Sinto-me inspirada por exemplos de boas práticas que vejo ser criadas por toda a Europa. Permitam-me que mencione (…) o website infovictims.com da APAV. Este website descreve de forma clara e através de linguagem acessível o papel de cada interveniente num processo judicial, incluindo as vítimas, chegando mesmo a providenciar algumas dicas para vítimas e testemunhas sobre como apresentar um testemunho. Espero ver estes exemplos ser seguidos por outros. Isto sem dúvida ajudaria a alcançar o objetivo ultimo da legislação da UE: garantir que as vítimas de crime têm pelo menos um mínimo de direitos dentro do sistema de justiça penal. in Discurso de Viviane Reding, Vice Presidente da Comissão Europeia, na Conferência Strengthening Victims’ Rights – Doing Justice for the Victims of Crime, Bruxelas, 6 de Novembro de 2013 Estratégia APAV 2013 – 2017: planear para melhor enfrentar os desafios. O ano de 2013 foi para a APAV, como para os cidadãos, empresas e organizações portuguesas, mais um ano marcado por enormes dificuldades e desafios originados pela profunda crise económica e financeira que o país atravessa, mas também por novas oportunidades que influenciaram a atividade da Associação. O atual contexto de fragilidade económica, financeira e social revela, a cada dia que passa, o crescente empobrecimento da população portuguesa. Quer pela forma de acesso aos serviços de apoio existentes, quer pelas características dos atendimentos e complexidade dos casos reportados às Unidades Orgânicas da APAV, várias são as dimensões em que o impacto da atual crise se faz sentir. Durante 2013 e no decorrer da experiência quotidiana dos Gabinetes de Apoio à Vítima (GAV) da APAV, denotou-se um acréscimo de pedidos de retorno de chamadas telefónicas. As débeis condições económicas e de exclusão podem estar a impedir um primeiro contacto telefónico ou inclusivamente, a deslocação presencial aos serviços de apoio locais. Para além deste facto, interessa realçar a extrema complexidade e as necessidades múltiplas (alimentação, habitação, emprego) que caracterizam os pedidos de apoio. Atualmente lidamos com famílias multiproblemáticas, com complexidades diversas e uma multiplicidade de necessidades que urgem ser supridas. As expetativas quanto à intervenção dos serviços de apoio da APAV são maiores, as necessidades são diversas e em múltiplos domínios de atuação. Por conseguinte, as diligências a prosseguir têm sido em maior número, mais diversas, mas os resultados menos profícuos. A vasta experiência dos serviços de apoio diretos da APAV, do seu trabalho de terreno e intervenção social, permite ainda admitir que existem, atualmente, vitimas que não procuram ajuda, com receio de não terem as condições económicas para sobreviver fora de um agregado familiar violento. Estes são apenas alguns dos fatores alarmantes e que prenunciam o retrocesso nos direitos mínimos que têm sido conquistados com muito esforço e de uma forma gradual. A 14 de Janeiro os novos membros dos órgãos sociais tomaram posse, para o triénio 20132015, na Sede da APAV. Os novos órgãos eleitos em Dezembro de 2012, traduzem "renovação na continuidade, apostando na capacitação da Associação para os desafiadores tempos em que vivemos e para o futuro, através da melhoria da sua gestão, da qualificação dos seus serviços e do aprofundamento do seu reconhecimento e da sua missão na sociedade portuguesa". Os novos órgãos sociais têm como Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Álvaro Laborinho Lúcio, como Presidente do Conselho Fiscal, Manuel António Ferreira Antunes, e como Presidente da Direção, João Lázaro. As Crianças & Jovens Vítimas de Violência e de Crime foram protagonistas de grande atenção durante todo o ano. Pela sua idade, pela maior dificuldade em fazer valer os seus direitos e pela menor capacidade ou autonomia para denunciar e/ou procurar ajuda, torna-se importante relembrar que este é um grupo particularmente vulnerável à vitimação. Por isso mesmo, a APAV tem atuado consistentemente no combate e prevenção da violência contra crianças e jovens e na promoção e proteção dos seus direitos. O dia 22 de Fevereiro de 2013 - Dia Europeu da Vítima de Crime (instituído pelo Victim Support Europe - organização europeia que reúne 34 organizações não governamentais nacionais de apoio à vítima de 25 países europeus - para lembrar e assinalar os direitos de quem é vítima de crime) foi dedicado à Violência Sexual sobre as Crianças – tendo-se promovido um seminário-debate. A qualificação dos profissionais para o atendimento a crianças e jovens vítimas de crime e/ou violência tem sido uma prioridade estratégica da APAV. A aposta na formação contínua e especializada ao nível da compreensão e intervenção na vitimação infanto-juvenil refletiu-se na cada vez maior diversidade de módulos sobre estas matérias nos planos anuais de formação da APAV. Têm ainda sido envidado esforços para o desenvolvimento de recursos específicos para informar crianças e jovens, como o website www.apavparajovens.pt, no qual qualquer criança ou jovem pode consultar informação simples, atrativa e ajustada acerca de diferentes formas de violência, das estratégias de atuação e de procura de apoio, e dos comportamentos de prevenção e de segurança pessoal. A APAV procurou igualmente consciencializar a sociedade em geral para as diferentes formas de violência contra crianças e jovens, através do lançamento de campanhas de informação e sensibilização. Com efeito, uma das grandes apostas da APAV tem sido a prevenção da violência. Neste ano decorreram e foram finalizados dois importantes projetos nas regiões de Vila Real e de Coimbra numa aposta de abordagem regional de intervenção territorial: O Projeto 100violência – prevenção da violência na comunidade escolar, integrou a Operação 4 (Viver e Conviver), do Programa de Ação Parcerias para a Regeneração Urbana designada “Articular” da Câmara Municipal de Vila Real, iniciativa integrada no Programa Operacional Regional do Norte (ON.2 – O Novo Norte), com comparticipação financeira pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). O projeto teve como entidade promotora o Município de Vila Real e contou com vários parceiros, entre os quais a APAV, através do seu Gabinete de Apoio à Vítima de Vila Real, tendo como ação principal a sensibilização e prevenção do bullying junto da comunidade escolar. Os Projetos UNISEXO e UNISEXO 2 – prevenção de violência sexual no ensino superior financiado pelo Programa Operacional de Potencial Humano, Eixo Prioritário 7, Tipologia de Intervenção 7.3 e, gerido pela CIG – Comissão para a Cidadania e para a Igualdade de Género. Os projetos, quer o inicial, quer a sua continuação, tiveram como objetivo atuar na área da prevenção da violência sexual entre adultos, nomeadamente entre jovens universitários de Coimbra. As ações desenvolvidas visaram consolidar a atuação da APAV no domínio da prevenção da violência sexual, com um foco mais específico nas relações de namoro e ocasionais. Um dos grandes destaques de 2013 foi o da Informação como pedra basilar dos Direitos das Vítimas de Crimes. Impulsionado pelo Projeto INFOVÍTIMAS, co-financiado pela União Europeia ao abrigo do Programa Justiça Penal da DG Justiça, 2013 ficou marcado pela conceção e lançamento de recursos informativos (brochura direcionada às vítimas de crime e website infovitimas.pt), que além do imenso potencial de transferibilidade para outros Estados Membros da União Europeia, permite transmitir informação sobre o Sistema de Justiça Penal de uma forma simples, clara e prática. Sustentabilidade, Qualidade e Organização Nacional de Referência foram os pilares traçados no novo Plano Estratégico da APAV 2013-2017. Enquanto documento essencial para o planeamento e desenvolvimento das atividades da Associação, o Plano Estratégico 20132017 contou com a participação ativa de um leque variado de intervenientes cruciais, nomeadamente: vítimas de crime, voluntários/as, associados/as, colaboradores, membros da Direção, etc. Tal participação diversa e rica, permitiu obter um Plano Estratégico que reflete a importância contínua do apoio às vítimas de crime, suas famílias e amigos, prestando serviços de qualidade, gratuitos e confidenciais; bem como do aperfeiçoamento das políticas públicas, sociais e privadas centradas no estatuto da vítima. O modelo de qualidade certificada da APAV, como objetivo central e estratégico no âmbito da Norma Portuguesa (NP EN ISO 9001:2008) entrou, em 2013, no segundo ciclo de certificação, no qual se procurou consolidar o Sistema de Gestão da Qualidade, com o alargamento do seu âmbito a mais áreas de atividade que decorrem na instituição. Tendo vindo a alargar o seu âmbito de intervenção no que à qualidade diz respeito, naturalmente o grau de exigência vai aumentando e tornando o Sistema de Gestão da Qualidade cada vez mais rigoroso. O ano de 2013 foi ainda o ano da consolidação da RAFAVH – Rede de Apoio a Familiares e Vítimas de Homicídio que funciona no âmbito da Rede Nacional de Gabinetes de Apoio à Vítima da APAV, como sub-rede da APAV especializada no apoio aos familiares e amigos de vítimas de homicídio: de consolidação da parceria e do sistemas de referenciação da Polícia Judiciária para a APAV; de aumento do número de pessoas apoiadas e do número de atendimentos e de forte aposta na formação e monitorização e aperfeiçoamento do modelo de intervenção e seus procedimentos e estratégias de intervenção. Durante o ano em apreço foram realizadas um grande número de campanhas e ações de sensibilização e divulgação públicas no âmbito de diversos projetos europeus e/ou no âmbito da responsabilidade e mecenato sociais: campanhas focadas nas crianças – “Muitas crianças vêm de noite aquilo que ninguém quer ver de dia”; na prevenção da violência sexual na população universitária - “Depois do Não, Pára!”; ação de sensibilização no restaurante Sushíssimo, alertando para a problemática do Tráfico de Seres Humanos; adesão ao Dia Nacional de Sensibilização para o fenómeno do Stalking; violência doméstica – “Há nódoas que não se lavam”; e campanha de promoção da consignação do IRS a favor da APAV “Ajudar a APAV não paga imposto.”. Resultado do reconhecimento do papel e da expertise da APAV à escala europeia e internacional continua a ser os convites para participação em numerosos seminários e conferências internacionais sobre os direitos das vítimas de crime organizados em diversos países. Neste âmbito destaca-se a reeleição do Presidente da Direção da APAV, João Lázaro, para o cargo de Vice Presidente do Victim Support Europe, na sua Assembleia Geral realizada em Edimburgo, a 1 de Junho, para um mandato de três anos. Como reconhecimento pelas comunidades locais e regionais do trabalho da APAV assinalese a eleição da Gestora da APAV Açores como Vice-Presidente do Conselho Regional de Concertação Estratégica dos Açores e para a condecoração pela Câmara Municipal de Odivelas da Medalha Municipal de Mérito - Grau Prata à APAV, pelo trabalho desenvolvido no concelho através do Gabinete de Apoio à Vítima de Odivelas. Realce ainda para o aprofundamento das parcerias com a forças policiais tendo em vista a melhoria e o reforço dos direitos das vítimas: o Protocolo de Colaboração com o SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e com a GNR – Guarda Nacional Republicana, que permitiram formalizar e permitirão aprofundar a cooperação em prol das vítimas de crime. Reforçou-se a estratégia e política de padronização de procedimentos de acordo com as boas práticas e sua cíclica revisão e atualização. Neste âmbito, foram elaborados e/ou atualizados: Manual UNISEXO – para o atendimento a vítimas adultas de violência sexual. Com este manual de boas práticas a APAV pretende contribuir para a qualificação do atendimento e do apoio às vítimas de violência sexual e uma maior proteção dos seus direitos enquanto vítimas de crime particularmente vulneráveis; o Manual SUL – Sensibilização sobre o tráfico de seres humanos para educadores em contexto escolar, que consiste num conjunto de estratégias de ensino e/ou atividades de sensibilização dirigidas a educadores, com o objetivo de alargar os conhecimentos teóricos, assim como no domínio da prevenção dos direitos humanos em contexto escolar, nomeadamente no fenómeno do Tráfico de Seres Humanos (TSH); o Guia de Procedimentos da RAFAVH - Rede de Apoio a Familiares e Amigos de Vítimas de Homicídio num aprofundamento das estratégias de intervenção para a sua qualificação; a APAV e o Código dos Contratos Públicos – procedimentos. Por ocasião das eleições autárquicas realizadas a 29 de Setembro a APAV lançou uma campanha de sensibilização e de repto aos candidatos às Autárquicas 2013, com destaque para os candidatos às autarquias dos concelhos onde está presente através dos seus Gabinetes de Apoio à Vítima no sentido de integrarem, como um dos pilares dos seus Programas Eleitorais, três compromissos determinantes para a promoção de comunidades justas, segura e inclusivas: apoiar o trabalho dos Gabinetes de Apoio à Vítima ou a existência de um GAV; promover a não tolerância de violência e defender uma comunidade sem vítimas de crime. Os efeitos da profunda crise económica e financeira em que o país vive fizeram-se sentir também na APAV, especialmente nos apoios financeiros recebidos das Câmaras Municipais (quer os apoios resultado de parcerias através de Protocolo de Colaboração para financiamento de Gabinetes de Apoio à Vítima locais, quer os apoios pontuais) que se caracterizaram por uma diminuição e grande atraso ou ausência de pagamento no presente ano do apoio protocolado, que poderá colocar algumas das respostas locais da Associação em risco. A APAV tem vindo desde há alguns anos a tomar medidas e a implementar estratégias de grande contenção de custos e de acrescido rigor e eficácia na sua gestão, de rentabilização e partilha de recursos e de diversificação de fontes de receitas que têm preparado a Associação para enfrentar as atuais dificuldades e a insegurança de financiamentos. Destaque ainda para o grande esforço na área da prevenção do crime e das violências através das inúmeras ações de sensibilização realizadas em todo o país privilegiando as comunidades escolares (31.051 participantes) e das campanhas e ações de divulgação pública e de marketing social; para a ligação e o apoio da APAV a eventos e acontecimentos culturais (em especial, ao teatro, a livros e a curtas metragens) e a aposta permanente na dimensão digital da Associação através da presença nas redes sociais, dos microsites, do portal e da newsletter de edição digital. O ano em apreço foi caracterizado pela continuação da gestão criteriosa dos recursos materiais e humanos disponíveis. Desta forma, foi possível, no âmbito do quadro financeiro existente, manter um ritmo elevado de atividades e projetos desenvolvidos, quer a nível central (da Sede), quer na rede nacional de Gabinetes de Apoio à Vítima e na rede de Casas de Abrigo da APAV, tendo em conta a limitação de recursos humanos e financeiros disponíveis face à dimensão das atividades. Receitas Despesas