Título do Artigo: Educação Empreendedora e a Alfabetização
Científica e Tecnológica: possibilidades de um diálogo
Nome da Autora: Leonides Silva Gomes de Mello
Instituição de Vínculo: Faculdade Estácio de Alagoas – FAL
Resumo: O objetivo deste trabalho é buscar possibilidades de
um diálogo entre a Educação Empreendedora (EE) e a
Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT). Fundamentou-se
este artigo em textos de EE e ACT, bem como em uma pesquisa
etnográfica realizada na comunidade de artesãos de filé no
Pontal da Barra, em Maceió, Alagoas. Com base na literatura e
nas pesquisas in loco, ratificaram-se as expectativas,
inicialmente propostas, para a concretização do diálogo entre EE
e ACT como um fator diferencial para a formação do cidadão
empreendedor naquela comunidade.
Palavras Chave: educação empreendedora. alfabetização
científica e tecnológica. formação do cidadão.
Abstract: The objective of this study is to seek opportunities for
dialogue between the Entrepreneurial Education (EE) and
Scientific and Technological Literacy (STL). This article was
based on texts by EE and STL, as well as an ethnographic
research conducted in the community of artisans fillet in Pontal
da Barra, in Maceió, Alagoas. Based on the literature and
research on the spot, have ratified the expectations, initially
proposed for the achievement of the dialogue between EE and
STL as a differentiating factor for the formation of the citizen
entrepreneur
that
community.
Keywords: entrepreneurship education. scientific
technological literacy. formation of the citizen.
and
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Educação Empreendedora e a Alfabetização Científica e
Tecnológica: possibilidades de um diálogo
Resumo: O objetivo deste trabalho é buscar possibilidades de
um diálogo entre a Educação Empreendedora (EE) e a
Alfabetização Científica e Tecnológica (ACT). Fundamentou-se
este artigo em textos de EE e ACT, bem como em uma pesquisa
etnográfica realizada na comunidade de artesãos de filé no
Pontal da Barra, em Maceió, Alagoas. Com base na literatura e
nas pesquisas in loco, ratificaram-se as expectativas,
inicialmente propostas, para a concretização do diálogo entre EE
e ACT como um fator diferencial para a formação do cidadão
empreendedor naquela comunidade.
Palavras Chave: educação empreendedora. alfabetização
científica e tecnológica. formação do cidadão.
Abstract: The objective of this study is to seek opportunities for
dialogue between the Entrepreneurial Education (EE) and
Scientific and Technological Literacy (STL). This article was
based on texts by EE and STL, as well as an ethnographic
research conducted in the community of artisans fillet in Pontal
da Barra, in Maceió, Alagoas. Based on the literature and
research on the spot, have ratified the expectations, initially
proposed for the achievement of the dialogue between EE and
STL as a differentiating factor for the formation of the citizen
entrepreneur
that
community.
Keywords: entrepreneurship education. scientific
technological literacy. formation of the citizen.
and
INTRODUÇÃO
As atuais perspectivas educacionais, no Brasil, apontam
para um país que carece de investimentos na busca para
universalizar o acesso à educação, melhorar a qualidade da
escola e oferecer educação continuada aos indivíduos. Itens que
são básicos para a possibilidade de inserção no mercado de
trabalho, tanto atual quanto futuro, da comunidade
estudantil/trabalhadora.
As exigências na formação do trabalhador vêm
forçando as instituições de ensino a proporem mudanças no
modelo de educação que predomina no Brasil. Os especialistas
consideram que tal modelo, até então preponderante, de cunho
eminentemente fordista, deve abrir espaço para uma formação
generalista e humanista, capaz de incorporar uma visão do modo
de organização da sociedade.
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A missão das escolas está hoje mais complexa, à
medida que procura novos tipos de educação em relação ao
próprio desenvolvimento social, cria novas metodologias,
utiliza-se de recursos para a melhor formação do cidadão e gera
parâmetros de comportamentos, atitudes e estratégias em busca
da qualidade de vida do trabalhador.
Esse novo trabalhador deverá possuir conhecimentos
científicos, habilidades de comunicação verbal e escrita,
capacidade decisória e, principalmente, informações que
possibilitem o exercício da cidadania. Em suma, o conhecimento
como uma proposta de educação continuada baseada no próprio
interesse do aluno. Nessa perspectiva, o currículo escolar deve
enfatizar, preponderantemente, o porquê fazer e não apenas o
como fazer.
A sociedade, hoje, exige uma escola que ensine
competências que visam á construção do desenvolvimento
humano, buscando o fim da exclusão seja ela econômica e/ou
social. Inovar e criar um equilíbrio, utilizando os recursos
disponíveis de forma criativa e objetivando a transformação do
ambiente social e econômico onde se vive, é empreender
(DOLABELA, 1999; DORNELAS, 2005).
O empreendedor é aquele que identifica oportunidades,
questiona, sistematiza suas ações e descobre os caminhos
adequados, a partir de reflexões, para inovar usando a
criatividade e os recursos disponíveis para uma transformação
do ser e não apenas do fazer, ou seja, uma transformação crítica
e cultural.
De acordo com Chassot (2003, p. 38),
Poderíamos considerar a alfabetização científica como o
conjunto de conhecimentos que facilitaria aos homens e
mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem, [...] seria
desejável que os alfabetizados cientificamente não apenas
tivessem facilitada a leitura do mundo em que vivem, mas
entendessem as necessidades de transformá-lo, e transformá-lo
para melhor (grifo do autor).
Percebe-se, assim, uma possibilidade de convergência
entre os interesses da EE e da ACT: enquanto a alfabetização
científica e tecnológica busca facilitar a leitura do mundo, o
empreendedorismo visa a transformação deste mesmo mundo.
Os dois, EE e ACT, têm como finalidade o crescimento humano
e o pleno exercício da cidadania.
Partindo, então, das considerações explicitadas sobre
empreendedorismo e ACT, pretende-se mostrar as
possibilidades de diálogo e convergências existentes entre uma
EE e ACT, de forma concomitante, numa comunidade de
artesãos de filé, em Maceió, Alagoas.
CONTEXTUALIZANDO A COMUNIDADE EM ESTUDO
E O ARTESANATO EM FILÉ
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Em novembro de 1807, quando a rainha D. Maria I, o
príncipe regente e toda a Corte portuguesa fugiram para o Brasil,
segundo relatos de Gomes (2007, p. 30), não poderiam imaginar
que estavam trazendo na bagagem um trabalho de artesanato que
seria incrustado na região nordeste do Brasil, mais
especificamente na cidade de Maceió, Estado de Alagoas, às
margens da Lagoa Mundaú – trabalho este denominado filé que
consiste num bordado sobre uma rede semelhante às redes de
pescar.
A técnica foi trazida pelas mulheres portuguesas, que
ainda hoje conservam a prática desta atividade em território
europeu. No lado de cá do Atlântico surgiram novos padrões e
cores, graças à influência da flora local, do gosto tropical e das
inter-relações étnicas. O artesanato está espalhado através de
toda a zona costeira que tem a pesca como atividade
predominante, talvez por isso os bordados em redes,
semelhantes às redes usadas pelos pescadores.
Acredita-se que as mulheres dos pescadores, ao
consertarem as redes de pesca de seus maridos, foram
descobrindo a possibilidade de fazer um trabalho artesanal sobre
as redes e daí surgiu o trabalho em filé. Inicialmente, apenas
como lazer e para decoração de suas residências (com panos de
bandeja, passadeiras de mesa, enfim, os mais diversos adornos),
mais tarde como possibilidade de aumentar a renda familiar com
a venda de seus produtos que começaram a ser incrementados
com novos desenhos e, também, como vestimentas.
Vários são os trabalhos de renda característicos do
Brasil, especialmente do nordeste brasileiro, dentre os quais
possuem destaque: filé, rendendê, labirinto, renda de bilros,
boa-noite e singeleza.
Maceió, capital do estado brasileiro de Alagoas,
localizada no nordeste do país, tem uma população de 874.014
habitantes (BRASIL,
2007)
e um território
de,
aproximadamente, 511 km². Integra, com outros dez municípios,
a Região Metropolitana de Maceió, somando um total de cerca
de 1,1 milhão de habitantes (BRASIL, 2007). Sua altitude média
é de sete metros acima do nível do mar, e tem uma temperatura
que oscila entre 20° e 30°C, durante todo o ano. O município
situa-se entre o Oceano Atlântico, que o presenteia com o
conjunto de belas praias urbanas, e a lagoa Mundaú, que tem
grande importância econômica para os povoados de pescadores
que vivem em sua margem.
Às margens desta bela lagoa encontram-se as filezeiras
do Pontal da Barra – bairro bucólico entre o mar e a lagoa, que
surgiu de uma aldeia de pescadores. As mulheres procuravam o
que fazer enquanto os maridos pescavam e encontraram uma
boa fonte de renda: o filé, que, segundo Dantas (2009, p. 139),
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garante a Alagoas a posição de maior centro de produção do filé
no país, seguido pelo Ceará e por Santa Catarina.
A técnica do filé tem sido transmitida de mãe para
filha. Sua confecção tem como base uma rede semelhante às
redes de pescar, justificando o adágio popular “onde há rede, há
renda”. Em Dantas (2009, p. 138) encontramos: “Enquanto os
homens pescam, as mulheres tecem. E só as mulheres tecem e
bordam, em Alagoas, salvo poucas exceções. Rendando e
bordando, elas participam ou mantêm a receita familiar, no
mesmo tempo em que ajudam a preservar a rede da nossa
identidade cultural”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO:
Não só de aspectos físicos se constitui a cultura de um povo.
Há muito mais, contido nas tradições, no folclore, nos saberes,
nas línguas, nas festas e em diversos outros aspectos e
manisfetações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados
coletivamente e modificados ao longo do tempo. A essa porção
intangível da herança cultural dos povos, dá-se o nome de
patrimônio cultural imaterial. (UNESCO, 2010).
Partindo dessa premissa, Barros (2007) afirma que a
renda filé alagoana, ao trazer traços característicos da
informação memorialista – se perpetua e se propaga como
identidade cultural de um povo através do tecer e do ensinar a
tecer coletivamente – faz parte da cultura e da história de
Alagoas.
O filé, ainda segundo Dantas (2009, p. 139), está
concentrado nos municípios da zona dos canais e lagunas:
Pontal da Barra, em Maceió; Marechal Deodoro; Santa Luzia do
Norte; Coqueiro Seco e Fernão Velho, onde duas importantes
lagunas formam este complexo – Mundaú e Manguaba. Fora da
zona dos canais a renda também aparece no litoral norte, sendo
Riacho Doce e Garça Torta os centros mais tradicionais e ativos.
As filezeiras conseguem aliar seu trabalho de artesãs à
vida pessoal: cuidados com a casa, filhos e maridos, pois tecem
seus filés nos intervalos das tarefas domésticas e os vendem nas
próprias casas ou por intermédio de cooperativas.
Para a confecção de uma boa peça de filé algumas
etapas são essenciais: a) preparar a rede ou grade; b) esticar a
rede no tear; c) bordar a rede; d) retirar a peça do tear, após
finalizado o bordado; e) finalizar, com o acabamento.
Todo esse trabalho vem acompanhado de uma história
de vida e de um conhecimento tácito, passado de geração a
geração (mãe para filha, avó para neta), traduzindo-se em uma
riqueza ímpar para a preservação de uma identidade cultural.
Percebe-se que as filezeiras tramam suas redes e tecem
seus trabalhos desenvolvendo belas peças e nem se apercebem
da riqueza ali tecida. Trabalho rico para o desenvolvimento de
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um povo, de uma comunidade, de uma cultura trazida por
nossos antepassados e incrustrada numa zona lacunar de
pescadores na cidade de Maceió.
Um trabalho artesanal de rara beleza, que se destaca
pelos detalhes, pela criatividade, pela inovação de cada peça, de
cada ponto, enfim, de um conhecimento construído através de
gerações, que tem sustentado a comunidade do Pontal da Barra,
tão carente de políticas públicas que a ampare nas necessidades
mais básicas e necessárias para uma vida digna.
Esse cenário de beleza, simplicidade e muita riqueza
cultural foi palco para uma pesquisa que teve como finalidade
conhecer e analisar a realidade dos artesãos e artesãs de filé do
Pontal da Barra, visando verificar a possibilidade de realizar um
trabalho de empreendedorismo aliado à ACT, com o intuito de
levar àquela comunidade formas de valorizar o saber popular em
consonância com o saber científico.
DESVENDANDO O TRABALHO ARTESANAL
Utilizamos como estratégia a informalidade dos
questionamentos para motivar um relato espontâneo sobre a
formação da comunidade: como chegaram àquele bairro, como
aprenderam a tecer o filé e que relação foi estabelecida com a
escola e a educação formal. As entrevistas foram realizadas in
loco com 25 (vinte e cinco) filezeiras (os) de Alagoas,
moradores do Pontal da Barra, no período compreendido entre
agosto e novembro de 2009, com o intuito de observar, ouvir e
perceber um pouco da realidade daquela comunidade. O
principal critério utilizado para seleção dos artesãos pesquisados
era que trabalhassem tecendo e vendendo o filé e não apenas
vendendo o artesanato no Pontal da Barra, pois esta foi a forma
encontrada para que pudéssemos perceber as relações de poder,
bem como o processo de transformação ali existentes – formas
de comercializar e empreender.
Através da observação, tivemos a possibilidade de
perceber como vivem aqueles artesãos no seu dia a dia: crenças,
mitos, cultura, enfim, ali estava a vida de cada um a nossa
frente. Esta técnica de pesquisa nos remete ao cotidiano do
pesquisado, inserindo-nos naquele meio como um espectadorparticipante.
Por meio das entrevistas, tivemos a possibilidade de
descobrir alguns fatores presentes naquela comunidade de
grande importância para o nosso trabalho, pois essa técnica tem
como princípio possibilitar que as questões surjam ao longo da
conversa, encorajando e orientando a participação do
entrevistado, permitindo ao entrevistador a percepção das
individualidades e mudanças da comunidade. Cabe ressaltar que
todas as informações aqui colocadas foram autorizadas pelos
artesãos de filé do Pontal da Barra, ouvidos pela autora.
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Foi possível perceber a forma como tecem as peças e
depois as expõem para comercializar o trabalho, deixando
transparecer os problemas advindos da falta de conhecimento de
algumas regras que podem concorrer para a melhoria e
crescimento das vendas: design dos produtos, arrumação das
peças nos locais de exposição, falta de versatilidade nas vendas,
além da falta de infraestrutura local para o negócio.
Foram feitos contatos que propiciaram descobertas
importantes sobre a cultura da região e ocorreram muitas
conversas nos quintais e portas de lojas/casas, pois tais locais
serviam também como espaço para a comercialização dos
produtos. Interessante destacar que cada um dos entrevistados
queria fazer de seus discursos os mais verdadeiros em
detrimento dos de outros, além de compartilharem histórias de
vida contadas e recontadas: o passado remexido, o presente a
nossa frente e, para o futuro, muitas esperanças, sugestões,
anseios e confiança de dias melhores.
Em um segundo momento, após elaboração do
programa a ser trabalhado com a comunidade, juntamente com
os artesãos que participaram das pesquisas e de uma reunião no
Pontal da Barra, iniciamos um trabalho que consistia em aulas
de ACT para aqueles artesãos.
Um dos módulos versou sobre a questão das atitudes e
comportamentos dos artesãos na compra e venda do filé,
envolvendo a cadeia produtiva daquele artesanato e suas
relações de poder.
Ali os artesãos puderam explicitar claramente o diálogo
existente entre EE e ACT em vários momentos, conforme os
relatos abaixo:
Artesão 1 - A gente precisa ter organização. Tem que
se organizá. Não dá pra tá atendendo a 10 pessoas ao mesmo
tempo, porque você não atende bem.
Artesão 2 - Não dá pra você está ali tecendo o filé,
chegam as pessoas pra comprar e você não dá atenção pra elas.
Você até pode ter uma forma de atrair, de chamar pra que eles
tirem foto.
Artesão 3 - Fazer sempre diferente, tá sempre
buscando alguma coisa nova, diferente, imaginando, criando a
necessidade dos outros.
Artesão 4 – Tem as senhoras que bordam, mas que
também engomam. Às vezes elas não tem tempo nem de bordar,
porque elas lavam, esticam e engomam.
Artesão 5 - É uma grande identificação de cada um que
está aqui. Por quê? Porque as pessoas que fazem parte são
conhecidas, da nossa comunidade, falar da nossa história, falar
da nossa vida, falar do nosso convívio.
Percebem-se as relações entre o fazer diferente
procurando novas oportunidades (empreendedorismo), segundo
Dolabela (1999), e a formação de novas atitudes,
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comportamentos (VAZQUEZ; MANASSERO, 2007), ou seja,
características do empreendedorismo que dialogam com a
alfabetização científica e tecnológica.
Percebemos como as atitudes do dia a dia podem
influenciar no aumento ou redução das vendas, levando aos
artesãos dias mais ou menos promissores, de acordo com seus
planejamentos, execução e implementação do trabalho e da vida.
EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA
A EE também conhecida como
Empreendedora, conforme Dolabela (2004, p. 2),
Pedagogia
[...] possui foco na comunidade, e não no indivíduo.
Porém, trabalha-se o indivíduo porque, dentro da Pedagogia
Empreendedora, o empreendedor é um indivíduo que gera
utilidade para os outros, que gera valor positivo para sua
comunidade. Assim, procura-se desenvolver as comunidades
através das pessoas.
Na verdade, as comunidades aprendem, crescem, geram
riquezas, criam autonomia e possuem cidadania através de seus
membros, individualmente, quando (re)criam os conhecimentos
e os difundem no seio do seu grupo social.
A metodologia da educação empreendedora leva à
comunidade a possibilidade da transformação de sonhos em
realidade quando
“[...] dispara um processo de criação, de criatividade, pondo
em uso todo o patrimônio existencial do aluno, que é diverso,
que é único. Assim, ele se sente capaz e comprometido com a
criação de seus próprios caminhos.” (DOLABELA, 2004, p. 2).
Para Schirlo et al. ( 2009, p. 5-6),
Educar por meio da educação empreendedora não é apenas
ensinar ferramentas e, tampouco, apresentar instrumentos. O
professor para propiciar uma educação empreendedora precisa
rever os métodos de ensino e os conceitos de aprendizagem.
Dolabela (2003, p. 83) acrescenta, “A construção do
conhecimento parte de situações reais capazes de criar vínculos
naturais entre os conhecimentos anteriores e os novos
conhecimentos do aluno”.
Portanto, fica evidenciada a necessidade de um sistema
capaz de trazer a realidade do aluno para dentro dos espaços de
aprendizagem onde a escola seja, realmente, formadora de
opinião, respeitando a dignidade e a autonomia do aluno, e não
apenas um lugar para a transmissão de saberes novos,
corroborando o que Freire (1996, p. 22) já afirmava, que
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (grifo
do original)
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A EE utiliza-se de situações reais, do dia a dia, para,
por meio delas, exemplificar e trabalhar a aprendizagem
necessária à realização do sonho de cada empreendedor. Faz-se
imprescindível a criação de um ambiente de aprendizagem
permanente, onde cada aluno mobilizará seus conhecimentos já
adquiridos e, através de uma cultura empreendedora, criativa e
participativa, desenvolverá suas próprias ferramentas para o
empreendedorismo.
Segundo Schirlo et al. (2009, p. 7),
Visando ir ao encontro das características empreendedoras, a
base da aprendizagem de um empreendedor deve estar
relacionada aos estudos dos comportamentos e atitudes que
conduzem à inovação, à capacidade de transformação do
mundo, à geração de riquezas. Dessa forma, a escola não pode
ficar de fora da ação empreendedora, para tanto, ela precisa
ampliar seu currículo, pois só assim poderá transformar os
conhecimentos das Ciências, da Tecnologia e das Políticas em
riquezas sociais.
No entanto, acredita-se que esta escola só poderá
acontecer quando os professores aprenderem a questionar o
impacto social de suas práticas e teorizar o campo científico
desta prática frente à complexidade do sistema de pensamento
que atualmente se exige das respostas que os problemas sociais,
econômicos e técnico-científicos solicitam (AMARAL, 2009).
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
A aquisição de novos conhecimentos funciona como
molas propulsoras para uma autonomia social do cidadão.
Lembrando que autonomia deve ser entendida como a
possibilidade de dizer a sua palavra e de ouvir a si próprio,
mesmo que essa palavra não seja idêntica à ensinada (FREIRE,
1967; FOUREZ, 2008).
As propostas para uma Alfabetização Científica e
Tecnológica devem estar associadas a uma abordagem
interdisciplinar e voltada ao mundo do educando, em que
ciência, tecnologia e sociedade se interrelacionam.
Para Fourez (1997), uma pessoa pode ser considerada
cientifica e tecnologicamente alfabetizada quando seus saberes
lhe proporcionam determinada autonomia, certa capacidade de
comunicação, domínio e responsabilidade frente a situações
concretas. Será que os alunos estão sendo preparados para
aquisição dessas competências? Será que os professores
brasileiros estão preparados para oferecer esse tipo de educação?
Por que não mostramos aos alunos os caminhos que podem ser
percorridos para o fortalecimento da autonomia e, ao contrário,
insistimos em revelar as soluções fazendo-os dependentes e
carentes de autoconfiança? “Ensinar é, de certa maneira,
desestabilizar o sistema de conhecimentos do aluno ou seu
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sistema de valores, para pô-lo diante de outra representação ou
de outro valor” (FOUREZ, 2008, p. 44). Como os docentes, não
preparados para essa prática, poderão realizá-la de forma
satisfatória?
Fourez (1997) defende a ideia de que não basta definir
a ACT com propósitos exclusivamente voltados a finalidades
sociais, pois outros objetivos se fazem presentes para a
concretização de uma ACT. Às finalidades sociais devem ser
acrescentadas finalidades éticas, pessoais, econômicas, dentre
outras.
Segundo Amaral (2009, p. 1870),
[...] a presença de currículos propedêuticos voltados à
formação essencialmente científica ainda persistem e não dão
mais conta de atender à diversidade cultural dos aprendizes e
das questões que envolvem a sociedade do século XXI.
As questões científicas, culturais, sociais e econômicas
que emergiram no século XXI conclamam a comunidade
científica para uma análise de suas causas, consequências e
possibilidades de soluções urgentes, visando a um mundo
melhor e a condições de qualidade de vida à população,
principalmente, aquela menos favorecida e, regra geral, a mais
sofrida – comunidade que, muitas vezes já nem sonha mais. A
presença constante do sofrimento, da violência, da
discriminação, da pobreza, da exclusão social, resultado de um
mundo globalizado, traz à tona a necessidade de uma educação
crítica onde aqueles atores tenham a capacidade de exercitar a
cidadania, por meio da ciência empreendedora.
CONCLUSÃO
O diálogo proposto nesta exposição propiciou um
acesso a informações de natureza tanto individual quanto
coletiva sobre a comunidade de artesãos aqui estudada, o que
permitiu uma maior visibilidade a respeito de questões que
envolvem educação, ciência e empreendedorismo na região.
A análise das entrevistas deixou claro que o trabalho
em filé faz parte da vida da comunidade do Pontal da Barra, pois
praticamente todos os moradores vivem dessa produção cultural.
Alguns vendem o que tecem e, também, revendem o trabalho de
outros artesãos (geralmente os mais abastados, que possuem loja
na rua principal do bairro), enquanto outros vendem apenas a
sua produção (em geral os mais carentes e com menor grau de
instrução) – demonstração clara da pirâmide organizacional do
poder econômico e social.
Hoje, homens, mulheres e crianças tecem o filé naquele
bairro. As crianças aprendem desde pequenas a trabalhar com
um tear, algumas aos sete anos já bordam e/ou fazem a rede –
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base desse tipo de trabalho. A rede, segundo relato dos artesãos
pesquisados, é o mais trabalhoso e que demanda mais tempo
para ser feito, por isso vários deles compram a rede pronta de
artesãos mais humildes que sustentam sua família
exclusivamente com esse trabalho.
Ao longo deste trabalho, percebeu-se a necessidade de
políticas públicas estaduais voltadas àquela comunidade e que
propiciem a conscientização do papel dos artesãos no
crescimento da região, permitindo aos grupos uma participação
maior nas decisões que afetam o trabalho por eles desenvolvido.
Faz-se
imprescindível
um
trabalho
de
empreendedorismo: conscientizar os artesãos a melhorarem a
qualidade do produto tecido, diversificando-o sempre que
necessário, para não ficarem à mercê de atravessadores; orientar
para a melhor forma de comercialização do produto; discutir,
embasado na ACT, questões que envolvem o exercício da
cidadania, a poluição das lagoas, os baixos níveis de bem estar
da população, os lixões e os riscos que estes oferecem à saúde
da comunidade, as questões ergonômicas resultantes da tecedura
do filé e a relação de poderes existente na cadeia produtiva
daquele artesanato que tem provocado desigualdades e
dissidências na comunidade do Pontal da Barra.
A ACT implica, assim, em estratégias de caráter
educativo que permitam a formação de saberes
contextualizados, de modo que se tenha, enquanto cidadão, um
discurso reivindicatório que encontre audição em diferentes
setores da sociedade e contribua para o exercício da cidadania
naquela comunidade, bem como para a implantação de um
Programa de Educação Empreendedora .
Assim, aliando-se EE e ACT, a convergência de
conhecimentos, com certeza, será traduzida em uma
potencialização de saberes necessários para a democratização
responsável e consciente daqueles artesãos.
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Disponível em: www.apaceureka.org/revista/...2/Vazquez_Manassero_2007.pdf. Acesso
em: 10 dez. 2008.
IX Convibra Administração – Congresso Virtual Brasileiro de Administração – adm.convibra.com.br
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Título do Artigo: Educação Empreendedora e a