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Dalva Silva Souza
CAMINHOS
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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
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Para encontrar o caminho...
“De novo a estrela brilhará, mostrando
o perdido caminho da perdida inocência.
E eu irei pequenino, irei luminoso
conversando anjos que ninguém conversa.”
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
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Crenças e instituições antigas constituem, no momento atual, fortes entraves ao grande passo que a Humanidade precisa dar, daí a necessidade de mudanças radicais – perspectiva um tanto aflitiva, já que é próprio do
homem temer o desconhecido. Nossa certeza da iminência da mudança de que falamos se firma na análise do
momento em que vivemos, à luz das informações bastante amplas e seguras provenientes das fontes espirituais.
Diante desse quadro, move-me o desejo de refletir
sobre um fascinante tema, que é, ao mesmo tempo, o
elemento-chave para gerar toda a transformação necessária. Quero refletir sobre os encontros e desencontros afetivos nos caminhos da existência terrena. Quero
falar do amor, examinar se há possibilidade de torná-lo
Para encontrar o caminho...
Impossível deter o progresso. Uma nova ordem de
coisas deve estabelecer-se na Terra, a fim de que nosso mundo de expiações e provas se transforme em um
mundo de regeneração, conforme nos ensinam os Espíritos. A transformação ocorrerá, apesar das grandes resistências que se lhe opõem e não há, nesse campo de
luta, a opção da neutralidade. Se nada estamos fazendo
na direção em que apontam as setas do progresso, é que
pertencemos ao extenso número dos que opõem
resistência passiva à renovação.
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mais presente em nossas vidas e destacar algumas informações dos Espíritos que facilitem essa possibilidade.
A quantidade de textos que já se escreveu sobre esse
tema nos dá uma noção muito clara da grande dificuldade de se trazer uma contribuição absolutamente original ao assunto. Para pretendermos essa originalidade
absoluta, precisaríamos antes conhecer todos os escritos, todas as teses, todas as histórias verdadeiras ou
inventadas que já foram tecidas sob a motivação do
amor, e acredito ser impossível atingir esse conhecimento. Ainda assim, disponho-me a escrever sobre o
tema, acreditando que, em um ou outro lance, você,
leitor(a), possa encontrar algo a ser colhido para
enriquecer-lhe os momentos de reflexão ou para
minimizar sua angústia, ao surpreender-se, muitas vezes, tão-só na jornada difícil do aprendizado do afeto.
Apresentada a intenção, é preciso começar a tarefa,
encontrar o caminho. Todo trabalho tem o seu primeiro passo, que nem sempre é muito fácil. Pela leitura,
busquei captar subsídios nas obras de pensadores contemporâneos, analisando as idéias colhidas à luz do
Espiritismo.
Durante as meditações sobre o assunto, a complexidade dos diversos ângulos do tema suscitou a freqüente
indagação: “Por onde começar esta caminhada?”. Bem,
em relação à vida na Terra, o começo é sempre o berço,
mas, na verdade, na ótica espírita, nascer é renascer,
reencontrar antigos afetos. Alguém poderia objetar que
se pode também encontrar antigos desafetos, renascendo entre os adversários do passado. Isso é verdadeiro,
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mas repetindo algo que André Luiz afirmou certa feita,
diríamos que “o ódio é o amor que adoeceu”, então os
desafetos são, na realidade, afetos que se contaminaram
pela mágoa, ressentimento e outros sentimentos negativos. Essa controvérsia, contudo, não interessa no
momento. Iniciemos a nossa jornada tomando, como
ponto de partida, o nascimento para mais uma experiência na Terra, sem desconsiderar que existe um tempo anterior, que permanece oculto aos olhos físicos.
A aprendizagem do afeto inicia-se nessa relação e,
durante toda a existência desse indivíduo que retorna à
vida, ele projetará sobre suas experiências afetivas o colorido desse primeiro amor. Imprescindível então refletir sobre a relação mãe/filho, buscando os aspectos mais
marcantes desse processo tão fundamental para o
crescimento psíquico do ser.
Naturalmente, se a reflexão a ser instituída tem por
base a Doutrina Espírita, será necessário focalizar a
relação mãe/filho desde o primeiro elo da existência
atual, elo que ocorre antes mesmo da concepção, pois,
como informa André Luiz,1 uma ligação psicoeletro1
XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da luz. Pelo Espírito André
Luiz. Cap. 13, “Reencarnação”.
Para encontrar o caminho...
Temos, no episódio do renascimento, um encontro
muito íntimo de duas individualidades. Curioso encontro em que uma individualidade está na fase adulta e
a outra num estado de total e completa dependência,
ligada a um organismo físico bloqueador da manifestação de sua riqueza psíquica que, não obstante, faz
parte de seu mundo interior.
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magnética se estabelece entre a mulher e aquele que irá
ser seu futuro filho, antes da fecundação do óvulo, num
processo semelhante ao da enxertia de uma planta. A
metáfora é interessante, porque, no processo de enxertia,
vincula-se a uma planta adulta o broto que se quer
desenvolver e a planta adulta deverá fornecer à outra sua
própria seiva. A mulher também oferece abrigo ao seu
futuro filho e o alimenta com seu próprio sangue. A
interação humana, todavia, difere do processo vegetal
pela inusitada complexidade do nosso psiquismo e
ainda é preciso considerar a história de cada indivíduo
envolvido nessa relação com as possíveis ligações afetivas que podem ter existido entre ambos no passado.
Considerando, então, que as ligações perispirituais
antecedem o momento da concepção, é preciso, antes de
falar da mãe, refletir sobre a mulher, considerando-a no
contexto da cultura moderna. Em seguida, faz-se
necessário destacar as questões pertinentes à maternidade, sua importância para a educação do indivíduo e
seus limites em relação à possibilidade de êxito do projeto reencarnatório, para só depois seguir a trajetória do
indivíduo na infância, adolescência e juventude, passando
pelas crises que necessariamente se encontram nesse caminho e observando os diversos obstáculos que se interpõem ao desenvolvimento da capacidade de amar.
Convido a você, leitor/leitora, para acompanhar-me nesse
passeio pelo mundo das idéias sobre a aprendizagem do
afeto, mas não sem antes adverti-lo(a) de que toda viagem
envolve riscos e esta não foge à regra.
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Mulher/mãe
“A vida triunfará, enquanto no mundo
houver
A chance de recomeço num regaço de
mulher.”
MARIA DOLORES
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QUEM É A MULHER?
Essa é uma questão que deve ser respondida antes
de elaborarmos outras reflexões sobre o tema. Buscando a resposta a essa questão, fatalmente esbarraremos
com uma outra pergunta também importante: quem é
a mulher moderna? Tentemos refletir sobre o assunto à
luz do Espiritismo...
A mulher é um Espírito reencarnado, com uma
considerável soma de experiências em seu arquivo perispiritual. Quantas dessas experiências já vividas terão
sido em corpos masculinos? Impossível precisar, mas,
seguramente, muitas, se levarmos em conta os milênios
que a Humanidade já conta de experiência na Terra.
Para definir a mulher moderna, precisamos acrescentar às considerações anteriores o difícil caminho da
emancipação feminina. A mulher de hoje não vive um
contexto cultural em que os papéis de ambos os sexos
estejam definidos por contornos precisos. A sociedade
atual não espera da mulher que apenas abrigue e alimente os novos indivíduos, exige que ela seja também
capaz de dar sua quota de produção à coletividade.
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Estão as mulheres emergindo de um passado de submissão e subalternidade e começam a ocupar seu espaço, participando mais decisivamente da construção
de um novo estilo de vida. São muitas as propostas que
se endereçam atualmente ao público feminino. É
oportuno e válido que se avaliem criticamente essas
propostas, já que, como espíritas, estamos todos comprometidos com o projeto de renovação da Humanidade, que é a meta do Espiritismo.
As pesquisas sociológicas provam que a supremacia masculina foi obtida pela violência. O homem, dotado pela natureza de maior força física, utilizou esse
recurso para dominar e oprimir o mais fraco. A mulher,
fisicamente mais frágil, porém portadora de maior sensibilidade, tem sabido adaptar-se aos diferentes contextos, exercendo sempre uma influência disfarçada no
meio social, adestrando-se nas sutilezas da sedução e do
envolvimento. Embora neste século tenhamos caminhado a passos largos em diversas direções de progresso,
esse jogo de força e sedução ainda predomina nas
relações entre homem e mulher, gerando distorções e
conflitos sempre crescentes. Examinemos algumas informações que o estudo espírita nos faculta, para alcançarmos uma compreensão mais clara desse problema.
A sociedade ocidental formou-se sob a forte influência das culturas greco-romana e hebraica, culturas
em que a mulher ocupava uma posição de total dependência do homem. Não obstante a pregação de Jesus,
que em nenhum momento discriminou a mulher, a
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igreja primitiva, responsável pela difusão da mensagem
cristã ao mundo, absorveu abundantemente a influência do Judaísmo, que via a mulher como a responsável
pelo aparecimento do pecado no mundo. É marcante a
influência dos textos paulinos na postura adotada pelas
organizações religiosas que se incumbem até hoje da
difusão do Cristianismo. Observemos o seguinte texto
transcrito da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo,
2:11 a 14:
A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição.
Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de
autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.
Porque primeiro foi formado Adão e depois Eva.
E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.
Já se faz tardia a ingente tarefa que cabe à
Doutrina Espírita de escoimar a mensagem cristã dos
enxertos provenientes de diversas origens, para que a
Doutrina do Cristo possa penetrar a intimidade do
Mulher/mãe
As duas primeiras afirmações do texto demonstram claramente como se definia a participação da mulher: aprender em silêncio e submeter-se à autoridade
masculina. Em seguida, explicita-se a causa desse posicionamento. Observe-se que a conjunção causal porque
inicia a frase. Essa causa está na doutrina judaica da
criação do mundo, cujo conteúdo todos nós já conhecemos: o homem feito de barro, a mulher da costela do
homem, a aparição da serpente, etc.
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coração humano, realizando a tarefa de libertação tão
ansiada. Atentos a essa missão, os Espíritos reveladores
retomaram as propostas de Jesus e, em O Livro dos Espíritos, questões 817 a 822, registram-se as informações
que deles colheu Allan Kardec acerca da posição da
mulher.
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SOBRE
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A AUTORA:
A trajetória espírita de Dalva Silva
Souza iniciou-se muito cedo, em Volta
Redonda (RJ), onde nasceu no seio de uma
família espírita. Construiu sua base de conhecimentos doutrinários na Associação Espírita
Estudantes da Verdade, instituição a qual dedicou seus esforços até 1982, quando a
família transferiu-se para Vitória (ES).
Formada em Letras, trabalhou 26 anos
como professora de ensino fundamental e
médio em escolas públicas municipais, estaduais e, por último, na Escola Técnica Federal
do Espírito Santo, hoje Centro Federal de
Educação Tecnológica.
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Dalva foi conselheira e coordenadora
de cursos de pesquisa espírita no estado do
Espírito Santo. Exerceu outras atividades no
Movimento Espírita do estado, notadamente
na Comunidade Espírita Esperança, da qual
foi vice-presidente na década de 1990 e, por
último, na Federação Espírita do Estado do
Espírito Santo (FEEES), que presidiu por dois
mandatos consecutivos (2001-2007) e onde,
atualmente, exerce a função de vice-presidente de Assuntos da Família.
É articulista da revista Reformador e de
jornais de diversas localidades do Brasil.
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