OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 1 Dalva Silva Souza CAMINHOS OS A R MO FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 2 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 3 Para encontrar o caminho... “De novo a estrela brilhará, mostrando o perdido caminho da perdida inocência. E eu irei pequenino, irei luminoso conversando anjos que ninguém conversa.” CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 4 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 5 Crenças e instituições antigas constituem, no momento atual, fortes entraves ao grande passo que a Humanidade precisa dar, daí a necessidade de mudanças radicais – perspectiva um tanto aflitiva, já que é próprio do homem temer o desconhecido. Nossa certeza da iminência da mudança de que falamos se firma na análise do momento em que vivemos, à luz das informações bastante amplas e seguras provenientes das fontes espirituais. Diante desse quadro, move-me o desejo de refletir sobre um fascinante tema, que é, ao mesmo tempo, o elemento-chave para gerar toda a transformação necessária. Quero refletir sobre os encontros e desencontros afetivos nos caminhos da existência terrena. Quero falar do amor, examinar se há possibilidade de torná-lo Para encontrar o caminho... Impossível deter o progresso. Uma nova ordem de coisas deve estabelecer-se na Terra, a fim de que nosso mundo de expiações e provas se transforme em um mundo de regeneração, conforme nos ensinam os Espíritos. A transformação ocorrerá, apesar das grandes resistências que se lhe opõem e não há, nesse campo de luta, a opção da neutralidade. Se nada estamos fazendo na direção em que apontam as setas do progresso, é que pertencemos ao extenso número dos que opõem resistência passiva à renovação. 5 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 6 Os caminhos do amor 6 mais presente em nossas vidas e destacar algumas informações dos Espíritos que facilitem essa possibilidade. A quantidade de textos que já se escreveu sobre esse tema nos dá uma noção muito clara da grande dificuldade de se trazer uma contribuição absolutamente original ao assunto. Para pretendermos essa originalidade absoluta, precisaríamos antes conhecer todos os escritos, todas as teses, todas as histórias verdadeiras ou inventadas que já foram tecidas sob a motivação do amor, e acredito ser impossível atingir esse conhecimento. Ainda assim, disponho-me a escrever sobre o tema, acreditando que, em um ou outro lance, você, leitor(a), possa encontrar algo a ser colhido para enriquecer-lhe os momentos de reflexão ou para minimizar sua angústia, ao surpreender-se, muitas vezes, tão-só na jornada difícil do aprendizado do afeto. Apresentada a intenção, é preciso começar a tarefa, encontrar o caminho. Todo trabalho tem o seu primeiro passo, que nem sempre é muito fácil. Pela leitura, busquei captar subsídios nas obras de pensadores contemporâneos, analisando as idéias colhidas à luz do Espiritismo. Durante as meditações sobre o assunto, a complexidade dos diversos ângulos do tema suscitou a freqüente indagação: “Por onde começar esta caminhada?”. Bem, em relação à vida na Terra, o começo é sempre o berço, mas, na verdade, na ótica espírita, nascer é renascer, reencontrar antigos afetos. Alguém poderia objetar que se pode também encontrar antigos desafetos, renascendo entre os adversários do passado. Isso é verdadeiro, OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 7 mas repetindo algo que André Luiz afirmou certa feita, diríamos que “o ódio é o amor que adoeceu”, então os desafetos são, na realidade, afetos que se contaminaram pela mágoa, ressentimento e outros sentimentos negativos. Essa controvérsia, contudo, não interessa no momento. Iniciemos a nossa jornada tomando, como ponto de partida, o nascimento para mais uma experiência na Terra, sem desconsiderar que existe um tempo anterior, que permanece oculto aos olhos físicos. A aprendizagem do afeto inicia-se nessa relação e, durante toda a existência desse indivíduo que retorna à vida, ele projetará sobre suas experiências afetivas o colorido desse primeiro amor. Imprescindível então refletir sobre a relação mãe/filho, buscando os aspectos mais marcantes desse processo tão fundamental para o crescimento psíquico do ser. Naturalmente, se a reflexão a ser instituída tem por base a Doutrina Espírita, será necessário focalizar a relação mãe/filho desde o primeiro elo da existência atual, elo que ocorre antes mesmo da concepção, pois, como informa André Luiz,1 uma ligação psicoeletro1 XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. Cap. 13, “Reencarnação”. Para encontrar o caminho... Temos, no episódio do renascimento, um encontro muito íntimo de duas individualidades. Curioso encontro em que uma individualidade está na fase adulta e a outra num estado de total e completa dependência, ligada a um organismo físico bloqueador da manifestação de sua riqueza psíquica que, não obstante, faz parte de seu mundo interior. 7 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 8 Os caminhos do amor 8 magnética se estabelece entre a mulher e aquele que irá ser seu futuro filho, antes da fecundação do óvulo, num processo semelhante ao da enxertia de uma planta. A metáfora é interessante, porque, no processo de enxertia, vincula-se a uma planta adulta o broto que se quer desenvolver e a planta adulta deverá fornecer à outra sua própria seiva. A mulher também oferece abrigo ao seu futuro filho e o alimenta com seu próprio sangue. A interação humana, todavia, difere do processo vegetal pela inusitada complexidade do nosso psiquismo e ainda é preciso considerar a história de cada indivíduo envolvido nessa relação com as possíveis ligações afetivas que podem ter existido entre ambos no passado. Considerando, então, que as ligações perispirituais antecedem o momento da concepção, é preciso, antes de falar da mãe, refletir sobre a mulher, considerando-a no contexto da cultura moderna. Em seguida, faz-se necessário destacar as questões pertinentes à maternidade, sua importância para a educação do indivíduo e seus limites em relação à possibilidade de êxito do projeto reencarnatório, para só depois seguir a trajetória do indivíduo na infância, adolescência e juventude, passando pelas crises que necessariamente se encontram nesse caminho e observando os diversos obstáculos que se interpõem ao desenvolvimento da capacidade de amar. Convido a você, leitor/leitora, para acompanhar-me nesse passeio pelo mundo das idéias sobre a aprendizagem do afeto, mas não sem antes adverti-lo(a) de que toda viagem envolve riscos e esta não foge à regra. OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 9 Mulher/mãe “A vida triunfará, enquanto no mundo houver A chance de recomeço num regaço de mulher.” MARIA DOLORES OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 10 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 11 QUEM É A MULHER? Essa é uma questão que deve ser respondida antes de elaborarmos outras reflexões sobre o tema. Buscando a resposta a essa questão, fatalmente esbarraremos com uma outra pergunta também importante: quem é a mulher moderna? Tentemos refletir sobre o assunto à luz do Espiritismo... A mulher é um Espírito reencarnado, com uma considerável soma de experiências em seu arquivo perispiritual. Quantas dessas experiências já vividas terão sido em corpos masculinos? Impossível precisar, mas, seguramente, muitas, se levarmos em conta os milênios que a Humanidade já conta de experiência na Terra. Para definir a mulher moderna, precisamos acrescentar às considerações anteriores o difícil caminho da emancipação feminina. A mulher de hoje não vive um contexto cultural em que os papéis de ambos os sexos estejam definidos por contornos precisos. A sociedade atual não espera da mulher que apenas abrigue e alimente os novos indivíduos, exige que ela seja também capaz de dar sua quota de produção à coletividade. 11 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 12 Os caminhos do amor 12 Estão as mulheres emergindo de um passado de submissão e subalternidade e começam a ocupar seu espaço, participando mais decisivamente da construção de um novo estilo de vida. São muitas as propostas que se endereçam atualmente ao público feminino. É oportuno e válido que se avaliem criticamente essas propostas, já que, como espíritas, estamos todos comprometidos com o projeto de renovação da Humanidade, que é a meta do Espiritismo. As pesquisas sociológicas provam que a supremacia masculina foi obtida pela violência. O homem, dotado pela natureza de maior força física, utilizou esse recurso para dominar e oprimir o mais fraco. A mulher, fisicamente mais frágil, porém portadora de maior sensibilidade, tem sabido adaptar-se aos diferentes contextos, exercendo sempre uma influência disfarçada no meio social, adestrando-se nas sutilezas da sedução e do envolvimento. Embora neste século tenhamos caminhado a passos largos em diversas direções de progresso, esse jogo de força e sedução ainda predomina nas relações entre homem e mulher, gerando distorções e conflitos sempre crescentes. Examinemos algumas informações que o estudo espírita nos faculta, para alcançarmos uma compreensão mais clara desse problema. A sociedade ocidental formou-se sob a forte influência das culturas greco-romana e hebraica, culturas em que a mulher ocupava uma posição de total dependência do homem. Não obstante a pregação de Jesus, que em nenhum momento discriminou a mulher, a OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 13 igreja primitiva, responsável pela difusão da mensagem cristã ao mundo, absorveu abundantemente a influência do Judaísmo, que via a mulher como a responsável pelo aparecimento do pecado no mundo. É marcante a influência dos textos paulinos na postura adotada pelas organizações religiosas que se incumbem até hoje da difusão do Cristianismo. Observemos o seguinte texto transcrito da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo, 2:11 a 14: A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Já se faz tardia a ingente tarefa que cabe à Doutrina Espírita de escoimar a mensagem cristã dos enxertos provenientes de diversas origens, para que a Doutrina do Cristo possa penetrar a intimidade do Mulher/mãe As duas primeiras afirmações do texto demonstram claramente como se definia a participação da mulher: aprender em silêncio e submeter-se à autoridade masculina. Em seguida, explicita-se a causa desse posicionamento. Observe-se que a conjunção causal porque inicia a frase. Essa causa está na doutrina judaica da criação do mundo, cujo conteúdo todos nós já conhecemos: o homem feito de barro, a mulher da costela do homem, a aparição da serpente, etc. 13 OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 14 Os caminhos do amor 14 coração humano, realizando a tarefa de libertação tão ansiada. Atentos a essa missão, os Espíritos reveladores retomaram as propostas de Jesus e, em O Livro dos Espíritos, questões 817 a 822, registram-se as informações que deles colheu Allan Kardec acerca da posição da mulher. OS Caminhos do Amor.qxp SOBRE 17/9/2007 17:53 Page 15 A AUTORA: A trajetória espírita de Dalva Silva Souza iniciou-se muito cedo, em Volta Redonda (RJ), onde nasceu no seio de uma família espírita. Construiu sua base de conhecimentos doutrinários na Associação Espírita Estudantes da Verdade, instituição a qual dedicou seus esforços até 1982, quando a família transferiu-se para Vitória (ES). Formada em Letras, trabalhou 26 anos como professora de ensino fundamental e médio em escolas públicas municipais, estaduais e, por último, na Escola Técnica Federal do Espírito Santo, hoje Centro Federal de Educação Tecnológica. OS Caminhos do Amor.qxp 17/9/2007 17:53 Page 16 Dalva foi conselheira e coordenadora de cursos de pesquisa espírita no estado do Espírito Santo. Exerceu outras atividades no Movimento Espírita do estado, notadamente na Comunidade Espírita Esperança, da qual foi vice-presidente na década de 1990 e, por último, na Federação Espírita do Estado do Espírito Santo (FEEES), que presidiu por dois mandatos consecutivos (2001-2007) e onde, atualmente, exerce a função de vice-presidente de Assuntos da Família. É articulista da revista Reformador e de jornais de diversas localidades do Brasil.