Vol. 42, n.º 5 Setembro / Outubro 2011 Editorial Sociedade Portuguesa de Pediatria, suas Secções e Sociedades. Uma perspectiva João M. Videira AmaralLXXIX Artigos Originais Saúde Infantil e Juvenil em Portugal: indicadores do Plano Nacional de Saúde Maria do Céu Machado, Maria Isabel Alves, Maria Luisa Couceiro195 Infecção congénita pelo Citomegalovirus – avaliação de um novo método de rastreio Sofia Almeida, Paula Gouveia, Arminda Jorge, António Mendes, Célia Duarte, Nélia Faria, Paulo Paixão205 Experiência do aleitamento materno Hernâni Brito, Ana Margarida Alexandrino, Cristina Godinho, Gilberta Santos209 Casuística Emergência pediátrica pré-hospitalar: experiência de uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação Paula Neto, Nuno Pedro, Ângela Cerqueira, Paulo F. Neto, Luís Félix, Anabela Bicho, Joaquim Urbano215 Caracterização clínica e epidemiológica da pneumonia adquirida na comunidade em crianças hospitalizadas na Ilha da Madeira Francisco Silva, Cristina Freitas, Paula Fernandes, Rute Gonçalves, Conceição Freitas, Sidónia Nunes, Amélia Cavaco220 Casos Clínicos Défice cognitivo: até onde investigar? Andreia Lopes, Conceição Correia, Micaela Guardiano, Sofia Dória, Maria Júlia Guimarães225 Papilomatose respiratória recorrente Vera Viegas, Rita Calado, António Marques, Inês Cunha e Sá, Deolinda Barata228 Gangrena gasosa como complicação de uma ferida traumática Ester Pereira, Ester Gama, Rui Gameiro, Teresa Rezende232 Actualização O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras Helena Sousa, António Vieira, Cláudia Moura235 Imagens em Pediatria Mais ecografia transfontanelar, menos radiação! Vera Santos, Cláudia Faria, André Mendes da Graça, Carlos Moniz241 Cartas ao Director Fórum Neonatal Português Simão Pedro Frutuoso243 Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Porquê? Jaime Salazar de Sousa244 Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Porquê? António Gentil Martins245 Notícias LXXXI Normas de PublicaçãoLXXXIV ISSN 0873-9781 Acta Pediátrica Portuguesa Vol 42 Nº 5 Setembro – Outubro 2011 (Orgão Oficial da Sociedade Portuguesa de Pediatria) www.spp.pt [email protected] Fundador Carlos Salazar de Sousa Conselho Editorial Director João M. Videira Amaral - Lisboa Editores Associados Guiomar Oliveira - Coimbra Jorge Amil Dias - Porto Luís Pereira-da-Silva - Lisboa Coordenador de Edição António Gomes - Almada Secretariado Maria Júlia Brito - SPP Conselho Científico Alberto Caldas Afonso Almerinda Pereira Ana Cadete Ana Medeira Ana Xavier Deolinda Barata Elisa Leão Teles Silva Fernando Pereira Filomena Pereira Graça Rocha Guiomar Oliveira João Gomes-Pedro Jorge Correia Pinto José Frias Bulhosa Leonor Sassetti Libério Ribeiro Lurdes Lisboa Manuel Salgado Maria Ana Sampaio Nunes Mário Marcelo da Fonseca Miguel Coutinho Miguel Felix Olavo Gonçalves Óscar Tellechea Paula Fonseca Editores Correspondentes (Países de Língua Oficial Portuguesa) (Secção de Nefrologia) (Secção de Neonatologia) (Secção de Reabilitação Pediátrica da SPMFR) (Sociedade Portuguesa de Genética Humana) (Grupo Port. de Oftalmologia Ped. e Estrabismo) (Secção de Pediatria Social) (Sociedade Portuguesa de D. Metabólicas) (Secção de Gastrenterologia e Nutrição) (Secção de Hematologia e Oncologia) (Sociedade de Infecciologia) (Sociedade de Pediatria do Neurodesenvolvimento) (Secção de Educação Médica) (Sociedade Portuguesa de Cirurgia Pediátrica) (Ordem dos Médicos Dentistas) (Secção de Pediatria Ambulatória) (Sociedade de Alergologia) (Secção de Cuidados Intensivos) (Secção de Reumatologia) (Sociedade de Cardiologia Pediátrica) (Secção de Endocrinologia) (Subcomissão de ORL Pediátrica da SPORL) (Secção de Pneumologia) (Sociedade Portuguesa de Neuropediatria) (Sociedade Port. de Dermatologia e Venereologia) (Secção de Medicina do Adolescente) Luís Bernardino - Angola Paula Vaz - Moçambique Renato Procianoy - Brasil Directores ex-officio (Revista Portuguesa de Pediatria e Puericultura, Revista Portuguesa de Pediatria e Acta Pediátrica Portuguesa) Carlos Salazar de Sousa Jaime Salazar de Sousa Mário Cordeiro António Marques Valido Maria de Lourdes Levy João Gomes-Pedro Presidente da Sociedade Portuguesa de Pediatria António Guerra Missão da APP: A APP, sucessora da Revista Portuguesa de Pediatria, é uma revista científica funcionando na modalidade de revisão prévia dos textos submetidos ao corpo editorial por colegas peritos em anonimato mútuo (peer review). É dirigida essencialmente a pediatras (vertentes médico-cirúrgica) e a médicos em formação pós-graduada para obtenção das respectivas especialidades no pressuposto de que os conteúdos interessam a outros médicos e profissionais interessados na saúde da criança e adolescente inseridos no respectivo meio familiar e social. A APP pretende abarcar um vasto leque de questões sobre investigação, educação médica, pediatria social, prática clínica, temas controversos, debate de opiniões, normas de actuação, actualização de temas, etc. São adoptadas diversas modalidades de divulgação: editoriais, espaços de discussão, artigos originais, artigos sobre avanços em pediatria, resumos de estudos divulgados em eventos científicos, notícias sobre eventos científicos e organismos estatais e não estatais devotados à criança e adolescente. A revista científica Acta Pediátrica Portuguesa (APP) (ISSN 0873-9781) é propriedade da Sociedade Portuguesa de Pediatria, com responsabilidade administrativa da respectiva Direcção. A publicação é bimestral com todos os direitos reservados. A coordenação dos conteúdos científicos é da responsabilidade do corpo editorial da APP (Director e Director Adjunto, Editores Associados, Coordenador de Edição e Conselho Editorial). A responsabilidade dos textos científicos publicados pertence aos respectivos autores, não reflectindo necessariamente a política da SPP. 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Infecção congénita pelo Citomegalovirus – avaliação de um novo método de rastreio Sofia Almeida, Paula Gouveia, Arminda Jorge, António Mendes, Célia Duarte, Nélia Faria, Paulo Paixão. . . . . . . . . . . . . . . Experiência do aleitamento materno Hernâni Brito, Ana Margarida Alexandrino, Cristina Godinho, Gilberta Santos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Casuística Emergência pediátrica pré-hospitalar: experiência de uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação Paula Neto, Nuno Pedro, Ângela Cerqueira, Paulo F. Neto, Luís Félix, Anabela Bicho, Joaquim Urbano. . . . . . . . . . . . . . . . Caracterização clínica e epidemiológica da pneumonia adquirida na comunidade em crianças hospitalizadas na Ilha da Madeira Francisco Silva, Cristina Freitas, Paula Fernandes, Rute Gonçalves, Conceição Freitas, Sidónia Nunes, Amélia Cavaco . . . Casos Clínicos Défice cognitivo: até onde investigar? Andreia Lopes, Conceição Correia, Micaela Guardiano, Sofia Dória, Maria Júlia Guimarães. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Papilomatose respiratória recorrente Vera Viegas, Rita Calado, António Marques, Inês Cunha e Sá, Deolinda Barata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gangrena gasosa como complicação de uma ferida traumática Ester Pereira, Ester Gama, Rui Gameiro, Teresa Rezende. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 205 209 215 220 225 228 232 Actualização O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras Helena Sousa, António Vieira, Cláudia Moura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 Imagens em Pediatria Mais ecografia transfontanelar, menos radiação! Vera Santos, Cláudia Faria, André Mendes da Graça, Carlos Moniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241 Cartas ao Director Fórum Neonatal Português Simão Pedro Frutuoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Porquê? Jaime Salazar de Sousa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Porquê? António Gentil Martins. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 244 245 Notícias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXXI Normas de Publicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXXIV LXXVII Contents Acta Pediátrica Portuguesa Editorial The Portuguese Paediatric Society, it´s Sections and Societies. A perspective João M. Videira Amaral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXIX Original Articles Child and Adolescent Health: Portuguese Health Plan indicators (2000-2010) Maria do Céu Machado, Maria Isabel Alves, Maria Luisa Couceiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Human Cytomegalovirus Congenital Infection – evaluation of a new screening method Sofia Almeida, Paula Gouveia, Arminda Jorge, António Mendes, Célia Duarte, Nélia Faria, Paulo Paixão. . . . . . . . . . . . . . . Breastfeeding Experience Hernâni Brito, Ana Margarida Alexandrino, Cristina Godinho, Gilberta Santos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cases Review Pediatric pre-hospital emergency: experience of a Rapid Response Unit Paula Neto, Nuno Pedro, Ângela Cerqueira, Paulo F. Neto, Luís Félix, Anabela Bicho, Joaquim Urbano. . . . . . . . . . . . . . . . Clinical and epidemiological characterization of community-acquired pneumonia in Madeira Island hospitalized children Francisco Silva, Cristina Freitas, Paula Fernandes, Rute Gonçalves, Conceição Freitas, Sidónia Nunes, Amélia Cavaco . . . Cases Reports Intellectual disability: when to stop investigation? Andreia Lopes, Conceição Correia, Micaela Guardiano, Sofia Dória, Maria Júlia Guimarães. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Recurrent respiratory papillomatosis Vera Viegas, Rita Calado, António Marques, Inês Cunha e Sá, Deolinda Barata. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gas gangrene as a complication of a traumatic wound Ester Pereira, Ester Gama, Rui Gameiro, Teresa Rezende. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 205 209 215 220 225 228 232 Review Pediatric eletrocardiogram, notions for paediatricians Helena Sousa, António Vieira, Cláudia Moura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 Images in Paediatrics More cranial ultrasonography, less radiation! Vera Santos, Cláudia Faria, André Mendes da Graça, Carlos Moniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241 Letters to the director Fórum Neonatal Português: a forum on the internet for Portuguese neonatologists Simão Pedro Frutuoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Why? Jaime Salazar de Sousa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Why? António Gentil Martins. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243 244 245 News. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXXI Guidelines for the AUthors. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . LXXXIV LXXVIII 0873-9781/11/42-5/LXXIX Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Editorial Sociedade Portuguesa de Pediatria, suas Secções e Sociedades. Uma perspectiva João M. Videira Amaral Com a expansão meteórica do conhecimento biomédico, e o desenvolvimento de técnicas sofisticadas para o diagnóstico e a terapêutica, na década de 50 do século passado começaram a surgir nos Estados Unidos da América do Norte (EUA) as primeiras sub-especialidades pediátricas com o patrocínio da Academia Americana de Pediatria (AAP). Esta tendência, passando pouco depois a ser seguida na Europa, regia-se pelo princípio (ideal) de que o sub-especialista pediátrico deveria ser pediatra de raiz.1 Em Portugal, a criação de áreas especializadas hospitalares nos diversos serviços de Pediatria e a progressiva oficialização de novas sub-especialidades pela Ordem dos Médicos tiveram impacte na própria Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP). Com efeito, foram criadas, com o correr dos anos, Secções especializadas com certa autonomia, estatutos e corpos directivos próprios, devotadas a áreas específicas. Aliás, esta evolução verificou-se noutras sociedades pediátricas estrangeiras.2 Entretanto, por motivos burocrático-administrativos e por força das relações internacionais que importava iniciar e desenvolver com organismos congéneres, algumas Secções passaram a Sociedade. Esta situação está prevista nos estatutos da SPP, os quais, com o contributo indispensável dos sócios em assembleias gerais, se têm adaptado ao longo do tempo às novas circunstâncias, considerando o interesse do intercâmbio da Pediatria portuguesa com a Pediatria internacional.3 Virá a propósito referir que protagonizei, como secretáriogeral da SPP, todo este processo desde o seu início, nunca esquecendo os comentários do saudoso Presidente Luiz Marques Pinto. Tratava-se do alerta que o mesmo lançava, falando no “risco de esvaziamento da SPP e na condição sine qua non de os neo-sócios das neo-Secções/Sociedades continuarem a ser sócios da “sociedade-mãe”. Ao cabo de três décadas, verifica-se que tal condição foi, efectivamente, contemplada nos Estatutos. Para o observador externo a multiplicidade de Secções/Sociedades que foram oficializadas por desmembramento ou ex secessione poderá criar, à partida, uma imagem de “retracção” e de “minoria” da sociedade-mãe face aos dezassete “ramos» que da mesma derivaram, abrangendo áreas anteriormente cometidas àquela, e dizendo respeito praticamente a todos os conteúdos clássicos da medicina pediátrica. E poderão perguntar alguns também: o que cabe, actualmente à sociedade-mãe? Entendo que o papel da sociedade-mãe é (continua a ser) crucial neste processo evolutivo, designadamente no que respeita ao diálogo e ligação permanentes e indispensáveis com as Secções/Sociedades. Dou alguns exemplos: – a realização do congresso nacional, que passou a ser anual, congregando todas as Secções/Sociedades, para além de figuras de prestígio nacional e internacional; o mesmo corresponde a um trabalho ciclópico prévio de coordenação durante todo o ano precedente, e apraz-me registar aqui, na minha perspectiva, que tais eventos anuais (globais) têm sido inteligentemente organizados pelas sucessivas direcções da SPP com temas muito apelativos e abrangentes, e grande inovação; – o papel das comissões (cinco entre 2008 e 2009) para abordagem de temas diversos, sendo desejável que todos fossem publicados em papel, tal como aconteceu com o respeitante a “vacinas”; – o s incentivos à investigação, traduzidos na criação de bolsas de estudo para estágios de jovens internos no estrangeiro e para trabalhos de investigação; – o papel da Unidade de Vigilância Pediátrica (UVP/SPP); – o apoio à Acta Pediátrica Portuguesa; – o intercâmbio da Pediatria portuguesa junto das sociedades congéneres internacionais e representação em eventos científicos e grupos de trabalho; – o papel de Educação para a Saúde no sítio electrónico da SPP, etc.4 Na minha perspectiva, admito ainda que a SPP, através da respectiva Direcção, tem toda a legitimidade para incrementar o seu protagonismo como força de pressão junto das autoridades estatais da Saúde. Enfim, desejo que este escrito, contendo matéria que faz parte da História da Pediatria Portuguesa, seja de utilidade (in)forCorrespondência: João M. Videira Amaral Director da Acta Pediátrica Portuguesa [email protected] LXXIX Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXXIX-LXXX mativa para as novíssimas gerações de pediatras e pré-pediatras, em tempos de crises e de mudanças de paradigmas. Referências 1.Amaral JMV. A Pediatria e as sub-especialidades pediátricas.1ª parte - o impacte da oficialização das novas especialidades. Acta Pediatr Port 2003;34:309-13 LXXX Amaral JMV – SPP, suas Secções e Sociedades. Uma pespectiva 2.Amaral JMV. A Pediatria e as sub-especialidades pediátricas.2ª parte a relação entre a Pediatria geral e as sub-especialidades. Acta Pediatr Port 2003;34:377-9 3.Sociedade Portuguesa de Pediatria. Estatutos. Lisboa: Edição SPP; 2005 4.Sociedade Portuguesa de Pediatria [página na Internet]. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Pediatria [acedido em 15/10/2011]. Disponível em: http://www.spp.pt. 0873-9781/11/42-5/195 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Artigo Original Saúde Infantil e Juvenil em Portugal: indicadores do Plano Nacional de Saúde Maria do Céu Machado, Maria Isabel Alves, Maria Luisa Couceiro Alto Comissariado da Saúde, Ministério da Saúde Resumo Introdução: A evolução da saúde infantil é uma história de sucesso, resultado da melhoria das condições socio-económicas, das reformas e intervenções específicas na saúde. A sustentabilidade requer monitorização, através dos indicadores do PNS que define, como prioritárias, as estratégias centradas na família e no ciclo de vida. Metodologia: Calcularam-se indicadores demográficos, sociais, de vacinação, saúde oral, escolar, mortalidades (bases Instituto Nacional de Estatística, Instituto Nacional de Saúde, Direcção Geral de Saúde, Administrações Regionais de Saúde) e comportamentos dos adolescentes (Health Behaviour in School-aged Children e ECATD Consumo de Álcool, Tabaco e Droga). Analisou-se a evolução na 1ª década do séc XXI. Resultados: Encontrou-se evolução positiva nos seguintes indicadores: gravidez na adolescência (5,9 para 4,2%); aos 6 anos, exame global de saúde (70%), ausência de cáries (33 para 51%); aos 12 anos, dentes tratados (18 para 44%); taxas de mortalidade, infantil (4,8 para 3,6/1000) e <5 anos (6,2 para 4,5). A evolução foi negativa quanto a: fumadoras dos 15 aos 24 anos (13,7 para 16,1%); prematuridade (5,7 para 8,8%), baixo-peso (7,2 para 8,2%); aos 13 anos, exame global de saúde (36%). As principais causas de mortalidade infantil foram as cardiopatias e a prematuridade. As causas externas determinaram 28% dos óbitos até 4 anos e 55% dos 15 a 19 anos. Quanto aos comportamentos aos 11-15 anos: diminuição do consumo diário de refrigerantes (49,1 para 23,1%) e doces (57,4 para 17,5%); 15,3% dos rapazes não tomam pequeno-almoço (28,3% aos 16 anos); baixa do consumo de tabaco, seja experimentação (37,1 para 30,0%) ou habitual (8,5 para 4,5%); aumento do consumo de álcool (cerveja) aos 13-14 anos (+ 5% rapazes e + 10% raparigas); baixa do consumo de cannabis (9,2 para 8,8%) mas aumento aos 11 anos. Comentários: Os ganhos em saúde infantil requerem a continuidade do planeamento estratégico na garantia da sustentabilidade. A Estratégia Europeia para a Saúde e Desenvolvimento da Criança e Adolescente propõe a implementação e monitorização de programas na promoção de hábitos alimentares saudáveis, higiene oral e pessoal, conRecebido: 27.09.2011 Aceite: 06.10.2011 dições ambientais seguras e prevenção de dificuldades auditivas, da visão ou do desenvolvimento, prevenção do abuso. A saúde da criança e adolescentes é o paradigma da Saúde em Todas as Politicas. Só a acção concertada, intersectorial, com envolvimento de outras áreas, poderá resultar na melhoria progressiva. Palavras-chave: Saúde infantil; adolescentes; Plano Nacional de Saúde Acta Pediatr Port 2011;42(5):195-204 Child and Adolescent Health: Portuguese Health Plan indicators (2000-2010) Abstract Introduction: Child health in Portugal is a story of success, due to improvement of socio-economic status and specific reforms on healthcare. Sustainability requires monitoring, through National Health Plan indicators which have lifecycle and family-centered strategies as priority. Methods: Demographic and social indicators, vaccination status, oral health, students’ health, mortality rates and causes (Instituto Nacional de Estatística, Instituto Nacional de Saúde, Direcção Geral de Saúde and Administrações Regionais de Saúde databases) and adolescent behaviors (Health Behaviors in School-aged Children and ECATD alcohol, tobacco and drugs consumption) were calculated and analyzed during the first decade of the 21st century. Results: The mortality rate in infants was 3.6 to 4.8/1000 and in children <5YO was 4.5 to 6.2/1000. The major causes of infant death were cardiopathies and prematurity. External causes of death occurred in 28% <4YO and in 55% 15-19 YO. Improvement was found in 6YO check up visits (70%), caries absence (33 to 51%); treated teeth at 12YO (18 to 44%) and teenage pregnancy (5.9 to 4.2%). Conversely, there was a negative trend in prematurity (8.8%- 54.4% increase), birth weight <2500g (7.2 to 8.2%); 13 YO check up visits (36%) and smoking habits 15-24YO (13.7 to 16.1%). RegarCorrespondência: Maria do Céu Machado Departamento da Criança Centro Hospitalar Lisboa Norte Alameda Egas Moniz Lisboa [email protected] 195 Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 ding students’ behaviors (11-15 YO) we found: a reduction in daily high-sugar beverages consumption (49.1 to 23.1%) and candies (57.4 to 17.5%); 15.3% of boys do not eat breakfast (28.3% at 16YO); a reduction in smoking habits, including experimentation (37 to 30%) and habitual smoking (8.5 to 4,5%); an increase in alcohol consumption (beer) at 13-14YO (5% increase in boys and 10% increase in girls); a global decrease in cannabis consumption (9.2 to 8.8%), but an increase at 11YO (1.4 to 1.6%). Discussion: The improvements in Child Health that were established require the continuation of a strategic planning, ensuring sustainability. The European Strategy for Child and Adolescent Health and Development suggests the implementation and monitoring of programs for healthy lifestyles promotion, oral hygiene, safe environment, child abuse prevention and early detection of vision, hearing or development changes. Child and Adolescent health is the Health paradigm in all policies. Only an intersectorial and coordinated action may lead to a progressive improvement. Key words: Child health; adolescent behaviors; National Health Plan Acta Pediatr Port 2011;42(5):195-204 Introdução A Estratégia Europeia para a Saúde e Desenvolvimento da Criança e do Adolescente1 recomenda a recolha de informação, a análise das tendências temporais e a comparação com outros países, processos fundamentais na identificação de intervenções efectivas nestes grupos etários. A Organizaçãoo Mundial de Saude2 (OMS) e outras instituições3,4 disponibilizam dados estatísticos relativos à saúde da criança e do adolescente nos países europeus5,6. A comparabilidade dos indicadores é assegurada pelos organismos oficiais de estatística de cada país, com metodologias harmonizadas ou utilização de instrumentos de recolha comuns como a rede Health Behaviour in School-aged Children (HBSC/WHO), em amostras representativas da população escolar7,8. Em Portugal, a evolução da saúde materna e infantil é uma história de sucesso, referida no Relatório Mundial de 20089. A taxa de mortalidade infantil caiu de forma consistente e rápida de 77,5 em 1960 para 3,6‰ em 2009, resultado da melhoria das condições socio-económicas dos portugueses e das reformas globais na saúde com intervenção específica naquelas áreas10. Na década de 1980, verificou-se uma importante evolução social, generalização do saneamento básico e das comunicações, aumento significativo dos salários e das condições de nutrição. A criação do Serviço Nacional de Saúde (1979) e da rede nacional de Centros de Saúde (1983) permitiram o acesso generalizado aos cuidados. A primeira Comissão Nacional de Saúde Materna e Infantil (1987) elaborou um programa a 9 anos cuja estratégia incluíu a requalificação das maternidades, a regionalização com redes de referenciação e a articulação 196 Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal com os Cuidados Primários12. Os ganhos obtidos têm merecido uma preocupação de sustentabilidade, tendo sido nomeadas novas Comissões, consultoras do Ministro da Saúde. Em 2004, é aprovado o Plano Nacional de Saúde (PNS) 2004-2010 para Portugal Continental cuja monitorização é da responsabilidade do Alto Comissariado da Saúde12. O PNS define, como prioritárias, as estratégias centradas na família e no ciclo de vida e tem indicadores relativos à gravidez e parto, saúde em meio escolar, comportamentos e consumos, mortalidade e esperança de vida. Neste estudo, pretende caracterizar-se a evolução do estado de saúde das crianças e adolescentes portugueses, na primeira década do século XXI através dos indicadores do PNS 2004-2010, com especial ênfase para a saúde escolar e hábitos de vida dos adolescentes. Material e métodos Foram analisados os indicadores seguintes, com identificação das bases de dados e fontes: demográficos e sociais (natalidade, mortalidade geral, condições de vida); mortalidade por causas, do Instituto Nacional de Estatística - INE (anuais); Inquéritos Nacionais de Saúde, do INE e Instituto Nacional de Saúde (INSA ) (1998/1999 e 2005/2006); vacinação e saúde oral, da Direcção Geral de Saúde (DGS) (anuais e quinquenais, respectivamente); saúde escolar, das Administrações Regionais de Saúde (ARS) (anuais). Outros indicadores incluem os comportamentos dos adolescentes em contexto escolar, do estudo Health Behaviour in School-aged Children (4 em 4 anos); consumo de substâncias psicoactivas na população escolar, do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), a cada 2 anos. Globalmente, a população estudada é constituída pelas crianças e adolescentes (idade inferior a 18 anos) residentes em Portugal Continental. Comparam-se os resultados verificados nos anos de 2001 e 2009, para observar as tendências evolu tivas, desagregados para as cinco Regiões de Saúde. Os indicadores de saúde materna incluem: índice sintético de fecundidade definido como o número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil (15 aos 49 anos); incidência de nascimentos em idade de risco - mães adolescentes (idade < 20 anos) e com 35 ou mais anos; vigilância na gravidez, avaliada pelas consultas nos Centros de Saúde, no 1º trimestre (dados das ARS). Alguns indicadores foram obtidos através de amostras representativas como o Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais (DGS) nomeadamente cárie dentária, doenças periodontais e fluorose e de determinantes como os hábitos alimentares e a higiene oral, no ano lectivo 2005/06, em 2612 crianças, nas escolas públicas do ensino básico (DGS, 2008). O Health Behaviour in School-aged Children, coordenado pela OMS, incide sobre comportamentos e estilos de vida dos adolescentes integrados no sistema educativo, Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 com idade média de onze, treze e 15 anos, em 41 países da Europa e América do Norte. Portugal participou com estudos nacionais, cada 4 anos, de 1998 a 2010, coordenados pela equipa Aventura Social e Saúde da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa7,8. Em 2010, foi utilizada a mesma selecção de 2006: 136 escolas públicas de ensino regular, seleccionadas aleatoriamente e estratificadas por região, envolvendo 5050 adolescentes (47,7% rapazes e 52,3% raparigas), a frequentar o 6º, 8º e 10º ano de escolaridade8. Relativamente ao consumo de álcool, tabaco e drogas, o Programa de Estudos em Meio Escolar do IDT engloba dois projectos: o INME – Inquérito Nacional em Meio Escolar16 e o ECATD13 - Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Droga, ampliação do projecto ESPAD14 – European School Survey Project on Alcohol and other Drugs. O INME tem, como grupo alvo, os alunos do 3º Ciclo do Ensino Básico (EB) e do Ensino Secundário (ES) público. Em 2001, a amostra foi de cerca de 40 000 alunos, estratificada por ano de escolaridade e região geográfica, sendo os resultados representativos ao nível do distrito; em 2006, 50 000 alunos de cada nível de ensino no Continente e 15 000 nas Regiões Autónomas. Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal 2009, é acompanhado pelo adiamento da maternidade. A idade média da mãe ao nascimento do primeiro filho passou de 24,8 para 28,7 anos, no período 1990-2009. Também a incidência de nascimentos em idade de risco se alterou, com decréscimo da percentagem de mães adolescentes de 5,9% em 2001 para 4,2% em 2009 e o aumento em mulheres com 35 ou mais anos, de 14,0% para 20,6%. Apesar de ter diminuído a diferença entre as ARSs quanto a gravidez na adolescência, persiste o padrão de maior prevalência no Sul (em 2009: Algarve: 4,3%; Alentejo: 5,3%) e menor na Região Centro (em 2009: 3,8%). Pelo contrário, aos 35 e mais anos, as diferenças tem aumentado, sendo menos frequente no Sul (em 2009: Algarve: 18,6%; Alentejo: 18,3%) e mais em LVT (em 2009: 22,2%). Verificou-se um aumento de primeiras consultas no primeiro trimestre de gravidez, nos Cuidados Primários em todas as Regiões, atingindo os 82% (2008). Em 2009, 8,8% dos nados vivos nasceram antes das 37 semanas de gestação, o que representa um aumento de 54,4% relativamente a 2001. Considerando o país de origem da mãe (Figura 1), verifica-se que a percentagem de nascimentos pré-termo nas mães portuguesas e de origem africana se tem vindo a aproximar. O ECATD foi realizado em 2003 e em 2007, em 18 000 alunos de cada grupo etário, dos treze aos 18 anos (3º Ciclo do EB ou ES), por investigadores independentes com o apoio do European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction, em Lisboa, com o objectivo de obter dados comparáveis em estudantes europeus de 16 anos. As quatro vagas de inquérito permitem monitorizar as tendências temporais. Em 2007, foram envolvidos 100 000 estudantes de 35 países. São ainda referidas as estimativas de consumo de tabaco e bebidas alcoólicas a partir do 3º (1998/1999) e 4º Inquéritos Nacionais de Saúde (2005/06) que abrangem também a população não inserida em contexto escolar (INSA e INE 2009). A informação está disponível para grupos etários quinquenais, pelo que se utiliza a que incide nos 15-19 anos. Os indicadores utilizados para a dimensão do consumo são: i) Prevalência ao Longo da Vida (PLV), indicador da existência de experiência; ii) Nos últimos 12 Meses (P12M), indicador do consumo recente; iii) Nos últimos 30 Dias (P30D), indicador do consumo actual. Os indicadores apresentados referem-se globalmente ao Continente excepto os relacionados com as condições de vida, vacinação e saúde oral cujos valores publicados se referem a Portugal. Resultados 1. Determinantes da saúde das crianças e adolescentes 1.1 Saúde Materna como determinante O declínio da fecundidade com descida da média de 3 filhos por mulher em idade fértil na década de 60, para 1,3 em Figura 1 – Nascimentos pré-termo, por 100 nados vivos, em Portugal Continental, segundo o país de origem da mãe (Fonte: Elaborado por Alto Comissariado da Saúde a partir de informação do Instituto Nacional de Estatística, 1995-2006) A percentagem de recém-nascidos com Baixo Peso ao Nascer (inferior a 2500g) tem mostrado tendência crescente, de 7,2% em 2001 para 8,2% em 2009, com valores mais elevados no Alentejo (8,6%) e no Algarve (8,8%). As cesarianas aumentaram de 29,7 para 36,4%. A Região Norte registou 40,5% em 2009, seguindo-se as Regiões Centro e Lisboa e Vale do Tejo (LVT). Não há informação recente quanto ao consumo de tabaco na gravidez mas os INS mostram um aumento continuado de mulheres fumadoras: no grupo etário 15-44 anos, aumentaram de 17,8% para 18,4%, entre 1998/99 e 2005/06; para as mais jovens (15-24 anos), de 13,7% para 16,1%. Ainda de acordo com os INS, estima-se que a prevalência da obesidade na população feminina dos 18 aos 44 anos tenha subido de 7,2% para 9,3% (Quadro I). 197 Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal Quadro I – Saúde materna como determinante da saúde infantil 2001 2009 Variação (%) Fonte Índice sintético de fecundidade (Nº) 1,5 1,3 -13,3 INE Idade média da mãe ao primeiro filho (anos) 26,8 28,7 7,1 INE Nascimentos em mães adolescentes (%) 5,9 4,2 -28,8 INE Nascimentos em mães com 35 ou mais anos (%) 14,0 20,6 47,1 INE Primeiras consultas no 1º trimestre de gravidez (%) ND 82,0* -- ARS Nascimentos pré-termo (por 100 nados vivos) (%) 5,7 8,8 54,4 INE Baixo peso ao nascer (por 100 nados vivos) (%) 7,2 8,2 13,9 INE Partos por cesariana (por 100 nados vivos) (%) 29,7 36,4 22,6 INE Quanto à saúde oral (2005/2006), 51% das crianças aos 6 anos de idade estavam livres de cárie, o que representa uma melhoria relativamente aos 33% verificados em 2000. No mesmo período, aos doze anos, o índice de dentes cariados, perdidos e obturados na dentição permanente desceu de 2,95 para 1,48, enquanto a percentagem de dentes tratados aumentou de 18 para 44% (Quadro II). Quadro II - Saúde infantil – Vacinação e Saúde Escolar 2002/03 2007/08 Variação (%) Fonte Alunos com PNV actualizado (%) Pré-escolar 82 81 -1,2 ARS/DGS Aos 6 anos 90 91 1,1 ARS/DGS Aos 13 anos 78 85 9,0 ARS/DGS 96 93 -3,1 ARS/DGS Centros de Saúde com equipas de Saúde Escolar (%) Monitorização do estado de saúde (%) Perfil das mulheres dos 15 aos 44 anos ** Consumo de tabaco (%) 17,8 18,4 3,4 INE/INSA Aos 6 anos 71 70 -1,4 ARS/DGS IMC≥30 (%) 7,2 9,3 29,2 INE/INSA Aos 13 anos 31 36 16,1 ARS/DGS Asma auto-declarada (%) 5,2 5,2 0,0 INE/INSA 53 55 3,8 ARS/DGS Diabetes auto-declarada (%) 2,8 2,8 0,0 INE/INSA Alunos com NSE resolvidos (%) 7,2 7,3 1,4 INE/INSA Crianças com 6 anos, livres de cáries (%) * 33 51 54,5 DGS Índice de CPOD aos 12 anos (Nº) * 2,95 1,48 -49,8 DGS Crianças com dentes tratados aos 12 anos (%) * 18 44 144,4 DGS HTA autodeclarada (%) * Valor relativo ao ano 2008. ** Indicadores obtidos com base nos Inquéritos Nacionais de Saúde (1998/99 e 2005/06). INE – Instituto Nacional de Estatística; ARS – Administrações Regionais de Saúde; INSA – Instituto Nacional de Saúde; IMC – índice de massa corporal; HTA – hipertensão arterial. Quanto ao contexto social, de acordo com o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento (INE, 2008), 23% dos menores de 18 anos viviam em risco de pobreza. A proporção de famílias monoparentais aumentou de 7,4 para 8,5%, entre 1999 e 2009, sendo especialmente de mulheres (86,8% em 2009), habitualmente as mais atingidas pelo emprego precário, baixa remuneração e desemprego. 1.2 Saúde infantil e dos adolescentes - idade pré-escolar e escolar As taxas de cobertura vacinal (2008) apresentam valores máximos no segundo ano de vida (DTPa4 -94,0%; VASPR196,5%; VIP3-96,8%) que baixam para 81% das crianças em idade pré-escolar. Aos 6 anos, 91% tem o Programa Nacional de Vacinação (PNV) actualizado e aos 13 anos, 85% (2007-2008). No mesmo ano lectivo, 93% dos Centros de Saúde tinham equipas de Saúde Escolar. O exame global de saúde foi efectuado em 70% das crianças que iniciaram a escolaridade, mas apenas em 36% dos alunos de 13 anos. Entre os alunos identificados como tendo necessidades de saúde especiais passíveis 198 de resolução, 55% tinham no fim do ano lectivo, o problema de saúde resolvido. * O primeiro e último ano correspondem a 2000 e 2005/2006, respectivamente. NSE – necessidades de saúde especiais; CPOD - dentes cariados, perdidos e obturados na dentição permanente); PNV - Programa Nacional de Vacinação. O Inquérito sobre Comportamentos de Saúde em Idade Escolar (HBSC/OMS) permite informação variada. Entre 2002 e 2010 registou-se um aumento dos jovens que consideram ter uma saúde excelente (de 26,1 para 33,9%), mantendo-se a tendência de maior % de rapazes em qualquer idade e dos dois sexos aos 11 anos. Em 2010, o consumo diário de fruta e vegetais foi maior nas raparigas (fruta: 45,0 vs. 38,0%; vegetais: 30,0 vs. 23,3%). Os rapazes consumiram mais doces (17,8 vs. 17,2%) e mais refrigerantes (25,6 vs. 20,8%). Comparando os resultados dos vários estudos, verificou-se diminuição do consumo diário de fruta (1998: 91,9%; 2010: 41,6%), vegetais (1998: 55,5%; 2010: 26,8%) mas também o de refrigerantes (1998: 49,1%; 2010: 23,1%) e doces (1998: 57,4%; 2010: 17,5%). Quanto ao hábito de tomar o pequeno-almoço, em 2010 confirma-se o padrão observado em 2002, com uma ligeira redução. Durante a semana, 15,3% dos rapazes e 23,6% das raparigas não tomam o pequeno-almoço todos os dias e este comportamento aumenta com a idade: 10,7% aos 11 anos e 28,3% aos 16 anos. Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal Ao fim de semana, há menor diferença entre géneros (rapazes: 18,7%; raparigas: 18,1%) e maior entre grupos etários: aos 11 anos, 9,9 % e aos 16 anos, 28,0%. Entre 2002 e 2010, aumentou a percentagem dos que praticam exercício físico todos os dias (12,6 para 13,3%), com ênfase para os rapazes (19,0 vs. 8,2%) e para os mais jovens (18,8% aos 11 anos). Quanto a tempos livres, de 2002 para 2010, aumentou a % dos que ocupam 4 ou mais horas por dia em actividades sedentárias, nomeadamente jogos de computador (8,0 vs 11,8%), com predomínio aos 13 anos. A prevalência de excesso de peso e de obesidade registou variações pouco expressivas, de 14,8 para 15,2% quanto à primeira, mas a de jovens obesos diminuiu de 3,1 para 2,8%, sendo mais frequente em rapazes embora não haja diferenças entre sexos aos 11 anos (QuadroIII). Os inquéritos do HBSC/OMS apontam para redução do consumo de tabaco, em rapazes e raparigas, seja experimentação (2002: 37,1%; 2010: 30,0%) ou consumo habitual (2002: 8,5%; 2010: 4,5%) mas é particularmente relevante nos rapazes que fumam diariamente que diminui para metade. O estudo ECATD permite comparar 2003 e 2007, para todas as idades, entre 13 e 18 anos e por género. A prevalência ao longo da vida (PLV), diminuiu em todas as idades, sendo mais relevante aos 13 anos: para os rapazes, de 31,0 para 23,9% (-22,9%) e para as raparigas 28,1 para 15,1% (-46,3%). A mesma tendência é observada nos últimos 30 dias (P30D), indicador do consumo actual. Para os rapazes de 13 anos o decréscimo foi de 6,9 para 4,1% (-40,6%) e para as raparigas, de 8,0 para 3,3% (-58,8%) (Figura 2). Quadro III - Saúde dos adolescentes (11 a 15 anos) Auto-apreciação positiva do estado de saúde 2002 % 2010 % Variação (%) Fonte 26,1 33,9 29,9 HBSC Consumos alimentares diários HBSC Fruta 49,0 41,6 -15,1 Vegetais 27,0 26,8 -0,7 Doces 23,2 17,5 -24,6 Refrigerantes 34,6 23,1 -33,2 Actividade física HBSC 1 hora, 3 ou mais vezes por semana 47,7 48,2 1,0 1 hora, diariamente 12,6 13,3 5,6 Actividades sedentárias HBSC TV, 4 ou mais horas por dia 33,0 25,2 -23,6 Jogos computador, ≥4 horas por dia 8,0 11,8 47,5 Excesso de peso (IMC entre 27 e 29,9) 14,8 15,2* 2,7 HBSC Obesidade (IMC ≥30) 3,1 2,8* -9,7 HBSC Consumo de tabaco HBSC Experimentação 37,1 30,0 -19,1 Habitual 8,5 4,5 -47,1 Consumo excessivo de álcool HBSC Ficar embriagado: nunca 75,5 75,1 -0,5 Ficar embriagado: ≥4 vezes 5,3 6,0 13,2 Consumo de substâncias ilícitas HBSC Experimentação de cannabis 9,2 8,8 -4,3 Consumo no último mês 1,5 1,4 -6,7 * Valor relativo ao ano 2006. HBSC - Health Behaviour in School-aged Children; IMC – índice de massa corporal. Figura 2 – Experiência e consumo actual de tabaco (Fonte: Elaborado por GIP/ACS a partir de informação do Instituto da Droga e Toxicodependência (2009). A nível regional, há grandes assimetrias. Os dados do INME (2006) indicam que, para alunos do 3º ciclo, a experiência de consumo é mais frequentemente referida no Alentejo (42,1%) e Algarve (46,9%). Para alunos do ensino secundário, mais de metade já experimentaram (54,2% em Portugal Continental), destacando-se o Alentejo com 64,2%. Quanto ao consumo de álcool, menos de 1% dos jovens inquiridos em 2002 e 2010 no estudo HBSC/OMS, afirmou consumir diariamente bebidas alcoólicas e mais de 70% refere 199 Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 nunca se ter embriagado. No entanto, a percentagem de jovens que admite ter-se embriagado 4 vezes ou mais tem vindo a aumentar de 4,2%, em 1998 para 5,3% em 2002 e 6,0% em 2010. Os rapazes em qualquer idade e os mais velhos (rapazes e raparigas) consomem mais álcool. A percentagem dos que experimentaram, aumentou de 2003 para 2007 (ECATD), sobretudo aos 13 e 14 anos. Para os rapazes de 13 anos, a PLV aumentou de 52,5 para 55,1% (+5,0%) e para as raparigas, de 42,4 para 46,7% (+10,1%). Relativamente ao consumo nos 30 dias anteriores à entrevista, verificou-se que, para os rapazes, diminui em todas as idades abaixo dos 18 anos. Para as raparigas, diminui aos 13 a 15 anos, mas aumenta nas mais velhas (Figura 3). Figura 3 – Experiência e consumo actual de álcool, segundo idade e género (Fonte: Elaborado por GIP/ACS a partir de informação do Instituto da Droga e Toxicodependência (2009). O ESPAD, Estudo Europeu aos 16 anos, confirma a tendência de aumento, mais notório a partir de 2003. Relativamente ao P30D, a percentagem de respostas afirmativas passou de 48% em 2003 para 60% em 2007, sendo a cerveja a bebida mais consumida. Em 2003, 25% dos jovens afirmaram que tinham tomado 5 ou mais porções numa única ocasião. Em 2007, esta percentagem subiu para 56% e 12% reportaram que este facto se repetiu pelo menos 3 vezes nos 30 dias anteriores. Relativamente ao mesmo período de tempo, 10% dos jovens afirmaram ter estado embriagados pelo menos uma vez e 25% nos 12 meses anteriores. 200 Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal Os dados do INME 2006 revelam que, para os alunos do 3º ciclo, a experiência de consumo de álcool é mais elevada no Alentejo (76,6%) e no Algarve (67,6%). Para os alunos do ensino secundário, a PLV é superior a 84% em todas as Regiões, sendo também mais elevada nas Regiões do Sul de Portugal: 95,2% no Alentejo e 93,0% no Algarve. Quanto ao uso de substâncias ilícitas, vários estudos realizados entre 1995 e 2003 em populações escolares, mostram prevalência de consumo de cannabis mais elevada que a das outras drogas e, de um modo geral, um aumento dos consumos nesse período. Inquéritos mais recentes (INME, 2006; ESPAD e ECATD, 2007; HBSC/OMS, 2010) mostram um ligeiro decréscimo, quer ao nível da experimentação quer do consumo no mês anterior à entrevista, mantendo-se a cannabis como a mais consumida (Figura 4). Figura 4 – Experiência e consumo actual de cannabis, segundo idade e género (Fonte: Elaborado por GIP/ACS a partir de informação do Instituto da Droga e Toxicodependência (2009). De acordo com o HBSC/OMS, a percentagem de jovens escolarizados que experimentou cannabis diminuiu de 9,2 em 2002 para 8,8% em 2010. No entanto, aos 11 anos aumentou de 1,4% para 1,6%. O consumo regular de drogas no mês anterior é referido por 1,5% dos jovens em 2002 e 1,4% em 2010, mantendo-se maior tendência para os rapazes e para a idade igual ou superior a 16 anos. Os resultados dos INME 2006 revelam que, entre os alunos do 3º ciclo, a experimentação de qualquer tipo de droga foi Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal mais referida no Alentejo (8,8%) e em LVT (8,7%). Para os do secundário, o Algarve (24,8%) e o Alentejo (22,3%). 2. Esperança de vida e mortalidade As crianças portuguesas nascidas em 2009 podem esperar viver em média 76,06 anos se forem do sexo masculino e 82,09 anos se do sexo feminino. A mortalidade de crianças com menos de 28 dias de idade decresceu, entre 2001 e 2009, de 2,8 para 2,4 óbitos neonatais por 1000 nados vivos. O decréscimo relativo da mortalidade infantil, no mesmo período, foi ainda superior, de 4,8 para 3,6 por 1000 nados vivos. Em 2009, 67,5% dos óbitos infantis ocorreram antes da criança completar 28 dias de idade. As principais causas de óbito foram as cardiopatias malformativas e outras anomalias (9,9% dos óbitos infantis) e a prematuridade (Figura 5). Figura 6 – Principais causas de morte, segundo o grupo etário, em Portugal Continental (2004-2008). Fonte: Elaborado por ACS a partir de informação do Instituto Nacional de Estatística (2009). Nos últimos anos tem-se verificado descida assinalável da mortalidade por causas externas nas crianças e adolescentes. De 1999 para 2008 a taxa de mortalidade decresceu 58,8%, de 18,1 para 7,5 óbitos por 100 000. A taxa de mortalidade por causas externas é mais baixa nas idades 5-9 anos (2,9/100 000 em 2008; decréscimo de 71,0% relativamente a 1999) e atinge os valores mais elevados no grupo 15-19 anos (15,9/100 000 em 2008; decréscimo de 53,3% relativamente a 1999) (Quadro IV). Quadro IV – Esperança de vida e mortalidade 2001 Figura 5 – Taxa quinquenal de mortalidade por 1000 nados vivos, segundo Nomenclatura Comum das Unidades Territoriais Estatísticas (NUTS) III (2005-2009). Fonte: Elaborado por GIP/ACS a partir de informação do Instituto Nacional de Estatística (2010) Ao desagregar espacialmente as taxas quinquenais de mortalidade neonatal e infantil destacam-se valores mais elevados do interior: Pinhal Interior Sul e Alto Alentejo (Figura 5). Refira-se ainda que no Baixo Alentejo e no Alentejo Litoral a mortalidade infantil atinge um valor relativamente elevado, quando comparada com a mortalidade neonatal, o que indica que nestas unidades geográficas os óbitos de crianças com 28 ou mais dias tiveram maior peso. A taxa de mortalidade abaixo dos 5 anos, fortemente determinada pelos óbitos infantis, apresentou, entre 2001 e 2009, evolução semelhante à taxa de mortalidade infantil, com um decréscimo de 6,2 para 4,5 óbitos por 1000 nados-vivos. O grupo etário dos 5 aos 9 anos apresenta a taxa de mortalidade específica por idade mais baixa. Em 2009 ocorreram 11,2 óbitos por 100 000 crianças nesse grupo etário, o que representa um decréscimo de 45,1% relativamente ao verificado em 2001 (20,4 por 100 000). Na faixa etária de 1 a 19 anos (Figura 6) a mortalidade por causas externas apresenta peso relativo crescente, à medida que aumenta a idade: de 28% dos óbitos entre 1 e 4 anos para 55% dos óbitos entre 15 e 19 anos (Figura 6). 2009 Variação (%) Esperança de vida à nascença (anos) Fonte INE Homens 73,25 76,06 3,8 Mulheres 79,84 82,09 2,8 Taxa de mortalidade neonatal (por 1000 NV) 2,8 2,4 -14,3 INE Taxa de mortalidade infantil (por 1000 NV) 4,8 3,6 -25,0 INE Risco de morrer até aos 5 anos (por 1000 NV) 6,2 4,5 -27,4 INE Taxa de mortalidade dos 5 aos 9 anos (por 100 000 crianças) 20,4 11,2 -45,1 INE Taxa de mortalidade por causas externas (por 100 000 crianças e jovens) 18,5 7,5* -59,5 INE * Valor relativo ao ano 2008. INE – Instituto Nacional de Estatística; NVnados vivos. Discussão Os ganhos em saúde materna, infantil e juvenil nas 3 últimas décadas em Portugal têm sempre evoluído de forma positiva mas é importante que o planeamento em saúde garanta a sustentabilidade dos resultados. 201 Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 O Plano Nacional de Saúde 2004-2010 desenvolve-se segundo o ciclo de vida: Nascer com Saúde, Crescer com Segurança, Uma Juventude à procura de um futuro saudável. A implementação prevê estratégias específicas e a monitorização inclui indicadores para a mortalidade, baixo peso e prematuridade, saúde escolar e do adolescente, referidos neste trabalho. O baixo índice sintético de fecundidade com tendência negativa deve ser encarado como uma necessidade absoluta de desenvolver políticas de apoio à natalidade. Subsídios financeiros na gravidez, ao segundo e terceiro filho (Espanha, Itália e Portugal) não parecem suficientes. No entanto, políticas concertadas envolvendo subsídios, licenças parentais alargadas, estabilidade no emprego, creches e infantários gratuitos ou subsidiados e com horários alargados têm mostrado resultados em França, Suécia e Noruega15. A idade e o estado de saúde da mãe, nomeadamente durante a gestação, são factores que podem constituir risco para a criança, ao nascer ou mesmo ao longo da vida16. A gravidez na adolescência (4,2% em 2009) é ainda alta em comparação com os valores inferiores a 3% na maior parte dos países da UE15 e longe dos 1,3% do país com melhor valor6 embora tenha mostrado uma boa evolução, mantendo-se assimetrias nas cinco Regiões de Saúde. Como fenómeno social generalizado, a proporção de nascimentos em mães com 35+ tem aumentado mas a taxa é superior a alguns países da UE15: 20,6% em Portugal, 15% na Dinamarca e 27% na Irlanda. A idade materna tardia é um dos factores de baixo peso à nascença e prematuridade. Apesar da distribuição de nascimentos por idade gestacional não estar disponível nas bases de dados internacionais, há estudos17,18 que mostram que os nascimentos pré-termo aumentaram em muitos países na última década. Recomendam que este indicador seja regularmente reportado, incluindo a desagregação por gestação múltipla que influencia a prematuridade. Em 2004, os valores deste indicador variaram entre 5,5% na Irlanda e 11,4% na Áustria, apresentando Portugal um valor intermédio (6,7%) que subiu para 8,8%, em 2009. O baixo peso à nascença pode estar relacionado com prematuridade ou com atraso no crescimento intra-uterino por patologia como hipertensão ou tabagismo ou apenas pela menor estatura média da população portuguesa. A variabilidade deste indicador nos países europeus pode também dever-se à diferente estatura média das populações. Os dados disponíveis parecem apontar para um gradiente Norte/Sul: a percentagem de nados vivos com menos de 2500g é mais baixa nos países nórdicos (cerca de 4% na Suécia e na Finlândia) e mais elevada na Grécia, Hungria e Bélgica (8 a 9%), mas também em Espanha e Portugal (respectivamente, 7,6 e 7,7%). Sendo o tabagismo uma causa evitável e sensível à promoção da saúde, e mostrando os indicadores do PNS uma subida de 40% das mulheres dos 15 aos 24 anos (3º e 4ºINS) que fumam, é urgente desenvolver campanhas para inverter esta tendência. Este é um problema de saúde pública pois sabe-se que o tabagismo é um factor de atraso de crescimento intra-uterino19 e que o baixo peso ao nascer em gestação de termo é factor 202 Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal de doença no adulto como obesidade, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares20. A taxa de cesarianas continua a aumentar em muitos países europeus. Em Portugal Continental, em 2008, realizaram-se 35 537 partos por cesariana, o que corresponde a 35,9/100 nados vivos. Esta proporção só é ultrapassada em Itália, onde a percentagem era já próxima de 40%, em 2006. Apenas a Holanda e a Finlândia têm conseguido manter valores baixos e estáveis nos últimos anos, rondando 14% e 16%, respectivamente. O programa de controlo das cesarianas desenvolvido em 2010 pela ARS Norte mostrou que é possível baixar estes valores. Sabe-se que os primeiros anos de vida são determinantes no estabelecimento de atitudes e comportamentos que perduram ao longo da vida. Não obstante, praticamente não existe informação de âmbito nacional quanto a resultados de programas e intervenções dirigidas a esta faixa etária. A Estratégia Europeia para a Saúde e Desenvolvimento da Criança e do Adolescente chama a atenção para a necessidade de implementar e monitorizar programas para a primeira infância em áreas como a promoção de hábitos alimentares saudáveis e de higiene oral e pessoal, prevenção, detecção precoce e tratamento de doenças infecciosas, assim como de dificuldades auditivas, de visão ou do desenvolvimento, prevenção do abuso e negligência ou, ainda, promoção de condições ambientais seguras, em casa e nos espaços frequentados pelas crianças. Harrington e outros, em estudo retrospectivo a 184 crianças e jovens americanos que aos 10 anos apresentavam já excesso de peso ou obesidade, concluíram que, em crianças com estas características, os dois primeiros anos de vida são críticos para prevenir a obesidade infantil21. No editorial recente da Lancet recomenda-se que o aconse lhamento nutricional até aos dois anos de vida da criança e maior atenção aos padrões alimentares em creches e jardins-de-infância22. A dieta adequada deve estar associada ao exercício físico, em todas as idades, de que é exemplo a campanha recente nos EUA ‘Let’s move’, com o objectivo de eliminar a obesidade infantil numa geração. Identificaram-se quatro áreas de intervenção: melhorar o conhecimento dos pais sobre dietas saudáveis, combater a pouca qualidade nutricional nas escolas e os baixos níveis de actividade física das crianças e tornar os alimentos saudáveis acessíveis às populações com baixos rendimentos. Acções mais restritivas, como proibição de publicidade a alimentos não saudáveis em programas televisivos infantis ou de máquinas de venda automática, têm também sido advogadas e implementadas em diversos países. Em Portugal, no contexto da Plataforma de Luta contra a Obesidade (DGS 2007), 26 empresas do sector alimentar assinaram um compromisso de auto-regulação para restringir, em determinados horários, a publicidade dos produtos que não se enquadram nos critérios nutricionais, definidos pela Organização Mundial de Saúde. O PNS inclui vários indicadores de Saúde Escolar que incluem Exame Global de Saúde, taxa de vacinação e estado das escolas. No ano lectivo 2006/2007, o Exame Global de Saúde foi realizado a 74% das crianças de 6 anos, valor abaixo da meta do PNS para 2010 (90%) e 91% das crianças têm o Plano Nacional de Vacinação cumprido. Aos 13 anos, no entanto, apenas 37% têm Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 EGS e 83%, o PNV completo. A ausência de intervenções de saúde nas escolas é apontada no relatório do projecto EUGLOREH 2007 como podendo agravar a desvantagem de crianças já vulneráveis, tornando mais difícil a detecção precoce e resposta a necessidades de saúde ou problemas de negligência ou abuso detectados. Esta consulta aos 13 anos é especialmente importante como educação e ensino relativo ao consumo de álcool, tabaco e outras substâncias e a prevenção de doenças do comportamento alimentar. O índice de CPOD em adolescentes portugueses de 12 anos foi estimado em 1,48. Entre os poucos países que reportam com regularidade este indicador estão a Dinamarca e o Luxemburgo, com 0,8 e a Eslováquia onde o índice atingiu 2,4 (valores para 2006). Os resultados do inquérito HBSC/OMS 2005/2006 permitem comparar alguns indicadores de saúde da população escolar portuguesa (11 a 15 anos) com a de diversos países europeus10. Um dos indicadores de resultados de saúde é a auto-apreciação numa fase caracterizada por morbilidade e mortalidade baixas, tendo sido encontrada, associações com ansiedade e depressão. Dos 11 aos 13 anos, 10 a 13% dos rapazes e raparigas avaliaram o estado de saúde como razoável ou mau mas aos 15 anos verifica-se diferença significativa entre raparigas (24%) e rapazes (9%), tendência observada em quase todos os países da Europa Ocidental e do Sul. Relativamente ao excesso de peso e obesidade, aos 11 anos, as prevalências de 22% para meninas e 25% para rapazes colocam Portugal entre os países com piores resultados, apenas precedido por EUA e Malta. Aos 13 e 15 anos é mais baixa (13%), mas continua elevada entre os rapazes (18% e 22%). Portugal destaca-se como o país em que o hábito de tomar pequeno almoço é mais frequente aos 13 e aos 15 anos, apenas superado pela Holanda no grupo etário dos 11 anos. Nesta idade a percentagem é semelhante (cerca de 90%) em ambos os géneros, mas aos 13 e 15 anos existem diferenças significativas (raparigas 69% e rapazes 79%, aos 15 anos). Comparativamente com os outros países o consumo diário de fruta é elevado entre os adolescentes portugueses, sobretudo aos 11 anos. Os jovens mais velhos consomem menos fruta e as diferenças deixam de ser significativas. Quanto ao consumo diário de refrigerantes, as percentagens encontradas colocam Portugal numa posição intermédia. Machado MC et al. – Saúde Infantil e Juvenil em Portugal variabilidade entre os diversos países: desde 7 e 12% em Israel a 43 e 65% na Estónia (raparigas e rapazes). A percentagem de adolescentes que fumam pelo menos uma vez por semana aumenta com a idade. Aos 11 anos é inferior a 5% em todos os países. O maior incremento verifica-se dos 13 para os 15 anos. Em Portugal, 12% das raparigas e 9% dos rapazes de 15 anos afirmaram fumar semanalmente. Estas percentagens estão entre as mais baixas observadas nos 41 países. Quanto ao consumo de álcool, a situação em Portugal é das mais baixas nos 41 países. No entanto, 10% dos rapazes portugueses de 15 anos ficaram embriagados pela primeira vez com 13 anos ou antes, 19% afirmaram consumir alguma bebida alcoólica pelo menos uma vez por semana e 25% já estiveram embriagados pelo menos duas vezes. Estes valores são muito superiores aos encontrados para os 13 anos, sendo o consumo por vezes justificado pelos adolescentes por reduzir a inibição social e promover maior integração no grupo. A adopção destes comportamentos desde idades precoces pode agravar os riscos associados, tais como a lesões acidentais, diminuição do rendimento escolar, actividade sexual não planeada e sem protecção. Uma análise mais geral dos resultados do inquérito HBSC/OMS permite identificar uma tendência para resultados mais favoráveis nos adolescentes mais novos. Esta constatação revela a necessidade de investir mais na Educação para a Saúde, envolvendo as escolas e as famílias mas também o sector social. Também se demonstraram grandes assimetrias regionais pelo que as estratégias têm de ser planeadas para a realidade local. A saúde infantil teve ganhos inequívocos nas últimas décadas e em 2008, a taxa de mortalidade neonatal de 2,1‰ e a infantil de 3,3‰ colocam Portugal entre os cinco países com melhores resultados na UE. Para a OMS, é o 6º melhor país para crianças nascerem entre 80 países com mais de 10 milhões de habitantes (2002). No entanto, para a sustentabilidade deste êxito de natureza social, técnica e política é necessária uma estratégia focada nos principais problemas. A saúde da criança e adolescentes é o paradigma da Saúde em Todas as Politicas. Só a acção concertada intersectorial, com envolvimento de outros Ministérios, poderá resultar na melhoria progressiva dos ganhos conseguidos. Quanto à prática de actividade física e a práticas sedentárias, a percentagem de adolescentes portugueses que praticam diariamente pelo menos 1 hora de actividade física moderada a vigorosa é das mais baixas encontradas nos 41 países, particularmente para as raparigas (12% aos 11 anos e apenas 5% aos 15 anos). A maioria dos adolescentes vê 2 ou mais horas de televisão aos dias de semana: cerca de 70% aos 11 anos e quase 80% aos 15 anos. No Luxemburgo e na Suíça a percentagem é inferior a 45% aos 11 anos e entre 50 e 60% aos 15 anos. Acrescente-se que 50 a 55% dos rapazes portugueses utilizam o computador ou consolas para jogos durante pelo menos 2 horas, em dias de semana. Apesar destas acções, no relatório do projecto EUGLOREH 20073, que reúne informação sobre o estado de saúde na UE, afirma-se que pouco se sabe sobre a saúde das crianças após a primeira infância e que, embora crianças e adolescentes sejam mais saudáveis do que no passado, ainda se confrontam com problemas de saúde causados por acidentes, doenças crónicas, abuso de tabaco e de outras substâncias, excesso de peso e obesidade, bem como doenças e perturbações mentais. Quanto a comportamentos de risco e à idade em que fumaram o 1º cigarro, 23% das raparigas e 26% dos rapazes afirmaram que o tinham feito aos 13 anos ou antes. Verificou-se grande 1.WHO Regional Office for Europe. European strategy for child and adolescent health and development. Copenhagen: World Health Organization; 2005. Referências 203 Acta Pediatr Port 2011:42(5):195-204 2.European Health for All Database. Acessível http://data.euro.who.int/hfadb/ [1 de Setembro de 2011]. 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Lisboa: Aventura Social; 2011. 9.World Health Organization. The World Health Report 2008: Primary Care Now More Than Ever. Genève: World Health Organization; 2008. 10.Machado MC. Saúde Infantil: uma história de sucesso. In: Sakelarides C, Alves MV, editores. Lisboa, Saúde e Inovação. Do renascimento aos dias de hoje. Lisboa: Edição Gradiva; 2008; 197-203. 11.Machado MC. Nascer no séc XXI. In: Ao Encontro da Medicina. Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian e da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa; 2007. 12.Indicadores e metas do Plano Nacional de Saúde. Acessível em: http://www.acs.min-saude.pt/pns/ [1 de Setembro de 2011]. 13.Feijão F. Epidemiologia do consumo de álcool entre os adolescentes escolarizados a nível nacional e nas diferentes regiões geográficas. Revista Toxicodependências 2010;16(1):29-46. 204 14.Hibell B, Guttormsson U, Ahlstrom S, Balakireva O, Bjarnason T, Kokkevi A et al. The 2007 ESPAD Report. Substance use among students in 35 European Countries. 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Serviço de Patologia Clínica, Centro Hospitalar Cova da Beira, Covilhã 2. Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar Cova da Beira, Covilhã 3. Serviço de Pediatria, Hospital Sousa Martins, Guarda 4. Serviço de Obstetrícia, Centro Hospitalar Cova da Beira, Covilhã 5. Serviço de Obstetrícia, Hospital Sousa Martins, Guarda 6. Departamento de Microbiologia, CEDOC, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa Resumo Introdução: O vírus citomegálico humano é considerado o primeiro agente de infecção congénita nos países desenvolvidos, afectando cerca de 0,2 a 2% de todos os recém-nascidos. Das crianças infectadas, 12,7% são sintomáticas ao nascimento e 13,5% das assintomáticas irão desenvolver sequelas durante os primeiros anos de vida, de acordo com uma meta-análise recente. Objectivo: estudo da aplicação de um método que recorre à utilização de pools de amostras de urina para o rastreio desta infecção congénita. Material e Métodos: Foram estudadas 800 urinas de recém-nascidos. As urinas foram testadas pelo método de referência e foram posteriormente divididas em pools de 20 urinas e testadas por uma técnica de nested-PCR, segundo um algoritmo estabelecido. Resultados: Das 800 urinas testadas, três foram positivas pelo método de referência. Quando testadas usando o método proposto, três das 40 pools testadas apresentaram um resultado positivo, correspondendo às três amostras positivas pelo método de referência Discussão: verificou-se uma concordância total entre o método de referência e o método das pools aqui descrito. Esta metodologia das pools, ao permitir uma redução bastante significativa, quer nos tempos de execução quer nos custos em reagentes, abre a possibilidade efectiva de utilizar esta técnica para o rastreio da infecção congénita por CMV nos recém-nascidos. Palavras chave: Vírus citomegálico humano, infecção congénita, rastreio, urina, pools Acta Pediatr Port 2011;42(5):205-8 Recebido: 18.02.2010 Aceite: 11.10.2011 Human Cytomegalovirus Congenital Infection – evaluation of a new screening method Abstract Background: Human cytomegalovirus (CMV) is the most frequent cause of congenital infection, occurring in 0.2 to 2% of all live births in developed countries. From all infected babies, 12,7% are symptomatic at birth, and 13,5% will suffer late sequelae in the first years of life, according with a recent meta-analysis. Aim: evaluation of a urine pool method for the screening of this infection. Material and Methods: Urine samples from 800 newborns were tested individually by the reference method, and after that divided in 20 urine pools that were tested by nested PCR, according to a pre-defined algorithm. Results: Three urine samples tested positive by the reference method. When tested by the pool method, three out of the 40 pools the tested positive, corresponding to the three positive samples. Discussion: The results of the pool method achieved a complete agreement with the reference method, but with substantial cost and labour reduction. This opens the possibility of using this procedure as a real screening method for CMV congenital infection. Key words: Human cytomegalovirus, Congenital infection, prevalence, screening, urine, pools Acta Pediatr Port 2011;42(5):205-8 Introdução Da história da saúde pública do século XX fazem parte várias histórias de sucesso no campo da prevenção de malformações Correspondência: Sofia Isabel Aguiar Almeida Serviço de Patologia Clínica - Laboratório de Virologia Centro Hospitalar Cova da Beira Quinta do Alvito 6200 – Covilhã [email protected] 205 Acta Pediatr Port 2011:42(5):205-8 Almeida S et al. – Infecção congénita pelo citomegalovirus congénitas e da mortalidade infantil. De facto, a vacinação contra o vírus da rubéola praticamente eliminou o sindroma da rubéola congénita, a educação das mães no que diz respeito ao consumo de álcool durante a gravidez permitiu reduzir o sindroma fetal alcoólico e o consumo de suplementos vitamínicos, nomeadamente de ácido fólico, permitiu diminuir a incidência de casos de defeitos do tubo neural. No entanto, notavelmente ausente desta lista de sucessos, está a prevenção da infecção congénita pelo vírus citomegálico humano (CMV)1. infecção congénita por CMV. Os resultados preliminares deste trabalho foram já anteriormente publicados14, mas este método ainda não foi, até agora, aplicado a uma situação real de rastreio. Actualmente o CMV é considerado o primeiro agente de infecção congénita nos países desenvolvidos, afectando cerca de 0,2 a 2% de todos os recém-nascidos2. Das crianças infectadas durante a gestação por este vírus, de acordo com uma meta análise recente, cerca de 12,7%3 serão sintomáticas ao nascimento, com sinais e sintomas que podem incluir o baixo peso para a idade gestacional, microcefalia, calcificações intracranianas, esplenomegalia e/ou hepatomegalia, icterícia, petéquias, anemia hemolítica, pneumonia, coriorretinite diminuição da acuidade auditiva, entre outras4,5. Das restantes, assintomáticas ao nascimento, 13,7% poderão desenvolver sequelas importantes durante os primeiros anos de vida, como alterações no desenvolvimento psico-motor e surdez3. Material e Métodos De todos os meios para tentar minorar a situação actual, o desenvolvimento de uma vacina eficaz é considerado por alguns como o mais promissor. No entanto, apesar dos esforços e progressos feitos nos últimos 30 anos, a falta de interesse manifestada pela indústria farmacêutica e vários desafios ao nível técnico, fazem com que a data do seu aparecimento seja por enquanto incerta6. Enquanto essa data não surge e tendo em consideração que a principal via de transmissão deste vírus às grávidas é o contacto directo com crianças, especialmente os seus próprios filhos7, tem sido proposto que o aconselhamento de medidas de higiene simples, como lavar as mãos após contacto com urina ou saliva de crianças ou evitar dar beijos na região da boca das crianças, pode diminuir a transmissão do vírus às mães e consequentemente baixar a prevalência desta infecção congénita8. Têm sido efectuados alguns esforços nos últimos anos, na tentativa de diminuir a percentagem de crianças com sequelas devidas à infecção pelo CMV, melhorando assim a qualidade de vida destas crianças. Dentro das várias propostas, contam-se as terapêuticas com compostos antivíricos, nomeadamente com o ganciclovir ou o seu derivado, o valganciclovir, em crianças seriamente afectadas9,10, e medidas de suporte não farmacológico, como a intervenção precoce com estimulação neuro-sensorial, a terapia da fala e a educação especial para as crianças com sequelas, dado que existem evidências de que o diagnóstico precoce e o estabelecimento destas medidas poderão melhorar a sua qualidade de vida11,12. Dado que, como referido anteriormente, a maioria irá nascer sem sintomas, só um programa de rastreio virológico à nascença poderá detectar estas crianças. Em 2005 foi proposto um novo método de rastreio, que se baseia na adaptação de um princípio utilizado em alguns bancos de sangue13, e que consiste na detecção do ácido desoxirribonucleico (ADN) do CMV por uma técnica da reacção em cadeia da polimerase (PCR) em pools de amostras de urina de recém nascidos. Este princípio das pools permite reduzir significativamente custos e tempos de execução e pode ser aplicado ao diagnóstico da 206 Assim, o objectivo do presente estudo visa a comparação do método das pools de urina com o método de referência, numa população de recém-nascidos aos quais se efectuou o rastreio da infecção congénita citomegálica. População A participação no presente estudo foi proposta a todas as puérperas de dois Hospitais da Beira Interior (Hospital Pêro da Covilhã e Hospital Sousa Martins), entre Janeiro de 2007 e Dezembro de 2008. Estes dois Hospitais registam anualmente cerca de 1600 partos. Foram incluídos no estudo os 800 recém-nascidos cujas mães aceitaram participar no estudo e a quem foi possível efectuar a colheita durante o período de internamento. Amostras A cada recém-nascido foi colhida, na primeira semana de vida, uma amostra de urina, com recurso a um saco colector pediátrico. As amostras de urina foram enviadas refrigeradas para o laboratório de virologia do Serviço de Patologia Clínica do Hospital Pêro da Covilhã (Directora do Serviço: Dra. Conceição Faria), onde foram processadas. Pesquisa da virúria por cultura celular As urinas foram testadas por cultura celular (método de referência), pelo método de shell-vial, com o recurso a células MRC-5, de acordo com o descrito por Gleaves e colaboradores15. Resumidamente, cada amostra de urina foi semeada num tudo para cultura shell vial, com células MRC-5 confluentes, que após centrifugação a 700g durante uma hora foi incubado a 37ºC durante 48 horas. Seguidamente, as células foram coradas por imunofluorescência indirecta, usando uma mistura de anticorpos anti CMV I.E.A. + E.A. e, na segunda incubação, um anticorpo secundário conjugado com fluresceína (Argene 14-004) e observadas no microscópio de epifluorescência para pesquisa da fluorescência nuclear característica. Pools de amostras de urina As amostras de urina recebidas foram divididas em pools (mistura de amostras) de 20 urinas cada e testadas de acordo com o previamente descrito14. Resumidamente, as urinas foram divididas em grupos de 20 e cada grupo (pool) testado por uma técnica de nested-PCR (PCR de amplificação dupla). Se uma pool apresentou o resultado da nested-PCR negativo, as 20 amostras de urina usadas nessa pool foram consideradas como negativas. Uma pool com resultado positivo foi divida em pools de cinco amostras cada, que foram novamente testadas pela mesma técnica; nas pools com resultados positivos as amostras foram testadas individualmente para determinação de qual ou quais as amostras positiva. Acta Pediatr Port 2011:42(5):205-8 Almeida S et al. – Infecção congénita pelo citomegalovirus Discussão Considerações éticas O estudo foi aprovado pelas comissões de ética dos referidos hospitais e apresentado às puérperas, que livremente decidiram a participação dos seus filhos neste estudo. As mães que concordaram assinaram um protocolo de consentimento informado. Resultados Pesquisa da virúria por cultura celular Das 800 urinas testadas, três apresentaram um resultado positivo quando testadas individualmente pelo método de referência. Pools de amostras de urina: Das 40 pools testadas, apenas três apresentaram um resultado positivo, o que permitiu concluir que todas as urinas usadas para preparar as restantes 37 pools eram negativas. As três pools positivas foram divididas em pools de cinco urinas cada, estando os resultados obtidos representados no Quadro. Esta metodologia das pools permitiu identificar correctamente as três amostras que tinham sido positivas pelo método de referência, sem qualquer resultado falsamente positivo nas restantes 797 amostras. Quadro - Resultados da PCR (reacção em cadeia da polimerase) das três pools Positivas Pools 20 Pool nº 12 Pool nº20 Pools 5 Positivo 12.1 Negativo 12.2 Negativo 12.3 Positivo 12.4 Negativo 20.1 Negativo 20.2 Negativo 20.3 Negativo Positivo 20.4 27.1 Pool nº27 Urinas individuais Positivo Pools – mistura de amostras 27.2 Positivo 12.3.1 Negativo 12.3.2 Positivo 12.3.3 Negativo 12.3.4 Negativo 12.3.5 Negativo 27.3 Negativo 27.4 Negativo No presente estudo, o primeiro realizado numa situação real de rastreio, foi possível detectar por este método as três urinas que tinham sido positivas pelo método de referência, sendo todas as outras, 797 no total, consideradas como negativas. Assim, verificou-se uma concordância total, nas 800 amostras testadas, entre o método das pools e o método de referência, apresentando o primeiro uma sensibilidade e uma especificidade de 100% em comparação com o método de referência. Quando analisado o preço por teste, este método permite reduzir o preço em cerca de 90% (dependendo da prevalência) quando comparado com um teste individual, sendo assim possível fazer o diagnóstico da infecção congénita pelo CMV por um valor aproximado ao de um teste serológico. Em suma, o método das pools revelou neste estudo sensibilidade e especificidade similares ao método de referência, mas tem a possibilidade de reduzir substancialmente o trabalho laboratorial e o preço por teste, abrindo assim a possibilidade da sua utilização no rastreio neo-natal da infecção congénita pelo CMV. Agradecimentos À Comissão de Fomento da Investigação em Cuidados de Saúde pelo financiamento do estudo – Trabalho premiado pela Comissão de Fomento da Investigação em Cuidados de Saúde, Ministério da Saúde, PI nº2/2007. 20.4.1 Negativo 20.4.2 Negativo 20.4.3 Negativo 20.4.4 Negativo 20.4.5 Positivo Aos Enfermeiros dos Serviços de Obstetrícia dos dois Hospitais envolvidos, pela colaboração na recolha das amostras. 27.2.1 Negativo 27.2.2 Negativo Ao Serviço de Patologia Clínica do Hospital Sousa Martins, pela colaboração no armazenamento das amostras. 27.2.3 Negativo 27.2.4 Positivo 27.2.5 Negativo Negativo Positivo A possibilidade de implementação de programas de rastreio neonatal para o CMV tem vindo a adquirir peso na comunidade científica internacional16, pois só dessa forma será possível detectar todas as crianças que nascem infectadas por este vírus, nomeadamente as cerca de 13,5% que, nascendo assintomáticas, irão desenvolver posteriormente sequelas importantes. O método das pools aqui testado já tinha sido anteriormente testado por nós em pools simuladas (19 amostras de urina negativas mais uma positiva), tendo correctamente detectado as 17 amostras positivas obtidas de crianças com infecção congénita sintomática e assintomática14. Tinha igualmente sido anteriormente testado com pools de urinas de crianças com suspeita de infecção congénita (sintomáticas ou assintomáticas, estas últimas referenciadas por suspeita de infecção materna durante a gravidez), tendo também neste caso a correspondência com o método de referência sido total, detectando quinze amostras positivas em 180 testadas14. Referências 1.Cannon MJ, Davies KF. Washing our hands of the congenital cytomegalovirus disease epidemic. BMC Public Health. 2005;5:70. 2.Revello MG, Gerna G. Pathogenesis and prenatal diagnosis of human cytomegalovirus infection. 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J Clin Virol 2009; 46 (Suppl 4): S32-S36. 0873-9781/11/42-5/209 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria ARTIGO ORIGINAL Experiência do aleitamento materno Hernâni Brito, Ana Margarida Alexandrino, Cristina Godinho, Gilberta Santos Centro Hospitalar do Porto, Unidade Maternidade Júlio Dinis Resumo Introdução: A promoção e suporte ao aleitamento materno constituem uma prioridade de Saúde Pública. O conhecimento da sua prevalência e dos factores envolvidos com a adesão e abandono permitem elaborar estratégias de intervenção. Objectivo: Conhecimento da epidemiologia do aleitamento materno na nossa população, factores de adesão e de abandono. Material e Métodos: Estudo prospectivo envolvendo 350 recém-nascidos através de inquéritos realizados às mães no puerpério entre Abril e Julho de 2008 e contacto telefónico/consulta ao mês de vida. Foram avaliados dados demográficos, experiência de aleitamento, vigilância da gravidez, informação pré-natal, conhecimento efectivo, parto, dificul dades e tipo de aleitamento à alta e ao mês. Resultados: A prevalência do aleitamento materno exclusivo foi de 94,3% à data de alta e 74% ao mês de idade. Constituíram factores de adesão ao aleitamento materno exclusivo a escolaridade superior ao nono ano, a informação global, conhecimento efectivo e experiência de aleitamento prévia superior a um mês. O aleitamento artificial ao mês foi mais frequente nas mães adolescentes, solteiras e com escolaridade inferior ao nono ano. Não se verificou associação entre aleitamento e tipo de parto, paridade e experiência familiar de amamentação. Apesar da vigilância adequada da gravidez (100%), um terço das mães não receberam informação sobre aleitamento materno na consulta pré-natal. As principais vantagens referidas pelas mães foram as nutricionais (34,4%) e imunológicas (31,8%). As dificuldades na amamentação foram mencionadas por 56% das mães, sendo técnicas (37%) e relativas à quantidade e qualidade do leite (25,3%). Conclusões: A adesão ao aleitamento materno ao mês de idade é elevada. O acompanhamento específico a grupos de risco para o abandono precoce do aleitamento (mãe adolescente, solteira e baixa escolaridade) e o esclarecimento das principais dificuldades é essencial. Os profissionais de saúde devem abordar o tema universalmente na consulta pré-natal. Palavras-chave: Aleitamento materno, adesão, abandono Breastfeeding Experience Abstract Background: Promotion and support of breastfeeding is a public health priority. Knowledge of its prevalence and factors involved in adherence and dropout allows developing intervention strategies. Aim: To know the epidemiology of breastfeeding in our population, adherence and dropout factors. Material and Methods: Prospective study involving 350 newborns through surveys to mothers in the postpartum period between April and July 2008 and phone/medical consultation at first month. The evaluated parameters were demographic data, experience of breastfeeding, surveillance of pregnancy, prenatal information, effective knowledge, delivery, difficulties and type of feeding at discharge from hospital and at first month. Results: The prevalence of exclusive breastfeeding was 94,3% at discharge from hospital and 74% at first month. Factors of adherence to exclusive breastfeeding were education higher than the ninth grade, global information, effective knowledge and prior experience of breastfeeding more than one month. Artificial feeding at first month was more common in teenage mothers, single mothers and with less than ninth grade education. No relationship between breastfeeding and type of delivery, parity, and family experience of breastfeeding. Despite proper surveillance of pregnancy (100%), one third of mothers did not receive information about breastfeeding on prenatal visits. The main advantages mentioned by mothers were nutritional (34,4%) and immunological (31,8%).The difficulties were mentioned by 56% of mothers, namely techniques (37%) and about quantity and quality of milk (25,3%). Conclusions: Adherence to breastfeeding at first month is high. Monitoring specific risk groups for early dropout of breastfeeding (teenage mother, single and low education) and clarification of main difficulties is essential. Health professionals should address the issue universally in prenatal care. Keywords: Breastfeeding, adherence, dropout Acta Pediatr Port 2011;42(5):209-14 Acta Pediatr Port 2011;42(5):209-14 Recebido: 30.04.2011 Aceite: 17.11.2011 Correspondência: Hernâni Brito Rua 73, nº 44, 2º esquerdo, Árvore 4480-144, Vila do Conde [email protected] 209 Acta Pediatr Port 2011:42(5):209-14 Introdução A protecção, promoção e suporte ao aleitamento materno constituem uma prioridade de saúde pública traduzindo-se em benefícios a curto, médio e longo prazo para o recém-nascido e para a mãe com repercussões sociais e económicas1-9. A sua prevalência é influenciada por factores sociais e culturais10-12, e tem variado ao longo dos anos atingindo valores mais baixos nas décadas que se seguiram à segunda guerra mundial fruto da industrialização, da emancipação da mulher, da reestruturação do agregado familiar com perda da família alargada e da publicidade agressiva das indústrias produtoras de leite adaptado. Após a década de 70, verificou-se um retorno gradual à prática do aleitamento materno, sobretudo nas mulheres com nível sócio-económico e escolaridade superiores7. Em Portugal não existem estatísticas acerca da real incidência e prevalência do aleitamento materno7. Os estudos locais, embora com metodologia diferente e por vezes de difícil comparação, apontam para uma alta incidência do aleitamento materno à data de alta da maternidade (67- 100%) com um rápido declínio durante o primeiro mês de vida (35-83%), com aleitamento materno exclusivo aos seis meses em 17 a 35% dos lactentes13-21. Embora estes valores sejam superiores aos registados em outros países23,29-31, encontram-se distantes dos 50% estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde como objectivo para 20108 . Sabendo-se da importância dos primeiros dias de vida no estabelecimento do aleitamento materno foram criados os Hospitais Amigos dos bebés pela OMS/Unicef os quais têm como objectivo o cumprimento dos dez passos para o sucesso do aleitamento materno. Estas medidas devem ser complementadas pela informação universal da grávida na consulta pré-natal e criação de políticas e estruturas de apoio na comunidade que permitam a manutenção do aleitamento materno. Objectivos Conhecer a epidemiologia do aleitamento materno na população de um hospital com cuidados perinatais diferenciados, os factores de adesão e de abandono envolvidos e elaborar estratégias de intervenção que poderão melhorar a adesão e manutenção do aleitamento materno. Métodos Realizou-se um estudo prospectivo que envolveu uma amostra aleatória simples de 370 recém-nascidos (RN) de um hospital com cuidados perinatais diferenciados, durante o período compreendido entre um de Abril a 31 de Julho de 2008. Constituíram critérios de inclusão terem permanecido no puerpério junto da mãe, ausência de patologia que motivasse internamento em cuidados intensivos, ausência de contra-indicação ou impossibilidade para amamentação 210 Brito H et al. – Aleitamento materno e aceitação da mãe em participar no estudo. Foram efectuados inquéritos às mães durante a permanência no puerpério, seguidos da entrega de um panfleto informativo e prestação de esclarecimentos; posteriormente foi registado pelo médico o tipo de aleitamento praticado à data de alta e ao mês por consulta médica ou contacto telefónico. O inquérito incluía questões objectivas e algumas questões abertas, nomeadamente, qual a informação fornecida durante as consultas pré-natais, qual a informação fora das consultas e fonte, quais as vantagens do aleitamento materno, “como amamentar?” e quais as dificuldades relativamente ao aleitamento. Estas respostas abertas foram classificadas em diferentes categorias para apresentação dos resultados. Os parâmetros analisados foram: idade (mãe adolescente se idade inferior a 18 anos), estado civil, escolaridade, paridade, experiência pessoal e familiar de aleitamento, vigilância da gravidez e local (gravidez vigiada se frequência a pelo menos três consultas), informação na consulta pré-natal, informação fora da consulta e fonte, informação global (obtida em consulta ou por iniciativa pessoal), vantagens conhecidas, “como amamentar?”, conhecimento efectivo (definido como pelo menos duas respostas correctas em relação às vantagens e/ou “como amamentar?”), dificuldades com o aleitamento e o tipo de aleitamento praticado à alta e ao mês (aleitamento materno exclusivo - LME, aleitamento misto - Amisto, ou aleitamento artificial - LA). Os dados obtidos forma analisados através do programa de análise estatística Sigmastat 3.5 (Systat Software, San José, California) utilizando análise descritiva, teste Chi2 para as variáveis nominais, e Anova para a análise de variância de vários grupos relativamente a uma característica (resultado estatisticamente significativo se p<0,05). Resultados Caracterização da amostra Realizaram-se 370 inquéritos, tendo sido excluídos 20 RN por impossibilidade de contacto ao mês. Os resultados apresentados relativos a 350 RN correspondiam a 37,4% dos nados vivos ocorridos no hospital no período analisado e 12,1% do total do ano de 2008. A idade materna variou entre quinze e quarenta e cinco anos (mediana 30 anos), com 74,3% compreendida entre 21 e 34 anos e oito (2,3%) correspondiam a mães adolescentes. A escolaridade variou entre analfabetismo e formação superior (mediana 10º ano), com 24,3% das mães com escolaridade inferior ao nono ano. Relativamente ao estado civil, 63,7% eram casadas e 27,7% solteiras. Quarenta e nove por cento das mães eram primíparas; entre as multíparas, o número de filhos variou entre zero e seis, sendo a média 1,6. Todas as gravidezes foram vigiadas, das quais 72,8% tiveram pelo menos uma consulta no nosso hospital, 41% de forma exclusiva; o parto foi vaginal em 58,6 % dos casos (Quadro I). Acta Pediatr Port 2011:42(5):209-14 Brito H et al. – Aleitamento materno Quadro I - Caracterização da amostra (n=350) Quadro II - Relação entre diferentes parâmetros com o aleitamento materno exclusivo ao mês n % Idade materna ≤ 20 anos 21 a 34 anos ≥ 35 anos Mãe adolescente 32 260 58 8 9,1 74,3 16,6 2,3 Mín 15 Máx 45 Md 30 Escolaridade <9º ano ≥9º ano Desconhecida 85 261 2 24,3 74,5 0,2 Mín 0 Máx Ens. superior Md 10º ano Estado Civil Casada União de facto Solteira Divorciada 223 15 97 15 Paridade Primípara Multípara 173 177 Teste p utilizado Mediana Idade materna Anova 0,061 LME: 30 anos Amisto: 30 anos LA: 28 anos Escolaridade Anova 0,003 LME: 12º ano Amisto: 9,5º ano LA: 9º ano Paridade Chi2 0,946 (Ns) 63,7 4,3 27,7 4,3 Experiência de amamentação Mãe amamentada Mãe amamentou ≥1m Chi2 Anova 49,4 51,6 0,116 (Ns) P<0,001 LME: 6 m Amisto: 1,5 m LA: 1 m Tipo de parto Chi2 0,555 (Ns) Informação global Chi2 0,038 Nº vantagens Anova 0,006 Conhecimento efectivo Chi2 0,003 Experiência prévia Mãe amamentada Mãe amamentou Mãe amamentou ≥1m 266 141 119 76,0 40,3 34,0 Gravidez vigiada ≥ 1 consulta hospital 350 255 100 72,8 Tipo de parto Eutócico Ventosa Fórceps Cesariana 168 29 8 145 48,0 8,3 2,3 41,4 LME – aleitamento materno exclusivo, Amisto – aleitamento misto, LA – aleitamento artificial, Md – mediana, Min – mínimo, Max – máximo, Ns – sem significado estatístico. Quadro III - Tipo de aleitamento ao mês consoante a idade materna e estado civil Md – mediana, Min – mínimo, Max – máximo Tipo de Aleitamento À data de alta 99,7% dos recém-nascidos efectuavam aleitamento materno, 94,3% de forma exclusiva. Pelo mês de vida 74% dos RN mantinham LME, 16,9% praticavam aleitamento misto e 9,1% aleitamento artificial (Figura 1). Nos Quadros II e III apresentam-se a relação entre diferentes factores e o tipo de aleitamento ao mês. LME: 2 Amisto e LA:1 LME (%) Amisto (%) LA (%) Idade materna ≤ 20 anos 21 a 34 anos ≥ 35 anos Mãe adolescente 62,5 75,8 72,4 37,5 9,4 16,9 20,7 25 28,1 7,3 6,9 37,5 Estado civil Casada (Md 30 anos) União de facto (Md 30 anos) Solteira (Md 25 anos) Divorciada (Md 35 anos) 74,9 73,3 72,2 73,3 18,8 20,0 10,3 26,7 6,3 6,7 17,5 0,0 O aleitamento artificial foi mais frequente no grupo mãe adolescente e mãe solteira com diferença estatisticamente significativa (Chi2, p=0,003 e 0,021 respectivamente); A diferença etária entre os diferentes estados civis foi significativa (Anova p<0,001). LME – aleitamento materno exclusivo, Amisto – aleitamento misto, LA – aleitamento artificial. Factores pessoais e socioculturais Figura 1 – Evolução do tipo de aleitamento à data de alta e ao mês (LM exclusivo – aleitamento materno exclusivo, Amisto – aleitamento misto, Artificial – aleitamento artificial) Globalmente a idade materna não se relacionou com o tipo de aleitamento ao mês (Anova p=0,061), embora a mediana de idade das mães que praticavam aleitamento artificial fosse menor (28 vs 30 anos); analisando o tipo de aleitamento ao mês com os diferentes grupos etários, verificamos que o LME foi mais frequente no grupo 21-34 anos (75,8%) e o aleitamento artificial foi mais elevado no grupo < 20 anos (28,1%), e mais acentuado mas mães adolescentes (37,5%) Chi2 p=0,003. 211 Acta Pediatr Port 2011:42(5):209-14 A escolaridade relacionou-se com o tipo de aleitamento praticado, com uma maior escolaridade associada à adesão ao aleitamento materno exclusivo (Anova p=0,003, escolaridade mediana LME=12º ano, escolaridade mediana LA= nono ano). Relacionando o tipo de aleitamento praticado ao mês com o estado civil verificou-se que o aleitamento artificial foi mais frequente no grupo mãe solteira (Chi2 p=0,021). A mediana de idade deste grupo foi inferior aos restantes (Anova p<0,001). Não se encontraram diferenças estatisticamente significativas com o tipo de aleitamento praticado e a paridade (Chi2 p=0,946). Embora 76% das mães referisse ter sido amamentada, a herança familiar não se reflectiu no tipo de aleitamento praticado (Chi2 p=0,116). A experiência prévia de amamentação foi referida por 40% das mães; no grupo destas com experiência prévia superior a um mês foi encontrada maior adesão ao aleitamento materno (Anova p<0,001, mediana experiência prévia LME= seis meses, mediana experiência prévia LA= um mês). Não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre o tipo de parto e o tipo de aleitamento praticado (Chi2 p=0,555). Fontes de informação Na amostra 67,4% das mães (69% das seguidas no hospital) referiram ter recebido informação sobre o aleitamento materno na consulta pré-natal, sobretudo acerca das vantagens do mesmo para o RN e para a mãe (67%), seguida da técnica e posicionamento (16%), a periodicidade e duração (6%), cuidados de higiene e fisiologia da lactação (6%), entre outras (5%) (conservação, extracção). Cinquenta e três por cento das mães procuraram informação fora das consultas recorrendo a livros e internet seguido de família e amigas; correspondiam a mães com maior escolaridade (Anova p<0,001) (Figura 2). Figura 2 – Fontes de informação fora das consultas O grupo de mães que obteve informação acerca do aleitamento durante as consultas ou por meios próprios (84%) apresentou maior adesão ao LME ao mês (Chi2 p=0,038). 212 Brito H et al. – Aleitamento materno Grau de conhecimento das mães As vantagens mencionadas pelas mães foram as nutricionais (34,4% - mais saudável, “alimenta melhor”), imunológicas (31,8%), maternas (10,1% - recuperação pós-parto, prevenção de doenças), favorecimento da vinculação (9%), prático e económico (9%), melhor desenvolvimento do bebé (4,3%), e outras (1,5%). As mães que enumeravam mais vantagens tinham maior escolaridade (Anova p≤0,001) e maior adesão ao LME ao mês (Anova p=0,006). Em relação à questão “ Como amamentar?”, a maioria das mães respondeu a periodicidade (48%), seguida da técnica e posicionamento (19%), duração (18,4%), higiene (2,1%), conservação (1,8%), e outras (10,7% - espaço tranquilo, evitar a chupeta), como factores relevantes no conhecimento da “arte de amamentar”. Embora cerca de metade das mães tenha referido a periodicidade, 36% apresentavam um conceito errado, defendendo os horários rígidos, ao invés da livre demanda. Ao analisar a livre demanda vs horários rígidos não foram encontradas diferenças no tipo de aleitamento praticado ao mês (Chi2 p=0,141); este resultado poderá ser explicado pelo facto deste conceito errado ter sido corrigido pela equipe de saúde envolvida durante o internamento no puerpério. O conhecimento efectivo associou-se à adesão ao aleitamento materno exclusivo ao mês (Chi2 p=0,03); tratavam-se de mães com maior escolaridade (Anova p≤0,001, escolaridade mediana conhecimento efectivo = décimo segundo ano vs nono ano). Dificuldades As dificuldades foram mencionadas por 196 (56%) das mães, nomeadamente técnicas, 37% (“o bebé não pegava”, posicionamento, extracção com bomba, “como pôr a eructar”), acerca da quantidade e qualidade do leite (25,3% - “saber quando satisfeito”, “se o alimentava”, “é muito fino”), mas também as complicações da amamentação (15,5% - fissuras, mastites, dor), anatómicas (13,8% - forma do mamilo) e outras (8%) (Figura 3). Figura 3 – Dificuldades mencionadas pelas mães com a amamentação (%) Discussão A elaboração deste estudo pretendeu conhecer a epidemiologia do aleitamento materno na nossa população e quais os Acta Pediatr Port 2011:42(5):209-14 factores envolvidos; embora corresponda a uma amostra de dimensão significativa, apresenta como limitações o tempo de seguimento da amostra e a ausência de avaliação de alguns factores mencionados na literatura como ter efectuado LA no hospital13-4,17, o motivo da sua introdução em ambulatório (dados objectivos ou subjectivos), quem indicou, uso de chupeta, tabagismo materno20 ou prática de exercício físico20. Relativamente à prevalência do aleitamento materno, verificamos uma boa adesão (91% ao mês, 74% exclusivo). Estes resultados são ligeiramente superiores aos descritos noutras séries nacionais e internacionais13-5,18-9,22-4 e poderão resultar do esforço do hospital na promoção do aleitamento materno bem como reflectir o grau de informação e motivação por parte de muitas mães que se encontram sensibilizadas para o tema. De facto, os principais factores de adesão encontrados: escolaridade superior ao nono ano, informação global e conhecimento efectivo reflectem isso mesmo, maior informação materna e aquisição da mesma não só de forma passiva durante a vigilância pré-natal, mas também por iniciativa própria, pesquisando em livros, internet e participando em aulas de preparação para o parto. Caberá à equipe de saúde aproveitar essa motivação e naturalmente prestar os esclarecimento necessários ajudando nas principais dificuldades, nomeadamente nas questões relacionadas com a técnica e o posicionamento que são adquiridas com a experiência25-6. Esse factor foi importante e reflectiu-se nos resultados de manutenção do aleitamento materno exclusivo ao mês nas mães que amamentaram previamente com sucesso. Quando comparados os factores de adesão e abandono com os de outras séries, constatou-se que existe uma certa concordância em relação a alguns factores positivos (maior escolaridade13-4,16,20, experiência pessoal de amamentação13,17) e negativos (mães jovens ou adolescentes13-14, baixa escolaridade13-14). No entanto, Oliveira et al27 descreveram uma adesão razoável ao aleitamento materno em mães adolescentes (85%), com uma mediana de 2 meses. Bastos et al28 avaliaram as atitudes e conhecimentos dos adolescentes sobre o aleitamento materno e encontraram uma elevada percentagem de atitudes positivas, embora com alguns conceitos errados. Baseado nos nossos resultados, pensámos que a abordagem do tema na escolaridade obrigatória poderá desempenhar um papel importante. A interpretação da maior prevalência do aleitamento artificial no grupo mãe solteira é condicionada pelo viés da idade embora possa ser questionada a importância do apoio conjugal. Em relação à paridade, os resultados divergem: alguns estudos referem que a multiparidade13,15,21 constitui factor de adesão, um outro16 a primiparidade; no presente estudo a paridade não foi influente, provavelmente relacionado com o facto de mães com escolaridade superior terem filhos cada vez mais tarde sendo o factor conhecimento talvez o mais importante. Salienta-se a importância do conhecimento efectivo, que podia consistir em algo tão simples como saber que o leite materno é mais nutritivo e que deve ser dado ao bebé por livre demanda, ser suficiente para uma maior adesão. Vale então a pena abordar o tema, unir esforços na formação universal pré-natal sobre o aleitamento materno e criar as condições para acompanhamento à puérpera após a alta nas Brito H et al. – Aleitamento materno consultas e no domicílio. A manutenção das políticas pro-aleitamento materno poderão assim ter efeitos benéficos quer nas gerações actuais quer nas gerações subsequentes. Conclusões Os resultados da adesão ao aleitamento nesta população são encorajadores, particularmente nas mães com maior escolaridade, maior informação e conhecimento acerca do tema e com experiência de amamentação prévia bem sucedida. Existem aspectos que devem ser melhorados, nomeadamente a abordagem do tema na consulta pré-natal, com particular atenção aos grupos de risco para abandono do aleitamento (mãe adolescente, mãe solteira e baixa escolaridade). O esclarecimento das principais dificuldades é essencial. Referências 1.Chandran L, Gelfer P. Breastfeeding: the essential principles. 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Neto1,2, Luís Félix2, Anabela Bicho1, Joaquim Urbano2 1. Serviço Pediatria, Centro Hospitalar Oeste Norte, Caldas da Rainha 2. VMER, Centro Hospitalar Oeste Norte, Caldas da Rainha Resumo Introdução: As emergências pediátricas representam 5-10% das activações dos serviços de emergência. A VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) ao trabalhar no âmbito do pré-hospitalar desempenha um papel crucial na assistência às crianças gravemente doentes e no transporte primário diferenciado. Objectivos: Análise e caracterização da assistência da VMER do Centro Hospitalar Oeste Norte (VMER-CHON) à população pediátrica. Material e métodos: Estudo retrospectivo, consultando as fichas de observação médica da VMER-CHON referentes à população com idade inferior a 16 anos, assistida entre Maio de 2002 e Maio de 2010 (oito anos). Analisaram-se variáveis epidemiológicas, motivo de activação, intervenção no local (monitorização e terapêutica), transporte (meio e destino do transporte) e evolução. Resultados: No período analisado a VMER-CHON recebeu 9626 activações, das quais 493 (5,1%) para população com idade inferior aos 16 anos, sendo 56% do sexo masculino. A média de idades foi de sete anos (recém-nascidos-15 anos). Cerca de metade das ocorrências registaram-se no período da manhã, 40% na via pública e 31% no domicílio. Os principais motivos de activação foram os traumatismos em 226 situações (46%), dos quais 36% resultantes de acidentes de viação, 22% de atropelamentos e 18% de quedas. As situações de doença aguda corresponderam a 37% (183) das ocorrências, particularmente as convulsões (41%), a patologia respiratória (34%) e as alterações do estado geral (25%). Os afogamentos e as intoxicações corresponderam a 6% das ocorrências. Abaixo dos dois anos predominou a doença aguda e nos adolescentes os traumatismos. Efectuou-se monitorização em 85% e tratamento em 68% das situações. Em 91% dos casos as crianças foram transportadas para unidades hospitalares, 1,2% (6 crianças) directamente para um Hospital Nível 3 (2 helitransportadas). Ocorreram 22 óbitos (4,5%), todos em paragem cardiorrespiratória (PCR) à chegada da VMER-CHON, resultantes de traumatismos (46%), afogamentos (23%) e intoxicações (9%). Recebido: 18.04.2011 Aceite: 27.09.2011 Comentários: As emergências pediátricas representam 5% das activações da VMER-CHON. A principal causa de activação foi o traumatismo, seguido das convulsões e doenças respiratórias. A evolução foi desfavorável nas situações de PCR à chegada da VMER. Palavras-chave: emergência pré-hospitalar, pediatria, VMER, INEM, trauma. Acta Pediatr Port 2011;42(5):215-9 Pediatric pre-hospital emergency: experience of a Rapid Response Unit Abstract Introduction: Pediatric emergencies are responsible for 5-10% of all medical emergency services calls. Rapid Response Vehicles (VMER), involved in pre-hospital set-up play an important role in the management of seriously ill children and in primary specialized transport. Objective: To analyze and characterize the assistance of the pediatric VMER services of the Centro Hospitalar Oeste Norte (VMER-CHON). Methods and materials: Retrospective review of the medical records of children under the age of 16 years assisted by VMER-CHON between May 2002 and May 2010 (eight years). Epidemiological variables, reason for VMER activation, on-site intervention (monitoring and treatment), transportation (means of transportation and destination) and outcome were analyzed. Results: During the study period, VMER-CHON received 9626 calls, of which 493 (5.1%) related to children less than 16 years; 56% were males. The mean age was seven years (newborn to 15 years). Approximately half of the episodes occurred during the morning period; 40% outdoors and 31% at home. Trauma accounted for the majority of Correspondência: Paula Neto Centro Hospitalar Oeste Norte Rua Diário de Noticias 2500-176 Caldas da Rainha [email protected] 215 Acta Pediatr Port 2011:42(5):215-9 the emergency calls totaling 226 cases (46%), 36% resulting from road accidents, 22% involving pedestrians and 18% falls; acute illnesses were responsible for 183 cases (37%), particularly seizures (41%) and respiratory distress (34%). Drowning and accidental poisoning accounted for 6% of the cases. Acute disease was more prevalent in children under the age of two years and trauma in adolescents. Monitoring was carried out in 85% of cases and in-situ treatment was required in 68%. In 91% of cases, children were transported to local hospitals - 1.2% (6) directly to a level 3 hospital (two by helicopter). There were 22 deaths (4.5%), all resulting from cardiac arrest previous to VMER arrival following trauma (46%), drowning (23%) and accidental poisoning (9%). Conclusions: Pediatric emergencies represent 5% of all VMER-CHON calls. The main cause was trauma, followed by seizures and respiratory distress. Outcome was unfavorable when patients were in cardiac arrest at the time of VMER arrival. Key words: Pre-hospital emergency, pediatric, VMER, INEM, trauma. Acta Pediatr Port 2011;42(5):215-9 abreviaturas APSI -Associação para a Promoção da Segurança Infantil DRA -Doença respiratória aguda INEM -Instituto Nacional de Emergência Médica OVA -Obstrução via aérea PCR - Paragem cardiorrespiratória RN -Recém-nascido SAV - Suporte Avançado de Vida SBV - Suporte Básico de Vida SIEM - Sistema Integrado de Emergência Médica SIV - Suporte Imediato de Vida SU - Serviço de Urgência VMER -Viatura Médica de Emergência e Reanimação Introdução A VMER (Viatura Médica de Emergência e Reanimação) é um veículo de intervenção pré-hospitalar, concebido para o transporte de uma equipa médica ao local onde se encontra o doente. Tem uma equipa constituída por um médico e um enfermeiro e dispõe de equipamento para Suporte Avançado de Vida (SAV) em situações do foro médico ou traumatológico. Faz parte do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) existente em Portugal, que compreende toda a actividade de urgência/emergência, nomeadamente o sistema de socorro pré-hospitalar, o transporte, a recepção hospitalar e a adequada referenciação do doente urgente/emergente1. 216 Neto P et al. – Emergência pediátrica pré-hospitalar O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) é o organismo do Ministério da Saúde que coordena o funcionamento do SIEM, no território de Portugal Continental, de forma a garantir às vítimas em situação de emergência a pronta e correcta prestação de cuidados de saúde. As suas principais funções são: prestação de socorro no local da ocorrência, transporte assistido das vítimas para o hospital adequado e articulação entre os vários intervenientes do SIEM (hospitais, bombeiros, polícia, etc)1. A organiz ação da resposta à emergência é fundamental para a cadeia de sobrevivência. Na área pediátrica, o INEM coordena ainda um subsistema de transporte de Recém-Nascidos de Alto Risco (INEM-RN) e um sistema de transporte especializado pediátrico que permite o transporte inter-hospitalar de recém-nascidos e crianças em situações de risco de vida para Unidades de Neonatologia, Cuidados Intensivos Pediátricos e/ou com determinadas especialidades pediátricas. As emergências pediátricas pré-hospitalares representam uma pequena parte das activações dos Serviços de Emergência, estimando-se que representem 5-10% de todas as activações2. A VMER, ao actuar no âmbito pré-hospitalar, desempenha um papel crucial na assistência às crianças gravemente doentes, tendo a oportunidade única de melhorar o seu prognóstico. A sua intervenção na “hora de ouro” da reanimação, permite uma abordagem inicial e um transporte diferenciado que pode condicionar toda a evolução. Além disso, ao deslocar-se ao local da ocorrência pode avaliar as circunstâncias do acidente (ou da situação), particularmente útil em contexto de traumatismo. O objectivo do estudo foi analisar e caracterizar a assis tência da VMER do Centro Hospitalar Oeste Norte (VMER-CHON) à população pediátrica ao longo dos últimos oito anos. Material e métodos Efectuámos um estudo descritivo com vertente exploratória. Os dados foram colhidos retrospectivamente através da consulta das fichas de observação médica da VMER-CHON. Foram consideradas todas as vítimas assistidas com idade inferior a 16 anos, durante o período de Maio de 2002 e Maio de 2010 (oito anos). Analisaram-se variáveis epidemiológicas (idade, sexo, distribuição anual, hora e local da ocorrência), motivo de activação, intervenção no local (monitorização e abordagem terapêutica), transporte (meio e destino do transporte) e evolução. Considerou-se idade pediátrica quando inferior a 16 anos, uma vez que corresponde à idade limite de atendimento no Serviço de Urgência Pediátrica do CHON. A comparação entre grupos foi efectuada com o programa SPSS 17.0 (SPSS Inc., Chicago, Il. EUA). Considerou-se como significativo o valor de p<0,05. Acta Pediatr Port 2011:42(5):215-9 Resultados De um total de 9626 activações recebidas pela VMER-CHON nos oito anos do período considerado, 493 (5,1%) foram para vítimas pediátricas. A média de idades foi de 7 anos (mínimo RN; máximo 15 anos), sendo que 44% apresentavam idade inferior a cinco anos (Figura 1). Houve um ligeiro predomínio do sexo masculino (274 crianças – 56%). Neto P et al. – Emergência pediátrica pré-hospitalar Quadro - Motivos de activação da Viatura Médica de Emergência e Reanimação-Centro Hospitalar Oeste Norte entre Maio 2002 e Maio 2010 (n=493). Motivo de activação Trauma Doença Aguda PCR Figura 1 – Idade das vítimas assistidas pela Viatura Médica de Emergência e Reanimação-Centro Hospitalar Oeste Norte (Maio 2002 – Maio 2010) O número de activações anuais tem sido variável, com mínimos nos anos de 2005 e 2009 (o ano de 2002 é contabilizado a partir de Maio enquanto o de 2010 até Maio). (Figura 2). n 226 183 15 Afogamentos 16 Intoxicação 13 Reacções alérgicas 21 Partos 9 Queimadura 9 Desconhecido 1 Acidente viação 82 Atropelamento 50 Queda 41 Outra 53 Convulsões 75 Patologia respiratória: • DRA (n=35) • OVA (n=28) 63 Alteração do estado geral 45 Trauma 5 Afogamento 4 Intoxicação CO 2 Desconhecida 4 Medicamentos 6 Gás / CO 4 Outra 3 DRA: doença respiratória aguda; OVA: obstrução da via aérea; PCR: paragem cardio respiratória; CO: monóxido carbono. Figura 2 – Número de activações por ano (Maio 2002 – Maio 2010) Cerca de metade (48%) das ocorrências registaram-se no período da manhã e 42% no período da tarde. O principal local de assistência foi a via pública (40%), seguido do domicílio (31%) e escolas (13%). Em 15% das situações a VMER deslocou-se a estabelecimentos de saúde (Centros de Saúde, Clínicas, Hospitais nível 1) ou efectuou “rendez-vous” com outros serviços de transporte (ambulâncias dos bombeiros, de Suporte Básico de Vida - SBV ou de Suporte Imediato de Vida - SIV). O tempo médio de chegada ao local da ocorrência foi de nove minutos. Os principais motivos de activação foram situações traumáticas (226/493 - 46%), 36% (82/226) resultantes de acidentes de viação, 22% (50/226) de atropelamentos e 18% de quedas (41/226). A doença aguda representou 37% (183/493) das ocorrências, particularmente as convulsões (75/183 – 41%), a patologia respiratória aguda (63/183 – 34%) (doença respiratória aguda: crises de asma, bronquiolites, pneumonias; obstrução da via aérea) e as alterações do estado geral (45/183 – 25%) (lipotimias, hipoglicemias/hiperglicemias, vómitos, prostração, crises de ansiedade). Os afogamentos e as intoxicações (por monóxido de carbono ou medicamentos) corresponderam a 6% dos casos (Quadro). Analisando por idades, abaixo dos dois anos predominou a doença aguda em relação ao traumatismo (54% vs 26%), enquanto nos adolescentes (idade superior a dez anos) predominou o traumatismo (55% vs 30%) (p<0,001). Efectuou-se monitorização em 85% das situações. Os principais parâmetros monitorizados foram a escala de Coma de Glasgow, frequência cardíaca e respiratória, tensão arterial, saturação transcutânea de oxigénio, glicemia capilar e temperatura axilar. Em 335 crianças (68%) houve necessidade de tratamento, nomeadamente fármacos (orais, rectais ou endovenosos) (83%), incluindo antipiréticos, analgésicos, broncodilatadores, corticóides e anticonvulsivantes; fluidoterapia ev (61%) e oxigenioterapia (60%). Realizou-se entubação oro-traqueal em 10% destas crianças e imobilização em 54%. Em 91% dos casos, as crianças foram transportadas para unidades hospitalares, todas com acompanhamento médico, sendo que seis (1,2%) foram directamente para um Hospital nível 3 (duas helitransportadas) dada a gravidade da situação. A maioria (93%) das crianças foram transportadas para o Serviço de Urgência Pediátrica do CHON. Ocorreram 22 óbitos (4,5%), todos em PCR à chegada da VMER, resultantes de situações traumáticas (46%), afogamentos (23%) e intoxicação por monóxido de carbono (9%). Os óbitos ocorreram predominantemente em crianças do sexo masculino (17 vs 5) (p=0,036). 217 Acta Pediatr Port 2011:42(5):215-9 Discussão As emergências pediátricas representam uma parcela relativamente pequena da assistência pré-hospitalar. Segundo alguns estudos2, correspondem a cerca de 5-10% do total de ocorrências, embora o número de situações de emergência nos serviços de urgência pediátricos seja substancialmente maior (25-30%)2,5. A nossa experiência mostra que as ocorrências para idades pediátricas correspondem a 5% do total das activações, não se verificando aumento do número de ocorrências ao longo dos anos. A idade das crianças assistidas tende a apresentar uma distribuição bimodal2,3,5 (idade inferior aos 2 anos e superior a 10). Na nossa série houve um predomínio das crianças com menos de 5 anos de idade (43%). A maioria dos estudos2,3,4 mostra que cerca de 50% das intervenções pré-hospitalares em idade pediátrica são para episódios traumáticos, em particular acidentes de viação, atropelamentos e acidentes com bicicletas ou quedas. Outras situações frequentes são os afogamentos e as intoxicações. As principais ocorrências não traumáticas são situações de doença aguda, particularmente do foro respiratório, crises convulsivas, alterações do estado geral e partos extra-hospitalares. Os nossos resultados foram concordantes com estas séries, com 46% das activações para situações traumáticas, 37% para doença aguda e 6% para afogamentos e intoxicações. Tal como observado no nosso estudo, as crianças mais pequenas padecem de problemas não traumáticos, situações de doença aguda, enquanto nos adolescentes predomina o trauma2,3. A intervenção da VMER nas situações traumáticas é essencial, uma vez que o atendimento inicial da criança politraumatizada exige imediato tratamento da falência respiratória ou circulatória e eventualmente das lesões torácicas com risco de vida, assegurando a ventilação, oxigenação e perfusão tecidular até ao tratamento definitivo. Simultaneamente, a protecção da coluna cervical é crucial para minimizar uma lesão já existente e/ou evitar o aparecimento da mesma. Estima-se que um terço das lesões resultantes de traumatismos é prevenível com uma adequada intervenção pré-hospitalar7. A escolha do meio e destino do transporte da vítima é também uma função importante da equipa VMER. No nosso estudo, seis crianças foram transportadas directamente para Hospitais nível 3, duas helitransportadas. A escolha do meio de transporte é determinada pela gravidade e natureza da situação clínica, que condiciona o tempo ideal a ser gasto na transferência e a necessidade de subespecialidades médicas (ex. Neurocirurgia, Cuidados Intensivos, etc.). Outras variáveis a ter em conta são as condições climáticas, a distância e a disponibilidade de meios (ex. helicóptero). Idealmente deve-se escolher o meio de transporte disponível mais rápido e seguro, tendo em conta que em situações críticas, mesmo pequenos ganhos de tempo podem ser decisivos para a sobrevida. Com o aumento do número de helicópteros de emergência médica disponíveis actualmente (5 aeronaves 24h/dia, cobrindo todo o território do continente), é previsível que o número de transportes primários para Hospitais Nível 3 aumente. 218 Neto P et al. – Emergência pediátrica pré-hospitalar A sobrevida das crianças em PCR em ambiente pré-hospitalar varia entre 3-10%2 e a maior parte dos sobreviventes apresenta dano neurológico irreversível. No nosso estudo todos os doentes em PCR á chegada da VMER faleceram (n=22), confirmando o mau prognóstico destas situações em pediatria. A pouca formação em SBV da população portuguesa contribui para que a PCR em meio pré-hospitalar seja dificilmente revertível. O trauma continua a ser um problema de saúde pública em Portugal, sendo a principal causa de morte nas crianças e adolescentes6, seguido dos afogamentos. De acordo com o “Relatório de Avaliação Sobre Segurança Infantil em Portugal 2009”6, em 2005 morreram 276 crianças e adolescentes por trauma e segundo a Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) estima-se que ocorram, em Portugal, em média cerca de 30 mortes por ano por afogamento8. Os nossos resultados vão de encontro a esta realidade, com 46% das mortes resultantes de situações traumáticas e 23% por afogamentos. Os óbitos foram significativamente mais frequentes em crianças de sexo masculino, o que pode estar relacionado com a maior tendência dos rapazes em se exporem ao perigo9,10. Não obstante esta realidade dramática, houve uma redução significativa (entre 2001 e 2005) no número de mortes por trauma em Portugal6, que estará relacionada com as medidas de prevenção rodoviária introduzidas em Portugal mas também com a melhoria dos cuidados prestados à criança vítima de trauma pelos serviços pré-hospitalares e pelos hospitais nível 211. Conclusão O nosso estudo foi concordante com os dados internacionais existentes. O facto das emergências pediátricas representarem apenas 5% das activações da VMER, deve ser um motivo de constante treino e revisão dos protocolos pediátricos das equipas de VMER. O trauma e as patologias agudas (nomea damente as convulsões e as doenças respiratórias) são os principais motivos de activação nesta população. A evolução é habitualmente desfavorável nas situações de PCR à chegada da VMER. Pensamos que este aspecto pode ser melhorado com uma consistente formação da população em SBV. Referências 1.Madeira S, Porto J, Henriques A, Nieves F, Pinto N, Henriques G. Manual de Suporte Avançado de Vida. 2ª ed. Instituto Nacional de Emergência Médica; 2011. 2.Markenson DS. Introducción a la pediatría prehospitalaria. In: Markenson DS, eds. Asistencia pediátrica prehospitalaria. Madrid: Elsevier; 2007; 1-22. 3.Jewkes F. Prehospital emergency care for children. 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Serviço de Patologia Clínica, Hospital Central do Funchal Resumo Introdução: A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) é uma importante causa de mortalidade pediátrica mundial, motivando um grande número de internamentos. Embora o tratamento empírico origine uma resposta favorável na maioria dos doentes, a identificação dum agente etiológico representa sempre um desafio. Objectivos: Caracterizar a população pediátrica hospitalizada por PAC e avaliar o contributo dos exames de investigação etiológica (hemocultura e detecção de antigénios capsulares do Streptococcus pneumoniae no soro [sAgPnc]) no tratamento dos doentes. Métodos: Estudo prospectivo, através de preenchimento de formulário, dos doentes admitidos no Serviço de Pediatria em 2008, por PAC. Resultados: Obtivemos um total de 101 internamentos verificando-se a maior incidência antes dos 5 anos (53,5%). A cobertura vacinal para doença pneumocócica foi de 43,6%. Os primeiros sintomas ocorreram em média nos 2,3 dias prévios à admissão, com febre em 91,1% e tosse em 81,1%. A dificuldade respiratória/ necessidade de oxigénio suplementar foi o critério de internamento mais utilizado (35,6%). A radiografia torácica mostrou em 82,2% um infiltrado lobar ou segmentar unilateral. Foi identificado um agente etiológico em 21,8% dos casos, 6,9% correspondendo ao S. Pneumoniae (serótipos 1, 7F). A sensibilidade da detecção de sAgPnc foi de 6,6%. A mortalidade por PAC foi de 2%, ocorrendo em crianças com comorbilidades. A duração média do internamento foi de 6,6 dias, com resposta favorável em 91,1%. Conclusão: A vigilância clínica e epidemiológica é fundamental na adequação da profilaxia e tratamento da PAC. Infelizmente, os métodos de investigação etiológica mais comuns apresentam uma baixa sensibilidade, tendo-se mostrado que a detecção de sAgPnc tem pouca utilidade na PAC. Palavras-Chave: pneumonia, antígenos, hemocultura, Streptococcus pneumoniae. Acta Pediatr Port 2011;42(5):220-4 Recebido: 09.09.2010 Aceite: 11.11.2010 220 Clinical and epidemiological characterization of community-acquired pneumonia in Madeira Island hospitalized children Abstract Background: Community Acquired Pneumonia (CAP) is a substantial cause of pediatric mortality worldwide, prompting a large number of hospitalizations. Although the empirical treatment leads to a favorable response in most patients, identifying a causative agent is always a challenge. Objectives: To characterize the pediatric population hospita lized with CAP and acess the contribution of the etiologic investigation methods (blood culture and detection of pneumococcal capsular antigen in serum [sAgPnc]) for the treatment. Methods: Prospective study of the patients hospitalized with CAP in the pediatric department during the year 2008. Results: There were a total of 101 admissions, noting the higher incidence before age 5 (53.5%). Vaccination coverage for pneumococcal disease was 43.6%. The first symptoms occurred on average 2.3 days before admission with fever in 91.1% and cough in 81.1%. Breathing difficulty/need for supplemental oxygen was the commonest criterion for admission (35.6%). Chest radiography showed a unilateral lobar or segmental infiltrate in 82.2%. It was possible to identify an etiologic agent in 21.8%, with S Pneumoniae being responsible for 6.9% (serotypes 1, 7F). The detection of sAgPnc sensibility was 6,6%. The CAP mortality was 2%, occurring in children with previous comorbidities. The average length of stay was 6.6 days, as 91.1% patients had a favorable response. Conclusion: The clinical and epidemiological surveillance is essential in the adequacy of prophylaxis and treatment of CAP. Unfortunately, usual etiologic research methods present low sensitivities. It was shown that the detection sAgPnc is of little use in CAP. Key words: pneumonia, antigens, blood culture, Streptococcus pneumoniae. Acta Pediatr Port 2011;42(5):220-4 Correspondência: Francisco Silva Serviço de Pediatria do Hospital Central do Funchal Av. Luís de Camões nº57 9040-514 Funchal [email protected] Acta Pediatr Port 2011:42(5):220-4 Introdução A pneumonia é a principal causa de mortalidade em crianças menores de cinco anos de idade, cerca de 19% em todo o mundo e 2% em Portugal1,2. Na Europa, a incidência anual de pneumonia em crianças menores de cinco anos é estimada em 34-40/1000, diminuindo para 7/1000 em adolescentes entre os doze a quinze anos de idade3. A incidência anual de internamentos por pneumonia adquirida na comunidade (PAC) em Portugal é estimada em 30/10004. A PAC, apesar de ocorrer durante todo o ano, tem uma incidência maior nos meses mais frios. Esta particularidade é atribuída à maior aglomeração de indivíduos em espaços mais fechados, permitindo a maior transmissão de gotículas infectadas3. Os factores de risco associados a maior gravidade são vários e incluem comorbilidades como a cardiopatia congénita, a fibrose quística, a asma, as doenças neuromusculares, o refluxo gastroesofágico e as imunodeficiências primárias3. O diagnóstico de PAC implica a presença de febre e/ou semiologia aguda do tracto respiratório inferior associada a um infiltrado parenquimatoso na radiografia torácica. Implica ainda que o doente não tenha estado internado na semana anterior ao diagnóstico ou, quando surge em contexto de internamento, ocorra nas primeiras 48 horas4. Os lactentes e crianças com sintomas respiratórios ligeiros a moderados podem ser tratados com segurança em ambulatório, reservando-se o internamento para os casos mais graves: idade inferior a quatro meses; dificuldade respiratória significativa e/ou necessidade de oxigénio suplementar; aspecto tóxico; pneumonia multifocal; complicações radiológicas; doença subjacente; má resposta à terapêutica iniciada em ambulatório; impossibilidade de fazer terapêutica oral; e, motivos sociais4,5. A transferência para a unidade de cuidados intensivos deve ocorrer em situações de dificuldade em manter uma SaO2> 92% com FiO2 > 60%; choque; agravamento da taquipneia e taquicardia com evidência de dificuldade respiratória acentuada e exaustão, independentemente do valor de PaCO2; apneia recorrente ou bradipneia irregular5. A realização de exames complementares de diagnóstico é indicada nos doentes com necessidade de internamento. Assim, enquanto a radiografia torácica define a extensão e presença de complicações (derrame pleural, abcesso, pneumatocelo), o estudo laboratorial procura discriminar entre etiologia bacteriana e viral3,4. A identificação de um agente etiológico na PAC é particularmente difícil em idade pediátrica, não sendo possível em cerca de 20 a 60% dos casos5,6. Sabemos que os vírus (vírus sincicial respiratório, vírus parainfluenza, adenovírus) são os principais responsáveis pela PAC em crianças até aos cinco anos, enquanto nas crianças maiores a causa bacteriana é a mais frequente (Mycoplasma pneumoniae, S. pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae)3-5. A coinfecção por vários agentes é frequente em cerca de 8-40% dos pacientes hospitalizados 4. Segundo um estudo, a coinfecção vírus-bactéria pode ser encontrado em 30% dos doentes, por vários vírus em 13% e por duas estirpes bacterianas em 7%7. Silva F et al. – Pneumonia adquirida na comunidade O Streptococcus pneumoniae é o agente bacteriano mais frequente em todas as idades, porém em apenas 5-10% dos casos é isolado em hemocultura5. A detecção de antigénios capsulares do pneumococo pode ser aplicado em diferentes líquidos biológicos permitindo o diagnóstico rápido, embora a sua utilização não seja consensual. Alguns estudos referem sensibilidades entre 36-50%, quando aplicada no líquido pleural ou no soro, mencionando a sua utilidade mesmo após o início da antibioterapia8,9. O tratamento da PAC em pediatria é baseado na idade do doente, na clínica, nos dados epidemiológicos, sendo a orientação pelos exames auxiliares ao diagnóstico dependente da gravidade da doença e necessidade de hospitalização10. Objectivos Os objectivos deste estudo foram caracterizar clínica e epidemiologicamente a população pediátrica hospitalizada por PAC, calcular a sensibilidade da hemocultura e da detecção de antigénios capsulares do pneumococo no soro (sAgPnc) e avaliar o contributo destes exames de investigação etiológica no tratamento. Material e métodos Estudo prospectivo dos doentes internados por PAC no Serviço de Pediatria em 2008, com idade inferior a catorze anos, excluindo os doentes com Fibrose Quística. A investigação etiológica incluiu uma colheita para hemocultura em todos os doentes. As serologias para os vírus respiratórios, para Mycoplasma pneumoniae e a Chlamydophila spp. foram determinadas atendendo à idade e padrão radiológico. A detecção de sAgPnc (Pastorex® Meningitis) decorreu atendendo à clínica de infecção bacteriana e presença de infiltrado alveolar/ segmentar na radiografia torácica. No primeiro dia de internamento foi preenchido um formulário, com dados clínicos e laboratoriais, e consentimento informado. Todos os dados colhidos foram processados pela aplicação SPSS versão 17.0 (SPSS Inc., Chicago, Il. EUA). Resultados No ano de 2008 foram admitidas 101 crianças por PAC. A distribuição foi igual entre os sexos (51 masculino), com idade média de 5,0 (±3,3) anos. O número de hospitali zações em crianças menores de cinco anos de idade foi de 54 (53,5%), correspondendo a uma incidência anual de 37,9/10.000 crianças nesta faixa etária (Figura 1 e Quadro I). O maior número de hospitalizações ocorreu nos meses de Inverno e Outono, 36 (35,6%) e 34 (33,7%) doentes respectivamente. As comorbilidades mais frequentemente encontradas foram a asma em 22 (21,8%) casos, a doença neurometabólica em seis (5,9%) e a imunodeficiência primária em um (1,0%) doente. Na admissão, 44 (43,6%) doentes (53,7% até aos oito anos) tinham entre uma dose e o esquema completo da vacina anti pneumocócica conjugada heptavalente, PCV7 (Figura 1). O início dos sintomas ocorreu em média 221 Acta Pediatr Port 2011:42(5):220-4 Silva F et al. – Pneumonia adquirida na comunidade nos 2,3 (±1,7) dias prévios ao internamento. As queixas mais frequentes foram a febre em 91,1% (39,0±0,8°C), a tosse em 81,1%, o vómito em 38,6% e a toracalgia em 31,7% dos casos. Os critérios de internamento mais utilizados foram a dificuldade respiratória e/ou necessidade de oxigénio suplementar em 35,6%, o ar tóxico em 30,7% e a intolerância da via oral em 11,9%. As complicações radiológicas (4,0%) e a idade inferior a quatro meses (4,0%) foram critérios menos utilizados (Quadro II). Figura 1 – Incidência de internamentos por faixas etárias e cobertura vacinal para a doença pneumocócica - PVC7 (4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F, 23F). Quadro I – Incidência dos internamentos e mortalidade por pneumonia adquirida na comunidade, em 2008. Idade (anos) População pediátrica Internamentos por PAC Internamentos /10.000 Óbitos por PAC % Óbitos por PAC 0-4 14.249 54 37,9 2 3,7 5-14 29,446 47 16,0 0 0 0-14 43.695 101 23,5 2 2 A radiografia torácica inicial revelou uma imagem de condensação segmentar ou lobar unilateral em 82,2%, bilateral em 1,0%, com derrame pleural em 4,0% e um padrão intersticial bilateral em 12,9%. A identificação de um agente etiológico foi possível em 22 (21,8%) doentes. Em todos os doentes foi realizada uma hemocultura, positiva em quatro casos onde foi isolado o S. pneumoniae. Adicionalmente, a detecção de sAgPnc foi positiva em quatro doentes. Apenas um caso foi positivo em ambos, tendo-se identificado um total de sete (6,9%) doentes com S. pneumoniae. Atendendo ao tipo de infiltrado segmentar/lobar (n=88) e ao total de exames efectuados, estimamos a sensibilidade destes dois métodos, a hemocultura com 4,6% (4/88) e a detecção de sAgPnc em 6,6% (4/61). Foram caracterizados os serótipos do pneumococo, no contexto do estudo da Doença Invasiva Pneumocócica, identificando nos casos cuja hemocultura foi positiva, os serótipos 1 e 7F (3:1 casos, respectivamente). Nos restantes doentes foram identificados ainda: a Chlamydophila spp. em sete (6,9%) doentes; o Mycoplasma pneumoniae em cinco doentes (5%) – 1% com coinfecção por Adenovírus; e a etiologia viral em 3% – coinfecção vírus-vírus em 1% (Quadro II). Relacionamos a etiologia com a idade, o início dos sintomas, a temperatura e a proteína C-reactiva (pCr) (Figura 2). Nos doentes com PAC por S. pneumoniae a idade variou entre os 2,4-8,2 anos (5,3 ±2,2 anos) e em média, os sintomas iniciaram-se nas 53 (±52) horas prévias ao internamento, a temperatura foi de 38,9 (±0,2) °C e a pCr de 237 (±107) mg/L. Na PAC por Chlamydophila spp. em lactentes entre os 18 dias e os 3,6 meses de vida (1,9 ±1,2 meses), os primeiros sintomas surgiram em média às 99 horas (±66) antes da admissão, a temperatura média foi de 37,5 (±0,6) °C e a pCr média foi de 20 (±11) mg/L. Os casos de infecção pelo Mycoplasma pneumoniae, ocorreram entre os 5,1-8,9 anos de idade (7,4 ±1,5 anos) e em média, o início dos sintomas ocorreram nas 42 (±50) horas anteriores, com febre de 39,2 (±0,9) °C e pCr de 146 (±101) mg/L. Nas PAC de etiologia viral a idade rondou entre os 2,4-7,1 anos (5,2 ±2,5 anos) e em média, os sintomas surgiram 72 horas (±72; p=1,0) antes, a temperatura foi de 39,5°C (±0,5; p=1,0) e a pCr igual a 313 (±65) mg/L. Quadro II. Caracterização da pneumonia adquirida na comunidade em crianças hospitalizadas. Sintomas iniciais % Critérios de internamento % Etiologia Nº % 22 21,8 Febre 91,1 Dif. respirat./Nec. O2 suplementar 35,6 Total Tosse 81,1 Ar tóxico 30,7 Bacteriana Vómito 38,6 Não tolera a via oral 11,9 S. Pneumoniae 7 6,9 Toracalgia 31,7 Doença subjacente 7,9 Chlamydophila spp. 7 6,9 Dispneia 29,7 Incapacidade de prestação de cuidados 4 Mycoplasma pneumoniae 5 5 Dor Abdominal 26,7 Complicações radiológicas 4 Viral Anorexia 26,7 Idade inferior a 4 meses 4 VSR 1 1 Cefaleias 6,9 Parainfluenza tipo 2 1 1 Convulsão Febril 5,9 Adenovirus/Influenza B 1 1 VSR – vírus sincicial respiratório. 222 Acta Pediatr Port 2011:42(5):220-4 Silva F et al. – Pneumonia adquirida na comunidade Figura 2 – Caracterização clínica e laboratorial (pCr) por agente etiológico, da pneumonia adquirida na comunidade Etiologia Intervalo idade (anos) Idade média p Inicio médio sintomas (h) p Temp. °C p PCR média (mg/L) p S. pneumoniae 2,4-8,2 5,3 0,66 53 0,04 38,9 0,006 237 0,49 Chlamydophil 0,05-0,3 0,16 0,12 99 0,99 37,5 0,10 20 0,39 Mycop. pneum. 5,1-8,9 7,4 0,57 42 0,10 39,2 0,67 146 0,15 Viral 2,4-7,1 5,2 0,43 72 1,0 39,5 1,0 313 0,68 A resposta favorável à antibioterapia empírica ocorreu em 92 (91,1%) doentes, com apirexia em média às 33h (±59,8) de internamento. O ajuste terapêutico foi necessário em nove (8,9%) doentes associado a agravamento clínico ou radiológico. Em sete doentes ocorreram derrames pleurais, dos quais três necessitaram de toracocentese. Não ocorreram outras complicações. Nesta série verificaram-se dois óbitos por insuficiência respiratória, em crianças com comorbilidades prévias (paralisia cerebral, hiperglicinémia não cetótica) e ambas de idade inferior a cinco anos (quadro I). A duração média do internamento foi de 6,6 dias (±4,7; [3-38]). (SpO2<92%) como a taquipneia (>70bpm em lactentes), são factores de risco associados à maior mortalidade5. Por esse motivo são elementos chave na admissão3. A pneumonia adquirida na comunidade não é uma patologia exclusiva do meio hospitalar, sendo difícil estimar a sua incidência anual. Nesta série observamos uma incidência de hospitalizações igual a 23,5/10.000 crianças até aos catorze anos, e de 37,9/10.000 crianças com idade inferior a cinco anos, demonstrando a maior incidência de hospitalizações até aos cinco anos de idade, como referido noutros estudos (14,8-32,8/10.000)11-13. Corroboramos a sazonalidade, mostrando que as hospitalizações ocorreram maioritariamente (70%) nos meses mais frios (Outono e Inverno)3,13. Os resultados obtidos no estudo etiológico foram inferiores às expectativas criadas por outros estudos, pois em 78,2% dos casos não foi isolado um agente5,8,14. O S Pneumoniae foi evidenciado por Michelow et al.14 em 44% (n=154) dos seus doentes, comparativamente aos 6,9% (n=101) identificados no nosso estudo. Tal feito, só foi possível recorrendo a diferentes técnicas (hemocultura, serologia, técnicas de PCR), executando um maior número de exames, em doentes não vacinados para a doença pneumocócica. No nosso estudo não foi possível o recurso sistemático da PCR. Em relação à sensibilidade da hemocultura (4,6%) e da detecção de sAgPnc (6,6%), ambas foram inferiores ao esperado (5-10%5 e 36-50%9, respectivamente), sobretudo no caso deste último. A dificuldade em obter a quantidade mínima (2cc) de sangue requerida na detecção de sAgPnc limitou o número de testes realizados (n=61). Um outro aspecto a mencionar foi a morosidade na sua execução, por motivos técnicos, tardando os resultados e anulando uma possível influência na terapêutica inicial. Assim, consideramos a utilização regular da detecção de sAgPnc dispensável, face à baixa sensibilidade e benefício demonstrados, pelo que são necessários mais estudos para a sua eventual aplicação futura. A associação entre a PAC e a asma ou sibilância é largamente conhecida, tratando-se do factor de risco mais frequente (21,8%) desta série3,14,15. Mostramos que a febre (±39,0°C) e a tosse com cerca de dois dias de evolução são uma apresentação clínica comum desta doença16. Da mesma forma, a dificuldade respiratória e/ou dependência de oxigénio suplementar (35,6%) e a noção de criança com ar tóxico (30,7%) foram os critérios de internamento mais utilizados. Segundo as guidelines, tanto a hipóxia Em 2008, 44 crianças tinham pelo menos uma dose da vacina pneumocócica, PCV 7. Ao relacionarmos os casos de infecção por S. Pneumoniae, verificamos que seis tinham cumprido o esquema da PCV7 (idade superior a dois anos) e que quatro destes casos correspondiam aos serótipos 1 e 7F. Este dado corrobora a maior incidência dos serótipos 1,7F e 19A em Portugal, na era pré PCV10 e PCV13. Actualmente, estima-se que estas novas valências da vacina pneumocócica apresentem uma cobertura de 55% e 83%, respectivamente17,18. Discussão 223 Acta Pediatr Port 2011:42(5):220-4 Devido ao número de agentes isolados, apenas o início dos sintomas (53 horas) e a febre (38,9°C) nas PAC por S. Pneumoniae foram estatisticamente significativas (p<0,05). Na PAC por Chlamydophila spp. salientamos a “pneumonia em apirexia do lactente”, que surge habitualmente entre as duas semanas e os quatro meses de vida, causada habitualmente pela C. trachomatis3. A mortalidade por PAC, nos países desenvolvidos, é rara em crianças saudáveis. Evidenciamos uma mortalidade de 3,7% em crianças de idade inferior a cinco anos, superior à descrita em Portugal pela Organização Mundial de Saúde. Tal facto deveu-se aos óbitos terem ocorrido em crianças com comorbilidade prévia1,13. Em suma, a vigilância clínica e epidemiológica exerce um papel fundamental na profilaxia das infecções respiratórias baixas, nomeadamente na doença pneumocócica. Por outro lado, as técnicas de investigação etiológica correntemente utilizadas apresentam sensibilidades baixas e, em alguns casos, a informação fornecida não modifica a atitude terapêutica - a antibioterapia empírica. Estes motivos justificam que, a investigação etiológica específica deva ser utilizada em contexto epidemiológico ou nos casos cuja gravidade implique a identificação dum gérmen. Agradecimentos Os autores agradecem aos colegas Alberto Berenguer, Ana Cristina Aveiro e A. Jorge Cabral pela colaboração no preenchimento dos formulários. Referências 1.Wardlaw T, Johansson EW, Hodge M. Pneumonia: The Forgotten Killer Of Children. The United Nations Children’s Fund (UNICEF)/ World Health Organization (WHO), 2006. Acessível em: http://whqlibdoc.who.int/publications/2006/9280640489_eng.pdf. Acedido a 26 Julho 2010. 2.Sectish T, Prober C. Pneumonia. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, Stanton BF, editors. Nelson Textbook of Pediatrics. 18th ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 2007;1795-9. 3.Barson WJ. Epidemiology, pathogenesis, and etiology of pneumonia in children. Acessível em: http://www.uptodate.com. Versão 17.2 de 22 de Maio 2009. Acedido a 30 Setembro 2009. 4.Secção de Pneumologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Pneumonia adquirida na comunidade: Orientações para actuação em Pediatria. Acta Pediatr Port 2007;38:90-2. 224 Silva F et al. – Pneumonia adquirida na comunidade 5.BTS Guidelines for the management of community acquired pneumonia in childhood. Thorax 2002;57:1-24. 6.Barson WJ. Clinical features and diagnosis of community-acquired pneumonia in children. Acessível em: http://www.uptodate.com. Versão 17.2 de 24 de Abril 2009. Acedido a 30 Setembro 2009. 7.Juven T, Mertsola J, Waris M, Leinonen M, Meurman O, Roivainen M, et al. Etiology of community-acquired pneumonia in 254 hospitalized children. 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Community-acquired pneumonia (CAP) in children in Oslo, Norway. Acta Pædiatr 2008;98:332-6. 13.Farha T, Thomson AH. The burden of pneumonia in children in the developed world. Paediatr Resp Rev 2005;6:76–82. 14.Michelow IC, Olsen K, Lozano J, Rollins NK, Duffy LB, Ziegler T, Kauppila J, et al. Epidemiology and clinical characteristics of community-acquired pneumonia in hospitalized children. Pediatrics 2004;113:701–7. 15.Victora CG, Fuchs SC, Flores JAC, Fonseca W, Kirkwood B. Risk Factors for Pneumonia Among Children in a Brazilian Metropolitan Area. Pediatrics 1994;93:977-85. 16.Korppi M, Don M, Valent F, Canciani M. The value of clinical features in differentiating between viral, pneumococcal and atypical bacterial pneumonia in children. Acta Pædiatr 2008;97:943-7. 17.Aguiar SI, Brito MJ, Marques JG, Melo-Cristino J, Ramirez M. 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Estima-se que as causas genéticas ocorram em cerca de 4 a 10% dos casos, pelo que se torna primordial a sua investigação. Descreve-se o caso de uma criança com défice cognitivo associado a dismorfias minor. Na primeira infância foi submetida a estudo etiológico alargado, sendo o défice cognitivo classificado como idiopático. Na reavaliação, a pesquisa de rearranjos subteloméricos pela técnica de Fluorescence in Situ Hibridization revelou a presença de um cromossoma marcador supranumerário em mosaico, com origem no cromossoma 18. Esta alteração é rara e aparentemente justificativa do défice cognitivo. Defende-se a necessidade de reavaliação dos doentes com diagnóstico etiológico inconclusivo, pela análise das técnicas citogenéticas utilizadas no seu estudo e revisão dos protocolos de avaliação etiológica no défice cognitivo em vigor. Palavras-chave: défice cognitivo; trissomia 18; estudo etiológico Acta Pediatr Port 2011;42(5):225-7 Intellectual disability: when to stop investigation? Abstract Intellectual disability affects 1-3% of the general population and has multiple etiologies. It’s estimated that genetic causes are responsible for 4-10% of the cases, so it’s primordial their investigation. We describe a case of a child with intellectual disability associated with minor dysmorphisms. In early childhood a broad etiologic study was performed and mental delay was classified as idiopathic. Later, a study of subtelomeric rearrangements by Fluorescence in Situ Hibridization technique revealed the presence of a mosaic supernumerary marker chromosome, originating from chromosome 18. This finding is rare and apparently the cause of the intellectual disability. It’s necessary to revaluate patients with unknown Recebido: 21.07.2011 Aceite: 08.09.2011 etiologic diagnosis, by analysing the cythogenetic techniques used, and to review the etiologic evaluation protocols of intellectual disability in use nowadays. Key-words: intellectual disability; mental delay; 18 trisomy; etiologic evaluation Acta Pediatr Port 2011;42(5):225-7 Introdução O défice cognitivo é caracterizado por uma limitação significativa do funcionamento intelectual e do comportamento adaptativo, com início antes dos 18 anos. Segundo a “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders”, 4ª edição (DSM-IV), pode ser classificado em ligeiro, moderado, grave e profundo, consoante a gravidade. Ocorre de forma isolada ou associado à presença de malformações/dismorfias e afecta cerca de 1 a 3% da população.1,2,3 As causas podem ser pré-natais (anomalias genéticas, exposição a toxinas ou teratogéneos, infecções congénitas, etc.), perinatais (prematuridade, hipóxia, infecção, trauma, hemorragia intracraniana, etc.) ou pós-natais (trauma, hemorragia do sistema nervoso central (SNC), infecção intracraniana, tumor do SNC, etc.).1 No entanto, só se identifica a etiologia em cerca de 50% dos casos.3 Existe uma elevada pressão dos pais, escolas e sociedade em geral para a procura e identificação de um diagnóstico etiológico. A maioria dos autores defende que a investigação etiológica deve ser faseada, partindo dos dados encontrados na história clínica e no exame físico, que identificam a causa em cerca de 17 a 34% dos casos.4 No entanto, perante uma história clínica e um exame físico sem alterações, pensando que existe uma considerável percentagem de casos de etiologia genética (4-10%), parece consensual a realização do cariótipo de bandas de alta resolução.3,4 A pesquisa da síndrome de X-frágil (causa genética de défice cognitivo mais frequente a seguir à trissomia 21) deve ser ponderada, especialmente se existir história familiar de défice cognitivo.4 A pesquisa de Correspondência: Andreia Manuela Tavares Castro Lopes Estrada Nacional 207, n.º 78 4800-211 Arosa [email protected] 225 Acta Pediatr Port 2011:42(5):225-7 rearranjos subteloméricos tem sido amplamente difundida. Foram surgindo várias técnicas para a sua identificação com características próprias e sensibilidades diferentes [hibridização in situ por fluorescência (FISH), amplificação de sondas dependente de ligação (MPLA), hibridização genómica comparativa (a-CGH)]. No entanto, a sua utilização generalizada nos casos de défice mental é ainda discutível. A continuação da investigação (estudos metabólicos, exames de imagem do SNC, etc) deverá ser ponderada caso a caso, de acordo com a existência de outras anomalias, nomeadamente a presença de malformações minor.4,5 Lopes A et al. – Défice cognitivo Na reavaliação etiológica, foi realizada pesquisa da síndrome de Prader-Willi (negativa), enzimas musculares (aumento da creatinafosfoquinase), electromiografia (normal) e pesquisa de rearranjos subteloméricos, pela técnica de FISH, que foi negativa para o estudo dos rearranjos propriamente dito. No entanto, durante a análise citogenética foi detectada a presença de um cromossoma marcador supranumerário em mosaico (confirmada em nova análise de cariótipo, em dez das 58 metafases analisadas) e que o estudo por FISH permitiu descobrir a origem no cromossoma 18 (Figura 1). Descreve-se um caso cuja investigação exaustiva conduziu ao diagnóstico etiológico, o que terá seguramente implicações futuras, nomeadamente ao nível do planeamento familiar dos pais da criança estudada. Relato de caso Criança de sete anos, do sexo masculino, orientada para a consulta de Neurodesenvolvimento de um hospital terciário por défice cognitivo associado a dismorfias. A gestação foi vigiada, de termo, e por rastreio bioquímico positivo do segundo trimestre foi realizada amniocentese, que revelou cariótipo normal. Não se verificaram outras intercorrências durante a gestação ou o parto, e no período pós-natal foi detectada a presença de uma comunicação interventricular apical, de pequenas dimensões. Sem história parental de consanguinidade ou antecedentes familiares de défice cognitivo, doenças neurológicas, doenças genéticas ou outras doenças hereditárias. Aos sete meses foi valorizada, pelo médico assistente, uma hipotonia global, tendo-se posteriormente verificado atraso na aquisição de todos os marcos do desenvolvimento (sentou com apoio aos 12 meses, sentou sem apoio aos 15 meses, andou aos 26 meses, disse as primeiras palavras aos 3 anos). Existiu referência a hérnia umbilical no primeiro ano de vida com regressão espontânea e manteve evolução estaturo-ponderal favorável. Aos 15 meses foi referenciado para uma consulta de genética, onde iniciou estudo etiológico de atraso global do desenvolvimento: foi realizado cariótipo, pesquisa da síndrome de X-frágil, da síndrome de DiGeorge e estudo metabólico (amómia, lactato, piruvato, determinação de aminoácidos no sangue e urina, ácidos orgânicos urinários, transferrina deficiente em carbohidratos, e glicosaminiglicanos) que não revelaram alterações. Foi orientado para a Unidade de Apoio ao Desenvolvimento e Intervenção Precoce aos 18 meses. Aos sete anos de idade, altura em que foi orientado para a consulta de Neurodesenvolvimento, foi constatado alargamento metafisário, hipotonia, obesidade central e a presença de algumas dismorfias (olhos “fundos”, base nasal alargada, fronte proeminente, implantação baixa dos pavilhões auriculares, massas musculares dos membros inferiores atrofiadas, dedos finos e clinodactilia do 5º dedo). A avaliação cognitiva formal, realizada com a prova de Wechsler Intelligence Scale for Children III em Janeiro de 2009, mostrou a presença de um défice cognitivo ligeiro (Quociente de Inteligência (QI) total de 62, com QI verbal de 85 e QI de realização de 50). 226 Figura 1 – Cariótipo com trissomia parcial do cromossoma 18 (a seta aponta o cromossoma marcador supranumerário). Discussão A trissomia 18 é uma doença rara com uma incidência de 1 em cada 6000 a 8000 nados vivos. Esta doença afecta praticamente todos os órgãos e sistemas e está associada a uma elevada taxa de mortalidade no primeiro ano de vida (cerca de 90%), sobretudo por patologia cardíaca, malformações renais, dificuldades na alimentação, sépsis e apneias (causadas por anomalias do sistema nervoso central). A trissomia 18 em mosaico ocorre quando uma linha celular com trissomia 18 coexiste com uma linha celular normal no mesmo indivíduo. Estes casos são responsáveis por apenas 5% dos casos de trissomia 18 e têm um fenótipo variável, dependendo do grau de mosaicismo e dos tecidos envolvidos, e variam desde um fenótipo de trissomia 18 completa à ausência de traços dismórficos e inteligência normal. A trissomia 18 parcial resulta normalmente de um segmento do cromossoma 18 em triplicado, maioritariamente originado numa translocação equilibrada presente num dos progenitores e é responsável por cerca de 2% dos casos.6 O caso descrito apresenta uma trissomia parcial do cromossoma 18 em mosaico, em que o cromossoma estruturalmente anormal presente é um cromossoma muito pequeno constituído por material proveniente do cromossoma 18, mas não constituiu um cromossoma inteiro. Assim sendo, na ausência de um fenótipo característico, será difícil definir problemas associados e o prognóstico. Na revisão da história clínica e exame objectivo identificam-se algumas anomalias/malfor- Acta Pediatr Port 2011:42(5):225-7 mações associadas a esta alteração genética, nomeadamente a presença de atraso global do desenvolvimento, antecedentes de hérnia umbilical e clinodactilia do 5º dedo. Porém, a ausência de malformações cardíacas e renais faz-nos pensar que este paciente terá um prognóstico favorável, limitado apenas pelo défice cognitivo associado. Os mosaicos resultam maioritariamente de não disjunção mitótica pós-zigótica, pelo que não existe alteração nos progenitores e consequentemente não há aumento do risco de recorrência em gestações futuras. A hipótese, ainda que remota da existência de alterações genéticas nos pais, levou à realização dos seus cariótipos (que se revelaram normais) para identificação e planeamento de uma gestação futura com maior segurança. A investigação etiológica exaustiva dos indivíduos com défice cognitivo acarreta encargos avultados quer a nível económico (custos materiais, recursos técnicos, etc.), quer familiar (instabilidade familiar) ou individual (manipulações frequentes, meios de diagnóstico invasivos). Porém, a identificação da etiologia do défice cognitivo permite estabelecer um prognóstico mais fidedigno e auxiliar no planeamento familiar dos progenitores do paciente. A reavaliação etiológica dos casos de défice cognitivo deve, portanto, ser faseada e de acordo com a evolução dos conhecimentos e técnicas de investigação. As regiões subteloméricas dos cromossomas apresentam uma elevada concentração de genes e são muito propensas a recombinações.3 Rearranjos nas regiões subteloméricas podem ser a causa do défice cognitivo numa percentagem que varia, em diferentes estudos (consoante critérios de selecção e técnicas de citogenética aplicadas), entre 4,4 e 7%. 3,4,7,8 Devido à sua importância clínica têm sido desenvolvidas várias técnicas para detecção dos rearranjos. A técnica mais amplamente difundida é a FISH que se baseia na utilização de sequências de ADN ligadas a marcadores fluorescentes que hibridam com sequências correspondentes nos cromossomas, permitindo detectar a sua presença ou ausência (detectando anomalias a partir de 3-5 Mb). A técnica de MPLA foi desenvolvida posteriormente e permite amplificar múltiplas sequências de ADN, recorrendo a um único primer e quantificar sequências específicas, pelo que diminui o tempo de laboratório e custos inerentes. Mais recentemente têm sido utilizadas técnicas de a-CGH, que podem detectar delecções ou duplicações em porções muito pequenas dos cromossomas (até inferiores a 1 Mb), o que aumenta grandemente a acuidade diagnóstica. A sua utilização tem revelado a presença de um grande número de desequilíbrios cromossómicos não detectados por outras técnicas, associados a síndromes genéticos ou atraso mental de causa não explicada. Assim, parecem ter uma sensibilidade superior em relação a outras técnicas, na detecção de anomalias citogenéticas (conhecidas ou novas), embora tenha custos de execução, neste momento, superiores. Não detectam, no entanto, alterações cromossómicas equilibradas, como translocações recíprocas ou inversões. Por outro lado, identificam mais frequentemente alterações que são variantes do normal. A pesquisa generalizada dos rearranjos subteloméricos (independentemente da técnica utilizada) nos casos de défice cog- Lopes A et al. – Défice cognitivo nitivo idiopático não é ainda consensual, devido aos custos das técnicas e à possibilidade de se encontrarem alterações não patológicas (variantes do normal). No entanto, aumentamos a rentabilidade destes exames se os realizarmos em casos de história familiar positiva de défice cognitivo, restrição de crescimento intrauterino, baixa estatura, dismorfias faciais ou malformações congénitas, ou nos casos de défice cognitivo moderado a grave, pelo que é esta a recomendação da maioria dos autores.3,4 No nosso caso clínico estava justificado a sua pesquisa pela presença das dismorfias descritas. No paciente apresentado, a realização de um teste genético mais específico permitiu detectar uma anomalia no cariótipo não identificada em exames anteriores. Para este facto, podem ter contribuído as melhorias nas técnicas de citogenética decorridas nos últimos anos, mas foi sobretudo a alteração na qualidade/quantidade da amostra colhida que veio permitir identificar a trissomia. Sendo esta anomalia genética encontrada em mosaico, aumenta-se a probabilidade de detecção quando se aumenta o número de metafases analisadas (11 no primeiro cariótipo vs 58 no segundo). Assim é levantada uma nova controvérsia: será que existe necessidade de repetição de testes genéticos, nomeadamente o cariótipo, se a causa do défice cognitivo permanece desconhecida? Os autores preconizam a realização de novo estudo genético se o anterior não obedecer aos critérios de validação científica actuais. É também necessário rever os protocolos de avaliação etiológica do défice cognitivo actualmente em vigor. Referências 1.Pivalizza P, Miller G. Intellectual disability (mental retardation) in children: definition; causes; and diagnosis [Internet]. 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Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos, Hospital de Dona Estefânia, Centro Hospitalar de Lisboa Resumo A papilomatose respiratória recorrente da criança é uma doença rara, mas potencialmente ameaçadora da vida, e que atinge o trato respiratório com predilecção pela laringe e traqueia. É causada pelo papiloma-vírus humano (tipo 6 e 11). É uma das causas de rouquidão e obstrução da via aérea. É necessário um elevado grau de suspeição diagnóstica, tendo em conta as várias formas de apresentação. Apresenta-se o caso de uma criança de quatro anos de idade, com antecedentes de papilomatose laríngea, internada por obstrução respiratória alta grave e necessidade de traqueotomia de emergência. A tipagem viral realizada posteriormente revelou tratar-se do papilomavírus humano tipo 11 e 72. Nos catorze meses seguintes foi submetida a seis intervenções cirúrgicas, inicialmente por técnicas convencionais e laser de CO2, e de seguida utilizando o novo método de microdebridador e aplicação de cidofovir intralesional. Trata-se de um caso ilustrativo de doença extremamente agressiva, que pôs em risco a vida da criança e com óbvia repercussão na sua qualidade de vida. A papilomatose respiratória recorrente, embora rara, deve estar presente nos diagnósticos diferenciais de estridor na criança, de modo a prevenir o crescimento de papilomas e a consequente obstrução grave das vias aéreas. Palavras Chave: Vírus do papiloma humano, papilomatose respiratória recorrente Acta Pediatr Port 2011;42(5):228-31 Recurrent respiratory papillomatosis Abstract Recurrent respiratory papillomatosis in children is a rare but potentially life-threatening disease, which affects the respiratory tract with preference for the larynx and trachea. It is caused by the human papilloma virus (types 6 and 11) and is one of the causes of hoarseness and airway obstruction. A Recebido: 21.06.2011 Aceite: 17.11.2011 228 high degree of diagnosis suspicion is needed, bearing in mind its various presentation forms. It is presented the case of a 4-year-old with background history of laryngeal papillomatosis, admitted for severe upper respiratory obstruction and need for emergency tracheotomy. Later viral sorting revealed that it was the human papillomavirus type 11 and 72. In the following fourteen months the child was submitted to six surgeries, initially by conventional techniques and CO2 laser, and afterwards through the new microdebrider method and application of intralesional cidofovir. This is an illustrative case of an extremely aggressive disease, which endangered the child’s life and provoked obvious repercussions on the subject’s quality of life. Recurrent respiratory papillomatosis, although rare, should be considered in the differential diagnosis of stridor in children, in order to prevent the growth of papillomas and the resulting severe airway obstruction. Keywords: Human papillomavirus, recurrent respiratory papillomatosis Acta Pediatr Port 2011;42(5):228-31 Introdução A papilomatose respiratória recorrente tipo juvenil é uma doença rara mas potencialmente grave, que pode afectar profundamente a qualidade de vida da criança1. É o tumor benigno epitelial da via aérea que mais frequentemente afecta a laringe, podendo estender-se a todo o tracto respiratório2,3. A incidência entre as crianças nos E.U.A está estimada em 4,3 casos por 100.000 crianças1,3. O papilomavírus humano (PVH) é o agente responsável pela doença sendo os PVH tipo 6 e 11 os mais frequentes; os PVH 16 e 18 estão associados a transformação maligna1,2,3. A doença associada ao PVH 11 é a mais grave e a necessidade de traqueotomia pode atingir os 70%.1 A laringe é o local mais frequente dos papilomas, pelo que a sintomatologia de obstrução da via respiratória superior é predominante. A rouquidão é o sintoma mais comum de Correspondência: Vera Viegas [email protected] Acta Pediatr Port 2011:42(5):228-31 apresentação, seguido de estridor, inicialmente inspiratório mas tornando-se bifásico com a progressão da doença.1-3 Habitualmente trata-se de um primeiro filho de mãe adolescente, de baixa condição social, com condilomas genitais e parto por via vaginal1. O diagnóstico é feito na maioria das crianças antes dos cinco anos de idade. No entanto, devido à raridade da doença, o diagnóstico na maior parte dos casos ocorre tardiamente, promovendo a morbilidade destas crianças2,3 com consequente aumento da mortalidade. O tratamento consiste em manter a patência da via aérea e melhorar a qualidade de voz nos casos de menor gravidade. A traqueotomia deve ser realizada apenas em casos que impliquem risco de vida, uma vez que está associada à disseminação da doença para toda a árvore respiratória1,5. A excisão cirúrgica é o tratamento actual e a terapêutica médica está indicada em apenas 10-20% dos casos como terapêutica adjuvante 1,5,6. O prognóstico é difícil de prever, dependendo da agressividade da doença.1,6 Relato de caso Criança de quatro anos de idade, sexo feminino, negra, natural e residente em Angola. Primeira filha de pais jovens, produto de gestação de termo aparentemente sem intercorrências e parto eutócico. Após o primeiro ano de vida iniciou estridor inspiratório associado a episódios de dificuldade respiratória, inicialmente tratados como asma. Aos dezasseis meses é feito o diagnóstico de papilomatose laríngea e efectuada remoção cirúrgica dos papilomas da laringe num país africano. Foi submetida a mais três intervenções cirúrgicas por obstrução importante da via aérea, a última efectuada em Novembro de 2009. Deve realçar-se que as duas últimas foram realizadas com um intervalo de dois meses, não sendo a criança seguida regularmente em consulta de especialidade. Três dias antes do internamento iniciou quadro grave de dificuldade respiratória com estridor marcado, sem febre, motivo pelo qual foi trazida para Portugal. Recorreu ao Serviço de Urgência hospitalar, e na história obtida não foi revelado pelos familiares acompanhantes o diagnóstico de papilomatose laríngea já efectuado anteriormente. Apresentava-se muito prostrada, apirética, com tiragem global associada a adejo nasal, estridor inspiratório ligeiro e necessidade de aporte de oxigénio (5L/min) para saturações de oxigénio acima de 94%. A auscultação pulmonar evidenciava diminuição global do murmúrio vesicular. A gasometria capilar mostrou: pH 7.177, pCO2 87.5 mmHg, HCO3- 31,7 mmol/L, compatível com acidose respiratória grave. O estudo laboratorial revelou: hemoglobina 13,2 g/ dl, leucócitos 12,6x109/L (N:79,7%, L:13,6%), Plaquetas 563x109/L e Proteína C reactiva 0,02 mg/dl. A radiografia do tórax postero-anterior não revelou alterações significativas, eventualmente apenas sinais duvidosos de hiperinsuflação pulmonar. A situação foi interpretada como crise aguda de asma e foi medicada com oxigenoterapia, aerossolterapia com broncodilatadores e corticoterapia. Duas horas após terapêutica, ocorreu discreta melhoria clínica e gasométrica, mas rapidamente, por agravamento da insuficiência respiratória com obstrução respiratória alta muito grave, foi transferida Viegas V et al. – Papilomatose respiratória recorrente para a Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos (UCIP). De referir que só então os familiares acompanhantes revelaram o diagnóstico acima referido. Tendo em conta a gravidade da situação, de imediato foi providenciado a ida ao Bloco Operatório para intubação traqueal, a qual não foi possível, pelo que foi realizada traqueotomia de emergência, ficando ventilada. No segundo dia de internamento, após fibroscopia que identificou volumosos papilomas que obstruíam a via aérea (distribuindo-se pela superfície superior das cordas vocais, pavimento dos ventrículos laríngeos e bandas ventriculares com oclusão total do espaço glótico e supraglótico), foi submetida a Microcirurgia Laríngea em Suspensão (MCLS). Procedeu-se à exérese dos mesmos por técnica convencional e laser CO2. Necessitou de ventilação mecânica com pressão controlada durante três dias, após o que ficou em respiração espontânea. No oitavo dia de internamento, decorrente de avaliação com vista a possibilidade de descanulação, verificou-se recorrência localizada das lesões, tendo sido feito excisão dos papilomas com microdebridador Medtronics (Medtronics, Jacksonville, FL, EUA), skimmer 2,9 mm. Foi pedida tipagem viral nos papilomas excisados. No décimo segundo dia de internamento foi transferida para o internamento de Otorrinolaringologia (ORL), onde foi feita substituição de cânula de traqueotomia com colocação de cânula Shiley nº 4, o que permitiu o início de treino de adaptação a válvula fonatória, que decorreu sem queixas respiratórias, obtendo-se voz áspera, de timbre grave, mas perceptível. O internamento prolongou-se devido a intercorrência médica não relacionada com a situação de base, tendo a doente alta após três semanas de internamento. Manteve seguimento em consulta de ORL, onde foiefctuada, três semanas mais tarde, reavaliação endoscópica que revelou recorrência das lesões, com volumosos papilomas nas bandas ventriculares e cordas vocais. Dada a elevada taxa de crescimento das lesões foi proposta nova cirurgia, desta vez com administração intralesional de Cidofovir (5mg/ mL, volume total 1 mL). A fibroscopia laríngea de controlo realizada cerca de duas semanas depois revelou lesões pouco volumosas, dispersas nas bandas e comissura anterior. Ainda na tentativa de obter controlo da doença, possibilitando assim o encerramento da traqueotomia, foi realizada uma semana depois uma última MCLS com excisão dos papilomas remanescentes e segunda aplicação intralesional de Cidofovir (5 mg/ml, volume total 2 mL). No entanto, a necessidade de a doente se deslocar ao país de origem (onde não tem assistência médica ORL disponível), por um período de três meses, determinou a decisão de manter a traqueotomia, ficando programada posterior reavaliação. Finalmente após oito meses do internamento inicial foi feita excisão de lesões glóticas de pequenas dimensões sem efeito obstrutivo com microdebridador e a terceira aplicação tópica de Cidofovir. Dada a reduzida dimensão dos papilomas identificados decidiu-se proceder à remoção definitiva da cânula 229 Acta Pediatr Port 2011:42(5):228-31 de traqueotomia e encerramento do traqueostoma com penso externo ligeiramente compressivo, tendo-se verificado completo encerramento do orifício em trinta dias. Dois meses depois, foi identificado granuloma que ocupava 1/3 do lúmen glótico e que foi excisado. A última reavaliação endoscópica, realizada catorze meses após o primeiro internamento, revelou papiloma com 2 mm de diâmetro, sem efeito obstrutivo da via aérea, localizado aproximadamente 2 cm abaixo do nível da traquetomia, e que foi excisado. Na pesquisa de DNA e determinação de genotipo viral das peças operatórias colhidas foram identificados os VPH 11 e VPH 72. Actualmente a doente encontra-se assintomática mantendo seguimento na consulta de ORL. Discussão A papilomatose laríngea, pela sua raridade e lenta progressão, é frequentemente subdiagnosticada e tratada durante muito tempo como sendo outro tipo de patologia respiratória obstrutiva mais comum na população pediátrica (crupe, asma, laringomalácia, etc).1,3 O caso apresentado é ilustrativo da dificuldade em diagnosticar estas situações, tendo sido erradamente interpretado como crise de asma, por apresentar estridor pouco exuberante, sinais de dificuldade respiratória grave aparentemente do trato respiratório inferior, bem como não ter sido possível conhecer os antecedentes pessoais da criança. A existência de estridor, associada a falta de resposta à terapêutica médica como broncodilatadores e corticoterapia, deve orientar o diagnóstico para situações de obstrução respiratória glótica e supraglótica, entre as quais se conta a papilomatose laríngea. Esta suspeição permitirá o diagnóstico mais precoce e o acompanhamento regular em consulta da especialidade o que pode prevenir situações de obstrução alta completa, por aumento progressivo do número e tamanho dos papilomas. A traqueostomia está indicada em situações de risco de vida por obstrução grave da via aérea, como no caso descrito6,7, mas deverá ser mantida o menor tempo possível, dado que o prolongamento do tempo de traqueostomia está associado a disseminação das lesões para a via aérea distal, incluindo parênquima pulmonar. A excisão cirúrgica é a terapêutica actual. Apesar dos vários procedimentos cirúrgicos, a recorrência de papilomas é a regra, e a maioria das crianças necessita de vários procedimentos cirúrgicos antes da puberdade, estando descrita a necessidade de até cento e cinquenta cirurgias até essa idade, particularmente se o diagnóstico ocorrer antes dos três anos de idade7. Apesar da morbilidade e possíveis complicações associadas às cirurgias (nomeadamente estenose glótica), esta é sempre preferível à manutenção da traqueotomia. A excisão por laser de dióxido de carbono com microlaringoscopia directa foi o método de remoção mais usado, devido a proporcionar uma boa hemostase e minimizar, sem a evitar, a lesão térmica de tecidos adjacentes saudáveis. Esta técnica tem vindo a ser substituída pela técnica microdebridador, que utiliza lâminas de oscilação angular que realizam a sucção e 230 Viegas V et al. – Papilomatose respiratória recorrente mecanismos de corte de tecido, permitindo remover rapidamente o tecido, proporcionando simultaneamente uma boa visualização da área devido à aspiração de secreções durante a excisão. Para além disso, proporciona menor tempo operatório, evita o risco de queimadura das vias aéreas e diminuição da taxa de recorrência 1,6. Apesar da utilização desta técnica no caso apresentado, a recidiva dos papilomas verificou-se quatro semanas após o procedimento. Em cerca de 10 a 20% das crianças, tem sido necessário associar terapêutica médica adjuvante. Embora actualmente não exista consenso do seu benefício efectivo em Pediatria, os critérios mais invocados para a sua utilização incluem: a necessidade de quatro ou mais cirurgias/ano, a rápida progressão da doença que compromete a permeabilidade da via respiratória e a existência de papilomas nas vias respiratórias distais5. O caso descrito corresponde a uma forma de papilomatose laríngea muito agressiva, com isolamento do PVP 11, tal como descrito na literatura, com necessidade de várias intervenções cirúrgicas nos últimos anos, pelo que foi decidido a utilização de terapêutica médica intralesional com cidofovir. Este fármaco é um antiviral com o qual, em alguns estudos, se verificou a regressão completa ou parcial e diminuição da necessidade de cirurgia8. No entanto a maioria dos estudos apresenta limitações, nomeadamente ampla variação da dose utilizada, frequência e duração do tratamento, inclusão de crianças e adultos no mesmo estudo, reduzido número de doentes e falta de um grupo de controlo, pelo que a eficácia deste fármaco é questionável.9-11 No passado foram utilizados vários fármacos, dos quais se destaca o interferão-α. A recorrência do aparecimento de papilomas aquando da sua suspensão e a toxicidade associada (reacções agudas e crónicas), tornaram-no pouco utilizado actualmente.5 Na última reavaliação do caso apresentado verificou-se uma melhoria significativa, sem recidiva das lesões anteriormente tratadas com cidofovir (apenas lesões de pequenas dimensões em locais diferentes), o que apesar de precoce pode ser interpretado como benefício deste fármaco. O uso da vacina quadrivalente contra o HPV (contendo a proteína L1 da cápside dos vírus HPV 16, 18, 6 e 11) parece levar à produção de anticorpos anti-HPV bem como á estimulação da imunidade celular específica mediada por células T. Vários casos descritos na literatura mostraram uma alteração do curso natural da doença com estabilização ou redução significativa da recidiva de papilomas após a vacinação, havendo no entanto necessidade de estudos multicêntricos abrangentes que permitam avaliar o verdadeiro benefício da vacina no tratamento da papilomatose respiratória recorrente12,13. Perante uma criança com sintomatologia típica de obstrução respiratória alta, acompanhada ou não de sinais de dificuldade respiratória baixa e que não responde à terapêutica instituída, é essencial proceder-se a avaliação endoscópica, dado que entre outras doenças o diagnóstico de papilomatose laríngea deve ser considerado. O diagnóstico precoce, e consequentemente o tratamento dirigido, pode evitar situações de obstrução completa da laringe com necessidade emergente de traqueotomia. Acta Pediatr Port 2011:42(5):228-31 Referências 1.McClay J, Meyers A. Recurrent Respiratory Papillomatosis. Oct29,2008. Acessível em http://emedicine.medscape.com/article/302648. 2.Fasunla AJ, Lasisi OA. Diagnostic challenges of laryngeal papillomatosis and its implications among children in developing country. Int J Ped Otorhinolaryngol 2009, 73:593-5. 3.Zacharisen MC, Conley SF. Recurrent respiratory papillomatosis in children: masquerader of common respiratory diseases. Pediatrics 2006; 118:1925-31. 4.Cole RR, Myer CM 3rd, Cotton RT..Tracheostomy in children with recurrent respiratory papillomatosis. Head Neck 1989; 11:226-30. 5.Gallagher TQ, Derkay CS. Pharmacotherapy of recurrent respiratory papillomatosis: an expert opinion. Expert opin Pharmacother 2009;10:645-55. 6.Ulualp SO, Ryan MW, Wright ST. 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A gangrena gasosa é uma infecção rara potencialmente fatal com apresentação clínica inicial subtil e pouco específica, pelo que é imprescindível um elevado índice de suspeição para o diagnóstico e tratamento atempados. A intervenção multidisciplinar precoce, envolvendo desbridamentos cirúrgicos excisionais frequentes e antibioterapia adequada, coadjuvados pela terapêutica com oxigénio hiperbárico, foi determinante para o bom resultado final. Palavras-Chave: gangrena gasosa, Clostridium, traumatismo, adolescente Acta Pediatr Port 2011;42(5):232-4 Gas gangrene as a complication of a traumatic wound Abstract We describe the case of an adolescent male who developed gas gangrene of his left thigh, after a traumatic injury. Gas gangrene is a rare and potentially fatal infection, with initial subtle clinical presentation. A high index of suspicion is, therefore, required for timely diagnosis and treatment. The early multidisciplinary approach, with frequent excisional surgical debridement and antibiotics, used in conjunction with hyperbaric oxygen therapy, has been crucial for the successful outcome. Key Words: gas gangrene, Clostridium, trauma, adolescent Acta Pediatr Port 2011;42(5):232-4 Introdução A gangrena gasosa é uma infecção rara mas potencialmente fatal, caracterizando-se por necrose tecidular rapidamente progressiva envolvendo músculo com toxicidade sistémica. A Recebido: 13.05.2011 Aceite: 02.12.2011 232 escassez de sinais cutâneos precoces sugestivos da gravidade da infecção subjacente torna essencial um elevado índice de suspeição clínica para o diagnóstico e tratamento atempados1. Os microrganismos implicados são bacilos anaeróbios Gram-positivos capazes de formar endósporos, do género Clostridium, que têm presença ubiquitária no solo e colonizam o aparelho gastrointestinal de animais e humanos2. O Clostridium perfrigens é a espécie mais frequentemente isolada2-4. Estima-se que a incidência seja cerca de 3000 casos por ano, nos Estados Unidos da América4. Apresentamos um caso ilustrativo de gangrena gasosa, com o objectivo de alertar para esta entidade e a importância de uma intervenção terapêutica multidisciplinar precoce e agressiva. Relato de Caso Adolescente do sexo masculino de 16 anos de idade, previamente saudável, foi vítima de acidente de viação de que resultaram traumatismos craniofacial com fractura do rebordo orbitário superior esquerdo, abdominal e do membro inferior esquerdo. Manteve-se sempre estável hemodinamicamente, consciente e orientado temporo-espacialmente. Apresentava um esfacelo de três quartos do perímetro da coxa, imediatamente acima do joelho, atingindo pele e tecido celular subcutâneo com pequena secção do músculo vasto interno na transição miotendinosa. Foi realizada limpeza e sutura e iniciada antibioterapia intravenosa (iv) com cefuroxime e gentamicina. Cerca de 36 horas após o traumatismo surgiu um pico febril único de 39ºC e, no terceiro dia, observou-se edema acentuado da coxa esquerda, com dor intensa ao toque, sem alteração da coloração da pele ou presença de outros sinais inflamatórios. A ferida apresentava exsudado sero-hemático. Colocaram-se as hipóteses diagnósticas de fractura do fémur e celulite da coxa, pelo que foi realizada radiografia da coxa esquerda que evidenciou ar ao nível dos tecidos moles e ausência de sinais de fractura (Figura 1), seguida de ecografia dos tecidos moles que revelou colecção líquida com extensão superior Correspondência: Ester Pereira Centro Hospitalar de Leiria-Pombal Rua das Olhalvas Pousos 2410 – 197 Leiria [email protected] Acta Pediatr Port 2011:42(5):232-4 Pereira E et al. – Gangrena gasosa Figura 1 – Gangrena gasosa: radiografia da coxa esquerda mostrando ar ao nível dos tecidos moles. a 6 cm e alguns focos ecogénicos com cone de sombra posterior sugestivos de colecções gasosas intramusculares. Laboratorialmente, apresentava leucócitos 16.300/uL com neutrófilos 13.500/uL, hemoglobina 11,2g/dL, plaquetas 164.400/uL, ureia 5,0mmol/L, creatinina 72µmol/L, K+ 5,2mmol/L, TGO 118U/L, TGP 43U/L, LDH 383U/L, CK 5.778U/L e Proteína C reactiva 237mg/L. Colocou-se então a hipótese diagnóstica de gangrena gasosa, e para melhor esclarecimento e delimitação da lesão realizou tomografia computorizada (TC) do membro inferior esquerdo, onde se visualizou extensa colecção gasosa entre os músculos da coxa, nos planos aponevróticos, desde a região pélvica até ao joelho (Figura 2). Foi submetido a cirurgia exploradora, observando-se múltiplos focos de necrose de tecidos moles, nomeadamente músculo e gordura, o que confirmou o diagnóstico de gangrena gasosa. Realizou-se desbridamento cirúrgico agressivo, com a excisão dos tecidos necrosados que se estendiam por toda a coxa. No exame directo do exsudado visualizaram-se bacilos Gram+ esporulados, pelo que se alterou a antibioterapia iv para penicilina G 5.000.000U de 4 em 4 horas, clindamicina 1,2g de 6 em 6 horas e meropenem 1g de 8 em 8 horas. Manteve-se sempre hemodinamicamente estável, tendo sido submetido a novo desbridamento cirúrgico 24 horas após o inicial e transferido para um hospital de nível III com unidade de medicina hiperbárica para terapêutica com oxigénio hiperbárico combinada com desbridamentos cirúrgicos diários. Apresentou boa evolução clínica e foi reenviado nove dias depois. A necessidade de desbridamentos cirúrgicos foi progressivamente menos frequente, num total de onze. Foram efectuados 14 dias de antibioterapia com meropenem, 24 dias com penicilina G e 32 dias com clindamicina, sendo que a cultura do exsudado Figura 2 – Gangrena gasosa: tomografia computorizada do membro inferior esquerdo (cortes axiais) com extensa colecção gasosa localizada entre os músculos da coxa esquerda, nos planos aponevróticos, desde a região pélvica até ao joelho. e as hemoculturas se revelaram negativas. Foi submetido a enxerto cutâneo e teve alta hospitalar dois meses após o traumatismo. Manteve seguimento em consulta externa de Ortopedia e de Medicina Física e Reabilitação, com boa recuperação funcional e normalização da força muscular. Teve alta um ano depois. Discussão No caso apresentado, a ferida profunda traumática do membro inferior esquerdo, com lesão muscular, proporcionou as condições ideais de anaerobiose para a proliferação de microrganismos contaminantes do solo, nomeadamente do género Clostridium. A sua presença ubiquitária no solo cria múltiplas oportunidades para a 233 Acta Pediatr Port 2011:42(5):232-4 Pereira E et al. – Gangrena gasosa inoculação de feridas. O espectro de infecções é amplo, desde celulite até gangrena gasosa, sendo a profundidade do traumatismo o determinante mais importante da profundidade da infecção5. experiência clínica sugere benefício na gangrena gasosa, com redução da perda de tecido10-12. No entanto, não é tão importante como a realização precoce e agressiva de desbridamentos cirúrgicos8,9. O período de incubação é de um a quatro dias (varia de seis horas a 21 dias)6. Como se constatou, surge dor intensa súbita desproporcional aos achados no exame objectivo1,4. Os sinais cutâneos precoces são escassos e sem relação com a destruição tecidular subjacente, o que pode levar a atraso no diagnóstico. Numa fase inicial, observa-se mais frequentemente edema e tensão local, ocorrendo mais tarde bronzeamento da pele, equimoses, bolhas hemorrágicas, crepitação, anestesia e necrose cutânea. Manifestações de toxicidade sistémica como febre, taquicardia, diaforese, ansiedade e alteração do estado de consciência surgem cedo na evolução da doença e a progressão para choque séptico pode ser rápida. Coloca-se muitas vezes o diagnóstico diferencial com celulite, sendo que a dor intensa e as manifestações de toxicidade sistémica são mais evidentes na gangrena gasosa7. No entanto, e apesar da extensa destruição tecidular, no caso clínico apresentado não se observaram sintomas constitucionais importantes, apenas um pico único de febre. O prognóstico depende da localização e da extensão da doença, bem como da instituição precoce e agressiva de desbridamentos cirúrgicos. Mesmo com o tratamento apropriado, a mortalidade da gangrena gasosa permanece elevada (10-25%)5. A extensa colecção gasosa observada na radiografia da coxa e as alterações analíticas sugestivas de infecção bacteriana e destruição muscular fizeram suspeitar de gangrena gasosa. Apesar da ressonância magnética (RMN) ser o exame de eleição para avaliação8, realizou-se uma TC do membro, tendo em conta a sua mais pronta disponibilidade. A realização de exames complementares de diagnóstico pode auxiliar no diagnóstico mas nunca deve atrasar a exploração cirúrgica, que estabelece o diagnóstico definitivo pela visualização de áreas de necrose de tecidos moles envolvendo músculo1,9. O desbridamento cirúrgico precoce e agressivo, com remoção de todos os tecidos necrosados, é prioritário no tratamento das infecções necrotizantes dos tecidos moles. Assim, o primeiro foi realizado aquando do diagnóstico e o segundo 24 horas depois, conforme preconizado8. Os seguintes dependem da evolução, podendo haver necessidade de serem diários. No caso descrito, e apesar da ausência de crescimento bacteriano em cultura, a existência de uma flora monobacteriana composta por bacilos Gram+ esporulados no exame directo do exsudado favorece o Clostridium perfrigens como microrganismo etiológico provável. A antibioterapia mais eficaz consiste na combinação de penicilina G e clindamicina iv3,7. O tratamento deve ser continuado até ausência de bacteriemia e de sintomas5. No caso clínico manteve-se enquanto realizou desbridamentos cirúrgicos. O meropenem foi associado atendendo à possibilidade de contaminação da ferida por outros microrganismos. A terapêutica com oxigénio hiperbárico permanece controversa, não existindo estudos controlados aleatorizados. A 234 Em conclusão, é necessário um elevado índice de suspeição para o diagnóstico atempado de gangrena gasosa. No caso apresentado, a intervenção multidisciplinar precoce, envolvendo desbridamentos cirúrgicos excisionais e antibioterapia adequada, coadjuvados pela terapêutica com oxigénio hiperbárico, foi determinante para o bom resultado final. Referências 1.Urschel J. Necrotizing soft tissue infections. Postgrad Med J 1999; 75: 645-9. 2.Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical Microbiology. 3th ed. St. Louis: Mosby; 1998. 3.American Academy of Pediatrics. Clostridial Myonecrosis (Gas Gangrene). In: Pickering LK, Baker CJ, Long SS, McMillan JA, editors. Red Book: 2006 Report of the Committee on Infectious Diseases. 27th ed. Elk Grove Village, IL: American Academy of Pediatrics; 2006: 260-1. 4.Hart GB, Strauss MB. 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Limb salvage after gas gangrene: a case report and review of the literature. World J Emerg Surg 2011; 6: 28. 10.Leach RM, Rees PJ, Wilmshurst P. Hyperbaric oxygen therapy. BMJ 1998; 317: 1140-3. 11.Kaide CG, Khandelwal S. Hyperbaric Oxygen: applications in infectious disease. Emerg Med Clin North Am 2008; 26: 571-95. 12.Waisman D, Shupak A, Weisz G, Melamed Y. Hyperbaric Oxygen Therapy in the Pediatric Patient: The Experience of the Israel Naval Medical Institute. Pediatrics 1998; 102: e53. 0873-9781/11/42-5/235 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Actualização O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras Helena Sousa1, António Vieira2, Cláudia Moura2 1. Serviço de Pediatria, do Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto 2. Serviço de Cardiologia Pediátrica, Centro Hospitalar São João, Porto Resumo Nesta revisão faz-se uma abordagem sistematizada do electrocardiograma na idade pediátrica com referência às suas especificidades, reflexo das adaptações cardíacas à vida extra-uterina, crescimento e maturação das estruturas. Palavras-chave: eletrocardiograma; Pediatria; interpretação; revisão. Acta Pediatr Port 2011;42(5):235-40 Pediatric eletrocardiogram, notions for paediatricians Abstract This article reviews the technical aspects of electrocardiography in children and offers an approach to interpretation of electrocardiogram (ECG) in children, the age-related findings and alterations on the normal pediatric ECG. Keywords: electrocardiogram; paediatric; interpretation; review. Na Pediatria são vários os contextos clínicos em que se usa o ECG (Quadro I), a maioria deles não acompanhados de manifestações de doença cardíaca1,2. Relativamente à dor torácica, nesta faixa etária (0-16 anos), raramente é de etiologia cardíaca. Quadro I. Principais indicações para realização de electrocardiograma em Pediatria Síncope ou convulsão Dor torácica, sintomas com o exercício Episódios de cianose Taquiarritmia Bradiarritmia Ingestão de drogas Hipotermia Alterações electrolíticas Doença de Kawasaki Febre Reumática Miocardite Pericardite Insuficiência cardíaca Cardiopatias congénitas História familiar de morte súbita “Rotina” Adaptado de Heart 2005; 91: 1626-1630; BMJ 2002; 324: 1382-1386. Noções gerais O eletrocardiograma (ECG) é um precioso exame auxiliar de diagnóstico, facilmente disponível, não invasivo, económico e de relativa simples execução, que fornece importantes informações se o interpretarmos correctamente. Variação com a idade: O registo eletrocardiográfico normal tem variações desde o nascimento até ao início da idade adulta, reflectindo modificações da fisiologia circulatória (pressões pulmonares vs sistémicas) e da anatomia (tamanho corporal, posição e tamanho relativo do coração e câmaras cardíacas). De um modo geral, após o nascimento, o ECG traduz a diminuição das “forças direitas” [aurícula e ventrículo direito (AD e VD)] em detrimento das “forças esquerdas” [aurícula e ventrículo esquerdo (AE e VE)] e aumento nos intervalos de condução1,3. O traçado do ECG na idade pediátrica apresenta algumas particularidades, reflexo de aspectos anatómicos e fisiológicos, que devem ser conhecidas sob pena de se sub ou supra-valorizar os achados encontrados. Pretende-se com este artigo abordar de uma forma sistematizada os aspectos mais relevantes do ECG pediátrico. A avaliação da cardiopatia congénita complexa e específica, restringe-a à Cardiologia Pediátrica e, não se inclui no âmbito deste artigo. Fisiologia circulatória: No ambiente intra-uterino, a pressão vascular pulmonar elevada exige um trabalho cardíaco que condiciona, num recém-nascido de termo, uma massa miocárdica do VD igual ou superior à do VE. Após o nascimento, com a eliminação da circulação placentária, a resistência vascular sistémica aumenta e, com a expansão pulmonar, a resistência pulmonar diminui. Estes aspectos vão condicionar a progressiva redução da massa ventricular direita4. Recebido: 30.11.2009 Aceite: 04.02.2010 Correspondência: Helena Sousa Rua Brito e Cunha, nº 487, 2º esq frt. 4450-088 Matosinhos [email protected] Acta Pediatr Port 2011;42(5):235-40 Introdução 235 Acta Pediatr Port 2011:42(5):235-40 Sousa H et al. – O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras Condução do estímulo eléctrico normal: O estímulo da despolarização para o batimento cardíaco normal origina-se no nó sinusal (SA) - células com automaticidade própria- localizado na AD, e transmite-se a todo o tecido auricular, utilizando vias preferenciais de condução internodais. Posteriormente o impulso estimula o nó auriculoventricular (AV) e o feixe de His (ramo direito e esquerdo no septo interventricular (IV)) e rapidamente é transmitido através das fibras de Purkinjie até ao miocárdio ventricular direito e esquerdo. Finalmente, as frentes de onda de despolarização espalham-se, através da parede ventricular, do endocárdio ao epicárdio, deflagrando a contracção ventricular (Figura 1) 4,5. Figura 2 – Sistema hexa-axial para cálculo do eixo eléctrico no plano frontal. O pólo positivo de cada derivação está indicado por sinal (+). Adaptado de Park MK. How to read pediatric ECGs. 2006. Figura 1 – Ilustração do sistema de condução eléctrica cardíaca. Adaptado de Park MK. How to read pediatric ECGs. 2006. As derivações: Foram criadas doze derivações, obtidas por aplicação de eléctrodos na pele que, em conjunto, nos permitem obter uma representação tridimensional da actividade eléctrica cardíaca (Quadro II, Figuras 2 e 3). Na Pediatria, para melhor avaliação do coração direito, aconselha-se o recurso a derivações adicionais (V3R e/ou V4R) 4- 7. Quadro II. Derivações na realização de electrocardiograma Derivações no plano frontal Unipolares aVR (braço direito) aVL (braço esquerdo) aVF (perna esquerda) Bipolares DI (braço direito-braço esquerdo) DII (braço direito-perna esquerda) DIII (braço esquerda-perna esquerda) Derivações no plano horizontal ou précordiais V1: 4º eic*, bordo esternal direito V2: 4º eic*, bordo esternal esquerdo V3: ponto médio entre V2 e V4 V4: 5º eic*, linha medioclavicular esquerda V5: 5º eic*, linha axilar anterior V6: 5º eic*, linha axilar média V3R: ponto médio entre V1 e V4R V4R: 5º eic*, linha medioclavicular direita * eic: espaço intercostal 236 Figura 3 – Polaridade dos seis eixos das derivações frontais (I, II, III, aVR, aVL e aVF). A cor cinza representa polaridade positiva. Adaptado de Park MK. How to read pediatric ECGs. 2006. Leitura e execução do ECG: O registo de ECG de superfície é efectuado em papel milimétrico próprio a uma velocidade habitual de 25 mm/segundo (seg) e a uma amplitude de 10 mm/milivolts (mV) (Figura 4)5. Acta Pediatr Port 2011:42(5):235-40 Sousa H et al. – O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras 1. Frequência cardíaca (FC) Existem várias formas para calcular a FC no ECG. De entre estas as mais usadas são: - 300 a dividir pelo nº de quadrados grandes (0,20 seg) entre 2 complexos QRS (R-R) - Regra dos 300. Quando os intervalos R-R estão a 5, 10, 15, 20 e 25 mm, a FC é respectivamente 300, 150, 100, 75 e 60 batimentos por minuto (bpm) (método rápido – Figura 5). Adicionalmente pode utilizar-se uma régua própria 3,5-8. Figura 4 – Papel milimétrico de ECG. seg: segundos; ms: milissegundos Adaptado de Park MK. How to read pediatric ECGs. 2006. As medições do ECG, particularmente no recém-nascido (RN), devem ser efectuadas manualmente. É necessário ter em conta que nos eletrocardiógrafos que dispõe de leitura automática, esta não está adaptada para interpretação em idade pediátrica. A obtenção de um traçado de ECG na idade infantil nem sempre se revela fácil. É um exame que exige calma, alguma paciência, o apoio dos pais e, por vezes, sedação (e.g. hidrato de cloral). Os eléctrodos dos membros podem ser colocados numa posição mais proximal (mas nunca no tronco) de modo a reduzir os artefactos de movimento2. Figura 5 – Método rápido de avaliação da FC Adaptado de Park MK. How to read pediatric ECGs. 2006. A FC varia com a idade, temperatura, tónus do sistema nervoso autónomo e actividade física3. Após o primeiro ano de vida a FC tem tendência a diminuir lentamente, aspecto associado à maturação da inervação vagal do nó sinusal6-8. Interpretação do ECG A leitura de um traçado de ECG é algo complexa e, um passo essencial para a sua correcta interpretação é fazê-la de uma forma sistematizada. Apresentamos aqui uma possível sequência de interpretação1,6,7. No Quadro III estão apresentados os valores de referência habitualmente usados na pediatria. 2. Ritmo cardíaco Em qualquer idade, o ritmo cardíaco normal é o sinusal, isto é, uma onda P sinusal a preceder cada QRS2,6,7. A regularidade Quadro III. Valores de referência do electrocardiograma habitualmente utilizados na idade pediátrica 0-3 d FC* (bpm) Intervalo PR DII (mseg†) QRS V5 (mseg) Eixo QRS (º) 3-30 d 1-6 M 6-12 M 1-3 A 3-5 A 5-8 A 8-12 A 12-16 A P2 P98 P2 P98 P2 P98 P2 P98 P2 P98 P2 P98 P2 P98 P2 P98 P2 P98 90 160 90 180 105 185 110 170 90 150 70 140 65 135 60 130 60 120 80 160 70 140 70 160 70 160 80 150 80 160 90 160 90 170 90 180 25 75 25 80 25 80 25 75 30 75 30 75 30 80 30 85 35 90 60 195 65 185 10 120 10 100 10 100 10 105 10 135 10 120 10 130 QRS V1 Q (mV‡) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 R (mV) 0,5 2,6 0,3 2,3 0,3 2,0 0,2 2,0 0,2 1,8 0,1 1,8 0,1 1,5 0,1 1,2 0,1 1,0 S (mV) 0 2,3 0 1,5 0 1,5 0 1,8 0,1 2,1 0,2 2,1 0,3 2,4 0,3 2,5 0,3 2,2 Q (mV) 0 0,2 0 0,3 0 0,25 0 0,3 0 0,3 0,02 0,35 0,02 0,45 0,01 0,3 0 0,3 R (mV) 0 1,1 0,1 1,3 0,5 2,2 0,5 2,3 0,6 2,3 0,8 2,5 0,8 2,6 0,9 2,5 0,7 2,4 S (mV) 0 1,0 0 1,0 0 1,0 0 0,8 0 0,6 0 0 0,4 0 0,4 0 0,4 -0,4 0,4 -0,5 -0,1 -0,6 -0,1 -0,6 -0,6 -0,1 -0,6 -0,5 0,2 -0,4 0,3 -0,4 QRS V6 T V1 (mV) -0,1 0,5 0 0,3 *FC: frequência cardíaca, batimentos por minuto; †mseg: milissegundo; ‡mV: milivolt Adaptado de Eur Heart J 2001; 22: 702-711; Pediatr Cardiol 1979; 1: 123-31. 237 Acta Pediatr Port 2011:42(5):235-40 Sousa H et al. – O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras do ritmo avalia-se através do intervalo RR. A arritmia mais frequente na idade pediátrica é a “arritmia sinusal respiratória”, caracterizada pela diminuição da FC na fase da expiração (sem significado patológico). O intervalo PR aumenta com a idade (Quadro III) e diminui com a estimulação do Sistema Nervoso Simpático. Um intervalo PR acima do limite superior para o grupo etário indica um bloqueio auriculo-ventricular (BAV)1,3,7. 3. Onda P 5. Complexo QRS A onda P reflecte a despolarização auricular e é normalmente avaliada em DII. Em ritmo sinusal, o vector da onda P deve ser orientado de cima para baixo e da direita para a esquerda, reflectindo a progressão da despolarização do nó SA para as aurículas, direita e esquerda. O eixo eléctrico da onda P está, consequentemente, compreendido entre os 0º e os + 90ºC. A onda P sinusal é positiva em DI, DII e aVF; negativa em aVR e geralmente bifásica em V1 e V23-7. A onda P normal tem uma altura e um comprimento máximo de 2,5 mm e 110 milissegundos (ms) respectivamente. Não sofre variações significativas com a idade (eixo, duração ou amplitude)1,7. 4. Intervalo PR Corresponde ao tempo necessário para a despolarização das aurículas e propagação do impulso ao nó AV. Permite avaliar o atraso que a condução do impulso eléctrico sofre quando passa no nó AV e no feixe de His2,3,5,7. Deve ser medido em DII, desde o início da onda P até ao início do QRS (Figura 6). O complexo QRS reflecte a despolarização ventricular e, tanto o seu eixo como morfologia variam com a idade2,5 (Quadro III). A despolarização ventricular normal divide-se em duas fases sequenciais: a primeira fase com despolarização do septo interventricular da esquerda para a direita, e a segunda fase com despolarização da massa ventricular normalmente dominada pelo VE (após o 1º mês). O eixo eléctrico do QRS descreve a orientação média do vector QRS em relação às seis derivações do plano frontal e os valores de referência variam com a idade2,5,9. De uma forma simplificada o seu método de cálculo consiste em dividir o plano frontal em quatro quadrantes utilizando as derivações DI e aVF. Como as derivações são ortogonais, pode-se estimar a direcção e a amplitude do vector. Análise do complexo QRS 5.1. Eixo do QRS As características da circulação fetal previamente referidas condicionam no recém-nascido uma hipertrofia VD relativa com um eixo do QRS no plano frontal habitualmente entre +110 a +180º (“desvio direito do eixo”). Habitualmente, após o primeiro mês de vida e ao longo dos primeiros anos de vida, em relação com a regressão das forças ventriculares direitas, verifica-se uma relativamente rápida alteração do eixo com desvio para a esquerda (Quadro IV)1,2,4,6,7. Quadro IV. Desvios do eixo do QRS – classificação Idade Desvio direito Desvio esquerdo 1º mês +160º a -90º +60º a -90º 3º mês +105º a + 180º 0º a -90º >* +100º <† -30º 6 meses * superior a…; †inferior a…; Adaptado de Eur Heart J 2001; 22: 702-711 5.2. Componentes do complexo QRS Ondas R e S: No período neonatal, as derivações précordiais direitas (V3R,V4R,V1) apresentam uma onda positiva (R) maior do que a negativa (S), enquanto as derivações esquerdas (V5, V6) demonstram uma relação R/S inferior a um. Ondas r secundárias (r’ ou R’) são frequentes nas derivações direitas dos RNs (3). Uma onda R dominante em V6 torna-se aparente ao fim de alguns dias de vida, reflectindo a rápida progressão das forças ventriculares esquerdas 4. Figura 6 – Componentes do ECG (onda P; complexo QRS, onda T; segmento ST; intervalo PR e QT) Adaptado de Park MK. How to read pediatric ECGs. 2006 238 Com a idade há tendência para a amplitude da onda R diminuir nas derivações direitas e aumentar nas esquerdas. No entanto pode haver persistência, meses a anos (normal até aos três anos, ocasionalmente até aos oito a doze anos), da relação Acta Pediatr Port 2011:42(5):235-40 Sousa H et al. – O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras R/S superior a um à direita, reflectindo um VD ainda relativamente espesso1,3,4,6,7. Onda Q: A onda Q (1ª deflexão negativa do QRS) nas derivações précordiais esquerdas reflecte a despolarização septal que habitualmente ocorre da esquerda para a direita1,3. As ondas Q são frequentes no ECG pediátrico, aspecto por vezes valorizado como patológico, no entanto são poucas as situações em que a sua presença tem significado clínico7,8. Os valores normais da onda Q variam com a derivação e com a idade. Na maioria das derivações com onda Q – derivações esquerdas (DI, DII, DIII, aVF, V5 e V6) - há tendência a esta duplicar de amplitude nos primeiros meses de vida, atingindo um máximo (≤ 0,5mV) entre os três a cinco anos, com posterior diminuição (<0,3 mV)1. A sua duração não deve exceder 0,02 seg (0,5 mm)3,7. Duração do QRS: A duração do QRS está relacionada com a normal sequência de activação e interacção dos ramos do feixe de His e fibras de Purkinje. Permanece relativamente estável até aos 3 anos de vida e posteriormente aumenta de forma linear até à adolescência - relacionado com o aumento da massa muscular1,4,7,8. Para a sua avaliação é mais indicado seleccionar uma derivação com onda Q (exº V5, V6). Valores superiores aos indicados na tabela IV podem ser sugestivos de bloqueio de ramo. Amplitude do QRS: A amplitude do QRS mede de forma quantitativa a massa ventricular e varia com a idade. Alterações da amplitude do QRS (Quadro III) podem ser sugestivas de algumas patologias3,7,8. 6. Intervalo QT Corresponde ao período de tempo desde o início da despolarização ventricular até ao final da repolarização ventricular, reflectindo principalmente esta última2,3,5,7. A sua avaliação (Figura 6) é habitualmente efectuada em DII, V5 e V6, tendo como referência o maior valor obtido. A sua medição nem sempre é fácil pela dificuldade em avaliar o ponto em que a onda T intercepta a linha isoelétrica3. O intervalo QT varia inversamente com a FC, pelo que deve ser corrigido para a FC (QT corrigido) mediante a fórmula de Bazett: QTc (ms) = QT(ms)/√R-R precedente(ms) , cujo valor deve ser inferior a 440 mseg. Esta avaliação pode não ser muito correcta se a FC for muito rápida ou muito lenta ou se houver alterações no intervalo RR1. Indivíduos com QTc prolongado estão em risco de arritmias potencialmente fatais, pelo que é essencial a sua correcta avaliação na leitura de um ECG1,7. 7. Segmento ST O segmento ST é o segmento compreendido entre o final do QRS até ao início da onda T, ie, o período após a despolarização ventricular e antes do início da sua repolarização. Em condições normais é isoeléctrico (potencial de acção=0). Desvios até 1 mm nas derivações frontais ou 2 mm nas precordiais podem não ser patológicos (considerar segmento TP como linha isoelétrica). Não deve estar deprimido mais de 0,5mm em qualquer derivação2,5,7. A interpretação de aparentes anormalidades deste segmento exige cuidadosa atenção à situação clínica e à variação com a idade8. Uma ligeira elevação do ST pode ocorrer na síndrome de repolarização precoce da adolescência em que a repolarização se inicia antes da despolarização ter terminado4,8. 8. Onda T A onda T indica-nos a repolarização ventricular, processo electricamente oposto da despolarização (ie, do epi para o endocárdio), pelo que o vector médio da onda T deve ter a mesma orientação que o QRS2,5,7. Progressão da onda T com a idade: Ao nascimento são normais ondas T positivas nas derivações précordiais direitas (V3R, V4R, V1) que posteriormente ficam negativas, geralmente nas primeiras 48 horas de vida. Ondas T positivas persistentes após a primeira semana de vida em V3R, V4R ou V1 são um achado anormal, podendo sugerir hipertrofia VD1,3,4,7. Após a primeira semana de vida, e geralmente prolongando-se até à adolescência, a onda T em V1 é negativa7. A onda T em V1 não deverá ser positiva antes dos seis anos de idade, constituindo esta uma das mais importantes diferenças entre o ECG pediátrico e de adulto4. Em todas as idades as ondas T devem ser positivas em V5 e V61. Amplitude das ondas T: A onda T deve ter uma amplitude superior ou igual a 2 mm e inferior ou igual a 7 mm (nas derivações frontais) ou a 10 mm (nas derivações précordiais), em qualquer idade. As alterações mais frequentes na onda T reflectem alterações funcionais e não traduzem patologia cardíaca. Exemplos disso são a inversão das T numa derivação após período de hiperventilação ou ainda o padrão de “repolarização precoce” frequente nos adolescentes com elevação do ponto J (ponto onde termina onda R) (<4mm) e ondas T altas7. 9. Onda U A onda U representa a repolarização do sistema His-Purkinje e nem sempre é visível no ECG. Apresenta o mesmo eixo que a onda T mas de menor amplitude que esta (nunca deve ser superior a 50% da amplitude da onda T). Pode estar aumentada na hipocaliemia, com o uso de antiarrítmicos e no síndrome do QT longo. Discussão O ECG é um exame extremamente informativo que permite identificar alterações cardíacas, eléctricas e estruturais, mesmo em recém-nascidos ou crianças assintomáticas11. O ECG na idade pediátrica apresenta algumas particularidades que se prendem essencialmente às adaptações fisiológicas cardíacas da passagem da vida intra para extra-uterina. No recém-nascido pode recorrer-se a derivações adicionais à direita (V3R e V4R) que permitem uma melhor caracterização 239 Acta Pediatr Port 2011:42(5):235-40 Sousa H et al. – O electrocardiograma infantil normal, noções para pediatras do coração direito. Neste período verifica-se habitualmente a uma redução progressiva das forças direitas com aumento das esquerdas. Os intervalos do ECG após o primeiro ano de vida, tendem a aumentar, reflexo da maturação a inervação vagal do nó sinusal, sendo habitual encontrar-se FC mais rápidas nos lactentes. O intervalo QT é um parâmetro que deve ser sempre avaliado e corrigido para a FC usando a fórmula de Bazett, sob risco de não detectar situações com risco de arritmias potencialmente fatais. A onda Q nas crianças, ao contrário dos adultos, é frequente e raramente traduz patologia. A onda T nas derivações direitas deverá ser positiva na primeira semana vida, mantendo-se negativa até ao início da adolescência. Os adolescentes também apresentam algumas características próprias no ECG, nomeadamente elevação discreta do segmento ST e um padrão de repolarização precoce com elevação do ponto J e ondas T altas. Referências 1.Dickinson D. Essential ECG in childhood and adolescence. Heart 2005; 91: 1626-30. 2.Goodacre S, McLeod K. ABC of clinical electrocardiography, Paediatric electrocardiography. BMJ 2002; 324: 1382-6. 240 3.Scwartz PJ, Garson A, Paul T, Stramba-Badiale M, Vetter VL, Villain E et al. Guidelines for the interpretation of the neonatal electrocardiogram, a Task Force of the European Society of Cardiology. Eur Heart J 2002; 23: 1329-44. 4.Daniel Bernstein. Electrocardiography in: Kliegman, Behrman, Jenson, Stanton. Nelson Textbook of Pediatrics. 18th edition, Philadelphia. Saunders Elsevier; 2007. 5.A Goldberger. Electrocardiography in: Fauci, Braunwald, Kasper, Hauser, Longo, Jameson, Loscaldo. Harrison’s principles of Internal Medicine. 17th edition, USA. McGraw-Hill; 2008. 6.Rijnbeek PR, Witsenbeurg M, Schrama E, Hess J, Kors A. New normal limits for the paediatric electrocardiogram. Eur Heart J 2001; 22: 702-11. 7.Quirante N. La interpretación del electrocardiograma in: Benito J. Técnicas y procedimientos mas habituales en urgências de pediatria. 1ª edición. Ergón; 2005. 8.Benson Woodrow. The normal electrocardiogram in: Moss and Adams; Heart Disease in Infants, Children and Adolescents. 5th ed. Philadelphia. Williams & Williams Baltimore; 1995. 9.Davignon A, Rautaharju P, Boisselle E, Soumis F, Megelas M, Choquette. Normal ECG standards for infants and children. Pediatr Cardiol 1979; 1: 123-31. 10.Park MK, Warren G. Guntheroth. How to read pediatric ECGs. 4th ed. San Antonio: Mosby; 2006. 11.Quaglini S, Rognoni C, Spazzolini C, Priori S, Mannarino S, Schwartz P. Cost-effectiveness of neonatal ECG screening of the long QT syndrome. Eur Heart J 2006; 27: 1824-32. 0873-9781/11/42-5/241 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Imagens em Pediatria Mais ecografia transfontanelar, menos radiação! Vera Santos1, Cláudia Faria2, André Mendes da Graça3, Carlos Moniz3 1. Serviço de Pediatria, Hospital de Faro 2. Serviço de Neurocirurgia, Departamento de Neurociências, Centro Hospitalar Lisboa Norte 3. Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, Serviço de Neonatologia, Departamento da Criança e da Família, Hospital de SantaMaria, Centro Hospitalar Lisboa Norte Palavras-chave: Hematoma epidural, recém-nascido, ecografia transfontanelar Acta Pediatr Port 2011;42(5):241-2 Apresentamos imagens referentes a um recém-nascido (RN) de quatro dias de vida com hematoma epidural (HE) na sequência de traumatismo craniano, por queda da cama da mãe na maternidade. Teve choro imediato, sem perda de conhecimento ou vómitos e sem alterações ao exame objectivo. A tomografia computorizada (TC) crânio-encefálica mostrou um HE com 37,1 x 6,7 mm (Figura 1). Foi observado pelo neurocirurgião e programada abordagem conservadora com monitorização na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e avaliação por TC em 24 horas e, posteriormente, de acordo com a evolução clínica e imagiológica. A ecografia transfontanelar (EcoTF)- janelas anterior e mastoideia esquerda - revelou colecção biconvexa hiperecogénica adjacente à tábua interna do osso parietal direito, com dimensões sobreponíveis às medidas por TC (Figuras 2 e 3). Optou-se por vigilância diária com EcoTF, verificando-se dimensões estáveis do HE. Teve alta, cinco dias depois do acidente, altura em que repetiu TC que evidenciou discreta redução das dimensões do hematoma. Apesar das limitações da EcoTF1-3, neste caso existiram condições técnicas que permitiram a monitorização da lesão através de um método inócuo, minimizando a exposição à radiação4. Existem várias estratégias para diminuir a iatrogenia, tais como ajustar as condições técnicas à indicação do exame, o tamanho da criança e a região a examinar. Deve evitar-se a repetição de TC não essenciais, considerando o uso de métodos alternativos que não usem radiação ionizante5. Figura 1 – Tomografia computorizada crânio-encefálica demonstrando um hematoma epidural, adjacente a fractura parietal direita. Figura 2 – Ecografia transfontanelar (janela fontanelar anterior, plano coronal), que revela colecção hiperecogénica biconvexa adjacente à tábua interna do osso parietal direito, com dimensões sobreponíveis às medidas por tomografia computorizada. Correspondência: Vera Santos Hospital de Faro, Serviço de Pediatria Rua Leão Penedo 8000-386 Faro [email protected] 241 Acta Pediatr Port 2011:42(5):241-2 Santos V et al. – Ecografia transfontanelar e radiação Referências 1.Griffiths PD, Widjaja E, Sprigg A. Imaging Intracranial Hemorrhage in the Neonate and Infant. In: Griffiths PD, Paley MN, Whitby EH, editors. Imaging the central nervous system of the fetus and neonate. New York: Taylor and Francis; 2006; 187-97. 2.Heyman R, Heckly A, Magagi J, Pladys P, Hamlat A. Intracranial epidural hematoma in newborn infants: clinical study of 15 cases. Neurosurgery 2005;57:924-9. 3.Trenchs V, Curcoy A, Castillo M, Badosa J, Luaces C, Pou J, et al. Minor head trauma and linear skull fracture in infants: cranial ultrasound or computed tomography? Eur J Emerg Med 2009;16:150-2. 4.Wezel-Meijler G, Steggerda S, Leijser L. Cranial Ultrasonography in Neonates: Role and Limitations. Semin Perinatol 2010; 4:28-38. Figura 3 – Ecografia transfontanelar (janela mastoideia esquerda), permitindo também uma adequada visualização do hematoma epidural. 242 5.Sun Z, Ng KH, Sarji SA. Is utilisation of computed tomography justified in clinical practice? Part IV: applications of paediatric computed tomography. Singapore Med J 2010; 51:457. 0873-9781/11/42-5/243 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Carta ao Director Fórum Neonatal Português Carta Carta recebida a 03.11.2011 Exmo. Sr. Prof. Doutor Videira Amaral Director da Acta Pediátrica Portuguesa A comunidade médica portuguesa, incluindo a pediátrica, tem pouca tradição forista. Uma pesquisa na rede usando um bom motor de busca dificilmente nos devolverá meia dúzia de fóruns portugueses dedicados à temática médica. A maior parte destes são essencialmente dirigidos a utilizadores não médicos. Na área da pediatria é muito escassa a oferta de fóruns temáticos dirigidos a médicos e visando a discussão científica; ou então muito raro o seu uso, como se pode confirmar pela pouca afluência registada no fórum disponibilizado na página electrónica da SPP. Contudo um fórum pode ser um excelente espaço de comunicação e discussão entre pares. Um lugar privilegiado de partilha de experiências, ideias e saberes. Com este intercâmbio todos beneficiam. Não só os pediatras, mas acima de tudo as crianças. Foi assim que a Secção de Neonatologia da SPP, coincidindo com a comemoração dos seus 25 anos de existência e ainda com a renovação da página electrónica da Secção de Neonatologia (www.lusoneonatologia.com), resolveu patrocinar a criação do Fórum Neonatal Português, o que ocorreu em 5-9-2011. O fórum está alojado em http://lusoneo.portugueseforum.net e, com menos de dois meses de vida nesta data, conta com cerca de 100 utilizadores registados, que podem participar em qualquer um dos muitos temas existentes ou iniciar tópicos novos. Embora dirigido essencialmente a médicos (particularmente pediatras) está aberto a qualquer utilizador que se queira registar e nele participar. E assim, Exmo. Sr. Director, por este meio, trago ao seu conhecimento a existência deste fórum, que, se V. Exa. achar por bem, poderá divulgar na Acta Pediátrica publicando esta carta, esperando assim estimular o entusiasmo da comunidade pediátrica e fomentar uma maior participação forista. Com os melhores cumprimentos, Simão Pedro Frutuoso Pediatra do Centro Hospitalar do Porto e administrador do Fórum Neonatal Português Correspondência: Simão Pedro Frutuoso [email protected] 243 0873-9781/11/42-5/244 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Carta ao Director Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Porquê? Carta Carta recebida a 03.11.2011 Lisboa, 3 de Novembro de 2011 Caro Prof. João V. Amaral Dig.mo Director da Acta Pediátrica Portuguesa Escrevo-lhe a propósito da carta que o nosso colega e comum amigo Dr. Fernando C. Rodrigues lhe dirigiu e da sua subsequente resposta, ambas publicadas no último n.º da Acta. O tema estava relacionado com o subtítulo da mesma: Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Em meu entender, ambos os pontos de vista expressos, quer na carta quer na resposta, estão bem fundamentados. A discrepância entre os dois, julgo eu, reside no facto de, entre os vários períodos etários abrangidos pela pediatria, apenas dois, o de recém-nascido (dos 0 aos 28 dias) e o da adolescência (dos 10 aos 19 anos) terem definições internacionalmente reconhecidas no meio médico. Nenhum dos outros períodos etários tem um significado uniforme, dependendo este, em grande parte, da fonte de origem. Exemplifiquemos: 1 – Entre nós, Bebé, é o termo que, progressivamente, tem vindo a substituir o de Lactente (bem menos afectivo) e que se aplica ao 1º ano de vida. Baby é a sua correspondente anglo-saxónica. 2 – Enquanto aluno da cadeira de pediatria do meu curso médico, aprendi que o termo Infância se aplicava ao período de vida entre o nascimento e o início da puberdade. Havia uma 1ª infância, entre os 0 e os 2 anos; uma 2ª infância entre os 2 e os 6 anos; e uma 3ª infância entre os 6 e os 10 anos. Na literatura anglo-saxónica, Infancy abrange, apenas, os 2 primeiros anos de vida, mais raramente extensível ao 3º ano. 3 – Criança é, de todos os períodos etários, o de significado mais indefinido, à excepção do que lhe é atribuído na Convenção dos Direitos da Criança (todo o ser humano menor de 18 anos), tal como foi referido, tanto na carta do Dr. Fernando C. Rodrigues, como na resposta do Prof. João V. Amaral. Criança, e a sua correspondente anglo-saxónica Child, refere-se, por ordem decrescente da frequência com que é utilizada, tanto ao período que medeia entre o fim da 1ª infância e o início da adolescência, como ao período que vai da 1ª infância à adultícia ou, ainda, ao período que vai do nascimento à idade adulta. Este último, embora o mais raramente referido como 244 tal, é o que mais se aproxima do actual conceito de pediatria e, neste sentido, tem razão o Dr. Fernando C. Rodrigues ao dizer que o subtítulo da Acta é semi-redundante. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, considera-se criança: o ser humano no período da infância que ainda não chegou à adolescência ou à puberdade. O Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Sociedade de Língua Portuguesa, atribui-lhe idêntico significado. A posição do Prof. João V. Amaral está mais de acordo com o sentido expresso nestes dois conceituados dicionários da língua portuguesa e privilegia mais o lado pragmático da questão do que, propriamente, o conceito. E a questão é esta: a população em geral e, até, alguns colegas nossos de profissão ainda não interiorizaram bem que a adolescência é parte integrante da pediatria. Daí o motivo pelo qual alguns editores de revistas de pediatria passaram a incluir nos títulos das suas revistas a palavra Adolescente, tal como foi exemplificado pelo Prof. João V. Amaral. Mas esta “preocupação” com a adolescência não se tem manifestado, apenas, nos títulos de algumas revistas pediátricas. Traduziu-se, inclusivamente, nos nomes de alguns departamentos de pediatria e, até, de alguns hospitais pediátricos. São exemplos, entre outros: o Department of Pediatric and Adolescent Medicine, Mayo Clinic, Rochester, EUA; o Centre for Paediatric and Adolescent Gastroenterology, Adelaide, Austrália; a Clinic for Children and Adolescence, Wuppertal, Alemanha; o Hospital for Children and Adolescents, Helsínquia, Finlândia. Como técnicos, que somos, é nossa obrigação cultivar o rigor na linguagem que utilizamos. Assim sendo, é correcta a posição do Dr. Fernando C. Rodrigues, dado que o termo pediatria é, de facto, inclusivo. Porém, como pediatras, temos também o dever (e o direito) de dar a conhecer, de forma explícita, a nossa posição no que concerne à adolescência, isto é, que esta se situa, claramente, no âmbito da pediatria. Neste sentido, é igualmente correcta a posição do Prof. João V. Amaral que opta pela utilidade do subtítulo, mesmo que este possa pecar por semi-redundante. Pessoalmente, voto em qualquer das duas alternativas, embora ciente de que corro o risco de ser apelidado de “rolha”, tal como sucedeu a um Ex-Presidente da nossa República. Com um abraço amigo do Jaime Salazar de Sousa 0873-9781/11/42-5/245 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Carta Ao Director Revista de Medicina da Criança e do Adolescente. Porquê? Carta Carta recebida a 27.10.2011 Caro Amaral Não posso deixar de te felicitar, depois de ter lido a tua resposta nas “Cartas ao Director”, da nossa Acta Pediátrica Portuguesa (Vol 42 nº3). Contudo um pequeno reparo: “a história é o que fica escrito, e nem sempre o que realmente acontece”… Referes que, quando iniciaste a tua formação pós-graduada em Pediatria (1968), o âmbito desta área da Medicina, terminava aos 10 anos…. Isso era verdade nos HCL…….. mas penso que, em Santa Maria, já ia até aos 12. E, no IPOFG.L, quando ali criei já em 1960, com o acordo do Prof. Francisco Gentil, a primeira “Unidade Multidisciplinar” (a nível mundial) para Tratamento do Cancro Pediátrico, as crianças eram internadas até aos 15 anos. Com um abraço do Amigo certo e ao dispor. António Gentil Martins 245 0873-9781/11/42-5/246 Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Notícia Tomada de posição do Conselho Cientifico da Plataforma contra a Obesidade No passado dia 14 de Outubro de 2011 o Conselho Cientifico da Plataforma contra a Obesidade (Direcção-Geral da Saúde) tornou pública uma “Tomada de posição” . Nesse documento é salientada a existência de diversos estudos portugueses que mostram que cerca de um terço de crianças e jovens apresentam peso excessivo, incluindo obesidade e pré-obesidade (estudos da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, da Direcção-Geral da Saúde, da Faculdade de Antropologia da Universidade de Coimbra, da Escola Nacional de Saúde Pública e da Childhood Obesity Surveillance Initiative). De seguida, em dez pontos, são feitas diversas considerações sobre a problemática da obesidade e do excesso de peso: 1. Uma parte do corpo humano é constituída por massa gorda. 2. A melhor luta contra a obesidade é a prevenção. 246 3. As causas da obesidade são múltiplas. 4. A pessoa com obesidade não deve ser estigmatizada. 5. Não há obesidade, há obesidades. 6. O peso excessivo pode ser um factor que traz prejuízos para a saúde. 7. A prevenção e o tratamento da obesidade devem envolver várias instâncias 8. A alimentação e a nutrição são uma chave fundamental na prevenção e tratamento da obesidade. 9. A actividade física é fundamental na prevenção e tratamento da obesidade. 10.Os poderes públicos têm uma responsabilidade a assumir no combate à obesidade. Pela sua relevância, aqui se dá notícia de tal documento. 0873-9781/11/42-5/LXXXI Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Notícias Calendário de Eventos Nacionais e Internacionais Setembro 2011 •1st International Pediatric Conference of Pediatric Cardiology. Alexandria, Egipto, 1-3/9/11 (www.pedevent.com/ypt) •Hands-on course: Pediatric Endoscopy. Braga, 8/9/11 ([email protected]) •APG - Gastro Parents Study Day. Londres, Reino Unido, 10/9/11 (Kenes UK, Tel. 02073838030, fax 02073838040, [email protected]) •4º Curso de Simulação Avançada em Pediatria. Braga, 14/9/11 (Miguel Fonte, tel. 934251494, [email protected]) •Pediatric Cardiology. La Spezia, Itália, 15-17/9/11 (Prof. Stefano Parmigiani, tel. +393288187201, fax +39187533021, [email protected]) •X Jornadas do Serviço de Pediatria do Hospital de Faro. Faro, 22-23/9/11 (Sílvia Prazeres, tel. 289001922, fax 289001924, [email protected]) •III Curso de Imagiologia no SNC da Secção de Neonatologia da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Aveiro, 23-24/9/11 (Teresa Ribeira, tel. 213184101, [email protected]) •14as Jornadas de Pediatria - HPP Hospital de Cascais. Cascais, 29-30/9/11 (Anabela Vicente, tel. 214653000, 963378804, [email protected]) •5º Curso de Formação em Neuropediatria - Paralisia Cerebral. Coimbra, 29/9/11 ([email protected]) •APG - Practical Paediatric Gastroenterology Course. Londres, Reino Unido, 29-30/9/11 (www.a-p-g.org/courses/ppg/Pages/Registration.aspx#) •1ª Reunião sobre Infecção Congénita por Citomegalovirus. Porto, 30/9/11 (Alexandra Pereira e Elisabete Tavares, tel. 227868300, fax 227868399, [email protected]) •Seminário: Intervenção do Fisioterapeuta na (Dis)função Respiratória em Pediatria. Porto, 30/9-1/10/11 ([email protected], www.estsp.ipp.pt ou www.fisiotrimtrim.com) •Infecção VIH na Criança e no Adolescente. Coimbra, 30/9-1/10/11 (ASIC, tel. 239482000, [email protected], www.asic.pt) Outubro 2011 •Os Hábitos Alimentares da Criança e a Obesidade. Beja, 4/10/11 (Ana Neto, tel. 925648628 e 284310228, [email protected]) •1 2º Congresso Nacional de Pediatria. Albufeira, 6-8/10/11 (Muris Congressos, [email protected], http://12pediatria.congress.muris.pt/pt_PT/) •IPOKRaTES Clinical Seminar: Nutrition and Gastroenterology of the Newborn. Sorrento, Itália, 9-11/10/11 (IPOKRaTES, tel. +496214106134, fax +49621410680134, [email protected], www.ipokrates.info) •Pediatric Allergy and Asthma Meeting. Barcelona, Espanha, 13-15/10/11 (http://eaacipaam2011.aimit.se/home/5343/Page.aspx) •I Reunião Científica sobre Perturbações do Espectro do Autismo: Mais Questões, algumas Respostas. Porto, 14-15/10/11 ([email protected]) •52nd Annual Meeting of the European Society for Paediatric Research (ESPR). Newcastle, Reino Unido, 14-17/10/11 (Kenes International, tel. +41229080488, fax +41229069140, [email protected]) •IPOKRaTES Clinical Seminar: Neonatal Nursing Seminar. Riade, Arábia Saudita, 14-17/10/11 (IPOKRaTES, tel. +496214106134, fax +49621410680134, [email protected], www.ipokrates.info) •Curso de Neuropediatria e Desenvolvimento - Do Diagnóstico à Intervenção. Almada, 19-21/10/11 ([email protected], [email protected]) •III Curso de Ventilação Mecânica Pediátrica e Neonatal. Braga, 19-22/10/11 (http://gruporespiratoriosecip.blogspot.com/) •APG - Paediatric Intestinal Pseudo-obstruction study day and introduction to the national service. Londres, Reino Unido, 21/10/11 (Kenes UK, tel. 02073838030, fax 02073838040, [email protected]) •6ª Escola de Outono da Secção de Medicina do Adolescente da SPP. Sesimbra, 27-28/10/11 (Dr.ª Maria Filipe Barros, [email protected]) •XVI Curso Internacional de Nefrología Pediàtrica. Barcelona, 27-28/10/11 (Luis Enrique Lara, tel./fax 934893082 e 934893111, [email protected]) •IV Curso de Pediatria Comunitária. Mealhada, 28-29/10/11 (ASIC, tel. 239482000, [email protected], www.asic.pt) •Patologia Pulmonar Recorrente na Idade Pediátrica. Beja, 29/10/11 (Ana Neto, tel. 925648628 e 284310228, [email protected]) Novembro 2011 •22th European Society of Paediatric and Neonatal Intensive Care (ESPNIC) Medicine and Nursing. Hannover, Alemanha, 2-5/11/11 (Kenes International, tel. +41229080488, fax+41229069140, [email protected]) •APG - Adolescent Study Day. Londres, Reino Unido, 3/11/11 (Kenes UK, tel. 02073838030, fax 02073838040, [email protected]) •VIII International Symposium SPDM e 1ª Reunião de Doenças Hereditárias do Metabolismo Luso-Brasileira e de Países de Língua Portuguesa. Porto, 3-4/11/11 ([email protected], www.ibmc.up.spdm2011/) •Nutrition and Gastroenterology of the Newborn. Atenas, Grécia, 4-6/11/11 (Prof. Ariadne Malamitsi-Puchner, tel. +306944443815, [email protected]) •22nd European Society of Paediatric and Neonatal Intensive Care (ESPNIC) Medical & Nursing Annual Congress. Hannover, Alemanha (Kenes International, tel. +41229080488, fax+41229069140, [email protected]) •Encontro da Secção de Pneumologia Pediátrica da SPP. Coimbra, 10-11/11/11 (secretariado a anunciar brevemente) •VI Curso Advanced Pediatric Life Support (APLS). Valencia, 11-12/11/11 (Secretariado, tel. 629741818, fax +34961964269, [email protected]) •Reunião da Sociedade de Pediatria do Neurodesenvolvimento. Évora, 12/11/11 (Natália Prates e Teresa Ramos, [email protected]) •APG - Practical Management of Food Allergies in Children. Londres, Reino Unido, 3/11/11 (Kenes UK, tel. 02073838030, fax 02073838040, [email protected]) •7th World Congress of the World Society for Pediatric Infectious Diseases. Melbourne, Austrália, 16-19/11/11 (Kenes International, tel. +41229080488, fax +41229069140, [email protected]) •7º Curso de Ventilação Mecânica no Recém-nascido: “Ventilação sincronizada com pressão de suporte e volume garantido”. Lisboa, 17-18/11/11 (Carla Oliveira, [email protected]) •XIX Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha. Óbidos, 17-18/11/11 (tel. 262830383, fax 262830396, [email protected]) •Reunião da Secção de Endocrinologia Pediátrica. Porto, 19/11/11 ([email protected]) •4ª Reunião de Casos Clínicos da Secção de Reumatologia Pediátrica. Anadia, 19/11/11 (ASIC, tel. 239482000, [email protected]) •Dia Europeu da Fibrose Quística. Porto, 20/11/11 (http://www.apfq.pt/ index.php?option=com_chronocontact&chronoformname=encontro) LXXXI Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXXXI-III •II Reunião do Centro Materno Infantil do Norte / XXIII Reunião do Hospital de Crianças Maria Pia. Porto, 20-25/11/11 (Secretariado, tel. 915676516, www.reuniaomariapia-cmin.com) •5º Curso de Simulação Avançada em Pediatria. Braga, 14/9/11 (Miguel Fonte, tel. 934251494, [email protected]) •XVIII Jornadas de Pediatria “Pediatria da Adolescência ou Adolescência da Pediatria?”. Lisboa, 23-26/11/11 (Margarida Vales, tel. 217805202, fax 217805623, [email protected]) •1as Jornadas de Enfermagem em Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos da Região Autónoma da Madeira. Funchal, 29-30/11/11 ([email protected]) Dezembro 2011 •Excellence in Paediatrics International Conference. Istambul, Turquia, 1-3/12/11 (C&C International Group of Companies, tel. +302106889130, fax +302106844777, [email protected], www.excellence-in-paediatrics.org) •Paediatric Radiation Oncology: 2nd edition of the ESTRO teaching course. Bruxelas, Bélgica, 1-3/12/11 (www.estro-education.org/courses/Pages/Brussels2011Paediatrics.aspx) •International Conference on Pediatrics & Gynecology. Filadélfia, USA, 6-8/12/11 ([email protected], www.omicsonline.org/pediatrics2011/abstract.php) •XIV Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da SPP. Lisboa, 10/12/11 (tel. 965625405, fax 289817582, [email protected]) •1ª Reunião Anual da Associação de Serviços e Unidades de Imunoalergologia para a Formação Continua e Investigação (ASIA) “Asma Brônquica na Criança e no Adolescente”. Lisboa, 10-11/12/11 (tel. 218436440; [email protected]) Janeiro 2012 •XV Reunião Anual da Secção de Cuidados Intensivos Pediátricos. Lisboa, 19-20/1/12 (tel. 214430901, 917289264, 918027877, [email protected]) •VII Congresso de Neuropediatria. Porto, 20-21/1/12 ([email protected], www.neuropediatria.pt) •7º Curso de Infecciologia Pediátrica. Coimbra, 26-27/1/12 (ASIC, tel. 239482000, [email protected], www.asic.pt) Fevereiro 2012 •3as Jornadas de Pediatria do Hospital CUF Porto. Porto, 3-4/2/12 (Mónica Oliveira, [email protected]) •Encontro da Secção de Pneumologia Pediátrica da SPP. Coimbra, 9-10/2/12 (ASIC, tel. 239482000, 961466788; [email protected]) •5ª Reunião Pediátrica do Hospital CUF Descobertas. Lisboa, 9-11/2/12 (Muris, http://reuniao-pediatria-hcd.congress.muris.pt/pt_PT/) •21º Encontro de Pediatria. Coimbra, 16-17/2/12 (ASIC, tel. 239482000, [email protected], www.asic.pt) Março 2012 •1st International Conference on Nutrition and Growth. Paris, França, 1-3/3/12 (Kenes International, tel. +41229080488, fax +41229069140, [email protected]) •2012 Neonatal Ultrasound Course: Why, how and when an utrasound image? Florença, Itália, 19-22/3/12 (AIM Group International, tel. +3905523388, fax +390552480246; [email protected]) LXXXII Notícias Abril 2012 •IPOKRaTES Clinical Seminar “Neonatal Hemodynamics”. Porto, 1-3/4/12 (Dr. Paulo Soares, tel. +351965794996, fax +351225512273, [email protected]; IPOKRaTES, [email protected]) Maio 2012 •30th Annual Meeting of the European Society for Paediatric Infectious Diseases (ESPID). Salónica, Grécia, 8-12/5/12 (Kenes International, tel. +41229080488, fax +41229069140, [email protected]) •6º Congresso Nacional de Medicina do Adolescente. Coimbra, 16-18/5/12 (Muris Congressos, tel. 308802445, 229476847, [email protected]) •XVI Jornadas do Serviço de Pediatria do Hospital do Espírito Santo de Évora. Évora, 17-18/5/12 ([email protected]) •The 2nd Global Congress for Consensus in Pediatrics & Child Health. Moscovo, Rússia, 17-18/5/12 (Paragon Conventions, [email protected], [email protected]) Junho 2012 •Curso de Nutrição Pediátrica para Internos de Pediatria. ([email protected]) •XXIII European Congress of Perinatal Medicine. Paris, França, 13-16/6/12 (MCA Events, tel. +390234934404, fax +390234934397, www.mcaevents.org) •20th European Workshop on Neonatology. Tallinn, Estonia, 27-30/6/12 (tel. +3725088878, [email protected]) Outubro 2012 •4th Congress of the European Academy of Paediatric Societies. Istambul, Turquia, 6-9/10/12 (Kenes International, [email protected], www2.kenes.com/paediatrics/Pages/Home.aspx) Novembro 2012 •XVI Congreso Latinoamericano de Pediatría. Cartagena de Indias, Colombia, 14-18/11/12 (tel. +41225330948, [email protected]) Cursos de Formação Contínua em Pediatria •Neurodesenvolvimento em Pediatria: do Diagnóstico à Intervenção. Organizado pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa e a Clínica Gerações. Lisboa, 21/1/2011 a 19/11/2011 (tel. 217214147, [email protected], www.ics.lisboa.ucp.pt) •Curso de Formação Avançada em Alergologia Pediátrica. Organizado pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa em conjunto com a Unidade de Alergologia Pediátrica do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria. Lisboa, Outubro de 2011 a Maio de 2012; 8 módulos de periodicidade mensal, 8 ECTS. •7º Curso de Formação Contínua em Pediatria: “Encontros à Sexta-feira”. Organizado pelo Departamento da Criança e do Adolescente, Centro Hospitalar do Porto. Porto, 28/10/2011 a 25/05/2012 (Carolina Cortesão, tel. 915676516, Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXXXI-III [email protected], http://encontros6feira.no.sapo.pt •1º Curso de Formação para Internos: 2011-2012. Organizado por Direcção do Internato, Comissão de Internos e Centro de Investigação e Formação Clínica do Hospital Pediátrico de Coimbra. Coimbra, 01/02/2011 a 27/11/2012 (Centro de Investigação e Formação Clínica Hospital Pediátrico de Coimbra, [email protected],pt). •Mestrado em Saúde do Adolescente 2011/2012. Organizado pelo Instituto de Formação Avançada da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Candidaturas de 13/05/2011 a 01/07/2011 (www.fm.ul.pt/IFA, formulário online em http://fm.academicos.ul.pt/cssnetfm/page). •Mestrado em Epidemiologia (5ª edição). Organizado pela Unidade de Epidemiologia do Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Lisboa. Candidaturas até 15/09/2011 (tel: 217999422 - ext 47090, [email protected]). •Curso de Formação Avançada em Alergologia Pediátrica. Organizado pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, em conjunto com a Unidade de Alergologia Pediátrica do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria. 8 Módulos de periocidade mensal, num total de 8 ECTS. Lisboa, Outubro 2011 a Maio 2012. Bolsas e Prémios •Bolsa Pierre-Fabre da SPP 2010-2013. Atribuída pela Sociedade Notícias Portuguesa de Pediatria, com o patrocínio dos laboratórios PierreFabre - Trabalhos apresentados ou publicados no 2º semestre de 2011. Candidaturas até 31/12/2011 ([email protected], www.spp.pt) •Bolsa S26 de Formação/Investigação para internos de pediatria. Patrocina estágio num Serviço com mérito internacional, para o melhor projecto científico e pessoal, de internos do 3º, 4º ou 5º anos do internato complementar de Pediatria. Candidaturas até 15/9/11 (Patrícia Nascimento, tel. 214235500, [email protected], www.spp.pt) •Prémios S26 para Internos de Pediatria. Para os dois dos melhores trabalhos científicos, por internos de Pediatria, respectivamente nas áreas da Nutrição / Infecciologia Pediátricas, ou de Pediatria Geral. Candidaturas até 15/9/11 (Patrícia Nascimento, tel. 214235500, [email protected], www.spp.pt) •Bolsa S26 para Médicos Especialistas de Pediatria. Protocolo entre a SPP e a Pfizer, A Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) proporciona patrocínio de estágio numa instituição estrangeira, a médicos especialistas de pediatria de Hospitais Portugueses. Candidaturas até 15/9/11 (Patrícia Nascimento, tel. 214235500, [email protected], www.spp.pt) •Prémio Dr. Nicolau da Fonseca de 2011. Atribuído pela Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria, com o patrocínio dos laboratórios Milte, destina-se a distinguir o melhor trabalho a apresentar na Reunião Anual da referida Secção. Candidaturas até 2/12/11 ([email protected], www.spp.pt) •Bolsa Milupa 2011. Atribuída pela Secção de Neonatologia da SPP, com o patrocínio da Milupa (Bolsa Milupa Comercial, SA), para apoiar trabalhos de investigação clínica em Neonatologia relacionados com a Nutrição, que contribuam substancialmente para a melhoria da prática. Candidaturas até 31/12/11 ([email protected]) •Bolsa anual de Estágio em Gastrenterologia Pediátrica Secção de Gastrenterologia e Nutrição da SPP. Até um mês antes da data da Reunião Anual da Secção de Gastrenterologia e Nutrição da SPP. LXXXIII 0873-9781/11/42-5/LXXXIV Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Normas de Publicação 1. Indicações Gerais aos Autores A Acta Pediátrica Portuguesa (APP) aceita artigos sobre qualquer tema pediátrico e materno-fetal, nas múltiplas dimensões científicas, sociais e culturais relacionadas com a saúde e educação da criança e do adolescente. Aceita também estudos experimentais com animais que contribuam para o melhor conhecimento da fisiologia e fisiopatologia infantil e fetal na espécie humana. Casos clínicos originais, devidamente estudados e discutidos. O texto deve incluir uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s), a discussão sucinta que terminará com uma conclusão sumária. O texto não deve exceder 1200 palavras, excluindo referências e ilustrações, com um máximo de duas ilustrações e até doze referências. Os casos clínicos devem incluir resumos, em português e em inglês, com um limite de 120 palavras, estruturados em introdução, relato dos casos e discussão (eventualmente conclusão). São bem-vindos artigos provenientes de todos os Países de Língua Oficial Portuguesa. Podem ser aceites, pela sua relevância, textos escritos noutras línguas, de reconhecida divulgação internacional. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. Esta restrição não se aplica a notas de imprensa ou a resumos publicados no âmbito de reuniões científicas. Se houver publicações semelhantes à que é submetida ou se existirem dúvidas relativamente ao cumprimento dos critérios acima mencionados, estas devem ser enviadas em anexo ao manuscrito em submissão. Os manuscritos submetidos devem estar de acordo com os requisitos de submissão de manuscritos a revistas biomédicas, elaborados pela Comis são Internacional de Editores de Revistas Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals – URMSBJ), elabo rados pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE), disponível em URL: www.icmje.org e em N Engl J Med 1997;336:309-15 e, em recente versão portuguesa, em Rev Port Clin Geral 2007;27:778-98 (http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080304112450125029.pdf). Os manuscritos são inicialmente avaliados por membros da equipa edito rial e os considerados adequados são submetidos ao parecer técnico de pelo menos dois revisores externos. A revisão é feita anonimamente, podendo os revisores propor a rejeição, aceitação sem modificações ou propor alterações de conteúdo ou de forma, condicionando a publicação do artigo às mesmas. Os pareceres da equipa editorial e dos revisores são comunicados ao(s) autor(es). Os artigos publicados na Acta Pediátrica Portuguesa são disponibilizados de acordo com uma licença Creative Commons (Licença Creative Commons Atribuição – Uso Não Comercial – Partilha nos Termos da Mesma Licença 3.0), excepto onde indicado. Isto significa que os autores retêm os direitos autorais, mas permitem a cópia electrónica, a distribui ção e a impressão dos artigos publicados para fins não comerciais, acadé micos ou individuais, por qualquer utilizador, sem permissão ou paga mento, desde que seja referida a autoria e a fonte. É, igualmente, imposto o licenciamento de obras derivadas nos mesmos termos. Apesar dos editores e dos revisores envidarem esforços para assegurar a qualidade técnica e científica dos manuscritos, a responsabilidade final do conteúdo é dos autores, aos quais pertence a propriedade intelectual dos artigos. 2. Tipos de artigos publicados na Acta Pediátrica Portuguesa A APP prevê a publicação de vários tipos de artigos: 2.1. Artigos de investigação original. Contendo o resultado de investigação original, qualitativa ou quantitativa. O texto, organizado em introdução, métodos, resultados, discussão (e eventualmente conclusão), não deve exceder 3200 palavras, excluindo referências e ilustrações, com um máximo de seis ilustrações e até 30 referências. Devem incluir resumos estruturados, em português e em inglês, com um limite de 300 palavras. 2.2. Publicações breves. Contendo resultados preliminares ou achados novos. O texto, organizado em introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão, não deve exceder 1500 palavras, excluindo referências e ilustrações, com um máximo de duas ilustrações e até quinze referências. Devem incluir resumos estruturados em português e em inglês, com um limite de 250 palavras. LXXXIV 2.3. Casos clínicos. 2.4. Imagens em Pediatria. Consiste na descrição de um caso clínico de modo muito sucinto, incluindo os dados mais relevantes da anamnese, exame objectivo, eventuais resultados de exames laboratoriais, e uma a três imagens (fotográfica, radiográfica e ou ecográfica, histológica, cirúrgica, etc.) elucidativas, com implicações no diagnóstico e/ou na actuação prática. Deverá ter um título curto e apelativo (não mais que oito palavras, idealmente sem menção do diagnóstico definitivo). Os nomes dos autores, até máximo de quatro, devem ser acompanhados dareferência ao Serviço e Instituição (alínea 4.1.3 das Normas de Publicação); As imagens, a cores ou a preto e branco deverão ser de elevada qualidade, com valor didáctico. As dimensões deverão situar-se entre 12x17 cm e 18x24 cm, podendo ser colocadas setas ou outros símbolos numa das imagens. As legendas deverão ser sucintas e suficientemente informativas. O texto não deverá ultra passar 200 palavras, podendo ser incluídas até cinco referências bibliográficas em obediências às Normas de Publicação (alínea 4.5). 2.5. Séries de casos (Casuísticas). Contendo a descrição de séries de casos, numa perspectiva de reflexão sobre uma experiência particular de diagnóstico, tratamento ou prognóstico. O texto, incluindo uma breve introdução, a descrição dos casos, a discussão sucinta contendo uma conclusão, não deve exceder 2200 palavras, excluindo referências e ilustrações. O texto deve estar organizado em introdução, métodos, resultados e discussão (eventual mente conclusão), com um máximo de três ilustrações e até trinta referências. As séries de casos devem apresentar resumos estrutu rados, em português e em inglês, com um limite de 250 palavras. 2.6. Artigos de revisão ou actualização. Artigos de revisão sobre temas das diferentes áreas da Pediatria, com interesse prático para profissionais de saúde dedicados a crianças e adolescentes. Este tipo de artigos de revisão é geralmente solicitado pelos editores. Contudo, serão avaliados artigos de revisão submetidos sem solicitação prévia dos editores. As revisões sistemáticas ou quan titativas têm prioridade editorial sobre revisões cuja metodologia não é especificada. O texto não deve exceder 3400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo de seis ilustrações e até 60 referências. As revisões sistemáticas e quantitativas (metanálises, p.ex.) devem ser organizadas em introdução, métodos, resultados e discussão (incluindo conclusões). Os artigos devem incluir resumos, em português e em inglês, com um limite de 250 palavras, devendo ser estruturados no caso de serem revisões quantitativas. 2.7. Consensos e Recomendações. A submissão de consensos e recomendações emanadas por Secções da SPP ou sociedades afins à SPP deverá ser feita pelos respectivos presidentes, ou seus representantes. A autoria será atribuída à Secção ou Sociedade em causa, devendo constar no fim do texto a data da aprovação do documento, os nomes dos autores envolvidos na sua elaboração, respectiva filiação institucional, seguido expressamente da menção “em representação da Secção de... da SPP, ou da Sociedade Portuguesa de...”. É recomendada a menção da data prevista para a revisão do Consenso ou Recomendação. O texto não deve exceder 3400 palavras, excluindo referências e ilustrações, e conter um máximo de 60 referências. Este tipo de manuscrito não é sujeito a processo de revisão externa, sendo apenas submetido a revisão editorial formal, sendo publicado na rubrica “Sociedade Portuguesa de Pediatria - Consensos e Recomendações”. Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXVIII-LXXIII 2.8. Artigos sobre Educação Médica. Artigos de revisão ou opinião sobre a formação médica contínua, geral ou pediátrica, dirigidos a profissionais de saúde que se dedicam a crianças e adolescentes, particularmente a responsáveis pela formação pré e pós-graduada. Este tipo de artigo pode ser submetido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não deve exceder 2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo de três ilustrações e até 20 referências. Os artigos devem incluir resumos, em português e em inglês, com um limite de 250 palavras, devendo ser estruturados no caso de serem estudos originais. 2.9. Artigos sobre Ética. Artigos de revisão ou de opinião sobre problemas éticos médicos, de carácter geral ou pediátrico. Este tipo de artigo pode ser submetido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não deve exceder 2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo de três ilustrações e até 30 referências. Os artigos devem incluir resumos, em português e em inglês, com um limite de 250 palavras, devendo ser estruturados no caso de serem estudos originais. 2.10. Artigos sobre História da Medicina. Artigos de revisão sobre aspectos da História da Medicina, geral ou pediátrica. Este tipo de artigo pode ser submetido sem a solicitação prévia dos editores. O texto não deve exceder 2400 palavras, excluindo referências e ilustrações, incluir um máximo de três ilustrações e até 40 referências. Os artigos devem incluir resumos, em português e em inglês, com um limite de 250 palavras. 2.11.Críticas de livros, de publicações em versão electrónica, de sítios da Internet ou de programas informáticos. O texto não deve exceder 600 palavras, excluindo referências e ilus trações, e incluir no máximo duas ilustrações e até seis referências bibliográficas, incluindo a referência bibliográfica completa do objecto da revisão. Estes artigos não devem conter resumos. 2.12. Artigos de opinião. Incidem em comentários, ensaios filosóficos, análises críticas ou enunciados de posição, acerca de tópicos de interesse nas áreas da Pediatria e Saúde Infantil, políticas de saúde e educação médica. O texto não deve exceder 900 palavras, excluindo referências e ilustrações, e incluir no máximo uma ilustração e até cinco referências. Estes artigos não devem conter resumos. 2.13. Cartas ao Director. Comentários sucintos a artigos publicados na APP ou relatando de forma muito breve e objectiva os resultados de observação clínica ou investigação original que não justifiquem publicação mais extensa. O texto não deve exceder 400 palavras, excluindo referências e ilustrações, e incluir no máximo uma ilustração e até seis referências. As cartas ao director não devem conter resumos. 3. Submissão de Manuscritos. Os manuscritos submetidos à APP devem ser preparados de acordo com as recomendações abaixo indicadas e acompanhados de uma carta de apresentação dirigida ao Director da Acta Pediátrica Portuguesa. A carta de apresentação deve incluir a seguinte informação: 1)Título completo do manuscrito; 2)Nomes dos autores com especificação do contributo de cada um para o manuscrito; justificação de número elevado de autores (mais de seis), se tal ocorrer; 3)Especificação do tipo de artigo, de acordo com a classificação da APP; 4)Fontes de financiamento, incluindo bolsas e patrocínios comerciais; 5)Explicitação de conflitos de interesse ou da sua ausência; 6)Declaração de que o manuscrito não foi ainda publicado, na íntegra ou em parte, e de que nenhuma versão do manuscrito está a ser avaliada por outra revista; Normas de Publicação 7)Declaração de que todos os autores aprovaram a versão do manuscrito que está a ser submetida; 8)Assinatura de todos os autores. É dada preferência à submissão dos manuscritos por e-mail (secretaria[email protected]). O manuscrito e a carta de apresentação devem ser enviados em ficheiros separados. Deve ser enviada por correio ou por fax (217 577 617) uma cópia da carta de apresentação assinada por todos os autores. Quando estiver disponível a possibilidade de submissão on-line, através das páginas electrónicas da Sociedade Portuguesa de Pediatria (www.spp.pt), será esta a forma de submissão preferencial. Se não for possível efectuar a submissão por e-mail, esta pode ser efec tuada por correio, com o envio do suporte digital, para o endereço: Acta Pediátrica Portuguesa Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15, R/C I 1750-018 Lisboa, PORTUGAL Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha não serão devolvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da submissão. 4. Formatação dos Manuscritos. A formatação dos artigos submetidos para publicação deve seguir os URMSBJ - ICMJE (vide “1. Indicações Gerais aos Autores”). Todo o manuscrito, incluindo referências, tabelas e legendas de Ilustra ções, deve ser redigido em coluna única, a dois espaços, com letra de dimensão 12, e justificado à esquerda. Aconselha-se a utilização dos formatos de letra Times, Times New Roman, ou Arial; para caracteres especiais, aconselha-se a utilização do formato Symbol. Em todo o manuscrito as quatro margens devem ser de 2,5 cm. Todas as páginas devem ser numeradas, incluindo a página de identifi cação do manuscrito. Devem ser inseridas quebras de página entre cada secção do manuscrito. Não devem conter cabeçalhos nem rodapés. A publicação de citações, quadros ou ilustrações cuja origem esteja sujeita a direitos de autor, está dependente da citação completa da fonte e/ou da autorização do detentor dos direitos de autor. Unidades de medida - Devem ser utilizadas as unidades de medida do Sistema Internacional (SI), mas os editores podem solicitar a apresentação de outras unidades não pertencentes ao SI. Abreviaturas - Devem evitar-se acrónimos e abreviaturas no título e nos resumos. Quando for necessária a sua utilização, devem ser definidos na primeira vez que são mencionados no texto. O seu significado deve também ficar explícito no resumo, nos quadros e figuras, excepto no caso das unidades de medida. Quando usados mais do que seis acrónimos ou abreviaturas, recomenda-se a inclusão de um quadro com a lista completa dos mesmos. Nomes de doenças – Os nomes de doenças devem ser escritos em minúscula, exceptuando-se apenas aqueles que contêm toponímicos ou antropónimos. Nomes de medicamentos - Deve ser preferida a utilização da Designação Comum Internacional (DCI) de fármacos, escrito em minúscula, em vez de nomes comerciais de medicamentos. Quando forem utilizadas marcas registadas, pode ser mencionado o nome do medicamento, em maiúscula e segui do do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua sede, entre parêntesis. Nomes de instrumentos – Os instrumentos de medida, diagnóstico ou programas informáticos utilizados no estudo e mencionados no manuscrito devem ser apresentados de forma genérica e através do seu nome comercial, seguido do símbolo ®, e o nome do fabricante e a sua sede, entre parêntesis. Local do estudo – A filiação institucional dos autores deve ser referida na página do título. Não deve ficar explícita, no texto ou no resumo, a identificação da instituição onde decorreu o estudo, de modo a manter o duplo anonimato da revisão. Se essa referência for importante para a compreensão do manuscrito, deve ser feita em termos de caracterização genérica do LXXXV Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXVIII-LXXIII nível de diferenciação e local geográfico da instituição (exº: “hospital uni versitário de nível III” ou “centro de saúde em área rural”). Secções do manuscrito - O manuscrito deve ser apresentado na seguinte ordem: Normas de Publicação 4.1.9.Declaração de Conflito de Interesses entre os autores e alguma eventual instituição ou empresa comercial ligada de alguma forma ao âmbito do estudo ou manuscrito. 4.1.10.Contagem de palavras, respectivamente, para cada resumo e para o texto principal (não incluindo referências e ilustrações). 1 -Título (em português e inglês) e título abreviado, autores, instituições, agradecimentos, endereço (e autor) para correspondência; 2 -Resumos e Palavras-chave (em português e inglês); 3 -Texto; 4 -Referências; 5 -Legendas; 6 -Ilustrações: 6.1 -Quadros; 6.2 -Figuras. 4.1. Página de Identificação. Na primeira página do manuscrito devem constar: 4.1.1.O título (conciso e descritivo), na língua original do manuscrito e em inglês; 4.1.2.Um título abreviado (com um máximo de 40 caracteres, incluindo espaços); 4.1.3.Os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome por extenso (não devem incluir graus académicos ou profissionais ou títulos honoríficos); 4.1.4.A filiação institucional de cada autor no momento em que o trabalho foi realizado (deve figurar apenas na página do título; casos excepcionais devem ser justificados); 4.1.5.A contribuição de cada autor para o trabalho. 4.2. Resumo e Palavras-Chave. 4.2.1.1.Os resumos de artigos de investigação original, publicações breves e revisões quantitativas devem ser estruturados (introdução, métodos, resultados, discussão e conclusões) e apresentar conteúdo semelhante ao do manuscrito. 4.2.1.2.Nos casos clínicos e séries de casos, devem ser estruturados em introdução, relato do(s) caso(s), discussão (incluindo a conclusão); a conclusão deve destacar os aspectos que justificam a publicação do caso ou serie de casos. 4.2.1.3.Os resumos de manuscritos referentes a revisões não sistemáticas e artigos de opinião não são estruturados segundo as secções referidas na alínea anterior. Nos resumos não devem ser utilizadas referências e as abreviaturas devem limitar-se ao mínimo. Como referido nos URMSBJ - ICMJE, a autoria requer uma contribuição substancial em, pelo menos, uma das seguintes actividades: – Concepção e desenho do estudo, ou obtenção dos dados, ou análise e interpretação dos dados; – Redacção do manuscrito ou revisão crítica do seu conteúdo intelectual; – Aprovação final da versão submetida para publicação. A obtenção de financiamento, a recolha de dados ou a supervisão geral do grupo de trabalho, por si só, não justificam autoria. É necessário especificar a contribuição de cada autor para o trabalho. Sugere-se a seguinte discriminação: (a) Desenho do estudo. (b) Recolha de dados. (c) Análise estatística. (d) Interpretação dos dados. (e) Preparação do manuscrito. (f) Pesquisa bibliográfica. (g) Recolha de fundos. Nos manuscritos assinados por mais de seis autores (três autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explicitada a razão de uma autoria tão alargada. É necessária a aprova ção de todos os autores, por escrito, de quaisquer modifi cações da autoria do artigo após a sua submissão. 4.1.6.O nome e contactos do autor que deverá receber a correspondência, incluindo endereço postal e telefone, fax ou e-mail; 4.1.7.Os Agradecimentos, mencionando colaboradores que não cumpram critérios para autoria mas que contribuíram substancialmente para o estudo ou manuscrito, especificando o seu contributo. LXXXVI 4.1.8.Eventuais fontes de financiamento, como patrocínios ou bolsas. 4.2.1.Resumo - Deve ser redigido na língua original do manuscrito e inglês, não ultrapassando os limites indicados na especificação dos tipos de manuscritos mas suficientemente informativo e elaborado segundo um formato estruturado contendo os seguintes itens: 4.2.2.Palavras-chave - Devem ser indicadas logo a seguir ao resumo até seis palavras-chave, em português e em inglês, preferencial mente em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH) utilizado no Index Medicus. Para a selecção correcta das palavras-chave recomenda-se a consulta das listas de pala vras usadas nos motores de busca: para português em http://www.bireme.br/php/decsws.php ou em http://decs.bvs.br/ e em inglês http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html. Nos manuscritos que não incluem resumos, as palavras-chave devem ser apresentadas no final do manuscrito. 4.3. Texto. O texto poderá ser apresentado em português ou inglês (poderá ser excepcionalmente considerada a submissão de textos noutras línguas, de reconhecida divulgação internacional). Os números de um a quinze devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se seguidos de unidades de medida. Números superiores a quinze são escritos em algarismos, salvo no início de uma frase. As casas decimais devem assinalar-se com vírgulas. 4.3.1.Introdução - Deve conter essencialmente os argumentos científicos que fundamentam a realização do estudo e justi ficam os objectivos. Pode concluir com o enunciado dos objectivos do estudo. Esta secção deve apenas conter as referências bibliográficas indispensáveis para o fundamento e os objectivos do estudo. 4.3.2.Objectivos - Os objectivos do estudo podem ser apresen tados no final da Introdução ou em secção própria, devendo ser claros, explícitos e não conter elementos metodológicos no enunciado. 4.3.3.Métodos – Esta secção poderá denominar-se, consoante a natureza do estudo, “Métodos”, “Material e Métodos”, “Amostra e Métodos”, “População e Métodos”, ou simplesmente “Metodologia”. Nesta secção devem descrever-se: 4.3.3.1.A amostra ou a população em estudo (especificando a sua definição e forma de identificação, recrutamento ou selecção); 4.3.3.2.A localização do estudo no tempo e no espaço; 4.3.3.3. O desenho do estudo; 4.3.3.4. Os métodos de recolha de dados; Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXVIII-LXXIII 4.3.3.5.Os métodos de análise dos dados: Os métodos estatísticos devem ser descritos com o detalhe sufi ciente de modo a possibilitar a reprodução dos resultados apresentados. Sempre que possível deve ser quantificada a imprecisão das estimativas apresentadas, designadamente através da apresentação de intervalos de confiança. Deve evitar-se uma utilização excessiva de testes de hipóteses, com o uso de valores de p, que não fornecem informação quantitativa importante. Deve ser mencionado o software utilizado na análise dos dados, referindo o seu fabricante e, se considerado necessário, inserindo a referência de citação. 4.3.3.6.As considerações éticas devem figurar no final desta secção. Os autores devem assegurar que todas as investigações envolvendo seres humanos foram aprovadas por comissões de ética das instituições em que a investigação foi realizada, de acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial . Nesta secção deve ser mencionada esta aprovação e a obtenção de consentimento informado, se aplicável. 4.3.4.Resultados - Os resultados devem ser apresentados no texto, usando eventualmente Ilustrações (Quadros e Figuras), seguin do uma sequência lógica. Não deve ser fornecida informação redundante, aparecendo em duplicado no texto e nas ilustrações, bastando descrever a principais observações referidas nas ilustrações. (vide infra as recomendações sobre Ilustrações). 4.3.5.Discussão - Na discussão não deve ser repetida detalhadamente a informação fornecida na secção de Resultados. A discussão deve incidir nas limitações do estudo, na relação dos resultados obtidos com o observado noutras investigações, devem ser evidenciados os aspectos inovadores do estudo e as conclusões que deles resultam. Nesta secção apenas devem ser incluídas as referências indispensáveis para discutir os resultados do estudo. 4.3.6.Conclusão – Esta secção pode surgir separada da Discussão ou incluída no final da mesma. É importante que as conclu sões estejam de acordo com os objectivos do estudo, devendo-se evitar afirmações e conclusões que não sejam completamente apoiadas pelos resultados da investigação realizada. 4.4. Ilustrações. As Ilustrações devem ser anexadas após as referências bibliográficas. As Figuras devem ser anexas após os Quadros. Cada Quadro ou Figura deve ser apresentada em páginas separadas, juntamente com os respectivos título e as notas explicativas. Os Quadros e Figuras devem ser numeradas separadamente (numeração romana para Quadros e numeração árabe para Figuras) de acordo com a ordem com que são apresentadas no texto. Devem ser mencionadas no texto todos os Quadros e Figuras. Cada Quadro ou Figura deve ser acompanhado de um título e notas explicativas (ex. definições de abreviaturas) de modo a serem compreendidas e interpretadas sem recurso ao texto do manuscrito. Se a ilustração possui uma tabela ou gráfico que inclua o resultado da análise estatística, devem ser referidos o teste estatístico usado e o seu nível de significância (no caso do cálculo do risco relativo ou do odds ratio, devem ser incluídos os seus intervalos de confiança). O título de cada Quadro ou Figura deve ter uma explicação sucinta do conteúdo, que chame a atenção do leitor para o seu aspecto mais importante e/ou que auxilie a sua compreensão. Nos Quadros, o título e notas explicativas encimam a tabela; nas Figuras, o título e notas explicativas colocam-se por baixo da ilustração. Para as notas explicativas dos Quadros ou Figuras devem ser utilizados os seguintes símbolos, nesta mesma sequência: *, †, ‡, §, ||, ¶, **, ††, ‡‡ . Nas tabelas devem ser utilizadas apenas linhas de limite hori zontais. Normas de Publicação As Figuras, incluindo gráficos, mapas, ilustrações, fotografias ou outros materiais, devem ser formatadas em computador ou digitalizadas. Nos gráficos, as legendas dos eixos devem ser preferencialmente escritas paralelamente aos eixos das ordenadas e das abcissas, indicando as unidades de medida. Esses eixos devem ter marcas correspondentes aos valores. Quando digitalizadas, as legendas, símbolos, setas ou letras devem ser inseridas no ficheiro da imagem das fotografias ou ilustrações correspondentes. Os símbolos, setas ou letras devem contrastar suficientemente com o fundo de fotografias ou ilustrações. As ilustrações que incluam fotografias de doentes, deverão ser acompanhadas pela autorização do doente ou do seu responsável legal, permitindo a sua publicação, devendo ter os olhos tapados ou desfocados digitalmente, de modo a impedir a sua identificação, desde que isso não desvirtue a intenção da apresentação da imagem. A dimensão das ilustrações é habitualmente reduzida à largura de uma coluna, pelo que as mesmas e o texto que as acompanha devem ser facilmente legíveis após redução. A resolução de imagens a preto e branco deve ser de pelo menos 1200 dpi e a de imagens com tons de cinzento ou a cores deve ser de pelo menos 300 dpi. Uma vez que a impressão final da APP é predominantemente a preto e branco ou em tons de cinzento, os gráficos não deverão conter cores. A submissão de imagens a cores deve ser reduzida ao mínimo necessário, dado o número limitado de páginas a cores possível em cada número da APP. O excesso de imagens a cores poderá atrasar a data de publicação até haver disponibilidade editorial. Na primeira submissão do manuscrito não devem ser enviados originais de fotografias, ilustrações ou outros materiais, como pelí culas de raios-X. As figuras criadas em computador ou convertidas em formato electrónico após digitalização devem ser preferencialmente inseridas no ficheiro do manuscrito. Em caso de aceitação do manuscrito, serão solicitadas as Ilustrações nos formatos mais adequados para a sua reprodução na revista. 4.5. Referências. As referências devem ser listadas após o texto principal, numeradas sequencialmente, pela ordem de citação no texto e com o mesmo formato de letra com que figura no texto. No texto, os números das referências devem ser apresentados em expoente, antes de vírgulas ou pontos finais (ex.: “segundo alguns autores 3,5,7”). Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: “segundo alguns autores 5-7”). Não deve ser utilizado software para numeração automática das referências. Deve evitar-se a citação de referências secundárias (textos que fazem referência às publicações originais), resumos e comunicações pessoais (estas serão referidas no texto como tal). Os autores devem verificar se todas as referências estão de acordo com os documentos originais. Devem ser utilizados os nomes abreviados das publicações, de acordo com o adoptado pelo Index Medicus. Os nomes abreviados devem ser escritos em itálico, sem pontuação. Em caso de dúvida sobre qual o nome abreviado correcto de publicações internacionais pode ser consultado http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?cmd=search&db=journals. Uma descrição pormenorizada do formato dos diferentes tipos de referências conforme as regras de URMSBJ – ICMJE, pode ser encontrada em http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html ou em http://www.icmje.org. Citam-se apenas alguns tipos de referenciação: 4.5.1.Artigo de revista: Relação de todos os autores - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes, sem pontos (se mais de seis autores, constarão os seis primeiros, seguidos de “et al”, em itálico). Título do artigo. Nome da revista (abreviada e em itálico), ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, e LXXXVII Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXVIII-LXXIII primeira e última páginas (exemplo 1). Em muitas revistas, os artigos que não têm estrita natureza científica têm numeração romana (exemplo 2). Em casos excepcionais a pagina ção inicia-se em cada número do mesmo volume, nestes casos, o número deve figurar entre parêntesis logo a seguir ao volume (exemplo 3); na maioria das revistas médicas a paginação é contínua ao longo de todo o volume e neste caso o número deve ser omitido. Quando se trata de um suplemento deve figurar logo a seguir ao volume, com indicação da numeração do suplemento se este for o caso (exemplo 4). No caso de carta ao editor ou resumo, deve ser assinalado em parêntesis recto logo a seguir ao título do artigo (exemplo 5). Exemplos: E1 - Levy ML. Adolescência e adolescentes. Acta Pediatr Port 1995;5:255-8. E2 - Chadwick R, Schuklenk U. The politics of ethical con sensus finding. Bioethics 2002;16:iii-v. E3 - Diabetes Prevention Program Research Group. Hyper tension, insulin, and proinsulin in participants with impaired glucose tolerance. Pediatr Nurs Rev 2002;40(2):679-86. E4 - Geraud G, Spierings EL, Keywood C. Tolerability and safety of frovatriptan with short- and long-term use for treatment of migraine and in comparison with sumatriptan. Headache 2002;42 Suppl 2:S93-9. E5 - Tor M, Turker H. International approaches to the prescription of long-term oxygen therapy [letter]. Eur Respir J 2002;20:242. 4.5.2. Artigo em publicação electrónica: Exemplos: – Yu WM, Hawley TS, Hawley RG, Qu CK. Immortaliza tion of yolk sac-derived precursor cells. Blood 2002 Nov 15;100(10):3828-31. Epub 2002 Jul 5. – Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts in an advisory role. Am J Nurs [serial on the Internet]. 2002 Jun [cited 2002 Aug 12]; 102(6):[about 3p.]. Acessível em: http://www.nursing world.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm 4.5.3.Livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es). Título do livro em itálico e iniciais maiúsculas. Edição. Cidade: nome da casa editora; ano de publicação. – Murray PR, Rosenthal KS, Kobayashi GS, Pfaller MA. Medical Microbiology. 4th ed. St. Louis: Mosby; 2002. 4.5.4.Capítulo de livro: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es) do capítulo. Título do capítulo. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) editor(es), eds. Título do livro em itálico e iniciais maiúsculas. Número da edição. Cidade: nome da casa editora; ano de publicação. Número da primeira e última páginas. – Arvin AN. Infection control. In: Behrman RE, Kliegman RM, Arvin AM, editors. Nelson Textbook of Pediatrics. 15th ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 1996; 1027-8. 4.5.5.Comunicação em jornadas, congressos e similares: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes do(s) autor(es) da comunicação. Título da comunicação. In: Nome(s) - apelido seguido das iniciais dos primeiros nomes LXXXVIII Normas de Publicação do(s) editor(es), eds. Livro de publicação das comunicações; data e local da reunião. Cidade e nome da casa editora (se referido); ano de publicação. Número da primeira e última páginas. – Christensen S, Oppacher F. An analysis of Koza’s computational effort statistic for genetic programming. In: Foster JA, Lutton E, Miller J, Ryan C, Tettamanzi AG, eds. Genetic programming. EuroGP 2002: Proceedings of the 5th European Conference on Genetic Programming; 2002 Apr 3-5; Kinsdale, Ireland. Berlin: Springer; 2002. p. 182-91. 4.5.6. Página web: – Cancer-Pain.org [homepage on the Internet]. New York: Association of Cancer Online Resources, Inc.; c2000-01 [updated 2002 May 16; cited 2002 Jul 9]. Acessível em: http://www.cancer-pain.org/. 5. Autorizações. Antes de submeter um manuscrito à APP, os autores devem ter em sua posse os seguintes documentos que poderão ser solicitados pelo corpo editorial: – consentimento informado de cada participante; – consentimento informado relativamente a cada indivíduo presente em fotografias, mesmo após tentativa de ocultar a res pectiva identidade; – transferência de direitos de autor de imagens ou ilustrações; – autorizações para utilização de material previamente publicado; – autorização dos colaboradores mencionados na secção de agradecimentos. 6. Revisão de Manuscritos. No caso do artigo ser aceite condicionado a modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo indicado pela APP. O reenvio de nova versão do manuscrito deve acompanhar-se da resposta dos autores às sugestões feitas pelos revisores. No momento da aceitação, os autores serão informados se devem ser enviadas as ilustrações num formato diferente àquele em que foram inicialmente enviadas. As provas tipográficas serão enviadas aos autores, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da APP. A revisão deve ser aprovada por todos os autores. Nesta fase aceitam-se ape nas modificações que decorram da correcção de erros tipográficos. A correcção deve ser efectuada em documento à parte, referindo a página, colu na, parágrafo e linha na qual se pretende que se proceda às correcções. O não respeito do prazo desobriga a APP a aceitar a revisão pelos autores, podendo a revisão ser efectuada exclusivamente pelos serviços da APP. Juntamente com a correcção das provas tipográficas, deve ser enviada uma declaração de transferência de direitos de autor para APP, assinada por todos os autores (documento fornecido pela APP). 7. Separatas. Poderá ser solicitado ao Secretariado da APP o envio em formato PDF de artigos publicados recentemente. No entanto, estes estão disponíveis em disponíveis na página electrónica da Sociedade Portuguesa de Pediatria (www.spp.pt). Acta Pediatr Port 2011:42(5):LXVIII-LXXIII Normas de Publicação Ficha de verificação para os autores Título: na língua original do manuscrito, em inglês e na versão abreviada Autores: os nomes, a filiação institucional, a contribuição de cada autor Contacto: nome e contactos do autor que deve receber a correspondência Agradecimentos Fontes de financiamento Declaração de Conflito de Interesses Contagem de palavras: para cada resumo e para o texto principal Resumo e Abstract: estruturado conforme a tipologia do manuscrito Palavras-chave: em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH) Texto: estrutura, conteúdo, acrónimos e inserção de referências Ilustrações: formatação e numeração dos Quadros e Figuras; autorizações Referências: em concordância com as regras de URMSBJ – ICMJE Carta de Apresentação à APP Autorizações: autoria, agradecimentos, utilização de imagens e material publicado Declaração de transferência de direitos de autor para APP Data: .…... / ....... / ……..... Assinatura do autor principal: ………………………………………………………....... Acta Pediátrica Portuguesa. Sociedade Portuguesa de Pediatria. Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa. Tel.: 217547680. Fax.: 217577617. [email protected] LXXXIX Proposta de Novo Sócio Actualização de Morada Sociedade Portuguesa de Pediatria Nome: Morada: Cód. Postal - Telef.: Instituição: Telef.: e-mail:@ Enviar a: Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa Tel.: 217 574 680 – Fax: 217 577 617 e-mail: [email protected] Notas: • Esta proposta de novo sócio deverá ser acompanhada por um cheque de e 30,00 que se destinará ao pagamento da primeira anualidade. $ • Em caso de pretender mudança de morada deverá indicar-nos qual a antiga para que se processe a actualização da mesma. Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria - Portuguese Paediatric Surveillance Unit Inscrição de Novo Notificador ou Actualização de contactos Nome: Morada: - , Instituição: Especialidade: Telefone: e-mail:@ Enviar para: $ Unidade de Vigilância Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 e-mail: [email protected] Unidade de Vigilância Pediátrica / Portuguese Paediatric Surveillance Unit. Sociedade Portuguesa de Pediatria Rua Amílcar Cabral, 15 r/c I, 1750-018 Lisboa – Tel.: 217 547 680 – Fax: 217 577 617 – e-mail: [email protected]