EFEITOS DA POLÍTICA MONETÁRIA SOBRE PREÇOS AGRÍCOLAS E INDUSTRIAIS: UMA ANÁLISE EMPÍRICA PARA O BRASIL PÓS-PLANO REAL GERALDO LOPES DE SOUZA JUNIOR1 MARIA ISABEL DA SILVA AZEVEDO ALVIM2 RESUMO O trabalho investiga as relações empíricas entre política monetária, representada através dos meios de pagamento (M1), e preços por atacado dos setores agrícola e industrial no Brasil, no período compreendendo janeiro de 1995 a janeiro de 2009. Através da metodologia de séries temporais, observou-se o grau de interação de curto e longo prazo entre política monetária e preços. Os resultados demonstraram que as variáveis não possuem um relacionamento de equilíbrio no longo prazo. No curto prazo foi detectada relações causais entre elas, sendo que alterações na oferta monetária (M1) precederam as modificações nos preços. Esse resultado evidenciou a exogeneidade da oferta monetária em relação aos preços aqui considerados. Na análise de respostas a impulsos, os preços agrícolas reagiram mais intensamente a choques em M1 e sua trajetória foi mais comportada quando comparada com os preços industriais. Em relação à interação entre os preços, os agrícolas influenciaram os industriais de maneira mais intensa quando comparada com a recíproca. Palavras-chaves: política monetária, preços agrícolas, preços industriais, séries temporais. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho analisa o processo de transmissão monetária para preços agrícolas e industriais no Brasil pós Plano Real. Buscou-se identificar as relações entre as variáveis de política monetária, representada pela oferta monetária (M1), e os índices de preços agrícolas e industriais, através da estimação de relações de curto e longo prazo. A metodologia utilizada baseou-se em análise de séries temporais, através de um modelo de cointegração e análise de causalidade de Granger. Posteriormente, foi estimado um modelo VAR para relacionar as variáveis consideradas. Para atingir os objetivos propostos, este trabalho foi estruturado da seguinte maneira: na segunda seção encontra-se uma revisão literária sobre as várias interações entre política monetária e economia, enfatizando a abordagem entre política monetária e 1 2 Economista da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Profª associada da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 inflação. A terceira seção analisa o processo de alteração na relação entre preços agrícolas e industriais, através da verificação de como alguns autores tratam como um choque de demanda influencia de forma diferenciada os preços de ambos os setores. A quarta seção traz a formalização da estratégia empírica adotada para a verificação das relações propostas. A quinta seção traz os resultados empíricos, através de estimações tanto a curto quanto a longo prazo. Por fim, na última seção, têm-se as considerações finais deste trabalho. 2. INTERAÇÕES ENTRE POLÍTICA MONETÁRIA E ECONOMIA As discussões referentes aos canais através dos quais a política monetária pode ser transmitida para a economia real e para o nível de preços ainda é bastante polêmica, sendo considerada por autores como Bernanke e Gertler (1995), carente de melhores explicações. Grande parte dos estudos referente a investigação de relações entre política monetária e variáveis econômicas se refere à economia dos Estados Unidos. Em relação à política monetária, sua mudança é associada a mudanças no estoque de moeda, na taxa básica de juros e nível de reservas. Para o objetivo proposto nesse trabalho, a variável utilizada foi o estoque de moeda. O primeiro estudo enfatizando choques de política monetária é de Friedman e Schwartz (1963). Os autores analisam períodos de choques de política monetária na economia norte americana entre 1867 e 1960, os quais foram identificados como movimentos não usuais, dado o desenvolvimento econômico, ou seja, são aqueles movimentos que não teriam ocorrido em outros períodos ou em outras circunstâncias, dado o padrão de atividade real. Diferentemente de Friedman e Schwartz, que utilizaram uma definição muito ampla do que constitui um choque de política, excluindo alguns choques negativos e incluindo fatores não monetários, Romer e Romer (1989) investigaram os choques de política monetária dos Estados Unidos no período pós Segunda Guerra Mundial. Os autores identificaram os choques monetários como os períodos em que o Banco Central tenta exercer uma influência restritiva na economia no sentido de reduzir a inflação. Em se tratando do método utilizado para a análise empírica de choques de política monetária, os modelos de Vetores Auto Regressivos (VAR) são os mais utilizados. Tais modelos consistem em um sistema de equações em que uma determinada variável é explicada pelos seus valores defasados e pelos valores defasados 26 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 de outras variáveis componentes do sistema. A partir disso, obtém-se as funções impulso resposta, as quais demonstram os efeitos de um choque em uma variável do sistema sobre as demais variáveis componentes desse sistema. Utilizando vetores auto-regressivos Marques e Pina (2003) estudaram a causalidade e relações entre moeda – preços na área do Euro. Seus resultados, diferentemente dos obtidos em Trecroci e Vega (2000), que aceitam a hipótese da inexistência de causalidade de moeda para preços, rejeitam a hipótese de não causalidade entre ambas as variáveis. Na estimação do modelo VAR a transmissão à inflação começa a ocorrer cerca de um ano e meio após a elevação na quantidade monetária. Alguns trabalhos se destacam na análise dos efeitos da política monetária na economia brasileira. Matsumoto (2000) verificou os efeitos de choques monetários sobre a economia brasileira, através de um modelo VAR, considerando as seguintes variáveis: PIB real, taxa de inflação e taxa de juros do mercado monetário. Os resultados encontrados pelo autor mostraram que o PIB cai, no máximo, 0,24 pontos percentuais e este efeito ocorre três trimestres após o choque de redução na quantidade de moeda. Quanto à taxa de inflação, os resultados demonstram que os efeitos ocorrem com uma defasagem de seis meses atingindo sua contração máxima cinco meses após o choque. Ao relacionar política monetária e inflação, no período 1994 – 2000, Minella (2001) não chega a resultados conclusivos. Tanto o IPCA quanto o IGP-DI apresentam oscilações ora positiva ora negativa após uma elevação no estoque monetário. Arquete e Jayme Jr. (2001) analisam o impacto da taxa SELIC, utilizada como indicador de política monetária, em várias variáveis econômicas, entre elas o IPCA. Como principal resultado, os autores verificam que um choque na taxa SELIC de 1 ponto percentual provoca um aumento no IPCA de 0,51 pontos percentuais no quarto mês após o choque. Focalizando o desempenho do regime de metas inflacionárias no Brasil, e sua repercussão, Ferreira (2004), através do modelo VAR, verifica que o Banco Central utiliza a taxa de juros como instrumento de política monetária. O autor constata que modificações nas taxas de juros, objetivando conter pressões inflacionárias, podem provocar efeitos opostos aos desejados. Como explicação argumenta que a elevação nas taxas, eleva os custos de produção, através da elevação do custo de capital. Assim, os empresários, para defenderem suas taxas de lucro, aumentam seus preços. 27 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 Silva e Maia (2004), através da estimação de um modelo VAR, utilizam duas variáveis monetárias, taxa SELIC e o agregado M1, para verificar seus efeitos sobre a economia, incluindo o IPCA. Os resultados indicam que os choques monetários provocam somente reduções temporárias no índice inflacionário. Este fato pode estar relacionado aos efeitos negativos de choque monetários sobre a taxa de câmbio, indicando que as valorizações cambiais induzem à queda na taxa de inflação. Brandão (1985) investigou as relações entre a variável monetária M1 e os preços na agricultura e na indústria em um ambiente de elevada inflação, através da análise de séries temporais. Os resultados obtidos verificam que a política monetária afeta o termo de troca entre agricultura-indústria, no sentido de que os preços agrícolas são mais influenciados que os industriais. Além do maior efeito sobre os preços agrícolas, o tempo de ajustamento ao choque da oferta monetária leva em média 12 meses. O autor explica esses resultados devido a maior defasagem existente na produção agrícola relativamente à produção industrial, ou seja, uma menor elasticidade no curto prazo da oferta agrícola aliada a menor possibilidade de estocagem destes produtos. O trabalho de Brandão analisa a relação entre política monetária e preços em um ambiente altamente inflacionário, caracterizado pelo fenômeno da inércia inflacionária, o qual a inflação presente é uma função da inflação passada. Deve-se à inércia inflacionária a resistência que os preços de uma economia oferecem às políticas de estabilização que atacam as causas primárias da inflação. Em um ambiente de inflação sob controle, a influência da política monetária sobre a inflação é mais nítida e distinguível dos outros fatores que afetam a inflação. Por essa razão, o período escolhido para análise empírica, após o Plano Real, pode evidenciar tal relação de forma mais clara sem a influência de outros fatores sobre a inflação. 3. ALTERAÇÕES NA RELAÇÃO DE PREÇOS AGRÍCOLAS E INDUSTRIAIS O setor agrícola é apontado como um dos principais responsáveis pela dispersão de preços relativos entre os setores da economia, ocasionado muitas vezes por políticas econômicas expansionistas, como por exemplo, a política monetária. As freqüentes oscilações nos preços dos produtos agrícolas em relação aos preços dos produtos industriais, decorrentes do elevado grau de sensibilidade frente a choques na economia, motivaram afirmações de que estes produtos alavancavam os índices gerais de preços. Simonsen (1985) analisando a evolução dos preços no Brasil aponta em vários períodos, 28 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 os preços agrícolas como os maiores responsáveis pela aceleração dos índices de preços, fazendo com que houvesse uma maior dispersão entre preços deste setor e os industriais. Segundo Margarido (2000) choques de demanda como alterações nas alíquotas de importação, taxa de câmbio e política monetária influenciam os preços agrícolas de maneira mais intensa que os preços de outros produtos. De maneira específica, uma política monetária expansiva tende a reduzir a taxa de juros, podendo expandir a disponibilidade de crédito agrícola, elevando os níveis de estoques e, consequentemente diminuindo os preços agrícolas, o que piora o termo de troca entre preços agrícolas e industriais. Após o Plano Real, a estabilização de preços não foi acompanhada pela estabilização da relação de preços agrícolas e industriais. A redução radical da taxa de inflação criou condições para avaliar de maneira mais segura os impactos de políticas expansionistas, como a política monetária, sobre a relação de preços. O gráfico 1 a seguir mostra a evolução dos preços agrícolas e industriais após a estabilização inflacionária. Fica evidenciado que não foi a inflação a causa principal do distanciamento nos preços agrícolas e industrial, pois mesmo com o nível geral de preços sob controle, suas relações ainda se modificaram de forma intensa. GRÁFICO 1 – Evolução dos índices de preços agrícolas e industriais no atacado (1995:01 – 2009:01) 300 250 200 preços agrícolas preços industriais 150 100 50 19 95 1 9 .0 1 95 1 9 .0 7 96 1 9 .0 1 96 1 9 .0 7 97 1 9 .0 1 97 1 9 .0 7 98 1 9 .0 1 98 1 9 .0 7 99 1 9 .0 1 99 2 0 .0 7 00 2 0 .0 1 00 2 0 .0 7 01 2 0 .0 1 01 2 0 .0 7 02 2 0 .0 1 02 2 0 .0 7 03 2 0 .0 1 03 2 0 .0 7 04 2 0 .0 1 04 2 0 .0 7 05 2 0 .0 1 05 2 0 .0 7 06 2 0 .0 1 06 2 0 .0 7 07 2 0 .0 1 07 2 0 .0 7 08 2 0 .0 1 08 2 0 .0 7 09 .0 1 0 Fonte: IPEADATA 29 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 Vários trabalhos analisam as relações entre preços agrícolas e industriais, sendo que não existe um consenso quanto a verdadeira relação entre essas duas variáveis. Para Fava e Cyrillo (1999) não existe um padrão de relação entre elas. No entanto outros trabalhos atestam a relação positiva entre política monetária expansionista e dispersão dos preços relativos. Razão para isto pode estar em Abdallah, Maciel e Teixeira (1990), pois, a não competitividade do mercado de insumos agrícolas e a concentração do mercado atacadista agrícola, são apontados como os maiores responsáveis pela elevação de preços em relação aos outros setores. Entretanto, para Vieira e Teixeira (1989) os preços do setor industrial não são determinados pelos mecanismos de oferta e demanda, sendo assim, não estão sujeitos a modificações de políticas de expansão de demanda, como por exemplo, uma política monetária expansionista. Tal fato está relacionado às estruturas de mercado do setor industrial, que são tipicamente oligopolistas, o que o leva a possuir poder de mercado, desvinculando seus preços de mudanças de políticas econômicas. Já o setor agrícola é perfeitamente competitivo, produzindo bens homogêneos cujos preços variam de acordo com o mercado. A próxima seção apresenta a metodologia adotada baseada na construção de um modelo de vetores auto-regressivos, a qual permite uma adequada investigação empírica de acordo com a proposta neste trabalho. 4. MODELO EMPÍRICO: vetores auto-regressivos (VAR) Os modelos VAR, uma alternativa aos modelos estruturais multiequacionais, tem sido muito utilizados na economia desde que foram propostos por Sims (1980). Sua principal característica consiste em tratar todas as variáveis de forma simétrica, ou seja, sem distinção entre variáveis endógenas e exógenas. Nestes modelos especifica-se um conjunto de variáveis que se interagem, exigindo apenas que as variáveis se relacionem dentro do sistema e determine o número de defasagens necessárias para captar a dinâmica de interações entre as variáveis do modelo. Esses modelos oferecem a possibilidade de obter o tempo de reação de respostas a choques; direção, padrão e duração das respostas e intensidade das respostas a choques, através da obtenção da função de impulso-resposta k períodos à frente. Outro mecanismo consiste na decomposição da variância dos erros de previsão k períodos à frente em percentagens a serem atribuídas às variáveis componentes do sistema e, deste modo, verificar se uma variável tem poder de explicação sobre as demais. 30 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 Neste trabalho o modelo VAR será utilizado para analisar a resposta das interações entre oferta monetária, representada pelo agregado M1, índice de preços agrícola e industrial. O sistema VAR a ser estimado pode ser representado da seguinte forma: M 1t = b10 + b11M 1t − k + b12 PAGRt −i + b13 PINDt −i + ε1t PAGRt = b20 + b21M 1t −i + b22 PAGRt − k + b23 PINDt −i + ε 2t PINDt = b30 + b31M 1t −i + b32 PAGRt −i + b33 PINDt − k + ε 3t k = 1, 2, 3, . . ., p i = 0, 1, 2, 3, . . ., p A variável M 1 é a quantidade de moeda, compreendendo o papel moeda em poder do público mais os depósitos à vista, PAGR é o índice de preços no atacado do setor agrícola, PIND é o índice de preços no atacado do setor industrial. As variáveis ε1 , ε 2 e ε 3 são distúrbios ruído branco, que representam choques (inovações puras) relacionados a M 1 , PAGR , PIND , respectivamente. A estimação usa dados mensais do período de janeiro de 1995 a janeiro de 2009 coletados junto ao Instituto de Pesquisas Econômicas (IPEA) e estão especificados em números índices (2000:01 = 100). O sistema acima não pode ser estimado por mínimos quadrados ordinários, pois permite que os choques possam ter efeitos contemporâneos diretos e indiretos sobre as variáveis (viés de equação simultânea). Para contornar este problema, transformou-se este sistema primitivo em uma forma chamada de forma padrão. Enders (1995) sugere transformar o sistema de equações em um vetor auto-regressivo da seguinte forma: p Bxt = Γ 0 + ∑ Γi xt −i + ε t i =1 B representa a matriz dos parâmetros das variáveis no tempo t, Γ 0 é um vetor de interceptos, Γi é a matriz dos parâmetros das variáveis do tempo t – i (i = 1, 2, . . ., p). Pré multiplicando a equação anterior por B −1 obtém-se o modelo VAR na forma padrão: p xt = A0 + ∑ Ai xt −i + et i =1 31 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 em que A0 = B −1Γ 0 , Ai = B −1Γi e et = B −1ε t . xt é um vetor (n x 1) contendo as variáveis a serem incluídas no VAR, A0 é um vetor (n x 1) de interceptos, Ai são matrizes (n x n) e et é um vetor (n x 1) de termos de erros com média zero, variância constante e nãocorrelacionados. Dado que dentre os objetivos da estimação do VAR a função de impulsoresposta descreve os impactos dos choques nas variáveis estudadas, utilizou-se a decomposição de Choleski para identificar os distúrbios no vetor ε t . Esta estrutura recursiva mostra que os choques na primeira variável da ordenação afetam contemporaneamente todas as outras variáveis, porém os choques nestas outras variáveis não afetam contemporaneamente a primeira variável. A segunda variável na ordenação afeta contemporaneamente a terceira variável, mas não é afetada por ela. A ordenação do modelo VAR a ser estimado assumirá a estabelecida através do teste de causalidade de Granger. Assim, se através das estimações estabelecer que uma variável causa Granger as demais, esta assumirá o primeiro lugar na ordenação, e assim por diante. Para construir a função de impulso-resposta do VAR, é necessário que se represente a série auto-regressiva em um modelo em termos de médias móveis (VMA). Essa conversão de um VAR para um VMA é possível desde que o sistema seja estável, respeitando a propriedade de invertibilidade de Box-Jenkins, ou seja, todas as raízes da matriz dos coeficientes tenham módulo menor que 1. Dito de outra forma, o modelo: yt = a0 + a1 yt −1 + et exige que a1 seja menor que 1 em módulo, apresentando assim, a condição de estacionariedade. Um modelo vetorial representado por médias móveis é descrito como: ∞ −1 xt = µ + ∑ Φ i ε t −i , em que µ = ( I − A) v ; i =1 com todas as raízes de A1 menores que 1 em módulo. Os coeficientes de Φ i são os coeficientes da função impulso-resposta, observados a partir de choques ε it nas variáveis do modelo considerado (MAIA, 2001). Uma importante fase na construção e identificação do modelo VAR está relacionada ao número de defasagens a ser incluída no sistema. Tal definição é feita experimentalmente, partindo de uma escolha arbitrária de 18 defasagens e de forma 32 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 decrescente, analisando-as com base no critério de informação de Akaike (AIC) e Bayesiano de Schwarz (SBC). 5. PROCEDIMENTOS ECONOMÉTRICOS Com o objetivo de se realizar uma análise empírica, a metodologia se inicia com o emprego de testes de raiz unitária nas séries consideradas. A segunda parte é composta pelos testes de co-integração entre as variáveis. Por fim, na terceira parte, realiza-se os testes de causalidade de Granger. • • • Para determinar a ordem de integração das variáveis foi utilizado o teste de raiz unitária Dickey-Fuller ampliado (ADF), conforme apresentado em Dickey e Fuller (1979; 1981). Os valores críticos para o teste de raiz unitária foram obtidos em Mackinnon (1981). Para captar a inter-relação entre as variáveis econômicas foi utilizado o teste de cointegração de Johansen, conforme Johansen (1995). Para verificar o sentido da direção causal entre as variáveis foi utilizado o teste Granger-causalidade, conforme Granger (1969). 5.1. Teste de raiz unitária A presença de tendência em séries de tempo compromete a aplicação de boa parte do instrumental econométrico. Os modelos de regressão linear só têm suas propriedades asseguradas se todas as variáveis neles contidas forem estacionárias, ou seja, se suas média e variância se apresentam constantes ao longo do tempo e o valor da covariância entre dois períodos de tempo depender apenas da distância entre os dois períodos. Além do mais, em modelos econométricos que incluem variáveis não estacionárias, as estatísticas t e F usuais podem não ser úteis. A questão de uma série temporal ser estacionária ou não estacionária tem implicações tanto estatísticas quanto econômicas. Para uma série temporal não estacionária, o efeito de qualquer choque é permanente. Considere o exemplo: yt = yt −1 + ε t onde ε t é um processo estacionário de média zero. Suponha que em algum período, digamos yt , haja um aumento C em ε t . Então, todos yt , yt +1 , yt + 2 , . . . , aumentam em C. Logo, o efeito do choque C, é permanente. No entanto, se tivermos o modelo: yt = α yt −1 + ε t | α |< 1 33 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 O efeito do choque termina com o tempo, começando em yt , que aumenta em C, valores sucessivos de yt , se elevarão em Cα, Cα2, . . . (MADALLA, 1992). Do ponto de vista estatístico, o problema surge devido à não estacionariedade das séries, dado que possibilita a identificação de relações espúrias entre elas, e assim obtemos estimadores inconsistentes. Além disso, em modelos econométricos que incluem variáveis não-estacionárias, as estatísticas t e F usuais podem não ser úteis. Logo, faz-se necessária a estacionariedade das séries para que o comportamento entre elas não seja espúrio, e os seus estimadores sejam consistentes. Neste trabalho foi utilizado o teste de raiz unitária Dickey-Fuller ampliado para testar a presença de raiz unitária em cada série temporal. Se a série tem uma raiz unitária, diz-se que esta é não estacionária e, portanto, sua ordem de integração é maior do que zero. O teste ADF utilizado para cada variável consistiu em estimar, por mínimos quadrados, a seguinte equação: m ∆yt = β1 + β 2t + φ yt −1 + ϕ ∑ ∆yt −i + ut i =1 onde ∆yt −1 = yt −1 − yt − 2 , ∆yt − 2 = yt − 2 − yt −3 , ∆yt −i = yt −i − yt −i −1 A hipótese nula do teste ADF é que φ é igual a zero. No caso de aceitação da hipótese nula, tem-se um problema de raiz unitária, uma situação de nãoestacionariedade. Se o valor da estatística ADF for maior do que o valor crítico, rejeitase a hipótese de que a série temporal seja estacionária, fazendo-se necessário testar a presença de raiz unitária para a primeira diferença desta série temporal. O número de termos diferença defasados incluídos em cada regressão foi determinado de forma a tornar o termo de erro não-correlacionado serialmente, ou seja, apresenta ruído branco. Os critérios de AIC e SBC foram considerados na determinação do número dos termos de diferença defasados. 5.2. Teste de cointegração Um dos objetivos da econometria é avaliar empiricamente teorias econômicas que em geral, pressupõem relação de equilíbrio de longo prazo entre variáveis. A averiguação das teorias econômicas pode ser feita com base em séries temporais que, em sua maioria, apresentam algum tipo de tendência. 34 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 A existência de tendência pode levar à regressões espúrias, ou seja, à aceitação de relação entre as variáveis geradas por processos inteiramente independentes. A análise de cointegração vem, portanto, averiguar se existe uma combinação linear entre as variáveis, ou seja, verifica se no longo prazo as variáveis do modelo convergem para relação de equilíbrio. Para a confirmação da relação de longo prazo entre as variáveis realiza-se o teste de cointegração proposto por Johansen (1995) e Johansen e Juselius (1990)3. 5.3. Teste de causalidade de Granger A análise de regressão na econometria lida com a dependência de uma variável em relação à outra(s). Segundo Carneiro (1997), uma relação estatística entre duas ou mais variáveis nunca pode estabelecer uma relação causal entre elas. A convicção a respeito de qualquer relação de causalidade deve-se originar de fora da estatística, baseando-se fundamentalmente em alguma teoria já estabelecida. Entretanto, pode-se estatisticamente identificar uma relação de causa e efeito entre duas variáveis X e Y quando existe uma relação de precedência temporal entre as duas variáveis. O conceito de causalidade de Granger (1969) é apresentado como: se X causa Y, então variações em X deveriam preceder variações em Y. Para dizer que “X causa Y” é preciso que sejam cumpridas duas condições. Primeiro, X deveria ajudar a prever Y; isto é, em uma regressão de Y em relação a valores passados de Y o acréscimo de valores passados de X como variáveis explicativas deveria contribuir significativamente para aumentar o poder explanatória da regressão. Segundo, Y não deveria ajudar a prever X. A razão é que se X ajuda a prever Y e também Y ajuda a prever X, o mais provável é que uma ou mais variáveis estejam de fato causando as mudanças observadas tanto em X como em Y. 3 Johansen (1995) e Johansen e Juselius (1990) apresentaram os testes do k λtraco (r ) = −T ∑ ln 1 − λˆi t = r +1 ( e do λmax : ) λmax (r , r + 1) = −T ln 1 − λˆt +1 ( λtraço ) onde λ̂ são os valores estimados das raízes características obtidas da matriz Π estimada e T é o número de observações. A hipótese nula do primeiro teste é de que o número de vetores de co-integração distintos são iguais ou inferiores a r , a hipótese alternativa é que o número de vetores de co-integração é maior do que r . No segundo teste, a hipótese nula é de que o número de vetores de co-integração é igual a r , enquanto que a hipótese alternativa é de que existe r + 1 vetores de co-integração. 35 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 Para avaliar se cada uma dessas duas condições é cumprida, deve-se testar a hipótese nula de que uma variável não ajuda a prever a outra. Por exemplo, para testar a hipótese nula de que “X não causa Y”, estima-se uma regressão de Y em relação a valores defasados de Y bem como a valores defasados de X (a regressão irrestrita) e em seguida estima-se uma regressão de Y apenas em relação a valores defasados de Y (a regressão restrita). Um simples teste F pode ser usado então para determinar se os valores defasados de X contribuem significativamente para o poder explicativo da primeira regressão4. Em caso afirmativo, pode-se rejeitar a hipótese nula e concluir que os dados são consistentes com X como causa de Y. A hipótese nula de que “Y causa X” é então testada da mesma maneira. Para testar se X causa Y, o procedimento é da maneira que se segue. Primeiro testamos a hipótese nula “X não causa Y”, com a estimativa de duas regressões: m m i =1 i =1 Regressão irrestrita: Y = ∑ α iYt −i + ∑ β i X t −i + ε t m Regressão restrita: Y = ∑ α iYt −i + ε t i =1 Utilizando a soma de quadrados dos resíduos de cada regressão para calcular a estatística F e testar se o grupo de coeficientes é significativamente diferente de zero. Em caso afirmativo, podemos rejeitar a hipótese de que “X não causa Y”. Segundo, testa a hipótese nula “Y não causa X” pela estimativa das mesmas regressões mencionadas, mas trocando de lugar X com Y e testando se os valores defasados de Y são significativamente diferentes de zero. Para concluir que X causa Y, temos de rejeitar a hipótese de que “X não causa Y” e aceitar a hipótese “Y não causa X”. Na escolha do número de defasagens “m” Carneiro (1997) sugere que se inicie por um número grande de defasagens e se vá paulatinamente as reduzindo, até minimizar a estatística de Schwarz. 4 A estatística F é a seguinte: F = (N – k) (SQRR – SQR IR)/q(SQRIR), em que SQRR e SQR IR são a soma de quadrados dos resíduos nas regressões restrita e irrestrita, respectivamente, N é o número de observações, k é o número de parâmetros estimados na regressão irrestrita, e q é o número de restrições de parâmetros. 36 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 6. RESULTADOS 6.1. Teste de raiz unitária Os testes de raiz unitária realizados consideram os processos geradores das séries constituídos, por constante, por constante e tendência, e sem constante e tendência, tendo como hipótese nula a existência de raiz unitária, o que indica que a série é não estacionária. A tabela 1 a seguir sumariza os resultados dos testes de raiz unitária: o termo entre parênteses é o número de termos de diferença defasados incluídos em cada regressão de forma a tornar o termo de erro não-correlacionado serialmente. O teste de Dickey-Fuller ampliado (ADF) evidencia que as variáveis são não estacionárias em nível, sendo necessário defasá-las para que os erros se tornem ruído branco. Contudo, ao extrair a primeira diferença das séries, pode-se aceitar a hipótese da estacionariedade. Novamente, apresenta-se o problema quanto ao erro não ruído branco das estimativas, que pode ser solucionado através de defasagens das séries. Deste modo, os testes de raiz unitária sugerem que todas as variáveis são integradas de primeira ordem, ou seja, apenas a primeira diferença destas variáveis é estacionária. Tabela 1 – Resultados dos testes de raiz unitária de Dickey-Fuller ampliado Modelo 1** Modelo 2*** τ Variáveis 1995:01 τ* τµ ττ 2009:01 M1 -1,771 -2,904 1,832 -3,075 (14) (14) (16) (12) PAGR -0,538 -1,969 1,782 -3,971 (3) (3) (7) (6) PIND -0,743 -1,531 1,870 -2,713 (4) (5) (5) (4) Fonte: dados da pesquisa. 6.2. Teste de cointegração Após verificar que as variáveis são integradas de mesma ordem, procedeu-se a estimação dos modelos a fim de verificar a possível presença de alguma relação de longo prazo entre as variáveis. Como dito anteriormente, o significado econômico de cointegração é que, se duas variáveis cointegram, é possível afirmar que elas possuem um relacionamento estável e constante a longo prazo e, então, convergem ao equilíbrio de longo prazo. 37 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 O resultado obtido do teste de cointegração de Johansen para as variáveis componentes do modelo estimado está presente na tabela 2. O número de defasagens utilizado (cinco) foi definido de acordo com os critérios SBC para uma versão multiequacional. Os testes do máximo auto valor (λmax) e do traço (λtraço) não apresentaram valores significativos a partir das hipóteses nulas, para as variáveis componentes do modelo, fazendo concluir que não há vetores co-integrados. Em suma, os resultados mostram que não há relação de equilíbrio de longo prazo entre as variáveis. Tabela 2 – Resultados dos testes de co-integração de Johansen λtraço λmáximo Teste do maior Teste do traço autovalor H0 H1 H0 H1 Valor Valor crítico Valor Valor crítico observado 95% observado 95% r=0 r>0 r=0 r=1 12,917 20,97 21,355 29,68 r≤1 r>1 r=1 r=2 4,906 14,07 8,438 15,41 r≤2 r>2 r=2 r=3 3,531 3,76 3,531 3,76 Fonte: dados da pesquisa. 6.3. Teste de causalidade de Granger Pelos resultados apresentados na tabela 3, a seguir, verifica-se que a relação causal entre oferta monetária e preços no atacado do setor agrícola ocorre da primeira para a segunda variável, ou seja, variação na oferta monetária precede a mudança no índice de preços agrícola. Tal resultado pode refletir a importância da oferta monetária na determinação dos preços agrícolas. No relacionamento entre oferta monetária e preços industriais a direção causal se dá conforme a estabelecida anteriormente, ou seja, uma medida de política monetária afeta ambos os índices de preços, sendo que o sentido inverso não apresenta evidência empírica. Assim pode-se afirmar que de acordo com a metodologia apresentada, o teste de causalidade de Granger indica a exogeneidade da moeda em sua relação com preços agrícolas e industriais. Ao considerar o processo de interação entre os preços aqui considerados, o teste de causalidade de Granger evidencia que a relação causal se estabelece em ambos os sentidos, ou seja, uma determinação recíproca entre preços agrícolas e industriais. Deste 38 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 modo não se pode estabelecer uma direção causal única nesta relação. Como afirma Carneiro (1995) a presença de bicausalidade ou simultaneidade é um indicativo de que uma ou mais variáveis exógenas ao modelo estejam causando mudanças tanto no índice de preços agrícola quanto no industrial. Desde já fica como sugestão uma investigação mais aprofundada sobre a relação entre ambas as variáveis. Tais resultados se comparados com os encontrados com Brandão (1985) apresentam algumas semelhanças e divergências. Em Brandão a oferta de moeda era exógena, preços agrícolas também exógenos, e o preço na indústria causado (no sentido de Granger) pela oferta de moeda. Desta forma, a principal distinção dos resultados aqui apresentados e os de Brandão diz respeito aos preços agrícolas, os quais, para o autor eram exógenos, enquanto neste trabalho são afetados pela oferta monetária e pelos preços industriais. As principais justificativas dos resultados da causalidade de Granger entre os preços divergirem dos resultados encontrados por Brandão, podem estar na mudança de comportamento do consumidor brasileiro e na mudança da estrutura política e econômica, pois este trabalho compreende uma época de estabilização monetária, enquanto o de Brandão abrange um período de crescente inflação, 1969 a 1984. Entretanto os motivos dessa mudança não foram objetos de investigação neste trabalho, mas é de se esperar que os preços industriais influenciem os preços agrícolas em virtude do desenvolvimento do meio rural brasileiro nas duas últimas décadas, ter se tornando mais dependente da tecnologia industrial como o uso cada vez mais freqüente de tratores, fertilizantes, sistemas de irrigação, etc. No modelo VAR a estimação das funções impulso-resposta, em que choques em uma determinada variável repercutem sobre as demais componentes do sistema, se dará obedecendo aos resultados encontrados no teste de causalidade de Granger, como observado na tabela 3 abaixo. Assim, o modelo estimado captará os efeitos de choques na oferta monetária e seus efeitos sobre os índices de preços e os efeitos de impulso em um índice e seu efeito sobre o outro índice. 39 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 Tabela 3 – Teste de causalidade de Granger Hipótese nula Defasagens Estatística F Valor - P M1 não causa 7 2,748 0,0208 PAGR PAGR não causa 7 1,020 0,4078 M1 M1 não causa 7 2,453 0,0359 PIND PIND não causa 7 0,591 0,7067 M1 PAGR não causa 5 2,218 0,0551 PIND PIND não causa 5 2,602 0,0273 PAGR Fonte: dados da pesquisa. Conclusão Rejeita-se a hipótese nula Aceita-se a hipótese nula Rejeita-se a hipótese nula Aceita-se a hipótese nula Rejeita-se a hipótese nula Rejeita-se a hipótese nula 6.4. Modelo de vetores auto-regressivos Uma vez observado a presença de não estacionariedade nas séries em nível e a posterior estacionariedade nas séries em primeira diferença, tornando-as integradas de primeira ordem, além da ausência de co-integração entre as variáveis, esta seção trata primeiramente da escolha do número de defasagens a serem incluídas no modelo VAR. Considerou-se o número máximo de dezoito defasagens para cada variável e aplicaramse os critérios de informação AIC e bayseano SBC na escolha das defasagens. Vale ressaltar que o teste foi realizado somente naquelas estatísticas que não apresentaram autocorrelação dos resíduos com probabilidade superior a 10%. Através desses critérios observou-se que, para o modelo VAR estimado, o número de defasagens apropriado foi igual a cinco. Concluída a etapa de identificação do modelo, passa-se a análise das funções impulso-resposta, observando o impacto dos choques na oferta monetária sobre os preços agrícola e industrial, assim como os efeitos recíprocos de choques tanto no preço agrícola quanto no preço industrial. Uma primeira verificação da função de resposta a impulso deve ser feita em relação ao comportamento da trajetória do nível de preços, uma segunda análise deve ser realizada em relação ao tempo de ajustamento pós-choque. No gráfico 2 a seguir encontram-se os resultados obtidos. Ao observar os choques em M1 e seus efeitos sobre os preços, verifica-se que o índice de preços agrícola é afetado mais intensamente quando comparado com o índice da indústria, 40 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 prevalecendo na maioria dos períodos subseqüentes efeitos positivos. O efeito sobre os preços industriais se inicia de forma negativa, alternando efeitos negativos e positivos, porém, não estabelecendo uma direção bem definida. Como argumenta Simonsen (1985) os preços agrícolas são os maiores responsáveis pela aceleração do índice geral de preços, fazendo com que choques de demanda entre os quais, política monetária, influenciem os preços agrícolas de maneira mais intensa que os industriais. Tais resultados, para um período de baixa inflação, se assemelham ao obtido por Brandão (1985) ao analisar os efeitos da política monetária sobre os mesmos índices de preços, porém abrangendo um período de elevada inflação. Os efeitos de choques recíprocos em ambos os índices de preços demonstram um padrão de resposta. Os preços reagem de forma positiva, sendo que a resposta dos preços industriais tem um comportamento mais definido como evidencia o gráfico. Gráfico 2 - Funções de Impulso-Resposta Resposta de PAGR a choque em M1 0.004 0.003 0.0015 0.002 0.0010 0.001 0.0005 0.000 0.0000 - 0.001 - 0.002 1 Resposta de PIND a choque em PAG R 0.0020 -0.0005 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 -0.0010 2 Resposta de PIND a choque em M1 0.0010 4 6 8 10 12 14 Resposta de PAG R a choque em PIND 0.006 0.004 0.0005 0.002 0.0000 0.000 - 0.0005 -0.002 - 0.0010 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 -0.004 2 4 6 8 10 12 14 Fonte: dados da pesquisa. 41 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo deste trabalho foi verificar os inter-relacionamentos entre política monetária, representada pelo agregado monetário M1, e índices de preços agrícola e industrial na economia brasileira no período 1995 – 2009. Visto que as variáveis não são co-integradas, ou seja, não possuindo relacionamento de longo prazo, estimou-se um VAR(5) e observou-se os gráficos de impulso-resposta. Com base no teste de causalidade de Granger se estabeleceu que as relação causais se dão da oferta monetária (M1) para os preços e causalidade simultânea, ou bicausalidade, entre preços agrícola e industrial. Assim a estimação das funções impulso-resposta, o choque partiu da oferta monetária (M1) com efeitos nos preços, além de choques em um preço e resposta em outro. A análise dos gráficos de impulso-resposta mostrou que: i) choque dado a partir da oferta monetária tem efeito positivo sobre o índice de preços agrícolas, atingindo sua maior intensidade no segundo e terceiro mês após o choque, se estabilizando dozes meses após. O efeito negativo a partir do sétimo mês é suplantado pelas respostas positivas iniciais; ii) choque sobre a oferta monetária gera uma resposta negativa do índice de preços industriais no mês do choque, se alterando a partir daí até o sétimo mês, a partir do qual o preço sofreu queda prolongada por mais de quatorze meses; iii) efeitos de choques recíprocos nos preços apresentam comportamento semelhante. Quando o choque parte dos preços agrícolas, a resposta dos preços industriais se dá de forma positiva com duração de nove meses. Já as respostas dos preços agrícolas a choque nos preços industriais não é tão bem comportada, sofrendo variações positivas e negativas, contudo, sobressai efeitos positivos. Com respeito à relação entre os preços, os resultados obtidos atestaram que uma política monetária expansiva modifica a relação entre preços, ampliando a razão entre os preços agrícolas e industriais. Apesar de alguns períodos de queda do índice de preços industrial, o efeito do choque monetário eleva o índice agregado de ambos os setores, o qual é alavancado pela elevação sofrida pelo índice de preços agrícolas. De forma geral, conclui-se que, os resultados empíricos dão suporte ao poder de influência da política monetária na formação de preços agrícola e industrial. De maneira mais específica, dado o atual contexto e perspectivas de expansão vigenciada pelo setor agrícola, surge a necessidade de políticas monetárias conduzidas de maneira a manter a estabilidade de seus preços, objetivando à formação de expectativas a longo prazo, 42 Revista de História Econômica & Economia Regional Aplicada – Vol. 4 Nº 7 Jul-Dez 2009 gerando condições para investimentos e rentabilidade sinalizada pela formação de preços no mercado interno agrícola. 8. REFERÊNCIAS ARQUETE, L. C. dos R. ; JAYME JÚNIOR, F. G. 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