Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes A NARRATIVA COMO ENTENDIMENTO DE CULTURA NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE MASCULINA: COMO UM HOMEM POSICIONA SEU SELF QUANDO PERDE O PODER DO CONTROLE Rosania de Almeida de Lima Faculdade de Letras (UFRJ) 1 1. Introdução D esde os primórdios dos tempos em que homens e mulheres começaram a se organizar em grupos, o homem vem continuamente desenvolvendo o seu papel de caçador e dedicando-se a fortalecer o seu corpo fisicamente. Seus músculos o impulsionavam para as mais diversas atividades físicas e também a fazer os trabalhos mais pesados. Com isso, seu controle sobre tudo e todos foi aumentando e, consequentemente, foi instalado seu poder. Poderíamos nos perguntar se é o controle que instala o poder ou é o poder que exerce o controle. De qualquer maneira, esses dois fatores estão tão interligados que não nos damos conta disso. Vivemos em uma sociedade que controla nossa vida, nossos pensamentos, nossos planos, nossos sonhos e nossas palavras. Dia a dia nos encontramos em situações tão programadas que nem mesmo temos tempo de nos darmos conta de todo o controle que rege nossos pensamentos, ações e atitudes Por isso, faço uma breve reflexão sobre um dos mais antigos controles que se instalou na sociedade ocidental: o controle masculino. Não cabe a mim aqui falar das exceções, quero apenas fazer um pequena reflexão sobre a maioria. Nossos avós controlaram nossos pais, nossos pais nos controlaram e ainda tentamos controlar nossos filhos. Porém, seja como for, o papel do homem como controlador vem sido intermitentemente ensinado e tem tomado proporções cada vez maiores. Desde criança os homens são ensinados que homem “de verdade” tem que controlar suas emoções. Quando a criança começa a expressar suas emoções conscientemente, ele já começa a ser controlado: “Homem não tem medo de escuro”, “homem não tem medo de barata”, “homem não tem que pedir”, o “homem é quem dá proteção e segurança”, e, acima de tudo, “homem que é homem não chora”. Para agravar a situação, ele também aprende que certas profissões são exclusivas para homens, e que se alguma mulher atrever-se a desempenhálas, provavelmente, não se sairá tão bem. O homem aprende que ele é o “chefe da família”, que todo “homem trai”, que “sua mulher é exclusividade dele”, que “sua palavra é a que prevalece” e que “ele tem o controle de suas decisões”. É o “homem cavalheiro e educado” que abre a porta do carro, é o “homem que convida a dama para uma dança”, e é “ele quem a conduz na dança”, mesmo que ele não saiba dançar. É o “homem que toma a iniciativa de uma cantada”, que “pede o telefone”, que “liga para ela”, que “marca o encontro” e que “pede a mulher em namoro ou para casar”. É o “homem que pode ficar no bar sozinho”, é “ele que pode caminhar pelas ruas até tarde da noite”, é o “homem que não tem medo de homem”. 1 E-mails: [email protected]; [email protected] A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 6 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes Isso é o que acontece na maioria dos casos, é claro, sem levar em consideração as pequenas exceções. Os homens são ensinados a controlar e o que acontece quando eles perdem o poder do controle? A análise de narrativas tem sido um importante recurso para o entendimento de formas culturais articuladas na ação social (GEERTZ, 1989), cujo significado desponta através do papel que as formas culturais desempenham, ou seja, no padrão de vida emergente. Revelamos muito de nós através de histórias de vida presentes em experiências sociais. A narrativa analisada neste artigo mostra como o contador constrói sua posição cultural como membro do grupo de homens. A análise apresentada mostra como esse homem posiciona seu self e constrói o seu papel de controlador através de suas emoções reveladas por suas palavras. Nossas identidades são avaliadas constantemente e precisamos adequá-las a todas as situações. Somos o que achamos que as pessoas pensam de nós. Fazemos de nossas identidades nossos retratos, como se pudéssemos ser imutáveis e sem emoções, que se transformam e nos transformam todo o tempo. Este artigo tem como foco a análise de uma narrativa, como história de vida, e estuda a construção de identidade ao contar uma história. Roberto, 36 anos, narra uma experiência de um assalto na cidade do Rio de Janeiro e sente sua identidade ameaçada ao perder o controle da situação. Seu status masculino de poder parece estar em perigo. Essa análise pretende responder duas perguntas: Como se apresenta o self emocional masculino nessa situação de impotência? Como um homem constrói sua identidade e se autoretrata “quando ele perde o poder do controle”? Como um homem constrói sua identidade cultural a fim de agir da forma aceita pelos membros de sua sociedade? 2. Características de narrativas William Labov foi o primeiro lingüista a se interessar pela relação entre língua e sociedade. Narrar histórias é uma habilidade verbal usada para avaliar experiência retomada no momento da narrativa. Na visão laboviana, o narrador integra o momento de sua narrativa a um contexto social mais amplo do que o momento do fato ocorrido (LABOV, 1972). Primeiramente, para uma estória despertar o interesse de ser ouvida é necessário que se faça um sumá rio a respeito do que se vai contar ou ser ouvido. Essa característica é o que Labov chama de a bstra ct. O sumá rio pode garantir a atenção e o interesse do ouvinte. Também é importante identificar quando se passa a estória, o lugar, as pessoas que fazem parte da ação e a idéia geral da situação. A orienta çã o, geralmente, vem logo após o sumário e são orientações que ajudam na localização dos fatos. A a çã o complica dora é o elemento obrigatório na narrativa, ela corresponde à seqüência de eventos em orações ordenadas temporalmente e sintaticamente. Ela responde à pergunta: E aí, o que aconteceu? A a va lia çã o é o elemento dramático identificado por Labov, e é ele que carrega toda a carga emocional da narrativa. A avaliação é usada para indicar o ponto da narrativa, pois ela é a informação sobre a posição do self do narrador em relação ao que ele está contando. A resoluçã o é a etapa de finalização da série de eventos da ação complicadora. A ela corresponde a pergunta: “e finalmente o que aconteceu?” Outro elemento da estrutura narrativa proposta por Labov, a coda possui a função interativa de sinalizar que a narrativa terminou, geralmente com um comentário. Por exemplo: e A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 7 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes foi isso que aconteceu. Contar histórias tem sido objeto de pesquisa nas últimas décadas. Procura-se entender porque as narrativas se acham tão presentes em nossas vidas, o que significa contá-las e como nos posicionamos ao contá-las (BASTOS, 2005). Contar história sobre uma experiência pessoal é um exemplo de um processo que permeia nosso modo de falar, agir e estar no mundo (SHIFFRIN, 1996). Ao narrarmos nossas histórias, posicionamos nosso self e construímos identidade cultural socialmente situada: quem somos, onde estamos e quem está conosco (SHIFFRIN, 1996). Quando contamos uma história, representamos nós mesmos em relação às expectativas culturais em nossas ações típicas. Quando construímos nossas experiências, fazemos emergir nossas identidades como uma maneira de nos posicionarmos em relação às nossas expectativas sociais e culturais. 3. Emoções Segundo Bedford (1986, p. 15) todo ser humano nasce com um conjunto de emoções básicas. Uma emoção é um sentimento interno, ou uma experiência que envolve um sentimento. Mesmo ao considerar que a expressão dessas emoções varia de acordo com características sociais e culturais, a teoria essencialista considera as emoções como algo préexistente, geneticamente adquiridas, e por isso são mais inerentes do que aprendidas. Na abordagem sócio-construcionista (LUPTON, 1998), mais do que fenômenos individuais, as emoções são fenômenos intersubjetivos constituídos nas relações entre pessoas. As emoções são consideradas algo aprendido e não comportamentos herdados. A expressão das emoções de uma pessoa é socialmente moldada e sujeita a ser direcionada. As emoções são aspectos de um sistema de significados culturais que as pessoas utilizam na tentativa de entender as situações nas quais se encontram (LUTZ, 1985). 4. Identidade e o culturalmente “comum” Considerando o conceito semiótico de cultura, podemos dizer, como Max Weber, que o homem é um animal preso a teias de significados que ele mesmo tece. Assim, para Geertz (1989), essas teias seriam a própria cultura e dentro dessas teias são elaboradas as identidades que revelam-se através de significados culturais. Essas teias seriam as diversas vinculações sociais, com as quais os indivíduos que fazem parte de várias culturas fabricam suas identidades, de acordo com as situações relacionais sociais em que se encontram em um dado momento. Uma coisa todos os homens possuem igualmente: todos os homens são igualmente diferentes e isso lhes atribui uma identidade humana e uma pessoal (CUCHE, 2002). A identidade não é categórica, nem fixa, ela é dinâmica. A integração do indivíduo na sociedade está relacionada ao modo como o seu self é apresentado em diferentes situações sociais e como os conflitos entre esses diferentes papéis sociais são negociados. Nossa percepção de identidade muda quando nossas expectativas sócio-culturais mudam. (SHIFFRIN, 1993). Ao narrar, somos agentes no mundo e temos responsabilidades em nossas ações descritas em nossas histórias. Para Harvey Sacks (1984), as pessoas assumem o compromisso de manter tudo A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 8 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes absolutamente normal. Quase todos estão ocupados em encontrar uma forma de fazer tudo tornar-se comum, usando todo esforço possível. Sacks diz que nos ocupamos constantemente em “sermos comuns” e isso se aplica ao contarmos alguma história e descrevermos uma situação em que estejamos inseridos, isto é, fazemos com que a cena se torne uma cena comum, normal. 5. Um grande susto A narrativa que passarei a analisar foi gravada em uma conversa com meu vizinho Roberto, de trinta e seis anos, em meu apartamento. Roberto conta a história de um assalto vivenciada por ele na cidade do Rio de Janeiro, a qual denominei “Um grande susto”. A transcrição completa da narrativa analisada encontra-se no final do capítulo. Os exemplos analisados nas respectivas partes de fala serão transcritos no momento da análise. Para que uma história desperte o interesse de ser ouvida, é necessário que se faça um sumário a respeito do que se vai contar. Labov (1972) denominou essa primeira etapa de abstract (sumário). Esse é o primeiro passo para garantir a atenção do ouvinte. Na verdade, a introdução ou abstract na narrativa de Roberto é feita pela minha pergunta no início da conversa. 1 Rosania 2 3 4 é,é,lembra daquela estória que tu me contou de um assalto que foi uma, foi uma, ( ) experiência de : : muito susto que você viveu, será que você poderia me contar de novo? Ao introduzir a história, direciono Roberto com uma avaliação direta a respeito da situação que ele teria vivido. Dessa maneira, co-construo sua experiência. Os diferentes prefácios das histórias vão levar a diferentes manifestações dos ouvintes; a ausência ou presença das manifestações dos ouvintes terão influência nos enunciados do narrador (BASTOS, 2005). Dessa maneira, co-construo a experiência de Roberto e o induzo a contar sua história dentro das minhas expectativas: uma história de grande susto. Quem somos, onde estamos e quem está conosco nos faz descrever as situações de maneira a nos situar socialmente. Roberto descreve o acontecimento com um comentário tentando ser mais discreto em relação à pessoa que estava com ele. Desse modo, ele permeia um tanto formalmente nosso relacionamento, sem a intimidade que tem com seus amigos, principalmente do sexo masculino, e tenta preservar a imagem da menina que estava com ele: “tava acompanhado, tava c’uma pessoa, uma menina, a gente tava apenas conversando dentro do carro”. 5 Roberto 6 7 8 é, essa estória aconteceu, é:: há uns dois anos atrás... tava no meu carro, né?, aqui no méier, tava acompanhado, tava c’uma pessoa, uma menina, a gente tava apenas conversando dentro do carro e fui abordado, assim A língua tem um papel importante na formação da subjetividade cultural. Atualmente, a Antropologia sócio-cultural tem feito importantes estudos sobre identidade que recaem em A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 9 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes evidência lingüística – como histórias de vida, narrativas, entrevistas (BUCHOLTZ; HALL, 2003). A Antropologia lingüística considera a identidade um fenômeno social e vê a subjetividade individual e agência social como fatores importantes na construção lingüística do self (BUCHOLTZ; HALL, 2005). Roberto começa a construir sua identidade ao revelar seu self masculino de protetor. Ele age socialmente na elaboração de seu papel para mim, no momento em que narra, e para o outro personagem que faz parte de sua história, a menina que estava com ele. Em sua construção lingüística, apenas evidencia uma situação comum. Para Harvey Sacks (1984), as pessoas assumem o compromisso de manter tudo absolutamente normal. Quase todos estão ocupados em encontrar uma forma de fazer tudo tornar-se comum, usando todo esforço possível. As pessoas se esforçam para se convencerem e convencer de que “nada aconteceu” em situações que, normalmente, o que imaginamos aconteceria. Harvey diz que nos ocupamos constantemente em “sermos comuns” e isso se aplica ao contarmos alguma história e descrevermos uma situação em que estejamos inseridos, isto é, fazemos com que a cena se torne uma cena comum, normal. Sacks explica que existe um mecanismo de força imensa operando em nossas percepções e pensamentos, algo cultural e temporalmente distribucional. Trata-se das pessoas confiarem ou não em seus olhos, e eu acrescentaria, em suas palavras. Uma orientação culturalmente ordenada de visão leva a um foco sobre outros sentidos. O sentido cultural afeta a maneira de ver a cena. Por isso, Roberto faz questão de descrever a cena em que está com uma menina como uma cena comum, perfeitamente empírica e aceitável no mundo “comum”. Roberto precisava formar a situação como ela é comumente, e aí misturar sua experiência com isso. Após uma breve orientação (LABOV, 1972) a respeito da época, do lugar em que o episódio ocorreu, e posicionar a situação naquele momento, Roberto começa a narrar sua história. Isso ajuda a localizar os fatos. 5 Roberto 6 7 8 9 10 11 12 é, essa estória aconteceu, é:: há uns dois anos atrás... tava no meu carro, né?, aqui no méier, tava acompanhado, tava c’uma pessoa, uma menina, a gente tava apenas conversando dentro do carro e fui abordado, assim repentinamente, por duas pessoas, eram dois adolescentes, foi um prum lado, e outro-pelo meu lado, né? onde:: quando eu vi ele tava c’oa arma na minha cabeça, e eu:: naquele momento eu fiquei assim congelado. Roberto faz uso constante de avaliações durante sua narrativa. Ele faz uma breve introdução sobre a situação do assalto, e interrompe o fluxo da narrativa para caracterizar sua experiência emocionalmente: “naquele momento eu fiquei assim congelado.” Roberto usa a metáfora congelado para descrever que suas ações acabavam de ser paralisadas e associa a idéia de congelado, frio ao momento frio daquela situação. Logo após o início breve de sua história, Roberto passa para o EU, ou seja, para seu self. Agora ele está falando dele e não da história: 11 12 quando eu vi ele tava c’oa arma na minha cabeça, e eu:: naquele momento eu fiquei assim congelado. A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 10 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes Nesse ponto Roberto congela a ação pra marcar a carga emocional daquele momento, garantindo, assim, a minha atenção. “e eu:: naquele momento eu fiquei assim congelado”. Congelado significa que naquele momento Roberto perde o controle da situação. Estava conversando com uma menina numa situação totalmente controlável, mas uma nova situação o faz perder o controle. Roberto continua suas avaliações fazendo emergir seu self emocional. Havia aprendido a controlar suas emoções, mas acabava de perder o controle naquele momento. E ele tenta justificar o que sentiu através da avaliação da situação e de seu estado emocional no momento. Como construção sócio-cultural, as emoções são aprendidas e construídas através da aculturação. O homem aprende que ele deve ter o controle sobre muitas coisas, porém, algumas situações não deixam isso muito claro. Roberto sente-se completamente sem controle diante daquela situação inesperada e caracteriza isso em avaliações progressivas que intensificam seu estado emocional: “um susto que eu acho que, na minha vida (foi) muito grande; é uma sensação assim terrível, você fica dormente.” 12 13 14 15 16 17 18 19 naquele momento eu fiquei assim congelado. tão foi um susto que eu acho que, na minha vida (foi) muito grande, em que pelo que eu senti a sensação é uma sensação assim terrível, onde você fica dormente, né? seu corpo fica dormente, ce fica sem reação, e passa na sua cabeça, durante segundos, o que você fazer, se você tenta reagir, se você tenta fugir, se você tenta correr, porque a sensação é sempre essa de você sair daquela situação, Roberto caracteriza sua total incapacidade de tomar qualquer decisão naquele momento: “ce fica sem reação”. Ao perder o controle, Roberto sente-se confuso. Seu papel masculino estava sendo ameaçado e nada podia fazer para recuperá-lo:“e passa na sua cabeça, durante segundos, o que você fazer, se você tenta reagir, se você tenta fugir, se você tenta correr,” Mas sabia que precisava sair daquela situação sobre a qual ele não tinha qualquer controle: “porque a sensação é sempre essa de você sair daquela situação,” No entanto, Roberto consegue recuperar seu papel de controlador: “mas:: o certo, é realmente você não não não tentar nada, fazer apenas o que ele ta te pedindo.” 20 21 22 23 24 né?, mas :: o certo, é realmente você não não não tentar nada, fazer apenas o que ele ta te pedindo. mas a sensação é realmente uma coisa muito muito ruim, você:: você fica estagnado, você fica congelado, e não sabe- o que realmente:: o que fazer. Ele justifica a incapacidade de ter o controle da situação, a ponto de não saber o que fazer, como uma maneira de manter o controle sobre a situação. Roberto valoriza suas avaliações “mas :: o certo, é realmente você nã o nã o nã o tentar na da . Ele avalia sua não reação como coerentemente “certa” e reforça a sua falta de controle A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 11 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes como uma coisa positiva naquela situação, Por isso, enfatiza a negação com a repetição: nã o nã o nã o e a palavra negativa na da . Além disso, Roberto “ocupa-se em ser comum”, naquela situação “comum”, onde tudo é muito simples: basta “fazer a pena s o que ele ta te pedindo”. Roberto esforça-se em “ser comum”, construindo a identidade de um homem objetivo e prático. No entanto, “apenas” também materializa a impotência e a falta de controle de Roberto naquela situação, e, aí encontramos, o ponto da narrativa. Apesar da constituição de seu papel de homem interpelado pela nossa sociedade, “apenas” pode ter o sentido reverso de “além”, “mais que”, expressando a idéia de: “Como eu, homem-macho, de verdade, não consegui fazer nada além de obedecer?” Lutz (1985, p. 65) descreve as emoções como construídas culturalmente, ou seja, como aspectos de significados culturais que as pessoas usam na tentativa de entender as situações nas quais elas se encontram. Roberto caracteriza o momento do assalto como uma situação muito ruim, em que ele fica estagnado, congelado, sem saber o que realmente fazer, para tentar entender aquela situação que tinha vivenciado, diferente das situações em que normalmente podia controlar suas emoções e impulsos: “mas a sensação é realmente uma coisa muito muito ruim, você:: você fica estagnado, você fica congelado, e não sabe- o que realmente:: o que fazer”. 21 22 23 24 fazer apenas o que ele ta te pedindo. mas a sensação é realmente uma coisa muito muito ruim, você:: você fica estagnado, você fica congelado, e não sabe- o que realmente:: o que fazer. Ao perceber que Roberto lutava para não desconstruir sua identidade masculina de poder de controle, através de suas avaliações e, por isso, afastava-se do desenrolar da história, acrescentei uma pergunta: 25 Rosania o que você disse pra eles? você falou alguma coisa pra eles? E Roberto, aponta par a resolução de sua narrativa; mais uma vez, ocupou-se em “ser comum” usando, mais uma vez o advérbio “apenas” e retomando o ponto da narrativa: Ele não conseguiu fazer nada além de obedecer. Tinha perdido o poder do controle. 26 Roberto 27 não apenas não falei nada apenas, só obedeci o que eles estavam me pedindo que era- sair do carro, né? e:: se afastar. Bucholtz e Hall (2003) apresentam quatro processos estudados pela Antropologia, que são importantes para o entendimento do uso da língua e identidade. Prática, indexicalidade, ideologia e performance. A prática lingüística é mais uma forma de atividade social diária. A prática é habitual e freqüentemente pouco intencional. A performance envolve um componente estético posto à avaliação pela audiência. Roberto está preocupado com sua performance diante da avaliação da audiência, ou seja, do ouvinte, que sou eu, e, por isso, usa sua percepção para tornar aquela situação simples e comum: “não a pena s não falei nada a pena s, só obedeci”. Mais uma vez usa palavras com a conotação de “simples” e “prático”, apenas e só e as palavras negativas, não e nada, que levaram a uma conseqüência positiva, mas que revelam sua A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 12 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes incapacidade de exercer o controle naquele momento do assalto. Segundo Bucholtz e Hall, a Antropologia Lingüística considera que a ideologia organiza e capacita as crenças e práticas culturais, assim como a relação de poder resultante. Roberto revela sua crença no poder do homem de controlar seu medo. Admite que sua preocupação era com a reação da menina que estava com ele. Por se tratar de mulher, que “comumente” tem mais medo do que o homem, ela, sim, poderia perder o controle e colocar tudo a perder: “mas a minha preocupação também era c’oa outra pessoa, c’oa reação dela, por se tratar de mulher, real- de repente sente até mais medo, do que um... então:: eu tava mais preocupado com ela”. 28 29 30 31 mas a minha preocupação também era c’oa outra pessoa, c’oa reação dela, por se tratar de mulher, real- de repente sente até mais medo, do que um... então:: eu tava mais preocupado com ela. mas graças a deus num num aconteceu. A narrativa é um meio para se chegar a um entendimento do self emergente das ações e experiências, que estão relacionados ao desenrolar da história, e localizados em um conjunto de significados, crenças e práticas sócio-culturais (SCHIFFRIN, 1996). Bruner (1990) faz uma distinção entre self epistêmico e self agentivo. Segundo o autor, apresentamos nosso self epistemicamente quando declaramos nossas crenças, sentimentos e desejos. Geralmente usamos orações avaliativas, que são vistas metaforicamente. O self agentivo é revelado quando reportamos ações direcionadas a um ponto específico, incluindo ações que tenham efeitos em outras pessoas. Roberto revela seu self epistêmico ao declarar sua crença (normalmente compartilhada por todo mundo), que as mulheres têm mais medo do que os homens. Na verdade, Roberto não nega seu sentimento de medo, porém, se coloca em um nível superior ao das mulheres. Quando ele afirma que provavelmente as mulheres sentem mais medo do que os homens, ele declara seu medo, porém sugere a pouca intensidade desse medo, que poderia ter sido “passageiro” ou “controlável”. Enquanto a menina colocaria tudo a perder por não ter o “poder” de controlar seu medo. Ao mesmo tempo que Roberto declara sua posição, ele se apresenta como um personagem que é agentivo. Tinha tomado a decisão de não reagir ao assalto, de fazer apenas o que os assaltantes estavam pedindo, mas estava preocupado, pois a situação poderia ter tomado outros rumos, caso a menina, movida pelo medo “comum” das mulheres, não seguisse sua ação. Por fim, Roberto expõe que a situação teve um final feliz: “mas graças a deus num num aconteceu nada de de de tão grave, né”, graças ao seu “poder de controle” e agência. 31 32 33 34 35 36 37 38 39 Rosania preocupado com ela. mas graças a deus num num aconteceu nada de de de tão grave, né?. então foi uma coisa assim muito rápida, e o que eu tenho a falar é:: nunca reagir eu acho que:: a melhor coisa é você... entregar o que você tem porque... não vale a pena. se de repente eu tivesse feito alguma coisa, alguma coisa ah:: tentado:: de repente reagir ou ou correr, ou sair cum meu carro, de repente eu não estaria contando a estória aqui [ ou então ] [é verdade] A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 13 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes 40 Roberto 41 Rosania 42 Roberto de repente a estória, teria um outro final que não seria esse [é verdade] [um final] tranqüilo, né?. mas é isso. a gente ta sempre... A prática, como repetição, é um instrumento para outro processo semiótico associado com identidade. Para Bucholtz e Hall (2003), a indexicalidade é uma operação semiótica de justaposição pelo qual uma entidade ou evento aponta para outro. Por exemplo, fumaça é um indício de fogo. As estruturas lingüísticas são indiretamente associadas com categorias sociais, através de associações semióticas. Estereótipos sociais são baseados na língua. Roberto sustenta seu estereótipo sócio-culturalmente formado de fazer o que é “comum”, pois o homem é dotado do poder de controle. Ele sustenta que, por ser homem, tem que estar preparado sempre. Ser homem “indica” estar sempre preparado para as situações difíceis e “comuns”: “a gente ta sempre passando por isso. tem que ta preparado sempre, pra quando acontecer, saber:: reagir, né? reagir não, mas... tentar sair dessa situação... o melhor possível.” 42 Roberto 43 44 45 46 [um final] tranqüilo, né?. mas é isso. a gente ta sempre... passando por isso. tem que ta preparado sempre, pra quando acontecer, saber:: reagir, né? reagir não, mas... tentar sair dessa situação... o melhor possível. então minha experiência é essa. E graças ao seu poder de controle a história teve um “final feliz”: “de repente a estória, teria um outro final que não seria esse[um final] tranqüilo, né?”. Roberto, então, sinaliza que havia terminado de contar sua história com a coda: “então minha experiência é essa”. 5. Considerações finais Durante a narrativa, podemos notar que Roberto constrói-se um competente membro de seu grupo em sua cultura. Sua narrativa é coerente com o conhecimento de mundo que ele e eu compartilhamos (LINDE, 1993) dentro de um mesmo padrão social. Por isso, Roberto preocupa-se muito mais em manter seu status masculino de possuir o poder do controle do que entrar em detalhes a respeito da história vivenciada por ele. Já conhecemos como se efetua todo processo da situação de assalto no Rio de Janeiro, por ser comum (SACKS, 1984). Nós dois compartilhamos esse conhecimento por outras histórias de outras pessoas, porém, Sacks afirma que esse é um acontecimento que pensamos não ser comum. Ao descrever a situação em “Um grande susto”, ele percebe que pode estar perdendo seu status e reavalia a situação a seu favor para retomar seu papel masculino. Ele faz uso constante de avaliações para justificar sua total falta de controle naquela situação. Ao enfatizar mais as avaliações do que o próprio desenrolar dos fatos, Roberto tem objetivos e propósitos de estabelecer e manter contato comigo até me levar a compartilhar de suas opiniões. Por duas vezes eu concordo com ele: [é verdade] (linhas 39 e 41). Ao construir sua identidade no momento da narrativa, Roberto garante o entendimento do final da história. Toda situação havia sido controlada por sua agência e, por isso, havia A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 14 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes resultado num final feliz. Vivemos em uma sociedade onde todos os nossos passos estão sendo monitorados. Parece que não possuímos mais a capacidade de pensar, discernir e criar. Sabemos que o controle em nossas vidas é geral, no entanto, fingimos que isso é “comum” (SACKS). Estamos engajados em práticas comuns na maioria das vezes expressas através da língua. Igualdade e diferença são a matéria prima da identidade, que não existe sem as ideologias e práticas através das quais são construídas. Aqueles que não correspondem às expectativas ideológicas culturais são de alguma maneira socialmente deficientes (BUCHOLTZ; HALL, 2003). Roberto sente-se impotente diante da situação que vive, e não pode deixar que seu papel no mundo não corresponda às expectativas identitárias a respeito dele como homem em seu meio sócio-cultural. Diferença implica hierarquia. O grupo de mais poder impõe uma relação vertical benéfica para si próprio. As identidades do grupo de maior poder tornam-se menos reconhecidas e esse grupo se constitui como norma, da qual todos os outros divergem.. Diferenças são desvios de norma (BUCHOLTZ; HALL, 2003). Roberto não podia se afastar da norma masculina de ter o controle em quase tudo, e de não demonstrar medo, mesmo que o sentisse; não podia agir diferentemente naquela situação. Isso seria uma inadequação sóciocultural. Sentimentos são íntegros, e se manifestam através das emoções. Não pode haver muito medo ou pouco medo. O que nós, como seres humanos, compartilhamos é que temos sentimentos e um deles é o medo. Homens e mulheres podem demonstrar sentimentos com mais ou menos facilidade, mas isso não indica intensidade de sentimentos. O amor é um sentimento igual pra todos que amam. Não existe amor maior que outro. Amor é amor. Medo é medo. Roberto perde o controle naquele momento. Tinha conseguido controlar a exposição de seu medo, e não declarou estar sentindo medo naquele momento, mas assume esse sentimento quando compara o seu medo com o da menina. Manifestamos nossos sentimentos através das emoções. Roberto revela um self conflituoso: por um lado, incorpora emoções de essência naturalmente intocável pelo mundo sócio-cultural; de outro, suas emoções respondem aos valores culturais, éticos e humanos que orientam sua agência no mundo (LUPTON, 1998). Roberto sente-se entre o “natural” e o “comum”. Como muitos dos estudiosos da análise de narrativas como fonte de entendimento do self, Schiffrin (1996) sugere que quando narramos uma história de vida revelamos nossas posições de mundo que nos ajudam a revelar os papéis sociais que ocupamos na história. Esses papéis correspondem a expectativas e obrigações sobre o que fazer, como e quando fazer. Proponho que, através dessa análise, passemos a entender melhor as práticas sociais nas quais a linguagem discursiva tem papel crucial: Como as pessoas estão posicionadas no mundo em sua sócio-história (LOPES, 2006) cultural. Analisar narrativas como histórias de vida cria a possibilidade de entender a vida social em outra alternativa (LOPES, 2006). Histórias são diferenciadas de forma específica, considerando a importância para quem se conta, de acordo com o momento em que o narrador as revela na conversa. Podemos observar que o posicionamento do narrador durante “Um grande susto” é marcado pela repetição da adjetivação. Ele está muito mais preocupado com a avaliação de seu papel no contexto sócio-cultural em que se apresenta a história. Roberto se auto-retrata um perfeito A MARgem - Estudos, Uberlândia - MG, ano 2, n. 3, p. 6-18, jan./jun. 2009 15 Revista Eletrônica de Ciências Humanas, Letras e Artes representante do grupo masculino na sociedade em que vive, em que o homem possue o status “comum” de ter e manter o poder do controle. Nossas práticas sociais são pautadas em ensinamentos e crenças comuns, tão comuns que parecem imutáveis. Sugiro que a partir do estudo do uso da linguagem oral em narrativas de história de vida, passemos a entender melhor e viver outras formas de sociabilidade e relacionamentos. Entender que estamos em contínuo processo de construção de identidades e observar com mais cuidado como, com quem e onde as estamos construindo é ser agentivo no mundo, abrir alternativas sociais e colaborar numa sociedade mais humana, naturalmente mais delicada com as pessoas (LOPES, 2006); é aplicar responsabilidade e solidariedade para com o outro a partir de uma nova forma de conhecer o outro na vida social (LOPES, 2006). Precisamos pensar e avaliar a importância de nos “ocuparmos em ser comuns” e nos dedicarmos a trabalhar mais o “sermos normais” (SACKS, 1984). A maneira com que manifestamos nossos sentimentos e emoções contribuem para o nosso entendimento do self e nossa subjetividade na construção de nossas identidades. A identidade é um efeito cultural e a língua é um recurso fundamental de produção cultural de identidade (BUCHOLTZ; HALL, 2003). REFERÊNCIAS: ATKINSON, John Maxwell; HERITAGE, John. Structures of social action: studies in conversation analysis. 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