel adesivo, envelope, papel de parede, etiqueta e papel ondulado. Está presente também em indústrias químicas, de resinas e plásticos, fármacos, têxtil, agroquímica, tintas e várias outras (FRANCO,2001). Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 24 A geleificação ocorre durante o resfriamento de uma pasta, quando o polímero forma uma estrutura na forma de uma rede tridimensional. Na geleificação é possível distinguir duas etapas: a separação de fases e a cristalização. Na separação de fases ocorre a segregação das moléculas formando uma rede tridimensional. Para que isso ocorra é necessária uma concentração mínima de 1,5% m/m de amilose e 10% m/m de amilopectina. Na retrodregadação (ou cristalização) as cadeias de polímeros de gel se alinham para formar cristais. Este efeito expulsa a parte do solvente para fora, endurecendo o gel (FRANCO, 2001). A aplicação de calor em uma suspensão de amido para o estado de pasta é acompanhada de grande aumento na viscosidade, devido ao inchamento dos grânulos e a resistência desses grânulos à dissolução pelo calor (FRANCO, 2001). A adição de hidróxido de sódio ao amido também aumenta a sua viscosidade devido à formação de um adesivo, conforme propõe a patente norte-americana de número 13.436 datada de 1912 (BESSANI et al., 2008; MILCZEWSKI et al., 2008). 2.3.4 Consolidação por amido (starch consolidation) O processo de consolidação de amido comercial se difundiu em várias pesquisas por ser um método eficiente e econômico, de baixo impacto ambiental e grande potencial tecnológico. Esta técnica de conformação direta, nada mais é do que a adição de amido na solução da barbotina, devido à propriedade do amido formar gel em água, podendo ser usado como ligante e formador de poros. O amido e a água são misturados à massa cerâmica até se obter um colóide com homogeneidade razoável. Depois a suspensão é derramada em um molde onde a temperatura é elevada entre 55-80ºC, para que ocorra a geleificação. O amido se dilata e forma uma rede, dando forma ao corpo verde, Figura 2.14. Após a peça ficar sólida ela é removida do molde e segue para as etapas de secagem e sinterização. Na sinterização, as partículas de amido são eliminadas, formando vazios, tornando a peça porosa. Através de amidos quimicamente modificados, também é possível produzir peças cerâmicas com baixa porosidade e alta resistência. 25 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Figura 2.14 - Processo de consolidação por amido A principal vantagem desta técnica é que a utilização de amidos comerciais, tornam o processamento mais barato e menos poluente (aCAMPOS e HEIN, 2001). A versatilidade do amido é tão grande que ROMANO (2007) utilizou a técnica de consolidação para produzir peças metalúrgicas, através da injeção de amido com aço. CAMPOS (2004) sinterizou alumina pelo método de amido com auxílio de baixa pressão a fim de remover pequenos defeitos no produto final. CARLOS (2005) fez uso da heterocoagulação para obter cerâmica com grande porosidade e resistência maior que a convencional. 2.4 Etapas da Produção da Louça Os diferentes métodos de conformação são divididos de acordo com a consistência da mistura da massa. Entre estes os métodos mais encontrados na indústria estão: a prensagem, a moldagem plástica por torneamento automática e semi-automática e a colagem de barbotina (FERNANDES, 1998). Uma mesma indústria pode ter mais de um método de conformação (SANTOS, 1975). Existem outros métodos de fabricação automatizados já implantado em empresas no exterior como: a colagem sob pressão e a injeção. De modo a comparar os principais processos de conformação segundo as etapas de produção foi montado o diagrama esquemático apresentado na Figura 2.15. 26 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Matéria-prima (minerais) Água + aditivos Mistura seca Mistura úmida Preparo da suspensão Extrusão Spray drying Prensagem Massa fluida Aditivos Massa seca Moldagem por drenagem Injeção Colagem sob pressão Colagem Massa plástica Moldagem por solidificação Geleificação Torneamento Consolidação por amido Secagem Queima Figura 2.15 – Principais métodos de conformação de cerâmicas 2.4.1 Métodos de conformação As comparações entre as principais características de fabricação, tais como: consistência das massas, aditivos, tipos de peça, condições de processo e tipos de moldes, encontram-se na Tabela 4.1. A prensagem isostática e o torneamento apresentam os menores tempos de conformação. A prensagem isostática é utilizada no Brasil por empresas de grande porte para a produção de louça cerâmica com geometria plana, tais como pratos, pires, tigelas etc. Porém, o custo do equipamento de spray dry para preparar o pó seco, a alta pressão necessária para a moldagem e, os custos do equipamento e do molde tornam inviável a prensagem isostática para micros e pequenas empresas. Apesar da alta produção com maquinário e moldes de baixo custo, o torneamento produz somente peças com superfície de revolução, ou seja, xícaras Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 27 sem alça, pratos, vasos, etc. Infelizmente a técnica não possibilita a produção de peças com design mais arrojados, como por exemplo, com secção quadrada ou hexagonal, tal como exige o mercado atual de louça de mesa. A colagem de barbotina permite a produção de peças com geometrias complexas, porém demanda um tempo maior de conformação e, dependendo das condições de temperatura e umidade ambiente exige a secagem do molde antes do seu próximo uso. Para compensar a menor produção utiliza-se uma elevada quantidade de moldes de gesso, o que resulta na ocupação de uma grande área fabril para a conformação e também armazenagem de moldes. O molde de gesso pode ter um tempo de vida útil curto, dependendo do quanto é utilizado, e não é reciclável. A colagem sob pressão permite aumentar a produção com apenas um molde ou um número reduzido deles comparado ao processo convencional com moldes de gesso, visto que o tempo do ciclo de produção é menor. Entretanto, é necessário o uso de molde de resina porosa, mais caro que o de gesso, porém mais barato que o molde utilizado na prensagem isostática. Esta técnica é utilizada no Brasil, para a fabricação de grandes peças cerâmicas nas indústrias de louças sanitárias. É possível importar máquinas que produzam peças pelo processo de colagem sob pressão para louça de mesa, porém o seu preço é proibitivo para micros e pequenas empresas. A solidificação por amido produz peças com geometrias complexas em diferentes tipos de moldes. Entretanto, é necessário aquecer a suspensão para que haja a formação de gel e depois resfriar o molde. Essas etapas adicionais demandam tempo, o que reduz a produtividade e aumentam o custo de produção. A técnica conhecida por gelcasting trabalha com aditivos a uma temperatura um pouco menor em relação à consolidação por amido, porém também é necessário resfriar o molde para conformar a peça. O molde metálico é o mais indicado para propiciar uma efetiva troca de calor, diminuindo o tempo de moldagem. A injeção à quente faz uso de quantidades muito maiores de aditivos orgânicos (cera, parafina e polímeros de baixo peso molecular) se comparados a outras técnicas. Assim, durante a injeção, para a massa escoar é necessário aquecê-la sob pressão para preenchimento do molde, geralmente metálico, seguido de posterior resfriamento. O inconveniente deste processo é a necessidade de acrescentar um Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 28 patamar para queima do material orgânico (debonding), o que torna o controle da porosidade mais difícil. A injeção a frio usa água como transporte e elimina a etapa de aquecimento anterior à injeção, porém o tempo de moldagem aumenta significativamente em função da necessidade de resfriar o molde para a formação de gel devido ao uso, por exemplo, de agar ou agarose como geleificantes. Considerando um custo que seja acessível a pequenas empresas que fabricam louça de mesa, a velocidade de processo e as questões ambientais, foi feita a opção pela colagem sob pressão semi-automática, por possibilitar a obtenção de peças coladas sob baixa pressão. De modo a utilizar as vantagens da consolidação por amido, foi estudada a formulação de uma massa cerâmica com adição de amido e hidróxido de sódio, para que ocorra a geleificação sob baixa pressão a temperatura ambiente de modo a diminuir o tempo e os custos de processamento. Barbotina Pressão Colagem Amido Gel Solidificação 15 (18, 26) 1-5 (28) Agar-agar, polissacarídeos, polímeros (23, 27) 20-50 (28) Semi. / Auto. Semi. / Auto. Manual 15 – 20 (11,16, 24) Parafinas, ceras (23) Monômeros (24) 50 – 60 (11) Manual Semi. / Auto. Manual (26) Manual / Semi. (23, 26) Semi. / Auto. (23, 26) Grau de automação 5 – 50 (3,6) 0,03 – 3 (10) 0,03 3 - - Aditivos (%) Complexo Complexo Complexo Complexo (1) Complexo Complexo Revolução (23, 26) Plano Formato da peça 3a4 dias (28) Segun dos a 1 h (23) 30 a 60 min. (23) Amb. 60 - 160ºC (23) Amb. (11) Ambiente (1,3,4,5,6,9) Amb.- 70 ºC (11) 1 a 15 min. (12,23) 1a3h (1) Amb. Amb. Amb. 20 min. a 48 horas (23) 2a7 min . 1a5 min. Tempo Temperatura da massa Amb. Refrigera da (23) 25 - 80 ºC (11) 468 kPa (27) 0,2 a 100 MPa (18,23) Atm (24) Polímero ou metal (18) 36 h – seman as (18) 24 -48 h (27, 28) Polímero ou metal Baixo, médio, alto Vidro, polímero ou metal (14, 23) 12 -24 h Médio, alto Alto , Médio, 12 -24 h (7,9) Metal ou polímero (1, 3, 7, 8) Atm 65-80 ºC (1,3,4,5,6 ,9) Baixo --- Alto (26) Custo Baixo, médio, alto Amb (11) Gesso (23, 26) --- Borracha e metal (22, 26) Material Molde Gesso, polímero ou metal (22) 2 a 24h (9,10, 13) 0,35 - 0,2 MPa (12,14, 20) 12-36h (25) < 1h (25) 18 - 72 h (17, 25) 0,02-0,25 MPa (23) 7-200 MPa (15, 21, 26) Pressão Secagem Atm0,14 MPa (23) Amb. Amb. Amb. Temperatura do molde Moldagem m Tabela 2.1 - Comparação entre os processos de fabricação 55-86 (18) Amido 31 – 80 (2,3) Defloculantes - - Tipo de Aditivo 30 – 70 (10,13) Torneamento Defloculantes 75 – 100 (25) Prensagem Isostática 40 – 70 (16,19, 22) 95 – 100 (22) Sólidos (%) Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 29 Quente Frio Injeção Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 30 1- GREGOROVA, 2006; 2- VASCONCELOS, 2000; 3- GREGOROVA, 2007; 4LEMOS, 2006; 5- MAO, 2006; 6- ALVES, 1998; 7- BAREA, 2005; 8- CAMPOS, 2004; 9- HONDA, 2004; 10- FERREIRA, 1998; 11- HUANG, 2004; 12- FERREIRA, 1997; 13- TARI, 1998; 14- MORENO, 1997; 15- FORTULAN, 1998; 16- SALOMONI, 1997; 17- FERREIRA, 1998; 18- ZORZI, 2004; 19- RAMACHANDRA, 1999; 20- MORENO, 1999; 21- ALVES, 2004; 22- SANTOS, 1989; 23- REED, 1995; 24- JANNEY, 1998; 25- DONDI, 2006; 26- NORTON, 1973; 27- SCHILLING, 2002; 28- LINDQVIST, 2005 2.5 Secagem O processamento térmico é muito importante para a obtenção da qualidade nas propriedades finais dos produtos cerâmicos. Esse tratamento compreende as etapas de secagem e queima. A secagem é uma importante operação que antecede a queima e, trata da remoção do líquido do material poroso por meio de transporte e evaporação em um ambiente insaturado (REED, 1995). Pode ser feita ao ar, em câmaras de secagem ou em secadores contínuos e a temperatura pode variar entre 50 e 150ºC (SOUZA E SANTOS, 2001). A secagem deve ser rápida para ser economicamente viável (SOUZA E SANTOS, 2001). Porém é bastante controlada para se evitar a retração diferencial ou que haja pressão devido aos gases produzidos, que podem gerar trincas e empenamento no produto (REED, 1995). No processo de colagem, deve-se tomar cuidado com a secagem que ocorre já dentro do molde, pois o excesso de drenagem de água pelo molde pode originar trincas. Isso se deve ao rearranjo das partículas sólidas na ocupação dos lugares vazios deixados pela água, gerando retração no corpo da peça. Para se obter uma boa secagem deve-se levar em consideração a temperatura do líquido na peça, umidade e fluxo do ar de secagem. Radiação pode ser usada juntamente com a condução e convecção do calor para aumentar a secagem. O processo de secagem pode ser resumido em três fases, que correspondem à velocidades de perda de água distintas. São elas a fase de aumento de secagem, a fase constante e o decréscimo de secagem. Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 31 No aumento de secagem, A na Figura 2.16 , o líquido é removido da superfície externa úmida, a taxa de evaporação aumenta consideravelmente. Figura 2.16 – Etapas do processo de secagem (SANTOS e SOUZA, 2001) Na fase constante, B na Figura 2.16, a temperatura do produto é normalmente igual à temperatura ambiente, a evaporação é constante na área superficial, o líquido evaporado é substituído por líquido entre as partículas e transportado para a superfície externa por difusão rápida ou fluxo capilar. Ocorre retração devido à perda de água e aumento da força de cisalhamento plástica. O padrão de secagem cai e passa para a etapa de decréscimo, C e D na Figura 2.16, devido à retração e migração química. Ocorre a evaporação a partir do menisco do líquido nos poros porque a taxa de transporte interno líquido é menor que a taxa de evaporação e os poros se tornam insaturados. A taxa de evaporação diminui e a temperatura externa aumenta. Nas etapas finais da secagem ocorre o aumento de transporte por vapor nos poros e diminuição no transporte por força capilar. O menisco retrocede para o interior do corpo, de modo que poros grandes e interstícios perdem água, primeiro por processo isotérmico, sendo necessária mais energia para retirar água dos interstícios menores, havendo aumento da tensão capilar. Capítulo 2 Revisão Bibliográfica 32 O líquido adsorvido e a água de cristalização podem permanecer na peça, sendo necessário um aquecimento acima da temperatura de evaporação (SANTOS e SOUZA, 2001). Durante a secagem, convecções de ar quente com baixa umidade relativa são forçadas para se aumentar o padrão de evaporação, principalmente no período constante, e também produz uma secagem uniforme nas cavidades do produto. 2.6 Queima Na queima as peças são submetidas a altas temperaturas levando às principais alterações no material, que para a maioria dos produtos situa-se entre 800 e 1700ºC. Pode-se dizer que ocorre em três estágios: - reações preliminares ou de pré-sinterização; -sinterização; -resfriamento (SANTOS e SOUZA, 2001). Na pré-sinterização elimina-se água combinada com partículas inorgânicas remanescente da secagem, ocorre a queima do material orgânico e de aditivos, mudança do estado de oxidação de alguns íons metálicos e decomposição de carbonatos e sulfatos. A sinterização é o termo utilizado para descrever a consolidação do produto durante a queima. Geralmente é interpretada como retração e densificação, porém nem sempre ocorre a densificação, sendo que muitos produtos porosos são sinterizados. Podem ocorrer reações no estado sólido, sinterização por pequena quantidade de líquido reativo e sinterização de uma fase sólida por uma fase líquida. O uso de materiais fundentes auxilia na sinterização, promovendo o fluxo viscoso através da formação da fase vítrea (SANTOS e SOUZA, 2001; REED, 1995). A fase de sinterização é formada por várias etapas. Na primeira ocorre a aproximação entre as partículas, sendo que na região de contato dos grãos ocorre a difusão dos átomos formando o empescoçamento (REED, 1995). Na etapa intermediária inicia-se a retração dos poros, crescimento lento de grãos, aumentando significadamente a resistência mecânica. A formação destes 33 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica grãos vai depender do tamanho, forma e empacotamento das partículas (SANTOS e SOUZA, 2001; REED, 1995). Na fase final ocorre o fechamento dos poros contendo gás e os que estão entre os contornos de grãos. Há o desaparecimento ou encolhimento do grão até um certo limite. A atmosfera de sinterização é muito importante, uma vez que o gás preso em um poro fechado limita a retração do mesmo, a menos que o gás seja solúvel no contorno do grão e possa ser difundido do poro. A atmosfera também influencia a sublimação e estequiometria das principais partículas do dopante (SANTOS e SOUZA, 2001; REED, 1995). A sinterização da cerâmica branca é complexa, porque a densificação ocorre simultaneamente com a reação e dissolução de materiais que produzem novas fases vítreas e cristalinas (REED, 1995). O potássio e o feldspato formam a fase líquida em torno de 1000ºC. A reação do feldspato com o caulim, a 1050ºC, forma a mulita. O líquido preenche os poros maiores e as partículas adquirem mobilidade suficiente para se rearranjarem ficando mais empacotadas. A retração ocorre com a presença da fase líquida. À alta temperatura perto do estágio final, os cristais de mulita tomam forma prismática e a dissolução do quartzo aumenta a quantidade de sílica e a viscosidade vítrea (SANTOS e SOUZA, 2001; REED, 1995). O resfriamento ocorre ao longo do processo. O resfriamento padrão é controlado pela resistência ao choque térmico dos materiais da composição. Produtos com seções densas são resfriados mais lentamente. A retração diferencial térmica gera tensões que podem ser suficientes para a formação de micro trincas (REED, 1995). Algumas cerâmicas elétricas são resfriadas em atmosfera diferente da utilizada na sinterização, a fim de se alterar o estado de oxidação de componentes iônicos, a estequiometria ou a fase de equilíbrio. A Tabela 2.2 apresenta a mudanças sofridas por um corpo cerâmico constituído pelos três componentes básicos: argila, sílica e feldspato (SMITH, 1998). 34 Capítulo 2 Revisão Bibliográfica Tabela 2.2 - Mudanças sofridas por uma cerâmica com a temperatura Temperatura (ºC) Reações Até 100 Perda de umidade. 100-200 Remoção de água absorvida. 200-450 Perda dos grupos hidroxílicos. 500 Eliminação da matéria orgânica. 573 Inversão do quartzo para a forma estável a altas temperaturas; pequena deterioração do corpo. 980 Formação da espinela a partir da argila; início da retração. 1000 1050-1100 Início da formação de mulita. Formação de fase vítrea a partir do feldspato, a mulita cresce e a retração prossegue. 1200 Há mais fase vítrea, a mulita cresce, os poros vão se fechando e há alguma dissolução do quartzo. 1250 60% da fase vítrea, 21% de mulita, 19% de quartzo; porcentagem de porosidade mínima. 35 Capítulo 3 Materiais e Métodos 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais Os materiais utilizados e suas principais características, assim como os fornecedores, se encontram na Tabela 3.1. Tabela 3.1 – Materiais e sua composição e principais características Composição A Massa Cerâmica B Defloculante 30,9-33,2% SiO2, 14,715,1% Na2O e 77% em massa de água Características Fornecedor Temperatura de queima de 1.100ºC, retração da peça seca de 9%, retração total após a queima de 12% e absorção de água de 11%. Cermassa Temperatura de queima de 1.130ºC, retração da peça seca de 7%, retração total após a queima de 10% e absorção de água de 13%. Relação Molar [SiO2/Na2O] – 2,10-2,20 Densidade 1,567-1,59 g/cm Manchester 3 Ligante AMIDEX 2001 pH entre 4,5 -5,5 e umidade de 14,0% Corn Products Brasil Hidróxido de Sódio NaOH Solução diluída a 50% em massa Bond Carneiro O amido de milho foi escolhido por ser bastante fácil de encontrar e apresentar grãos isométricos e menores em relação aos de batata, trigo e tapioca, formando Capítulo 3 Materiais e Métodos 36 então poros menores (PABST, 2005), o que contempla um dos objetivos do trabalho, que é a formação de peças densas e com melhor controle do tamanho dos poros. 3.2 Caracterização das argilas As caracterizações das argilas foram realizadas pelo LAMIR – Laboratório de Análises de Minerais e Rochas da Universidade Federal do Paraná, segue as especificações dos equipamentos utilizados: Constituição mineralógica das argilas por meio do ensaio de Difração de RaiosX (DRX), marca PHILIPS ANALITICAL, modelo PW-1830; composição química qualitativa por meio da técnica de Fluorescência de RaiosX (FRX) modelo PW 2400/00, com Sampler changer 2510, marca PHILIPS ANALITICAL; análise granulométrica com o analisador de partículas a laser (Granulômetro CILAS 1064). 3.3 Preparação da Massa Cerâmica 3.3.1 Preparação do pó seco A massa cerâmica úmida foi dispersa em água e misturada com a ajuda de um moinho excêntrico da BP Engenharia, CB2-T, durante 20 minutos. Em seguida a suspensão foi vertida em uma bandeja e colocada na estufa a 100 ºC durante 24 h. O material aglomerado foi moído usando um gral e um pistilo, sendo em seguida passado em peneira de 40 mesh de abertura. 3.4 Composição da massa fluida 3.4.1 Composições para obtenção das curvas de defloculação Numa primeira etapa, o estudo se restringiu às suspensões de argila nas concentrações de 60 e 65% em massa com adição apenas de uma solução de silicato de sódio na concentração de 1 % em massa, para a determinação da curva 37 Capítulo 3 Materiais e Métodos de defloculação. A Tabela 3.2 apresenta as composições das Massas A e B utilizadas na análise reológica para determinação das curvas de defloculação. Tabela 3.2 – Adição de silicato nas massas cerâmicas A e B Concentração de Sólidos (% em massa) 60 Solução de Silicato / Massa Cerâmica (% em massa) Massa A Massa B 0,3 0,3 0,4 0,4 0,5 0,5 0,6 0,6 0,7 0,8 0,8 1,2 1,0 65 0,4 0,5 0,6 0,6 0,8 0,7 0,9 0,8 1,0 0,9 1,1 1,2 1,2 3.4.2 Composição das massas com aditivos Nesta etapa, após a definição e fixação da concentração ótima de defloculante numa suspensão com concentração de 65% em massa, foram adicionas às massas cerâmicas, o amido e o hidróxido de sódio (aditivos) em diversas concentrações. As quantidades relativas de amido e hidróxido de sódio foram calculadas em porcentagem em massa seca de argila, e baseadas em estudos anteriores desenvolvidos por BESSANI et al. (2008) e MILCZEWSKI et al. (2008). que utilizaram a patente norte-americana de número 13.436 datada de 1912 como referência para a fabricação de adesivos de amido. A patente propõe o emprego de hidróxido de sódio na composição do adesivo uma vez que este exerce o papel da Capítulo 3 Materiais e Métodos 38 temperatura, rompendo as ligações complexas até que moléculas de dextrina sejam formadas. BESSANI et al. (2008) preparam adesivos com amido e hidróxido de sódio em diversas concentrações a temperatura ambiente e realizaram medidas de viscosidade, e, neste trabalho concluíram que a quantidade de NaOH não interferia na viscosidade, mas no tempo de geleificação. Quanto maior quantidade de NaOH maior o tempo para geleificação. Já MILCZEWSKI et al. (2008) no preparo de compostos com farinha de madeira e PEBD, utilizando o mesmo adesivo, e verificaram que o aumento da temperatura aumentou a viscosidade com menor quantidade de NaOH. As proporções dos aditivos, amido e hidróxido de sódio foram variadas com a finalidade de formar uma suspensão com maior concentração de sólidos, menor viscosidade e maior estabilidade em função do tempo, para a obtenção da consolidação desejada, sendo que a quantidade de amido foi inferior à utilizada no processo de consolidação de amido, que produz peças porosas. Gregorova et al. (2006), Vasconcelos et al. (2000), Alves et al. (1998), bFerreira et al., (1997) realizaram nas suas pesquisas cerâmicas porosas utilizando no mínimo 10% de amido, por isto a concentração de amido escolhida neste estudo foi de no máximo 1% a fim de se obter baixa porosidade. Devidos às pequenas concentrações utilizadas no estudo reológico, os materiais foram misturados manualmente, a fim de se obter uma massa homogênea. 39 Capítulo 3 Materiais e Métodos Tabela 3.3 – Variação da percentagem em massa de aditivos na segunda etapa Composição Amido (%) NaOH (%) 1 0 2 0,25 3 0 0,5 4 0,75 5 1,0 6 0 7 0,25 8 0,25 0,5 9 0,75 10 1,0 11 0 12 13 0,5 0,25 0,5 15 0,75 16 1,0 17 0 18 19 0,75 0,25 0,5 20 0,75 21 1,0 22 0 23 0,25 24 1 0,5 25 0,75 26 1,0 Capítulo 3 Materiais e Métodos 3.5 40 Análises reológicas As curvas de viscosidade foram obtidas com o auxílio do equipamento BROOKFIELD LV DV-III, de cilindros concêntricos utilizando o sensor (Spindle) SC421 e o aplicativo RHEOCALC 32 para a aquisição dos dados. As composições de barbotina foram avaliadas a 25 C, imediatamente após serem preparadas e, após permanecerem na câmara de amostra do equipamento por 30, 60, 90 e 120 minutos consecutivamente. A temperatura foi controlada com a ajuda de um banho termostatizado TECNAL, modelo Te-84. Um desenho esquemático do equipamento completo pode ser visto na Figura 3.1. Os limites máximos e mínimos de velocidade de rotação do sensor foram definidos de forma a manter o torque requerido dentro dos limites definidos pelo fabricante, de maneira a assegurar a confiabilidade dos resultados fornecidos pelo aparelho. Figura 3.1 - Esquema do Viscosímetro BROOKFIELD LV DV-III (BASSANI, 2008) Os primeiros ensaios foram realizados objetivando a viscosidade mínima em relação à concentração de silicato de sódio, através das curvas de defloculação conforme PÉRSIO, 1989. 41 Capítulo 3 Materiais e Métodos 3.6 Medida de pH Em todas as suspensões foram medidos os valores de pH, por meio de um pHmetro de bancada digital da LABMETER, modelo pHS-3B com precisão de +/0,01. 3.7 Análise Estatística Para melhor compreensão da correlação dos dados obtidos nas análises reológicas e de pH (variáveis dependentes) com a composição das suspensões (variáveis independentes) foi utilizada a Regressão Multivariável Não Linear do Programa Statistica, versão 7. O modelo matemático geral utilizado foi o da Equação 3.1. z = a + b x + c y + d x y + e x2 + f y2 Eq. 3.1 Somente os modelos matemáticos obtidos via regressão que obtiveram bons coeficientes de determinação (R2) geraram superfícies de resposta, que é capaz de prever o comportamento das suspensões em função das variações de concentração dos aditivos. O Gráfico Pareto foi utilizado para análise da importância relativa dos parâmetros de todos os modelos matemáticos usados, tomando como base o Teste t de Student, na qual a hipótese nula supõe que o coeficiente analisado é igual a zero para o nível de significância igual a 0,05. 42 Capítulo 3 Materiais e Métodos 3.8 Obtenção de Amostras para Análises de Comportamento Térmico Os procedimentos empregados estão apresentados no diagrama esquemático mostrado na Figura 3.1. Argila em pó Amido Água + aditivos Massa cerâmica NaOH 50% Colagem Secagem 110o C Análise Dilatométrica Moagem Análise Termogravimétrica Peneira 200 mesh Análise Térmica Diferencial Figura 3.2 - Esquema dos procedimentos para a obtenção das amostras para cada análise, com fotos ilustrativas das amostras ensaiadas Na etapa de colagem, as suspensões foram injetadas, com auxílio de uma seringa, nas cavidades dos moldes de gesso com formato cilíndrico de (50 x 8) mm. As peças foram desmoldadas após 12 horas de colagem. A Figura 3.3 mostra o molde de gesso e a peça à verde logo após a colagem. A temperatura para desmoldagem foi a temperatura ambiente, e não, a 80ºC após 1 hora, conforme citado nas diversas pesquisas por consolidação por amido, (GREGOROVA et al. 2007), (LEMOS et al. 2006), (ALVES et al. 1998), (MAO et al. 2006), (BAREA et al. 2005). Capítulo 3 Materiais e Métodos 43 Depois de desmoldadas, as peças foram secas por 24h a 110ºC. Em seguida foi realizada uma inspeção visual para avaliação de falhas na superfície, medidos o comprimento, o diâmetro e a massa de cada peça. Figura 3.3 – Molde de gesso com peça colada As análises térmicas foram realizadas no equipamento de sistemas de análises térmicas modelo RB-3000 da BP Engenharia, os corpos de prova foram aquecidos a uma taxa de aquecimento de 10 C por minuto até a temperatura de 1150 C sob atmosfera ambiente. Os corpos de prova de dilatometria a verde foram secos, moídos e peneirados em malha 200 mesh. Após o pó ser obtido, foi novamente seco por mais 2 horas a 60 C, tal como recomendado pelo fabricante do equipamento. O material em pó seco foi então compactado no compartimento de análise térmica diferencial. Para a análise termogravimétrica foram utilizadas 10g da composição moída e seca. 44 Capítulo 4 Resultados e Discussão 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Caracterização das Massas Cerâmicas Comerciais 4.1.1 Distribuição Granulométrica Comparando as distribuições granulométricas das massas cerâmicas comerciais de composição A e B, Figura 4.1, é possível verificar a grande semelhança entre elas, o que indica que o processo de fabricação das massas é FREQUENCIA ACUMULADA (%) homogêneo e independe da composição da massa. 120 100 80 MASSA A 60 MASSA B 40 20 0 0,000 0,001 0,010 0,100 1,000 DIÂMETRO DA PARTÍCULA (mm) Figura 4.1 – Distribuição granulométrica das massas cerâmicas comerciais com composições A e B. Capítulo 4 Resultados e Discussão 45 4.1.2 Distribuição, composição química e mineralógica A Figura 4.2 e a Figura 4.3 apresentam os resultados das análises de Difratometria de Raios-X (DRX) das Massas A e B, respectivamente, e a Tabela 4.1 apresenta os minerais identificados e suas respectivas composições químicas. A composição química qualitativa foi obtida por meio da técnica de Fluorescência de Raios-X (FRX) e os resultados estão na Tabela 4.2. De acordo com os difratogramas e a Fluorescência de Raios-X, a Massa A é composta basicamente por quartzo, caulinita, albita, talco e ilita. A Massa B tem composição elementar similar a da Massa A, diferenciando-se desta pela presença de dolomita. As análises de Fluorescência de Raios-X mostram que os óxidos de sódio (Na2O) e cálcio (CaO), que têm características de fundente, estão presente em maior quantidade na Massa B. A maior quantidade de óxido de cálcio na Massa B confirma a presença da dolomita nos resultados. A maior quantidade de óxido de potássio, que também é um fundente, indica maior quantidade de ilita na Massa A em relação à Massa B. A maior quantidade de óxido de magnésio (MgO) na Massa A indica maior quantidade de talco, visto que esta não contém dolomita, resultado este confirmado pelo difratograma. 400 10 20 30 40 50 Position [°2Theta] Figura 4.2 – Difratometria de Raios-X da Massa A Figura 4.3 – Difratometria de Raios-X da massa B 0 60 Quartz; Illite; Talc; Albite Quartz; Kaolinite; Talc Quartz; Kaolinite; Talc Quartz; Talc; Albite Quartz; Talc Quartz; Talc; Albite Quartz; Illite; Albite Talc Quartz; Kaolinite; Talc Quartz; Illite; Talc Illite; Albite Kaolinite; Talc Quartz Quartz Kaolinite Kaolinite Talc Quartz; Illite 31708A.CAF Illite; Albite Talc Kaolinite; Albite Illite Illite Capítulo 4 Resultados e Discussão 46 Counts 1600 47 Capítulo 4 Resultados e Discussão Tabela 4.1 - Identificação de minerais presentes nas Massas MASSA CERÂMICA COMPOSIÇÃO QUÍMICA A B Quartzo Quartzo SiO2 Caulinita Caulinita SiO4 Al2(OH)6 Talco Talco Mg3(Si2O5)2(OH)2 Ilita Ilita Al2 (AlSi3O10) (OH)2K Albita Albita NaAlSi3O8 Dolomita CaMg(CO3)2 Tabela 4.2 - Resultados da composição química das massas cerâmicas comerciais A e B, obtidas por análise de FRX Massa Cerâmica A Composto químico B Concentração (%) SiO2 63,3 58,0 Al2O3 21,6 23,9 Perda ao fogo 9,2 12,3 MgO 3,4 2,0 CaO 0,1 1,6 TiO2 0,7 0,8 Fe2O3 0,6 0,5 K2O 0,7 0,4 Na2O 0,2 0,3 P2O5 0,1 4.1.3 Comportamento Térmico das Massas Cerâmicas No gráfico de análise termodiferencial, Figura 4.4, os picos para baixo representam reações endotérmicas, enquanto os picos para cima são exotérmicas. 48 Capítulo 4 Resultados e Discussão Na Figura 4.6 as pequenas oscilações endotérmicas à 110 ºC indicam perda de água. A reação endotérmica próxima a 600 ºC indica perda de água por desidroxilação, característica da caulinita. É possível notar um pico endotérmico próximo a 820 ºC na Massa B característico da decomposição do carbonato (MARINO, 2000; COCCHI, 2006), pico este ausente na Massa A, corroborando com as análises obtidas na Difração de Raios-X. A formação do espinélio alumino-silicato e a nucleação da mulita ocorrem a 960 ºC, Equação 4.1, caracterizados por uma reação exotérmica. SiO2 + Al2O3 → 3 Al2O3.2 SiO2 Eq. 4.1 20 15 10 DT (oC) 5 0 -5 0 Massa A 200 400 600 800 1000 Massa B -10 -15 -20 -25 TEMPERATURA (oC) Figura 4.4 - Análise termodiferencial das Massas A e B Nas argilas que apresentam Fe2O3 há ocorrência de um pico exotérmico na faixa de 1120 ºC. Este pico está relacionado com a oxidação da hematita (Fe2O3) em magnetita (Fe3O4), tal como também é observado no termograma para as duas massas. Por meio dos resultados das análises dilatométricas mostradas na Figura 4.5 pode-se observar que o valor da máxima retração da Massa A foi de 22,3% e o da B foi de 23,2%. 49 Capítulo 4 Resultados e Discussão As curvas de dilatação/retração das massas indicam que, apesar dos perfis de retração com a temperatura serem bem diferentes, os valores de máxima retração não foram tão dispares. Embora as Massas dilatem em torno de 4% até 500 ºC, a Massa B tem uma retração um pouco mais acentuada que a Massa A a partir de 600 ºC, devido à perda de matéria orgânica e a descarbonatação. A partir de 800ºC a retração é devida à destruição da estrutura cristalina e início da formação de mulita. A Massa A tem a retração retardada devido à maior quantidade de sílica, iniciando a densificação a partir de 900 ºC. Para ambas as massas a retração se estabiliza a 1100 ºC. (L-L0)/L0*100 (%) 10 5 0 -5 0 200 400 600 800 -10 1000 Massa A Massa B -15 -20 -25 TEMPERATURA (oC) Figura 4.5 - Curvas das Massas Cerâmicas com composição A e B, obtidas por termodilatometria Na Figura 4.6, as perdas de massa iniciais a partir de 100 ºC devem-se a desidratação da massa, seguida por desidroxilação ou perda de água estrutural a partir de 400 até 500ºC. É possível observar uma perda significativa de massa a partir de 500 a 600ºC. Na Massa A, esta perda de massa se refere ao início da combustão de material orgânico que corresponde ao pico endotérmico à 600ºC na análise termodiferencial. Em seguida, não há mais perda de massa, notando-se apenas um pequeno ganho de massa a partir de 1120 ºC relacionado à oxidação da hematita. 50 Capítulo 4 Resultados e Discussão 2 0 -2 0 200 400 600 800 1000 Dm (%) -4 Massa A -6 Massa B -8 -10 -12 -14 TEMPERATURA (ºC) Figura 4.6 - Termogravimetria das Massas A e B MASSA A 20 15 10 EVENTO 5 Diferencial 0 -5 0 200 400 600 800 1000 Dilatométrica Termogravimétrica -10 -15 -20 -25 TEMPERATURA (oC) Figura 4.7 - Comparação das análises térmicas da Massa A Nas Figura 4.7 e Figura 4.8 a Massa B apresenta uma faixa maior de perda de massa situada entre 400 e 800 ºC, devido à perda de água estrutural seguida de liberação de CO2 devido à descarbonatação da dolomita. Verifica-se que a Massa B alcançou perda de massa por volta de 13%, maior que o resultado obtido com a Massa A, que apresentou perda de 9%. Esta diferença deve-se à quantidade de 51 Capítulo 4 Resultados e Discussão dolomita presente na Massa B, a qual foi observada por análise de Fluorescência de Raios-X e por Difração de Raios-X, quantidades maiores de CaO (1,6 contra 0,1% em A) e CO2 (12,3 contra 9,2% em A). MASSA B 15 10 5 Diferencial EVENTO 0 -5 0 200 400 600 800 1000 Dilatométrica Termogravimétrica -10 -15 -20 -25 TEMPERATURA (oC) Figura 4.8 - Comparação das análises térmicas da Massa B 4.2 Suspensões Defloculadas com Silicato de Sódio 4.2.1 Estabilidade das suspensões defloculadas A Figura 4.9 apresenta o comportamento do pH com o aumento da quantidade de silicato de sódio. Observa-se que com o aumento da quantidade de silicato, as curvas pH das suspensões das Massas A e B tendem a formar um patamar nos valores de 9,5 e 10, respectivamente. Como a Massa B apresenta pH inicial mais próximo do pH de estabilização, pH igual a 10, para se chegar ao seu ponto isoelétrico este necessita de menor quantidade de defloculante em relação à massa A, que também tende ao mesmo patamar de estabilização. 52 pH Capítulo 4 Resultados e Discussão 11 10 9 8 7 6 5 4 Massa A Massa B 0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 CONCENTRAÇÃO DE SILICATO DE SÓDIO (%) 1,5 Figura 4.9 – pH da suspensões das Massas A e B sem aditivos 4.2.2 Curvas de defloculação das suspensões Para os testes realizados com as barbotinas nas concentrações de 60% e 65% em massa de sólidos, e concentrações de silicato de sódio variando entre 0,3% a 1,2% em relação à massa seca, na faixa de ensaio de 4 a 70 s-1, o comportamento reológico encontrado para as Massas A e B foi de um fluido de Bingham. Da Figura 4.10 a Figura 4.13 os pontos que se apresentam agrupados sob a mesma concentração correspondem, de baixo para cima, aos tempos de repouso de 10, 30, 60, 90 e 120 minutos, respectivamente. A barbotina da Massa A com 60% de sólidos exigiu uma concentração menor de silicato (0,8%) do que a com 65% (1%), Figura 4.10, para atingir a menor viscosidade, ou seja, para a estabilização da suspensão. As curvas de tensão de escoamento em função da concentração de silicato, Figura 4.11, indicam que para as concentrações de silicato mencionadas o fluido tornou-se Newtoniano, com o desaparecimento da tensão de escoamento. Com a adição de silicato de sódio, foi observada uma diminuição da tensão de escoamento tanto para a Massa A quanto para a Massa B. Este fenômeno está relacionado à destruição dos géis formados no sistema pela ação defloculante do silicato de sódio. Assim, quando os valores de tensão de escoamento se mantêm 53 Capítulo 4 Resultados e Discussão constantes com a adição de silicato de sódio, indica que o ponto de estabilização da suspensão foi alcançado. Massa A 3,5 VISCOSIDADE (Pa.s) 3 2,5 2 60% de sólidos 1,5 1 65% de sólidos 0,5 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 CONCENTRAÇÃO DE SILICATO DE SÓDIO (%) Figura 4.10 – Viscosidade da Massa A em relação à concentração de silicato de sódio TENSÃO DE ESCOAMENTO (Pa) Massa A 30 25 20 60% de sólidos 15 65% de sólidos 10 5 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 CONCENTRAÇÃO DE SILICATO DE SÓDIO (%) Figura 4.11 – Tensão de escoamento da Massa A em relação à concentração de silicato 54 Capítulo 4 Resultados e Discussão Para a Massa B, Figura 4.12, o aumento de viscosidade inicial foi acompanhado de diminuição na decantação da suspensão, somente na concentração acima de 0,6%, quando a suspensão começou a se estabilizar, acompanhada da diminuição de tensão de escoamento, Figura 4.13. Diferente da Massa A, a Massa B não apresentou uma concentração mínima de viscosidade após 0,5 % nem a 60 % nem a 65 % de sólido. As concentrações de silicato de sódio mais indicadas para a Massa B são de 0,4 % para 60 % de sólidos e de 0,6 % para 65 %. Como é vantajoso do ponto de vista de processo utilizar a maior concentração possível de sólidos em suspensão, os experimentos seguintes tiveram as concentrações das Massas A e B fixadas em 65%, para estudo do comportamento da viscosidade com as adições de amido e NaOH. Foram consideradas suspensões estáveis os pontos que permaneceram mais próximos mesmo com a variação do tempo de repouso. Para a Massa A, a concentração de 1,0% de silicato apresentou maior estabilidade e menor viscosidade com a variação do tempo de repouso. Para a Massa B foi escolhida a concentração de 0,6% de silicato por apresentar maior estabilidade na viscosidade com o passar do tempo de repouso. Massa B 3,5 VISCOSIDADE (Pa.s) 3 2,5 60% de sólidos 2 1,5 65% de sólidos 1 0,5 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 CONCENTRAÇÃO DE SILICATO DE SÓDIO (%) Figura 4.12 – Viscosidade da massa B em relação à concentração de silicato 55 Capítulo 4 Resultados e Discussão TENSÃO DE ESCOAMENTO (Pa) Massa B 30 25 60% de sólidos 20 15 65% de sólidos 10 5 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 CONCENTRAÇÃO DE SILICATO DE SÓDIO (%) Figura 4.13 - Tensão de escoamento da argila B com variação de concentração de silicato 4.3 Influência dos Aditivos Amido e NaOH nas Propriedades das Suspensões Modificadas Nos gráficos de tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento cada composição apresenta uma curva superior de aceleração e uma curva inferior de desaceleração do teste, ou seja, a diminuição da taxa de cisalhamento, o que indica comportamento tixotrópico. No início dos trabalhos estava planejado adicionar até 2% em massa de aditivos em relação à massa seca, ou seja, um máximo de 1% de amido e 1% de NaOH. Entretanto, não foi possível adicionar concentrações acima de 0,85% de aditivos em relação à massa seca, pois a viscosidade da suspensão aumentava criticamente iniciando um processo de geleificação, o que impediu a medida com o equipamento usado em função da quantidade reduzida de água disponível. De modo a verificar o efeito da concentração de aditivo foi preparada uma suspensão somente com aditivos sem a massa cerâmica. Levando em consideração que quando a massa cerâmica está presente na suspensão ela absorve água, foram testadas as concentrações de 0,85; 1,0 e 1,5 % de ambos os aditivos em relação à massa de material cerâmico seco sem que este estivesse presente, ou seja, 1,5; 2 e 3 % em massa de água. Conforme pode ser observado na Figura 4.14, tanto a 56 Capítulo 4 Resultados e Discussão viscosidade quanto a tensão de escoamento aumentaram com a concentração de aditivos. Nota-se ainda um ligeiro aumento da tixotropia do sistema com o aumento da concentração de aditivos. TENSÃO DE CISALHAMENTO (Pa) 12 10 0,85 % de NaOH e Amido 1 % de NaOH e Amido 1,5 % de NaOH e Amido 8 6 4 2 0 0 20 40 60 TAXA DE CISALHAMENTO (s-1) 80 Figura 4.14 – Tensão versus taxa de cisalhamento de aditivos em água 4.3.1 Estabilidade das suspensões modificadas Os modelos matemáticos encontrados para descrever o comportamento do pH das Massa A e B foram considerados representativos dos pontos experimentais, pois os coeficientes de determinação (R2) foram iguais a 0,9287 e 0,9843, respectivamente. Isso significa que 92,87 e 98,43 % dos pontos estão bem representados pela superfície de resposta, podendo assim considerar o modelo como previsional. Nas superfícies de respostas o eixo x representa a concentração de amido e o eixo y a concentração de NaOH. Analisando a equação dos modelos também é possível verificar a importância relativa de cada parâmetro. As Figura 4.15 e Figura 4.16 apresentam as superfícies de resposta do pH das Massas A e B, respectivamente No gráfico tipo Pareto, os valores encontrados acima do valor de t de Student, representam os componentes que mais influenciam no comportamento da massa. Quanto maior este valor mais relevante ele é. Neste caso utilizou-se o nível de 57 Capítulo 4 Resultados e Discussão significância igual a 0,05 e o valor de t de Student foi 2,15. A Tabela 4.3 apresenta os fatores mais importantes para todos os modelos matemáticos estudados. Tabela 4.3 – Resultados dos Gráficos Paretos com os fatores mais relevantes Massa A Massa B Variável Dependente Viscosidade 10 min Viscosidade 2h Tensão de Escoamento 10 min Tensão de Escoamento 2h pH Fator Valor de student [NaOH]2 2,62 [NaOH]2 3,53 [NaOH] 2,35 [Amido] 2,14 [NaOH] Fator Valor de student Nenhum fator importante [NaOH]2 2,61 5,47 [NaOH] 13,41 [NaOH]2 4,61 [NaOH]2 7,29 NaOH 5,45 [NaOH] 12,38 [NaOH]2 4,39 [Amido] 2,24 [NaOH] 23,66 [NaOH]2 3,63 [NaOH]2 4,56 [NaOH] 10,61 [NaOH]2 2,45 [Amido]2 2,44 Na Massa A, além da quantidade de NaOH, o amido também influencia de forma significativa o valor final do pH, tal como indicado no resultado do Gráfico Pareto representado na Tabela 4.3 no qual os parâmetros relativos as concentrações de NaOH, tanto linear como quadrático e amido quadrático apresentam num teste de t de Student um valor observado maior do que o crítico. No Capítulo 4 Resultados e Discussão 58 caso da Massa B, no modelo matemático que representa o comportamento do pH por meio de uma superfície de resposta, apenas os parâmetros que representam as concentrações de NaOH linear e quadrático foram considerados estatisticamente importantes. É claro que nos dois casos a influência da concentração de NaOH linear é muito superior aos outros parâmetros. Figura 4.15 – Superfície de resposta do pH da Massa A O pH da Massa A sofre uma influência positiva da concentração de amido, ou seja, o seu valor aumenta com o aumento da quantidade de amido. No caso da Massa B, a uma concentração constante de NaOH, não há variação de pH com a concentração de amido. Tanto a Massa A quanto a Massa B chegam a um máximo de pH em torno de 12, valor este maior do que o encontrado nas suspensões defloculadas, que era em torno de 10, o que é coerente. Capítulo 4 Resultados e Discussão 59 Figura 4.16 – Superfície de resposta do pH da Massa B 4.3.2 Análise Reológica das Suspensões Ao contrário do comportamento do pH, os modelos matemáticos definidos para descrever o comportamento da viscosidade das Massas A e B não foram considerados representativos dos pontos experimentais. Isso se deve aos coeficientes de determinação (R2) serem menores que 0,5, podendo-se inferir que o modelo não é previsional e, portanto, não faz sentido mostrar a superfície de resposta, apenas os pontos experimentais. De modo a verificar as alterações de comportamento com o tempo serão mostrados os resultados após 10 e 120 minutos de repouso de cada Massa. Comparando-se o efeito do tempo, é possível observar que há uma ligeira diminuição da viscosidade com o tempo para a Massa A (Figura 4.17 e Figura 4.18), o mesmo não parece acontecer para a Massa B (Figura 4.19 e Figura 4.20) que apresenta valores de viscosidade inferiores as da Massa A, mas que não variam com o tempo. Foi possível detectar para a Massa A, tanto depois de 10 minutos quanto depois de 120 minutos, um aumento de viscosidade com as concentrações de 1 % de amido; 1 % amido / 0,5 % NaOH; 0,5 % amido / 1 % NaOH; 0,5% amido / 0,5% NaOH, e; 1 % de NaOH. 60 Capítulo 4 Resultados e Discussão Figura 4.17 – Resultados de Viscosidade da Massa A depois de 10 minutos de repouso Figura 4.18 – Resultados de Viscosidade da Massa A depois de 120 minutos de repouso 61 Capítulo 4 Resultados e Discussão Figura 4.19 – Resultados de Viscosidade da Massa B depois de 10 minutos de repouso Figura 4.20 – Resultados de Viscosidade da Massa B depois de 120 minutos de repouso Capítulo 4 Resultados e Discussão 62 Como o objetivo da adição de amido e NaOH não era aumentar a viscosidade da suspensão, os resultados considerados são muito bons. O intuito é que os aditivos se geleifiquem após redução da quantidade de água no sistema, ou seja, ao longo do processo de filtração já dentro do molde poroso. Mesmo que a superfície de resposta não seja previsível para o comportamento da viscosidade, ainda é possível fazer uso do gráfico de Pareto para comparar a importância dos parâmetros. No comportamento da Massa A com a variação de tempo, além da concentração de NaOH ao quadrado, também se tornaram importantes a concentração de NaOH linear e o amido linear. Para a Massa B após 10 minutos de repouso nenhum fator é importante, ou seja, a melhor equação é aquela na qual a viscosidade assume um valor constante. Depois de 2 horas de repouso, a concentração de NaOH ao quadrado se torna um fator importante para a viscosidade da Massa B. Os modelos matemáticos, encontrados para descrever o comportamento da tensão de escoamento das Massa A depois de repousos de 10 e 120 minutos, foram considerados representativos dos pontos experimentais, pois os coeficientes de determinação (R2) foram iguais a 0,7295 e 0,7481 (Figura 4.21 e Figura 4.22). Os coeficientes de determinação para a Massa B foram maiores: 0,9382 e 0,9257 (Figura 4.23 e Figura 4.24). Os formatos das superfícies de resposta são muito semelhantes. Todos apresentaram um aumento significativo da tensão de escoamento com o aumento da quantidade de NaOH e, apenas um ligeiro aumento com a concentração de amido, principalmente para concentrações de NaOH acima de 0,5 %. Os gráficos Paretos da Massa A correspondentes à tensão de escoamento após 10 e 120 minutos de repouso, os resultados na Tabela 4.3 indicam apenas as concentrações de NaOH linear e ao quadrado como relevantes, sendo a linear a mais importante. O mesmo é observado no resultado Pareto para a Massa B depois de 10 minutos de repouso. Somente depois de 2 horas de repouso é possível considerar a concentração de amido linear como importante para a determinação da tensão de escoamento. 63 Capítulo 4 Resultados e Discussão Figura 4.21 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa A depois de 10 min. de repouso Figura 4.22 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa A depois de 120 min. de repouso 64 Capítulo 4 Resultados e Discussão Figura 4.23 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa B depois de 10 min. de repouso Figura 4.24 – Superfície de resposta da tensão de escoamento da Massa B depois de 120 min. de repouso Capítulo 4 Resultados e Discussão 65 O aumento da tensão de escoamento em função do tempo de repouso indica que está ocorrendo a geleificação do sistema. No caso da Massa B este aumento não foi acompanhado de um aumento de viscosidade, significando que este gel é destruído logo que a tensão de escoamento é atingida, não alterando o escoamento relativo das partículas. No caso da Massa A apenas acima das concentrações de 0,75% de amido e 0,75% de NaOH é que foi observado aumento da viscosidade, o que pode indicar modificação na interação entre as partículas e/ou formação de géis irreversíveis, tal como a dextrina. Os gráficos apresentados na Figura 4.25 à Figura 4.30 apresentam os dados dos ensaios reológicos referentes às concentrações crescentes de aditivos sempre na proporção 1:1 de amido e NaOH depois de 10 e 120 minutos de repouso, para as Massa A e B. Foram escolhidas estas proporções de 1:1 por apresentarem comportamentos semelhantes entre si e serem previsionais. A partir destes gráficos pode-se verificar por meio do incremento de aditivos se houve aumento ou não do caráter tixotrópico das suspensões das massas, observando se houve aumento ou não da área entre as curvas de aceleração e desaceleração (ida e volta) do ensaio. Para a Massa A não houve um perceptível aumento da área entre as curvas, o que demonstra que a suspensão da Massa A não apresenta caráter tixotrópico, como se pode constatar pela comparação da Figura 4.25 e da Figura 4.26. O que se percebe analisando a Figura 4.27 e a Figura 4.38, é que a taxa de cisalhamento a partir da qual a viscosidade se torna constante fica mais perceptível com o tempo. Este comportamento da Massa A pode estar relacionado à maior quantidade de talco e ilita, o que seria responsável pela redução da viscosidade da suspensão. Para a Massa A, o comportamento newtoniano se apresenta a partir da taxa de cisalhamento de 35 s-1 para todas as concentrações de aditivos depois de 2 horas de repouso da suspensão. 66 Capítulo 4 Resultados e Discussão MASSA A DEPOIS DE 10 MINUTOS 14 TENSÃO DE CISALHAMENTO (Pa) 12 10 Sem Aditivo 8 0,25%/ 0,25% Aditivo 6 0,5%/0,5% Aditivo 4 0,75%/0,75% Aditivo 2 0 0 10 20 30 40 50 60 TAXA DE CISALHAMENTO 70 80 (s -1) Figura 4.25 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa A com variação de concentração de aditivos e 10 min de repouso MASSA A DEPOIS DE 2 HORAS 14 TENSÃO DE CISALHAMENTO (Pa) 12 10 8 Sem aditivos 0,25%/0,25% Aditivo 6 0,5%/0,5% Aditivo 4 0,75%/0,75% Aditivo 2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 TAXA DE CISALHAMENTO (s -1) Figura 4.26 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa A com variação de concentração de aditivos e 2 horas de repouso 67 Capítulo 4 Resultados e Discussão MASSA A DEPOIS DE 10 MINUTOS 0,3 VISCOSIDADE (Pa.s) 0,25 Sem Aditivo 0,2 0,25%/0,25% Aditivos 0,15 0,5%/0,5% Aditivos 0,1 0,75%/0,75% Aditivos 0,05 0 0 10 20 30 40 50 60 70 TAXA DE CISALHAMENTO (s-1) 80 Figura 4.27 – Viscosidade da Massa A com variação de concentração de aditivos e 10 min. de repouso MASSA A DEPOIS DE 2 HORAS 0,3 VISCOSIDADE (Pa.s) 0,25 Sem aditivos 0,2 0,25%/0,25% Aditivos 0,5%/0,5% Aditivos 0,15 0,1 0,75%/0,75% Aditivos 0,05 0 0 10 20 30 40 50 60 TAXA DE CISALHAMENTO 70 80 (s -1) Figura 4.28 – Viscosidade da Massa A com variação de concentração de aditivos e 2 horas de repouso 68 Capítulo 4 Resultados e Discussão Para a massa B o aumento da quantidade de aditivos aumenta significativamente o caráter tixotrópico da suspensão principalmente para a composição 0,75 %/ 0,75 % de aditivos. Ao se comparar a Figura 4.29 e a Figura 4.30 percebe-se um aumento da tixotropia com o tempo também para as concentrações menores de aditivo. Há um aumento da viscosidade inicial também com o tempo. A viscosidade da Massa B é praticamente o dobro da massa A. Para a massa B, quanto maior a concentração de aditivos, maior a tensão de cisalhamento necessária para se atingir o comportamento newtoniano. Na concentração de 0,75 % amido / 0,75 % NaOH foi necessário 70 s -1 para se atingir o platô, demonstrando claramente caráter pseudoplástico. Ou seja, para a massa B, a maior concentração de aditivos aumenta o estado gel da suspensão requerendo maior tensão de cisalhamento para quebrar a estrutura formada. Nesta concentração também não é possível determinar a taxa a partir da qual o comportamento reológico muda, pois há apenas uma suavização na taxa de decaimento de viscosidade com a taxa de cisalhamento. Mesmo assim o ponto de inflexão ocorre também em torno de 35 s-1. MASSA B DEPOIS DE 10 MINUTOS 14 TENSÃO DE CISALHAMENTO (Pa) 12 10 8 Sem Aditivos 0,25%/0,25% Aditivos 6 0,5%/0,5% Aditivos 0,75%/ 0,75% Aditivos 4 2 0 000 010 020 030 040 050 TAXA DE CISALHAMENTO 060 070 080 (s -1) Figura 4.29 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa B com variação de concentração de aditivos e 10 min de repouso 69 Capítulo 4 Resultados e Discussão MASSA B DEPOIS DE 2 HORAS TENSÃO DE CISALHAMENTO (Pa) 14 12 10 Sem Aditivos 8 0,25%/0,25% Aditivos 6 0,5%/0,5% Aditivos 0,75%/0,75% Aditivos 4 2 0 000 010 020 030 040 050 060 TAXA DE CISALHAMENTO (s -1) 070 080 Figura 4.30 – Tensão versus taxa de cisalhamento da Massa B com variação de concentração de aditivos e 2 horas de repouso MASSA B DEPOIS DE 10 MINUTOS 0,8 0,7 VISCOSIDADE (Pa.s) 0,6 0,5 Sem aditivos 0,4 0,25%/0,25% Aditivos 0,3 0,5%/0,5% Aditivos 0,2 0,75%/0,75% Aditivos 0,1 0 0 10 20 30 40 50 60 TAXA DE CISALHAMENTO (s -1) 70 80 Figura 4.31 – Viscosidade da Massa B com variação de concentração de aditivos e 10 min de repouso 70 Capítulo 4 Resultados e Discussão MASSA B DEPOIS DE 2 HORAS 0,8 VISCOSIDADE (Pa.s) 0,7 0,6 Sem Aditivos 0,5 0,4 0,25%/0,25% Aditivos 0,3 0,5%/0,5% Aditivos 0,2 0,75%/0,75% Aditivos 0,1 0 0 10 20 30 40 50 TAXA DE CISALHAMENTO 60 70 80 (s -1) Figura 4.32 – Viscosidade da Massa B com variação de aditivos e 2 horas de repouso Para a Massa B fica claro que a concentração a ser usada, dentre as testadas seria a de 0,50 % / 0,50 %, pois não haveria com ela um risco de geleificação da suspensão antes do seu uso. Já para a Massa A é possível usar a composição 0,75% / 0,75 %, pois o comportamento reológico não se altera de modo significativo. 4.4 Comportamento Térmico das Massas Modificadas Comparando a Massa A sem aditivo apenas defloculada com 1% de silicato de sódio e suas composições com amido/NaOH de aditivos, ocorreu o aparecimento de um pico endotérmico a 600 oC, seguido do pico exotérmico de queima de matéria orgânica, somente no composto contendo 75% de amido/0,75% de NaOH, Figura 4.33. Este pico também apareceu em todas as análises termodiferenciais dos compostos da Massa B que foram modificados com amido e NaOH, Figura 4.34. 71 Capítulo 4 Resultados e Discussão 20 15 sem aditivo 10 DT (o C) 5 0,25%/0,25% de aditivos 0 -5 0 200 400 600 800 1000 0,50%/0,50% de aditivos -10 -15 0,75%/0,75% de aditivos -20 -25 Temperatura (ºC) Figura 4.33 – Análise térmica diferencial da Massa A sem e com aditivos 20 15 sem aditivo 10 DT (o C) 5 0,25%/0,25% de aditivos 0 -5 0 200 400 600 800 1000 0,50%/0,50% de aditivos -10 -15 -20 0,75%/0,75% de aditivos -25 -30 Temperatura (ºC) Figura 4.34 – Análise térmica diferencial da Massa B sem e com aditivos 72 Capítulo 4 Resultados e Discussão Para a Massa A conforme Figura 4.35, não se verificou uma significativa alteração na retração final da peça: 22,3% sem aditivo; 21,92% para 0,25%/0,25% de aditivos; 21,97% para 0,50%/0,50% de aditivos, e; 21,51% para 75%/0,75% de aditivos. 10 (L-L0)/L0*100 (%) 5 sem aditivo 0 -5 0 200 400 600 800 1000 0,25%/0,25% de aditivo -10 0,50%/0,50% de aditivo -15 0,75%/0,75% de aditivo -20 -25 Temperatura (ºC) Figura 4.35 – Análise dilatométrica da Massa A sem e com aditivos Entretanto, para a Massa B (Figura 4.36), é possível observar que a retração das peças com aditivos foi ligeiramente menor, indicando que os aditivos colaboraram na formação da parede no momento da colagem e consequentemente na densificação da peça. As medidas finais de retração da peça foram para a Massa B foram: 23,22% sem aditivo; 22,54% para 0,25%/0,25% de aditivos; 21,76% para 0,50%/0,50% de aditivos, e; 22,19% para 75%/0,75% de aditivos. Esta menor retração pode estar relacionada à maior compactação das partículas e melhor formação da parede proporcionada pela formação do gel e expulsão da água. Para a Massa B, Figura 4.38, houve mudanças nos aspectos das curvas das análises termogravimétricas, principalmente, acima de 800 oC, provavelmente devido à oxidação do ferro com o incremento da presença do amido. Já para a Massa A as quantidades crescentes de aditivos não alteraram significativamente os resultados das análises termogravimétrica da Massa A, Figura 73 Capítulo 4 Resultados e Discussão 4.37, nem mesmo a partir de 800 oC, devido à presença de ilita e talco que podem ter sequestrado o ferro. 10 5 (L-L0)/L0*100 (%) sem aditivo 0 -5 0 200 400 600 800 1000 0,25%/0,25% de aditivo -10 0,50%/0,50% de aditivo -15 -20 0,75%/0,75% de aditivo -25 Temperatura (ºC) Figura 4.36 – Análise dilatométrica da Massa B sem e com aditivos 2 0 sem aditivo Dm (%) 0 200 400 600 800 1000 -2 0,25%/0,25% de aditivos -4 0,50%/0,50% de aditivos -6 0,75%/0,75% de aditivos -8 -10 Temperatura (ºC) Figura 4.37 – Análise termogravimétrica da Massa A sem e com aditivos 74 Capítulo 4 Resultados e Discussão 2 0 -2 0 200 400 600 1000 sem aditivo 0,25%/0,25% de aditivos -4 Dm (%) 800 -6 0,50%/0,50% de aditivos -8 0,75%/0,75% de aditivos -10 -12 -14 -16 Temperatura (ºC) Figura 4.38 – Análise termogravimétrica da Massa B sem e com aditivos Capítulo 5 Conclusão 75 5 CONCLUSÕES Considerando as comparações realizadas no benchmarking para identificar a melhor técnica que atenda as necessidades dos pequenos produtores, optou-se pela formulação de uma massa cerâmica a ser utilizada em um equipamento semiautomático para obtenção de peças coladas sob pressão. Este processo de fabricação foi escolhido por ser o de menor custo, acessível aos micro e pequenos empresários, aumentar a produtividade pela redução do tempo através da redução de etapas de processo (xícara com asa em único molde) e sem secagem do molde (em contraposição à colagem convencional com molde de gesso), aumentar a concentração de sólidos da barbotina garantindo maior estabilidade na secagem e na queima, possibilitar maior flexibilidade nas formas dos produtos, obter maior durabilidade do molde e evitar descarte dos moldes de gesso. As análises reológicas nas massas cerâmicas permitiram a determinação das concentrações ideais de silicato de sódio, sendo 1 % em peso para a Massa A e 0, 6 % para a Massa B. Assim como as concentrações ideais para os aditivos que foram de 0,75 % amido / 0,75 % NaOH para a massa A e de 0,50 % amido / 0,50 % NaOH para a massa B por apresentarem o melhor comportamento da viscosidade com o tempo de repouso. A adição de amido e hidróxido de sódio junto à massa cerâmica na formulação da barbotina alcançou o objetivo esperado, pois houve um grande aumento na tensão de cisalhamento e na viscosidade para as amostras contendo aditivos. Os resultados obtidos indicam a formação de gel com o repouso da suspensão. Para a Massa cerâmica B, as variações da viscosidade com os aditivos foram mais significativos do que em relação à Massa A. Isto pode estar relacionado à maior quantidade de talco e ilita na Massa A, que mantiveram o baixo escoamento desta massa, além de uma maior interação da Massa B com os aditivos de amido e de hidróxido de sódio, devido à fácil hidratação da dolomita. Devido à pequena quantidade de aditivos na composição das barbotinas, os resultados das análises termodiferenciais e termogravimétricas foram bastante semelhantes em relação às composições sem aditivos. Já na dilatometria foi Capítulo 5 Conclusão 76 verificada uma redução da retração para as composições com aditivos para ambas as Massas. 5.1 Sugestão para Trabalhos Futuros Seria interessante comprovar a melhora das propriedades mecânicas das peças à verde das suspensões com aditivos, pela realização de uma comparação entre peças obtidas por colagem tradicional e colagem sob pressão em molde de gesso e de resina porosa. Comparar a velocidade de formação da parede com relação ao processo tradicional sem aditivos. Verificar a porosidade das peças conformadas. 77 Referências REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. A. Estudo da obtenção da alumina porosa pelo método de conformação direta com amido. 2003. 91 f. Dissertação (Mestrado em Ciência no curso de Física) – Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São Paulo, 2003. ALVES, H. L. R, STAINER, D., BERGMANN, C. P., Método Alternativo para Fabricação de Cabeça Femoral Cerâmica para Próteses de Quadril. 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