L E Ã O , B r u n o M a c h a d o; P A S S A V A N T E , J o s é Z a n o n d e O l i v e i r a . ; S I L V A - C U N H A , M a r i a d a G ló r ia G o n ça lv e s d a ; S A N T I A G O , M a r i l e n e F e l i p e; S I L V A , M a r c os H on o r a t o F it o p l â n c t o n da p r a ia d e P i e d a d e ( J a b o a t ã o d o s G ua r a r a p es , P er na m b u c o) : T a x o n om ia e ec o l o g ia I n . C O N G R ES S O N O R D E S T I N O D E EC O L O G IA , 1 0 . 2 0 0 3 , R ec i f e R e s u m o . . . R ec i f e: 2 0 0 3 , C D - R O M , p . 1- 2 Introdução Os ecossistemas costeiros constituem regiões de alta produtividade e abundância de organismos, resultante do carreamento de nutrientes da porção continental, especialmente através dos sistemas limnético e estuarino. Estes nutrientes dão suporte à base da teia alimentar deste ecossistema, a qual encontra-se em grande parte em organismos presentes na coluna d’água. Dentre estes organismos encontra-se o fitoplâncton, formado por microalgas fotossintetizantes, sendo globalmente os mais importantes dentre os produtores primários (Boney, 1989). Nestes sistemas, a produtividade fitoplanctônica está associada não apenas ao aporte de recursos de águas continentais, mas também ao regime de marés e à pluviosidade. O conhecimento da composição florística das microalgas torna-se então importante para observar-se o dinamismo das comunidades aquáticas e organismos delas dependentes. Além disso, as algas podem servir como bioindicadoras do nível de poluição de determinada região devido, entre outros fatores, à sua resposta imediata ao aumento dos teores de nutrientes e poluentes orgânicos ou químicos. A praia de Piedade, localizada no perímetro urbano da cidade de Jaboatão dos Guararapes, sofre intensa utilização pela população local e pela rede hoteleira da cidade como local de atividades lúdicas e turísticas. Recebe, também a influência dos rios Jaboatão e Pirapama através de descargas de efluentes domésticos, industriais e do chorume, resíduo altamente poluente proveniente de lixões. Este trabalho teve por finalidade estudar as características do fitoplâncton na praia de Piedade, através de sua composição florística e ecologia, procurando verificar a possível influência dos rios Jaboatão e Pirapama em relação ao regime pluviométrico. Materiais e Métodos A praia de Piedade localiza-se entre os paralelos 08º 09’ 17” – 08º 11’ 19” Latitude sul, e aproximadamente entre 34º 54’ 30’’ e 34º 55’ 30’’ Longitude oeste, no município de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. Apresenta um banco de recifes de arenito, no qual foram selecionadas três estações para a realização deste estudo, estando as estações 1 e 3 situadas entre a barreira de recifes e a linha da costa, enquanto a estação 2 está localizada numa região desprovida de recifes situada entre as duas estações supracitadas. Para o estudo do fitoplâncton foram realizadas coletas mensais no período de abril a dezembro de 2001, em baixa-mar e preamar do mesmo dia. Os índices pluviométricos foram obtidos a partir da Estação Meteorológica de Porto de Galinhas (Ipojuca-PE), pertencente à Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA). Nestas coletas realizou-se arrastos horizontais de 5 (cinco) minutos utilizando-se uma rede de plâncton com abertura de malha de 65µm. O material filtrado foi fixado com formol neutro a 4% e levado a laboratório para análise quali-quantitativa em microscópio óptico. Dos resultados obtidos, calculou-se: a abundância relativa das espécies (A), considerando-se: raras = < 10%, pouco abundantes = 10 ≤ 30%, abundantes = 30 ≤ 50%, e dominantes = >50%; a freqüência de ocorrência (C) das mesmas, através do índice de Dajoz (1983, apud Campelo, 1999), sendo consideradas: constantes = C > 50%, acessórias = 25% ¡Ü C ¡Ü 50%, e acidentais = C <25%; e a densidade celular dos organismos fitoplanctônicos (céls . L-1), além de sua composição florística. Resultados e Discussão Os índices pluviométricos indicaram para o ano de 2001 a existência de um período de estiagem (janeiro-fevereiro/setembro-dezembro) e período chuvoso (março-agosto). O menor índice foi verificado em maio, com 9,6mm, e o maior para junho, com 380,6mm. Estas diferenças no regime de chuvas influenciam os parâmetros hidrológicos do litoral e, conseqüentemente, o fitoplâncton. Rezende e Brandini (1997), por exemplo, associaram a sucessão do fitoplâncton às alterações repentinas nos padrões de circulação local e às mudanças sazonais no regime hidrográfico da plataforma adjacente. Na praia de Piedade foram identificados 109 taxa infragenéricos, distribuíos em 5 divisões, 7 classes, 32 ordens e 45 famílias. Predominaram as diatomáceas (Chrysophyta, 75%), seguidas das cianofíceas (Cyanophyta, 12%), das clorofíceas (Chlorophyta, 6%), das euglenofíceas (Euglenophyta, 4%), e dinoflagelados (Dinophyta, 3%). As espécies dominantes encontradas foram, Heliotheca thamensis, na baixa-mar e preamar de outubro (65,83 e 63,24%, respectivamente), e Aphanocapsa litoralis, na preamar de agosto com 86,02%, para a estação 1; H. thamensis (72,77%), na baixa-mar de outubro, e A. litoralis (76,44%), na preamar de agosto, na estação 2; e Cylindrotheca closterium (60%), na baixa-mar de novembro, na estação 3. Nas 42 amostras coletadas no fitoplâncton da praia de Piedade ocorreram 12 espécies constantes: Phacus sp (73,81%), sendo esta uma importante indicadora de poluição, Paralia sulcata (52,38%), Coscinodiscus centralis (88,1%), Odontella longicruris (64,285%), Biddulphia biddulphiana (69,05%), Bellerochea malleus (66,67%), Chaetoceros sp (69,05%), Fragilaria capucina (59,52%), Asterionellopsis glacialis (59,52%), Licmophora abreviatta (59,52%), Grammatophora angulosa (52,38%), e Cylindrotheca closterium (73,81%). A menor densidade celular ocorreu em dezembro (baixa-mar), com 8,26 x 103 céls/L, enquanto as maiores ocorreram em agosto (362,72 x 103 céls/L) e outubro (204,54 x 103 céls/L), na preamar. As altas densidades fitoplanctônicas e a dominância da cianofícea Aphanocapsa litoralis verificadas em agosto, estão diretamente associadas, segundo Eskinazi-Leça et al. (1997), ao aumento do número de células durante o período chuvoso. No mês de outubro houve uma elevação no número de células/litro, com dominância da espécie Helioteca thamensis. Campelo (1999), observou para a praia de Carne de Vaca (Goiana, Pernambuco) maior densidade celular, influenciada pelas águas fluviais durante o período de estiagem. Foram encontradas espécies bentônicas e epífitas, como Gyrosigma balticum e Surirella fastuosa, e Biddulphia biddulphiana e Triceratium antediluvianum, indicando a ressuspensão do sedimento pela arrebentação das ondas na praia e a circulação de material orgânico depositado, e espécies dulciaqüícolas, como Microcystis aeruginosa (A=11,56%) e Cyclotella meneghiniana (C=30,95%), sendo esta última identificada por Eskinazi (1965/6) no estuário dos rios Jaboatão e Pirapama. Este último fato ocorre devido à influência deste estuário, próximo às estações de coleta. Conclusões A presença de Cyclotella meneghiniana, Microcystis aeruginosa e Phacus sp, espécies de água doce, indica a influência exercida pelos rios Jaboatão e Pirapama, e pela maior lagoa costeira de Pernambuco, a Olho D’água. A pequena profundidade da área de praia em sinergismo com os movimentos de marés, ressuspende o sedimento, trazendo espécies ticoplanctônicas, como Gyrosigma balticum e Triceratium antediluvianum. A área estudada apresenta alta biodiversidade, representada por 109 espécies. Referências Bibliográficas BONEY, A. D.; Phytoplankton. 2 ed. London: E. Arnold, 1989. 118 p. CAMPELO, M. J. A.; Ecologia e biomassa do microfitoplâncton da praia de Carne de Vaca (Goiana), Pernambuco. 1999. 78 f. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal) – Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1999. ESKINAZI, E.; Estudo da Barra das Jangadas. Parte VI - Distribuição das diatomáceas. Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de Pernambuco. Recife, v. 7/8, p. 17-32, 19651966. ESKINAZI-LEÇA, E.; SILVA-CUNHA, M. G. G.; KOENING, M. L.; MACÊDO, S. J.; COSTA, K. M. P.; Variação espacial e temporal do fitoplâncton na plataforma continental de Pernambuco – Brasil. Trabalhos Oceanográficos da Universidade Federal de Pernambuco. Recife. v. 25. p. 1-16. 1997. REZENDE, K. R. V.; BRANDINI, F. P.; Variação do fitoplâncton na zona de arrebentação da praia de Pontal do Sul (Paranaguá – Paraná). Nerítica, Curitiba. EdUFPR. v. 11. p49-62. 1997. Palavras-chave: Fitoplâncton, taxonomia, praia, conservação. [email protected]