ID: 62191262 Porto 08-12-2015 perfil • Independente, livre, "sempre com a mala feita" Tiragem: 75041 Pág: 18 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Diária Área: 25,50 x 30,00 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 José Lopes Baptista 68 anos / Provedor do Inquilino Municipal do Porto Natural de Gaia, vive no Porto desde os 10 anos. Foi pároco na Pasteleira entre 1975 e 2012 e viveu 27 anos numa casa do bairro Rainha Dona Leonor. Cedeu a sua casa a pessoas que tinham saído das barracas da mata da Pasteleira e viveu um ano no centro social da paróquia. Envolveu-se no processo que levou ao realojamento de quem vivia nas barracas. Depois foi viver numa residência da Igreja Católica, também em Lordelo do Ouro. Foi escolhido para ser o primeiro Provedor do Inquilino Municipal corria o mês de junho de 2014.0 seu gabinete, a funcionar desde fevereiro, fica na antiga EB1 da Fontinha. É lá que atende os munícipes, por marcação. É presidente da União Distrital das Instituições Particulares de Solidariedade Social do Porto e pároco das Antas. Faz 68 anos hoje, dia 8 de dezembro. Ffitrevista José Lopes Baptista, provedor do inquilino, ocupa cargo que foi uma promessa de Rui Moreira. Na quarta-feira, apresentou o balanço da sua atividade "Instabilidade nos bairros não se deve só à droga" Ana Isabel Pereira locaisMn.pt Quando é que teve acesso aos processos dos 41 despejos em Lordelo do Ouro? Tomei conhecimento através da Comunicação Social. Depois disso, a seu tempo, a Domus Social deixoume consultar os processos daqueles que me tinham pedido para os receber : só recebi 15. Há quanto tempo é que enviou esse parecer e quais eram as suas conclusões? No que à droga se referia, naturalmente que não podia pactuar com o problema Ido tráfico]. Mas este é um problema que já vem de trás. E os grandes vendedores, os grandes homens e mulheres que se aproveitam da miséria dos outros - espiritual mas também económica -, não são daqueles bairros. Voltando às 15 famílias que recebeu, em concreto, o que sugeriu à Câmara do Porto? Depois de escutar quem veio ter comigo. aconselhei-os, primeiro, a encontrarem alguém que os ajudasse a responder à carta da Câmara. Em segundo lugar, se o processo avançasse, que metessem uma providência cautelar. A Domus Social sugeri que entre o inquilino e o proprietário, neste caso a Câmara, houvesse uma entidade independente que fizesse o seu julgamento. Diga-se, em abo- nham cumprido essa pena e regresno da verdade, que a Câmara não sado à sua vida de cidadania. atuou fora da lei. Mas essa e outras recomendações Parece-lhe que essa ideia, de ter têm ou não tido feedback da Câmauma entidade externa e indepen- ra do Porto, por exemplo depois de dente a supervisionar os processos ter apresentado na quarta-feira o de despejo, terá acolhimento? seu relatório anual? Só a Câmara lhe poderá responder. Eu sei que a Câmara do Porto reflete Nós conversámos algumas vezes. sobre este assunto, mas prevejo que Mas o Município tem sempre algu- não sejam fáceis as decisões. É prema dificuldade em encontrar o ciso dizer que a instabilidade nos equilíbrio entre o bem-estar da bairros não se deve só à droga, há por maioria das pessoas que vivem nos exemplo o álcool e outro tipo de nebairros, e que é preciso preservar, e gócios. Há vários distúrbios e várias a aplicação de regras. É verdade que causas para haver mau ambiente. há uma norma que diz que os inqui- Tem de se apostar para além do edilinos municipais não podem utilizar ficado. Como se aposta numa zona rias casas para outros fins, muito me- beirinha, com as suas festas e o seu nos para aqueles que estavam a ser ambiente, tem de se fazer uma aposusadas. O inquilino sabe isso. Mas ta humana nos homens e mulheres era preciso, e esse foi outro ponto da dos bairros, que são cultural e ecominha recomendação, olhar àque- nomicamente mais débeis. les a quem já tinha sido aplicada uma pena pelo tribunal, que já ti- E continua a acompanhar as famílias com ordem de despejo em Lordelo do Ouro, nomeadamente aquelas que têm menores a cargo? Sei, e isso é público, que a Câmara recuou em alguns casos, em que entendeu que devia ter outra atitude. Sei também que no caso das poucas famílias que já saíram foi o Foi-me comunicado agregado todo: foram pessoas de que 40% idade, foram crianças. O que é que se fez com as crianças e com as pesdas minhas soas de mais idade? Eu sei que saírecomendações ram todas. Fiquei sempre com a foram acolhidas" ideia de que se la zelar pelos meno- O JN falou com José Lopes Baptista na igreja das Antas, onde é padre, escolha que fez por res e acautelar situações que tinham a ver com deficiência e com as pessoas de mais idade. Fiquei com essa ideia, mas não sei se nestes casos isso se verificou. Tem acompanhado o processo de realojamento dos moradores que saíram do Aleixo? Tenho acompanhado mais por aquilo que vou vendo na Comunicação Social. Moradores do Aleixo que me tenham procurado não são muitos. Os pareceres que envia à empresa municipal Domus Social têm tido acolhimento, resposta? Foi-me comunicado que mais de 40% das minhas recomendações foram acolhidas. No seu relatório, escreve que 55% dos 227 processos que chegaram ao seu gabinete são de não inquilinos municipais. Que reflexão lhe merece esse número? Eu dou-lhe outro número: nos me- ses de outubro e novembro, recebemos 68 pedidos de audiência, desses só oito são de inquilinos municipais. E os outros andam todos à procura de casa. Ou já meteram processo à Câmara e disseram--lhes que sim mas a casa nunca mais chega. Ou meteram processo e disseram-lhes que não obedeciam aos requisitos. Há muita gente sem emprego e há muita gente sem segurança na habitação. Muitas famílias monoparentais, muitas vitimas de violência doméstica, raparigas jovens. Esses inquilinos, que não são municipais, devem ou não passar pela sua provedoria? O facto de os receber foi criticado por uma vereadora do PSD esta semana. Eu tenho de devolvera questão sempre ao executivo da Câmara. As pessoas que colocam essa questão aprovaram por unanimidade a criação desta provedoria e aprovaram o seu regulamento, regulamento esse que fala no inquilino municipaL Mas os ID: 62191262 08-12-2015 e Tiragem: 75041 Pág: 19 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 11,29 x 30,00 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 Ésta provedoria tem tido mais trabalho com não inquilinos municipais, mas eu nunca fechei a porta a ninguém que me tenha pedido uma audiência" José Lopes Baptista Provedor do Inquilino da CMP ••••2,0•001 ter várias áreas sociais. Faz hoje 68 anos outros também são parte desta cidade. Estamos a falar de uma realidade mais vasta, para a qual não sei se serei eu a pessoa indicada. Mas nunca fechei a porta a ninguém. Com que meios trabalha? Não estou muito habituado a fazer orçamentos. Há algumas falhas mas que até podem ser por eu não estar atento. Eu tinha uma pessoa que fazia a ligação. Agora houve uma alteração ao regulamento e eu acedo diretamente à Presidência. E já tem essa ligação estabelecida? Vamos ter. Isso não é um problema. Os recursos sim. Eu vou sentir a necessidade de ter ao meu lado pessoas a quem possa recorrer, porque muitas vezes preciso de um apoio mais técnico, mais social, um jurista, alguém dos direitos humanos. Não sou um expert na matéria. Eu conheço a lei, mas com alguma facilidade furo a lei, quando estão em causa os direitos fundamentais das pessoas. A Provedoria tem acesso ao número e condições de fogos que a Câmara do Porto tem devolutos? Ainda não possuímos esse número. Mas é uma realidade que a Domus Social tem bem retratada e um instrumento a que iremos ter acesso. Espero eu. Sou um homem de esperança. E para um cargo que não é remunerado todo esse trabalho é esgotante para si? Sempre pautei a minha vida de sacerdote por ter áreas sociais. E aceitei [este cargo] num horizonte que também não é largo. Eu estou sempre com a mala feita. Sou livre. Agora, neste momento, há meios logísticos e humanos de que precisamos. Nós deslocamo- nos no carro do meu assessor ou no meu e usamos o meq tinteiro. Mas eu, como lhe disse, não me preocupei em pedir.*