SABERES E PRÁTICAS DE MÃES RIBEIRINHAS NO CUIDADO MATERNO DOS SEUS FILHOS RECÉM NASCIDOS 1 Silva, Leila Rangel da Silva, Luciana Rodrigues da2 Maia, Sayonara Maielle de Souza3 Sabendo das principais práticas da cultura ribeirinha e sua diversidade, os profissionais de saúde podem desenvolver condutas que aliadas com a comunidade possam evitar consequências negativas para a saúde e bem estar da população. Este estudo surge a partir do contato direto com mulheres ribeirinhas em conhecer como vivem, pensam, sonham para as suas vidas e de como a cultura influencia no cuidado dos seus filhos recém-nascidos. O objeto deste estudo é o cuidado materno de recém-nascidos ribeirinhos, tendo como questão norteadora: Quais são os principais valores culturais maternos que influenciam no cuidado dos recémnascidos de mulheres ribeirinhas? Os objetivos são identificar os valores culturais materno no cuidado dos filhos recém-nascidos ribeirinhos e; Discutir os saberes e as práticas de mães ribeirinhas com relação ao cuidado do filho recém-nascido ribeirinho. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório de abordagem qualitativa. A coleta de dados foi de janeiro a fevereiro de 2011 e o cenário é a cidade ribeirinha de Benjamin Constant, Amazonas, Brasil. Os sujeitos do estudo foram 20 mães ribeirinhas nascidas na cidade, e responsáveis pelo cuidado de seus filhos. Foi utilizado um questionário dividido em duas etapas: a primeira referente à identificação sociocultural e a segunda em relação ao cuidado materno do filho recém-nascido. A análise foi fundamentada na análise de dados da etnoenfermagem. A idade variou de 20 e 46 anos, com média de idade 33 anos. Dentre as participantes, quinze tinham entre 20 e 33 anos, e cinco tinham entre 34 e 46 anos de idade. Nota-se a presença de duas gerações de mulheres no estudo. Com relação a situação conjugal dezesseis (80%) possuem relação estável,três 1 Doutora em Enfermagem na Área da Saúde da Mulher; Professora Adjunta do Departamento Enfermagem Materno Infantil da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa, Estudos e Experimentação em Enfermagem na Área da Saúde da Mulher e da Criança – NuPEEMC. 2 Mestre em Enfermagem, Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense e Doutoranda do Programa de Pós Graduação e Biociências da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] 3 Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. (15%) são solteiras e uma (5%) é divorciada. Quanto a escolaridade, duas (10%) são analfabetas, seis (30%) possuem o ensino fundamental Inc ompleto e duas (10%) o completaram. O ensino médio completo é destaque, sete (35%) conseguiram completar e três (15%) não o concluíram. Quanto à ocupação, sete são agricultoras, seis relataram ser donas de casa, três são técnicas de enfermagem e trabalham no único hospital da cidade, duas são estudantes e uma é comerciante. Quanto ao número de filhos, variou de 2 a 6 filhos. Questionadas sobre os cuidados com o recém-nascido durante o banho onze (55%) disseram ter maior atenção para não deixar entrar água no ouvido, quatro (20%) ficam sempre atentas para a limpeza do coto umbilical. Duas (10%) disseram ter atenção para não deixar cair sabão nos olhos e uma (5%) se preocupa com o cuidado na limpeza da genitália, outra (5%) com a temperatura da água, e uma (5%) disse ter cuidado para não deixar o bebê cair durante o banho. Perguntadas se utilizavam ervas medicinais para o banho do recém-nascido, 90% (18) afirmaram que utilizavam esta prática. Dentre as ervas medicinais mais usadas estão: folhas de limão, jambú, mucuracáa, manjericão, japana, cravo, alfavaca e hortelã. Quanto ao cuidado do coto umbilical, 35% (7) usavam umbigueiro para fechar o coto umbilical, o envolvimento do coto umbilical com fralda tornar a região quente e úmido, propiciando à colonização, 30% (6) limpavam com álcool, 25% (5) utilizavam óleo de andiroba ou óleo de copaíba, 10% (2) passavam pó de banana queimada no coto umbilical. Perguntadas se conheciam alguma simpatia em relação ao coto umbilical, 95% (19) disseram que sim, onde 70% (14) relataram que se guardasse o coto umbilical seu filho teria sorte, 15% (3) disseram que faziam chá com o coto umbilical e ofereciam para o recém-nascido em episódios de cólica, 5% (1) enterrou o coto umbilical no quintal de casa para a criança ter vínculo com a família, 5% (1) escondeu para que o filho não se tornasse ladra. Questionadas sobre o que fazem quando o seu recém-nascido tem cólica e se conhecem alguma simpatia para cólica 50% (10) ofereceram chá de hortelã, 20% (4) disseram ter cuidado para não torcer e não deixar a roupa do bebê ficar no sereno, 10% (2) levaram seus recém-nascidos no rezador, 5% (1) defumou o bebê com a mistura de chifre de veado e folhas cheirosas, 5% (1) não deixava que nenhum estranho visse o bebê antes de seus sete dias de vida, 5% (1) amarrou a fralda da própria criança no centro da casa, 5% (1) ofereceu o chá do próprio coto umbilical ao bebê. Todas as mulheres ribeirinhas entrevistadas já realizaram alguma vez simpatias para cólica do seu recém-nascido. Delas 50% (10) ofereceram chá, ou de hortelã, capim santo ou elixir paregórico, indicados para dores abdominais e cólicas, sendo que este último é considerado muito forte. Outras 20% (4) tiveram cuidado com a roupa do bebê, para não torcer ou pegar sereno e 10% (2) levaram seus filhos ao rezador quando eles tinham cólicas. O estudo demonstrou como os valores culturais das mães ribeirinhas podem influenciar no cuidado com os filhos recémnascidos ribeirinhos. Observou-se também, que estas mulheres carecem de informações relacionadas aos cuidados com o recém -nascido: coto umbilical, higiene e cólica. A perspectiva transcultural empregada neste estudo permitiu não só identificar as características do contexto social e cultural do meio ribeirinho, mas delinear novas frentes para o trabalho da enfermagem. Os dados e circunstâncias levantados podem ser utilizados na promoção de uma assistência culturalmente adequada e que possa respeitar o saber popular materno. A etnoenfermagem, enquanto método unido aos preceitos da Teoria do Cuidado Cultural permitiu no decorrer do estudo a construção do conhecimento dos saberes e práticas do cuidado materno no contexto ribeirinho, respeitando seus valores culturais, como parte da construção do seu desenvolvimento, onde essas necessidades, na medida do possível, possam ser contempladas no momento que é solicitada, interagindo assim, nas diversas formas de cuidar, sem imposição e sim com comunicação/orientação. REFERÊNCIAS: Gil, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. Editora Atlas, ed. 3. São Paulo, 1991. Minayo, Maria Cecília de Souza; Deslandes, Suely Ferreira; Neto, Otávio Cruz; Gomes, Romeu. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade. 22ª ed. Petrópolis: Vozes; 2003. Monticelli, Marisa. Nascimento como um rito de passagem abordagem para o cuidado às mulheres e recém-nascidos. São Paulo: Robe Editorial, 1997. Silva, Andréa Leme da. Comida de gente: preferências e tabus alimentares entre os ribeirinhos do Médio Rio Negro (Amazonas, Brasil). Revista de Antropologia, São Paulo, v. 50, n. 1, p. 125-179, jan/jun. 2007. Silva, Raquel F. Valores culturais que envolvem o cuidado materno ribeirinho: subsídios para a Enfermagem. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [2009]. PALAVRAS CHAVE: enfermagem transcultural, saúde materno infantil, cuidado da criança, enfermagem