Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Formação de Conselheiros Nacionais Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais Pedro Paulo Sotero da Silva A Experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea: em busca de uma Democracia Participativa através da Accountability Societal MANAUS 2010 2 PEDRO PAULO SOTERO DA SILVA A Experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea: em busca de uma Democracia Participativa através da Accountability Societal Monografia apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais. Orientadora: Prof. Dr. Tereza Cristina Vale MANAUS 2010 3 4 Dedico a minha noiva, Naza 5 Agradeço... pelos integrantes do Fórum de Polítcas Popular de Públicas do Careiro da Várzea principalmente Chumana e Antonio Castro. Agradeço... Ao companheiro de luta Ribamar, aos meus amigos Frank. Thay e Mary. Agradeço... pela tia Leia ao substituir minha mãe Joana. Agradeço... enfim, a tantas existências que proporcionaram essa caminhada de indeléveis descobertas. 6 Há homens que lutam um dia, e são bons; Há outros que lutam um ano, e são melhores; Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons; Porém há os que lutam toda a vida Estes são os imprescindíveis Bertold Brecht 7 SILVA, PEDRO PAULO SOTERO. A Experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea: em busca de uma Democracia Participativa através da Accountability Societal. Monografia (Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais). Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG RESUMO Este trabalho tem por objetivo elaborar uma reflexão sobre uma experiência de democracia participativa protagonizada pelo Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV diante do conceito na atual literatura de accountability vertical, horizontal e principalmente a societal, procurando analisar as limitações e avanços do fórum ao mesmo tempo que problematizando esses conceitos a partir dessa experiência concreta. Neste sentido, percebeu-se que as democracia brasileira está em um movimento onde representatividade já não é capaz de estabecer um processo de accountability, necessitando que haja um movimento social em direção a uma participação ativa através dos mecanismos institucionais para o exercício da cidadania. A presente experiência do FPPPCV evidencia que os movimentos sociais organizados e articulados em diversos níveis estão construindo uma democracia que aos poucos está ampliando seu leque. Onde, em um município pequeno, de geografia de várzea, congregou as organizações, mobilizou e articulouse em torno de uma agenda para buscar ativar os gestores públicos, para as questões sociais. Além disso, inseriu-se nos conselhos gestores de políticas públicas de assistencia social, da criança e do adolescente, da saúde, e da educação para ser um dos meios no qual o FPPPCV faria engajamento junto a administração pública fazer a construção da política pública social no município do Careiro da Várzea. Ao analisar essa experiência de participação através dos canais institucionalizados temos uma tensa relação com os gestores públicos, mas que ao longo de 10 anos de atividade apresenta muitas conquistas, estagnações e até mesmo retrocessos, característica que é propria dos movimentos sociais perante conjunturas políticas que estão em constante processo de mudança, ao mesmo tempo que exige da literatura da accountability um permanente re-ver de seus conceitos. Por não ser um produto acabado, mas compreendido como um processo a accountalibity vertical, horizontal e no caso investigado a societal, tem uma íntima relação entre si, sabendo que a governança democrática depende da condição dos cidadãos de atuarem e dos mecamismos institucionais que viabilizam o processo de accountability. Palavras Chaves: Fórum Popular de políticas Públicas do Careiro da Várzea FPPPCV; Accountability Vertical, Accountability Horizontal; Accontability Societal. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................. 09 1 RELATO DO FÓRUM DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO CAREIRO DA VÁRZEA ........................................................................................................ 11 1.1 História da Criação do Careiro da Várzea contada pelo povo ................ 11 1.2 O surgimento do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea ........................................................................................................... 12 1.3 A formação como práxis ......................................................................... 14 1.4 O FPPPCV nos Conselhos Gestores de Políticas Públicas ................... 16 1.5 Outras ações do fórum ........................................................................... 18 2 DE UMA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA PARA UMA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ATRAVÉS DE ACCONTABILITY SOCIETAL .............. 19 2.1 A democracia brasileira após a Constituição Federal de 1988 ............... 19 2.2 Definindo as diversas formas de accountability ...................................... 21 2.2.1 Accountability Societal: um novo conceito? ......................................... 23 3 ACCOUNTABILITY SOCIETAL DO FPPPCV: CONQUISTAS E DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA ........................................................................................... 27 3.1 A primeira experiência de democracia participativa no Careiro da Várzea ........................................................................................................... 27 3.2 Accountability Vertical e Horizontal e sua relação com o Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV .................. 28 3. 3 Accountability Societal e sua relação com os Conselhos Gestores de Políticas Públicas na experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV ................................................................. 29 CONCLUSÃO ............................................................................................... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 35 ANEXO 01 .................................................................................................... 37 9 INTRODUÇÃO Atualmente vivemos uma conjuntura política onde a participação da sociedade civil é imprescindível para o exercício do controle. Assim, é indispesável o desenvolvimento de mecanismos que possibilitem essa participação. Várias são as experiências que estão “pipocando” no Brasil, que nos remetem a uma reflexão profunda para analisar como, efetivamente, as formas de participação no controle dos recursos e das políticas públicas estão se constituindo no país. Neste trabalho monográfico, com base na experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV em debate com as reflexões conceituais da atual literatura, procurou-se avaliar essa experiência para que possa contribuir com a reflexão em torno do tema e principalmente para servir aos militantes sociais de exemplo de que a participação da sociedade é imprescindível para construir uma democracia, onde as políticas chegem àqueles que são excluídos. Essa democracia participativa tem muitas vezes esbarrado em dificuldades, seja no aspecto estrutural das instituições públicas, seja no aspecto cultural, com uma sociedade que ainda não está muito acostumada a exercer o seu direito de fiscalizar, propor, e monitorar políticas públicas e também de fiscalizar os recursos públicos. O desenvolvimento do conceito de controle, que chamaremos de accountability, dentro das suas diversas dimensões (vertical, horizontal e societal), tem caminhado junto com a mudança cultural no povo brasileiro, principalmente os segmentos historicante e socialmente mais subalternos no que diz respeito a cidadania. A participação da sociedade é impulsionada na medida em que cresce a consciência do exercício da cidadania ativa, que passa não apenas pela exigência de que sejam atendidos direitos individuais, mas acima de tudo, o atendimento de direitos do conjunto da sociedade, sendo um espaço de conquistas coletivas. A partir desse contexto, procurou-se, neste trabalho, discorrer primeiramente acerca dos conceitos de accountability vertical, horizontal e societal, sua importância e principalmente suas limitações diante de democracias em desenvolvimento, como é o caso da democracia brasileira e de muitas outras democracias latino americanas, além de fazer uma co-relação entre essas formas, dando enfâse a 10 accountability societal para analisá-la diante da experiência do FPPPCV e a atuação do fórum em relação a esse conceito. Apesar de existirem muitas experiências alavancadas pelos movimentos sociais, poucas são analisadas a luz das literaturas, por isso é salutar realizar este presente trabalho, buscando delinerar como as ações do FPPPCV evidencia as novas formas de intervenção da sociedade civil que vem se constituindo nas democracias contemporâneas. O objetivo geral é investigar como o Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV, assessorado pela Cáritas A. de Manaus efetivou a política de accountability societal no município do Careiro da Várzea. Os objetivos específicos são: descrever o processo histórico de criação e as ações do FPPPCV em diversas ações de accountability societal que culminaram na criação dos conselhos gestores de políticas públicas; fundamentar o conceito de accountability diante da atual conjuntura política brasileira contextualizado as diversas dimensões (vertical, horizontal e principalmente societal); e, co-relacionar a atuação do FPPPCV com o conceitos de accountability, principalmente a societal, descrevendo suas principais conquistas e limitações para o exercício da democracia participativa no município do Careiro da Várzea. A metodologia utilizada, inicialmente, foi uma leitura das bibliografias sobre accountability como eixo para analisar as ações do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea - FPPPCV. Em seguida, através de uma pesquisa qualitativa, por meio da história oral, utilizando-se do instrumental da entrevista, foram coletados os dados com os integrantes do FPPPCV para a sistematização das etapas de constituição do mesmo. Esses dados foram comparados a uma outra pesquisa que é a análise documental dos relatórios da Cáritas A. de Manaus. Através destes dados descreveremos como foi o processo histórico do FPPPCV e sua incidência na política de accountability societal no município do Careiro da Várzea. Reconhecendo a extenção e a profundidade desta temática não se espera esgotar neste trabalho, mas apenas contribuir com o debate e com a reflexão sobre esse aspecto tão relevante para o Brasil construir uma democracia democrática, para a justiça social que é fiscalizar os recursos e as políticas públicas. 11 1 RELATO DO FÓRUM DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO CAREIRO DA VÁRZEA 1.1 História da Criação do Careiro da Várzea contada pelo povo Este é um registro de uma experiência que a exemplo de dezenas de outras experiências no Brasil, que busca lutar com os movimentos sociais para que ocorra a participação pública na elaboração e acompanhamento de políticas públicas através da accountability societal. O principal objetivo deste texto, além de ser um registro do que ocorreu, é servir como “testemunho” para que a sociedade, principalmente as “Vítimas1 do sistema”, assumam um protagonismo ativo no que denominamos accountability societal. O município do Careiro da Várzea, localizado a 200 km da cidade de Manaus, estado do Amazonas surgiu em 1987 a partir da reivindicação alavancada pela Igreja Católica através dos agentes das Comunidades Eclesiais de Base, juntamente com outras lideranças locais. A Igreja Católica local, através do seu pároco, teve um papel importante neste processo, onde por meio dos agentes de pastorais se buscava mobilizar o povo para ações reivindicatórias de direitos. Como o próprio nome afirma o município possui uma geografia de várzea, o que corresponde a algo entorno de 80% do seu território, que nos meses de abril a agosto têm sua superfície submersa pelas águas do Rio Solimões. As particularidades do Careiro da Várzea são notórias, basta observar o grande número de flutuantes que cercam a cidade e pelas longas distâncias de uma comunidade a outra, tornando o acesso somente pela via fluvial. Tais peculiaridades influenciam diretamente na forma de articular as lideranças sociais para promover ações em conjunto. Quando o município teve sua primeira eleição em 1988, essas lideranças conseguiram eleger o prefeito e quatro vereadores. Mas, ao longo do vosso 1 Ver Dussel, 2007. Ética da Libertação na Idade da Globalização e da Exclusão. 3° edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. 12 mandato, não responderam aos anseios do povo careirense, onde a cultura paternalista e assistencialista se configurava na forma dos gestores se relacionarem com a população. Depois desse período, o movimento social enfraquece e perde sua capacidade de mobilização. Isso é devido à saída do pároco que era o apoiador e o articulador político durante todo esse período e os padres que chegaram não deram o mesmo apoio. Essas situações são muito comuns em mobilizações sociais apoiados pela Igreja Católica. 1. 2 O surgimento do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea Em 1991, com a chegada no município do Careiro da Várzea da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Aparecida e de outro pároco iniciou um novo processo de articulação das lideranças locais, agentes das Comunidades Eclesiais de Base, Igreja Assembléia de Deus, Igreja Batista, Pastorais da Criança, Saúde e Juventude, Clube Estudantil, Associação de Pais e Mestres Comunitários e Centro Direitos Humanos da Arquidiocese. Esse movimento, em seu início, tendo em vista a grave situação social que experimenta o povo do município do Careiro da Várzea e de modo especial a Comunidade do Distrito do Km 13 (BR 319), onde cerca de mais de 200 famílias que habitavam este local estavam desprovidas das condições sociais básicas que possibilitam viver dignamente, onde as crianças e os adolescentes estavam estudando em uma escola com péssimas condições estruturais. “Isso envolveu o interesse da comunidade2”, dando início a um processo de organização de algumas lideranças pelas seguintes reivindicações: reforma e ampliação da Escola Municipal Balbina Mestrinho, posteriormente também à reforma e ampliação do posto de saúde, implantação de aterro sanitário com coleta seletiva e um sistema de abastecimento de água. 2 José Ribamar de Oliveira – Assessor da Cáritas Arquidiocesana de Manaus e Educador Popular pela Rede de Educação Cidadã: fala proferida em entrevista no dia 18 de dezembro de 2009. 13 Durante esse período a Cáritas Arquidiocesana de Manaus3, entidade de assistência social, foi chamada pelas lideranças eclesiais locais para um trabalho de assessoria com todas as lideranças envolvidas. A partir de um processo formativo e mobilizatório surge à necessidade de criar um fórum que articulasse e mediassem politicamente às representações desse movimento, assim, iniciou uma grande mobilização de lideranças. Vale salientar que neste período esse movimento agregava cerca de 60 lideranças de 45 entidades locais. Em 1999, surge o Fórum de Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV como identidade representativa daquelas lideranças e como espaço permanente de articulação e mediação política. No dia 13 de setembro de 2000, no Seminário “Resgatando a dívida para criar mais Vida”, Ir. Idelsa4 sintetizou o fórum nas seguintes palavras: O Fórum não se restringe a credos nem religiões; é aberto a todos; é um espaço de organização, articulação e socialização de poder, de estudo, debate e troca de saberes; é um espaço de bons estímulos; na troca de saberes conhecemos os problemas e juntos articulamos propostas de divulgação. Fórum é um espaço onde o povo aprende a função da política e o exercício da cidadania; é um organismo legal e de caráter não partidário, mas sim apartidário; uma nova forma de política que não exclui ninguém; é um instrumento de fiscalização e denuncia... trata-se de um espaço de discussão onde se cria propostas que intervém e influenciam na cena pública. O FPPCV se torna um espaço de mobilizar, fiscalizar, denunciar e propositor políticas públicas até então não constituídas e quando constituídas, mas sem a participação da comunidade local. Nos anos de 1999 e 2000 o foco inicial foi a educação, onde o problema pontual era a condição precária da Escola Balbina Mestrinho localizada no Distrito do Km13, permitindo, posteriormente, a busca por outros direitos como problema do posto de saúde, do meio ambiente e do abastecimento de água. Esse processo mobilizatório ocorreu diante da conjuntura de implantação dos direitos da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Conhecido como Estatuto da 3 A Cáritas Arquidiocesana de Manaus é um organismo da Igreja Católica que congrega uma rede de Cáritas de atuação social composta por 162 organizações presentes em 200 países e territórios. Atua na defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável solidário na perspectiva de políticas públicas, com uma mística ecumênica. Seus agentes trabalham junto aos excluídos e excluídas, muitas vezes em parceria com outras instituições e movimentos sociais. 4 Ir. Idelsa Reginalli – Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Aparecida. Ata do FPPPCV do dia 13 de outubro de 2000. 14 Criança e do Adolescente - ECA) alavancada pelo Conselho Nacional da Criança e do Adolescente através da campanha Prefeito Criança e também das eleições municipais do ano de 2000, ou seja, através das metas da Campanha Prefeito Criança, articulado com várias entidades da sociedade civil5 de Manaus, o FPPPCV realiza um seminário Resgatando dívidas para criar mais vida. O seminário foi informativo e formativo, onde os candidatos a prefeito participaram assumindo diante da sociedade o compromisso de adesão ao “Projeto Prefeito Criança” (ver anexo 01). Houve uma significativa participação da comunidade, contamos com o número de umas mil pessoas vindas de vários distritos do município. Foi de fundamental importância veicular a campanha no seminário, visto que a mesma visava a adesão dos candidatos ao cargo de prefeito e apresenta 16 pontos a serem executado na gestão do candidato eleito6. Após a eleição, durante a posse do prefeito em 2001, o FPPPCV entregou as metas do Projeto Prefeito Criança, mediante uma manifestação pública. Tais metas se tornaram a agenda reivindicatória do FPPPCV durante os anos de 2001 a 2005. Nas eleições de 2004, esse processo se repete. 1.3 A formação como práxis Paralelamente as ações de reivindicação, os integrantes do fórum, através da assessoria da Cáritas A. de Manaus passaram por um intenso processo de capacitação com todos os representantes envolvidos. “A questão era como conciliar a formação num movimento de ‘ação-reflexão-ação’”7, ou seja, uma práxis onde a formação estava diretamente relacionada as ações reivindicatórias do FPPPCV. A metodologia era capacitar na ação, perpassadas pelos princípios da educação popular na perspectiva freiriana. 5 As entidades envolvidas: Cáritas Arquidiocesana de Manaus; Fórum Estadual de Defesa de direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente; Pastora do Menor; e, Pastoral da Criança. 6 Ver anexo 01: Metas Prefeito Criança. 7 Ir. Idelsa Reginalli. Entrevista concedida em 02 de fevereiro de 2010. 15 Neste sentido as lideranças do FPPPCV, passaram por um longo trabalho de empoderamento conceitual na busca de qualificar a participação ativa nos conselhos de políticas públicas (Criança e Adolescente, Saúde, Educação, Assistência Social), fiscalização do orçamento público, bem como a sensibilização da população para os direitos humanos e a cidadania. Foram seis cursos sobre Direitos Humanos e Políticas Públicas, Ética, Cidadania e Participação Popular. A Cáritas A. de Manaus constituiu em seu programa de assessoria organizar o FPPPCV para que seja o articulador dos movimentos, das entidades e da população usuária das políticas públicas referentes a saúde, educação e segurança no município do Careiro da Várzea. Neste sentido, seu plano operativo tinha em sua programação as seguintes ações: realização de mesa redonda com representantes do Executivo, Legislativo e das Comunidades acompanhadas; construir comissões para que acompanhe o andamento das propostas, estipuladas em metas, referentes as áreas da educação, saúde e segurança; informar a população das comunidades acompanhadas, através de folhetos informativos, sobre a importância do Conselho Municipal de Saúde, da preservação do Meio Ambiente e dos Direitos Humanos; promover um seminário com o tema: Meio Ambiente e Saúde Popular; participar das sessões na Câmara de Vereadores e incentivar aos grupos acompanhados o estudo da Lei Orgânica Municipal; realizar um senso nas comunidades acompanhadas e promover eleições para a Associação Comunitária; montar um calendário de reuniões ordinárias. A partir desse plano operativo, podemos observar a metodologia de organização do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea com a assessoria da Cáritas A. de Manaus. As ações eram planejadas nas reuniões ordinárias, que ocorriam mensalmente, abertas a todos. Os custos desses processos eram divididos com a Cáritas A. de Manaus e a Igreja Católica do Careiro da Várzea. Também é importante enfatizar que nessas reuniões o continuo processo de formação que os representantes do fórum recebiam. Pois, “a ação se dava a partir da educação [...] nós capacitava na ação”8. Isso demonstra que as ações do fórum partiam de uma metodologia de estudo-ação. 8 Idem. 16 1.4 O FPPPCV nos Conselhos Gestores de Políticas Públicas Mediante as conquistas como a reforma da Escola Municipal Balbina Mestrinho, do posto de saúde e do reservatório com sistema de captação e distribuição de água na comunidade do Distrito do Km 13 (BR 319) o FPPPCV também decide de se mobilizar para pressionar o poder executivo do município para a criação e participação efetiva da sociedade civil em alguns conselhos como o de Saúde, Assistência Social, Criança e Adolescente. Pois, diante de uma realidade marcada pelo modelo de política paternalista, clientelista e assistencialista este trabalho logo culminou em de controle social sobre as ações dos gestores públicos municipais. O processo de para exigir do poder público municipal a criação dos conselhos gestores foi intensa. O Conselho de Saúde foi criado pelo gestor público, mas sem nenhuma participação da comunidade, o conselho foi homologado simplesmente para cumprir a legislação. Em 2000, o FPPPCV faz um estudo da lei que sobre o conselho propondo algumas mudanças que “os vereadores, por desconhecimento dos próprios gestores, muitas pautas do fórum foram aprovadas”9. A partir deste período os novos membros do conselho foram eleitos através de um intenso debate com a sociedade civil promovida pelo FPPPCV, houve a primeira assembléia para a escolha dos conselheiros da sociedade civil. “Na (conselho) saúde houve controle: sabiam onde estava o recurso e onde estava sendo aplicado”10. Porém, após a participação da sociedade “quando se fazia prestação de contas, os números vinham em códigos que os conselheiros não entendiam”11. Mesmo com o constante processo de capacitação dos membros do FPPPCV, haviam muitas limitações para questões técnicas, como a contabilidade, por exemplo, devido a muitos terem apenas o Ensino Fundamental. 9 José Ribamar de Oliveira – Assessor da Cáritas Arquidiocesana de Manaus e Educador Popular pela Rede de Educação Cidadã: fala proferida em entrevista no dia 18 de dezembro de 2009. 10 Irmã Idelsa Reginalli – Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora de Aparecida. Entrevista concedida em 02 de fevereiro de 2010. 11 Antonio Castro – Presidente da Associação de Agricultores do Curarizinho, agente de pastoral e militante do FPPPCV. 17 Também a prefeitura criou o Conselho de Educação sem a participação da sociedade civil comprometida. Neste conselho, houve muitas resistências para que houvesse uma participação da sociedade civil a partir da organização do FPPPCV. A primeira conquista foi à inserção dos membros do FPPPCV no conselho. A partir daí, os representantes da sociedade civil tiveram outras conquistas, como a inserção do calendário especial para o ano letivo das escolas12 e principalmente, o controle dos aluguéis de barcos e outros serviços prestados por meio de terceirização. Diante da conjuntura da política social, a partir do governo Lula, o programa Fome Zero impulsionou um forte debate na área da Assistência Social. O FPPPCV e a Cáritas A. de Manaus fomentou a efetivação dessas políticas sociais no município do Careiro da Várzea, onde havia apenas a Secretaria de Ação Social. A primeira conquista é a criação de uma Secretaria de Assistência Social, onde os pontos de partida foram: a implantação do Programa Bolsa Família e que seu benefício chegasse às famílias necessitadas e criação de outros programas e projetos na área de assistência social. Paralelamente, cria-se o Conselho Municipal de Assistência Social, que além de fiscalizar as ações dos programas de assistência social, exigia do gestor a implantação de outros programas e sua respectiva fiscalização, como por exemplo o Programa Erradicação do Trabalho Infantil – PET13 e o Programa de Atenção Integral a Família – PAIF14. Outra política social que, ao longo desse período foi muito fomentada, é a Segurança Alimentar e Nutricional. Neste sentido é a criação do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, mas durou apenas 01 ano. Mesmo com a participação nos Conselhos Gestores de Políticas Públicas como o Conselho de Saúde, Educação, Assistência Social e de Segurança Alimentar e Nutricional muitos membros do FPPPCV foram cooptados com cargos, que por necessidade acabavam aceitando, outros foram ameaçados, como os funcionários públicos que foram transferidos para lugares distantes. Isso enfraqueceu a capacidade mobilizatória do fórum e também sua força política, 12 Nos meses de maio a julho é o período de enchente, onde as 80% das terras de várzea do município ficam submersas pelas águas do Rio Solimões e nos meses de outubro à janeiro ocorre a vazante dos rios. 13 Sobre o programa consultar: www.mds.gov.br/programas/rede-suas/protecao-social-especial/programa-deerradicacao-do-trabalho-infantil-peti. 14 Sobre o programa consultar: www.mds.gov.br/programas/rede-suas/servicos-continuados-para-o-atendimentoa-crianca-a-familia-e-a-pessoa-idosa. 18 aqueles que eram integrantes do fórum e também conselheiros ficaram sobrecarregados. Esses fatores, ao longo dos anos, acarretaram em poucas lideranças sociais para continuar o processo de accountability societal a partir do FPPPCV. Não houve renovação de lideranças e quando a Igreja Católica deixou de apoiar financeiramente o fórum ficou desarticulado, resumindo sua atuação a acompanhar os conselhos gestores através dos seus conselheiros. 1.5 Outras ações do fórum Diante de uma reivindicação, o FPPPCV realizava diversas ações para cobrar do gestor público uma posição. Podemos citar: abaixo-assinados; ofícios; chamados para reuniões; cartas abertas; seminários; mesas de debate; até apoio do legislativo. Além dessas ações foram organizadas pelo FPPPCV, campanhas sobre combate a corrupção eleitoral e voto ético em anos eleitorais. Também, apoiou a criação de associações comunitárias e de agricultores em vários distritos do município. Uma recente conquista no ano de 2010 foi à homologação do decreto que cria o Conselho Tutelar no município do Careiro da Várzea, onde o processo de eleição dos conselheiros está acontecendo com a participação ativa dos membros do fórum, conselheiros do Conselho de Assistência Social em parceria com a Secretaria de Assistência Social. A partir dessa experiência oriunda de um verdadeiro processo de militância de lideranças da sociedade civil, organizadas em associações comunitárias, de agricultores, de pais e mestres, Comunidades Eclesiais de Base, Igrejas Pentecostais, etc. em parceria com entidades ligadas a Igreja Católica, e outros espaços de organização para mobilização social é importante fazermos uma reflexão a luz de pensadores que discutem sobre accountability societal ao mesmo tempo fazermos o movimento inverso de colocarmos o conceito de accountability societal e suas limitações diante de uma experiência concreta de controle. 19 2 DE UMA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA PARA UMA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ATRAVÉS DE ACCONTABILITY SOCIETAL 2.1 A democracia brasileira após a Constituição Federal de 1988 Após a redemocratização do Brasil tem crescido nas últimas décadas a aproximação da sociedade civil com a gestão dos recursos públicos pela administração pública. Na Constituição Federal de 1988, os constituintes elegeram como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] ‘construir uma sociedade livre, justa e solidária’, [...] ‘garantir o desenvolvimento nacional’, [...] ‘erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais’, [...] ‘promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, etnia, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação’ [...]. E que [...] ‘todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 15 diretamente’ [...]. Além disso, essa constituição, também denominada de Constituição Cidadã, assegurou três perspectivas novas e extremamente importantes para garantia da participação direta do povo brasileiro, que são a “descentalização políticoadministrativa, a participação direta da população na construção direta das políticas públicas e controle social do Estado”16. Depois da CF de 88, nos mais de 20 anos de democracia, o Brasil democrático moderno tem como um dos seus fundamentos constituintes a democracia representativa. Com a grande complexidade dos processos políticos e sociais atuais tem-se percebido que apenas a democracia representativa não atende aos anseios da sociedade. Assim, têm surgido inúmeras experiências que procuram aproximar a ação governamental da decisão e do controle direto dos cidadãos. A incapacidade das instituições políticas vigentes de concretizar plenamente os objetivos da Constituição, o aumento do sentimento de distância entre os 15 16 CF, Art. 3°, incisos I, II, III e IV. Idem, Art. 204°. 20 eleitores e os representantes, motiva parte da sociedade civil a participar através de diversos processos de organização e mobilização erigidos pelos movimentos sociais e populares. O conjunto de iniciativas de ONGs, movimentos sociais e populares, associações da sociedade civil e a mídia independente são analisados pela atual literatura17 como elementos que estão contribuindo para melhorar a qualidade das instituições públicas dos regimes representativos das democracias contemporâneas. Neste sentindo, as intervenções dos diversos atores civis giram em torno de uma política de direitos e de prestação de contas que demonstram uma renovação cultural, onde o representado não permanece como sujeito passivo e assume um papel de monitoramento ativo, principalmente, através dos mecanismos de participação homologados pela Constituição Federal de 1988 como o plebiscito, o referendo popular, as audiências públicas, a iniciativa popular de lei, além dos canais institucionalizados próprios para o exercício de controle como os conselhos e o orçamento participativo, que são espaços de diálogo e deliberação entre sociedade civil e governo. Atualmente, outros espaços de controle, onde os movimentos sociais tem se articulado e mobilizado fortemente como são os fóruns de políticas públicas e a participação ativa em conferências setoriais. Essas ações são analisadas na teoria democrática a partir do conceito de controle social. Mas, segundo Avritzer (2009), esse termo dá uma impressão de que é o Estado que faz controle sobre a sociedade18. Com isso, buscaremos analisar a idéia de controle a partir do conceito accountability societal cunhado por pensadores contemporâneos19. Para isso, desenvolveremos conceitualmente as diversas formas de accountability20 diante da atual conjuntura política brasileira contextualizando as diversas formas presentes de controle. 17 Ver em PERRUZOTI. Enrique. A política de Accountability Social na America Latina. Belo Horizonte: UFMG, 2009. 18 Nas “Ciências Sociais, o conceito de controle social é geralmente caracterizado como circunscrevendo uma temática relativamente autônoma de pesquisa, voltada para o estudo do conjunto dos recursos materiais e simbólicos de que uma sociedade dispõe para assegurar a conformidade do comportamento de seus membros a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados”. ALVAREZ, Marcos César. Controle Social: notas em torno de uma noção polêmica. São Paulo: São Paulo em Perspectiva, (18)1, p. 169, 2004. 19 Ver Catarina Smulovitz (2002); Enrique Peruzzotti (2002); Guillermo O’Donnell (1998); Leonardo Avritzer (2002); só para citar alguns. 20 Esse termo ainda não traduzido para o português. Ver CAMPOS, Anna Maria. Accountability: quando devemos traduzir para o português? Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v. 24, n° 2, 1990. 21 2.2 Definindo as diversas formas de accountability Inicialmente vamos conceituar accountability como uma forma de controle, de sujeição do poder público a estruturas formais e institucionalizadas de constrangimento de suas ações à frente da gestão pública, tornando-o obrigado a prestar contas e a tornar transparente sua administração. Para Schendler21 (1999), que distingue esse termo em duas conotações: a) Answerability: a capacidade de um governo de dar resposta, ou seja, a obrigação de informar e explicar seus atos; b) Enforcement: a capacidade das agências públicas de controle de impor sanções e perda de poder para aqueles que violam os deveres públicos. Tais conotações do conceito de accountability estão ligadas a três outras noções que são: sujeitar o poder ao exercício de sanções; obrigar que este poder seja exercido de forma transparente; e, forçar que os atos dos governantes sejam justificados. Isso remete a dimensões que estão intimamente ligadas a answerability, qual seja: informar as decisões; explicar tais decisões; sancionar as referidas decisões, ou seja, a informação, a justificação e a punição como atos de accountability. Diante dos elementos constituintes do conceito de accountability, vamos analisar suas três formas: a vertical, a horizontal e a societal, e ainda, apontando para os seus limites diante de democracias como a brasileira e de outros países da America Latina, que não constituiu uma democracia robusta como é a realidade de países como o Estados Unidos e Alemanha altamente burocratizados. A accountability vertical é o controle exercido pelo eleitorado nas eleições periódicas e competitivas que “pode ou não” influir no agir dos representantes. Um governo que queira se reeleger vai procurar ganhar o máximo de legitimidade do eleitorado. Arato (2000, p.92), afirma que “accountability não confina os mandatos, mas limita e restringe o comportamento dos representantes se eles têm interesse em se reeleger”. Mas, segundo O’Donnell, a accountability vertical é insuficiente para o controle da ação governamental, 21 Ver SHENDLER, Andreas. Conceptualizing accountability. Lynne Rienner Publihers. Londres, 1999. 22 esse autor argumenta problematizando a questão da eleição e representação, indagando sobre os limites do voto para induzir a atuação dos governantes no sentido do ‘melhor interesse do cidadão’. Dessa forma, afirma que as eleições não constituem o mecanismo democrático por excelência para induzir a representatividade22. Tendo pontuado a questão da insuficiência do mecanismo do voto, como accountability vertical, para garantir a representatividade e, em certa medida, a capacidade de governança do Estado, cabe a concepção de controle mútuo dos poderes como instrumento de responsabilização governamental. Para O’Donnell (1998, p.40) accountability horizontal se define em: [...] existências de agências estatais que tem o direito e o poder legal e que estão de fato dispostas e capacitadas para realizar ações, que vão desde a supervisão de rotina a sanções legais ou até o impeachment contra ações ou emissões de outros agentes ou agências do Estado que possam ser qualificadas como delituosas. Podemos compreender que accountability horizontal é um produto de uma rede de agências, internas ao Estado. Entretanto, há a existência de outros mecanismos de controle nas democracias contemporâneas, externas aos poderes do executivo, do legislativo e do judiciário. A fragilidade da accountability horizontal, especialmente em países da América Latina, o que significa que os componentes liberais e republicanos em muitas democracias ainda são frágeis. Podemos citar alguns desafios para sua efetivação: autonomia, inclusive financeira, entre os poderes; a existência de informação confiável e adequada; e, existência de redes bem estruturadas nacionais e internacionais. Para uma democracia adquirir um controle através da accountability horizontal podemos citar: partidos de oposição com um papel importante, se não o principal, na direção das agências; agências que desempenham um papel essencialmente preventivo, tais como os Tribunais de Contas, altamente profissionalizados, dotadas de recurso suficientes e independentes do governo; um judiciário altamente 22 O’Donnell, Guillermo. Accountability Horizontal e Novas Poliarquias. Lua Nova, N° 44, 1998. 23 profissionalizado, dotado de um orçamento independente dos outros poderes e autônomo em suas decisões relativas a estes; informação confiável e adequada, com mídia confiável e independente, assim como instituições de pesquisa e disseminação; e, indivíduos especialmente políticos e outros líderes institucionais. (O’Donnell, 1998). Embora a accountability horizontal seja importante para o exercício do controle ainda é insuficiente para garantir a legitimidade dentro das democracias. Pois o conceito de soberania popular implícito na concepção da democracia exige uma base de legitimidade que vai além da existência de mecanismos de cheks and balances entre os órgãos do governo e também dos tradicionais mecanismos de controle através das eleições. 2.2.1 Accountability Societal: um novo conceito? Essa é uma concepção alternativa de accountability a partir de outra perspectiva, que parte de uma raiz teórica que privilegia a dicotomia entre Estado e sociedade civil, partilhando a idéia do controle da sociedade sobre a ação governamental. Muitos autores23 acham que a accountability horizontal e vertical são insuficientes para fazer controle, principalmente em democracias como à dos países da America Latina. Este déficit é a espinha dorsal do ativismo cívico atualmente. Para apresentar esse conceito, Peruzzotti em diversos trabalhos anteriores, junto com Smulovitz (2002) utiliza o conceito de accountability societal para: Englobar um conjunto diverso de iniciativas levadas a cabo por ONGs, movimentos sociais, associações civis ou a mídia independente guiados por uma preocupação comum em melhorar a transparência e a accountability da ação governamental. Tal conjunto de atores e iniciativas incluem diferentes ações destinadas a supervisionar o comportamento de funcionários ou agências públicas, denunciar e expor casos de violação da lei ou de corrupção por parte das autoridades, e exercer pressão sobre as agências de controle correspondentes para que ativem os mecanismos de investigação e sanção que correspondam. Este conjunto heterogêneo de atores sociais desenvolve novos recursos que se somam ao repertório 23 Ver nota de rodapé n° 05. 24 clássico de instrumentos eleitorais e legais de controle das ações de governo. (PERUZZOTTI, 2009, p. 11-12) É importante abrir um parêntese para enfatizar as formas como esses atores estão organizados. Para isso, Scherer-Warren24 define que a sociedade civil: [...] não é uma esfera homogênea, representa interesses, conflitos, valores de classe, de grupo identitários, de organizações diversificadas. Para a autora existem quatro níveis de organizações na sociedade civil que compõe o movimento social. O primeiro nível são as organizações de base (ONGs, Terceiro Setor, Associações voluntárias, movimentos populares locais e etc.) que se organizam entre si e também em uma rede mais ampla, e vão ser também sujeitos de base constituinte desses movimentos sociais. Neste sentido, esses atores participam do segundo nível, que são compostos por organizações de articulação e mediação política (fóruns da sociedade civil, da reforma urbana, da reforma agrária, de economia solidária, etc.). Também compõem esse nível outras organizações em redes que tratam de questões identitárias como, por exemplo, a articulação de mulheres brasileiras, rede Mata Atlântica e etc. Esse nível articulatório busca o empoderamento da sociedade civil representando as organizações de base. Esse nível é também mediador e articulatório entre sociedade civil e Estado, através de instituições e conselhos, por exemplo. Vale ressaltar que os dois primeiros níveis possuem certa institucionalidade e organizacidade. O terceiro nível é o da mobilização da esfera pública, ou seja, é mais conjuntural. Como ocorre? Marchas, manifestações e campanhas (locais, nacionais e internacionais). O que busca? Visibilidade política através da mídia e os efeitos simbólicos dessa visibilidade para os próprios atores dos movimentos sociais como para a sociedade. Exemplos: Manifestação sobre reforma agrária, Marcha Mundial das Mulheres. É importante não confundir essas ações como se fosse apenas isso o movimento social, que conseqüentemente são criminalizadas pelos aparelhos repressores, pois o movimento social é uma rede social que vai além do protesto, o motivo de sua existência se dá, primeiramente, na medida em que há uma construção de uma identidade em torno de interesses e valores em comum no campo da cidadania; em segundo, na definição de um conflito e/ou opositor; e, em terceiro, construção de um 25 projeto/utopia da sociedade (informação verbal) . As formas utilizadas por esses atores para fazer accountability emprega ferramentas institucionais e não institucionais (ações legais, participação de monitoramento, denuncias na mídia, são alguns exemplos) que se baseia na ação de múltiplas associações de cidadãos, movimentos, ou a mídia, objetivando expor falhas do governo, trazer novas questões para a agenda pública ou influenciar decisões políticas a serem implementadas pelos órgãos públicos (Smulovitz e Peruzzotti, 2000, p. 07). 24 SCHERER-WARREN, Ilse. Disciplina sociais, ONGs, Terceiro Setor e a participação social: aspectos teóricoconceituais e trajetória no Brasil contemporâneo. Curso Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais. UFMG, 2009. 25 Idem. Vídeos disponibilizados na respectiva disciplina e curso. 25 Isso se deve a novas formas de intervenção civis organizadas em torno de uma política de direitos e de prestação de contas, onde o Brasil é um exemplo que, após a Constituição Federal de 1988, que homologa formas mecanismos legais de participação, passando de uma democracia representativa para uma democracia cada vez mais participativa. Segundo Peruzzotti: A renovação na cultura política e das tradições democráticas da região se traduz em uma relação mais complexa e tensa entre os cidadãos e seus representantes políticos. Importantes setores da sociedade se negam a exercer um papel meramente passivo, limitando à delegação eleitoral, e assumem uma atitude ativa de supervisão permanente de seus representantes de maneira a assegurar que os comportamentos dos mesmos se enquadrem dentro das normas de responsabilidade e de responsiveness que dão legitimidade ao vínculo representativo. (PERUZZOTTI, 2009, p. 03) Ao irmos especificando este conceito, podemos restringi-lo se continuarmos a afirmar que essa modalidade de accountability é ativada somente por demanda e dirigida por questões singulares, podendo vigiar ações governamentais (como accountability horizontal), mas não necessitando de titulações constitucionais. Neste sentido, como ficam os mecanismos dotados de titulação jurídica e constitucional, como é o caso dos conselhos gestores de políticas públicas, e do orçamento participativo, por exemplo, que podem ser considerados, também, elementos de societal accountability. Outro fator reducionista é a própria participação da mídia neste processo de accountability. Para que a noção de accountability societal possa abranger outros mecanismos de participação é necessário reconsiderar essa definição, incorporando nesse âmbito mecanismos que se apresentem uma configuração jurídico-institucional, e que não sejam apenas mobilizadores de sansões simbólicas. É salutar ressaltar que a distinção feita entre accountability vertical (eleições), accountability horizontal e accountability societal, reconhecendo que estas três dimensões estão intimamente relacionadas. Para uma boa governança a efetivação dos princípios democráticos, cujos pontos residem na soberania popular e controle dos governantes pelos governados, coloca a questão da responsabilização como o coração da governança democrática. Pois, isso depende de uma capacidade dos cidadãos atuarem e dos mecanismos institucionais que viabilizam o controle sobre as ações do governo. 26 A partir desse conceito de accountability societal, que busca abranger as formas como os movimentos sociais estão buscando para fazer controle, podemos analisar o FPPPCV a luz de uma literatura que atualmente que vem contribuindo para essas próprias experiências cada vez mais qualificar suas ações, principalmente, porque traz elementos que ajudam a elucidar os espaços institucionais que os movimentos sociais estão se inserindo. Por fim, a accountability societal está se relacionando as múltiplas formas que os movimentos sociais estão se configurando para a construção de uma democracia realmente democrática. Esse conceito ajudar a refletir sobre as ações do FPPPCV? E demonstrar quais foram as limitações e os avanços? Tais indagações é a reflexão que desenvolveremos no próximo capítulo. 27 3 ACCOUNTABILITY SOCIETAL DO FPPPCV: CONQUISTAS E DESAFIOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA 3.1 A primeira experiência de democracia participativa no Careiro da Várzea Com base nas considerações nos capítulos anteriores, onde delineamos conceitualmente, no primeiro capítulo, o relato a experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV, e em seguida, no segundo, as formas de accountability, para agora problematizarmos essa experiência e percebermos as conquistas e os desafios para o exercício do controle diante da conjuntura onde a sociedade civil cada vez mais busca estar presente nos canais institucionais de participação. A experiência do FPPPCV levanta um questionamento fundamental. O que seria democracia participativa para a os gestores públicos do Careiro da Várzea? Por mais que existam métodos e técnicas participativas e democráticas que viabilizam a participação popular na elaboração e acompanhamento das ações dos gestores públicos, aceitar e contribuir neste processo de participação ainda não é algo absorvido e desejado pelo poder público e tampouco pelas organizações civis nos moldes em que são criadas, onde a cultura paternalista, personalista e assistencialista é muito presente no município do Careiro da Várzea. Porém, o FPPPCV surge neste cenário com uma grande particularidade, são resquícios dos militantes que estiveram presente no processo de constituição do município apoiado pela Igreja Católica em busca de construir uma cultura de participação. A mobilização e organização das lideranças partiram, no primeiro momento, de um problema social, que no caso era as péssimas condições da escola municipal (conflito), que congregou os agentes que participavam de trabalhos pastorais (identidade comum), e com o objetivo de buscar superar as condições de 28 subcidadania e de participar das questões políticas do município (projeto/utopia)26. Isso evidencia o modo como surgiu esse movimento popular. Pela particularidade da localidade (geografia de várzea), onde os acessos as comunidades se dá somente pela via fluvial e pelas lideranças na maioria ligadas as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e de outras denominações religiosas, esse movimento popular decide criar o um fórum27 como espaço de mobilização para agregar as lideranças em prol de discutir e acionar os mecanismos políticos de implementação das políticas públicas. Estar organizado através de um Fórum Popular de Políticas Públicas, para as lideranças, era adquirir uma identidade e visibilidade frente à sociedade careirense e principalmente frente aos gestores públicos. 3.2 Accountability Vertical e Horizontal e sua relação com o Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV Partindo do conceito de accountability vertical que está relacionada à existência de eleições razoavelmente livres e justas, em que o eleitorado pode punir ou premiar um mandatário, votando a favor ou contra ou aos candidatos que apóie nas eleições seguintes podemos perceber que o FPPPCV simplesmente atuou em realizar sensibilizações pelo voto ético28, principalmente durante o período eleitoral e também em campanhas de combate a corrupção eleitoral29. Esta última está relacionada a uma ação de accountability societal relacionado à dimensão da accountability vertical, na possibilidade de denunciar de atos delituosos durante o processo eleitoral. Tais ações foram muito tímidas e seus efeitos não resultaram em mudanças visíveis no cenário político do Careiro da Várzea. Todavia, outra ação do fórum, que se refere a reivindicações, foi a realização de seminários e mesas 26 SCHERER-WARREN, Ilse. Das ações coletivas às redes de movimentos sociais. Disponível em: <http://sureco.grude.ufmg.br/moodle_externo/file.php/21/modulo_VI/TextoObrigatório.pdf>. Acessado em: 29/10/2009. 27 Ver citação n°15 sobre a criação do FPPPCV. 28 A campanha pelo voto ético é realizada pela Igreja Católica e diversos outras entidades em todos os períodos eleitorais. 29 Ver Campanha Combate a Corrupção Eleitoral no sitio: www.mcce.org.br. 29 redondas de debate chamando os candidatos a prefeito durante as eleições municipais de 2000 e 2004 para a adesão a Campanha Prefeito Criança que trazia uma serie de metas30 ao gestor público na área da criança e do adolescente, pois isso era a pauta reivindicatória do FPPPCV durante as respectivas gestões municipais. Na dimensão da accountability horizontal que é a ação de agências legais dentro do Estado para monitorar e até punir atos de agentes públicos. Esta forma de accountability para funcionar dentro de uma esfera administrativa pública necessita de uma organização robusta, onde os mecanismos de cheks and balances funcione entre os órgãos públicos. Mas, como também foi exposto no segundo capítulo, esse conceito, em democráticas onde a figura do prefeito (personalismo) é muito forte, como é o caso do Careiro da Várzea, tornando essa forma de accountability ainda muito precária. Muitas das iniciativas de apurar denuncias contra o gestor municipal apresentadas pelo FPPPCV não resultaram em punição pelo judiciário porque este sempre esteve atrelado ao executivo. Mesmo em casos onde a oposição estava presente não houve uma resposta das agências judiciais. Isso também se dá pelo fato de não haver uma mídia independente que buscasse tornar público as denuncia e, com isso, formar a opinião pública para protestar simbolicamente por uma resposta por parte dessas agências. 3. 3 Accountability Societal e sua relação com os Conselhos Gestores de Políticas Públicas na experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV A relação entre a sociedade civil e governo no Brasil contemporâneo parte de um movimento social crítico e de controle. Isso vem sendo utilizado pelos movimentos populares latino-americanos e principalmente os brasileiros para caracterizar a luta pela inclusão e participação dos setores populares na definição dos rumos de nossa sociedade através, principalmente, das políticas públicas como instrumento transformador da realidade. Uma luta pela abertura de espaços para a 30 Ver anexo 01. 30 participação da sociedade civil nas diversas fases da política pública, desde a sua formulação até seu monitoramento e avaliação, buscando o compartilhamento do poder decisório entre Estado e sociedade e a garantia de direitos. Neste sentido, partimos para a reflexão acerca do conceito de accountability societal diante da experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea – FPPPCV. A accountability societal vem ampliar significativamente o conceito da vertical, sendo caracterizada como forma de atuação da sociedade no controle das autoridades políticas, com ações de associações de cidadãos e de movimentos, com o objetivo de expor os erros governamentais e ativar o funcionamento das agências horizontais. Uma primeira análise a partir desse conceito é perceber a forma de organização do FPPPCV, onde o mesmo congrega associações civis como de moradores, de agricultores e de pais e mestres, igrejas locais através de suas pastorais, congregações religiosas, lideranças como professores e comunitários em geral, além das entidades de assessorias como a Cáritas A. de Manaus. Outra articulação é a relação com outros fóruns como os da criança e do adolescente em nível estadual. Além da conexão a questões nacionais como algumas campanhas como Voto Ético. Essa maneira de organização unificou o fórum e deu legitimidade política para suas reivindicações. A conseqüência de toda essa mobilização foi que o fórum se tornou “um bicho papão” (informação verbal)31 para os gestos municipais, ou seja, a reação diante de um processo de organização social inédito no município derivado da sociedade civil sem nenhum atrelamento a prefeito e a vereador. A sansão simbólica é um primeiro efeito de accountability própria da societal, pois em todas as ações era cobrado do gestor público municipal uma posição. Através de instrumentos como: chamados para reuniões; abaixo-assinados; cartas abertas; e, ofícios. 31 Antonio Castro – Presidente da Associação Comunitária dos Produtores Rurais do Curarizinho – Careiro da Várzea, em entrevista concedida em 09 de janeiro de 2010. 31 Após algumas experiências de debate com o executivo, onde o fórum levou suas reivindicações32 que resultaram em respostas positivas. O FPPPCV resolve ampliar sua participação em canais institucionais. Daí surge um processo de se integrar aos conselhos já existentes como é o caso do Conselho Municipal de Saúde e o de Educação. Haja vista que para qualificar a participação era importante estar presente em espaços decisórios. Para isso, muitas ações foram alavancadas como a mudança de alguns artigos da lei de criação desses conselhos até realização de assembléias populares para escolhas dos conselheiros da sociedade civil. Aqui o conceito de accountability societal é problematizado porque ao tentar defini-lo, podemos restringir a ações pontuais. Mas, o FPPPCV demonstra que participar dos espaços institucionais de controle como os conselhos é fundamental para qualificar a participação da sociedade civil, pois o papel dos conselhos é extremamente estratégico para fazer accountability que vem no sentido de propor, definir, monitorar e denunciar políticas públicas. Nessa experiência do FPPPCV, a inserção em conselhos para cobrar do gestor público o cumprimento de metas e constituição de políticas públicas, principalmente na área social, diante de um contexto político nacional que é a implementação de programas e projetos sociais que, para chegar na esfera municipal, precisa da boa vontade do gestor municipal, caso não haja uma cobrança por parte da sociedade civil. Diante disso, outra grande ação do FPPPCV foi a luta para o executivo criar a Secretaria Municipal de Assistência Social do Careiro da Várzea e consecutivamente o Conselho Municipal de Assistência Social. Posteriormente, também a criação do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. Essas conquistas se tornam muito positivas para a implementação de projetos e programas sociais no município do Careiro da Várzea. O acompanhamento dessas políticas se torna a agenda do FPPPCV que é a representação da sociedade civil, já os conselheiros derivados do fórum dentro dos conselhos são as lideranças que 32 É importante frisar que para construir as propostas do fórum eram feitas pesquisas e reuniões com a comunidade. 32 pautam nesse espaço as reivindicações da sociedade, por ter caráter propositivo e deliberativo. Aqui o exercício de accountability societal se torna complexo, pois além de não perder sua autenticidade, autonomia e legitimidade ao estabelecer uma constante interface com os gestores em espaços institucionais de controle. Ao longo dos anos dos primeiros anos (1999 – 2003) o FPPPCV teve um grande papel político. Porém, como os processos sociais são movimentos que sofrem ao longo do tempo diversas fases, ou seja, são movimentos sociais dinâmicos ao longo do tempo, diante das conjunturas políticas que se estabelecem. Neste sentido, podemos citar algumas limitações da participação dos conselheiros da sociedade civil que ao longo do tempo surgiram: burocratização, cooptação, sonegação de informações principalmente do orçamento e rotinização. Um fator dificultoso ao próprio FPPPCV foi não renovação de lideranças. A representação governamental nos conselhos foi também limitada pelos seguintes fatores: conselheiros indicados só para ocupar a vaga, desconhecendo a política, principalmente de assistência social, além de participar de vários conselhos ao mesmo tempo e sem poder de decisão. Os desafios para que esses espaços sejam bem constituídos são importante dois elementos: acesso a informação, principalmente do orçamento; e, autonomia da sociedade civil, pois exige organização em espaços que não apenas os próprios conselhos. É neste ultimo ponto que, para o exercício de accountability societal, se constitui estrategicamente a participação do FPPPCV, que não se resume na participação nos conselhos, os movimentos populares precisam estar em constante acompanhamento e avaliação desses espaços e deve ser combinada e complementada com outras formas de organização e mediação política. Por fim, as considerações acerca dessa discussão aponta a necessidade continuarmos nesse constante processo que é democratizar a democracia através dos mecanismos legais de participação e principalmente de avaliar constantemente os avanços, retrocessos estagnações que os movimentos sociais tem nessa relação com a institucionalidade. 33 CONCLUSÃO O objetivo do trabalho foi analisar a experiência do Fórum Popular de Políticas Públicas do Careiro da Várzea - FPPPCV e o conceito de accountability societal na construção da democracia participativa. Partiu-se do relato da atuação do FPPPCV, seguindo da conceitualização de accountability vertical, horizontal e societaI, para co-relacionar os aspectos conceituais da accountability em suas dimensões e a axperiência própria do fórum. Um primeiro aspecto a ser considerado é que o FPPPCV realizou uma atuação inédita das lideranças locais na política pública do Careiro da Várzea, nesse movimento cívico que a sociedade brasileira cada vez mais busca aperfeiçoar após a redemocratização. Outro aspecto importante é demostrar que a sociedade civil pode exercer um excelente papel de controle, mesmo diante de conjunturas políticas em pequenos municípios onde a figura do prefeito é muito forte e a sociedade civil não tem muita cultura de participação em instâncias públicas e de acionar os orgãos fiscalizadores. A forma de organização do FPPPCV demostrou que distintos segmentos sociais podem se articular e se mobilizar entorno de uma agenda única. Construindo uma atuação em conjunto e sistemática, com apoio externo de instituições como a Cáritas A. de Manaus e de outros movimentos sociais que engendram as mesmas reivindicações seja em esfera estadual, nacional ou internacional. A ideia de accountability societal cunhada pelos pensadores contemporâneos traz uma forte contribuição para entedermos como podemos analisar a própria atuação social, onde neste caso, o FPPPCV pôde ser analisado para percebermos os avanços, estagnações e retrocessos. Vimos que o FPPPCV exerceu accountability societal mesmo que as formas verticais e horizontais não estivessem tão presentes. Através dos conselhos gestores de políticas públicas a sociedade careirence, organizda em um fórum, buscou se engajar nos espaços públicos de participação política. Outras sansões simbólicas como atos públicos, abaixo assinados e etc. foram importantes para que os gestores públicos se sentissem pressionados e 34 percebessem a força política do FPPPCV, abrindo espaços para o diálogo e atendendo as reivindicações. Tais questões acimas descritas são exemplos que não deixam de ter dificuldades, pois atualmente o FPPPCV se encontra muito desarticulado e sem muitas lideranças para atuarem constantemente. Isso devido a força desmobilizatória que a administração pública através da cooptação e de outros modos como a criminalização dos movimentos sociais. Mesmo assim, a accountability societal é um demostrativo que a participação da sociedade civil é importantíssima para uma democracia. Indica que a sociedade quer qualificar a tarefa das instituições públicas. Assim, é importante estimular o controle com o intuito de derrubar os obstáculos e construir caminhos para a democratização da democracia. Em países como o Brasil, onde a desigualdade social é abrupta, a participação da sociedade mais desfavorecida e desprovida de políticas públicas (as Vítimas) é o modo que acredito derrubar a diferença social entre: pouquíssimos extremamente ricos e muitos muito pobres. A accountability societal é um importante passo neste caminho. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Alda Judith. A “Revisão da Bibliografia” em Teses e Dissertações: meus tipos inesquecíveis. Faculdade de Educação/UFRJ. Disponível em: <http://sureco.grude.ufmg.br/moodle_externo/file.php/21/M3_TEXTOS/Textos_de_ leitura_complementar/TextoC3.pdf>. Acessado em: 25 mar. 2009. ___________. O Planejamento de Pesquisas Qualitativas em Educação. Faculdade de Educação/UFRJ. Disponível em:<http://sureco.grude.ufmg.br /moodle_externo/file.php/21/M3_TEXTOS/TextoOb1.pdf>. Acessado em: 25 mar. 2009. ARATO, Andrew. Representação, Soberania Popular e Accountability. Lua Nova, N° 55, 2000 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 20.ed. São Paulo: Atlas, 2003. Construindo a Plataforma dos movimentos sociais para a reforma do sistema político no Brasil. Versão II. Disponível em: <http://www.reformapolitica.org.br>. Acessado em: 15 mar. 2009. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO. Disponível em: <http://www.giea.net/legislacao.net/internacional/declaracao_direitos_homem_cidada o_ 1789.htm>. Acesso em: 10 mai. 2009. DUARTE, Rosália. Pesquisa Qualitativa: Reflexões sobre o Trabalho de Campo. Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://sureco.grude.ufmg.br/moodle_externo/file.php/21/M3_ TEXTOS/Textos_de_leitura_complementar/TextoC4.pdf>. Acessado: em 25 mar. 2009. DUSSEL, Enrique. Ética da libertação: na idade da globalização e da exclusão. Trad. Ephraim ferreira Ales, jaime A. Clasen, Lúcia M. E. Orth. 3° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. FONCESA, Claudia. Quando cada caso Não é um caso. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://sureco.grude.ufmg.br/moodle_externo /file.php/21/M3_TEXTOS/Textos_ de_leitura_complementar/TextoC1.pdf>. Acessado em: 25 mar. 2009. GOMES, Ana Maria Rabelo, FARIA, Eliene Lopes, BERGO, Renata Silva. Sobre o projeto e o processo de pesquisa na elaboração de monografias. Disponível em: <http://sureco.grude.ufmg.br/moodle_externo/file.php/21/M3_TEXTOS/TextoOb2.pdf > . Acessado em: 25 mar. 2009. GRANJEIRO, J. Wilson. Administração Pública. 11a.ed. Brasília: Vestcon, 2003. MINAYO, N. C. & SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Disponível em: <http://sureco.grude.ufmg.br/moodle_ 36 externo/file.php/21/M3_TEXTOS/Textos_de_leitura_complementar/TextoC2.pdf>. Acessado: em 25 mar. 2009. NICOLAL, Jairo. Reforma Política no Brasil: Realizações e pespectivas. Fortaleza: Fundação Konrad Adnauer. ODALIA, Nilo. A Liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, Jaime; PINSKY Carla Bassanezi (orgs.), História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. O’DONNELL, Guillermo. Accountability horizontal e Novas Poliarquias. Lua Nova, N° 44, 1998. PERRUZOTTI, Enrique. A política de Accountability Social na América Latina. In. Sociedade Civil e participação/ Enrique Perruzotti, Marcio Simeone, Miguel Arroio. Belo Horizonte: UFMG, 2009. PINSKY Carla Bassanezi (orgs.). História da Cidadania. São Paulo: Contexto, 2003. PONTUAL, Pedro. Desafios à construção da democracia participativa no Brasil: a prática dos conselhos de gestão das políticas públicas. Observatório dos Direitos do Cidadão Polis/IEE-PUC-SP. São Paulo, 2008. PONTUAL, Pedro. Reformas Políticas: aperfeiçoando e ampliando Democracia. Disponível em: <http:www.polis.org.br>. Acessado em: 10/02/2009. a PRZEWORSKI, A. O Estado e o Cidadão. Mimeo, 2000 QUEIROZ, Antônio Augusto de. Reforma Política, tópicos centrais. Disponível em http://<www.inesc.org.br/biblioteca/textos-e-manifestos>. Acessado em: 10/02/2009. SCHIER, Adriana da Costa Ricardo. A participação popular na administração pública: o direito de reclamação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. SEMERARO, Giovanni. Gramsci e a sociedade civil: cultura e educação para a democracia. Petrópolis: Vozes, 1999. SILVA, Francisco Cruz da. Controle Social: Reformando a Administração para a Sociedade. (Monografia) Salvador: 2001. SMULOVITZ, Catarina e PERUZZOTTI, Henrique. Accountability Societal: outra forma de controle. Mimeo, 2000. 37 ANEXO 01 Metas do Prefeito Criança: • Proteger a saúde das crianças e dos adolescentes com ações preventivas e educativas; • Reduzir a mortalidade infantil; • Reduzir a mortalidade materna; • Garantir a segurança alimentar, promovendo educação, em saúde e nutrição para as famílias; • Tornar disponível à todas famílias água limpa, tratamento de esgoto e coleta de lixo, em todas as residências; • Oferecer ações de prevenção e retaguarda às crianças e jovens vítimas de negligência, maus tratos, abusos, crueldade e opressão; • Prevenir e erradicar o trabalho infantil, implementando as convenções 138 e 182 da Organização Internacional do Trabalho – OIT; • Implementar medidas socioeducativas em meio aberto para os adolescentes autores de atos infracionais; • Possibilitar o acesso de todas as crianças à creche e pré-escola e melhorar a qualidade da educação infantil; • Possibilitar o acesso e garantir a permanência com sucesso da 1ª à 8ª série de todas as crianças e jovens do município e melhorar a qualidade do ensino da rede pública municipal; • Oferecer esporte, lazer e cultura à todas as crianças e os adolescentes; • Incluir no plano diretor do município a obrigatoriedade de espaços e equipamentos públicos para as crianças e os adolescentes; • Promover a capacitação profissional e a iniação ao trabalho para os jovens de acordo com a lei; • Promover o exercício da cidadania de crianças e adlescentes, oferecendo informações e espaços de participação e implementação de ações de seu interesse; • Erradicar o analfabetismo infanto-juvenil; • Assegurar o direito civil à todas crianças do município.