A ROMARIA VIROU CAMINHO 1 2 SILVA, F. B. DA ; TUMELERO, S. M. ; CORNELIO, P. F. O. 3 Órgão Financiador: Conselho Municipal do Meio Ambiente e Canal Futura Linha Temática: Educação Ambiental em comunidades e movimentos sociais Palavras Chaves: água, representação, participação. INTRODUÇÃO – Em Porto Alegre, as margens do Rio Guaíba antes do ano 2000 já era referenciada a Mãe das Águas, uma tradição que virou Romaria das Águas, através do Programa Pró-Guaíba, onde a manifestação religiosa incorporou as abrangências ecológica, cultural e social, segundo Foschiera & Foschiera (2009, p.5). Assim, o rito das águas, que coletava água nas nove bacias hidrográficas do Rio Guaíba e culminava no lançamento dessa água na procissão fluvial no próprio Rio Guaíba, realizada tradicionalmente no dia 12 de outubro em Porto Alegre, criou raízes, fortaleceu e transformou-se em Passo Fundo, no Caminho das Águas. O Caminho das Águas hoje é mais um Fórum, constituído por entidades e instituições governamentais e não governamentais, preocupado com as questões ambientais, interrelacionadas ao recurso natural, água. Conforme Foschiera & Foschiera (2009, p.6), passou a ser chamado Caminho das Águas, diante do desfio de atingir mais pessoas, entidades, instituições e denominações religiosas, ultrapassando a fronteira das entidades que o organizaram e em conjunto no Fórum escolheram esse nome. O Fórum Caminho das Águas se reúne mensalmente numa formação contínua dos participantes pela reflexão crítica, na busca de informações técnicas e na articulação e programação de atividades que envolvam a comunidade escolar e em geral. Busca sensibilizar as pessoas para ações de preservação e conservação da água, na região do Planalto Médio Gaúcho, onde nascem os principais rios formadores das bacias hidrográficas do Rio Guaíba e do Rio Uruguai. Rios responsáveis por banharem cerca de 70% do estado do Rio Grande do Sul. MATERIAIS E MÉTODOS – Desde 2008 o Fórum se reúne regularmente para discussões e organização do evento Caminho das Águas, antiga Romaria das Águas. Em 2008 realizou na Praça da Mãe em Passo Fundo o 8º Caminho das Águas, com o objetivo de “conscientizar a população e autoridades sobre a necessidade urgente de preservar a água, superar os problemas de escassez, evitar o desperdício e fortalecer nossa capacidade de economia e uso racional da água”. Teve a participação de 30 instituições organizadoras e um programa envolvendo, no primeiro momento o rito das águas, com uma caminhada até a Fonte da Mãe Preta, local onde se constituiu o primeiro povoado que originou Passo Fundo. O rito foi ecumênico envolveu quatro denominações religiosas, onde os representantes falaram sobre a representação simbólica da água para cada religião, fez-se um relato sobre aquele local e a origem do município e orou-se pelo alcance dos objetivos do evento. Durante todo o dia 23 de setembro, na Praça da Mãe, através de tendas temáticas, apresentações artísticas e atividades lúdicas o Fórum chamou a atenção da comunidade passante, das escolas visitantes e interessados sobre as preocupações e ações das instituições envolvidas, referente à Água. O 9º Caminho das Águas foi uma continuidade do 8º, já em outubro de 2008 iniciaram-se as reuniões, elaboração de projeto para captação de recurso e o estudo da elaboração de uma cartilha. A ideia inicial era elaborar um instrumento que motivasse as escolas desenvolverem trabalhos e projetos voltados para o tema da Água, para serem expostos no 9º Caminho das Águas. No decorrer do tempo a proposta foi se modificando. Para o encaminhamento do projeto ao Conselho Municipal do Meio Ambiente necessitou maior justificativa e adaptação as exigências de um formulário técnico. E nesse ínterim, a cartilha também foi reestruturada e ampliada, com maior número páginas e mais diversidade de conteúdo. Os processos atrasaram, mas o 9º Caminho das Águas continuou sendo programado e organizado e ocorreu no dia 29 de setembro de 2009, no Ginásio da Escola Estadual Fagundes dos Reis, com melhor estrutura e programação intensa. Em tendas temáticas as entidades e instituições apresentaram seus trabalhos e ações 1 Museu Zoobotânico Augusto Ruschi/Instituto de Ciências Biológicas/Universidade de Passo Fundo, BR 285, Km 171, Passo Fundo –RS, [email protected]. 2 Secretaria Municipal do Meio Ambiente/Prefeitura Municipal de Passo Fundo, Rua Uruguai 760, Passo Fundo-RS, [email protected]. 3 Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas, Avenida Brasil, 758 (fundos), Passo Fundo-RS, [email protected]. 2 referentes à água, no palco do ginásio, principalmente as escolas, apresentaram suas atividades artísticas sobre o tema. O rito da água foi realizado, juntando as águas trazidas de vários rios, córregos e nascentes do município, problematizando sobre a poluição da água. O rito foi realizado com a participação de dez denominações religiosas. Inter-religioso, cada denominação teve seu momento de espiritualização com a comunidade presente. E, também foi feito o lançamento da cartilha “Caminho das Águas: aprendendo e ensinando”, que após um ano de construção estava sendo entregue aos professores e entidades presentes no evento. A cartilha tem como objetivo contribuir com significados, informações, histórias e atividades sobre a água, para professores e lideranças em suas inserções pedagógicas e de formação, e como um instrumento de motivação para escolas, instituições e entidades desenvolverem projetos e trabalhos sobre a água, possibilitando a socialização dessas atividades nos eventos do Fórum Caminho das Águas. A cartilha foi elaborada com a colaboração de 35 pessoas e organizada pelo Museu Zoobotânico Augusto Ruschi do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Passo Fundo e editada pela Gráfica Battistel. De 52 páginas é composta por sete capítulos denominados: Apresentação – sobre o histórico do Caminho das Águas; Experiências – onde o Sr. João Maria Cardoso da Silva, de 74 anos, agricultor que através de seu olhar, conta a caminhada da Romaria ao Caminho; Significado da água para as denominações religiosas – o significado da água para dez denominações religiosas; Informações sobre a água – um capítulo com informações técnicas sobre diversos assuntos relacionados à água; Lendas, diálogos e histórias – informações na forma lúdica; Atividades – exercícios e atividades sobre a água; Considerações finais – informações, problematização e possibilidades. Em uma das Atividades, a cartilha propôs o Concurso Desenho Símbolo da Água, onde através do Programa Maleta Meio Ambiente do Canal Futura, recebeu apoio. Crianças de 4ª a 6ª séries (ou 5º a 7º ano) participaram apresentando um desenho sobre a representação da água de uma das denominações religiosas descrita na cartilha. O Concurso recebeu 230 desenhos de nove instituições de ensino e no dia 12 de junho de 2010, na Feira Regional de Economia Popular Solidária, foram entregue os kits de livros para dez crianças autoras dos desenhos selecionados, contemplando cinco escolas com a sacola da Economia Solidária e livros. Os desenhos foram selecionados pelos participantes do Fórum Caminho das Águas e contemplaram doze denominações religiosas, sendo que no decorrer do concurso foi incluída a representação da água para a denominação religiosa de Matriz Africana e Umbanda. Os desenhos também foram divulgados no site www.upf.br/muzar. Neste ano de 2010, o Fórum continuou se encontrando todo o mês para discussões de temas específicos, com o objetivo de formação dos participantes e construção de propostas para serem encaminhadas aos órgãos competentes, e também, pensando e organizando novas ações. RESULTADOS E DISCUSSÕES – O que fez com que o Fórum Caminho das Águas se constituísse e se mantivesse ativo não foi a obrigatoriedade da legislação ambiental que cria conselhos, comitês, fóruns, mas o direito da constituição brasileira de participação democrática e além disso e mais fortemente, a necessidade de unir forças para a construção de novas perspectivas ambientais. Muitas diferenças, mas um objetivo comum, a preservação e conservação da água, partindo da sensibilização e conscientização das pessoas comuns, faz com que pessoas, muito mais que instituições se comprometam uma com as outras e com a sociedade, fazendo algo, doando seu esforço e muitas vezes recursos financeiros, por acreditar em um processo educativo de continuidade. É um processo de educação informal, que segundo Silva (2005, p. 32-35) não tem tempo nem local determinado, e nem é hierarquicamente organizado, sendo que a liderança surge naturalmente da necessidade do contexto, uma liderança mediadora, facilitadora em um método apriorista de aprendizagem. Conforme Viezzer (2007, 37-46), é uma sinergia de interesses, a percepção de que é indispensável articulação para chegar a resultados positivos de ações a serem empreendidas por uns e outros, nesta tarefa planetária. Quanto à participação, há uma inconstância de entrada e saída de pessoas, com a persistência de uma parte, pois é uma questão de princípios e valores de uma mudança paradigmática do pessoal para o coletivo, que nem todos estão preparados, e Viezzer (2007, 37-46) reconhece que nesses movimentos “o pessoal é coletivo” e que “os grupos de poder representados pelas instituições só logram modificar seu paradigma de atuação organizacional se pessoas que neles atuam modificam seu próprio paradigma pessoal”. O autor reconhece também essas pessoas como “atores sociais”, que representam “blocos de poder” (público, econômico, do saber e da informação e da organização da sociedade civil) e colocados em sinergia podem aprender e ensinar uns aos outros. No Fórum Caminho das Águas há ainda uma pessoa diferencial, Sr. João Maria, que no próprio nome une dois gêneros, homem rural que em sua tenra idade, simplicidade, fé e persistência é aglutinador, motivador, incentivador e inspirador ao grupo continuar trabalhando, diante dos conflitos, dificuldades e conquistas, porque quer sempre mais 3 e nunca vê um processo como concluído, mas como início de outro. O meio ambiente é tão solidário e inclusivo que une religiões em sua causa e o Fórum está sendo tão desafiador que integra diferentes denominações religiosas pela educação ambiental de uma comunidade. Doze denominações unidas por um ícone ambiental, a água, competiram no Concurso Desenho Símbolo da Água respeitando suas diferenças, incluindo os marginalizados e buscando na pluralidade e inocência da criança símbolos que representassem à consciência planetária, que para Silva (2005, p.45) é a desmistificação do infinito. Além da integração das denominações religiosas, a união de pessoas e instituições na construção de um instrumento educativo simples, mas com identidade local e complementar ao livro didático, muitas vezes pouco contextualizado. Dentro de um objetivo tão amplo ao qual o Fórum Caminho das Águas se propõem atuar, ações pequenas, mas de extrema importância que envolve uma porcentagem populacional do município de Passo Fundo, já não mais controlável, e ao mesmo tempo cheio de desafios que a sociedade impõe. REFERÊNCIAS FOSCHIERA, Leonardo M.; FOSCHIERA, Elisabeth Maria. Apresentação. In: FÓRUM Caminho das Águas; MUSEU Zoobotânico Augusto Ruschi (Org.).Caminho das águas: aprendendo e ensinando. Passo Fundo: Battistel, 2009, p. 5-6. SILVA, Flávia Biondo da. A dinâmica de um museu de ciências naturais: a transformação paradigmática do Museu Zoobotânico Augusto Ruschi. 2005. 173 f. Dissertação (Mestrado em Educação) -- Universidade de Passo Fundo. VIEZZER, Moema L. Atores sociais e meio ambiente. In: FERRARO JUNIOR, Luiz Antonio (Org.). Encontros e caminhos: formação de educadores ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, 2002. V 2. p. 352.