Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 ANÁLISE ESTILÍSTICA DAS CANTIGAS DE RODA Monica Medaglia Motta Trindade Vinícius Ezaú da Silva (G – CLCA-UENP/CJ) Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora- CLCA- UENP/CJ) RESUMO Nesse trabalho, temos como objetivo analisar a expressividade das letras de composições de cantigas de roda. Vale lembrar que cantigas de roda é um tipo de canção popular que está diretamente relacionada com a brincadeira de roda e ao folclore brasileiro. As canções analisadas serão Alecrim Dourado, Pombinha Branca, Sapo Cururu e Se essa rua fossa minha. Para a realização desse trabalho, buscamos embasamento teórico na Estilística sob as óticas de Monteiro ( 2005) e Martins (1997). INTRODUÇÃO De acordo com Monteiro (2005), muitos usos linguísticos, aparentemente apontados pelas gramáticas como irregularidades, são, na realidade, desvios de natureza estilística que podem ser utilizadas como subsídio na prática de compreensão de textos. Desse modo, torna-se necessário o conhecimento dessas figuras expressivas que recebem o nome de figuras de linguagem ou metáboles. Ferrari (1955) afirma que o conhecimento das figuras, obviamente, não tem uma finalidade em si mesmo, isto é, não se trata de conhecer as figuras simplesmente para saber o nome delas. A importância em reconhecer figuras de linguagem está no fato de que tal conhecimento, além de auxiliar a compreender melhor os textos literários, leva qualquer leitor a ser mais sensível à beleza da linguagem e ao significado simbólico das palavras e dos textos. O autor assevera, ainda, que, além de ser útil nesse aspecto, tal conhecimento também pode ajudar a descobrir maneiras novas, bonitas e diferentes de dizer muitas coisas que pensa, sente e fala. Nas cantigas de roda, encontramos muitas figuras de linguagem que contribuem para a expressividade e a musicalidade dos versos. Há algumas características que elas têm em comum, como a letra. 224 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Além de ser uma letra simples de memorizar, as cantigas são repletas de rimas, repetições e trocadilhos, o que fazem da música uma brincadeira. Muitas vezes falam da vida dos animais, usando episódios fictícios, que comparam a realidade humana com a realidade daquela espécie, fazendo com que a atenção da criança fique presa à história contada pela música, o que estimula sua imaginação e memória. São os casos das músicas “A barata diz que tem”, “Peixe vivo” e “Sapo Cururu” dentre outras. Nesse trabalho, temos como objetivo analisar a expressividade das letras de composições das cantigas de roda. As canções analisadas serão Alecrim Dourado, Pombinha Branca, Sapo Cururu e Se essa rua fossa minha cuja fundamentação teórica para o nosso estudo foi pautada em Monteiro ( 2005) e Martins (1989), dentre outros. Origem das cantigas de rodas Não há como detectar o momento em que as cantigas de roda foram criadas, já que além de terem autoria anônima, são continuamente modificadas de acordo com cada região, adaptando-se à realidade do grupo de pessoas que as cantam. São também criadas novas cantigas naturalmente em qualquer grupo social. Segundo a revista Info - Escola e Cascudo (2008), é de acordo com a sua utilização pelas crianças que a cantiga vai se tornando popular. As cantigas hoje conhecidas no Brasil têm origem europeia, mais especificamente de Portugal e Espanha. Não é notável esta origem, pois as mesmas já se adaptaram tanto ao folclore brasileiro que são o retrato do país. Análise das cantigas de roda Alecrim Dourado 1 Alecrim 2 Alecrim dourado 3 Que nasceu no campo sem ser semeado 225 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 4 Alecrim 5 Alecrim dourado 6 Que nasceu no campo sem ser semeado 7 Foi meu amor que me disse assim 8 Que a flor do campo é o Alecrim 9 Foi meu amor que me disse assim 10 Que a flor do campo é o Alecrim. Análise estilística da cantiga de roda Alecrim Dourado Anáfora: encontramos no início dos versos repetição da mesma palavra ou expressão nos versos 1, 2, 4 e 5. Aliteração: repetição dos fonemas nos versos 3 e 6. Elipse: omissão de palavras na construção do texto porque ficam subtendidas, como nos versos 3 e 6 (sem ser semeado- sem ter sido semeado). Rimas: nos versos 2, 3, 5 e 6 temos a mesma combinação de rimas. E nos versos 7, 8, 9 e 10 temos outra combinação de rimas tornando a cantiga mais harmônica. Pombinha Branca 1 Pombinha Branca 2 Que está fazendo 3 Lavando roupa pro casamento 4 Vou me lavar 5 Vou me trocar 226 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 6 Vou na janela pra namorar 7 Passou um moço 8 De terno branco 9 chapéu de lado 10 meu namorado 11 Mandei entrar 12 Mandei sentar 13 Cuspiu no chão? 14 Limpa aí seu porcalhão 15 Tenha mais educação 16 Limpa aí seu porcalhão 17 Tenha mais educação. Animismo ou personificação: personifica seres inanimados ou irracionais dando-lhes vida ou qualidades humanas com a Pombinha Branca. Anáfora: repetição de palavras no início dos versos 4, 5, 6, 11 e 12. Elipse: omissão de termos já subtendidos no texto como nos versos 2, 3, 4, 5, 6, 11, 12, 15 e 16. Clímax: os versos apresentaram uma ideia em clima crescente. Rimas: as rimas foram apresentadas nos finais dos versos 2 e 3, outra rima nos versos 4, 5, 6, 11 e 12. E finalizou com outra rima nos versos 13, 14 e 15. 227 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Sapo Cururu 1 Sapo Cururu 2 Na beira do rio 3 Quando o sapo canta, ô maninha 4 É porque tem frio 5 A mulher do sapo 6 Deve estar lá dentro 7 Fazendo rendinha, ô maninha 8 Para o casamento. Análise estilística da cantiga de roda Sapo Cururu: Animismo ou personificação: personifica seres inanimados ou irracionais dando-lhes vida ou qualidades humanas como é para o Sapo Cururu e para a mulher do sapo. Apóstrofe ou invocação: nos versos 3 e 7 a invocação “ ô maninha”. Emprego expressivo dos sufixos (gradação): nos versos 3 e 7 nos termos colocados no diminutivo como “rendinha” e “maninha”. Se essa rua fosse minha 1 Se essa rua 2 Se essa rua fosse minha 228 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 3 Eu mandava 4 Eu mandava ladrilhar 5 Com pedrinhas 6 Com pedrinhas de brilhantes 7 Para o meu 8 Para o meu amor passar 9 Nessa rua 10 Nessa rua tem um bosque 11 Que se chama 12 Que se chama solidão 13 Dentro dele 14 Dentro dele mora um anjo 15 Que roubou 16 Que roubou meu coração 17 Se eu roubei 18 Se eu roubei teu coração 19 É porque 20 É porque te quero bem 21 Se eu roubei 22 Se eu roubei teu coração 23 É porque 229 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 24 Tu roubaste o meu também. Análise estilística da cantiga de roda Se essa rua fosse minha Anáfora: repetição de palavras no início dos versos. Rimas: encontramos rimas nos versos 12 e 16, e outra rima nos versos 20 e 24. Hipérbole: consiste em atribuir exagero aos fatos ou situações como nos versos 15, 16, 17, 18, 23 e 24. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisarmos os recursos estilísticos de algumas cantigas de roda, observamos que as figuras mais usadas foram anáfora, aliteração, animismo, elipse e as rimas para salientar a própria musicalidade e memorização. É por isso que são músicas lembradas e cantadas em todas as gerações, perpetuando a cultura local e brasileira. Vale lembrar que, as cantigas de roda estão inseridas num contexto muito maior que é o nosso Folclore Brasileiro que é um conjunto de mitos, músicas e lendas que são passadas de geração para geração, e são consideradas muito importantes porque constroem a identidade cultural de um país. REFERÊNCIAS FERREIRA, Mauro. Aprender e praticar gramática: teoria, sínteses das unidades, atividades práticas, exercícios de vestibulares: 2° grau.- São Paulo: FTD, 1992. LAPA, M. Rodrigues. Estilística da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1970. MARTINS, Nilce S. Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa. São Paulo: Queiroz, EDUSP, 1989. 230 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 MONTEIRO, José Lemos. A estilística: manual de análise e criação do estilo literário. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. REVISTA INFO- ESCOLA. http:// www.infoescola.com.br .Acesso em: 23/06/2012. Para citar este artigo: SILVA, Vinícius Ezaú da; TRINDADE, Monica Medaglia Motta. Análise estilística das cantigas de roda. In: IX SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2012. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18089216. p. 224-231. 231