UM GRANDE HOMEM. • Sebastião Palmeira. O Brasil vivia a efervescência do Regime Militar implantado pela Revolução de março de 1964. Foi nesse clima que, em fevereiro de 1968, desembarquei em Brasília, a capital da esperança, fundada pelo grande estadista Juscelino Kubitschek, o maior presidente da História do Brasil. A cidade encantou-me de pronto. Não fosse o clima inóspito e seco e a baixa umidade do ar, tudo estaria perfeito. A saudade da família e dos amigos incomodava-me muito. Sentia falta de Maceió, de suas praias e de tudo o que deixara para trás. Inscrevi-me nos vestibulares de Direito e Comunicação, sendo aprovado em ambos, em duas universidades distintas. A UnB, idealizada pelo sociólogo e educador Darci Ribeiro, encantava a todos pela sua modernidade, amplitude e extensão do seu campus universitário. Estudantes das mais diversas partes do País, com suas roupas coloridas e irreverentes, formavam uma linda aquarela, um festival de cores e esperanças, como a reunir o mapa de todas as Pátrias, de todas as Nações. Nessa época passei a conhecer os alagoanos radicados em Brasília. Conheci o professor Hélio Miranda, socialista de alma e de coração. Era professor de História do CIEMCentro Integrado de Ensino Médio da Universidade de Brasília. Certa manhã apresentou-me ao jovem Fernando Collor de Mello, filho do Senador Arnon de Mello, a quem chamava carinhosamente de Fernandinho, que era estudante do CIEM e seu aluno. Guardei daquele jovem de cabelos longos, alegre e feliz, uma excelente impressão. Jamais imaginaria que o mesmo viesse a ser Governador de Alagoas e Presidente da República. Em outra oportunidade conheci Théo Vilela, filho do Senador Theotônio Vilela, que também era estudante do CIEM e é atualmente Governador do Estado de Alagoas. Théo estudava na UnB e morava com seu pai, o Senador Theotônio Vilela, no Hotel Nacional. Eram companheiros inseparáveis. Em Brasília fiz inúmeras amizades e conheci alagoanos ilustres como Medeiros Neto, Francisco Sales, (médico e fundador da Casa do Penedo), Albérico Cordeiro, Oséas Cardoso, Cleto Marques Luz e muitos outros. Entretanto, foi o Deputado Oséas Cardoso que acreditou no jovem universitário, recém chegado. Oséas abriu-me as portas de seu gabinete na Câmara Federal, fazendo-me seu assessor parlamentar. Trabalhamos juntos até abril de 1969, quando o mesmo teve, injustamente, cassado o seu mandato parlamentar pelo Ato Institucional nº5, (O famoso, AI-5). O Deputado Oséas Cardoso, após sua cassação, solicitou-me que apanhasse sua KOMBI, único automóvel que possuía, e fosse à Câmara Federal buscar os seus objetos pessoais. Findava ali, com o cumprimento dessa missão, minha tarefa como seu assessor. Confesso que encontrei no Deputado Oséas Cardoso um amigo e conselheiro, tendo aprendido muito com o mesmo. Esperava encontrar um homem duro e enérgico, pois sua história pessoal, marcada por tragédias e sofrimentos, fazia dele uma lenda viva, um homem temido e respeitado. Ledo engano! Oséas Cardoso era um Deputado devotado a servir a tantos quantos o procuravam. Nunca deixou uma carta ou um pedido sem resposta. Honrado, decente, disciplinado, devoto fervoroso de Santo Antônio, nada temia. Sua coragem pessoal fazia dele um forte, um bravo, um destemido, um valente. Nas provações que a vida lhe reservou, sempre teve ao seu lado Dona Lilita, esposa dedicada e companheira de todas as horas, que lhe serviu de apoio e soube aplacar o guerreiro intrépido e recalcitrante. Oséas Cardoso é um grande homem, que sempre agiu em defesa de sua honra, de sua vida e de seu trabalho, afinal, como exortava Gonzaguinha: “Sem o seu trabalho o homem não tem honra, sem a sua honra se morre e se mata”. * É Procurador de Estado, Diretor-Geral da SEUNE e Membro da Academia Maceioense de Letras.