AUTORIDADE E PODER
Russell Shedd
Ainda que algumas traduções da Bíblia confundem os termos, “autoridade”
e “poder”, os significados são distintos. E a distinção me parece muito importante.
Autoridade comunica o direito de mandar. Poder fala de capacitação, seja física ou
sobrenatural. Autoridade (grego: exousia) exige submissão e obediência,
enquanto poder (grego: dunamis) requer uso da capacitação ou intervenção
divina com humildade e dependência no Senhor.
A Autoridade de Jesus Cristo
Não muitos dias após a ressurreição de nosso Senhor, ele disse para os
seus discípulos reunidos no cume dum monte na Galiléia, “Toda autoridade me foi
dada nos céus e na terra”(Mt 28.18). João informa que Jesus sabia que o Pai
havia colocado todas as coisas debaixo do seu “poder” (o grego diz “em suas
mãos”). Jesus passou a mesma idéia em João 17 quando disse que o Pai tinha
passado para ele “autoridade sobre toda a humanidade” (v.2 NVI) ou “carne” (em
outras versões). O significado destes textos transmite o fato que Jesus Cristo tem
todo direito de mandar. No hino que Paulo cita em sua carta aos filipenses, ele
declara que Deus o exaltou “à mais alta posição, e lhe deu o nome que está acima
de todo nome...”(Fp 2.9). Aos colossenses Paulo escreve, “Ele é a cabeça do
corpo, que é a igreja...para que em tudo tenha a supremacia” (Cl 1.18). Sem
equívoco devemos entender que, tal qual a cabeça manda no corpo, a vontade de
Jesus tem de ser suprema nas decisões do Corpo de Cristo. Os membros devem
obedecer sem questionar ou contrariar a vontade da cabeça.
Lucas 7.7-10 – Jesus apontou para a grande fé do centurião, acima de
qualquer exemplo de fé em Israel porque ele entendeu que exercer fé quer dizer
se submeter a autoridade daquele em quem cremos. Reconheceu em Jesus
alguém maior do que si mesmo, maior do que os seus superiores. Reconheceu
que Jesus é Senhor.
As implicações da suprema autoridade de Cristo devem ser lembradas
continuamente. Primeiro, porque Jesus é a única pessoa que tem o direito de
mandar sobre todos, dentro e fora da igreja. Uma vez que os incrédulos rejeitam a
autoridade de Jesus Cristo sobre suas vidas, eles vivem e morrem debaixo da ira
de Deus (Jo 3.36). No juízo final, todos reconhecerão esse direito dobrando o
joelho e proclamando que Jesus é o Senhor.
1 Coríntios 15.24-28- O reino de Jesus continua até todos os inimigos se
rendem aos seus pés.
Dois, a autoridade do Senhor se revela na submissão e obediência.
Considere as palavras contundentes de Jesus, “Por que vocês me chamam
‘Senhor, Senhor’, e não fazem o que eu digo”? (Lc 6.46NVI). Por causa da
autoridade que o Pai deu para seu Filho, a Grande Comissão manda que os novos
discípulos aprendam a observar tudo que Jesus ensinou para os seus seguidores
na terra (Mt 28.19). A principal tarefa da igreja tem deve ser de inculcar as ordens
de Cristo nas mentes dos cristãos e cobrar a sua obediência.
Terceiro, no juizo final, em que o Senhor julgará todos de acordo com suas
obras, a qualidade da obediência é o que importará.
O Espírito Santo e o Poder Atos 1.8 - No Monte das Oliveiras
Não muito tempo depois de reivindicar sua autoridade absoluta sobre tudo,
Jesus anunciou o recebimento de poder quando o Espírito Santo descer sobre a
igreja em Jerusalém. O termo “poder” (dunamis) comunica a idéia da intervenção
sobrenatural de Deus. Quando ele for usado no plural refere a “milagres”.
Enquanto a atitude certa frente a autoridade de Jesus é obedecer, a
resposta certa diante da vinda do poder do Espírito Santo é testemunhar (Atos
1.8). Os milagres no livro de Atos servem para confirmar que Jesus está vivo.
Lucas diz que o primeiro livro que ele compôs foi escrito para relatar o que Jesus
começou a fazer e a ensinar. O livro de Atos, portanto, tem a finalidade de relatar
os prodígios e milagres que Jesus continuou a realizar nas primeiras décadas da
nova igreja.
A maioria absoluta dos cristãos evangélicos do Brasil buscam o poder do
Espírito. As igrejas que mais crescem, reivindicam ser instrumentos nas mãos de
Deus para operar milagres, sejam a cura do corpo ou carência afetiva, seja uma
vitória sobre o Demônio ou a quebra de uma maldição. A autoridade de Jesus
para mandar diminui para dar lugar ao poder que Jesus exerceu por intermédio do
Espírito.
Poder e Autoridade
1 Tess. 1.5 – Palavra e poder – dunamis.
Não é errado pedir que Deus opere milagres no meio do seu povo como ele
fez entre os primeiros cristãos. Encontramos maravilhas em muitas páginas do
livro de Atos. Paulo disse aos romanos que não queria “falar de nada, exceto
daquilo que Cristo realizou por seu intermédio em palavra e em ação, a fim de
levar os gentios a obedecerem a Deus, pelo poder de sinais e maravilhas e por
meio do poder do Espírito de Deus”(Rm 15. 18,19 NVI).
Porém, há um perigo em buscar milagres e negligenciar a autoridade do
Senhor. Jesus frisou este perigo fatal quando falou do juízo vindouro. “Nem todo
aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas
aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele
dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não
expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?” Então lhes direi
claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!”(Mt
7:32-23 NVI).
Se deduzimos que Deus não se importa com adultério, mentira, infidelidade,
ou outros pecados quais quer, porque ele continua fazendo milagres e
expulsando demônios por intermédio dos “cristãos”, seguramente este texto foi
escrito para nós. Precisamos lembrar sempre que a autoridade de Cristo precede
a demonstração do seu poder milagroso. Que adianta realizar prodígios e ser
condenado no Dia de juízo? Se a busca pelo Reino e a sua justiça é prioritária,
não seria necessário temer a surpresa mais desagradável possível naquele dia?
Alguns poucos anos atrás uma multidão dos seguidores da Linha Direita (Maioria
Moral) ouviram Cal thomas. Esperavam palavras para confirmar o que acabaram
de ouvir, a mensagem em que criam piedosamente.
Disse Cal Thomas:
“Parece que quando a voz não está sendo ampliada pelo serviço do som da
política ou da mídia, ela é irrelvante. A realidade é bem diferente, porque temos
uma definição diferente de “poder”. Diferente dos cínicos políticos que manobram
debaixo dos panos; diferente dos ativistas...
É o poder que vem de fazer discípulos, de ajudar os pobres, visitando os
enfermos, criando uma criança (como Dona Seleda de Belo Horixonte que adotou
37 crianças necessitadas) e confortando os moribundos. Pode transformar uma
sociedade porque pode mudar o coração endurecido.
Thomas continuou argumentando que Cristo não correu atrás do poder, não
porque o poder é inerentemente mau, mas porque é trivial em comparação com a
Sua missão.
Nosso alvo deve ser mudar corações e atitudes, não mudar o governo. Não
há meio mas eficaz para alienar homens e mulheres que estão procurando a
verdade do que adulterar o evangelho com denúncias ideológicas e plíticas.
Muitos cristão esperam aque com o rápido crescimento da Igreja, o Brazil
possa desfrutar dalguns benefíçios que a Ig. Cat. Recebeu através da história.
Mas esse objetivo político está furado.
Nosso objetivo e destino disse Cal Thomas, escritor e comentarista de TV
em âmbito nacional, “é manter a visão de um outro Reino, um Reino que expande
suas fronteiras, não lei por lei, mas alma por alma”.
Jesus nunca ensinou que os interesses do Reino seriam alcançados pela
política. Rendei para César o que é de César...”Meu Reino não é deste mundo”.
Pedro, “Põe a tua espada de volta. Evidentemente, não foi endossado por Cristo
que as mudanças que devem ocorrer seriam efetivadas por políticos ou leis.
Facilmente cristãos esquecem que seu objetivo principal é salvar almas do
juizo final. Se deixamos de lado este objetivo, me parece que não podemos nos
defender da conclusão que o fim justifica os meios.
O mundo pode ver em nós, não o povo de Deus, conhecido pelo seu amor,
mas gente que está louco para tomar seu lugar à mesa política e agarrar as
rédeas do poder.
Se quisermos nos alinhar com Cristo e reconhecer o seu reinado,
1. Devemos conhecer bem as ordens de nosso Rei. Jesus nos deu ordens
bem específicas na Grande Comissão (Mt 28. 19-20). Qualquer que
seja nosso ministério (acabar com a prostituição de menores, distribuir a
renda per capita equilibradamente, ou acabar com a fome no país, tudo
deve ser subordinado ao objetivo final – rendição total ao governo de
Cristo.
2. Seguir nosso líder. Jesus sofreu mais desgraçadamente do qualquer um
de nós, mas não reagiu com denúncias e injustiça.
3. Amar nosso inimigos – Lc 6.27-30. Fazer bem aos que nos adeiam,
abençoar os que nos amaldiçoam e orar por aqueles que nos maltratam.
4. Perseguir a santificação sem a qual ninguém verá a Deus – Hb 12.14.
F.J. Jackson:
“De fato nenhum ramo de Igreja ocidental pode ser destituído da honra de Ter
auxiliado no progresso de idéias humanizadoras. Não cristãos têm participado na
obra de difusão do espírito moderno de mostrar carinho, mas o crédito para o
início deste movimento pertence, sem dúvida alguma, àquela forma de
Protestantismo que se distingue pela importância dada à doutrina de expiação.
A história mostra que a visão de Cristo na cruz tem tido mais poder para
suscitar compaixão pelos que sofrem e indignação contra a injustiça do que
qualquer outra figura da história.
O evangelismo posterior, que viu na morte de Cristo os meios de salvação
gratuita para a humanidade caída, incitou os seus adeptos a tomar a vanguarda
dos que se preocupavam com os fracos...Reforma das paixões, proibição do
comérico de escravos, a abolição da escravatura, legislação social para melhorar
a vida do operário, a proteção de crianças, a cruzada contra crueldade no trato de
animais, tudo surgiu como conseqüencia do grande avivamento do século 18”.
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