UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM CLÍNICA MÉDICA E CIRURGICA DE
PEQUENOS ANIMAIS
USO DA TÉCNICA DE OMENTALIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE CISTO
PARAPROSTÁTICO EM CÃO (Canis familiaris) – RELATO DE CASO
Amanda Silva Pimentel
Rio de Janeiro, set. 2008
AMANDA SILVA PIMENTEL
Aluna do curso de Especialização “Lato Sensu” em
Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais
USO DA TÉCNICA DE OMENTALIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE CISTO
PARAPROSTÁTICO EM CÃO (Canis familiaris) – RELATO DE CASO
Trabalho monográfico do curso de pósgraduação “Lato Sensu” em Clínica
Médica
e
Cirúrgica
de
Pequenos
Animais apresentado à UCB como
requisito parcial para a obtenção de
título de Especialista em Clínica Médica
e Cirúrgica de Pequenos Animais, sob a
orientação do Prof. João Marcelo Silva
Silveira.
USO DA TÉCNICA DE OMENTALIZAÇÃO PROSTÁTICA NO TRATAMENTO
DE CISTO PARAPROSTÁTICO EM CÃO (Canis familiaris) – RELATO DE
CASO
Elaborado por Amanda Silva Pimentel
Aluna do curso de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais
Foi analisado e aprovado com
grau: ........................................
Rio de Janeiro, _____ de _______________ de ______.
____________________________________
Prof
_____________________________________
Prof
______________________________________
Prof Orientador João Marcelo S. Silveira
Presidente
Rio de Janeiro, set. 2008
Dedico este trabalho aos meus pais,
Edson e Nally Pimentel, que me deram
toda estrutura e o incentivo para seguir
nesta jornada. Também o dedico aos
animais, que são a razão de todo o
estudo e dedicação.
Agradecimentos
A Deus, o grande arquiteto do universo.
A minha família e meu noivo, pelo apoio e por
acreditarem em meu potencial.
Ao meu orientador e amigo, Prof. João Marcelo
Silveira, pelo apoio incondicional, por me guiar
sempre, e por ser meu maior incentivador.
Aos meus colegas de trabalho Prof. Allan
Kardec, Daniel Trindade e Simone Salles, pela
amizade, pelo carinho e principalmente por
contribuírem para o meu crescimento científico.
Ao Prof. Jorge Castro, pela amizade e dedicação
ao curso.
A Patrícia Silva pela amizade e companhia nas
viagens.
Rio de Janeiro, set. 2008
“Talvez, nunca paramos
para pensar que um animal
possa nos mostrar o
segredo da boa vida: nunca
se deter, nunca olhar para
trás, viver cada dia com
impulso, vivacidade,
curiosidade e disposição
adolescente. Eles nos
ensinam a viver cada dia
com alegria e exuberância
desenfreadas, aproveitar
cada momento e seguir o
que diz o coração. E
enquanto envelhecem e
adoecem nos ensinam a
manter o otimismo diante
da adversidade.
Principalmente, nos
ensinam sobre a amizade e
o altruísmo e, acima de
tudo sobre a lealdade
incondicional.”
John Grogan
PIMENTEL, Amanda Silva
Uso da técnica de omentalização no tratamento de cisto paraprostático em cão
(Canis familiaris) – Relato de caso.
O presente trabalho teve como objetivo descrever um caso de um cão da raça
S.R.D, de oito anos de idade com cisto paraprostático na cidade de Barra Mansa,
RJ. Cistos paraprostáticos no cão ocorrem freqüentemente em animais de raças
grandes, idosos e intactos. Eles são preenchidos por líquido amarelo claro a
laranja, podendo haver a infecção e abscedação dos mesmos. Esta afecção é
relativamente rara quando comparada a outras doenças prostáticas desta
espécie. O animal avaliado apresentava caquexia, tenesmo e hematúria. Através
do exame radiográfico e ultra-sonográfico constatou-se a presença do cisto
adjacente a próstata. Foi realizada a drenagem, ressecção parcial da cápsula
cística e posterior omentalização prostática. A baixa incidência de complicações e
o curto período de recuperação fazem da omentalização a técnica de escolha
para o tratamento de cistos prostáticos em cães. Este cão apresentou boa
recuperação, os resultados de seus exames retornaram a normalidade. Aos 60
dias de pós-operatório o animal do presente relato não apresentou recidiva do
quadro.
Palavras-chave: próstata, cão, omentalização, cisto.
PIMENTEL, Amanda Silva
Use of the omentalisation technique in the treatment of paraprostatic cyst in
dog (Canis familiaris) – Case report.
This study aimed to describe a case of a crossbred dog, eight years of age with
paraprostatic cyst in the city of Barra Mansa, Brazil. Paraprostatic cysts frequently
occur in large dog breeds, elderly and intact animals. They are filled with a liquid
light yellow to orange, and there may be with infection and abscesses. This disease
is relatively rare when compared to other prostate diseases of this species. The
animal had cachexia, tenesmus and hematuria. Through the radiographic
examination and ultrasound was noticed the presence of an adjacent cyst to
prostate. It was held on drainage, partial resection of the cyst capsule and after a
prostatic omentalisation. The low incidence of complications and brief hospitalization
period make the omentalisation the surgery of choice for the treatment of prostatic
cysts in dogs. This dog showed good recovery and the results of the hematological
e urinalysis test returned to normal. At 60 days post operative the animal of this
report did not present recurrence of the disease.
Key words: prostate, dog, omentalisation, cyst.
SUMÁRIO
Página
Epígrafe...............................................................................................................
v
Resumo...............................................................................................................
vi
Abstrac................................................................................................................... vii
Lista de figuras....................................................................................................... x
Lista de tabelas...................................................................................................
xi
1. Introdução.......................................................................................................
1
2. Revisão bibliográfica.......................................................................................
4
2.1. Embriologia e Histologia
2.2 Anatomia
2.3 Etiopatogenia
2.4 Distúrbios Clínicos
2.5 Diagnóstico
2.5.1 Exames Complementares
2.6 Tratamento Clínico e Cirúrgico
2.6.1 Técnica Cirúrgica
2.6.1.1 Omentalização prostática
2.7 Pós-operatório
2.8 Prognóstico
3. Matrial e Método..........................................................................................
30
4. Resultados....................................................................................................... 46
5. Discussão.....................................................................................................
51
6. Conclusão......................................................................................................
55
Referências bibliográficas..................................................................................
57
PIMENTEL, Amanda Silva
Uso da técnica de omentalização no tratamento de cisto paraprostático em cão
(Canis familiaris) – Relato de caso.
O presente trabalho teve como objetivo descrever um caso de um cão da raça
S.R.D, de oito anos de idade com cisto paraprostático na cidade de Barra Mansa,
RJ. Cistos paraprostáticos no cão ocorrem freqüentemente em animais de raças
grandes, idosos e intactos. Eles são preenchidos por líquido amarelo claro a
laranja, podendo haver a infecção e abscedação dos mesmos. Esta afecção é
relativamente rara quando comparada a outras doenças prostáticas desta
espécie. O animal avaliado apresentava caquexia, tenesmo e hematúria. Através
do exame radiográfico e ultra-sonográfico constatou-se a presença do cisto
adjacente a próstata. Foi realizada a drenagem, ressecção parcial da cápsula
cística e posterior omentalização prostática. A baixa incidência de complicações e
o curto período de recuperação fazem da omentalização a técnica de escolha
para o tratamento de cistos prostáticos em cães. Este cão apresentou boa
recuperação, os resultados de seus exames retornaram a normalidade. Aos 60
dias de pós-operatório o animal do presente relato não apresentou recidiva do
quadro.
Palavras-chave: próstata, cão, omentalização, cisto.
PIMENTEL, Amanda Silva
Use of the omentalisation technique in the treatment of paraprostatic cyst in
dog (Canis familiaris) – Case report.
This study aimed to describe a case of a crossbred dog, eight years of age with
paraprostatic cyst in the city of Barra Mansa, Brazil. Paraprostatic cysts frequently
occur in large dog breeds, elderly and intact animals. They are filled with a liquid
light yellow to orange, and there may be with infection and abscesses. This disease
is relatively rare when compared to other prostate diseases of this species. The
animal had cachexia, tenesmus and hematuria. Through the radiographic
examination and ultrasound was noticed the presence of an adjacent cyst to
prostate. It was held on drainage, partial resection of the cyst capsule and after a
prostatic omentalisation. The low incidence of complications and brief hospitalization
period make the omentalisation the surgery of choice for the treatment of prostatic
cysts in dogs. This dog showed good recovery and the results of the hematological
e urinalysis test returned to normal. At 60 days post operative the animal of this
report did not present recurrence of the disease.
Key words: prostate, dog, omentalisation, cyst.
SUMÁRIO
Página
Epígrafe...............................................................................................................
v
Resumo................................................................................................................
vi
Abstrac................................................................................................................... vii
Lista de figuras....................................................................................................... x
Lista de tabelas....................................................................................................
xi
1. Introdução........................................................................................................
1
2. Revisão bibliográfica........................................................................................
4
2.1. Embriologia e Histologia
2.2 Anatomia
2.3 Etiopatogenia
2.4 Distúrbios Clínicos
2.5 Diagnóstico
2.5.1 Exames Complementares
2.6 Tratamento Clínico e Cirúrgico
2.6.1 Técnica Cirúrgica
2.6.1.1 Omentalização prostática
2.7 Pós-operatório
2.8 Prognóstico
3. Material e Método..........................................................................................
30
4. Resultados.......................................................................................................
46
5. Discussão.....................................................................................................
6. Conclusão......................................................................................................
55
Referências bibliográficas..................................................................................
57
51
1. INTRODUÇÃO
A próstata é uma glândula acessória do
sistema
reprodutor do macho, andrógeno dependente, oval, bilobulada, composta por
tecido glandular e estromal,que circunda a uretra caudal no colo da vesícula
urinária (EVANS e DELAHUNTA, 2001).
Embora
seja
encontrada
em
todos
os
mamíferos, sua importância clínica é maior no homem e no cão, devido à
quantidade de afecções que os acometem (APPARÍCIO et al, 2006). De acordo
com Paulo et al (2005), Apparício et al (2006) e Krawiec (1994) as doenças
prostáticas são comuns em cães idosos. E podem se manifestar no que se
denomina síndrome prostática, com sinais clínicos relacionados ao sistema
urinário, digestório e locomotor, podendo estar presentes simultaneamente ou
não (APPARÍCIO et al, 2006).
As doenças da próstata são comuns em cães
e raras em gatos. (NYLAND e MATTOON 2002; NELSON e COUTO, 2001;
KAY, 2003). Entre elas estão hiperplasia prostática benigna, metaplasia
escamosa, prostatite bacteriana, cistos prostáticos e paraprostáticos e neoplasia
prostática (NELSON e COUTO, 2001; RUEL et al, 1998). Algumas podem
ocorrer simultaneamente, por exemplo, cisto prostático com abscedação e
neoplasia prostática com prostatite bacteriana (KAY, 2003).
Sua função é produzir o fluido para a
primeira e terceira frações do ejaculado (ENGLAND et al., 1990). Segundo
Barsanti e Finco (1992) é de produzir um fluido que forneça o ambiente propício
para a sobrevivência e motilidade dos espermatozóides durante a ejaculação,
mediante
estímulo
simpático
(nervo
pélvico)
e
parassimpático
(nervo
hipogástrico).
Sua localização pode variar em função da
distensão da bexiga e de possíveis alterações neste órgão. Em animais idosos a
próstata pode encontrar-se na cavidade abdominal, devendo-se tomar o devido
cuidado para que não haja confusão com a bexiga no exame radiográfico, sendo
indicado o exame complementar contrastado (LOWSET, GERLACH, GILLETT,
MUGGENBURG,1990).
Cistos
de
retenção
(verdadeiros)
são
estruturas de parede delgada no interior do parênquima prostático, que contém
liquido não purulento (KUSTRITZ e KLAUSNER, 2004). Os cistos prostáticos
são cavidades não-sépticas preenchidas com fluido, no interior ou exterior à
próstata (HEDLUND, 2002).
Os cistos prostáticos podem ser caracterizados
como de retenção ou paraprostáticos. Os de retenção ocupam o parênquima e
são causados pelo acúmulo de secreção prostática dentro do órgão como
resultado de obstruções dos ductos (APPARICIO et al., 2006).
Os
cistos
paraprostáticos
são
raros
em
comparação com outros tipos de prostatopatias, eles são adjacentes e ligados à
próstata, mas raramente se comunicam com o parênquima (HEDLUND, 2002). E
Mattoon e Nyland (2002) dizem que não são comuns.
Em razão da pouca descrição e ocorrência do
cisto paraprostático em cão, na medicina veterinária, este trabalho tem como
objetivo relatar um caso de cisto paraprostático, na cidade de Barra Mansa-RJ,
tratado com exérese parcial do cisto seguida de omentalização prostática,
abordando os aspectos clínicos pré e pós cirúrgico, e comparando com a
literatura.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 EMBRIOLOGIA e HISTOLOGIA
Os cistos paraprostáticos podem se originar do
útero masculino, uma estrutura embrionária derivada do sistema ductal de Muller
e fixada na linha média prostática dorsal. Esses cistos são freqüentemente
grandes, estendendo-se para o interior da fossa perineal ou do abdômen. Eles
podem deslocar-se comprometendo as vísceras adjacentes e sua função. Os
cistos paraprostáticos são preenchidos geralmente com fluido amarelo pálido a
laranja; uma hemorragia fará com que ele fique vermelho-amarronzado.
Histologicamente, a parede de um cisto paraprostático lembra a parede de um
cisto parenquimatoso (epitélio comprimido e colágeno denso). Algumas paredes
ficam calcificadas. Os cistos paraprostáticos podem ficar infectados e abscedar
(HEDLUND, 2002).
A próstata apresenta componentes epiteliais e
estromais (músculo liso, fibroblastos e colágeno). Há predominância das células
epiteliais, e o estroma ocupa 10% do órgão. A arquitetura da próstata caracterizase por túbulo-alvéolos compostos que drenam em direção á uretra. Os septos
irregulares de músculo liso, que se estendem desde a cápsula prostática até o
tecido conjuntivo periuretral, dividem o órgão em lóbulos bem definidos
(SLATTER, 2007).
Embora grande parte (90 a 95%) das células
epiteliais produza secreções, o material secretório fica geralmente armazenado
no interior do citoplasma celular, e não nos alvéolos (SLATTER, 2007).
Quanto ao desenvolvimento prostático, ele
ocorre em três estágios na vida de um cão. Primeiramente na embriogênese,
quando ainda estão se formando os tecidos e os órgãos, depois progride para o
período pós-natal e finalmente atinge um platô por volta de três a quatro anos de
idade, quando a partir daí, temos o que chamamos de crescimento hiperplásico
ou hipertrófico. Pode-se dizer então que a hiperplasia e a hipertrofia ocorrem
antes do animal se tornar idoso e histologicamente evidencia-se a partir de dois
anos de idade, apesar dos sinais clínicos só aparecerem em torno de oito anos,
em alguns casos com seis. Vale ressaltar que independente do posicionamento
pélvico ou abdominal da próstata, poderá ocorrer compressão do reto e sinais
clínicos característicos da hiperplasia prostática (LOWSETH; GERLACH;
GILLETT; MUGGENBURG, 1990).
2.2 ANATOMIA
A próstata é a única glândula sexual acessória
do cão, é um órgão bilobulado com septo mediano na superfície dorsal e esta
localizada caudalmente à bexiga junto a seu colo (BARSANTI e FINCO, 1992).
É um órgão de posição retroperineal que
circunda a uretra na região do colo da vesícula urinária. Dorsalmente à glândula
localiza-se o reto e, ventralmente, a sínfise púbica ou a parede abdominal
ventral (GUIDO, 2004; KUSTRITZ; KLAUSNER, 2004).
A glândula situa-se no interior do abdome
após o nascimento, até que ocorra a degeneração do úraco remanescente em
torno de dois meses de vida (SLATTER, 2007), então passa a ter uma
localização pélvica até aumentar de volume com o avançar da idade ou doença,
momento no qual a próstata pode tracionar a bexiga no sentido cranial e ser
palpável no abdome (KUSTRITZ; KLAUSNER, 2004).
A
próstata
de
animais
pré-púberes
corresponde a um pequeno aumento de volume nodular situado ao redor da
porção proximal da uretra. No momento da puberdade, a glândula já cresceu até
suas proporções maduras normais (SLATTER, 2007).
Fonte: Tratado de Anatomia Veterinária
Figura 1 - Vista dorsal da próstata do cão (número 6), caudalmente a bexiga
(número 2).
Fonte: Tratado de Anatomia Veterinária
Figura 2 - Vista transversal do trato genitourinário do cão
(próstata indicada com seta, número 9)
2.3 ETIOPATOGENIA
O mecanismo fisiopatológico dos cistos
prostáticos não esta esclarecido. A oclusão ductal decorrente de metaplasia
escamosa pode resultar em estase secretória progressiva. A hipersecreção
produzida pelo tecido glandular diante da obstrução funcional dos ductos provoca
retenção líquida com conseqüente formação dos cistos. Os cistos podem ocorrer
com múltiplas áreas cavitárias no interior da glândula ou como estruturas repletas
de líquido, que se estendem até a cavidade abdominal ou até o canal pélvico
(SLATTER, 2007).
Doenças prostáticas são problemas comuns
em cães adultos e idosos. As mais freqüentes são as prostatites bacterianas,
cistos prostáticos, hiperplasias prostáticas benignas, carcinomas e abscessos
(KRAWIEC,1994). Cães sexualmente intactos têm maior probabilidade de
desenvolvê-las que os castrados, entretanto as neoplasias ocorrem nos dois
grupos com incidência semelhante, indicando que a castração não confere
proteção em relação às neoplasias (KRAWIEC e HEFLIN, 1992).
No caso dos cistos, os sertoliomas ou
estrógenos exógenos podem causar metaplasia escamosa, que ocluem ductos
resultando em estase secretória com dilatação acinar progressiva. Os cistos
coalescem à medida que aumentam de tamanho e são circundados por colágeno
denso que pode ossificar. Os cistos pequenos tornam-se frequentemente
confluentes, formando cavidades maiores (HEDLUND, 2002).
De acordo com Canola et al (1997) várias
teorias têm sido propostas para explicar sua etiologia, como alargamento do
ducto de Muller (útero masculino), retenção anormal de secreção prostática com
obstrução de ducto e eventual formação cística, ou como seqüela de hematoma
prostático.
Os cistos prostáticos podem ser únicos ou
múltiplos e são classificados de acordo com sua etiologia. Os de ocorrência mais
comum, segundo Olson et al. (1987); Krawiec (1994); Dorfman e Barsanti (1995)
são:
a) Congênitos:
geralmente localizados
na
base da bexiga com comprometimento da
superfície prostática; são pouco freqüentes
e acredita-se serem vestígios embrionários
dos ductos mullerianos;
b) Cistos associados à metaplasia escamosa:
o lúmen glandular apresenta-se repleto de
queratina, levando a obstrução. Usualmente
estão relacionados ao hiperestrogenismo;
c) Cistos de retenção: formam-se a partir da
obstrução
dos
ductos
excretores
com
posterior retenção do material secretado
pelas células epiteliais;
d) Cistos associados à hiperplasia prostática
benigna: são indubitavelmente os mais
freqüentes, relacionados à hiperplasia a ao
aumento na secreção das células acinares.
Segundo Hedlund (2002) cistos prostáticos
parenquimatosos ocorrem dentro do parênquima prostático ou possuem uma
comunicação física com o mesmo. São comuns nos cães e podem se associar
a hiperplasia prostática benigna. Desconhece-se sua etiologia, mas alguns
deles são congênitos.
Rawlings et al (1997) observaram que
quarenta e dois por cento dos animais com cistos prostáticos tiveram cultura
positiva, e resultados dos estudos realizados indicaram a prevalência de cistos
prostáticos em adultos intactos foi de aproximadamente 14% e destes, 42%
estavam infectados por bactérias.
Os cistos paraprostático são raros em
comparação com outros tipos de prostatopatias. Os cistos paraprostático são
adjacentes e ligados a próstata, mas raramente se comunicam com o
parênquima (HEDLUND, 2002).
2.4 DISTÚRBIOS CLÍNICOS
De acordo com Hedlund (2002), os cães são
freqüentemente assintomáticos até que os cistos desenvolvam-se o suficiente
para causar obstrução retal, da bexiga e de uretra.
As afecções da próstata dos animais da
espécie canina podem gerar sinais clínicos que vão desde a perda de peso e
letargia até o choque séptico acompanhado de colapso cardiovascular. Os
caninos
que
exibem
tenesmo,
corrimento
peniano,
hematúria,
piúria,
estrangúria, incontinência urinária, incapacidade de micção, dor abdominal
caudal, abdome agudo ou dificuldade ambulátoria decorrente do desconforto na
cavidade pélvica devem ser avaliados quanto à presença de prostatopatia
(SLATTER, 2007).
O aumento prostático comprime o reto e uretra
causando tenesmo, constipação, disúria e anúria. As complicações mais
relatadas em cães são a infecção bacteriana secundária da glândula e a hérnia
perineal (JONES; HUNT, 1996; HEAD; FRANCIS, 2002). O volume prostático
em cães afetados pode ser duas a seis vezes maior do que no cão normal
(LAROQUE et al., 1994).
Os pacientes com cistos prostáticos ou
paraprostáticos podem exibir sinais clínicos vagos relacionados à volumosa
massa presente na porção caudal do abdome. Inapetência, disúria, constipação
e tenesmo são comuns (SLATTER, 2007; SOUZA et al, 2001) . A ocorrência de
incontinência, disúria ou retenção pode ser mais habitual nos casos de cistos
que em outras prostatopatias. A dor pélvica pode resultar em dificuldades de
ambulação (SLATTER, 2007).
De acordo com
Di Santis,
Amorim
e
Bandarra (2001) os animais com cisto prostático apresentam disúria e tenesmo
e não apresentam febre, dor ou depressão.
Os cistos paraprostático são assimétricos e
flutuantes e, algumas vezes, causam distensão abdominal. O achado físico
mais comum é uma massa abdominal palpável. Os cistos prostáticos estéreis
são indolores. Devem-se palpar o escroto e os testículos quanto a evidências de
massas intercorrentes, aumento de tamanho ou de suscetibilidade, que
sugerem sertoliomas (HEDLUND, 2002).
É
típico
dos
cistos
produzirem
sinais
atribuíveis à compressão de estruturas intestinais ou urinárias adjacentes. Um
significativo componente inflamatório pode estar associado aos cistos
prostáticos, que se manifestam por aderências localizadas, dor e alterações
hematológicas. Os cistos prostáticos podem vir a sofrer infecção secundária,
provocando sinais de abscedação prostática (SLATTER, 2007).
Cistos solitários originários do lobo direito
podem obstruir os ureteres e causar hidronefrose (NYLAND; MATTOON, 2002)
2.5 DIAGNÓSTICO
De
acordo
com
Robertson
(2005)
o
tratamento apropriado de uma prostatopatia depende do diagnóstico preciso.
Devem-se diferenciar a metaplasia, a hiperplasia, os cistos, os abcessos e a
neoplasia antes de se iniciar o tratamento. Uma avaliação completa de uma
prostatopatia suspeita inclui: história, exame físico geral, exame retal, contagem
sanguínea completa, uréia sanguínea, urinálise, radiografias com estudo de
contraste, citologia e/ou histopatologia, ultrassonografia para diagnosticar
cavidades preenchidas por fluidos no interior da glândula. A prostatite aguda, os
grandes abcessos e os cistos podem ser geralmente sem técnicas invasivas.
É imprescindível a obtenção da anamnese
completa. As questões referentes aos sistemas reprodutivo, urinário e
gastrintestinal devem ser enfatizadas (SLATTER, 2007).
O diagnóstico das afecções prostáticas é
baseado na presença de sinais clínicos, detecção de alterações anatômicas
durante a palpação, radiografia e ultra-sonografia (VERTEGEN, 1998;
PACLIKOVA et al.,2006) .
Com freqüência, há relatos de corrimento
peniano ou hematúria. Se a próstata estiver muito aumentada de volume, serão
observados os sinais de retenção urinária e constipação. Os cães acometidos
por infecções prostáticas bacterianas encontram-se freqüentemente enfermos,
com febre, letargia, anorexia, desidratação, vômito ou perda de peso. A
presença de dor abdominal caudal, lombar ou pélvica sugere prostatite,
peritonite ou neoplasia. O sinal de caquexia pode acompanhar os casos de
neoplasia ou de infecção crônica (SLATTER, 2007).
O exame físico envolve a palpação abdominal
e retal cuidadosa. No exame digital da próstata, devem ser avaliados itens como
topografia, sensibilidade, contorno, textura, mobilidade, simetria dimensão da
próstata (figura 3). Em alguns cães é possível a palpação de linfonodos ilíacos
infartados. Ambos os testículos são palpados em busca de tumores. Se houver
a suspeita de retenção ou obstrução urinária, a cateterização da uretra permitirá
a determinação do grau de patência do lúmen uretral e a mensuração do
volume urinário residual (SLATTER, 2007).
Figura 3 - Visualização de palpação retal.
A base mínima de dados deve incluir a
obtenção de hemograma completo, perfil bioquímico, título para Brucella canis,
urinálise e radiografias abdominais caudais. Na maioria dos casos, são
efetuados exames de ultra-sonografia e citologia/cultura do aspirado ou do
líquido prostático (SLATTER, 2007).
2.5.1 EXAMES COMPLEMENTARES
A próstata pode ser visualizada em radiografia
simples do abdome na projeção lateral. A uretrografia é algumas vezes
significativa na avaliação da uretra prostática (KEALY e McALLISTER, 2005).
De acordo com informações de Kustritz e Klausner (2004), radiografias simples
abdominais são úteis para determinação de tamanho, formato e posição da
próstata. A glândula deve ser simétrica, ter a superfície lisa e situada
cranialmente à pelve e caudal à bexiga. O tamanho normal da próstata varia em
diferentes raças e portes de cães. A prostatomegalia é um sinal freqüente de
doença prostática. A uretrocistografia retrógrada com contraste positivo é
auxiliar na avaliação da uretra prostática.
Desde que a próstata tenha uma localização
intra-abdominal, ela pode ser investigada em recumbência lateral ou
ventrodorsal, ou, ainda, numa posição com o animal em pé quando se tratar de
cães de grande porte (KEALY e McALLISTER, 2005).
A
radiografia
e
ultrassonografia
são
essenciais no diagnóstico de muitos distúrbios do trato urinário. As indicações
para estudos de imagem são: disúria, infecção persistente do trato urinário, dor
abdominal, incontinência e hematúria (SLATTER, 2007).
A radiografia e a ultra-sonografia são
utilizadas para a caracterização das anormalidades estruturais da glândula
prostática de animais da espécie canina. A integridade da uretra e da bexiga é
avaliada mais adequadamente por uretrocistografia retrógrada com contraste
positivo. (SLATTER, 2007).
A
posição
da
próstata
depende
da
distensão da bexiga, da idade e conformação do cão, bem como do aumento de
volume prostático patológico. A próstata imatura ou involuída no cão castrado
pode apresentar-se demasiadamente pequena para ser evidenciada nas
radiografias, especialmente se estiver situada no interior do canal pélvico; ou
então, a glândula de pequenas dimensões pode ser vista como um
espessamento brando da área correspondente à uretra prostática no cão, que
apresenta esse segmento da uretra situado no interior da cavidade abdominal e
circundado por tecido adiposo contrastante (SLATTER, 2007)
A próstata madura normal aparece como
uma opacidade ovóide homogênea de tecido mole, localizada caudalmente à
bexiga e principalmente no interior do canal pélvico. Com freqüência, a margem
cranial fica evidenciada na radiografia obtida em decúbito lateral, em um ponto
cranial à borda pélvica, especialmente no caso de aumento de volume
prostático (SLATTER, 2007).
Diante da ocorrência de distensão da
bexiga, da obesidade dos pacientes, ou em casos de prostatomegalia, toda a
próstata poderá ser identificada no interior da cavidade abdominal. A glândula
prostática normal ocupa menos de 50 % da mensuração dorsoventral do canal
pélvico, conforme mensurado desde o osso sacro até o promontório do púbis,
na radiografia lateral. O animal é posicionado de modo que os membros
pélvicos fiquem estendidos caudalmente, para evitar a sobreposição de outros
tecidos sobre a glândula prostática (SLATTER, 2007).
Segundo Slatter (2007), em alguns casos, há
necessidade de administração do material de contraste na uretra (uretrograma
retrógrado) para a identificação da bexiga, o delineamento da topografia e da
marginação da uretra prostática e a avaliação da dimensão, do formato e do
número de conexões existentes entre a uretra e o parênquima prostático. E de
acordo com Hedlund (2002), os cistos próstaticos e paraprostático podem ser
difíceis de diferenciar a partir da bexiga sem cistouretrograma.
A aparência radiográfica e ultra-sonográfica de
cistos paraprostáticos em cães devem ser discutidas. Ao exame radiográfico, a
próstata aparecerá com volume aumentado. A radiografia contrastada pode ser
necessária para diferenciar o cisto paraprostático de prostatomegalia de fato. A
mineralização pode estar presente na parede dos cistos paraprostáticos
(KUSTRITZ; KLAUSNER, 2004). Uma opacidade de tecido mole pode ser
localizada adjacentemente ou formando uma silhueta com a bexiga. A
cistografia de contraste vai definir a bexiga como um órgão distinto (KEALY;
McALLISTER, 2005).
Hedlund (2002) relata que podem-se detectar
em radiografias simples calcificações prostáticas ou da parede cística.
A utilidade clínica e a segurança da ultrasonografia tornam esse exame parte integrante da avaliação e do tratamento da
prostatopatia (PACLIKOVA et al. 2006). A glândula prostática será avaliada em
busca de alterações em itens como: tamanho, formato, marginação, simetria,
ecogenicidade e áreas cavitárias internas (SLATTER, 2007). O sonograma
prostático normal apresenta ecogenicidade de fundo homogêneo e uniforme
geralmente hipoecogênica com relação aos tecidos adjacentes (KUSTRITZ e
KLAUSNER, 2004).
O parênquima deverá ser descrito como
normal, ou com comprometimento focal ou difuso (SLATTER, 2007).
A região hilar é hiperecogênica com relação
ao parênquima (GUIDO, 2004). A uretra pode ser delineada em toda a próstata.
A glândula normal aparece simétrica e com margens lisas. Os achados
anormais incluem presença de cavitações, alterações focais, multifocais ou
difusas da ecotextura; modificação do tamanho prostático e borda irregular
(KUSTRITZ e KLAUSNER, 2004), podendo representar tanto ductos com
acúmulo de líquido prostático como cistos com grandes quantidades de fluido
(GUIDO, 2004). A formação de imagem da próstata é facilitada pela presença
de urina na bexiga (KEALY e McALLISTER, 2005).
De
acordo
com
Slatter
(2007)
a
ultrassonografia pode diferenciar a prostatomegalia atribuível a cistos,
abcessos, hiperplasia cística, neoplasia, bem como a cistos e abcesos
paraprostáticos.
Frequentemente
há
sobreposição
dos
aspectos
ultrassonográficos desses processos patológicos (SLATTER, 2007).
A próstata completamente desenvolvida em
um cão intacto apresenta padrão ecóico homogêneo uniforme em ambos os
lobos. A ecogenicidade prostática é ligeiramente hiperecóica com relação ao
parênquima esplênico (SLATTER, 2007).
Os cistos periprostáticos estão presentes
como estruturas císticas, que se estendem comumente a partir da glândula
prostática. Esses cistos podem ter grandes dimensões, deslocar a bexiga e
conter minerais no interior de suas paredes. O conteúdo líquido apresenta-se
muitas vezes com ecogenicidade branda. As áreas císticas frequentemente se
estendem em sentido cranial, mas podem acompanhar o trajeto da uretra em
direção região perineal. Pode estar presente o envolvimento intraprostático
cavitário concomitante. O cisto parenquimatoso pode comunicar-se com a uretra
(SLATTER, 2007).
A
ultra-sonografia
revela
conteúdo
anecóico com estrutura fluida (KEALY e McALLISTER, 2005; NYLAND e
MATTOON, 2002). Os cistos podem ser pequenos, lisos ou irregulares, de
tamanhos variados, mas geralmente são grandes podendo haver sedimentos
(NYLAND e MATTOON, 2002). A imagem ultrasonográfica de cisto prostático
revela área focal ou multifocal, hipo ou anecogênica, maior que 1,5 a 2 cm
(GUIDO, 2004), circundado por parede hiperecóica com artefato distal podendo
variar de tamanho e em número (NYLAND e MATTOON, 2002).
A ultrassonografia ajuda a detectar e
definir alterações cavitárias. Os cistos paraprostático são geralmente estruturas
anecóicas grandes dentro do parênquima prostático. Podem-se obter aspirados
orientados por ultrassonografia; no entanto, tenha cuidado para evitar peritonite
iatrogênica se for provável uma infecção (HEDLUND, 2002).
De
acordo
com
Johnson
(2003),
o
aspirado prostático orientado por ultra-som tem vantagens por ser seguro em
afecções não infecciosas, e localiza precisamente a fonte de infecção quando
se trata de processos infecciosos. Suas desvantagens estão relacionadas com
peritonite causada por aspiração de abscesso e semeadura de células
neoplásicas.
Em um estudo, Boland et al. (2003)
realizaram drenagem guiada por ultra-som de cistos e abscessos prostáticos em
cães. Em oito dos trinta animais avaliados foi diagnosticado abscessos
prostáticos e em cinco foram diagnosticados cistos prostáticos. O diagnóstico foi
baseado
em
citopatologia
e
cultura
bacteriana.
Foi
estabelecida
antibioticoterapia por quatro semanas e os animais foram castrados após o
procedimento
de
drenagem.
Os
pacientes
foram
reexaminados
ultrassonograficamente e cistos residuais foram novamente drenados. Não
foram observadas complicações clínicas após o procedimento e os sinais
clínicos se resolveram em todos os animais. O aspirado prostático guiado por
ultra-som demonstrou ser uma alternativa para o tratamento cirúrgico.
Anormalidades laboratoriais específicas são
raras. A aspiração de um fluido amarelo a serossanguinolento estéril junto com
uma inflamação mínima sugere um cisto paraprostático. A avaliação citológica
revela células epiteliais prostáticas e alguns leucócitos (HEDLUND, 2002).
Hedlund (2002) afirma que se deve fazer o
diagnóstico diferencial de abscessos prostáticos, metaplasia escamosa,
neoplasia e hiperplasia prostática.
2.6
TRATAMENTO
CLÍNICO
E
CIRÚRGICO
Segundo Slatter (2007) e Hedlund (2002) a
terapia clínica fica restrita aos cuidados dispensados com a constipação e
complicações do trato urinário, como a retenção urinária. A terapia à base de
estrogênio é contra-indicada.
Os cistos prostáticos e os paraprostáticos são
tratados melhor pela remoção cirúrgica. A drenagem cirúrgica pode ser tentada,
mas a infecção é uma complicação comum (KRAWIEC e HELFIN, 1992). A
castração pode ajudar na diminuição dos cistos de retenção, porém o efeito da
castração em cistos paraprostáticos ainda é desconhecida (KUSTRITZ , 1999).
O objetivo da terapia cirúrgica consiste na
remoção, desbridamento e omentalização, ou na drenagem do cisto (SLATTER,
2007).
Os cães com cistos grandes devem ser
castrados e seus cistos devem ser drenados, resseccionados ou diminuídos de
volume. Para evitar incontinência, pode se tornar necessária a ressecção
incompleta (HEDLUND, 2002).
Ressecção parcial do cisto combinada
com omentalização e castração, é um meio simples e eficiente de manejo de
cistos de retenção. Os índices de complicações sérias incluindo incontinência
urinária são baixos (Bray et al., 1997).
A omentalização é uma técnica alternativa à
marsupialização, em que se introduz uma prega do omento no interior da
próstata. A grande vascularização do omento vai permitir a absorção das
secreções produzidas pelo cisto (que são à base de líquido prostático e podem,
por vezes, ter implicação bacteriana, mas não traz problemas em drenar para a
cavidade abdominal) (HOSGOOD, 1990).
2.6.1 TÉCNICA CIRÚRGICA
Hedlund (2002) relata que devem-se depilar e
preparar para cirurgia asséptica o abdome ventral, o períneo ventral e as coxas
mediais. O cão deve ser posicionado em decúbito dorsal, para uma celiotomia
na linha média. Deve-se realizar a castração e resseccionar ou drenar os cistos
grandes. Os cistos não resseccionáveis podem ser drenados por meio de
marsupialização ou drenos múltiplos. A prostatectomia subtotal pode ser
apropriada para cistos recorrentes.
De acordo com Krawiec (1992), os cistos
prostáticos e os paraprostáticos são tratados melhor pela remoção cirúrgica. A
drenagem cirúrgica pode ser tentada, mas a infecção é uma complicação comum.
Segundo Kustritz (1999) a orquiectomia pode ajudar na diminuição dos cistos de
retenção, porém o efeito da orquiectomia em cistos paraprostáticos ainda é
desconhecida.
Slatter (2007) relata que a próstata costuma
ser abordada via laparotomia caudal. Essa glândula também pode ser atingida a
partir do períneo, geralmente como parte integrante do reparo cirúrgico conferido
para hérnia perianal. Como em qualquer cirurgia do trato urinário, efetua-se o
preparo para a cateterização uretral asséptica em qualquer momento do
procedimento. Com o paciente em decúbito dorsal, o prepúcio é lavado
repetidamente utilizando a solução de povidona-iodo a 0,1 % ou a diluição de 1:40
da solução de diacetato de clorexidina a 2 %, antes do preparo do abdome. O
prepúcio é deixado no campo cirúrgico.
Durante a laparotomia caudal, a incisão
cutânea desvia-se da linha média, lateralmente ao prepúcio, e estende-se até a
porção cranial do púbis.Se houver a suspeita de lesões na face lateral da
próstata, será efetuada a incisão cutânea no lado do prepúcio, onde se mostra
desejável a obtenção de máxima exposição.Um afastador de de Gelpi direcionado
em sentido cranial facilitará o afastamento do prepúcio e da parede abdominal
caudal. A próstata passa a ser vista quando o coxim de tecido adiposo
periprostático de dimensões consideráveis é dividido, ao longo de sua linha
média, e rebatido lateralmente. Na dissecção em direção às superfícies
dorsolaterais da glândula, é preciso ter cuidado para evitar os ligamentos
umbilicais laterais e o aporte neurovascular associado à bexiga, à glândula
prostática e à uretra (SLATTER, 2007).
Quando ocorre o acúmulo de líquido, é indicado
o procedimento de drenagem. As drenagens mecânica (drenos de Penrose ou de
sucção), fisiológica (omentalização) ou anatômica (marsupialização) podem ser
realizadas com rapidez em pacientes sépticos incapazes de suportar as técnicas
mais demoradas de ressecção, ou como procedimento de emergência. A
omentalização é a técnica de drenagem mais eficaz e isenta de complicações
(SLATTER, 2007).
A técnica consiste em isolar a próstata, drenar
os cistos maiores, fazer incisões penetrantes bilateralmente nas faces laterais da
próstata e remover o material purulento por meio de sucção (WHITE E
WILLIAMS, 1997).
Na maioria das técnicas de drenagem, efetuase uma incisão perfurante na superfície ventral ou lateral de cada lobo prostático
e, em seguida, aplica-se sucção para remoção do conteúdo. Após o término do
procedimento de drenagem, o abdome deverá ser submetido a lavagem e sucção
(SLATTER,2007).
Deve-se localizar e romper com os dedos
qualquer abscesso lobulado dentro do parênquima. Identificar a uretra prostática
por meio de palpação do cateter uretral colocado anteriormente. Coloca-se um
dreno de Penrose ao redor da uretra prostática, dentro do parênquima, para
levantar a glândula e facilitar a lavagem das cavidades dos abscessos com
solução salina morna (WHITE E WILLIAMS, 1997).
Os cistos paraprostáticos discretos ou os
cistos prostáticos verdadeiros que exibem uma estreita inserção na glândula
prostática podem ser acessíveis à ressecção local. Alguns cães com abcesso
prostático desenvolvem grandes abcessos extraparenquimatosos que podem ser
submetidos à ressecção. Em sua maioria, os cistos apresentam algumas
aderências a estruturas abdominais caudais ou pélvicas. Os ureteres podem estar
aderidos
ao
cisto.
Não
deve
ser
efetuada
a
dissecção
agressiva
dorsolateralmente ao colo vesical, á próstata ou à parte proximal da uretra
pélvica, a menos que os ligamentos umbilicais laterais estejam nitidamente
separados do cisto. É preferível que o cirurgião efetue a dissecção parcial do cisto
e não ocasione incontinência ou atonia do detrusor. As áreas com abcessos ou
cistos parcialmente excisados são submetidas a omentalização (SLATTER,
2007).
De acordo com Slatter (2007), o omento pode
ser utilizado como dreno fisiológico para o tratamento de abcesso prostático e
após a ressecção parcial de cistos prostáticos e paraprostáticos. Essa técnica é
vantajosa por sua eficácia, facilidade cirúrgica e pouquíssimas complicações.
Para o tratamento de abcessos ou cistos submetidos à ressecção parcial, o
omento é simplesmente mobilizado sobre a área e suturado na cavidade
remanescente do abcesso ou cisto. O omento costuma ser facilmente mobilizado
até a próstata, mas, se necessário, essa prega do peritônio pode ser estendida
por meio de incisões poupadoras de irrigação sangüínea e mobilização caudal.
Aumenta-se
o
tamanho
das
incisões
penetrantes por meio de ressecção do tecido capsular. Introduza o omento por
uma incisão de capsulotomia com uma pinça pelo ferimento contralateral. Passe o
omento ao redor da uretra prostática, saia pela mesma incisão, e ancore-a nela
mesma com sutura de colchoeiro com material absorvível (WHITE E WILLIAMS,
1997).
A técnica de omentalização modificada por
Verstegen consiste em uma incisão na face ventral da glândula, em ambos os
lobos prostáticos. As cavidades devem ser exploradas e, quando necessário,
expandidas digitalmente, adjacente à uretra. Para que não haja lesão da uretra, a
mesma deve ser identificada por palpação da sonda uretral previamente
colocada. A omentalização prostática é realizada introduzindo o omento dentro
das cavidades, em quantidade suficiente para o preenchimento de todo o espaço,
sem que haja comunicação entre os dois lobos e, portanto, sem circundar a
uretra, como foi descrito por White & Williams. Ato contínuo, esta estrutura é
fixada com sutura contínua simples utilizando-se fio de sutura poligalactina 910
3/0 ou 4/0 (Vicryl®- Ethicon), englobando sempre o omento e a cápsula prostática.
Em animais que apresentam abscesso prostático, deve-se realizar lavagem da
cavidade abdominal com solução fisiológica 0,9% pré-aquecida. Em cães com
grandes cistos e também naqueles com cistos paraprostáticos, deve-se promover
primeiro a ressecção e posteriormente a omentalização, com o mesmo tipo de
sutura e fio descrito acima. A sutura da musculatura e peritônio é realizada com
poligalactina 910 número 0 (vicryl®-Ethicon), ponto tipo sultan, e a redução do
espaço morto com poligalactina 910 número 2/0 (vicryl®- Ethicon). A pele é
suturada com náilon monofilamentar número 2/0 (mononailon Ethilon®- Ethicon)
pontos em U (APPARICIO et al.,2006).
2.6.1.1 OMENTALIZAÇÃO PROSTÁTICA
Os omentos ou epiplons são largas lâminas
de reflexão peritonial formadas entre órgãos, ricas em gordura, formadas pela
reunião de vários ligamentos, apresentando uma borda livre (HOSGOOD, 1990).
Existem dois omentos, o menor que se
estende do fígado à curvatura gástrica menor (ligamento hepatogástrico) e ao
duodeno (ligamento hepatoduodenal) e sua borda livre acha-se à direita,
imediatamente à frente do forame epiplóico. O omento maior é uma proeminente
prega peritonial que pende da grande curvatura e pequena tuberosidade do
estômago, à frente do cólon transverso, derramando-se por trás do peritônio da
parede anterior e de parte da lateral na cavidade abdominal; seu comprimento
varia de indivíduo para indivíduo, por ter grande acúmulo de gordura, também
atua como reserva nutricional (HOSGOOD, 1990).
O
omento
tem
sido
usado
em
vários
procedimentos cirúrgicos em humanos, incluindo sistema gastrointestinal,
vascular e cirurgias de reconstrução, e tem potencial aplicação em cirurgias
veterinárias, sendo usado como gordura de armazenamento, imunogênico,
angiogênico, preenchimento de espaço morto e tem propriedades de adesão.
(HOSGOOD 1990). Segundo White e Williams (1995) o omento poderia ser
considerado como um dreno fisiológico.
Existe uma variedade de técnicas cirúrgicas
existentes para remover ou drenar os abscessos e cistos prostáticos, tais como, a
marsupialização, a ressecção local, a prostatectomia subtotal e o uso do dreno de
penrose, e não cirúrgicas como a drenagem percutânea guiada por ultrasonografia.No entanto, o cuidado pós-operatório intensivo, as complicações de
longo prazo, bem como as recidivas associadas a esses procedimentos,
inspiraram o desenvolvimento de nova técnica cirúrgica utilizando o omento
(APPARICIO et al., 2006).
2.7 PÓS-OPERATÓRIO
Devem-se administrar analgésicos conforme
necessário e monitorar o paciente quanto à sepse, choque e anemia. Devem-se
administrar antibióticos apropriados por duas a três semanas. Teoricamente
devem-se realizar culturas de urina ou fluido prostático três a cinco dias após
iniciarem os antibióticos e dois a três dias após interromper os mesmos
(Hedlund, 2002).
2.8 PROGNÓSTICO
O prognóstico é bom a razoável após
castração e drenagem cirúrgica. Alguns cistos prostáticos e periprostáticos
recidivam e exigem drenagem repetida, no entanto, isso será raro se o cão for
castrado (Hedlund, 2002).
3. MATERIAL E MÉTODO
3.1 RELATO DE CASO
O presente trabalho descreve o caso de um
animal da espécie canina, macho, sem raça definida, pelagem amarela, pesando
25 Kg, não castrado e com aproximadamente oito anos de idade. Este animal foi
atendido na Clínica Escola de Pequenos Animais do Centro Universitário de Barra
Mansa, situada no bairro Centro, na cidade de Barra Mansa, RJ.
Durante
a
consulta,
foi
realizado
um
minuncioso histórico e anamnese, nos quais o proprietário relatou que o cão
apresentava apatia, anorexia e perda de peso há aproximadamente quinze dias,
episódios de vômito, disúria e tenesmo há dois dias.
No exame físico, o animal apresentava mucosa
ocular e oral hipocoradas, tempo de preenchimento capilar de quatro segundos. O
animal apresentava desidratação intensa e caquexia. Posteriormente, palparamse os linfonodos que se encontravam dentro da normalidade. A ausculta cardíaca,
pulmonar e abdominal não apresentava alterações. Os seguintes parâmetros
fisiológicos inicialmente verificados apresentaram-se sem alterações significativas
(FC: 115 bpm, FR: 20 mrm e Temp: 39ºC). Durante a palpação abdominal foi
observada distensão abdominal, bexiga distendida e ausência sensibilidade
dolorosa. O pênis apresentava cor e aspecto normais, sem presença de secreção.
O prepúcio e a bolsa escrotal apresentavam-se edemaciados. Na palpação retal
observou-se aumento de volume unilateral da próstata e ausência de
sensibilidade dolorosa.
3.1.1 Exames Complementares
O animal foi sondado por via uretral para coleta
da urina e realização da urinálise (EAS) e posterior drenagem da urina. O
resultado deste exame está disposto na tabela 1.
TABELA 1: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DA URINÁLISE REALIZADOS
ANTES DO TRATAMENTO
Exame Físico
Resultados
Valores de Referência
Volume Examinado (mL)
10,00
5,00 - 10,00
Cor
Acastanhado
Amarelo claro – Amarelo
Aspecto
Turvo
Límpido
Densidade
1.039
1.018 - 1.040
Exame Químico
Resultados
Valores de Referência
pH
6,00
5,50 - 7,00
Proteínas (mg/dl)
2+
Negativo
Glicose
Negativo
Negativo
Corpos Cetônicos
Negativo
Negativo
Bilirrubinas
Negativo
Negativo
Urobilinogênio
Normal
Normal
Nitritos
1+
Negativo
Sangue Oculto
4+
Negativo
Exame do Sedimento (400 X)
Resultados
Valores de Referência
Células Epitelias Descamativas
Numerosas
________
Incontáveis
< 5/campo
Incontáveis
0-3/campo
Ausentes
________
Uretrais e Vesicais
Leucócitos/campo
>50
Hemácias/campo
>100
Cilindros
Observações
Presença de espermatozóides
Hematúria
Proteinúria
Piúria
Fonte: Laboratório da Clínica Veterinária de Pequenos Animais do UBM, situado
na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
Os exames laboratoriais foram realizados no
Laboratório de Patologia Clínica do Centro Universitário de Barra Mansa.
As amostras de sangue foram obtidas em frascos com anticoagulante (EDTA
11%), através de punção da veia cefálica com seringa de três mL.
Nas
amostras
assim
obtidas,
foram
determinados o volume globular pelo método de microhematócrito e a leucometria
global através da técnica do hemocitômetro. Os índices hematimétricos absolutos
VGM e CHGM foram obtidos de acordo com Jain,1986. Através do plasma obtido
pela centrifugação do sangue foram determinadas as concentrações de proteínas
totais e fibrinogênias, pelo método de refratometria (JAIN, 1986). Do sangue total
obtido no momento da flebocentese e antes da adição ao anticoagulante, foi
realizado um esfregaço em superfície de lâmina e posteriormente corado com
corante INSTANT PROV e examinado em microscopia ótica em imersão e
objetiva de 100x para proporcionalização dos diferentes tipos leucocitários e
realização da leucometria específica.
A avaliação da hemoglobina foi realizada pelo
método da cianometahemoglobina (Kit comercial Bioclin- Quibasa Química Básica
LTDA, Brasil).
A execução do hemograma completo foi
realizada com o intuito de se verificar o estado geral do animal (tabelas 2, 3, 4
respectivamente).
TABELA 2: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DO HEMOGRAMA REALIZADOS
ANTES DO TRATAMENTO – ERITROGRAMA
Eritrograma
Resultados
Valores de Referência
Eritrócitos (X106/µL)
5,0
5,5 - 8,5
Hemoglobina (g/dL)
11,0
14,0 - 18,0
Hematócrito (%)
30,0
37,0 - 55,0
VGM (fL)
60,0
60,0 - 77,0
CHGM (%)
36,6
31,0 - 36,0
Metarrubrícitos
0,0
0,0 - 1,0
Observações
Anemia normocítica normocrômica
Citoscopia: anisocitose a anisocromia
Fonte: Laboratório da Clínica Veterinária de Pequenos Animais do UBM, situado
na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
TABELA 3: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DO HEMOGRAMA REALIZADOS
ANTES DO TRATAMENTO – LEUCOGRAMA
Leucograma
Resultados
Valores de Referência
Leucócitos Totais (µL)
16.800
6.000 - 17.000
Valor
Valor
Valor
Valor
relativo %
absoluto/µL
relativo %
absoluto/µL
Basófilos
0
0
0–1
0 – 100
Eosinófilos
6
1.008
2–8
100 - 1.250
Mielócitos
0
0
0–0
0–0
Metamielócitos
0
0
0–0
0–0
Neutrófilos Bastonetes
1
168
0–3
0 – 300
Neutrófilos Segmentados
69
11.592
60 - 77
3.000 – 11.500
Linfócitos
17
2.856
12 - 30
1.000 - 4.800
Monócitos
7
1.176
3 - 10
150 - 1.350
Observações
Neutrofilia
Citoscopia: Leucócitos com morfologia normal
Fonte: Laboratório de Patologia Clínica Veterinária da Clinica de Pequenos
Animais do UBM, situado na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
TABELA 4: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DO HEMOGRAMA REALIZADOS
ANTES DO TRATAMENTO – HEMATOLOGIA
Hematologia
Resultados
Valores de Referência
Contagem de Plaquetas
220.000
200.000 - 500.000
8,4
5,0 - 7,5
500
100 – 300
(µ/L)
Proteína Plasmática Total
(g/dL)
Fibrinogênio
Observações
Hiperproteinemia
Hiperfibrinogenia
Fonte: Laboratório da Clínica Veterinária de Pequenos Animais do UBM, situado
na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
O animal foi encaminhado para o Setor de
Diagnóstico por Imagem da Clínica Escola de Pequenos Animais- UBM. Durante
a realização dos exames radiográficos, foi utilizado um equipamento de Raios-X,
com capacidade operacional de 200 Mas e 120 Kvp, mesa com tampo flutuante e
grade anti-difusora de radiação, filmes base verde no tamanho 18x24, chassis
padrão montados com écrans terras raras. O processo de revelação foi manual
padrão em câmara escura.
Foi
realizado
primeiramente
o
exame
radiográfico simples do abdome na posição latero-lateral que não revelou
alterações significativas, exceto a distensão e o deslocamento cranial da bexiga.
Na uretrocistografia com contraste positivo pôde-se identificar uma massa de
densidade água, na porção caudoventral da bexiga, deslocando dorsalmente a
sonda uretral e o meio de contraste (iodeto de potássio 10%).
A avaliação das dimensões e o estudo da
estrutura prostática foram realizados por meio de ultra-sonografia bidimensional
em tempo real com o aparelho modelo Aquila® com transdutor mecânico setorial
de 7,5 MHz modo B, por meio da ultrassonografia transabdominal.
Foi realizado um exame ultra-sonográfico, com o
objetivo de avaliar a morfologia e função dos órgãos do trato urinário (cavidade
abdominal).
As imagens ultra-sonográficas obtidas revelaram
junto à próstata, a presença de uma extensa área anecogênica de aparência
cística (cisto paraprostático) com uma parede de superfície espessada e bordas
irregulares, caudal à bexiga, dando o aspecto de “dupla bexiga”. A vesícula
urinária encontrava-se com parede espessa (± 0,4 cm) e regular, com conteúdo
anecóico e marcada celularidade, compatível com cistite. Os testículos e o trato
gastro-intestinal
não
apresentavam
linfadenomegalia e efusão peritoneal.
alterações.
Não
foi
evidenciado
Após o resultados dos exames laboratoriais e complementares, foi efetuada a
antibióticoterapia oral com cefalexina, na dose de 30 mg/Kg, a cada 12 horas,
durante 15 dias.
O diagnóstico radiográfico e ultrassonográfico foi
de cisto paraprostático. Sendo assim, foi indicada a realização da drenagem
cirúrgica do cisto, ressecção da cápsula cística e omentalização prostática,
seguida de orquiectomia bilateral.
3.1.2 Anestesia e Técnica Operatória
Com o intuito de se obter acesso venoso para
manutenção das vias de administração dos fármacos anestésicos, foi introduzido
cateter intra-venoso periférico na veia cefálica.
Em seguida o animal recebeu como medicação
pré-anestésica (MPA) acepromazina na dosagem de 0,1 mg/Kg, sulfato de
atropina na dosagem de 0,44 mg/Kg e sulfato de morfina na dosagem de 0,5
mg/Kg por via intramuscular.
Foi realizada tricotomia ampla do abdome
ventral e períneo. Previamente à intervenção cirúrgica, foi realizada lavagem do
prepúcio com iodo-povidona a 1% e posterior cateterização transuretral.
Após 30 minutos a indução anestésica foi
realizada com propofol na dosagem de 5 mg/Kg, por via endovenosa, para perda
dos reflexos de deglutição e possível entubação. Após indução, o paciente foi
submetido a anestesia inalatória utilizando isoflurano (vaporizador universal) com
fluxo diluente de O2 100% em circuito semi fechado (30 mL/Kg/min) e fluidoterapia
em taxa de manutenção de 10 ml/kg/hora.
Foi realizada laparotomia longitudinal mediana
retro-umbilical, com a incisão se estendendo da cicatriz umbilical até o púbis. A
glândula prostática foi isolada utilizando-se o afastador de Farabeuf, e o cisto foi
identificado (figura 4).
Figura 4 – Imagem fotográfica evidenciando a abertura do abdome e presença da
estrutura cística prostática.
Fonte: Centro Cirúrgico da Clínica de Pequenos Animais, UBM, Fev. 2008.
A próstata foi isolada através de campos
cirúrgicos e o conteúdo cístico drenado utilizando-se sonda de Foley número 24
na tentativa de evitar extravasamento para dentro da cavidade abdominal.
Posteriormente ao procedimento de drenagem do cisto, a cavidade foi
abundamentente lavada com solução fisiológico (NaCl 0,9%) seguido de sucção
com bomba aspiradora (Bomba Vácuo Aspiradora - Sugador de Sangue e
Secreção - Nevoni). Após drenagem, foi possível confirmar o diagnóstico de
cisto paraprostático.
Figura 5 – Imagem fotográfica evidenciando drenagem do cisto mediante
introdução da sonda de Foley número 24.
Fonte: Centro Cirúrgico da Clínica de Pequenos Animais, UBM, Fev. 2008.
Após a total drenagem, foi realizada incisão do
cisto paraprostático na porção ventral da cápsula cística (figura 6).
Figura 6 – Imagem fotográfica da incisão na porção ventral da cápsula cística.
Fonte: Centro Cirúrgico da Clínica de Pequenos Animais, UBM, Fev. 2008.
Foi realizada divulsão digital com o intuito de isolar o
cisto paraprostático para posterior excisão parcial da cápsula cística (figuras 7 e
8) e fixação do omento sobre a porção remanescente (técnica de omentalização).
Figura 7- Imagem fotográfica da excisão parcial da cápsula cística.
Fonte: Centro Cirúrgico da Clínica de Pequenos Animais, UBM, Fev.
2008.
Figura 8: Imagem fotográfica da excisão parcial da cápsula cística.
Fonte: Centro Cirúrgico da Clínica de Pequenos Animais, UBM, Fev.
2008.
A
omentalização
prostática
foi
realizada
mobilizando o omento sobre a área de ressecção do cisto paraprostático e fixado
com sutura contínua simples utilizando-se fio vicryl 2-0 (figura 9).
Figura 9- Imagem fotográfica evidenciando a omentalização prostática.
Fonte: Centro Cirúrgico da Clínica de Pequenos Animais, UBM, Fev. 2008.
A sutura da musculatura abdominal e peritônio foi
realizada com fio de Nylon 0, sutura com pontos separados em X e a redução do
espaço morto com fio de Vicryl 2-0 em padrão de chuleio simples. A cútis foi
suturada com fio de nylon 0 em padrão de pontos simples separados.
A orquiectomia foi realizada através da técnica
cirúrgica aberta. Após tricotomia e anti-sepsia da bolsa escrotal com iodopovidona
a 1%, foi realizada a incisão da mesma para exposição testicular. Uma ligadura
do cordão espermático utilizando fio de sutura Vicryl 2-0 com posterior exérese
dos testículos foram realizados em seguida.
No período pós-operatório, o animal foi tratado
com amoxicilina com ácido clavulânico na dosagem de 15 mg/Kg, por via oral, a
cada 12 horas, durante 15 dias; cetoprofeno na dosagem de 2 mg/Kg, por via oral,
a cada 24 horas, durante 4 dias; dipirona sódica na dosagem de 20 mg/kg, por via
oral, a cada 8 horas, durante 5 dias; e ranitidina na dosagem de 2 mg/Kg, por via
oral, a cada 12 horas, durante 5 dias.
O proprietário do animal foi orientado que seu
cão permanecesse sondado até a data agendada para revisão (sete dias).
Foi solicitado ao proprietário que retornasse com o animal periodicamente a
clínica para a realização de consultas de rotina e execução de exames
laboratoriais e complementares, se necessário, para acompanhamento do quadro
clínico.
4. RESULTADO
Ao
completar
sete
dias
da
cirurgia,
o
proprietário trouxe o animal à clínica para avaliação do quadro pós-operatório. O
animal encontrava-se em estado geral regular e a ferida cirúrgica em processo de
cicatrização. Nesse momento, foi coletada urina para realização de exame EAS
(tabela 5) e retirada definitiva da sonda uretral.
TABELA 5: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DA URINÁLISE REALIZADOS
APÓS A CIRURGIA
Exame Físico
Volume Examinado
Resultados
10,00
Valores de Referência
5,00 - 10,00
Cor
Amarelo claro
Amarelo claro Amarelo
Aspecto
Densidade
Exame Químico
PH
Límpido
1.020
Resultados
Límpido
1.018 - 1.040
Valores de Referência
7,00
5,50 – 7,00
Traços (15 mg/dL)
Negativo
Glicose
Negativo
Negativo
Corpos Cetônicos
Negativo
Negativo
Bilirrubinas
Negativo
Negativo
Urobilinogênio
Normal
Normal
Nitritos
Negativo
Negativo
Sangue Oculto
Negativo
Negativo
Proteínas (mg/dl)
Exame do Sedimento (400 X)
Resultados
Células Epitelias Descamativas
Raras
Valores de Referência
________
Uretrais e Vesicais
Leucócitos/campo
Raros
< 5/campo
0-2
Hemácias/campo
Raras
< 5/campo
Ausentes
________
3-6
Cilindros
Observações
Presença de espermatozóides
Fonte: Laboratório da Clínica Veterinária de Pequenos Animais do UBM, situado
na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
Após vinte e um dias da cirurgia, o canino
retornou a clínica para acompanhamento do quadro. Foi coletado sangue para
realização dos exames do hemograma completo. Os resultados estão dispostos
nas tabelas 6, 7 e 8 respectivamente.
TABELA 6: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DO HEMOGRAMA REALIZADOS
APÓS A CIRURGIA– ERITROGRAMA
Eritrograma
Resultados
Valores de Referência
Eritrócitos (X106/µL)
6,1
5,5 - 8,5
Hemoglobina (g/dL)
14,0
14,0 - 18,0
Hematócrito (%)
42,0
37,0 - 55,0
VGM (fL)
68,8
60,0 - 77,0
CHGM (%)
33,3
31,0 - 36,0
Metarrubrícitos
0,0
0,0 - 1,0
Observações
Eritrócitos com morfologia normal
Fonte: Laboratório da Clínica Veterinária de Pequenos Animais do UBM, situado
na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
TABELA 7: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DO HEMOGRAMA REALIZADOS
APÓS A CIRURGIA – LEUCOGRAMA
Leucograma
Resultados
Valores de Referência
Leucócitos Totais (µL)
9.300
6.000 - 17.000
Valor
Valor
Valor
Valor
relativo %
absoluto/µL
relativo %
absoluto/µL
Basófilos
0
0
0-1
0 - 100
Eosinófilos
8
837
2-8
100 - 1.250
Mielócitos
0
0
0-0
0-0
Metamielócitos
0
0
0-0
0-0
Neutrófilos Bastonetes
0
0
0-3
0 - 300
Neutrófilos Segmentados
66
6.045
60 - 77
3.000 11.500
Linfócitos
24
2.232
12 - 30
1.000 - 4.800
Monócitos
2
186
3 - 10
150 - 1.350
Observações
Leucócitos com morfologia normal
Fonte: Laboratório da Clínica Veterinária de Pequenos Animais do UBM, situado
na cidade de Barra Mansa- RJ, em 2008.
TABELA 8: DESCRIÇÃO DOS ACHADOS DO HEMOGRAMA REALIZADOS
APÓS A CIRURGIA – HEMATOLOGIA
Hematologia
Contagem de Plaquetas
Resultados
Valores de Referência
282.000
200.000 - 500.000
6,3
5,0 - 7,5
200
100 – 300
(µ/L)
Proteína Plasmática Total
(g/dL)
Fibrinogênio
Observações
Plaquetas com morfologia normal
Fonte: Laboratório da de Pequenos Animais do UBM, situado na cidade de Barra
Mansa- RJ, em 2008.
Decorridos sessenta dias após a intervenção
cirúrgica, o proprietário trouxe o animal à clínica para nova avaliação do quadro
pós-operatório. O exame clínico revelou melhora significativa do estado geral
(normorexia, ganho de peso, micção, defecação e postura normais); palpação
retal sem evidência de alteração prostática, concluindo que até o presente
momento o animal não apresentava recidiva do quadro.
5. DISCUSSÃO
As afecções da próstata são muito comuns em
cães de meia idade e idosos, e entre elas a mais comum é a hiperplasia benigna
do órgão, seguida pelos cistos e abcessos, podendo ou não estar associados.
O animal relatado é da espécie canina, sendo
este um fato esperado, já que doenças prostáticas são comuns em cães e raras
em gatos como descrevem Mattoon e Nyland, (2002); Nelson e Couto, (2001);
Kay (2003).
O
animal
avaliado
neste
trabalho
tem
aproximadamente oito anos de idade, concordando com descrito na literatura por
Apparício et al (2006), Paulo et al (2005) e Krawiec (1994) que relatam que as
doenças prostáticas ocorrem geralmente em animais idosos.
O animal com cisto paraprostático apresentava
anorexia, desidratação, vômito, distensão abdominal, disúria, tenesmo e
caquexia, sinais compatíveis com os encontrados por Di Santis, Amorim e
Bandarra (2001); Slatter (2007); Kustritz e Klausner (2004) e Hedlund (2002).
No
presente
trabalho
foram
realizados
hemograma e urinálise, sendo estes exames laboratoriais, importantes para
avaliação do estado geral do animal e para auxiliar no diagnóstico e terapia do
cisto paraprostático. No hemograma detectou-se a presença de anemia
normocítica normocrômica, neutrofilia, hiperproteinemia, hiperfibrinogenia e
plaquetas dentro dos valores de normalidade. Os resultados observados são
semelhantes ao descrito por Dantas (2007). A neutrofilia e hiperfibrinogenia
sugerem um quadro inflamatório, que é justificado no cisto paraprostático
associado ao resultado do EAS compatível com um quadro de cistite, com
evidência de hematúria, leucocitúria e células de descamativas ( NAVARRO,
1994). Essa hiperproteinemia pode ser justificada pelo alto grau de desidratação
em que o animal se encontrava no dia do exame clínico.
No exame físico, a urina apresentava coloração
acastanhada e aspecto turvo, pela presença da hematúria. O exame químico e do
sedimento urinário detectou proteinúria, presença de sangue oculto, leucócitos e
células epiteliais em grande quantidade compatível com o quadro de cistite
relatado por Meyer, Coles e Rich (1995).
O animal do presente relato foi radiografado
com a suspeita clínica de prostatopatia, onde se encontrou sinais radiográficos de
prostatomegalia acentuada. De acordo com Kustritz e Klausner (2004) a
prostatomegalia é um sinal radiográfico freqüente de doença prostática.
Foi diagnosticada a presença de aumento do
volume prostático (cistos paraprostático), tanto que as radiografias para a
observação da próstata foram realizadas em projeção lateral como indicam Kealy
e Mcallister (2005). A uretrocistografia retrógrada com contraste positivo foi
realizado para avaliação da uretra prostática como sugerem Kustritz e Klausner
(2004), encontrou-se um aumento prostático, retenção fecal e distensão de
vesícula urinária, que são imagens radiográficas compatíveis com o descrito por
Kustritz e Klausner, (2004); Hedlund (2002).
Desta maneira o animal foi encaminhado para a
realização de exame ultra-sonográfico para melhor avaliação da próstata, pois
segundo Kustritz e Klausner (2004), a ultra-sonografia é um exame mais sensível
para a avaliação intraparenquimatosa deste órgão.
A ultra-sonografia apresentou-se como uma
ferramenta precisa na avaliação prostática, incluindo a análise interna da
glândula; corroborando com os relatos de PACLIKOVA et al. (2006), Guido (2004)
e Slatter (2007).
Nas imagens ultrassonográficas observou-se a
presença de um cisto único, encontrado adjacente e ligado à próstata, sem
comunicação com o parênquima, sendo denominado segundo informações de
Hedlund (2002) de cisto paraprostático pela sua localização.
Os
sinais
ultrassonográficos
de
cisto
paraprostático encontrados no cão relatado, revelando à grande área cística
caudal a bexiga, de conteúdo anecóico condizem com os mostrados na literatura
por Kealy e McAllister (2005) e Nyland e Matton (2005).
Jones e Hunt (1996) e Head e Francis (2002)
relatam que a infecção bacteriana secundária da glândula e a hérnia perineal são
as complicações mais freqüentes, o que não ocorreu no presente relato.
Após o diagnóstico do cisto paraprostático, foi
efetuado o tratamento cirúrgico, que consiste na drenagem do cisto, com posterior
ressecção parcial do cisto combinada com omentalização como indica Bray et al
(1997), Slatter (2007) e Hedlund (2002).
Após a ressecção parcial do cisto paraprostático
e omentalização prostática o animal foi castrado profilaticamente como
recomendado por Nelson e Couto, (2001); Kustritz (1999), Hedlund (2002), Bray
et al (1997) para evitar a recidiva do quadro (que a próstata não aumentasse de
volume).
O animal apresentou um bom pós-operatório e
obteve uma boa recuperação. Os exames laboratoriais realizados após o
tratamento apresentaram-se dentro dos valores de normalidade.
6. CONCLUSÃO
Os cistos paraprostáticos representam de
forma geral uma pequena fração das síndromes prostáticas que acometem os
cães atendidos na clínica médica de pequenos animais. Além de uma
deformação no órgão, podem também desencadear dependendo do seu quadro
evolutivo, uma série de outras alterações sistêmicas quando não tratados a
tempo. Tais alterações incluem: tenesmo, disúria, hematúria, caquexia,
azotemia, emese, entre outras.
As alterações clínicas observadas pelo Médico
Veterinário no decorrer da síndrome e a realização de exames complementares
de rotina, são de extrema importância principalmente no diagnóstico diferencial
e na urgência da intervenção cirúrgica para correção do caso.
O tratamento consiste em uma preparação précirúrgica do paciente, tentando amenizar toda sintomatologia secundária ao
processo para posterior drenagem cística com utilização da técnica de
omentalização prostática (BRAY et al 1997; SLATTER, 2007 e HEDLUND,
2002). Tal técnica é realizada com o intuito de promover estímulos
imunogênicos, angiogênicos, propriedades de adesão e preenchimento de
espaço morto.
A técnica utilizada demonstrou-se eficaz no
tratamento de cisto paraprostático em cão, levando-se em conta que não foi
observada recidiva do quadro e pela evidente recuperação do paciente.
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Uso da Tecnica de Otimizacao - Amanda Silva Pimentel