Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva Cirurgiã-dentista SMS/Prefeitura de Vassouras [email protected] Marcos Alex Mendes da Silva Universidade Severino Sombra, curso de Odontologia [email protected] Maria Cristina Almeida de Souza Universidade Severino Sombra, curso de Odontologia [email protected] Rogéria Costa de Paula Universidade Severino Sombra, curso de Odontologia [email protected] Resumo: No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), no final da década de 80, conduziu à substituição do sistema de atenção à saúde, centrado na doença, por um modelo que valoriza a promoção de saúde. A atenção primária à saúde compreende serviços realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), por profissionais generalistas, voltados para a resolução dos problemas que são mais comuns na população e que exigem menos aparato tecnológico. Em 1994, o Ministério da Saúde instituiu a Estratégia Saúde da Família (ESF), que viabilizou oportunidades de acesso aos serviços pelas comunidades mais expostas aos riscos de adoecer. Em Vassouras, implantou-se a ESF para reorientar o modelo de atenção à saúde. Os desafios enfrentados pelo gestor municipal na implantação das equipes de saúde bucal na lógica de trabalho da ESF no município de Vassouras foram de distintas naturezas, a saber: sensibilização dos recursos humanos; integração entre os membros da equipe de saúde bucal com os demais profissionais de saúde da UBS; infraestrutura inadequada de algumas Unidades Básicas de Saúde à proposta de trabalho da ESF; cumprimento da carga horária de trabalho semanal pelos dentistas; realização das visitas domiciliares por todos os membros da equipe de saúde. Para cada desafio encontrado uma forma de enfrentamento foi adotada. Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família. Descentralização. Atenção primária à Saúde. Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 43 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ Challenges faced by the municipal manager in the implementation of oral health team in family health strategy in Vassouras/RJ Abstract: In Brazil, the creation of the Unified Health System (SUS) in the late 80's led to the replacement of the system of health care focuses on disease, with a model that emphasizes health promotion. The primary health care includes services performed in the Basic Health Units (BHU) for general practitioners, aimed at solving the problems that are more common in the population and require less technological apparatus. In 1994, the Ministry of Health established the Family Health Strategy (FHS), which made possible opportunities for access to services by the communities most at risk of becoming ill. In Brookfield, the FHS was implemented in the context of the reorientation of health care. Different kinds of challenges were faced by the city manager in the implementation of oral health teams working on the logic of the city of FHS Brooms: sensitization of human resource integration between team members of oral health with other health professionals BHU; inadequate infrastructure of some basic health units to the proposed work of the FHS; compliance with the hours worked per week by dentists carrying out home visits by all members of the healthcare team.For each challenge found a way of coping was adopted. Keywords: Family Health Strategy; decentralization; primary health care. Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 44 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ Introdução No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), no final da década de 80, conduziu à substituição do sistema de atenção à saúde, centrado na doença, por um modelo que valoriza a promoção de saúde e prioriza atividades preventivas, sem prejuízo das assistenciais. Tendo por princípios a integralidade, a universalidade e a equidade da atenção à saúde de todos os cidadãos, o SUS constitui-se em um sistema de saúde descentralizado, que conta prioritariamente com a participação da comunidade no processo decisório e está hierarquizado em níveis de complexidade da ação requerida: primário, secundário e terciário (BRASIL, 1990). A atenção primária à saúde compreende os serviços realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), por profissionais generalistas, voltados para a resolução dos problemas que são mais comuns na população e que exigem menos aparato tecnológico. Já o nível secundário envolve atividades que requerem profissionais especializados, equipamentos de maior densidade tecnológica e devem, portanto ser oferecidas em centros de saúde, policlínicas e pequenos hospitais. A atenção terciária é aquela ofertada em hospitais, exige recursos humanos altamente especializados e equipamentos de alta complexidade. Em 1994, com o objetivo de atender às demandas da população em suas necessidades por atenção primária, o Ministério da Saúde instituiu o Programa Saúde da Família (PSF), atualmente denominado Estratégia Saúde da Família (ESF), que viabilizou novas oportunidades de acesso aos serviços pelas comunidades mais expostas aos riscos de adoecer. Aperfeiçoou também a organização do trabalho centrada no indivíduo, em sua família e em seu ambiente (estreitando os vínculos e permitindo um conhecimento mais apropriado da realidade em que vivem as pessoas e quais são suas necessidades); fortaleceu o conceito de responsabilidade sanitária, criando espaços de construção de cidadania; articulou-se à rede de saúde, de forma hierarquizada e regionalizada, garantindo o acesso aos serviços de maior complexidade e, finalmente, promoveu o estabelecimento de relações intersetoriais capazes de atender necessidades relacionadas às condições de vida das famílias por meio de políticas públicas mais integradas. Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 45 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ O município de Vassouras, na região Centro-Sul Fluminense, está habilitado para a Gestão Plena do Sistema Municipal (BRASIL, 1996), tem uma população aproximada de 34.259 mil habitantes (IBGE, 2009). A rede assistencial de saúde oferece 100% de cobertura populacional na atenção básica por meio da Estratégia Saúde da Família. São 14 Unidades de Saúde da Família, sendo que 12 contam com Equipe de Saúde Bucal (Modalidade I - compostas por cirurgião dentista e auxiliar de saúde bucal) e uma unidade móvel para atendimento odontológico nas áreas de difícil acesso. A média complexidade inclui uma policlínica, dois ambulatórios na unidade hospitalar, um centro/núcleo de reabilitação e um serviço de diagnose e terapia e está organizada de forma que o agendamento das consultas é feito por meio de uma Central de Regulação de Vagas, administrada pela SMS. O município dispõe, ainda, de três hospitais privados conveniados ao SUS (sendo um deles especializado no tratamento de doenças mentais), que disponibilizam 469 leitos e um setor de vigilância epidemiológica e sanitária. Vassouras representa um dos 2 pólos do consórcio intermunicipal de saúde, integrado por onze municípios. Assim, além de atender a população local, é referência na assistência para mais cinco cidades do entorno, a saber: Paracambi, Miguel Pereira, Paty do Alferes, Mendes e Paulo de Frontin. O município possui um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), o qual é referência para o atendimento aos usuários que necessitam de tratamento odontológico nas áreas de periodontia, endodontia, prótese total e cirurgia. Há, ainda, o Laboratório Regional de Prótese Dentária (LRPD), responsável pela confecção das próteses totais dos pacientes referenciados pelas Unidades Básicas de Saúde de Vassouras e das demais cidades integrantes do consórcio intermunicipal. Ciente dos benefícios que seriam gerados à população, o gestor do município de Vassouras, respaldado pelo Conselho Municipal de Saúde, aceitou o desafio de rever a organização dos serviços municipais de saúde e implantou a ESF a fim de reorientar o modelo de atenção à saúde local. Dessa forma, novas práticas e relações voltadas para a reorientação dos processos de trabalho foram construídas. Essa reorganização, no campo Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 46 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ da Odontologia traduziu-se na inclusão de Equipes de Saúde Bucal (ESB) nas já atuantes equipes de saúde da família. A Estratégia Saúde da Família (ESF) incorpora os sentidos da integralidade da atenção à saúde: humanização, vínculo e responsabilização. Se o Sistema de Saúde Municipal tem a atenção primária bem estruturada, menos munícipes precisarão ser referenciados aos níveis secundário e terciário da atenção à saúde. Portanto, haverá menos encargos. Assim, o primeiro nível de atenção deve merecer cuidado especial, pois seu funcionamento insatisfatório compromete todos os demais níveis de atenção, visto que representa a porta de entrada ao Sistema de Saúde (BRASIL, 2003). Objetiva-se, neste artigo, relatar os desafios encontrados pelo gestor municipal para implantação das equipes de saúde bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ e as formas de enfretamento adotadas. Os Desafios Enfrentados Este estudo relata um levantamento documental de portarias sobre a inclusão das equipes de saúde bucal (ESB) na Estratégia de Saúde da Família (ESF) e os passos dessa implantação no município de Vassouras. A gestora de saúde bucal, também autora deste artigo, relata sua experiência e elenca os desafios encontrados, bem como as formas de enfrentamento adotadas, com o intuito de contribuir para que outras realidades brasileiras minimizem seus problemas. Desde 1994, o Ministério da Saúde vem introduzindo a ESF no âmbito do SUS, no sentido de reorientar as práticas profissionais no campo da saúde, deslocando o foco das ações para os usuários do sistema Entretanto, foi a partir de 1998, com a efetiva transferência dos recursos do Piso de Atenção Básica (PAB fixo e variável) para os fundos municipais de saúde, que os municípios aceleraram a implantação das equipes de saúde da família. Com isso, almeja-se reorganizar o sistema de saúde com base na atenção primária e implementar a vigilância à saúde, por meio de um conjunto de ações individuais e coletivas, voltadas para a promoção, prevenção e tratamento dos agravos à Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 47 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ saúde (OHARA e SAITO, 2008). Em 1999, o Ministério da Saúde reconheceu que houve um processo de pulverização das equipes de saúde da família nos municípios que tinham aderido ao programa (CECILIO e ANDREAZZA, 2007). Os resultados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (PNAD), realizada em 1998, revelaram que aproximadamente 29,5 milhões de brasileiros (18,7% da população) nunca tinham ido ao dentista (IBGE, 2000). Este fato estimulou o Ministério da Saúde a incluir, em 2000, as Equipes de Saúde Bucal na ESF. Essa iniciativa viabilizou a reordenação da prática odontológica, historicamente pautada em um modelo de alto custo e baixo rendimento, ineficaz e ineficiente (PEREIRA et al., 2003). Considerando a oferta de serviços de saúde bucal e a sua demanda, o Ministério da Saúde, quando da implantação da ESF, estabeleceu duas modalidades de composição para as equipes de saúde bucal nos municípios: Modalidade I, composta por um cirurgião dentista e um auxiliar de saúde bucal e Modalidade II, constituída por um técnico de saúde bucal além dos profissionais da modalidade I (BRASIL, 2000). A transformação das já existentes UBS em unidades da ESF, com a inclusão da Equipe de Saúde Bucal aconteceu gradativamente, à medida que os incentivos financeiros foram repassados pelo Governo Federal e os recursos humanos foram incorporados e sensibilizados para exercerem atividades na nova lógica do trabalho em equipe, que apontava a necessidade do envolvimento da equipe de profissionais com a comunidade adscrita (já previamente cadastrada pelas equipes de agentes comunitários de saúde (ACS), que já vinham atuando nos territórios, mapeando as necessidades em saúde da população). O processo de trabalho das equipes de saúde bucal na ESF recém implantadas buscava a produção do cuidado visando à melhoria da qualidade de vida da população, cujas ações centravam-se nos grupos sociais e no ambiente. Era necessário que o cirurgião-dentista e seus auxiliares compreendessem que deveriam ser realizadas tanto ações de promoção como de prevenção, associadas a uma retaguarda curativa, historicamente constituída, fato desconhecido para alguns profissionais que se limitavam, em sua atuação e Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 48 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ formação pregressas, a trabalhar dentro da UBS, exercendo tão somente a odontologia curativo-restauradora. Dois obstáculos influenciaram o trabalho em equipe, quer pela dificuldade de integração entre os membros da equipe de saúde bucal com os demais profissionais de saúde da UBS (médico e enfermeiro) quer pelos profissionais de outras áreas, atores necessários na resolução dos problemas condicionados socialmente, construindo a intersetorialidade do processo de trabalho. Isso não permitiu que ocorresse a interdisciplinaridade de ações. Essas condições eram imprescindíveis para promover o desejado atendimento integral aos usuários. Prestar atendimento integral significa transferir a integralidade do trabalho da equipe à integralidade das ações ofertadas, para o desenvolvimento de serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso, no âmbito da atenção primária, visando à resolubilidade desta atenção. Nenhuma mudança na prática profissional acontece dissociada da concepção dos sujeitos que a realizam. Para tanto, o investimento em educação permanente atrelo-se à implantação da ESF, que em Vassouras recebeu incentivo por meio do apoio da Universidade Severino Sombra (USS), com a qual a Secretaria de Saúde tem convênios firmados. As demandas formativas dos cirurgiões-dentistas e auxiliares de saúde bucal foram realizadas com o fomento do Pró-Saúde (Programa Nacional de Reorientação da Formação do Profissional em Saúde) MS/OPAS, que contemplaram os Cursos de Odontologia e Enfermagem, prevendo assim, um ciclo de capacitações dos profissionais de saúde em contato direto com a formação dos alunos dos cursos, imprimindo qualidade de atenção nas equipes de saúde bucal. A parceria entre Instituição de Ensino Superior (IES) e a Secretaria Municipal de Saúde de Vassouras trouxe melhor formação para seus profissionais e em contra partida, exigiu do serviço público adequação da infraestrutura de algumas UBS pela transformação que precisaram passar para se tornarem Unidades de Saúde da Família (USF), cuja realização dependeu diretamente da liberação de verbas, repassadas via fundo municipal de saúde. O gestor constatou que o incentivo financeiro disponibilizado pelo governo federal direcionado para a adequação das USF não era suficiente para montagem dos Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 49 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ consultórios odontológicos, com todos os equipamentos e instrumentais necessários, gerando a necessidade de investimento da própria secretaria municipal de saúde a fim de que todos os requisitos e exigências do Ministério da Saúde fossem cumpridos. Associada às dificuldades gestoras, a sensibilização dos profissionais de saúde para trabalharem na lógica da ESF também não atingiu 100% das metas estipuladas e alguns profissionais, ainda que cientes da carga horária a ser cumprida, não eram encontrados disponíveis para atenção à comunidade durante 40 horas semanais de trabalho, na própria unidade de saúde, nos espaços coletivos ou nas visitas domiciliares. A formação das equipes de trabalho colocou em um mesmo grupo profissionais com tempos diferentes de experiência na área e com concepções diversas do processo saúde/adoecimento, gerando, inicialmente, grandes conflitos, sobretudo nas ações coletivas, realizadas nos domicílios até que os módulos de educação permanente nivelassem o conhecimento e permitissem trabalhos conjuntos e mais homogêneos. As Formas de Enfretamento e Considerações Finais Este levantamento mostra que os desafios enfrentados pelo gestor municipal na implantação das equipes de saúde bucal na ESF foram de naturezas distintas. O primeiro grande desafio enfrentado pela gestão local refere-se à concepção curativa hegemônica na formação acadêmica dos profissionais que foram inseridos nas primeiras ESB na ESF, os quais eram preparados para a clínica diária, e, assim sendo, não estavam preparados para as ações de promoção e prevenção a serem executadas fora do consultório odontológico. Para superar essa deficiência, a parceria com a USS, por meio do Pró-Saúde, ofereceu módulos de educação permanente iniciais com o objetivo de subsidiar a necessária transformação paradigmática dos profissionais, fazendo-os compreender que havia uma grande demanda reprimida, gerada pelo modelo anterior. Contudo, os indicadores de saúde municipais só modificariam se a saúde fosse socialmente buscada e assim, trabalhada. Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 50 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ Outro desafio encontrado foi a dificuldade de integração das equipes de saúde bucal com a ESF e com outros atores necessários à resolução dos determinantes sociais em saúde. Esse desafio vinha acompanhado da dificuldade de programar ações coletivas nos domicílios em equipe em função da falta de integração dos profissionais envolvidos. A causa desse problema, nacionalmente enfrentado, está relacionada à incorporação tardia da Odontologia na ESF. Esse fato possibilitou o desenvolvimento da crença errônea de que os cuidados em saúde bucal não faziam parte das necessidades básicas da população e seus profissionais não compunham a equipe mínima definida pela portaria ministerial que regulamentava a ESF. Nesse sentido, houve necessidade de sensibilização gestora para a integração de todos os profissionais da ESF. Houve, inclusive, necessidade de reuniões periódicas para que o planejamento das equipes fosse feito coletivo e baseado nas necessidades da população adscrita. Além disso, foi necessário conscientizar a equipe de que as ações de visita domiciliar precisariam ser assumidas por todos os membros. Houve, ainda, o desafio econômico para que o município realizasse as obras de infraestrutura dos consultórios odontológicos das UBS, a fim de adequá-los às exigências da ESF. Esse problema foi equacionado pela intensa negociação política com o objetivo de levantar recursos que complementassem o incentivo financeiro do governo federal e o fomento do Programa Pró-Saúde, ambos interessados no reaperalhamento da rede de serviços de Atenção Básica, cujo real beneficiário da reestruturação seria a população vassourense. Uma vez iniciado o trabalho das ESB na ESF, a dificuldade que as equipes enfrentaram no cumprimento das metas estabelecidas pelo programa foi, em grande parte, devido ao não cumprimento da carga horária proposta para os profissionais, acostumados a deixarem as unidades de saúde logo após terminarem seus atendimentos clínicos. Tal dificuldade exigiu da gestão de saúde bucal empenho em conscientizar os profissionais não só da mudança que o trabalho em ESF trazia, mas também da corresponsabilidade que assumem quando aceitam serem profissionais de família, e não mais de procedimentos isolados. Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 51 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ Os desafios enfrentados pelos gestores da saúde bucal de Vassouras na implantação das ESB na ESF assemelham-se aos enfrentados pela maioria dos municípios, cuja rede de serviços é composta por profissionais com uma concepção biomédica da abordagem no campo da saúde. Somadas a isso, as dificuldades financeiras em reorganizar sua atenção básica à saúde em função do grande gasto com os níveis mais complexos da assistência, produto do modelo hegemônico na área. Mas o diferencial em qualquer nível de gestão é o empenho político associado ao conhecimento técnico voltados para um modelo de saúde que seja usuário centrado. Revista Pró-univerSUS, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 43-54, jul./dez., 2010 52 Desafios Enfrentados pelo Gestor Municipal para Implantação das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família em Vassouras/RJ Carla Simone Ruas Silva - Marcos Alex Mendes da Silva - Maria Cristina Almeida de Souza Rogéria Costa de Paula ____________________________________________________________________________________ Referências Bibliográficas Brasil. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996. Norma Operacional Básica - SUS/1996. In: COSEMS-RJ. Manual do Gestor: Construindo o SUS no Rio de Janeiro. ________. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília/DF, 1988. ________. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999. Manual para a organização da Atenção Básica. 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