DOTES ESTÉTICOS: comportamentos femininos e novos simbolismos do Dote na sociedade maranhense (1860 a 1895)1 Paulo Roberto Matos2 Elizabeth Sousa Abrantes3 A presente pesquisa sobre as novas representações e ressignificações do dote na sociedade maranhense na segunda metade do século XIX visa esclarecer aspectos relacionados às mudanças no costume do dote e nos comportamentos femininos, com ênfase para os novos critérios de “valorização” e “amparo” da mulher, tendo ainda como finalidade o casamento. Dote, palavra de origem latina, significa os bens que uma noiva (ou noivo) leva para o casamento. Em seu sentido jurídico, o dote é um conjunto de bens que a mulher recebe de ascendentes ou de terceiros ao casar-se. O bem dotal é incomunicável, transferido ao marido, para com os frutos e rendimentos dele o ajudar na satisfação dos encargos do matrimônio, sob a cláusula de restituição de tais bens se houver dissolução da sociedade conjugal4. Este trabalho sobre “Dotes Estéticos” pretende dar continuidade a essa temática do estudo do dote na sociedade maranhense, ampliando a abordagem para novos aspectos como comportamento feminino, modas e demais bens culturais capazes de representarem um sentido figurado ao dote, entendido como um dom, um merecimento, um predicado moral, físico ou intelectual. Por conseguinte, dotar uma mulher de conhecimentos intelectuais, não para sua emancipação, mas para o melhor cumprimento dos seus papéis de mãe e esposa, bem como “favorecê-la” com novas prendas sociais de etiqueta, boas maneiras no portar-se e vestir-se, tornavam-se uma ressignificação do sentido do dote para mantê-la numa posição de submissão e dependência, mas que poderiam ser usados como tática “que mobiliza para seus próprios fins, uma representação imposta - aceita, mas que se volta contra a ordem que a produziu” 5. 1 Este trabalho é um desdobramento da pesquisa de iniciação científica desenvolvida na Universidade Estadual do Maranhão (BIC/UEMA), intitulada Dotes Culturais: modos, modas e ressignificações do dote na sociedade maranhense (séculos XIX e XX), sob orientação da professora Elizabeth Abrantes. 2 Graduando do Curso de História e Bolsista de Iniciação Científica – (BIC/UEMA). 3 Professora adjunto do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão. 4 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988, p. 230. 5 CHARTIER, Roger. Diferenças entre os Sexos e Dominação Simbólica. Cadernos PAGU (4) 1995, p. 41. 1 Dotes estéticos: educação, moda e novas prendas sociais No século XIX, cresciam as críticas ao casamento por interesse financeiro, enquanto o amor romântico, considerado essencialmente feminilizado, tornava-se, principalmente no discurso, a motivação para o casamento. Era para as mulheres de elite que se voltavam os discursos sobre os dotes modernos, que realçavam o conhecimento (dote espiritual), o casamento por amor (dotes do coração), a beleza (dotes físicos ou naturais) e a etiqueta e moda (dotes da elegância). Esta pesquisa sobre dotes simbólicos é uma abordagem que se relaciona aos estudos de gênero. Sendo o gênero definido como relativo aos contextos social e cultural, pode-se pensar em diferentes construções de gêneros e de sua articulação com outras categorias de análise como classe, etnia, religião, geração. Essas construções socioculturais que em uma determinada época e sociedade definem homens e mulheres passam por um processo de socialização que inclui a educação, o que torna relevante o estudo das novas prendas sociais como aprendizado que constituía um dote cultural e estético para as mulheres. Desde o século XIX, novos comportamentos eram mais visíveis na fisionomia e vestimentas femininas. Na sociedade maranhense, em especial, no meio das elites, desenvolviase um “Ethos de Consumo” 6, visto que estas pessoas mandavam fazer as suas roupas nas costureiras e, é claro, às vezes, na sua maioria, copiando o estilo europeu, representando os valores da competitividade e também a extravagância como meio de distinção. A roupa é como uma máscara7, pois oculta e ao mesmo tempo revela uma série de informações sobre a pessoa, variando constantemente e até escondendo a posição social. Os adornos – enfeites – também contribuem para o reconhecimento da distinção, para a confirmação do “status” e para a afirmação da riqueza, o que o coloca imediatamente ao lado da moda e do 6 As elites viviam, na época, na ostentação, a impressionar estrangeiros em visita à região. E ainda, essa camada social dominante maranhense cultivava mais o fausto (Luxo, Pompa, Ostentação, Magnificência), os hábitos europeus. Além de ter acesso à educação formal, esta minoria detinha o poder, adotava todo o estilo e /ou modelo europeu. 7 Cf. ROCHE, Daniel. A Cultura das Aparências: uma história da indumentária (séculos XVII – XVIII). Tradução Assef kfouri. – São Paulo: Editora SESC São Paulo, 2007. 2 efêmero. O traje da moda, por sua vez, muda muito rápido no tempo, muito pouco no espaço e, em função dos meios de comunicação, difunde-se numa determinada área cultural. Portanto, pretendo analisar os sentidos contidos nas novas representações simbólicas do dote, a exemplo do dote estético, relacionado à moda e etiqueta, e como se relacionam com questões de gênero na sociedade maranhense na segunda metade do século XIX. Na historiografia local ainda não existe nenhuma obra específica sobre a prática do dote entre as famílias da elite na sociedade maranhense, embora haja alguns trabalhos sobre família, patrimônio, com referências ao sistema de herança e à prática de concessão de dotes às órfãs do Recolhimento do Maranhão8. Da mesma maneira, os estudos em relação aos novos padrões de comportamento, moda e etiqueta que são considerados símbolos modernos do dote feminino, ainda precisam ser desenvolvidos. No campo da história cultural, o trabalho da historiadora Elizabeth Abrantes, em sua tese “O Dote é a Moça Educada: mulher, dote instrução em São Luís na Primeira República” 9, aborda como simbolicamente a instrução formal destinada às mulheres passou a ser valorizada como um componente fundamental na sua educação, tornando-se seu símbolo moderno de “dote” no início do século XX. Apesar do dote ainda ser uma possibilidade legal no início do século XX, cresciam as críticas ao dote e ao casamento por conveniência, ao mesmo tempo em que as famílias buscavam outros atrativos para ‘valorizar’ suas filhas no mercado matrimonial. Conforme Abrantes (2010), a instrução como dote simbólico poderia servir tanto para arranjar um “bom partido” como para ser um meio de sobrevivência digna na ausência de “amparo marital”. Ainda segundo Abrantes (2010), o alvo das críticas eram as mulheres de elite, consideradas por muitos contemporâneos como vivendo na ociosidade e na ignorância pela falta de uma educação adequada ao seu papel social. Os críticos diziam que a vida social destas mulheres, restrita às missas dominicais e aos eventuais bailes e ida ao teatro, com uma educação doméstica 8 MOTA, Antônia da Silva. Família e Fortuna no Maranhão Colônia. São Luís: EDUFMA, 2006; RODRIGUES, Maria José Lobato. Marias em Clausura: um estudo da condição feminina no Recolhimento do Maranhão, 1862-1876. São Luís, 2000. Monografia (Graduação em História) – Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2000; CASTRO, Lívia Maria Laranjeira. Meus Réis por um Marido: dotes e casamentos no Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios. São Luís, 2007. Monografia (Graduação em História) - Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2007; COSTA, Bárbara Maria Melo. Família e Sistema de Herança no Maranhão Setecentista, 1794-1800. São Luís, 2007. Monografia (Graduação em História) - Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2007. 9 ABRANTES, Elizabeth Sousa. O Dote é uma moça educada: Mulher, dote e instrução em São Luís na Primeira República. Niterói, 2010. Tese (doutorado em História) – Universidade Federal Fluminense. 3 viciada pelos costumes tradicionais, recebendo pouca educação formal, as deixavam despreparadas para formar o cidadão útil de que a sociedade precisava e, portanto, suas vidas eram um desperdício, uma nulidade total. O presente estudo abordará as novas representações sobre o dote na segunda metade do século XIX na sociedade maranhense, os hábitos femininos com o vestuário, a etiqueta, os valores sociais, os costumes e a moda de uma maneira geral, uma vez que serão dinamicamente reelaborados, com um novo cenário se desenhando10. As relações dos homens e mulheres na segunda metade do século XIX eram baseadas nas representações que estes faziam de si e das imagens que projetavam sobre o outro. O comportamento e a roupa de um homem ou de uma mulher possuem símbolos que são construídos dentro de uma sociedade e em um período na história.11 Nas leituras de jornais de São Luís do século XIX, de caráter religioso, literário e recreativo dedicados ao sexo feminino, eram notáveis a veiculação de idéias estereotipadas sobre as mulheres, os valores morais que deveriam conduzir seu comportamento, os papéis sociais que deveriam desempenhar. No jornal O Globo, de 1854, um artigo intitulado A mulher antes e depois de casada, ensinava como as jovens deviam se comportar após o casamento a fim de não perderem seus maridos, devendo manter-se sempre bem penteadas e bem vestidas; se o marido gostasse de ouvi-la cantar e tocar, que cantasse e aprendesse novas músicas de acordo com o gosto dele, conversando com meiguice com o esposo e sabendo que: o pudor da senhora casada não deve diferir muito do pudor de uma virgem; de cada vez que uma esposa se veste diante de seu marido perde um ano de fogo do amor, cujo vive (sic) de mistérios, de imaginação, de segredos, de véus, de dificuldades, de oposição e de fogo... o rubor da face de uma senhora é tudo, uma senhora que cora ouvindo votos de amor de seu marido não pode recear nem frieza nem indiferença. A par da preocupação com a moral, a elite ludovicense também buscava, a todo custo, mudar os hábitos e costumes que considerava essenciais para a civilidade nos moldes vigentes da 10 Ver SILVA SANTOS, Camila Ferreira. ENTRE MODOS E MODAS: Modernização e Civilidade em São Luís na segunda metade do século XIX. São Luís, 2007. Monografia (Graduação em História) – Universidade Estadual do Maranhão. 11 Segundo Gilda de Mello Souza (1887, p. 20) em O Espírito das Roupas: a moda do século XIX, as sociedades ditas primitivas não acompanharam as mudanças ocorridas no comportamento e na moda, pelo fato de darem significação religiosa às roupas e ao comportamento. 4 sociedade européia. A incorporação dos discursos e das formas civilizadas era visualizada nos anúncios de moda, que faziam circular símbolos distintivos de “bons” e “maus usos”, dando às roupas européias um caráter refinado e polido. Nas festas, homens e mulheres da elite tratavam de mostrar o quanto estavam a par do que se passava na Europa, principalmente, na França, no que diz respeito à moda e ao comportamento (etiqueta). Nesse sentido, diante de todas as oportunidades, em bailes, saraus, teatros e concertos, a elite tratou de mostrar sua riqueza, de atualizar seu vestuário, tornando-o luxuoso e compatível aos modelos europeus, mesmo não sendo o vestuário adequado para a região. Para a abordagem sobre a vestimenta, a contribuição do Jornal Diário do Maranhão, de 1887, torna-se importante, por que mostra como era estabelecido os diversos modelos de roupas, acessórios feitas pelas donas e donos de costuras, para os vários tipos de pessoas que moravam na capital e as que vinham do interior do Maranhão. Diário do MA/ 1887 COSTURAS “Na Rua da Madre Deus N. 93, tem pessoas habilitadas para fazer todas e quaesquer costuras no vigor da moda para senhoras. Assim como calças, camizas, e ceroulas para homens. Garante-se promptidão, asseio e barateza”. INTERIOR Prestem muita atenção. “Srs. Na casa desta capital só na CASA BRASILEIRA é que veste-se bem um homem com pouco dinheiro para ser casado, vejão todos”. ROUPAS PROMPTAS. 1 fato inteiro branco para homem...............10$ 000 1 camisa branca collarinho em pê.............. 2$ 000 1 chapeu branco de galinha debroado com fita de seda.............. 2$ 000 1 par de meias................ 300 1 par de botinas de carvão ou bezerro............... 5$ 000 1 lencinho de cambraia especial, gomado......... 200 1 gravatinha branca mimosa............. 200 Abotuaduras para camisa, pomada cheirosa e água de cheiro. Como sabemos, a inovação, o traje de moda corresponde aos valores de mudança, de novidade, posto que podia afetar as sociedades mais tradicionais e os costumes mais enraizados. Esse modelo de inovação caracterizou a cultura européia, onde a moda era, mais do que em qualquer outro lugar, um fator de diferenciação. Também nesse sentido, o que percebemos nos costumes sociais das elites maranhenses – nas boas maneiras –, eram a transmissão por uma 5 “pedagogia de imitação”, pela maneira de aceitarem os costumes da época, sobretudo em matéria de vestir. O objetivo da educação feminina não devia ser a mera exibição de erudição, ciência, cultura, mas obter conhecimentos pelas possibilidades de realização que proporcionavam. Esse argumento servia para mostrar a importância da educação da mulher dentro da vida moderna, cujo cumprimento de sua função social dependia de uma educação moral, prática e pedagógica. A educação tradicional proporcionada à mulher era considerada deficiente, por fazer da moça um simples ornamento de salão, com todas as frivolidades e pequenas pieguices de uma boneca muito mimada e muito superficial, ou então, mantendo-a num ambiente anacrônico de reclusão, de isolamento, de completa ignorância das necessidades da vida e do “moderno espírito” que orientava a civilização. Ainda com base nas leituras de jornais de São Luís a partir dos séculos XIX, o que percebemos são mudanças nos costumes sociais dos maranhenses, e em especial das elites ludovicenses, principalmente nos comportamentos, nas ruas, nos bailes, no modo de vestir-se e de falar em público. O próprio vestuário da época servia para acentuar essas diferenças. A “moda” no século XIX, mais precisamente na segunda metade, inspirada pelos franceses - a cultura das aparências -, estimulou e ou/ modificou várias sociedades no perfil das vestimentas e também os costumes sociais. Nesse período, na visão moral cristã, a roupa serviu e, ao mesmo tempo, passava a ser o centro dos debates sobre a posição social: riqueza e pobreza; consumo ostentatório; o luxo e o lucro. Compreender a relação entre gênero, a beleza (dotes físicos ou naturais) e a etiqueta e moda (dotes da elegância), exige antes de tudo, uma análise social e histórica que possibilite compreender a importância do vestuário tanto na cultura como nos grupos sociais. Moda e indumentária são um instrumental no processo de socialização em direção aos papéis sexuais e de gênero; elas ajudam a dar formas às idéias das pessoas sobre como homens e mulheres deveriam parecer. Não é verdade que a moda e indumentária simplesmente refletem uma identidade já existente de sexo e gênero, mas elas são parte do processo pelo qual atitudes para com homens e mulheres, igualmente, e imagens de ambos os sexos são criadas e reproduzidas (BARNARD, 2003, p.167). 6 Na segunda metade do século XIX o comportamento dos ludovicenses tornou-se mais refinado. Essa exigência servia tanto para homens quanto para as mulheres, porém, a exigência de uma boa educação, delicadeza nos gestos e elegância eram características preciosas para a reputação de uma mulher da elite, que supunha estar a par das novidades de etiqueta chegadas da Europa. Mas, os homens também teriam que ser dotados dos chamados “bons modos” ou “modos finos”. Segundo Gilberto Freire (1987, p. 12) entende-se por modos, “aquelas maneiras, feições ou formas particulares e, até, jeitos, artes e comedimentos próprios de homens bem educados”, ou seja, os indivíduos da elite teriam que adequar-se nos modelos de comportamentos requintados. Essa preocupação masculina e também feminina foi comentada por Dunshee de Abranches (1992, p. 29) ao tratar dos costumes refinados da sociedade ludovicense: “não somente grandes damas se salientavam pelos seus dotes aristocráticos, como, entre os homens, alguns havia que se tornavam notáveis pela sua elegância de porte fino e trato social”. Dizia que, mesmo que às vezes aparecessem sem luvas, faziam-se admirados pela correção das suas roupas. Ao relatar a conversa com Dona Emília Branco, ilustre dama da sociedade maranhense, esta apontava também certos rapazes que porfiavam em disputar a primazia. Dona Emília concluíra as suas admoestações fazendo a justificativa de alguns costumes da mulher maranhense: “Era preciso distinguir-se: essas criaturas, verdadeiramente infelizes, pois não passavam de puras taradas, viviam na sociedade alta, mas não eram da alta sociedade, eram mulheres vindas do interior” (apud. ABRANCHES, 1992, p. 29). O consumo de roupa devia ser controlado por um princípio: cada um segundo a sua posição social. No final do século XIX, os códigos de posturas, os manuais de boas maneiras, deviam ser respeitados pelas práticas e de acordo com os costumes sociais. Cada um devia parecer o que era, mas também podia parecer o que ambicionava ser. O ABELHUDO Cidade das emprezas fallidas, 8 de Janeiro de 1899 – ANNO II NUM. 10. Boa tarde. Caro leitor, você me conhece? Não é para admirar que me não conheça, pois hoje estou encartollado, franckudo, bem penteado, de luvas de pellica, sapatos de polimento o pince-nez, finalmente, estou um verdadeiro pendante, não me perguntes por que pésguei esta rosa no peito, nem quem m’a deu, que lhe não posso responder: são cousinhas de namorado. 7 Dentro desse contexto, certos comportamentos regulavam as manifestações dos sentimentos e desejos. A elite maranhense vivia cercada dos valores da economia e do lucro, haja vista que eram fundamentais a demonstração de consumo ostentatório – roupas, acessórios e adornos europeus –, o que representava uma boa publicidade. Este novo consumo – a vestimenta masculina e a imitação da roupa feminina – não simplesmente “rotulou” as aparências, mas alterou o seu significado e a relação entre os sexos e os grupos sociais, possibilitando a criação de novas desigualdades e novas hierarquias. Sendo assim, a roupa – o vestuário - podia revelar status e apresentar as classes sociais existentes e, em especial, poderíamos identificar as pessoas pelos modos de comportamentos, de caminhar, de se relacionar, pelas ocupações, por meio dos acessórios, gestos, posturas, sendo esse modelo caracterizado pela cultura européia. Como dissemos antes, a “moda” tem sido um fator de diferenciação e inovação. As mulheres belas e elegantes quando se encontravam, discutiam quais as roupas deveriam ser usadas nos bailes, nas ruas, abordando todos os requintes da moda parisiense. Os comerciantes também se preocupavam com a chegada do sortimento em última moda, de chapéus, luvas, vestidos, tecidos e perfumes vindos da Europa. Portanto, apresentamos algumas práticas e ou/ costumes europeus adotados pelas elites maranhenses, que no século XIX vivia já o “ethos de consumo”, em expor e esbanjar as aparências, as posturas, o corpo, o luxo e todo o figurino – vestuário - europeu. A transferência desses modelos para São Luís pode ser visualizada a partir da literatura da época, dos artigos dos jornais locais, das revistas, dos anúncios veiculados na imprensa. Estes eram alguns mecanismos por onde perpassavam os efeitos e imagens da civilização e dos símbolos a serem consumidos pelos ludovicenses, especialmente sua elite. Considerações finais A história da moda, da etiqueta, do comportamento relacionado ás prendas sociais, denominados aqui de dotes estéticos, pode nos fornecer uma visão panorâmica de como essas relações sociais eram construídas, por meio dos significados que a roupa e os padrões de comportamento, beleza e educação assumem ao longo do tempo e de como a cultura predominante em cada momento os influencia. 8 Para essa problemática ainda pouco explorada pela historiografia maranhense, faz-se necessário uso de documentação variada, que inclua também nova perspectiva metodológica para o uso dessas chamadas fontes tradicionais (documentos oficiais como leis, estatutos, relatórios, mensagens e falas de governantes), procurando nas entrelinhas desses discursos os fragmentos para perceber as novas representações do dote em seu sentido simbólico, cultural. Fontes de natureza e suportes variados, impressos ou iconográficos, públicos ou privados, tais como: jornais, revistas, romances, poemas, contos, letras de música, fotografias, desenhos, utilizadas para o estudo das idéias, valores e práticas em voga, possibilitando apreender aspectos do imaginário desses períodos sobre os papéis masculinos e femininos, comportamentos das mulheres ligados às novas prendas sociais, com destaque para a etiqueta e moda. Referências ABRANCHES DE, Dunshee. O Cativeiro. 2. ed. São Luís: ALUMAR, 1992. ABRANTES, Elizabeth Sousa. O Dote é a Moça Educada: mulher, dote e instrução em São Luís na Primeira República. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010. _____(Org.). Fazendo Gênero na Maranhão: estudos sobre mulheres e relações de gênero (séculos XIX e XX). São Luís: EDUEMA, 2010. BARNARD, Malcolm. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. 9 BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade: o pintor da vida moderna. 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Entre Modos e Modas: Modernização e Civilidade em São Luís na segunda metade do Século XIX. São Luís, 2008. Monografia – (Graduação) – Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 2008. 10