2015 18 Carta Social FOLHA INFORMATIVA Mais Informação sobre a Rede de Serviços e Equipamentos Nota introdutória A presente Folha Informativa visa contribuir para aprofundar o conhecimento sobre os desafios do envelhecimento populacional para as políticas sociais em Portugal. Num primeiro momento aborda-se a questão do envelhecimento demográfico na sociedade portuguesa, havendo ainda espaço para uma breve reflexão sobre os potenciais riscos sociais para a população idosa num futuro próximo. Num segundo momento, procurarse-á debater o papel das redes informais e formais de apoio aos idosos, conferindo finalmente um especial enfoque à resposta social “Estrutura Carta Social Folha Informativa n.º18, Agosto 2015 Residencial para Pessoas Idosas” (ERPI). Neste sentido apresenta-se uma breve caracterização relativamente ao “estado da arte” desta resposta social com base na informação mais recente da Carta Social. Serão objeto de análise questões relevantes a este nível como a cobertura concelhia e a taxa de utilização das ERPI em 2014 e a caracterização dos utentes. Dada a relevância e complexidade do tema em debate, algumas das questões levantadas merecerão um maior aprofundamento em futuras análises. www.cartasocial.pt Gabinete de Estratégia e Planeamento Carta Social | Folha Informativa n.º 18, Agosto, de 2015| www.cartasocial.pt | Gabinete de Estratégia e Planeamento 2 4 Carta Social | Folha Informativa n.º 18, Agosto 2015 | www.cartasocial.pt | Gabinete de Estratégia e Planeamento O desafio social do envelhecimento em Portugal “O aumento das populações seniores face à diminuição da população ativa, associado à diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade ao longo das últimas décadas, tem vindo a acentuar o envelhecimento da sociedade portuguesa e do resto da Europa” (CES, 2013). Segundo o documento do Conselho Económico e Social (CES) sobre as consequências económicas e sociais decorrentes do envelhecimento populacional, de 2013, mas cujas premissas se encontram atuais face às últimas projeções demográficas, os países da União Europeia passarão nas próximas décadas a dispor de um rácio de apenas 2 pessoas em idade ativa, para cada pessoa com 65 ou mais anos. Segundo os Censos 2011, em Portugal, enquanto o índice de envelhecimento da população portuguesa era 128, o significa que, por cada 100 jovens, existiam já 128 pessoas com 65 ou mais anos, o índice de longevidade, ou seja, o número de pessoas com 80 e mais anos por cada 100 pessoas com 65 e mais anos era 48. Ainda de acordo com o INE, em 2030, a população com mais de 50 anos representará cerca de 50% da população e uma em cada quatro pessoas terá 65 e mais anos. Por outro lado, o aumento da esperança média de vida e o envelhecimento da população não acarretam só aspetos negativos, também podem ser encarados como resultantes de fatores de progresso social na sociedade portuguesa, nomeadamente nas áreas da educação, saúde e condições de vida . Índice de Envelhecimento em Portugal 160,0 140,0 138,6 121,6 120,0 98,8 101,6 100,0 80,0 65,7 60,0 43,8 40,0 20,0 Índice de envelhecimento 27,5 32,9 0,0 1961 1970 1980 1990 2000 2001 2010 2014 1 | Evolução do Índice de Envelhecimento (1961-2014) Fonte: INE/PORDATA (Adaptado) Para a maioria dos autores neste campo, o envelhecimento é um processo gradual inerente à vida humana, que se inicia no nascimento terminando apenas ao final da vida do indivíduo. Contudo, é na velhice que este processo aparece de forma mais evidente, nomeadamente pelo acentuar das modificações que se observam na pessoa idosa, nomeadamente ao nível biológico, psicológico e social/relacional. Por outro lado, o estatuto de “idoso” é sobretudo conferido pela sociedade, ao determinar uma idade padrão para o início da velhice (65 anos), independentemente das faculdades físicas e mentais de cada cidadão. O citado documento de referência do CES identificou como atuais fatores de risco social para a população idosa em Portugal: a ausência ou diminuição de rendimentos, face ao aumento do custo de vida; a solidão e a inatividade; e a diminuição brusca da participação deste grupo social na atividade económica, sobretudo após 2008. Ainda segundo o CES, os fatores de risco descritos potenciam o empobrecimento desta população. Neste particular e de acordo com os resultados do estudo EUROSTAT (2013) “At risk of poverty or social exclusion by age group”, no ano de 2011, a população com 65 e mais anos em risco de pobreza ou de exclusão social em Portugal era de 24,5%. Neste âmbito, segundo o estudo de Asghar Zaidi (2010), “Population aging and financial and social sustainability challenges of pension systems in Europe: a cross-national perspective”, Portugal surge como o país da União Europeia em que se perspetiva um maior risco de pobreza nos idosos no futuro (2046). Para além dos constrangimentos a nível económico, a população idosa portuguesa enfrenta um sério problema ao nível da solidão e do isolamento. Em 2011, de acordo com os Censos, quase metade (47%) do total de pessoas a viver sozinhas eram idosos. Ainda segundo a mesma fonte, cerca de 60% dos idosos tinham 75 ou mais anos. Perante os desafios sociais expostos, os próximos pontos incidirão no papel das redes informais e formais de apoio à população idosa com especial enfâse, no contributo da resposta social “Estrutura Residencial para Pessoas Idosas”. Carta Social | Folha Informativa n.º 18, Agosto 2015 | www.cartasocial.pt | Gabinete de Estratégia e Planeamento O papel das redes informais e formais de apoio aos idosos Com o objetivo de fazer face aos problemas sociais constatados no ponto anterior, entre outros, continuam a subsistir em Portugal dois tipos de redes de suporte às pessoas idosas, principalmente às que se encontram em situação de dependência: as redes de apoio informal e as redes de apoio formal. As primeiras, nas quais se inclui a família, os vizinhos, ou amigos, embora ainda assumam um papel muito significativo em Portugal, em especial nas zonas rurais e/ou do interior, têm vindo no entanto a perder relevância social em virtude das progressivas alterações observadas no seio da estrutura familiar que limitam a capacidade de acompanhar e cuidar das gerações mais velhas. Num outro plano, coexistindo com as redes informais, refira-se a importância das redes formais de proteção social. Neste âmbito inscrevem-se um conjunto vasto de programas e medidas que asseguram a concessão de prestações pecuniárias ou em espécie, como é o caso dos serviços disponibilizados através da rede de serviços e equipamentos sociais. Esta Rede, disseminada por todo o território nacional, engloba instituições de natureza solidária, pública e lucrativa e constitui-se como um vértice fundamental no domínio da ação social, com especial enfoque no que concerne aos cuidados a ascendentes e descendentes. Neste contexto, a presente Folha Informativa apresenta uma breve caracterização sobre a resposta social “Estrutura Residencial para Pessoas Idosas” (ERPI). Independentemente de nos últimos anos a aposta mais forte em termos de respostas sociais de apoio à população idosa tenha priorizado o “Serviço de Apoio Domiciliário”, à luz do paradigma da manutenção do idoso por um maior período de tempo possível no seu contexto natural de vida, o facto é que num determinado momento da vida do indivíduo, o grau de dependência aumentará tanto que será difícil prosseguir o apoio através desta resposta social. Desta forma, o Serviço de Apoio Domiciliário não deverá ser encarado como uma resposta concorrencial ou como uma alternativa à ERPI mas como uma valência complementar, daí a sua efetiva necessidade. 3 4 A resposta social ERPI – Caracterização em 2014 e contributo social Considera-se uma “Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, o estabelecimento para alojamento coletivo, de utilização temporária ou permanente, em que sejam desenvolvidas atividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem. A estrutura residencial pode assumir um das seguintes modalidades de alojamento: a) Tipologias habitacionais, designadamente apartamentos e ou moradias; b) Quartos e c) Tipologias habitacionais em conjunto com o alojamento em quartos”. Em 2014, último ano com informação disponível no âmbito da Carta Social, existiam em Portugal Continental um total de 2.313 ERPI em funcionamento, cobrindo geograficamente todos os concelhos do Continente. A capacidade instalada desta resposta ascende atualmente a 89.660 lugares, sendo frequentada por um total de 82.011 utentes, o que perfaz uma taxa de utilização de 91,05%. Segundo os dados mais recentes da Carta Social, a utilização da ERPI tem vindo a descer nos últimos anos, situação que poderá ser reflexo do contexto de crise económica que o país tem vindo a atravessar e do aumento do número de novos lugares. ERPI – Capacidade instalada e número de utentes (2014) 92000 90000 89666 88000 86000 84000 82011 82000 80000 78000 Capacidade Número de utentes 2 | Capacidade instalada e número de utentes da resposta social ERPI (2014) Fonte: GEP -MSESS, Carta Social No que concerne à caracterização dos utentes que frequentavam as ERPI em 2014, observa-se que, de uma maneira geral, o utilizador tipo desta resposta é maioritariamente do género feminino (69,5%), tem idade avançada (65,8% com 85 ou mais anos) e um grau de dependência elevado (79,5%). 4_4 Carta Social | Folha Informativa n.º 18, Agosto 2015 | www.cartasocial.pt | Gabinete de Estratégia e Planeamento ERPI – Distribuição dos utentes por escalão etário (2014) ≥ 95 anos; 3,7% ERPI – Taxa de cobertura concelhia 2014 < 65 anos; 7,3% 65 aos 69 anos; 4,4 90 aos 94 anos; 12,6% 70 aos 74 anos; 7,3% 75 aos 79 anos; 15,3% 85 aos 89 anos; 22,3% 80 aos 84 anos; 27,2% 3 |Distribuição percentual dos utentes da ERPI por escalão etário (2014) Fonte: GEP -MSESS, Carta Social De acordo com os dados da Carta Social, em 2014, relativamente à cobertura (Continente), das principais respostas sociais para a população idosa (ERPI, SAD idosos e Centro de Dia), foi apurada uma taxa de 12,7%. O mapa que de seguida se apresenta ilustra a cobertura concelhia da resposta social ERPI no ano de 2014, podendo-se observar que enquanto nos concelhos do litoral, incluindo as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, a cobertura é menor, os concelhos do interior são os que apresentam um melhor nível de cobertura. 4 |Mapa - taxa de cobertura concelhia da resposta social ERPI (2014) Fonte: GEP -MSESS, Carta Social Dada a complexidade de algumas das questões aqui observadas, esta temática merecerá desenvolvimento num âmbito mais detalhado em futuras análises. Consulte a Carta Social FICHA TÉCNICA TÍTULO: Carta Social – Folha Informativa n.º 18 – Agosto 2015 EDITOR: Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) AUTOR: Equipa Multidisciplinar de Análise de Políticas e Economia Social DESIGN GRÁFICO: Equipa Multidisciplinar de Análise de Políticas e Economia Social PERIODICIDADE: Trimestral ISSN: 1747-3434 Gabinete de Estratégia e Planeamento Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social Praça de Londres, n.º 2 - 5.º andar 1049-056 Lisboa Tel. 21 115 50 00 Fax. 21 115 50 92 E-mail: [email protected] www.cartasocial.pt MINISTÉRIO DA SOLIDARIEDADE, EMPREGO E SEGURANÇA SOCIAL