MIGRAÇÃO DE APLICAÇÕES DE ESCRITÓRIO PARA O CONTEXTO DO SOFTWARE LIVRE: MOTIVAÇÕES E OBSTÁCULOS André Luiz Turetta (G-UEM) Álvaro José Periotto (UEM) Resumo: O presente trabalho tem seu foco voltado para a dinâmica do software livre, recente fenômeno do cenário econômico e social, impactante tal qual a Web e que desperta preocupações quanto à migração de produtos licenciados para equivalentes deste novo paradigma. Um levantamento de dados empíricos realizado em uma IES decidida pela adoção dessa tecnologia, detectou em período prévio ao aculturamento, a especial preocupação dos usuários finais quanto a aplicações cotidianas, próprias de escritórios. Diante disso, realizou-se um trabalho experimental com implementações realizadas com um pacote de software livre, visando analisar criticamente a migração de aplicações que se reproduzem também nos setores empresariais. Do material gerado, destacam-se as limitações e potencialidades dos recursos, mas principalmente as motivações inerentes à proposta e os obstáculos do processo de transição. Palavras-Chave: Cultura Organizacional – Sistemas de Informações Empresariais - Aplicações com Software Livre Introdução Em 1946, quando o primeiro computador - ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) – entrou em operação, realizando 5000 somas por segundo, o fato não conseguiu despertar o interesse do setor empresarial por um motivo simples: a programação era realizada por hardware. Algumas gerações mais tarde, quando os mainframes já eram realidade para muitas empresas, em 1981 a IBM lançou no mercado um modelo que rapidamente tornaria popular a vertente dos PCs - Personal Computers, padrão que incluía o sistema operacional MS-DOS da Microsoft. Contudo, as aplicações empresariais somente ganharam fôlego quando a Microsoft publicou, em 1985, a primeira versão do Windows, uma interface gráfica operada através de mouse, fácil de usar e com suporte a multitarefas (TRUCOS PARA WINDOWS, 2006). 2 Como resultado desta evolução, viu-se as aplicações da informática avançarem dentro das organizações, ampliando seu foco e consolidando-se como ferramenta de manipulação de dados e informações de apoio à gestão. Assim, o processamento de dados da década de 70, utilizado nas escriturações contábeis tradicionais avançou para sistemas de informações que emitiam relatórios resultantes de sínteses e cruzamentos que caracterizavam a informação e não apenas listagem de dados (STAIR e REYNOLDS, 2002). Já na década de 80, os sistemas de informação passaram a apoiar de fato à decisão, colaborando no tocante à apresentação de informações e cenários críticos, alertas, planejamento, acompanhamento de projeto e gestão do pessoal (cartão-ponto). Entrando nos anos 90, os sistemas de informações consolidaram seu papel estratégico e, conforme O´Brien (2001, p.28), “a tecnologia da informação se torna um componente integrante dos seus processos, produtos e serviços, que ajudam a empresa a conquistar vantagem competitiva no mercado globalizado”. Atualmente a Tecnologia da Informação (TI), democratizou-se a ponto de transformarse num meio de acesso à informação pelo público externo, constituindo-se uma ferramenta vital no sentido de promover a vantagem competitiva pela especialização de sistemas, integração dos subsistemas e difusão em intranets, extranets e a rede mundial Internet. Recorrendo mais uma vez a O´Brien (2001, p.28), tem-se que as ligações em rede estão “revolucionando a computação para o usuário final, empresa e entre organizações, as comunicações e a colaboração que apóiam as operações empresariais e a administração de empreendimentos bem sucedidos”. Neste cenário de evolução tecnológica, empresas de diferentes portes e ramos de atividade posicionam-se em diferentes estágios: algumas, globalizadas, apóiam-se fortemente nesta tecnologia visando a liderança em seu segmento, outras já nasceram virtuais em procuram sustentação no mercado competitivo, enquanto outras ainda estão decidindo informatizar seus processos administrativos, contábeis e financeiros. É neste mesmo cenário que também se instala a dinâmica do software livre (SL), o mais recente e interessante fenômeno no cenário econômico e social, equiparando-se ao advento da World Wide Web. Esta dinâmica envolve o desenvolvimento do software e dos produtos e serviços agregados a ele, que sai do setor acadêmico e chega até a esfera corporativa como uma importante opção de crescimento. Seu desenvolvimento tomou rumos distintos, mas sua maior expressão prática é o GNU/Linux, um sistema operacional, com características de open source, que disputa lugar com sistemas operacionais proprietários e difundidos como o Windows, Windows Server, Unix, Novell Netware, entre outros (DA SILVA, 2005). 3 Embora a proposta do Linux tenha origens ideológicas, sua adoção altera substantivamente as condições nas quais um programa de computador pode ser utilizado e, no meio empresarial, além, evidentemente dos aspectos financeiros, tem motivações calcadas no momento de transição para um novo modelo de empresa, mais ajustada a estrutura em rede, a cooperação virtual e ao compartilhamento de conhecimentos. Como reflexo, pode-se considerar a recente pesquisa realizada pela IDC, empresa líder mundial na área de market intelligence, que levantou dados de 5.000 desenvolvedores de software, em 116 países ao redor do mundo e detectou que 71% utilizam código aberto. A pesquisa aponta que o resultado é conseqüência de inovações no mercado de tecnologia, juntamente com a iniciativa de diminuir o preço dos produtos ao consumidor (IDG NOW, 2006). A adoção sofre os percalços do novo paradigma, mas se efetiva com significativo impacto, conforme registrado em projeto iniciado em 2004, pela Prefeitura da cidade alemã de Munique, que está migrando 14 mil desktops do sistema Windows para uma distribuição de Linux rodando muitos outros softwares de código livre (BROERSMA, 2006). A Universidade Estadual de Maringá, considerando a política de Governo do Estado do Paraná, pela não atualização das licenças de software proprietário e adoção de software livre em todas as unidades da administração direta e indireta, incluindo as autarquias e IEES, tornou obrigatória a implantação em todos os microcomputadores, a serem adquiridos pela Instituição, o pacote de software livre, a partir de 01/06/2006, conforme especificações descritas no quadro 1 (UEM, Portaria Nº 005/2006-PAD): Software substituído MS Office (Word, Excel, Power point) Nero Internet Explorer Outlook Software livre BrOffice.org 2.0.1 Categoria Suite de escritório CDBurnerXP Pro 3.0.116 Gravação de CD/DVD Mozilla Firefox 1.5 PtBr Navegador WEB Mozilla Thunderbird 1.5 Cliente de email PtBr PowerDVD VideoLAN VLC media Player de DVD Player 0.8.4a Quadro 1 – Migração de software licenciado por software livre na UEM Fonte: Portaria Nº 005/2006-PAD Licença Open Source Freeware Open Source Open Source Freeware Embora, a norma institucional preveja um planejamento de preparo para essa migração, o momento presente é de aculturamento e dúvidas. Um levantamento de dados empírico, realizado pelo Departamento de Administração da UEM (DAD na WEB, 2006) junto aos usuários finais apontou suas principais preocupações com a adoção do software livre: “aprendizado dos aplicativos do software livre” (19.67 %), “migração dos arquivos atuais para o novo sistema” (37.70 %) e “implantar ambiente similar em casa e outros locais em que usa computador” (42.62 %). Nota-se portanto, que a apropriação da tecnologia revela 4 que as maiores dificuldades previstas estão relacionadas com a mecânica das aplicações rotineiras (geradoras de relatórios e arquivos que possam ser manipulados em outras oportunidades e ambientes). Frente a isso, o presente trabalho propõe-se, através da análise de aplicações corriqueiras e próprias do ambiente de escritório, estabelecer um referencial esclarecedor e crítico a respeito da migração para o software livre. Os procedimentos, essencialmente experimentais, envolvem basicamente a geração de relatórios a partir de uma base de dados através da suíte BrOffice.org, pacote de software livre similar ao MS Office, que opera sobre a plataforma Microsoft Windows ou GNU/Linux, os dois sistemas operacionais mais comuns em PCs. O restante deste artigo destina-se a estabelecer aporte teórico complementar que sustente considerações a respeito, descrever detalhes do processo experimental específico e estabelecer um paralelo sobre o uso dos aplicativos de software livre comparativamente ao software licenciado, posicionando concretamente as dificuldades do processo de migração. Tecnologia e Sistemas de Informações em Processos Empresariais Os fatores que levam os empresários a automatização de processos, são geralmente aqueles que apontam para um estrangulamento de metas com a escala atual. Assim, quando uma empresa decide-se pela informatização, nota-se que parte dos fatores se dinamizam, gerando maior folga para a continuidade do crescimento. Segundo Cautella e Polloni (1993), alguns fatores sintomáticos que mostram a necessidade de informatizar: crescimento da empresa (a evolução da empresa implica em maior volume de informações), novos produtos (novos dados que requerem tratamento), aumento de volume (com proporcional necessidade de suporte), aumento do número de funcionários (necessidade de maior controle e aumento da burocracia), multiplicação e desdobramento de dados em múltiplos arquivos (preocupações com duplicidade e integridade), perda na qualidade das informações (contradições, não-atualização de dados nas várias fontes, demora na apuração de resultados, falta de controle e confiabilidade). A realidade é que a informatização encontra-se relacionada com a busca de maior margem de acerto nas decisões subsidiadas por informações qualificadas especialmente nas ações gerenciais, quer nas funções inerentes a esse nível, quer nas áreas de especialização técnico-profissional. Nélio (1998), através de um caso fictício de uma empresa em expansão, mostra que 5 um microempresário individual pode deter todas as informações necessárias para executar as operações, avaliar resultados e planejar ações em sua empresa. Contudo diante de um quadro de expansão, a empresa requer sistemas estruturados, capazes de fornecer informações ágeis e no tempo certo, para poder estabelecer objetivos, avaliar as alternativas para os cursos de ação da empresa, orientar e coordenar as operações e avaliar os resultados de forma integrada, tornando-se imprescindível a adoção de uma tecnologia condizente com a realidade presente. Percebe-se, portanto a relevância da tecnologia da informação nas organizações em função da busca por eficiência e por conseqüência da eficácia da empresa. O’Brian (2003) argumenta que já histórico o fato das empresas utilizarem a TI para automatizar os processos empresariais e apoiar a análise e apresentação de informações para a tomada de decisão gerencial: “A tecnologia da informação está sendo utilizada para reestruturar o trabalho mediante a transformação dos processos empresariais. Um processo empresarial é todo o conjunto de atividades destinado a produzir um resultado específico para um cliente ou para o mercado. O processo de desenvolvimento de novos produtos e o processo de atendimento de pedidos de clientes são exemplos típicos. (O´BRIAN, 2003, p.13). Assim, junto com a evolução da TI, as empresas se apropriam de seus recursos para redesenhar de maneira melhorada a forma de se executar tarefas do quotidiano empresarial. Pode-se dizer que as necessidades capitalistas foram motivações para este avanço, uma vez que, a informação é algo indissociável do ambiente de negócios e até mesmo do ambiente digital. Contudo, cabe considerar também que a evolução da TI, não auxiliou apenas a ascensão do mercado produtivo, mas também toda a conjuntura econômica: surgiram os mercados eletrônicos, os financeiros, os prestadores de serviços digitais e os sistemas colaborativos. A economia tornou-se dependente da capacidade técnica de se manipular a informação e de distribuí-la corretamente. Este avanço tecnológico na área da informação é um fato constatado no dia-a-dia do contexto empresarial: as etapas comerciais geradoras de dados registrados em banco de dados; a Internet oferecendo comunicação entre a clientela e os vendedores, através de informações e relatórios resumidos; acesso remoto às extranets, permitindo a consulta dinâmica de fornecedores, baixa ou entrada no estoque, etc. Os resultados são organizações menores e mais flexíveis, capazes tanto de gerenciar eficientemente as forças e grupos internos que geram seus produtos e serviços, como de lidar estrategicamente com clientes, colaboradores, órgãos governamentais, concorrentes e tendências sócio-econômicas em seu ambiente 6 Dinâmica do Software Livre As discussões dos méritos e desafios do software livre em relação ao software proprietário têm sido uma constante na mídia, eventos especializados e incorporados na agenda de organizações governamentais, chegando a blocos econômicos. Segundo a FSF (Fundação pelo Software Livre), de onde advém a sigla “GNU” (GNU is Not Unix), o Linux é uma variante desta família, e a definição para SL se refere à liberdade dos usuários executarem, copiarem, distribuírem, estudarem, modificarem e aperfeiçoarem o software. Redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo, aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie, são as potencialidades do software livre. A GPL (General Public License) pressupõe essas características, e outras especificações de manejo do SL. Portanto, o Linux e o BrOffice.org são regidos pela GPL. Em alguns países, o software livre é visto como de importância estratégica, tanto como meio de desenvolver suas indústrias nacionais de software como ferramenta para quebrar o virtual monopólio dessa indústria, atualmente concentrado nos EUA. As principais motivações estão relacionadas com o desenvolvimento do setor de TI com sua comprovada capacidade de promover inovação, criar empregos, produzir crescimento econômico e gerar divisas de exportação de produtos, serviços e soluções. Contudo, os crescentes gastos com software e a situação econômica adversa e recessiva em vários países, inclusive no Brasil, aumentam o interesse por alternativas de redução de custos. Naturalmente, argumentações análogas são consideradas por empresas privadas nos estudos de adoção do software livre. Em especial, no segmento de softwares para desktop, a situação de amplo domínio de mercado dos sistemas operacionais e switches de escritórios, respectivamente pelo Windows e Office, ambos da empresa Microsoft, gera temores próprios de um virtual monopólio e contribuem significativamente para impulsionar o debate sobre novas opções de licenciamento e uso de software. Sob a ótica de negócio, o software livre é um modelo de negócio e como tal propõe a ruptura com os modelos tradicionais e gera uma crise de transição (TAURION, 2004). O software proprietário é direcionado pelos interesses comerciais, recursos tecnológicos e financeiros de uma empresa. Esta embute no preço do licenciamento os seus custos de pesquisa e desenvolvimento. Na realidade, o software livre permitiu o surgimento de um modelo de negócio completamente inovador em relação ao desenvolvimento de software: a colaboração entre 7 grupos desenvolvedores através da Internet, proporcionando a comunicação e distribuindo know-how, conhecimento e responsabilidades para todos os participantes da rede, sejam eles desenvolvedores, tradutores ou simplesmente usuários em busca de conhecimento (TAURION, 2004). Na prática o desenvolvimento de software livre na rede dilui os custos de desenvolvimento por toda a comunidade de colaboradores e, portanto, não gera necessidade de recuperação destes investimentos na sua licença de uso. Em 1991, Linus Torvalds escreveu o embrião do kernel do Linux e convidou a comunidade da Internet a participar do seu desenvolvimento. Em poucos anos o Linux se tornou um dos mais importantes sistemas operacionais da história da computação. No Brasil, entre as comunidades de desenvolvimento de software livre destacam-se: • Kurumin (http://www.guiadohardware.net e http://fisica.ufpr.br/kurumin/): comunidade dedicada ao desenvolvimento do sistema operacional Kurumin Linux, que permite entre outras coisas rodar o sistema direto do CD com a instalação automática; • Dizinha (http://www.dizinha.cjb.net/): Tem o intuito de, desenvolver um pacote de sistema operacional, leve e robusto, baseado em Linux, dando “vida” à computadores mais antigos, permitindo um prolongamento da vida útil do hardware nas empresas. • OpenOffice.org (http://www.broffice.org): comunidade brasileira dedicada ao desenvolvimento do conjunto de ferramentas para escritório OpenOffice.org que abrange planilha de cálculo, editor de texto, apresentador de slides e todos os recursos de seus similares, atendendo às necessidades e costumes da América Latina; • Mozilla (http://www.mozilla.org.br): comunidade dedicada ao desenvolvimento do browser para Internet Mozilla em resposta a distribuição gratuita do Internet Explorer. Aplicações de Escritório com Pacote de Software Livre Na visão de O'Brian (2003, p.19), a visão sistêmica da empresa permite forte analogia com os próprios sistemas de informações: “Uma empresa é um sistema organizacional no qual os recursos econômicos (entrada) são transformados por vários processos organizacionais em bens e serviços (saída). Os sistemas de informação fornecem para a administração 8 informações (feedback) sobre as operações do sistema para sua direção e manutenção (controle), enquanto ele troca entradas e saídas com seu ambiente.” Contudo vivemos uma abundância de soluções que atendem também aos propósitos de agregar instrumentos que proporcionem ganho de tempo e aumento da sua performance nas atividades de rotina, ou seja, aprender rápido, reagir às mudanças e até inovar. Para O'Brian (2003, p.140), “Os usuários empresariais estão reagindo às necessidades críticas de melhores informações para suas missões específicas devido a mercados em rápida transformação, cada vez mais voláteis e competitivos, bem como a ciclos de vida de produto, cada vez mais curtos”. Neste contexto, uma ferramenta de banco de dados torna-se imprescindível. Contudo, o simples registro de informações no banco de dados não é apenas a solução dos problemas para obtenção da informação: é necessário um software compatível com a política da empresa que manipule tais dados, de maneira à atender as reais necessidades da organização, oferecendo recursos aos inúmeros níveis de usuários (stakeholders) que estão envolvidos com a base de dados. O Banco de Dados, armazenado num dispositivo primário e confiável (servidor), administrado pelo sistema operacional, é a base para agregar um console funcional, ou uma interface que permita manipulação local ou via rede. Entre os aspectos de estruturação de um banco de dados para sua utilização no quotidiano empresarial deve-se considerar: adoção de convenções inflexíveis para tarefas críticas e precisas (por exemplo, no tratamento de custos, onde há uma gama de classificação de contas), agrupamento por campos semelhantes, padronização da entrada de dados, estabelecer relacionamentos de informações para agilizar as buscas por registros e obtenção de informações completas. Quanto ao aplicativo, além de manter-se estável e seguro ao manipular uma base volumosa, seus recursos deverão oferecer suporte às especificações e layouts fixados pelo usuário, formatação condicional, funções lógicas e matemáticas, filtragem, e geração simples de consultas e de relatórios automáticos. Para o estudo pretendido, na seqüência propõe-se a criação de um banco de dados alimentado com registros transacionais e geração de relatórios resumidos gerenciais. No pacote BrOffice.org de software livre, o aplicativo BASE é equivalente ao MSAccess. Durante o uso do assistente de criação de banco de dados (ver figura 1a), a opção “registrar o banco de dados no OpenOffice” permite utilizar a base de dados em outros aplicativos, como o CALC (planilhas), ou WRITER (editor de textos). Ainda através do assistente procede-se a criação de tabelas, ou seja, sub-arquivos 9 armazenados no banco de dados, que recebem os registros de dados pelo usuário através de campos formatados para esse fim, por meio de interface intuitiva e fácil para o usuário (ver figura 1b). Sob o ponto de vista da aplicação, mais interessante é que as tabelas devam relacionar-se, permitindo o cruzamento e a síntese de dados. Figura 1a – Assistente do aplicativo BASE do pacote de software livre BrOffice.org Figura 1b –Interface intuitiva do BASE destacando a opção Formulários A interface do BrOffice.org BASE absorve todas as características consagradas na era pós MS-DOS em atenção ao usuário final. Assim, mantém-se a facilidade de realização de operações com tabelas através do assistente, acionando-se o menu de contexto para fazer uso das opções de edição para inclusão e remoção de campos, entre outras (figura 2). Figura 2 – Gerenciamento de tabelas e formatação de campos através do BASE É interessante notar, que toda tabela deve ter um campo destacado como index (ou chave primária), usado para localizar um registro específico dentro da tabela. Na figura 2, o 10 campo “Código” foi destacado para essa finalidade, conforme se nota através do ícone em formato de chave. Uma vez que as tabelas tenham sido criadas, a interface também apresenta facilidades para geração de formulários personalizados de consulta ou que funcionam como interface para navegação através da base de dados e manipulação de registros. Este processo pode iniciar-se com a definição de “Relacionamento entre campos”. Ou seja, campos que constam em mais de duas tabelas e possuem a mesma informação, dizendo respeito à mesma tabela de origem. Como ilustração, podemos recorrer à figura 3 para observar duas tabelas: uma que guarda dados dos “Clientes” e uma outra que guarda dados de “Pedidos”. Supondo que seja necessário identificar um cliente que está requerendo um determinado pedido, bastaria relacionar um campo próprio da primeira tabela, por exemplo o “Código do Cliente”, com a segunda para ter-se informações acerca da relação desejada. Figura 3 – Relacionamentos entre tabelas no BASE através do menu “Ferramentas” A ligação entre os campos, em destaque na figura 3, permite que com a criação de uma interface para a leitura, inserção ou edição dos dados, fique fácil saber que o pedido X referese ao cliente Y e que imediatamente ao apontarmos para certo pedido apareça na tela, por exemplo, o telefone ou outra informação peculiar ao cliente do referido registro. Para a criação de relatórios dinâmicos tem-se um Assistente de Relatórios, que permite selecionar e agrupar campos relevantes ao tipo de informação desejada (ver figura 4a) ou modificar o layout do documento (cores, letras, disposição, etc). Concluído o processo, o BASE pode 11 gerar um arquivo de texto (DOC, RTF, HTML, ODT ou PDF) e pode incluir no WRITER os campos criados na tabela, prontos para a impressão (ver figura 4b). Figura 4a – Assistente de Relatório Dinâmico Figura 4b – Relatório gerado pelo BASE no Writer Observa-se, que o Assistente de Relatório Dinâmico corresponde a uma ferramenta para listar e imprimir dados por meio do WIRTER, obtidos nas tabelas do BASE ou ainda, de tabelas criadas em planilhas MS-Excel ou CALC. Outra aplicação interessante, extremamente útil no meio empresarial e, portanto, pertinente ao contexto em estudo, é a “geração de formulário” no WRITER. Por tratar-se de um editor de textos, o arquivo resultante será tão leve quanto uma página da Web. O formulário funciona como uma interface amigável e personalizada pelo usuário, que linka os campos da base com os componentes visuais do documento de texto, permitindo inserir e editar dados de maneira mais simples. O processo resume-se a ativar a opção “Formulários” na tela principal do BASE e utilizar-se de um assistente para montar a página do formulário (ver figura 5). Figura 5 – Formulário gerado com o assistente do BASE, dentro do WRITER para a manipulação dos dados 12 Também chama a atenção entre os recursos do BrOffice.org a possibilidade de integração da base de dados (quando registrada no banco do OpenOffice, pelo assistente de criação) com os programas CALC, WRITER, IMPRESS, etc. Ou seja, no momento em que se cria uma planilha, um demonstrativo gráfico ou uma apresentação de slides multimídia, é possível chamar o banco de dados para inserir dados préexistentes. Como exemplo, a figura 6 mostra a interação do banco de dados com o CALC do BrOffice.org. O processo simplifica-se a usar a tecla F4 dentro do CALC para exibir junto à barra de ferramentas, uma lista com as tabelas criadas, as quais se podem vincular os dados na planilha, muito útil, inclusive quando se requer redigir documentos com o mesmo texto, onde mudam apenas alguns dados (certidões, memorandos, avisos, etc). Figura 6 – Interação do banco de dados com o CALC do BrOffice.org No que diz respeito, mais especificamente ao uso de planilhas, a transformação de registros cronológicos simples e operacionais (ver a planilha 7a) em uma planilha dinâmica que agrupa, filtra, supre e resume dados (ver a planilha 7b), exemplifica a semelhança no manejo das planilhas CALC do BrOffice.org e Excel da Microsoft. 13 Figura 7a – Registro operacional de dados em planilha Figura 7b – Tabela dinâmica criada com o recurso de simples sub-totais A figura 7a, mostra a origem da tabela dinâmica, uma planilha simples que pode ser equiparada a uma base de dados, onde suas diferentes formas de processamento e tratamento encontram-se disponíveis no menu “Dados”. Por sua vez, a figura 7b mostra uma tabela dinâmica criada com o recurso de “Subtotais” para acumular dados automaticamente, enquanto que a opção “Agrupamento”, permite ocultar linhas de período semelhante, exibindo somente o montante daquele período, economizando espaço na tela do usuário. Procedimento e recursos complementares às tabelas dinâmicas podem ser implementadas com a opção “Filtro”, muito útil para evidenciar apenas dados pertinentes (ver figura 8). A utilização das tabelas dinâmicas, é uma maneira típica da informatização do processo de transformação de dados em informações gerenciais, para a tomada de decisão consistente numa organização moderna, que prima pela eficiência de seus processos administrativos e contáveis. 14 Figura 8 – Opção “Filtro” como alternativa às tabelas dinâmicas Considerações Finais O atual padrão proprietário de sistemas operacionais estabelecido pelo Windows determinou ao mercado, por muito tempo e de maneira ampla, o pagamento de uma taxa de monopólio virtual a uma única empresa (Microsoft) para que outras mantivessem seu funcionamento. Entretanto, os números sobre o crescimento do mercado de Linux são cada vez mais expressivos, sugerindo uma clara tendência de substituição do produto e de quebra do atual paradigma. Nos mercados de “Servidores”, até o ano de 2004, por exemplo, o Windows caiu para 62% das máquinas das companhias brasileiras, enquanto o Unix e família estão presentes em 30%. Deste total, o Linux representa 14%. A Novell tem participação de 5% e outros fornecedores, 3%, (Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia). Produtos do software livre como o BrOffice.org, já possuem recursos tão bons quanto seu equivalente licenciado, o Microsoft Office, porém ainda possui muitas limitações por estar em desenvolvimento. Por ser um software gratuito, empresas públicas utilizam-no no seu dia-a-dia, economizando com licenças proprietárias. Por outro lado, é necessário um planejamento de TI extremamente cuidadoso e criterioso, uma vez que, nem sempre a decisão por um software livre, é a correta: pode ocorrer, para determinada atividade que exerça a empresa, soluções corporativas baseadas em 15 plataformas fechadas e proprietárias obterem melhor desempenho. Uma vez decidida a adoção, ainda assim o planejamento de TI mantém-se necessariamente cuidadoso e atento ao processo de migração. Medidas de substituição abruptas são equivocadas, dado que em uma mesma máquina podem conviver, por exemplo, os dois sistemas operacionais mais populares, amenizando processos transitórios por oportunizarem a apropriação do novo em descarte imediato do substituído. Considera-se que o estudo das aplicações construídas e analisadas neste trabalho, também contribuiu para perceber-se que o processo de migração para o software livre não atende apenas aos aspectos filosóficos, econômicos ou sociais envolvidos, mas pode criar novas motivações para as aplicações de escritório. Foi possível observar, por exemplo, que independentemente do ambiente tecnológico, nos diferentes setores empresariais, o uso de planilhas é intenso e diversificado. Contudo, entre as implementações através dos recursos dos aplicativos de software livre, evidencia-se a interação entre eles e as possibilidades que se multiplicam. Assim, criada a planilha, pode-se, por exemplo, pedir um “Novo Banco de Dados”, que tratará a planilha como uma tabela, que será a fonte de dados utilizada para inserção de dados em qualquer outro aplicativo. Assim, apesar dos obstáculos naturais da mudança e os traumas inerentes à adoção de novos modelos, novas motivações se estabelecem com o paradigma do software livre: tantas quantas as possíveis leituras subjetivas e iniciativas criativas, próprias dos ambientes da informação digital. 16 Referências BROERSMA, Matthew. Administração de Munique retoma migração para plataforma em Linux. Publicada no IDG Now! Em 04 de julho de 2006. Disponível em http://idgnow.uol.com.br/. Acesso em 23/09/2006. CAUTELA, A. Lourenço; POLLONI, E. Franco. Sistemas de Informação na Administração de Empresas. São Paulo: Atlas, 1993. DA SILVA, Ana Maria Alves Carneiro et all. Pesquisa Impacto do Software Livre e de Código Aberto (SL/CA) na Indústria de Software do Brasil: competências em SL/CA no Brasil. 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