UNIÃO DINÂMICA DE FACULDADE CATARATAS FACULDADE DINÂMICA DAS CATARATAS CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL A INFLUÊNCIA DA MATA CILIAR NA QUALIDADE DA ÁGUA EM DOIS RIOS NA ÁREA RURAL DE FOZ DO IGUAÇU - PR PATRICIA EVELYN DA SILVA Foz do Iguaçu - PR 2009 1 PATRICIA EVELYN DA SILVA A INFLUÊNCIA DA MATA CILIAR NA QUALIDADE DA ÁGUA EM DOIS RIOS NA ÁREA RURAL DE FOZ DO IGUAÇU - PR Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora da Faculdade Dinâmica de Cataratas – UDC, como requisito parcial para obtenção de grau de Engenheiro Ambiental. Orientadora: Ednéia Santos de Oliveira Lourenço Foz do Iguaçu – PR 2009 2 TERMO DE APROVAÇÃO UNIÃO DINÂMICA DE FACULDADES CATARATAS A INFLUÊNCIA DA MATA CILIAR NA QUALIDADE DA ÁGUA EM DOIS RIOS NA ÁREA RURAL DE FOZ DO IGUAÇU TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM ENGENHARIA AMBIENTAL Aluna: Patrícia Evelyn da Silva Orientadora: Profª. Ednéia Santos de Oliveira Lourenço Conceito Final Banca Examinadora: Profª. Marlene Cristina de Oliveira Laurindo Prof. Rodrigo Augusto Pelissari Foz do Iguaçu, 17 de novembro de 2009. 3 Dedico este trabalho a minha família, que são os responsáveis pela minha busca constante em querer, diariamente, ser melhor como ser humano do que fui no dia anterior. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço á Deus que sempre esteve ao meu lado, nas minhas quedas, fraquezas, vitórias e derrotas. Aos meus amados pais, Eva e João, por serem o porto seguro da nossa família e por terem me dado um bem inestimável: a educação. Aos meus queridos irmãos, Danielle e Thiago, por me aguentarem nos dias ruins (e olha que foram muitos). A minha orientadora Ednéia Santos de Oliveira Lourenço pelo incentivo e atenção que me concedeu durante a pesquisa. Ao Laboratorista Ronaldo pela paciência e auxilio na elaboração dos ensaios. As minhas grandes amigas Alessandra e Priscila pelo apoio e companheirismo. A minha querida amiga Ana Leda por aquela forcinha no inglês: thank you. Ao meu amigo Cadinho que com grande gesto de bondade e amizade me ajudou nas coletas das amostras. Ao meu amigo Saldi, por compartilhar seus conhecimentos. Aos professores e colegas de curso, pelo gratificante convívio que deixou marcas de amizade e consideração. E a todas as pessoas que sempre acreditaram em minha capacidade. 5 “Verde é toda teoria que liberta a vida”. Rooanet 6 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................ ABSTRACT............................................................................................................. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................. 2.1 Aspectos Gerais................................................................................... 2.2 Água: Um Problema Global................................................................. 2.3 Interação da Mata Ciliar com o Ambiente............................................ 2.4 Legislação............................................................................................ 2.5 Qualidade da Água.............................................................................. 2.5.1 Parâmetros Físicos........................................................................ 2.5.1.1 Turbidez................................................................................... 2.5.1.2 Temperatura............................................................................ 2.5.2 Parâmetros Químicos.................................................................... 2.5.2.1 pH............................................................................................ 2.5.2.2 Nitrogênio................................................................................. 2.5.2.3 Fósforo Total............................................................................ 2.5.2.4 Oxigênio Dissolvido................................................................. 2.5.2.5 Demanda de Oxigênio............................................................. 2.5.3 Parâmetros Biológicos................................................................... 2.5.3.1 Coliformes.................,.............................................................. 3 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................... 3.1 Caracterização da Área de Estudo...................................................... 3.2 Coleta das Amostras............................................................................ 3.3 Análises Físicas, Químicas e Microbiológicas..................................... 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 5 CONCLUSÃO...................................................................................................... REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 8 9 10 12 12 15 17 19 20 21 22 22 23 23 24 25 25 26 28 28 30 30 33 35 37 41 42 7 LISTA DE FIGURAS Página Figura 1: Rio Brilhante............................................................................................. Figura 2: Rio XJ8..................................................................................................... Figura 3: Pontos de coleta dos rios.......................................................................... Figura 4: Coleta de água.......................................................................................... Figura 5: Frascos identificados com os pontos de coleta........................................ Figura 6: Leitura da Temperatura............................................................................ 32 32 33 34 35 36 8 SILVA, Patricia Evelyn da. A influência da mata ciliar na qualidade da água em dois rios na área rural de Foz do Iguaçu - PR. Foz do Iguaçu, 2009. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Engenharia Ambiental) - Faculdade Dinâmica de Cataratas. RESUMO A água é um recurso natural imprescindível para o planeta, porém o uso irracional desse recurso e a degradação dos mananciais estão diminuindo a sua quantidade e qualidade. Os desmatamentos da mata ciliar com a ocupação do solo para agricultura e pecuária estão entre as principais causas da deterioração da água, sendo assim o presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da mata ciliar na qualidade da água através de parâmetros físicos, químicos e microbiológicos de dois rios pertencentes à microbacia do rio São João. O estudo foi desenvolvido nos rios Brilhante e XJ8, afluentes do rio São João, área rural do município. O rio Brilhante possui mata ciliar em toda sua extensão, que varia ao longo do rio de 30 a 1.000 metros e o rio XJ8 possui uma mata ciliar que varia de 0 a 6 metros. Foram selecionados dois pontos em cada um dos rios para a coleta das amostras e avaliado os seguintes parâmetros: pH, temperatura, turbidez, fósforo, nitrato, DBO, DQO, OD e coliformes. Os resultados mostraram que o rio Brilhante classifica-se segundo a resolução do CONAMA 357/2005 como rio classe 1, tendo melhor qualidade que o rio XJ8 enquadrado como rio classe 3, indicando que a mata ciliar é um mecanismo eficiente na manutenção da qualidade da água. Palavras-Chave: Recursos Hídricos – Degradação da Água – Desmatamento. 9 SILVA, Patrícia Evelyn da. The influence of riparian woodlands in quality of water in two rivers in the rural area of Foz do Iguaçu – PR. Foz do Iguaçu, 2009. Graduation Final Paper. Graduation in Ambiental Engineering. Faculdade Dinâmica de Cataratas. ABSTRACT The water is an essencial natural resource for the planet, however the irrational use of this resource and degradation of rivers are diminishing its quantity and quality. The deforestation of riparian woodlands with the use of soil for both agriculture and cattle raising are among the main causes of deterioration of water, and considering this, the present study has the goal to evaluate the influence of riparian woodlands in quality of water through physical, chemical and microbiological parameters in two rivers of the micro bay of river São João. The study was developed in river Brilhante and river XJ8, affluents of river São João, in the rural area of the municipality. River Brilhante has riparian woodlands in all its extension, varying from 30 to 1.000 meters throughout the river and river XJ8 has a riparian woodlands that varies from 0 to 6 meters. Two points in each river were chosen to the collection of samples and were evaluated the following parameters: pH, temperature, muddiness, phosphorus, nitrate, DBO, DQO, OD and coliforms. The results demonstrate that river Brilhante is classified as river class 1, according to CONAMA´s resolution n. 357/2005, which had better quality than river XJ8, classified as river class 3, revealing that riparian woodlands are efficient mechanisms in water quality management. Keywords: Water Resources – Water Degradation – Deforestation. . 10 INTRODUÇÃO A água é um recurso natural de grande importância ao planeta. Mais que um insumo imprescindível à produção e ao desenvolvimento econômico, ela é vital para a manutenção dos ciclos biológicos, geológicos e químicos que mantêm em equilíbrio os ecossistemas, porém o uso irracional desse recurso e a degradação dos mananciais estão diminuindo a sua quantidade e qualidade. O crescimento da população, das atividades industriais e agropecuárias são as principais causas da deterioração da qualidade da água nos mananciais. O desmatamento da mata ciliar com a ocupação do solo para agricultura e pecuária é cada vez mais freqüente, porém sabe-se que as matas ciliares servem como proteção aos mananciais tendo relação direta com a qualidade da água. 11 Os estudos sobre qualidade da água nos mananciais são importantes para que a partir das informações levantadas possa ter um melhor conhecimento das verdadeiras influências de cada processo de degradação nos mananciais podendo no futuro intervir diretamente no problema. Sendo assim o presente estudo teve como objetivo avaliar a influência da mata ciliar na qualidade da água através das analises físicas, químicas e microbiológicas de dois rios pertencentes à microbacia do rio São João. 12 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Aspectos Gerais Recurso natural é considerado qualquer insumo que os organismos, populações e ecossistemas necessitem para sua manutenção, eles podem ser classificados em renováveis e não renováveis. Os recursos renováveis são aqueles que, depois de serem utilizados, ficam disponíveis novamente, a água é um exemplo de recurso renovável. Os recursos não renováveis, uma vez utilizados, não podem ser reaproveitados. Um exemplo de recurso não renovável são os combustíveis fosseis (BRAGA et al., 2005). O homem a partir da década de 1950 tem interferido nos ecossistemas de maneira drástica, sendo a água um dos recursos naturais que mais tem sofrido impactos da ação humana (REIS et al, 2005). 13 A água possui um papel fundamental no ambiente e na vida humana, nada a substitui e sem ela a vida não existe. A água é um dos recursos minerais mais abundantes da terra. Di Bernardo e Dantas (2005) afirmam que a água no planeta é distribuída em 95% de água salgada e 5% de água doce, sendo 99,7% da água doce encontrada nas geleiras e 0,3% disponíveis, de forma subterrânea ou superficial. O Brasil possui 8% da água doce disponível do mundo. De acordo com Braga et. al. (2005), a água encontra-se principalmente em estado líquido, sendo constantemente renovada pelo ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico nada mais é do que a circulação da água na terra. Zilberman (1997) define o ciclo hidrológico como um sistema físico quase estável e auto reguláveis da qualidade da água, no qual a água é constantemente transportada da atmosfera para um recurso hídrico e do recurso hídrico para a atmosfera. Os recursos hídricos encontram-se em mananciais, Zilberman (1997) define manancial como “qualquer corpo d’água superficial ou subterrânea, utilizado para o abastecimento humano, industrial, animal ou para irrigação”, sendo de extrema importância a sua preservação. Mata ciliar, segundo Fornari (2001) é “a vegetação que ocorre ao longo dos rios, exercendo influência direta no regime deles”, servindo de proteção aos mananciais. Desse modo Neto (2008) define que a margem dos rios, córregos, lagos, reservatórios, nascentes, topos dos morros, montanhas acima de 1800 metros de altitude, restingas e manguezais responsáveis pelo bem estar da população, preservação da biodiversidade e proteção aos solos são consideradas áreas de preservação permanente, portanto protegidos por lei. 14 As matas ciliares desempenham importantes funções ecológicas e hidrológicas na bacia hidrográfica, melhorando a qualidade da água, permitindo uma melhor regularização dos recursos hídricos, dando estabilidade aos solos e promovendo o melhor desenvolvimento, sustentação e proteção da fauna ribeirinha e dos organismos aquáticos (ROSA, 1991 apud BORGHI et al., 2004). Rodrigues e Leitão Filho (2001) apontam que as formações arbóreas da mata ciliar variam de acordo com a região onde se encontram e a vegetação que predomina no local. Podendo ser encontradas do Norte ao Sul do Brasil, a mata ciliar apresenta uma notável diversidade vegetal. Toda a floresta considerada mata ciliar têm uma estrutura e funcionalidade ecossistemática, aparentemente similar. Porém, elas diferem entre si, pela sua composição taxonômica, conforme o domínio, a região e até a altitude em que são encontradas. Considerada pelo Código Florestal Federal como "área de preservação permanente", com diversas funções ambientais, as matas ciliares devem respeitar uma extensão específica de acordo com a largura do rio, lago, represa ou nascente, segundo a Lei Federal N°4.771/65. As bacias hidrográficas são definidas como as áreas drenadas por um sistema de drenagem inter-relacionado, controlado por um divisor que drena água, material sólido e dissolvido para um recurso hídrico, seja ele um rio, lago, reservatório ou oceano, portanto integram uma visão conjunta do comportamento das atividades humanas e condições naturais desenvolvidas no local. As características da bacia hidrográfica podem contribuir para os desequilíbrios ambientais e é essencial o conhecimento do potencial real de seu uso para conservar um ambiente totalmente equilibrado (STRASSBURGUER, 2005). 15 Todos os organismos dependem dos recursos hídricos para manutenção da vida e ela é, ainda, base para todas as atividades econômicas. Os principais usos da água são: abastecimento doméstico, abastecimento industrial, irrigação, dessedentação de animais, preservação da flora e da fauna, recreação e lazer, criação de espécies, geração de energia elétrica, navegação, harmonia paisagística, diluição e transporte de despejos (SPERLING, 2005). A Tabela 01 apresenta uma estimativa do uso per capita de água no Brasil, dividido em setores, e também em alguns países a título de comparação. Tabela 01 – Uso de água no Brasil e nos países selecionados em m³/habitante a cada ano Países Estados Unidos Itália Espanha Alemanha Japão Portugal(2) França Inglaterra Brasil Ano de Abastecimento Irrigação Indústria Refrigeração (1) referência Urbano de centrais termelétricas 1985 1987 1991 1990 1987 1990 1988 1990 1980 218 139 113 79 132 58 108 132 83 734 564 608 4 504 388 87 31(3) 134 128 140 49 30 88 24 79 17 65 726 123 116 534 0 272 395 47 0 Total 1.861 984 947 751 731 738 669 281 282 A soma dos quatro setores não equivale ao consumo total, porque não foram incluídos o consumo para uso agrícola e outros. (1) Demanda industrial inclui refrigeração, no caso dos Estados Unidos, Japão,França e Espanha; no caso do Brasil e Japão, o valor inclui também refrigeração de centrais termelétricas. (2) Os valores por setor somados são maiores que o total, devido a dupla contagem de algumas demandas setoriais. (3) Inclui apenas irrigação por aspersão. Fonte: REBOUÇAS, 1999 adaptado por REIS et. al, 2005. 2.2 Água: Um Problema Global A água é um recurso esgotável e apesar de todos os esforços para armazená-la e diminuir o seu consumo, a água está se tornando um bem escasso, e 16 sua qualidade se deteriora cada vez mais rápido (FREITAS et. al., 2001). As alterações na qualidade da água foram ocasionadas pelo crescimento populacional associado ao desenvolvimento urbano, industrial e rural (PAZ et al. 2003). A exploração desse recurso natural, até pouco tempo de forma inadequada, serviu como motor para o desenvolvimento de muitos países, seja para a agricultura, geração de energia, na indústria, entre outros setores. Atualmente alguns países fazem um controle rigoroso no consumo da água e de sua contaminação, através da implantação de políticas nacionais de recursos hídricos, estabelecendo normas e padrões para a gestão da mesma, sendo vista como um bem econômico (REIS et al.,2005). Apesar das fontes hídricas serem abundantes mundialmente, são freqüentemente mal distribuídas na superfície do planeta. Existem áreas que as retiradas são tão elevadas em comparação com a oferta, que a disponibilidade superficial de água está sendo reduzida e os recursos subterrâneos ligeiramente esgotados. Além da escassez da água, que é grave em muitas regiões, deve-se considerar também a questão da poluição de recursos hídricos. A degradação por processos de eutrofização, metais pesados, acidificação, poluentes orgânicos e outros efluentes tóxicos em áreas densamente povoadas, compromete a qualidade da água (BERNARDI, 2003). O saneamento precário e a ausência de esgoto tratado podem contaminar por agentes patogênicos as águas da superfície e subterrâneas, trazendo ao homem doenças como disenteria amebiana, cólera, tifo, entre outros. As doenças causadas pela veiculação hídrica são responsáveis por 1,7 milhão de mortes cada ano (CLARKE E KING, 2005). 17 A contaminação dos mananciais pode ser de fontes pontuais ou difusas, as primeiras são aquelas que podem ser identificadas, tratadas e dominadas, como esgoto doméstico, industriais e de animais criados de forma intensiva, enquanto as difusas derivam de um grande número de fontes pontuais individuais, consistindo em difícil controle (GONÇALVES et al. 2005). A quantidade de água no planeta é constante, portanto sua disponibilidade especifica tende a diminuir com o aumento da população e adotar estratégias que possibilitem minimizar riscos potenciais associados a sua escassez como preservação dos recursos hídricos, uso racional e cobrança pelo uso são de extrema importância (MIERZWA E HESPANHOL, 2005). 2.3 Interação da Mata Ciliar com o Ambiente A mata ciliar possui várias funções que abrange a proteção da paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, até assegurar o bem estar das populações, não se desvinculando das funções de preservação dos recursos hídricos e proteção do solo (NETO, 2008). Além das raízes servirem como estabilizador das margens, evitando a erosão do solo, a mata ciliar abastece o rio com material orgânico proveniente das folhas e frutos que caem na água. As copas das árvores atenuam a incidência de radiação solar diminuindo a temperatura e aumentando a umidade do local proporcionando melhor desenvolvimento da biodiversidade (COVATTI, 2006). 18 A presença de vegetação ciliar ao longo dos rios eleva a absorção da água e a dissipação da energia carreada pela força de queda da chuva contribuindo significativamente para o balanço hídrico do local (NETO, 2008). As matas ciliares têm papel de barreira física entre ambiente terrestre e aquático, possuindo a função de filtro da água do escoamento do entorno, onde ficam retidos sedimentos, produtos tóxicos e nutrientes eutrofizantes (NIEWEGLOWSKI, 2006). A qualidade de vida das populações está ligada à mata ciliar não apenas pelas funções ambientais, mas também pelas funções sociais, proporcionando o enriquecimento cultural, histórico, educativo e científico. De forma utilitária a mata ciliar pode trazer benefícios econômicos, pela estética natural, motivando o ecoturismo, lazer e ainda a serventia de fornecer cura para algumas doenças tendo em sua composição plantas medicinais (NETO, 2008). Em um estudo sobre a influência da mata ciliar sobre a qualidade da água do Ribeirão Aurora, no município de Astorga, Paraná, Veiga et al. (2003) afirma que os fragmentos remanescentes de vegetação natural atuaram como mecanismo eficiente na preservação da qualidade da água. Strassburguer (2005) em seu estudo de uso da terra nas bacias hidrográficas do rio do Peixe e do rio Pelotas e sua influência na limnologia do reservatório da UHE-ITÁ (RS/SC) conclui que apesar dos percentuais de uso do solo das bacias não possuir grandes diferenças, a bacia hidrográfica do rio do Peixe apresenta maior facilidade de degradação ambiental no ambiente terrestre e consequentemente o ambiente aquático, por grande parte do relevo estar ocupada com campo e agricultura. 19 2.4 Legislação Com a grande importância da água para o desenvolvimento de diversas atividades humanas, foi indispensável criar normas que disciplinassem a utilização dos recursos hídricos pelos diversos segmentos da sociedade. Os órgãos federais e estaduais estabelecem também padrões de qualidade para os recursos hídricos e para a emissão de efluentes (MIERZWA E HESPANHOL, 2005). O Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934, Código de Águas, foi uma das primeiras a tratar especificamente da água, definindo os seus vários tipos no território nacional, os critérios de aproveitamento e abordar a contaminação dos corpos d’ água. A Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, trata da classificação das águas doces, salobras e salinas do País de acordo com sua utilização e respectivos padrões de qualidade, também regulamenta os procedimentos para o lançamento de efluentes nos corpos d’ água e define as concentrações máximas de algumas substâncias. A Lei Federal 9.433, de 8 de janeiro de 1997, institui a Política Nacional dos Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos que trata das questões relacionadas à outorga de direitos de uso e a cobrança do uso dos recursos hídricos. A lei também integra alguns conceitos relacionados ao desenvolvimento sustentável, sobre o uso racional dos recursos hídricos e o reconhecimento dos recursos naturais como bens econômicos. A Lei 9.984, 17 de julho de 2000, do Ministério do Meio Ambiente, criou a Agencia Nacional de Águas (ANA). Supervisionar o cumprimento da 20 legislação pertinente aos recursos hídricos, fiscalizar os usos e elaborar estudos técnicos dos valores a serem cobrados pelo uso dos recursos hídricos são algumas das competências estabelecidas a ANA. A Lei de Crimes Ambientais nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas lesivas ao meio ambiente. A seção lll do Capítulo V define como crime os processos que causam poluição de qualquer natureza, que resultem ou possam resultar em danos a saúde humana, ou provoquem mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Os responsáveis pelos crimes de poluição hídrica estão sujeitos a penas de reclusão que podem variar de um a cinco anos. 2.5 Qualidade da Água A escassez de água não se deve apenas a diminuição da sua quantidade, mas também devido a sua má qualidade disponível para o consumo, principalmente em aglomerados urbanos. A qualidade da água é determinada pelos diferentes usos e ocupação dos solos em torno das bacias hidrográficas e áreas de mananciais (REIS et al., 2005). Para Vazhemin (1972) apud Donadio et. al. (2005) além dos diferentes usos e ocupação dos solos outros fatores como o clima, a cobertura vegetal, a topografia e a geologia, também podem influenciar a qualidade da água. As alterações climáticas têm também um papel relevante na quantidade e qualidade da água, promovendo inúmeras mudanças na sua disponibilidade e na saúde da população humana através de desastres, como 21 enchentes ou secas intensas comprometendo a segurança alimentar e contaminações agravados por salinização e descontrole nos usos do solo (TUNDISI, 2008). Segundo Reis et al. (2005) a água deve possuir um nível de qualidade para cada necessidade de uso. Para o consumo humano e animal a água precisa apresentar características sanitárias e toxicológicas adequadas, já para os usos menos nobres como lavagem de carros, calçadas e geração de energia elétrica, os requisitos de qualidade são menos restritivos. Várias ações humanas têm afetado a qualidade da água, como por exemplo, a mineração, os despejos de resíduos, irrigação, geração de energia elétrica e desmatamento da mata ciliar (REIS et al.). Segundo Braga et. al. (2002) o uso das áreas naturais e do solo para a agricultura, pecuária e loteamentos contribuíram para o desmatamento da mata ciliar, chegando a muitos casos na sua ausência. Algumas conseqüências da ausência da mata ciliar são: a erosão, o assoreamento do solo, eutrofização, carreamento de partículas de resíduos tóxicos ao manancial, entre outros (SKORUPA, 2003). Richter e Netto (1991) defendem que para a água ser utilizada deve satisfazer os critérios recomendados ou os padrões que tenham sido fixados para o determinado uso. A qualidade da água pode ser representada através de diversos parâmetros, que traduzam as suas principais características físicas, químicas e biológicas. 2.5.1 Parâmetros Físicos 22 As características físicas da água têm pouca importância sanitária e são fáceis de determinar, sendo as principais: cor, turbidez, condutividade elétrica, temperatura, sabor e odor (DI BERNARDO e DANTAS, 2005). 2.5.1.1 Turbidez A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água, conferindo uma aparência turva á mesma, tendo como responsáveis os sólidos em suspensão, constituídos por plâncton, bactérias, argilas, silte em suspensão, fontes de poluição que lançam materiais finos e outros (SPERLING, 2005). A alta turbidez reduz a fotossíntese de vegetação enraizada submersa e algas. Esse desenvolvimento reduzido de plantas pode, por sua vez, suprimir a produtividade de peixes. Logo, a turbidez pode influenciar nas comunidades biológicas aquáticas. Além disso, afeta adversamente os usos doméstico, industrial e recreacional de um corpo hídrico. De modo geral águas cristalinas apresentam turbidez < 10 NTU (unidades nefelométricas de turbidez) e as águas muito turvas turbidez > 20 NTU (FATMA, 1999 e BRITISH COLUMBIA, 1998 apud NIEWEGLOWSKI, 2006). 2.5.1.2 Temperatura 23 A temperatura da água tem importância por sua influência sobre outras propriedades: acelera reações químicas, reduz a solubilidade dos gases, acentua a sensação de sabor e odor (RICHTER e NETTO, 1991). A temperatura pode influenciar vários processos físicos, químicos e biológicos, causando alteração na densidade e viscosidade tendo com conseqüência alteração na velocidade de sedimentação com a elevação ou queda da temperatura. Em águas doces com a pressão atmosférica normal, o aumento da temperatura diminui as concentrações de saturação de oxigênio (SANTA CATARINA, 1998 apud CREPALLI, 2007). 2.5.2 Parâmetros Químicos As características químicas da água são de grande importância sanitária, algumas análises como determinação de cloretos, nitritos e nitratos permitem avaliar o grau de poluição do manancial (RICHTER e NETTO, 1991). 2.5.2.1 pH O Potencial Hidrogeniônico (pH) representa a concentração de íons hidrogênio H+, dando uma indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água. A faixa de pH é de 0 a 14 (SPERLING, 2005). Os valores de variação do pH da maioria dos corpos hídricos está entre 6 a 8, porém podem-se encontrar ambientes mais ácidos ou alcalinos. Quando 24 um ecossistema aquático apresentar valores de pH baixo, significa que há altas concentrações de ácidos orgânicos e com elevados valores de pH significa balanço hídrico negativo, ou seja, evaporação é maior que a precipitação (ESTEVES, 1998). 2.5.2.2 Nitrogênio O nitrogênio na biosfera se alterna no seu ciclo, em várias formas e estados de oxidação. No meio aquático pode ser encontrado nas seguintes formas: nitrogênio molecular, nitrogênio orgânico, amônia, nitrito e nitrato. O nitrogênio é essencial para o crescimento de algas, mas em altas concentrações pode causar a eutrofização do manancial. A presença excessiva de nitrato pode causar doenças como a metahemoglobinemia (síndrome do bebê azul) e a amônia livre é diretamente tóxica aos peixes. A determinação da forma do nitrogênio num manancial pode fornecer informações sobre o estágio da poluição (SPERLING, 2005). O enriquecimento com nutrientes e a eutrofização podem causar muitas alterações nas populações e comunidades aquáticas. As formas antrópicas de Nitrogênio incluem os efluentes domésticos e industriais, fossas sépticas, escoamento superficial da agricultura e urbano, percolados de aterros sanitários ou outros depósitos, óxido nítrico e dióxido de nitrogênio de escapamentos de veículos. Enfim, todas as formas de nitrogênios inorgânicos lançados no ambiente têm potencial para nitrificação (CANADÁ, 2003 apud NIEWEGLOWSKI, 2006). Crepalli (2007) ao realizar um estudo da qualidade da água do rio Cascavel encontrou valores que variavam entre 0 a 0,3 mg/l de nitrato, tendo os 25 maiores valores nas áreas rurais devido as práticas agrícolas, exposição do solo por cobertura de pouca proteção efetiva e a aplicação de fertilizantes. 2.5.2.3 Fósforo Total O fósforo não apresenta problemas sanitários, é um elemento essencial para o crescimento das algas e em elevadas concentrações pode levar a eutrofização do manancial. O fósforo também é indispensável para o crescimento dos microorganismos responsáveis pela estabilização da matéria orgânica. Os valores de fósforo total que podem ser usados como indicativos de eutrofização nos rios são: P<0,02 mg L-1 – não eutrófico; P entre 0,02 a 0,05 mg L-1 – estágio intermediário e P>0,05 mg L-1 – eutrófico (SPERLING, 2005). Gonçalves et al. (2005) ao estudar a qualidade da água numa microbacia hidrográfica de cabeceira situada em região produtora de fumo, encontrou altas concentrações de fósforo na água, uma média de 0,17 mg/l. Esse resultado indicou altos teores de fósforo no solo conseqüência da adubação fosfatada para a cultura de fumo, concluindo que o manejo inadequado do solo e o uso indiscriminado dos fertilizantes estavam entre os principais fatores da degradação hídrica do local. 2.5.2.4 Oxigênio Dissolvido 26 O oxigênio dissolvido (OD) é indispensável para os organismos aeróbios. Na estabilização da matéria orgânica as bactérias utilizam o oxigênio no processo de respiração, o que pode vir a causar uma redução da sua concentração no manancial. Caso a magnitude desse fenômeno seja grande podem vir a morrer diversos seres aquáticos. O oxigênio dissolvido é o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da poluição das águas por despejos orgânicos (SPERLING, 2005). O oxigênio dissolvido varia com a temperatura e a altitude e quanto maior for sua concentração, melhor será a qualidade da água (MACÊDO, 2000). No estudo desenvolvido por Iost (2008) sobre a produção de sedimentos e qualidade da água de uma micro bacia hidrográfica rural, encontrou valores entre 1,9 e 8,7 mg/l tendo alguns valores abaixo do limite permitido pela Resolução CONAMA 357/05 que é de 5 mg/l. Observou-se também que o oxigênio dissolvido apresentou maior concentração nas temperaturas mais baixas. 2.5.2.5 Demanda de Oxigênio Os compostos orgânicos, em sua maioria, são instáveis e podem ser oxidados biologicamente e quimicamente, portanto a matéria orgânica tem necessidade de oxigênio, denominada demanda que pode ser: demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO). A DBO é a medida de quantidade de oxigênio necessário para o metabolismo das bactérias aeróbias que destroem a matéria orgânica e a DQO permite a avaliação da carga de poluição de esgoto doméstico ou industrial em termos de quantidade de oxigênio necessário 27 para a sua total oxidação em dióxido de carbono e água (RICHTER e NETTO, 1991). Os valores da DQO normalmente são maiores que os da DBO. A DQO e muito útil quando utilizada conjuntamente com a DBO para observar a biodegradabilidade de despejos. Como na DBO mede-se apenas a fração biodegradável, quanto mais este valor se aproximar da DQO significa que mais facilmente biodegradável será a amostra analisada (CETESB, 2001). Carvalho et al. (2008) ao avaliar a qualidade das águas do córrego São Pedro, em Juiz de Fora/MG observou nos resultados que em todos os pontos a DBO ficou acima do limite máximo permitido pela Resolução do CONAMA 357/20005 para rios classe 2, demonstrando que a quantidade de matéria orgânica introduzida no córrego é maior que sua capacidade de assimilação. A DQO não possui limites máximos permissíveis em nenhuma legislação. Os valores de DQO encontrados por Nieweglowski (2006) em um estudo sobre os indicadores de qualidade da água na bacia hidrográfica do rio Toledo, variaram de 0 a 35 mg/l tendo um grande aumento nos valores devido à contribuição do uso agrícola do solo. A relação DBO/DQO com valores próximos a 0,5 pode ser esperada para rios que recebem esgotos oriundos de varias fontes (doméstica, comercial e industrial) que potencialmente contribuem tanto com compostos biodegradáveis quanto com uma parcela de compostos orgânicos de difícil degradação biológica. Os valores de 0,8 sugerem a existência de uma parcela biodegradável e são mais característicos de rios que recebem quase que unicamente esgotos domésticos (Nieweglowski 2006). 28 2.5.3 Parâmetros Biológicos As características biológicas das águas são determinados por meio de exames bacteriológicos que constituem um elemento auxiliar na interpretação de outras análises como no que se refere a poluição das águas (DI BERNARDO e DANTAS, 2005). 2.5.3.1 Coliformes Os coliformes fecais são bactérias que normalmente habitam no intestino dos animais superiores e a sua presença indica a possibilidade de contaminação da água por organismos patogênicos, porém nem toda água que contenha coliformes é contaminada, existem os coliformes totais que tem a sua origem do solo e como tal, podem veicular doenças de transmissão hídrica (RICHTER e NETTO, 1991). As principais maneiras de contaminação por coliformes fecais nos recursos hídricos estão os lançamentos de esgoto sem tratamento prévio, em rios e lagos, construção de aterros sanitários que afetam os lençóis freáticos e o arraste de excretas humanas e de animais durante a chuva (ALESSIO e MOURA, 2007). Num estudo de determinação de coliformes totais e fecais na água do Lago Municipal de Cascavel, Buzanello et al. (2008) concluiu que 31, 25 % das amostras foram consideradas impróprias para o consumo humano, pois excederam o limite da Resolução CONAMA 357/2005 de 1.000 coliformes fecais por 100 ml de 29 água. Louzada e Fonseca (2002) ao avaliarem a qualidade da água do rio Timbuí tendo como referência o grupo de coliformes concluíram que os parâmetros físico-químicos confirmaram os resultados microbiológicos, quanto maior a DBO, DQO e turbidez, maior foi o número de coliformes encontrados. 30 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Caracterização da Área de Estudo O município de Foz do Iguaçu situa-se no extremo Oeste do Paraná, na fronteira com os países Paraguai e Argentina. A classificação climática da região é subtropical úmido, mesotérmico, sem estação seca, verões quentes e chuvas em todos os meses do ano (SANTOS et al., 1993). As principais classes de solo encontradas na região são os Latossolos Vermelhos e Nitossolos Vermelhos, férricos (LEPSCH, 2002). O município é limitado pelos dois maiores rios do Estado: Paraná e Iguaçu. Seus afluentes formam o sistema de drenagem natural. Dentre eles podem ser destacadas nove micro bacias hidrográficas: rio Tamanduá, córrego Carimã, rio São João, sendo afluentes do rio Iguaçu e rios Almada, M'Boicy, O'Coi, Cuê, Guabiroba, 31 Monjolo, afluentes do rio Paraná. Dos três rios principais que deságuam no rio Iguaçu, um dos maiores é o rio São João, cuja nascente situa-se fora dos limites do município (SANTOS et al., 1993). Os rios Iguaçu e Paraná desempenham importantes papéis no desenvolvimento Municipal, o rio Iguaçu pelo elevado interesse turístico e o Paraná pelo seu grande potencial hidrelétrico (SANTOS et al., 1993). O estudo foi desenvolvido nos rios Brilhante e XJ8, afluentes do Rio São João, área rural do Município. O rio Brilhante tem uma extensão de 2.640 metros nos quais 100% estão totalmente protegidos por mata ciliar, que ao longo do rio varia de 30 a 1.000 metros. O rio XJ8 tem uma extensão de 2.000 metros e sua mata ciliar tem variação de 0 a 6 metros. Em algumas áreas onde deveria estar à mata ciliar do rio XJ8 é ocupada por cultura de soja. A Figura 1 e 2 mostram a localização do rio Brilhante e do rio XJ8 respectivamente. 32 Fonte: Google Earth, 2009. Figura 1: Rio Brilhante. Fonte: Google Earth, 2009. Figura 2: Rio XJ8. 33 3.2 Coleta das Amostras Foram selecionados dois pontos de coleta em cada um dos rios totalizando quatro amostras, esses pontos foram enumerados de 1 a 4.. Os pontos 1 e 2 correspondem aos locais de coleta do rio Brilhante, sendo o ponto 1 próximo da nascente e o ponto 2 próximo da foz. Os pontos 3 e 4 são os locais de coleta do rio XJ8. No ponto 3, que fica próximo a nascente, existe uma mata ciliar de 3 metros de largura sendo o restante dos 30 metros ocupado por cultura de soja. O ponto 4 refere-se ao local próximo a foz, sendo ausente de mata ciliar e o solo característico de banhado. A área destinada à mata ciliar foi isolada recentemente, pois há no local criação de gado. A Figura 3 apresenta os pontos de coleta dos dois rios. Fonte: Google Earth, 2009. Figura 3: Pontos de coleta dos rios. 34 As coletas foram realizadas no dia 25 de setembro de 2009, de acordo com a NBR 9898/1987. A Figura 4 mostra o momento da coleta. Figura 4: Coleta de água. O volume coletado foi armazenado nos frascos devidamente identificados com o número do ponto de coleta. Os frascos foram acondicionados na bolsa térmica e encaminhados ao laboratório para as análises. A Figura 5 mostra a identificação dos frascos. 35 Figura 5: Frascos identificados com os pontos de coleta. 3.3 Análises Físicas, Químicas e Microbiológicas Para determinar a influência da mata ciliar na qualidade da água dos dois rios foram avaliados os seguintes parâmetros: a) Físicos: pH utilizando um phmetro, temperatura medida com um termômetro in loco e turbidez através do método nefelométrico; b) Químicos: fósforo, nitrato, demanda química de oxigênio, demanda bioquímica de oxigênio e oxigênio dissolvido através do Standard Methods for the examination of water and wastewater (APHA, 1998); c) Microbiológicos: coliformes totais e fecais segundo o método de membrana filtrante. Os parâmetros turbidez, oxigênio dissolvido, oxigênio consumido, 36 demanda bioquímica de oxigênio, demanda química de oxigênio, fósforo total e coliformes fecais e totais, foram realizadas no laboratór io de Q uímica e Saneamento, situado na União Dinâmica de Faculdades Cataratas - UDC. A temperatura foi analisada in loco, como mostra a Figura 6. A determinação de nitrato foi realizada no laboratório Laborfoz localizado na Rua Belarmino de Mendonça n° 397 Centro. Figura 6 – Leitura da Temperatura. 37 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises físico-químicas e microbiológicas do Rio Brilhante são apresentados na Tabela 2 e do rio XJ8 na Tabela 3. Tabela 2 – Resultado das análises físico-químicas e microbiológicas do Rio Brilhante. Parâmetros Temperatura pH Turbidez Fósforo Total Nitrato DBO Oxigênio Dissolvido DQO Coliformes Fecais Pontos 1 2 CONAMA 357/2005* 20,1º C 6,72 7,33 UNT 0,01 mg/l 0,8 mg/l 0,25 mg/l 10 mg/l 5 mg/l 100 NMP/100 ml 20,4º C 6,59 13,62 UNT 0,01 mg/l 0,9 mg/l 1,1 mg/l 10 mg/l 5 mg/l 200 NMP/100 ml 6a9 até 40 UNT < 0,025 mg/L até 10 mg/L até 3 mg/L > 6 mg/L 200 NMP/ 100 ml Coliformes Totais 100 NMP/100 ml 300 NMP/100 ml * Resolução do CONAMA 357/2005 com os limites permitidos para rios classe 1. - 38 Tabela 3 – Resultado das análises físico-químicas e microbiológicas do Rio XJ8. Parâmetros Pontos Temperatura pH Turbidez Fósforo Total Nitrato DBO Oxigênio Dissolvido DQO Coliformes Fecais Coliformes Totais 3 4 CONAMA 357/2005* 21,8º C 7 11,10 UNT 0,03 mg/L 1,0 mg/L 0,72 mg/L 8 mg/L 10 mg/L 900 NMP/100 ml 22,5º C 6,54 27,18 UNT 0,043 mg/L 1,3 mg/L 3,5 mg/L 6 mg/L 17 mg/L 1.100 NMP/100 ml 6a9 até 40 UNT < 0,025 mg/L até 10 mg/L até 3 mg/L > 6 mg/L 200 NMP/100 ml 1.000 NMP/100 ml 800 NMP/100 ml - * Resolução do CONAMA 357/2005 com os limites permitidos para rios classe 1. Os pontos 1 e 2 do rio Brilhante apresentaram temperatura inferior aos dos pontos 3 e 4 do rio XJ8, isto confirma que a presença da mata ciliar atenuam a incidência de radiação solar diminuindo a temperatura do local (COVATTI, 2006). Os valores de pH dos rios variaram entre 6,54 e 7 estando dentro dos limites permitidos da Resolução do CONAMA 357/2005, sendo que a mata ciliar não foi um fator relevante ao pH. Foi constatado em todos os pontos avaliados que o parâmetro turbidez não ultrapassou os limites estabelecidos de 40 UNT. A turbidez no ponto 1 do rio Brilhante pode ser considerado como água cristalina, pois apresenta valor < 10 UNT e o ponto 4, referente ao rio XJ8, como água muito turva por possuir turbidez > 20 UNT (FATMA, 1999 e BRITISH COLUMBIA, 1998 apud NIEWEGLOWSKI, 2006). O parâmetro fósforo total apresentou valor mínimo nos pontos 1 e 2 e máxima no ponto 4. A Resolução do CONAMA 357/2005 permite o valor de 0,025 mg/L de fósforo estando as amostras 3 e 4 do rio XJ8 fora dos limites permitidos 39 para rios classe 1. Os valores de fósforo total encontrados nos pontos 3 e 4 podem ser considerados como estágio intermediário de eutrofização que de acordo com Sperling (2005), esse estágio está entre os valores 0,02 a 0,05 mg/L. A concentração de nitrato variou entre 0,8 a 1,3 mg/L sendo permitido até 10 mg/L. Os maiores valores de nitrato foram encontrados nos pontos 3 e 4 do rio XJ8 onde a área destinada à mata ciliar é ocupada por culturas agrícolas, concordando com os estudos de Crepalli (2007) que registrou um aumento nos valores de nitrato nas áreas rurais devido às práticas agrícolas, exposição do solo por cobertura de pouca proteção efetiva e a aplicação de fertilizantes que contém em sua composição o nitrogênio. O maior valor de DBO encontrado foi de 3,5 mg/L no ponto 4 do rio XJ8 ficando acima do valor permitido. O estudo de Carvalho et al. (2008) também encontrou valores acima do limite permissível, concluindo que a matéria orgânica introduzida na água não são totalmente assimiladas pelo rio. No parâmetro oxigênio dissolvido os pontos 1 e 2 apresentaram valores de 10 mg/L e nos pontos 3 e 4 valores de 8 e 6 mg/L respectivamente, estando dentro dos padrões permitidos. Pode-se observar que o menor valor encontrado está exatamente onde à temperatura apresenta valor mais elevado. Iost (2008) observou a mesma relação em seu estudo, o oxigênio é solubilizado com o aumento de temperatura. Os valores de DQO permaneceram os mesmos nos pontos 1 e 2 do rio Brilhante, porém no rio XJ8 nota-se um aumento do ponto 3 para 4 podendo ser explicado por boa parte da área de mata ciliar desse rio ser ocupada por cultura de soja. Os resultados assemelham-se aos encontrados por Nieweglowski (2006) que 40 ao analisar o parâmetro DQO em áreas com uso agrícola também notou o mesmo aumento. A relação DBO/DQO apresentou valores 0,05 a 0,20 não atingindo valores próximos de 0,5 que de acordo com Nieweglowski (2006) contém compostos orgânicos de difícil degradação biológica. Os valores de coliformes fecais nos pontos 1 e 2 ficaram dentro dos valores permitidos, porém os pontos 3 e 4 ultrapassaram o limite permitido para rios classe 1 que é de 200 NMP/100ml e o ponto 4 também ultrapassou o valor permitido para rios classe 2 que é de 1.000 NMP/100 ml sendo imprópria para o consumo humano (BUZANELLO et al., 2008). Os coliformes apresentaram maiores valores nos pontos do rio XJ8, justificado pelo local ter ausência de mata ciliar e a chuva carregar os contaminantes diretamente no curso d’água como afirmam Alessio e Moura (2007). As características físico-químicas e microbiológicas indicaram que o rio Brilhante classifica-se como rio classe 1 e o rio XJ8, apesar dos parâmetros químicos fósforo total e DBO enquadrarem-se como rio classe 2, classifica-se como rio classe 3, visto que o parâmetro microbiológico coliformes fecais enquadra-se nessa classe. 41 5. CONCLUSÃO Comparando os resultados obtidos nos dois rios pode-se concluir que o rio Brilhante tem melhor qualidade de água do que o rio XJ8. Esse resultado indica que a mata ciliar atua como mecanismo eficiente na manutenção da qualidade da água, pois o rio que possui a mata ciliar em toda sua extensão apresentou melhor qualidade. Para acabar com o problema da degradação hídrica é essencial a conscientização dos agricultores quanto à importância da mata ciliar para a qualidade da água. A recuperação dessas áreas deve ser imediata para a manutenção da biodiversidade e preservação desses recursos. Essas ações poderiam ser incentivadas por órgãos governamentais dando apoio técnico aos projetos para que os agricultores entendam que a conservação desses recursos não representa perda de área produtiva, mais sim fonte de vida. 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALESSIO, Carlos Eduardo; MOURA, Alexandre Carvalho de. 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