CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ISSN 1809-9475 CADERNOS UniFOA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA ANO V - Nº 12 - abril/2010 FOA EXPEDIENTE FOA Presidente Dauro Peixoto Aragão UniFOA Reitor Alexandre Fernandes Habibe Vice-Presidente Jairo Conde Jogaib Pró-reitora Acadêmica Cláudia Yamada Utagawa Diretor Administrativo - Finaceiro José Vinciprova Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Maria Auxiliadora Motta Barreto Diretor de Relações Institucionais Iram Natividade Pinto Superintendente Executivo Eduardo Guimarães Prado Superintendência Geral José Ivo de Souza Cadernos UniFOA Editora Executiva Flávia Lages de Castro Editora Científica Maria Auxiliadora Motta Barreto Comitê Editorial Conselho Editorial ad hoc Agamêmnom Rocha Souza Mauro César Tavares de Souza Ranieri Carli de Oliveira Rosana Aparecida Ravaglia Soares Doutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP Conselho Editorial Antônio Henriques de Araújo Junior Carlos Roberto Xavier Clifford Neves Pinto Edson Teixeira da Silva Junior Flávio Edmundo N. Hegenberg Ilda Cecília Moreira da Silva Renato Porrozi de Almeida Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues Revisão de textos Português: Claúdia Maria gil da Silva Inglês: Maria Amália Sarmento Rocha de Carvalho Claudinei dos Santos Diamar Costa Pinto Doutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz Fabio Aguiar Alves Doutor em Biologia Celular e Molecular - Universidade Federal Fluminense Igor José de Renó Machado Doutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas - Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR Maria José Panichi Vieira Doutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Ruthberg dos Santos Doutor em Administração pela Universidade de São Paulo Douglas Mansur da Silva Doutor em Antropologia Social – Univercidade Federal de Viçosa Capa Editoração Daniel Ventura Luiz Fernando Rangel Centro Universtitário de Volta Redonda - UniFOA Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325 Três Poços, Volta Redonda /RJ CEP 27240-560 Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404 www.unifoa.edu.br Versão On-line da Revista Cadernos UniFOA http://www.unifoa.edu.br/cadernos FICHA CATALOGRÁFICA Bibliotecária Alice Tacão Wagner - CRB 7 - 4316 UniFOA. Cadernos UniFOA. Ano V nº 12, abril. Volta Redonda: FOA, 2010. Periodicidade Quadrimestral ISSN 1809-9475 1. Publicação Periódica. 2. Ciências Exatas - Periódicos. 3. Ciências Sociais aplicadas - Periódicos. 4,. Ciências da Saúde - Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha. II. UniFOA - Centro Universitário de Volta Redonda. III. Título CDD 050 SUMÁRIO EDITORIAL ................................................................................................................................................................. 09 CIÊNCIAS EXATAS Monitoramento da qualidade do ar no campus Três Poços em termos de partículas totais em suspensão. Derek Gomes, Fabrício Barcelos Sá, Mateus Nascimento Mariano, Ramon Castro Vianna, Anderson Gomes Marcus Vinicius F. de Araujo, Rosana A. Ravaglia Soares ................................................................................................................................................................... 11 Projeto de Para-sol com Embalagens Tetra Pak Daniela V. Vasconcelos , Natalia G. Haenel , Patrícia Lopes , Jaime Alex Marques da Silva .................................................................. 23 Uma prática projetual de sinalização do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA. Cristiana de Almeida Fernandes, Marcos Vinícios Esteves da Silva Marcelino, Danton Gravina Baêta Rodrigues, Carla Fernandes de Lima, Matheus Moraes Amorim Pereira..................................................................................................................................................... 33 CIÊNCIAS DA SAÚDE O Cultivo de Organismos Geneticamente Modificados e a Contaminação da Água Taís de Souza Santos , Francisco Roberto Silva de Abreu .......................................................................................................................... 41 OS 20 Anos do SUS e a Oodontologia do Trabalho Sylvio da Costa Júnior , Marcos Nascimento e Silva , Eduardo Meohas .................................................................................................. .55 Responsabilidade do Cirurgião Dentista Frente ao Código de Defesa do Csonsumidor Enio Figueira Junior , Giselle de Oliveira Trindade................................................................................................................................. .63 CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS Modernidade e pós-modernidade: promessas, dilemas e desafios à condição humana Karin Alves do Amaral Escobar,........................................................................................................................................ 71 Olhares Plurais em Linguística Aplicada Marcel Alvaro de Amorim........................................................................................................................................................................... 81 Do Pensamento às Palavras instrumento metodológico para a análise dos discursos Luiz Augusto F. Rodrigues................................................................................................................................................ 87 LIST OF CONTRIBUTIONS EDITORIAL ..................................................................................................................................................................... 09 ACCURATE SCIENCES Monitoring of air quality on Três Poços campus in terms of total suspended particles. Failure criterious study in flexure of PPS/Carbon biber composites by using finite elements Derek Gomes, Fabrício Barcelos Sá, Mateus Nascimento Mariano, Ramon Castro Vianna, Anderson Gomes Marcus Vinicius F. de Araujo, Rosana A. Ravaglia Soares............................................................................................................. 11 A sun light barrier project with Tetra Pak Packaging Daniela V. Vasconcelos , Natalia G. Haenel , Patrícia Lopes , Jaime Alex Marques da Silva ........................................ 23 A Practical Case in Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA’s Sign System Cristiana de Almeida Fernandes, Marcos Vinícios Esteves da Silva Marcelino, Danton Gravina Baêta Rodrigues, Carla Fernandes de Lima, Matheus Moraes Amorim Pereira.................................................................................................... 33 SCIENCES OF THE HEALTH The cultivation of genetically modified organisms and the contamination of water Taís de Souza Santos , Francisco Roberto Silva de Abreu ............................................................................................... 41 The 20 Years of SUS and a Dental Work Sylvio da Costa Júnior , Marcos Nascimento e Silva , Eduardo Meohas ..........................................................................55 Responsibility of the Surgeon Dentist Accord to the Code of Defense of the Consumer. Enio Figueira Junior , Giselle de Oliveira Trindade.........................................................................................................63 SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS Modernity and post-modernity: promisses, dilemas and challeng to human condition Karin Alves do Amaral Escobar,....................................................................................................................................... 71 Plural Views in Applied Linguistics Marcel Alvaro de Amorim................................................................................................................................................. 81 Of the Thought to the Words instruments for the analysis of the speeches Luiz Augusto F. Rodrigues................................................................................................................................................ 87 9 Editorial Muitos falam – orgulhosos de sua sabedoria – acerca da interdisciplinariedade. Muito se cobra, mesmo através de órgãos reguladores essa famosa idéia de se ter um foco abrangente na produção do conhecimento. O próprio movimento da ciência tem provado através de seus avanços, cada dia mais velozes, que a consciência da realidade se constrói num processo de interpenetração dos diferentes campos do saber. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Flávia Lages de Castro Editora Executiva - Cadernos UniFOA 11 Monitoramento da qualidade do ar no campus Três Poços em termos de partículas totais em suspensão. Monitoring of air quality on Três Poços campus in terms of total suspended particles. Derek Gomes¹ Fabrício Barcelos Sá¹ Mateus Nascimento Mariano¹ Ramon Castro Vianna¹ Anderson Gomes² Marcus Vinicius F. de Araujo³ Rosana A. Ravaglia Soares 4 Partículas totais em suspensão Segundo o INEA, Poeiras em suspensão no ar diminuem a capacidade de remoção das partículas pelo sistema respiratório e potencializam os efeitos dos gases. O objetivo desta pesquisa é monitorar a qualidade do ar no campus Três Poços do UniFoa, em termos de partículas totais em suspensão na bacia aérea local. Os resultados permitem um acompanhamento da qualidade do ar em todo o campus para um diagnóstico. Foram consideramos dados da estação meteorológica em Volta Redonda – RJ. O monitoramento foi feito pelo Amostrador de Grande Volume para Partículas Totais em Suspensão AGV PTS, o qual determina concentrações de partículas totais em suspensão (PTS). O equipamento foi calibrado por um calibrador portátil aferido pela empresa ENERGÉTICA em 25 / 05 / 2009 com prazo de validade 25 / 05 / 2010. O resultado da pesquisa é importante para todos os frequentadores do campus Três Poços, pois a qualidade do ar afeta o Meio Ambiente, a saúde e a qualidade de vida dos mesmos. Agv pts Abstract Key words: According to INEA, Dust in the air decreases the ability to remove particles from the respiratory system and enhance the effects of the gases. The purpose of this research is to monitor air quality on campus UniFoa Three Wells in terms of total suspended particulates in the air basin site. The results allow monitoring of air quality throughout the campus for a diagnosis. We consider data from the meteorological station in Volta Redonda - RJ. The monitoring was done by High Volume Sampler for Total Suspended Particulate AGV PTS determining concentrations of total suspended particles (TSP). The equipment was calibrated by a portable calibrator measured by the energy company on 25 / 05 / 2009 with expiry date 25 / 05 / 2010. The search result is important for all visitors to the campus three wells, because the air quality affects the environment, health and quality of their lives. Total suspended particulates Air quality Agv pts Discente do curso Engenharia Ambiental – UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda), Volta Redonda/RJ, Brasil. ² Graduado em ciências Biológicas - Especialização em Mcirobiologia ³ Graduado em Engenharia Química - Graduação em Teologia - Especialização em Docência Superior - Mestrado em Plaejamento Energético 4 Graduada em Engenharia Metalúrgica - Mestrado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais - Mestrado em Engenharia Metalurgica e de Materiais 1 edição nº 12, abril/2010 Resumo Cadernos UniFOA Original Paper Palavras-chave: Qualidade do ar Artigo Original 12 1. Introdução A poluição do ar pode ser definida como: “Alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas normais da atmosfera que possa causar danos reais ou potenciais à saúde humana, à flora, à fauna, aos ecossistemas em geral, aos materiais e à propriedade, ou prejudicar o pleno uso e gozo da propriedade ou afetar as atividades normais da população ou o seu bem estar” (Hasegawa, 2001). 2. Objetivo O projeto tem como proposta o monitoramento da qualidade do ar no Campus Três Poços, situado no município de Volta Redonda. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Impactos Relacionados a Partículas Totais em Suspensão As partículas em suspensão no ar afetam a capacidade do sistema respiratório se depositando nas paredes dos pulmões. Quando muito finas, as partículas conseguem uma maior penetração no aparelho respiratório, aumentando a possibilidade de trazer danos à saúde. A junção de fuligem (C) e Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos, quando inaladas pelo homem, pode causar sérios problemas à saúde, prejudicando a qualidade de vida de todos os envolvidos. Aplicações do HI-VOL O Amostrador de Grande Volume para Material Particulado determina as concentrações (em µg/ m³) de partículas totais em suspensão (PTS) no ar ambiente externo e interno, monitorando ambientes industriais (higiene industrial), incluindo coleta de amostras de materiais altamente tóxicos, análise de poluentes orgânicos, presença de metais (Si, Ca, Na, Pb, Zn e outros) e medidas da concentração de radioatividade em poeira em suspensão. Um exemplo é uma mina com minério contendo urânio/tório como materiais secundários. O HI-VOL também é usado no estudo de impactos ambientais para determinar níveis preexistentes da qualidade do ar e monitoramento de emissões fugitivas de processos industriais quando não é possível utilização de amostradores em chaminés/dutos. 3. Procedimentos de Operação Primeiramente foi feito um estudo técnico do HI-VOL, aprendendo a operar-lo, conhecendo-se o manual do aparelho. Para dar início às análises, foi necessário fazer a calibração do equipamento. A seguir, objetivando a análise da qualidade do ar no Campus Três Poços, a fim de evitar interferências físicas de outros prédios ou outras edificações do campus, escolhemos o prédio da medicina para a instalação do Hi-VOL . Localização (ɸ: 22°29’58,38”S ; ʎ: 44°02’08,66”O), fonte: WGS84 Programamos o equipamento para funcionar em dias de maior e menor fluxo da população flutuante no Campus, o que nos deu a resposta da origem da maior quantidade de particulados. 4. Cálculos Após cada dia de coleta, o material era pesado e sua concentração calculada. Para a determinação da concentração de amostragem foi usada a seguinte fórmula: C = Q.t = Var C = Var . ∆P Sendo: Q - vazão de sucção (m3/s) t - tempo de funcionamento do aparelho (24h) Var - volume de ar succionado (m3) ∆P - Pfiltro final - Pfiltro inicial (µg/m3) Para a determinação da média geométrica das concentrações dos dias de amostragem foi usada a seguinte fórmula: Média Geométrica (17/06 a 25/09) = (154,1 x 79,7 x 82,8 x 40,4 x 41,4 x 34,5 x 36,7 x 36,2 x 112,7 x 91,5 x 70,1 x 107,9 x 100,3)1/13 Partindo-se do princípio que partículas em suspensão podem percorrer uma grande distância quando influenciadas por ventos incidentes, torna-se indispensável a posse de informações meteorológicas da região. Como a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) é uma empresa geradora de partículas em suspensão, a consulta da direção dos ventos relativos à empresa e ao Campus Três Poços era imprescindível para o conhecimento da origem 13 edição nº 12, abril/2010 5. Dados Meteorológicos da maior influência nas concentrações altas de particulados no ambiente aéreo do Campus Três Poços. Em função dos dados meteorológicos coletados pela Estação Meteorológica da CSN (tabela 01), foi gerada uma Rosa dos Ventos (imagem 01) utilizando-se o programa WRPLOT View. Com a velocidade dos ventos classificados em ordens de calmo a forte e a quantificação da repetição das velocidades mais próximas, foi gerado um gráfico com a frequência dos ventos (Imagem 02) através do WRPLOT View. Ao se analisar a Rosa dos Ventos e a imagem de localização da CSN e do Campus da UniFOA (imagem 03), é possível ter uma visão mais clara da influência dos ventos no Campus Cadernos UniFOA Para a determinação das concentrações médias diárias: Concentrações médias = ∑concentrações n° de amostras edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 14 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 15 16 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Imagem 01 - Rosa dos Ventos Classificação dos Ventos Imagem 02 - Distribuição da Frequência dos Ventos Classificados 17 Imagem 03 – Localização 7. Recomendações Propostas Recomendamos que o sistema público de transporte para o bairro Três Poços seja melhorado a fim de reduzir a frota de veículos que se deslocam para o Campus Três Poços em época de aulas; Recomendamos que seja planejado e realizado um grande programa de “Carona Solidária” nos moldes já implantados em algumas cidades no mundo. Tal programa deverá ser idealizado e gerido pelo UniFOA, visando servir de exemplo, seja para o Município de Volta Redonda, seja para outras cidades do Brasil; Recomendamos que o UniFOA realize uma ampla campanha de conscientização ambiental para toda a comunidade acadêmica, circunvizinhanças e Poder Público, visando incentivar debates sobre: “Ampliando a edição nº 12, abril/2010 Após os 4 meses de monitoramento da qualidade do ar no Campus Três Poços, podemos afirmar que: A qualidade do ar no local da pesquisa, em termos de PTS, não é significativamente influenciada por emissões provenientes de processos industriais; A qualidade do ar no local da pesquisa, em termos de PTS, é significativamente influenciada por emissões provenientes de fontes móveis (veículos automotores e trens); Considerando o Padrão Primário definido pela Resolução CONAMA no. 03/90, a média geométrica obtida no período do monitoramento está abaixo do nível considerado como suficiente para afetar a saúde da população local, a saber: 80 µg/m³; Considerando o Padrão Primário definido pela Resolução CONAMA no. 03/90, as concentrações médias obtidas nas 24 horas de cada amostragem, no período do monitoramento, ficaram abaixo do nível considerado como suficiente para afetar a saúde da população local, a saber: 240 µg/m³; Mesmo com a qualidade do ar, em termos de PTS, apresentando valores considerados seguros para a população local, é possível notar que a população flutuante no Campus Três Poços, provoca uma elevação de PTS na atmosfera local de até 4,5 vezes (maior variação observada entre época de provas e época de férias); Os resultados obtidos podem ser considerados como pontos de maior criticidade, pois conforme os dados meteorológicos dos dias de amostragens, na maioria das vezes o Hi-Vol funcionou em dias sem chuva e com calmaria. Cadernos UniFOA 6. Conclusões 18 qualidade de vida em nossa cidade: Como privilegiar o transporte público em detrimento do transporte particular ?” 10. Resolução CONAMA 241/98: “Estabelece prazos para atendimento aos limites de emissão para carros importados.” 8. Bibliografia 11. Resolução CONAMA 242/98: “Estabelece limite para emissão de material particulado por veículos.” 1. Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente – FEEMA. Perfil Ambiental de Volta Redonda. Rio de Janeiro: FEEMARJ. 1992. 2. Prefeitura Municipal de Volta Redonda Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Volta Redonda. Informações para o Plano Diretor – Coleção Cadernos de Planejamento. V. 1. Volta Redonda: IPPU-VR. 1994. 3. Prefeitura Municipal de Volta Redonda Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Volta Redonda. Plano Diretor Participativo. V. 1, 2 e 3. Volta Redonda: IPPU-VR. 2008. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 4. Resolução CONAMA 18/86: “Dispõe sobre a Instituição do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores PROCONVE.” 5. Resolução CONAMA 05/89: “Institui o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar - “PRONAR”, e dá outras providências.” 6. Resolução CONAMA 03/90; “Estabelece padrões de qualidade do ar e amplia o número de poluentes atmosféricos passíveis de monitoramento e controle.” 7. Resolução CONAMA 07/93: “Estabelece padrões de emissão para veículos em circulação.” 8. Resolução CONAMA 08/93: “Estabelece limites máximos de emissão de poluentes para motores destinados a veículos pesados novos, nacionais e importados.” 9. Resolução CONAMA 16/93: “Ratifica limites de emissão de poluentes por veículos automotores e determina a republicação de Resoluções do CONAMA.“ 12. Pollution Prevention and Abatement Handbook, World Bank, World Bank Group - 1998. 13. ENERGÉTICA. Manual de Operação do Amostrador de Partículas Totais em Suspensão. Rio de Janeiro. 2003. 9. Anexos 19 edição nº 12, abril/2010 Localização e operação do HI-VOL Cadernos UniFOA Medidor de Vazão 20 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Localização do HI-VOL no Campus Filtro limpo 21 edição nº 12, abril/2010 Cálculo das amostragens Cadernos UniFOA Filtro após 24 hrs de amostragem 22 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Autores do Projeto Endereço para Correspondência: Mateus Nascimento Mariano [email protected] Rua Coronel José Mendes Bernardes, n°235, Jardim Paineiras - Itatiaia/RJ CEP: 27580-000 (24) 33523821 - (24) 98373216 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Gomes, Derek; Sá, Fabrício Barcelos; Mariano, Mateus Nascimento; Vianna, Ramon Castro; Gomes, Anderson; Araujo, Marcus Vinicius F. de; Soares, Rosana A. Ravaglia. Monitoramento da qualidade do ar no campus Três Poços em termos de partículas totais em suspensão. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano V, n. 12, abril 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/11.pdf> 23 Projeto de Para-sol com Embalagens Tetra Pak. A sun light barrier project with Tetra Pak Packaging Daniela V. Vasconcelos 1 Natalia G. Haenel 1 Patrícia Lopes 1 Jaime Alex Marques da Silva 2 Artigo Original Original Paper Palavras-chave: Resumo Tetra Pak A reutilização das embalagens tetra pak, como uma barreira física para conter a entrada da luz solar direta no interior de veículos, vem ao encontro de dois benefícios, o primeiro deles seria, como mais um meio de reciclar as embalagens tetra pak, ou melhor dizendo, aumentar o ciclo de vida do produto, antes de ser descartado. E o segundo benefício, seria bloquear a ação da radiação ultravioleta e infravermelho no interior dos veículos que acelera a desagregação de cor dos materiais, reduzindo a vida útil dos componentes internos. A título de curiosidade, estes componentes internos, que na maioria das vezes são de cor preta, aumenta a temperatura interna do veículo, quando exposto ao sol, chegando a 80°C, devido ao efeito estufa criado, pela reflexão dos raios infravermelhos do painel e tecidos dos bancos, refletindo no vidro, quando é impedido de sair, causando um desconforto térmico aos usuários. Sendo, portanto, uma solução de custo baixo e excelente benefício à aplicação do para-sol com embalagens de tetra pak Luz solar Abstract Key words: The reuse of tetra pak packings, as a physical barrier to prevent the direct light sun entrance in the vehicles interior, brings two benefits, the first one should be one more type of tetra pak packing recycling way, or better saying, to increase the life cycle of the product, before its disposal and, the second one should be to block the infrared and ultraviolet radiation action, inside the vehicles, which accelerates the materials collour losses and reduces the useful life of internal components. Out of curiosity, these internal components, which most often are black, increases the car internal temperature, which can reach 80 ºC, due to the greenhouse effect created by the reflection of infrared radiation on the car panel and cloth of the seats. As the reflected radiation can not pass through the glass, it causes a thermal discomfort to the users. Therefore it is a low cost solution and excellent benefit the use of sun light barrier, made of tetra pak packing. Tetra Pak 1. Introdução O sol é essencial para a vida na Terra, com benefícios inegáveis para os seres humanos, porém, as irradiações solares podem 1 2 Graduação em Engenharia Ambiental– UniFOA Professor Especialista Vehicles Para-sol Light sun desencadear efeitos nocivos na pele como, foto sensibilização, foto envelhecimento cutâneo, queimaduras, cânceres e outros tipos de lesões ao corpo humano, além desses fatores, existem a agressão ao patrimônio do homem: edição nº 12, abril/2010 Para-sol Cadernos UniFOA Veículos edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 24 monumentos, imóveis e veículos automotores, o qual será o foco do assunto em questão. A luz solar é composta de radiação eletromagnética de diferentes comprimentos de onda, e essa exposição à luz solar promove efeitos benéficos e essenciais, porém, a exposição excessiva às radiações ultravioleta pode acarretar efeitos nocivos como já citados. Esta radiação é composta de luz ultravioleta (UV) e infravermelha (IV), e são geradas pela diferenças de temperatura entre o Sol (T ~ 6.000K) e a Terra (T ~288K). As emissões dos espectros dos raios ultravioletas e infravermelhos são completamente distintas. A radiação UV tem comprimentos de onda menores, ela possui fótons de maior energia, podendo causar o Efeito Fotoelétrico, ou seja, “arrancar elétrons” quando o mesmo incide em certos materiais. Já na radiação infravermelha os fótons têm menor energia, pois possuem comprimentos de onda maiores. Ela é também chamada de radiação térmica, pois, causa basicamente aquecimento pela agitação térmica dos átomos e moléculas do material (rotação e vibração). Especificamente, este trabalho é direcionado à redução da exposição dos painéis frontais dos veículos à luz direta e indireta do sol, visando reduzir o efeito nocivo aos painéis e tecidos dos bancos e laterais internos dos veículos de passeio e a diminuição da temperatura interna do veículo. Sabe-se que o efeito do sol sobre os veículos leva a degradação da pintura e seus acessórios internos, mas, neste trabalho esta sendo diretamente aplicada à proteção interna. A utilização de embalagens tetra pak em projetos de reciclagem não é uma exclusividade. Muito se sabe de sua importância e grande aplicabilidade no campo das embalagens de alimentos e que ela vem substituindo gradativamente, as embalagens de vidro e latas de aço, com aceitação pelo consumidor. A embalagem Tetra pak é composta de várias camadas de materiais, a saber: papel, polietileno de baixa densidade e alumínio, que cria uma barreira que impede a entrada de luz, ar água e micro-organismo. Essa estrutura, que será utilizada, como uma barreira luz impedindo a entrada desta, no interior dos veículos, consequentemente a deteorização dos elementos internos do veículo por ação dos infravermelhos. Essa barreira é denominada de para-sol. Existem vários elementos que podem constituir a construção de um para-sol, porém, a proposta deste trabalho é a construção do mesmo utilizando embalagem de tetra pak, otimizando a reciclagem de embalagens ou mesmo o prolongamento de sua vida útil dentro do ciclo de vida do produto na cadeia industrial. 2. Revisão Bibliográfica 2.1- Reciclagem de Embalagens Tetra Pak A reutilização das embalagens tetra pak, não é uma novidade nos dias hoje para as empresas, órgãos públicos e não governamentais, comunidades, etc., ou seja, para todos aqueles indivíduos que se preocupam com o meio ambiente, e com o desenvolvimento sustentável. Para as empresas que procuram a certificação ISO 14000, tem sido um desafio constante se enquadrar em um mercado internacional, que aponta frequentemente a preferência por aquelas empresas que aplicam em sua cadeia produtiva o interesse na preservação ambiental. Segundo DENARDIN e VINTER, a falta de preocupação com a qualidade ambiental pode manifestar repúdio do consumidor ao consumir bens que ao longo de seu ciclo de vida causem degradação ambiental. Dentro do aspecto econômico, segundo RAUSING (1950), fundador da Tetra Pak, afirmou: “Uma embalagem deve gerar mais economia do que ela custa”. Isso significa produzir embalagens que protejam os alimentos, mas que não destruam os recursos naturais e não gastam muita energia na sua fabricação, estocagem e transporte, então, surgiram as embalagens cartonadas ou caixinhas Longa Vida que reúnem, em uma única embalagem, vários materiais: o papel, o alumínio e o plástico. Juntos, eles impedem a penetração da luz, do ar, da água e dos micro-organismos, protegendo o alimento para que não estrague. A embalagem longa vida possui seis camadas que formam uma verdadeira barreira, as camadas são, ver figura 01: • Duas camadas de polietileno; • Uma camada de alumínio; • Uma camada de polietileno; • Uma camada de papel; • Uma camada de polietileno. 25 Figura 01: Composição da embalagem tetra pak diretamente para a conservação do meio ambiente. Ela trata o lixo como matériaprima que é reaproveitada para fazer novos produtos e traz benefícios para todos, como a diminuição da quantidade de lixo enviada para os aterros sanitários, a diminuição da extração de recursos naturais, a melhoria da limpeza da cidade e o aumento da conscientização dos cidadãos a respeito do destino do lixo. Existem diversas tecnologias disponíveis para a reciclagem das embalagens da Tetra Pak. A reciclagem das fibras e do plástico/ alumínio que compõem a embalagem começa nas fábricas de papel, em um equipamento chamado “hidrapulper”, semelhante a um liquidificador gigante. edição nº 12, abril/2010 Figura 02: Hidrapulper em alta consistência antes da desagregação Cadernos UniFOA O material para a formação das caixinhas é transportado para a indústria de alimentos na forma de bobinas, ocupando pouco espaço nos caminhões. Dessa forma, é possível transportar muito mais embalagens em um caminhão com consequente economia de combustível. O material transportado em um único caminhão é suficiente para embalar 500.000 litros de leite Longa Vida. As embalagens Longa Vida, além de não precisarem de refrigeração, ocupam pouco espaço no transporte e nas prateleiras dos supermercados, gerando economia de energia. A reciclagem é uma das alternativas para o tratamento do lixo urbano e contribui 26 Durante a agitação do material com água e sem produtos químicos, as fibras são hidratadas, separando-se das camadas de plástico/alumínio. Em seguida, essas fibras são lavadas e purificadas e podem ser usadas para a produção de papel utilizado na confecção de caixas de papelão, tubetes ou na produção de material gráfico, como os folhetos distribuídos pela Tetra Pak O material composto de plástico/alumínio é destinado para fábricas de processamento de plásticos, onde é reciclado por meio de processos de secagem, trituração, extrusão e injeção. Ao final, esse material é usado para produzir peças plásticas como cabos de pá, vassouras, coletores e outros. Outro processo de reciclagem permite que o plástico com alumínio seja triturado e prensado a quente, transformando-se em uma chapa semelhante ao compensado de madeira que pode ser usada na fabricação de divisórias, móveis, pequenas peças decorativas e telhas. Esses materiais têm grande aplicação na indústria de construção civil. Os processos acima têm o perfil industrial , existem outros métodos de reciclagem em menor escala, conciliando a empregabilidade da população de classe social menos privilegiada, onde os trabalhos de reciclagem têm características artesanais, devido a baixa produtividade, mas de grande aplicabilidade. da radiação absorvida de volta para a Terra, quando se de - excitam. Por terem essa capacidade de reter a radiação emitida pela Terra, “tais gases” provocam então o efeito estufa. Conforme explicado por FURUKAWA – 2000, um dos exemplos no qual o efeito estufa é bem evidenciado no nosso dia-adia é no interior dos automóveis em dias ensolarados. Os vidros das janelas e do parabrisas dos carros deixam passar a maior parte da radiação emitida pelo Sol, que aquece os estofamentos e o painel, que geralmente são de cor escura. A propósito, os mesmos precisam ser escuros, pois caso contrário, ofuscariam a visão dos passageiros e do motorista devido à luz refletida internamente, principalmente nos vidros dos para-brisas. O interior do carro, quando aquecido, emite radiação na faixa do infravermelho que é retido pelos vidros, não deixando o calor “escapar”, aumentando ainda mais a temperatura interna do veículo, conforme exemplificado na figura 03. A radiação UV tem comprimentos de onda menores do que os raios ultravioletas, porém, ela possui fótons de maior energia, podendo causar o Efeito Fotoelétrico, ou seja, “arrancar elétrons” quando o mesmo incide em certos materiais, degenerando os mesmo quando submetidos a sua exposição por um longo período. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 2.2 Efeito estufa Diariamente, o sol transmite uma grande quantidade de energia através das ondas eletromagnéticas, onde estas ondas são geradas através da radiação solar. Os gases existentes na atmosfera terrestre deixam passar a maior parte da radiação emitida pelo Sol que é composta na sua maior parte, de Luz visível, de radiação UV e da radiação infravermelha curta ou próxima (IR-A). Entretanto, esses mesmos gases têm a capacidade de absorver e reemitir a maior parte da radiação emitida pela Terra, que é composta basicamente da radiação infravermelha distante ou longa (IR-C). Essa radiação é absorvida por meio da excitação (vibração e rotação) das moléculas tais como o H2O, CO2, CH4, e outros. Estas mesmas moléculas excitadas reemitem parte Figura 03– Desenho esquemático da radiação solar penetrando no veículo. A Película de Controle Solar para Vidros, como insulfilms, é fabricado através de uma película de poliéster coberta com uma camada fina de metal. Tão fina que é quase imperceptível ao olho humano. Isso significa que as películas são transparentes quando aplicadas no vidro. A camada de metal reflete os raios indesejáveis do sol, controlando calor e luz solar para satisfazer todos os ambientes, com os pigmentos adicionados à película. As películas são aplicadas hoje em dia em vidros de muitos ambientes, acentuando a beleza estética e padronizando as fachadas de qualquer edifício, construção e automóveis, sendo um meio também de reduzir a entrada da luz solar no interior dos veículos. Segundo um dos fornecedores, o insulfilm apresenta três benefícios principais, protege contra: Calor solar, excesso de claridade e propriedades de desbotamento da luz. A legislação de trânsito nacional através do CONTRAN, que antes causava restrição a sua aplicação, hoje apresenta um parecer favorável dentro de algumas restrições de transparência mínima, verificada na lei nº9503, de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro – CTB, e conforme o decreto nº2.327, de 23 de setembro de 1997. Apenas como um comentário específico, não se tem a certeza de que o processo de reciclagem desse produto tenha um aspecto atrativo financeiro para motivar uma conscientização de coleta pelo aplicador. 27 3. Materiais e Métodos Viés Estufa Odontobrás / Modelo EL-1.5/ Adesivo Termômetro -10º a 300ºC Tintas Prensa cap, 120000kgf - EMIC Papel sulfit Embalagem Tetra Pak Ferro elétrico Termostato modelo MT-507 Automóvel Linha de costura em nylon Jornais 3.2 Métodos Para iniciar o experimento, coletou-se embalagens de tetra pak de leite; estas foram selecionadas através de aspecto de conservação e, em seguida, limpas e secas ao sol, para que depois fossem sujeitas a medições das dimensões da caixa e espessura da mesma, os resultados estão apresentados na tabela 01. edição nº 12, abril/2010 Paquímetro Cadernos UniFOA 3.1 Materiais Tabela 01: Resultados das dimensões da embalagens de Tetra Pak 28 Embalagem Largura Altura Espessura Caixa Tetra Pac 1 0,227m 0,250m 0,00046m Caixa Tetra Pac 2 0,225m 0,247m 0,00043m Caixa Tetra Pac 3 0,226m 0,249m 0,00046m Para que as embalagens pudessem ser aplicadas como para-sol, foram elaborados os seguintes procedimentos: 1° Procedimento: a) Expor o automóvel ao sol durante o período mais quente do dia b) Obter a temperatura no interior do veículo próximo ao painel dianteiro Justificativa: O procedimento acima foi adotado para que se conhecessem os parâmetros de temperatura a serem trabalhados. Os resultados obtidos estão registrados tabela 02. Tabela 02 – Valor de temperatura obtida no interior do automóvel edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Data Hora da Leitura Temperatura da Tempo de exposição do veículo à luz solar Leitura Temperatura 30/05/2009 12:15h 4:15h 52º C 06/06/2009 12:45h 4:45h 58º C 19/06/2009 12:25h 4:25h 45º C 11/07/2009 13:00h 4:30h 68º C da Nota: Os dados foram obtidos com termômetro, com bulbo de mercúrio, com escala de -10 a +300°C, marca Inconterm, modelo L-220/06, que foi posicionado no painel do veículo Volkswagen, modelo Polo, ano 2005, na cor vermelha. Face do para-brisa dianteiro foi posicionada nas direções norte/nordeste, o tempo se apresentava nas condições boas com raras nuvens no céu, sem registro de vento significativos nestes horários, porém, a estação do ano era um fator limitante a determinação da temperatura máxima que poderia ser exposto o condutor e passageiros no momento de entrada no veículo, e os componentes internos do veículo. O veículo permaneceu nesse período com as portas fechadas e motor desligado, para simular a condição real de exposição a incidência da luz solar. O local da medição foi no Campus Universitário de Três Poços de propriedade do Centro Universitário de Volta Redonda, no Bairro Três Poços, cidade Volta Redonda –RJ. Devido ao período do ano (estação inverno- Volta Redonda –RJ- Brasil) as temperaturas tomadas não ultrapassaram 70°C no interior do veículo. 2° Procedimento a) Submeter as embalagens à temperatura de 100°C, em forno de encharque, por uma hora. b) Medir as dimensões das embalagens após exposição a temperatura de 100°C . Justificativa: O procedimento de expor as embalagens no forno de encharque com set point de 100°C, foi adotado para simular a estação de verão no Brasil, onde as temperaturas no interior do automóvel aproximam-se de 80°C, isso se fez necessário devido ao período do ano escolhido para fazer o experimento, estação de inverno, a embalagem foi colocada na estufa, porém, antes da exposição, as embalagens eram identificadas, para monitoramento físico de seu estado. Em seguida foi novamente medida as espessura das embalagens para verificação de deformação física do material; esse procedimento foi repetido para temperatura de 80° e 100°C, obtendo-se os seguintes resultados registrados na tabela 03, devido os resultados não serem tão expressivos e sem variação significativa entre as temperaturas de 80°C e 100°C foram registrados apenas três resultados. 29 Tabela 03: Dimensões da espessura das embalagens Tetra Pak após submetidas ao Enxarque Embalagem Espessura Caixa Tetra Pac 1 0,00045m Caixa Tetra Pac 2 0,00041m Caixa Tetra Pac 3 0,00044m Esse procedimento foi adotado pra simular o movimento contínuo de dobramento da embalagem pelo usuário, ao ser recolhida a posição de repouso (sanfona), conforme figura 04. A prensagem da embalagem, define o vinco , o qual se torna referência na operação de dobramento, evitando uma deformação desuniforme, causando em aspecto visível não satisfatório Figura 04: Embalagem pós prensagem, em forma de sanfona edição nº 12, abril/2010 a) Dobramento da embalagem através da Prensa Justificativa: Cadernos UniFOA 3° Procedimento edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 30 4° Procedimento expectativas para uma fabricação a nível de reciclagem. Devido ao tamanho das embalagens, foi necessário o agrupamento das mesmas para a composição do para sol. O agrupamento foi testado por vários métodos, buscando economia e estabilidade do painel formado. Os processos de agrupamento estão descritos a seguir: iv- Colagem das Embalagens com Super Bonder Foi aplicado o super bonder nas bordas das embalagens e o resultado foi inesperado pois sujeito a 2 horas de cura não fixou a face de alumínio na face de estampa de plástico. i- Colagem das Embalagens com Papel Sulfit Primeiro passo é encontrar uma superfície que possa ser utilizada como uma base, que poderá ser uma pedra de granito, mármore ou uma tábua revestida com fórmica e resistente a temperaturas até 100°C. A fórmica pode ser do tipo usada em mesas de cozinhas, ou mesmo uma mesa com tampo de vidro ou ainda uma placa de vidro liso de com aproximadamente 400,00 cm2 e 3 mm de espessura. Conforme recomendação do URFEN (Uso Racional das Fontes de Energia Naturais), em site desenvolvido por Edson Urbano, as embalagens devem ser posicionadas com a face de alumínio, apoiada na mesa e a face com estampa (lado externo da embalagem) ficou em contato com o papel sulfit e o ferro. Ao para passar o ferro (bem quente) sobre o sulfit, o plástico que reveste as embalagens “amolecem” e se funde, com as embalagens formando o painel. Os resultados obtidos foram parcialmente satisfatórios, pois, a resistência do painel era boa, porém, o aspecto do acabamento não foi bom, e ainda, a exposição ao dobramento constante descolou alguns pontos, seria bem aplicado para uma superfície que não houvesse movimentação constante. ii- Colagem das Embalagens com Jornal Esse procedimento foi feito como o de colagem com papel sulfit. Obtendo-se os mesmos resultados. iii- Colagem das Embalagens com Araldite As bordas das caixas foram unidas umas as outras através do adesivo Araldite, que apresentou resistência regular ao dobramento e bom aspecto visual, porém, descolando-se quando submetidos a pequenos esforços de tração.O custo deste adesivo é bem acima das v- Colagem das Embalagens com Cola Quente Foi aplicada a cola quente nas bordas das embalagens, a cola secou rapidamente, porém, quando submetida a esforços, as embalagens soltaram umas das outras. vi- Colagem das Embalagens com Fita Adesiva Dupla Face Foram coladas as fitas dupla face nas bordas das embalagens e fixadas umas nas outras formando um painel. Foram obtidos bons resultados, pois o painel apresentou boa resistência a esforços, ver figura 05 para o painel montado, sem acabamento nas bordas vii- Costura das Embalagens com fio de nylon e linha de costura Figura 05: Para-sol montado com fita dupla face. Foram necessárias 12(doze) embalagens de leite de 1 (um litro) para formar o parasol. As embalagens foram submetidas a dupla costura nas bordas para unir umas as outras, utilizando dupla costura com linha de nylon e linha de costura. Os resultados foram excelentes devido a praticidade da costura e a alta resistência a esforços e aspecto visual muito bonito, ver figura 06 a e figura 06 b para sol montado, com o acabamento em viés em todo seu contorno. o comportamento da camada de tinta após uma sequência de dobramento. 5° Procedimento - Pintura e Acabamento Durante a confecção do para brisas, foram feitas várias tentativas de pintura da face estampadas das embalagens, com os seguintes procedimentos: a) Pintura com spray direto na estampa da embalagem Resultado obtido não foi favorável, pois a tinta não fixou na embalagem, escoando completamente. b) Pintura com base de verniz Houve a fixação do verniz que foi aplicado por processo de pincel, após seco aplicou-se a tinta spray, porém ao secar , descolou-se toda camada de tinta e verniz. c) Pintura com aplicação de removedor Limpeza da superfície de estampa com removedor, em seguida aplicação da tinta a óleo com pincel. Após duas demãos não houve descolamento da tinta, porém, verifica-se a necessidade de fazer testes na prensa para ver e) Aplicação de limpeza com removedor , verniz e tinta a óleo O tempo de execução deste experimento foi bem maior do que os outros , a cobertura do verniz com a tinta exigiu-se mais demãos e a embalagem ficou bem mais pesada, ocasionando desconforto em seu manuseio, além de que ainda há necessidade de teste mais específicos na prensa, para verificar o comportamento no ciclo do dobramento. 4. Conclusão A utilização de embalagens tetra pak na confecção do para sol se mostrou viável e, como um meio de aumentar o ciclo de vida de um produto, que iria ser descartado, o produto gerado tem um custo baixíssimo, o que se traduz praticamente na mão de obra da costureira, ou então na compra de fita adesiva. A embalagem não demonstrou nenhum tipo de deformação quando submetida a 100°C no forno de enxarque e apresentou-se muito bem em um pequeno ciclo de dobramento, sem quebra da estrutura. O bloqueio da entrada da luz direta do sol no interior do veículo através do para brisa foi alcançado, com uma significativa redução de temperatura interna em contato das mãos com o volante do carro, permitindo a partida imediata do condutor, além da possibilidade de conservar as cores dos estofados por um período bem maior a não instalação do para-sol, valorizando o patrimônio. De todos os fatores o benefício maior é a preservação de recursos naturais, através do simples fato de acreditar que soluções como essa podem contribuir também na conservação do meio ambiente edição nº 12, abril/2010 Figura 06 b: Para -sol para brisa dianteiro de veículos de passeio face interna d) Pintura com aplicação de removedor e tinta Spray A tinta foi aplicada diretamente no painel, após a secagem, foram realizados dobramentos para a verificar a fixação da tinta, então, percebeu-se que nas áreas vincadas a tinta se soltou. Cadernos UniFOA Figura 06 a: Para-sol para brisa dianteiro de veículos de passeio, face externa (alumínio) 31 32 5. Referências Bibliográficas BRAGA, B. e HESPANHOL, I. Introdução à engenharia ambiental - São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 318p. CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO – CONTRAN - Lei nº 9.503 de 23 de setembro de 1997 http://www.ambientebrasil.com.br/ composer.php3?base=./residuos/index. php3&conteudo=./residuos/estatisticas.html http://www.cefetsp.br/edu/sinergia/andre2.html http:/www.cresesb.cepel.br http://www.tetrapak.com.br/desperdiciozero/ desp_reciclagem.asp?tipo=reciclagem http://www.tetrapak.com.br/tetravc/meio/ meio_reciclagem.asp FURUKAWA, C. Energia Essência dos Fenômenos - O Efeito Estufa - IFUSP- 2000 SCHUELLER, R. & ROMANOSWSKI, P. Introdução aos produtos fotoprotetores.Cosm. Toil.(Ediç Princípios da transmissão de calor Frank KREITH e Marks S. Bohn Editora Pioneira Thomson Learning, 2003 6 edição em português),12: 60-67, 2 STRADULIS, P. T. Energia Solar UNICAMP- 2008 – Tetra Pak Ltda. A Embalagem e o Meio Ambiente – 2006 UniFOA. Manual UniFOA para Elaboração de Trabalhos Técnicos. Volta Redonda/RJ, 2008,77p edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA URBANO, Edson. Uso Racional das Fontes de Energias Naturais (URFEN) Projetos de Baixo Custo ecologicamente corretos para o desenvolvimento social. VINTER, G. e DERNADIN,V. Algumas Considerações acerca dos benefícios econômicos, sociais e ambientais advindos da obtenção da certificação ISO 14000 pelas empresas. ZUBEN, Fernando. Reciclagem de Embalagens LONGA VIDA - TETRA PAK- 1996 Sites Consultados entre junho e setembro do ano de 2009: Endereço para Correspondência: Daniela V. Vasconcelos [email protected] Centro Universitário de Volta Redonda http://ediurb.sites.uol.com.br/ediversos/ lixoluxo/lixoluxo04.htm Campus Três Poços Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços - Volta Redonda / RJ CEP: 27240-560 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Vasconcelos, Daniela V.; Haenel, Natalia G.; Lopes, Patrícia; Silva, Jaime Alex Marques da. Projeto de Para-sol com Embalagens Tetra Pak. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano V, n. 12, abril 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/23.pdf> 33 Uma prática projetual de sinalização do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA. A Practical Case in Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA’s Sign System. Cristiana de Almeida Fernandes 1 Marcos Vinícios Esteves da Silva Marcelino 2 Danton Gravina Baêta Rodrigues 2 Carla Fernandes de Lima 2 Matheus Moraes Amorim Pereira 2 Artigo Original Original Paper Palavras-chave: Resumo Acessibilidade O objetivo deste artigo é documentar a produção acadêmica de um projeto de sinalização que visou à adequação ao grande fluxo de circulação diária dentro do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA-. Compartilhando as informações obtidas, auxiliam-se outros estudantes de design a contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seu entorno, viabilizando uma melhor localização dos usuários dentro de suas universidades Abstract Key words: This article objective is register the academic production of a Signaling Project looking for adequacy to the great flow of daily circulation in UniFOA. Sharing information, design students assist to contribute for the improvement of the quality of life making possible better localization of the users inside a university. Accessibility 1. Apresentação O curso de Design do UniFOA foi implantado há dois anos por uma necessidade empresarial da Região Sul Fluminense. Existe um “sem número” de indústrias que necessitam agregar valor competitivo aos seus produtos e o diferencial produtivo está intimamente relacionado ao Design1. Atualmente, o setor empresarial regional dedica-se ao beneficiamento do aço em virtude da cultura do segmento a partir da cidade de Volta Redonda, com a presença da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, porém, poucas veem no produto final uma possibilidade de extensão de seu negócio. A equipe para execução desse projeto foi escolhida pela orientadora, buscando 1 2 Sign Legibility. alunos que se encaixassem ao perfil e que estivessem predispostos a ceder parte do seu tempo para elaboração desse sistema de sinalização. Aliás, é proposta acadêmica do curso, que as habilidades sejam trabalhadas, como forma de valorizar o potencial criativo de cada discente. (UNIFOA:2009) Ao fazer parte desse processo, foi adquirida pelos alunos uma experiência, julgada pelos próprios, de grande utilidade em suas carreiras, pois, foi vivenciado um projeto real, quando o mercado atual exige amplo conhecimento acerca de recursos úteis e responsabilidade com prazos. Foi estabelecida uma meta para entrega do projeto que deveria ser contemplado em dois meses. A partir desse marco, foi proposto um cronograma metodológico de trabalho, aplicado às Mestre em Design pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio Acadêmicos do curso de Design do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA edição nº 12, abril/2010 Legibilidade. Cadernos UniFOA Sinalização edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 34 realidades institucionais, em que nenhum tipo de projeto similar havia sido executado anteriormente pelo curso ou pela Instituição. O nascimento desse processo de sinalização se deu ao fato de algo essencial: acessibilidade. Quando nos referimos à acessibilidade, não pensamos apenas em pessoas portadoras de necessidades especiais, mas sim em todos os indivíduos que necessitam se locomover e se localizar dentro de um ambiente: “a acessibilidade visa proporcionar a maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos”. (NBR-9050/04) O UniFOA é um Centro Universitário que recebe, diariamente, cerca de cinco mil pessoas, entre elas, alunos, professores, funcionários e visitantes. Há dentro do Campus Três Poços, de 25 a 30 áreas de acesso, sendo algumas específicas para funcionários, como garagem, manutenção e cozinha. Para o público visitante, existem duas agências bancárias, três auditórios para eventos, sendo um deles destinado a realizações culturais. Para os acadêmicos, as áreas vão desde estacionamentos, passando por salas de aula, laboratórios, cantinas e áreas de convivência, como biblioteca, salas de estudos e praças. Após circular nos campi do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA, que tem sua sede na cidade de Volta Redonda – RJ, consultar alunos, professores, funcionários e visitantes, nota-se que a primeira circulação só é possível através de alguém que conhece bem o local. Os usuários necessitam de um guia, pois a configuração atual da sinalização não atende às necessidades dos usuários; não há clareza nas informações contidas nas placas atuais. Surge então, a oportunidade de contribuir para a melhoria do acesso à informação pelos usuários em um novo projeto de sinalização do Campus, a partir de uma proposta de atividade de extensão pelo curso de Design. O ponto de partida da proposta foi a adoção de uma fotografia aérea do Campus Olezio Galotti (figura 1), que permitiu a contabilidade de prédios e áreas de importância, definindo assim fluxos de circulação viária em um infográfico2. É necessário, neste momento, esclarecer que o modelo adotado para o projeto foi o de placas de acesso viário3, que auxiliassem na melhor localização dos usuários dentro do Campus universitário, não levando em consideração a circulação interna aos prédios e áreas, nem os fatores ligados ao mapeamento de risco4. Tais modelos já existem em proposta e devem ser abordados em outro projeto, pela complexidade e quantidade de informações, que deve ser contemplado ao sistema de identidade visual adotado para esse estudo de sistema de sinalização. Figura 1 - infográfico da foto aérea do Campus Universitário 2.1:Ergonomia. Não há como falar em adaptação de projetos aos usuários sem recorrer aos recursos oferecidos pelos estudos da Ergonomia. “(...) para que o design contribua significativamente para o desenvolvimento de produtos que sejam adequados aos usuários de um modo que eles reconheçam e achem satisfatório e prazeroso, necessitam-se de métodos para entender os usuários e as mudanças que influenciam suas vidas. Para fazer isto, devemos estender nossas noções de ergonomia para incluir um espectro mais amplo de influências sobre qualquer usuário potencial”. (HESKETT:1993) No caso em questão, a necessidade de adequação do projeto é bem ampla e deve ser funcional, na sinalização atual existem placas alocadas em espaços de difícil identificação, onde, de uma certa distância, principalmente visualizando a partir de veículos, é difícil a leitura das informações, principalmente porque o tamanho das letras, bem como a fonte escolhida, não facilitam um bom entendimento. As alturas mínimas das letras necessárias para visibilidade, segundo regras determinadas pelo CONTRAN5, são dadas em função da distância de visibilidade. A necessidade desse distanciamento é de, no mínimo 10M, pois é a área definida entre o usuário e a placa, dentro das áreas de circulação no Campus. 2.2: Legibilidade. A configuração atual dessa sinalização também possui um problema em sua legibilidade. Não é possível compreender, a certa distância, o conteúdo das placas, pois o tamanho da fonte utilizada na mesma é 35 2.3: Posicionamento. Existem placas posicionadas em uma altura indevida, pois verticalmente são obstruídas por veículos estacionados. Ou seja, a altura de suas hastes de sustentação não dá alcance visual para a leitura de todas as informações. 2.4: Padronização. A partir de uma breve pesquisa com o Departamento de Comunicação institucional, foi constatado que a demanda por identificação de sinalização era suprida quando havia a necessidade de indicação sazonal, como o local onde estava sendo realizado o vestibular, onde estava acontecendo a recepção de novos alunos ou algum seminário. Também eram confeccionadas placas para indicar novas construções ou para direcionar mudanças de localização de algum setor. Não havia, portanto, um projeto padronizado que criasse uma unidade visual entre as peças indicativas, fazendo com que tivessem tipos de fontes, tamanhos, cores e elementos visuais diferenciados entre elas. 2.5: Adequação de Informações. Deparamos-nos no Campus com certos problemas de adequação de informações de algumas placas. Lugares de sumária importância mudam suas sedes e por isso as placas necessitam de alteração. Na configuração atual, essa mudança rotineira não é possível, pois ela é composta de placas de metal adesivadas, com as respectivas informações referentes à localização. Na necessidade de alteração, o projeto anterior deveria ser todo alterado. 2.6: Materiais. Além do problema com a atualização dos dados, temos também o fato de que o tipo edição nº 12, abril/2010 A partir do levantamento das placas presentes no Campus Três Poços, foi constatado que a configuração atual da sinalização não atende à necessidade dos usuários, pois têm problemas avaliados em diversas categorias descritas logo abaixo: reduzido. O que deveria ser uma indicação para orientação de um usuário acaba se tornando um “borrão” e ficando confusa. O tamanho mínimo5 é de 4,5cm, distanciando o usuário a 10M. Cadernos UniFOA 2. Parte 1: Problematização 36 de vinil usado para o adesivo não é o mais indicado, pois com o passar do tempo e por efeito do clima, esse material vai se desgastando e a sinalização perde sua utilidade. e registrar todas as áreas fotograficamente. Então, foi possível identificar pontos críticos em sinalização, bem como prédios de maior fluxo diário de pessoas. Foram feitas cerca de 200 fotos, entre prédios e vias de acesso a eles. 3. Parte 2: Projeto. 3.2.2: Definição de fluxos de circulação 3.1: Algumas mudanças de método. Por possuir o Centro Universitário de Volta Redonda um setor responsável em cuidar da imagem, qualquer solução desenvolvida deve respeitar padrões estéticos da sua identidade visual. O desenvolvimento do projeto de sinalização deveria respeitar não só a unidade institucional, mas também seguir trâmites administrativos de aprovação orçamentária e de defesa projetual. O ato de realizar um projeto envolvendo alunos e voltar para dentro da universidade não diferencia do procedimento metodológico (BAXTER: 1998) utilizado para atendimento de clientes, pois o processo de desenvolvimento deve passar por apresentação, cotação entre outras exigências. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 3.2. Definição das etapas de desenvolvimento. As etapas para desenvolvimento do sistema de sinalização seriam necessárias para que as tarefas fossem divididas entre os membros da equipe e para a definição de um cronograma mais enxuto, dentro das expectativas institucionais. (BAXTER: 1998) O trabalho não tratava somente de uma análise de produto, mas também abrangia aspectos visuais. Por isso, habilidades de computação gráfica, redação e ilustração seriam necessárias à equipe. No início, eram apenas dois alunos, sendo um deles estagiário do centro Universitário e o outro, aluno voluntário. A partir das novas necessidades, foram trazidos para o grupo mais dois acadêmicos com outras expertises. A partir da definição das etapas abaixo, as tarefas foram divididas entre o grupo: 3.2.1: Fotografia do Campus Olezio Galotti Um dos membros envolvidos na equipe se encarregou de andar por todo o Campus Um ponto importante a ser abordado é que a sinalização já existente no Centro Universitário seguia somente o fluxo de automóveis, pois para circular dentro do Campus, normalmente há uma via principal de mão única e ruas transversais de curta distância. Porém, para transitar dentro da instituição, o carro deve ser deixado em um dos estacionamentos que, por vezes, é distante do objetivo final do usuário, portanto, para as primeiras vezes que o sujeito circula, é difícil chegar ao ponto desejado sem que haja alguém que faça a indicação. Logo, a partir de infográfico traçado com base em uma foto aérea e após a tomada fotográfica de todo o Campus, foi necessário traçar rotas de circulação automotiva e pedestre. (Figura 2) Circulação Carro Circulação Pedestre Figura 2: Fluxos de circulação 3.2.3: Pontos de importância É possível afirmar que, em uma breve divisão de áreas, há espaços no infográfico que ocupam mais números de pontos de abordagem do que outros. Foi preciso definir a importância desses locais para uma posterior distribuição de placas. Os pontos foram divididos entre: informações gerais, específicas e de circulação interna. A terceira classificação foi separada da proposta, destinando a execução ao Departamento de Comunicação, até porque, parte do projeto já estava sendo feito. Foram posicionados, no infográfico, quadrados amarelos para placas de informações gerais que deveriam direcionar pontos para a esquerda e para a direita e quadrados menores azuis, que serviriam para as placas de informações específicas. Ligados a esses quadrados, fotos foram acondicionadas para que representassem melhor os locais. se uma relação com tamanhos de fontes e distanciamento. Foi definida para o projeto a fonte Helvetica, na altura de 4,5cm a 5,0cm, pois é o padrão adotado pelo Conselho Nacional de Trânsito. Em um breve estudo antropométrico6, foi possível a definição da melhor altura para visualização pedestre e automotiva. (Figura 3) 3.2.4: Pesquisa ergonômica e de legibilidade Testes dentro de veículos em velocidade permitida para trânsito interno foram feitos a partir de uma amostragem entre funcionários, alunos e professores com os totens de simulação distribuídos pelo Campus. A partir do levantamento da problematização, foram feitos testes com usuários de diversas estaturas, criando- 37 Um dos dados apontados de dificuldade entre os usuários foi a localização das setas de indicação de direcionamento. edição nº 12, abril/2010 Foi definida a altura mínima de 2,90M para que as placas pudessem ser avistadas em uma distância mínima de 10M. As hastes de sustentação devem ter 1,20M e a área de abordagem, 1,50M. A largura para cada direção deve ter no máximo 1,20M, de forma que a distribuição das letras não ultrapasse 20 caracteres em caixa-alta. Cadernos UniFOA Figura 3: Pesquisa ergonômica de legibilidade 38 Dessa forma, o layout deveria ser o mais enxuto possível, criando uma unidade entre todos os elementos gráficos. 3.2.5: Escolha de materiais edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Um dos pontos-chave apresentados pelos usuários foi a deterioração do material utilizado para a confecção das peças já existentes. Foram constatados casos de corrosão e desgaste do revestimento metálico. Isso se deve à má escolha do aço, que não seguia as indicações ABNT7. de chapa metálica e a lona, o custo cairia em cerca de 60% do valor. É certo que uma chapa de aço carbono, se fosse a opção de escolha, poderia ser reaproveitada. Porém, toda a lona descartada pela instituição é doada para uma cooperativa de artesanato. O modo de afixação da lona na estrutura metálica foi definida por amarração com corda trançada multifilamento de 4 mm. Para tanto, ilhoses de latão niquelado antiferrugem deveriam ser posicionados em torno de toda a extensão interna a 1,5cm da borda. (Figura 4) Outro ponto importante é que a adesivação anteriormente feita, descolava-se facilmente, e, até em alguns casos, os elementos estavam derretidos pela exposição ao sol. Em outras observações, foi constatada depredação, principalmente nas placas posicionadas perto de áreas de convivência, dado que, aliás, foi fortemente abordado pelos funcionários pesquisados. 3.2.6: Definição de layout e padronização visual A melhor escolha para a solução dos problemas anteriormente abordados foi por uma alternativa que trabalhasse com um m a t e r i a l de fácil confecção, ágil na troca de dados, resistente ao sol e ainda seguisse uma padronização visual institucional. Testes feitos com usuários mostraram que, ao refletirem-se os faróis dos carros no adesivo reflexivo existente nas placas atuais, esses faziam sumir as informações, formando blocos luminosos que impediam a visualização do conteúdo. Por isso, o fundo azul, com as letras em branco, cria um contraste necessário para a compreensão dos dados a serem seguidos. Definiu-se um modelo de totem de afixação, intitulado de “F”, remetendo à inicial de FOA – Fundação Oswaldo Aranha, mantenedora do Centro Universitário, em tubos de aço carbono com pintura para exposição externa. A partir daí, por levantamento junto aos fornecedores e recorrendo a soluções encontradas em projetos já publicados em catálogos e anuários, a escolha da lona vinílica com tratamento UV impressa em plotter, que é projetada para a duração de cinco anos, foi a mais indicada. Para uma possível troca de informações, que ocorre comumente em um Centro Universitário, a lona é substituída em apenas 10min, depois de 30min de impressão. Essa escolha também se deve ao fato de que a impressão, além de mais barata, fica menos exposta a depredações. Essa solução foi realmente difundida, com base no orçamento do projeto, que, entre as placas As cores utilizadas não só pela identidade visual institucional, mas também adotadas para a sinalização interna, já desenvolvida pelo Departamento de Comunicação, são tons de azul com branco. Para manter a unidade entre os dados e tornar enxuta a quantidade de elementos do layout, foi utilizado apenas um triângulo, simulando uma seta de direcionamento, já que a lona deveria ser cortada em diagonal, reforçando a ideia da direção. Uma tarja branca foi estudada para adequação de numeração dos prédios, fazendo com que esse número se destaque do restante do conteúdo. Além disso, o “respiro” entre os elementos gráficos foi pensado de forma a melhorar a compreensão da mensagem. 4. Parte 3: Conclusão O principal objetivo desse artigo foi documentar os resultados obtidos pelo projeto desenvolvido pelos alunos, sob a orientação 5. Parte 4: Reformulando o infográfico 39 Mais uma vez foi usada a foto aérea do Campus, e, junto ao Reitor, dessa vez no lugar de “cliente”, foi feita uma nova delimitação de áreas e numeração dos prédios. Foi identificado que, a partir dessa verificação, as áreas foram reduzidas e, com isso, este reduziria o orçamento consideravelmente. Foi feita uma reunião com a equipe e novas estratégias foram tomadas, identificando que o cliente deve ser envolvido durante todo o processo. A forma de representação da foto não só deu outro direcionamento ao trabalho, mas também abriu a possibilidade de novos projetos a serem propostos posteriormente pelo curso de Design 1 - A estratégia adotada para atingir esse objetivo foi o apoio à participação de produtos brasileiros em premiações internacionais de design, já que, nesse segmento, os selos indicadores dessas premiações são uma forte garantia de diferenciais mercadológicos. Fonte: Design & Excellence Brazil 2004/2005. 3 – No site da Fundação MAPFRE, a Circulação Viária é um conceito amplo que diz respeito não só ao trânsito de veículos e pedestres, mas também aos variados elementos que se relacionam no espaço público, determinando diferentes formas de mobilidade. 4 - É uma representação gráfica de um conjunto de fatores presentes nos locais de trabalho, capazes de acarretar prejuízos à saúde dos trabalhadores. Tais fatores se originam nos diversos elementos do processo de trabalho (materiais, equipamentos, instalações, suprimentos, e nos espaços de edição nº 12, abril/2010 2 - Segundo a Wikipedia, Infografia ou infográficos são representações visuais de informação. Esses gráficos são usados onde a informação precisa ser explicada de forma mais dinâmica, como em mapas, jornalismo e manuais técnicos, educativos ou científicos. É um recurso muitas vezes complexo, podendo se utilizar da combinação de fotografia, desenho e texto. Cadernos UniFOA de uma professora do curso de Design, que, preocupados com a qualidade de vida dos usuários do Campus Olezio Galotti, propuseram-se a contribuir com a prática projetual da área de Design. Além disso, as alternativas à problemática, encontradas durante o estudo, poderão dar abertura a outros projetos de várias aplicações. Um ponto forte dos encontros, durante os dois meses e meio de projeto, foi a troca de experiências entre os membros da equipe, orientadora e professores que contribuíram para o desempenho acadêmico dos alunos na busca de soluções que melhor atendessem às expectativas. Foi necessário o envolvimento do Departamento de Marketing institucional, da Assessoria da Presidência da mantenedora, da Prefeitura do Campus, do Comitê de Ética e do Comitê de biossegurança que, no momento, efetivavam projetos paralelos concorrentes com o caso em questão. Foram três reuniões decisórias de divisão de tarefas entre essas equipes de desenvolvimento. Os encontros entre a equipe de desenvolvimento eram periódicos e planejados, cumprindo horários e respeitando a divisão de funções. Assim, foi possível o cumprimento de todas as metas estabelecidas no início do projeto. O que facilitou a acessibilidade foi o fato de o Centro Universitário possuir clínicas de atendimento aos portadores de necessidades especiais, permitindo pesquisa desse tipo de usuário-visitante. Outro ponto facilitador foi o entendimento da necessidade e a colaboração dos funcionários. Em uma fase bem avançada do desenvolvimento da proposta, foi marcado um encontro com o Reitor do Centro Universitário, o qual fez várias considerações cabíveis às mudanças no procedimento adotado. Foi verificado por ele que alguns setores listados para a execução das placas estavam com problemas de nomenclatura e de localização entre as áreas. Era uma fase de visita do MEC para recredenciamento institucional e a universidade deveria adequar-se às exigências presentes no Plano de Desenvolvimento Institucional de 20098. A partir daí o projeto deveria partir para um novo mapeamento, o que defasou o cronograma. 40 trabalho, onde ocorrem as transformações) e da forma de organização do trabalho (arranjo físico, ritmo de trabalho, método de trabalho, turnos de trabalho, postura de trabalho, treinamento etc.) 5 – Na Legislação do Conselho Nacional de Trânsito, há uma tabulação de distâncias x tamanhos de fontes que foram utilizadas no projeto. Fonte: DAER/RS. 6 – Fonte: Escala DIFFRIENT, N.;TILLEY, A. R.; HARMAN, D. Human Scale. (1981a e 1981b). 7 – Existem várias NBR, regras ABNT indicativas para sinalização externa. Algumas foram utilizadas no projeto, como NBR14890, que trata de sinalização vertical viária (requisitos) e NBR14962, que trata de placas (projeto e implantação). 8 – O Plano de Desenvolvimento Institucional funciona como um plano de ação, traçando metas a serem alcançadas durante o ano. Quando citamos esse documento, avaliamos que os setores de atendimento ao aluno já estavam passando por processo de atendimento às condições de acessibilidade, como adequação de rampas de acesso, indicação por sinalização e disposição de vagas de estacionamento localizadas perto dessas áreas. 5 – Disponível em <http://www.designbrasil. org.br/portal/acoes/pbd_excelence.jhtml> Acesso em: 16/04/2008. 6 – UNIFOA.Centro Universitário de Volta Redonda. Projeto Pedagógico do Curso de Design.Volta Redonda, RJ, 2008. 7 - Disponível em:<www.redebrasil.inf. br/0anexos/anexoII_contran.pdf> Acesso em: 16/04/2008. 8 - UNIFOA.Centro Universitário de Volta Redonda. Plano de Desenvolvimento Institucional.Volta Redonda, RJ, 2008. 9 - BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia prático para design de novos produtos. 2. São paulo, Brasil: Edgard Blücher, 1998. 260p. 10 – DIFFRIENT, N.;TILLEY, A.E.; HARMAN, D.(1981a) Human Scale 4/5/6. Massachussetts: The MIT Press. 11 - NBR-14962 - Sinalização Vertical Viária - Suportes Metálicos em Aço para Placas - Projeto e Implantação. Rio de Janeiro, ABNT, 2003. 12 - NBR-14891 - Sinalização Vertical Viária - Placas. Rio de Janeiro, ABNT, 2002 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 6. Bibliografia 1 - Disponível em : <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Infografia> Acesso em: 16/04/2008. 2 - Disponível em: <http://portal.mapfre.com. br/t265.jsp?idDocumento=17151> Acesso em: 16/04/2008. 3 - MATTOS, U. A. º & FREITAS, N. B. B. Brazilian Risk Map: Limited Applicability of a WorkerModel. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10 (2): 251-258, abr/jun, 1994. 4 – HESKETT, J. The future of design. In: Design processes newsletter. Chicago, Institute of Design, IIT, 1993. Vol. 5, N 1 – 3,5. Endereço para Correspondência: Cristiana de Almeida Fernandes [email protected] Avenida dos trabalhadores, 420 Vila Santa Cecília - Volta Redonda – RJ CEP: 27255-125 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Fernandes, Cristiana de Almeida; Marcelino, Marcos Vinícios Esteves da Silva; Rodrigues, Danton Gravina Baêta; Lima, Carla Fernandes de; Pereira, Matheus Moraes Amorim. Uma prática projetual de sinalização do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano V, n. 12, abril 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/33.pdf> 41 O Cultivo de Organismos Geneticamente Modificados e a Contaminação da Água The cultivation of genetically modified organisms and the contamination of water Taís de Souza Santos ¹ Francisco Roberto Silva de Abreu ² Artigo Original Original Paper Palavras-chave: Resumo Danos ambientais Este artigo tem como objetivo discutir as consequências negativas associadas ao uso intensivo de agrotóxicos, herbicidas e fertilizantes nos cultivos de organismos geneticamente modificados . Tais consequências estão relacionadas, principalmente, aos danos ambientais e à saúde humana (de trabalhadores, famílias rurais e consumidores,) cujos custos acabam sendo socializados. O presente estudo analisa, a partir de dados obtidos por meio de Pesquisa e Revisão Bibliográfica, a contaminação da água como consequência do uso indiscriminado desses produtos. Conclui-se que o artigo pode contribuir para a formulação de políticas no sentido de auxiliar o desenho dos instrumentos de regulação e fornecer subsídios para a tomada de decisão mais rápida e eficiente em relação ao cultivo de organismos geneticamente modificados. Herbicidas Summary Key words: This article aims to discuss the negative consequences associated with intensive use of pesticides, herbicides and fertilizers in the cultivation of genetically modified organisms. Such consequences are mainly related to environmental and human health (workers, families and rural consumers), the costs end up being socialized. This study examines, from data obtained through the Research and Literature Review, contamination of water as a consequence of the indiscriminate use of these products. It is concluded that the results can contribute to the formulation of policies to assist the design of regulatory instruments to provide information for decision-making faster and more efficient in the cultivation of genetically modified organisms. Environmental damage 1. Introdução A agricultura é a atividade econômica mais antiga e importante do planeta, ocupando, atualmente, cerca de 38% da área global (World Resource Institute, 1994), gerando 1,3 bilhão de empregos e produzindo cerca de US$ 1,3 trilhão ano-1 em matérias-primas e mercadorias (El Feky, , 2000). Desde a sua invenção, há aproximadamente 10 mil anos, no período Neolítico, a agricultura GMO Pesticides Herbicides é fundamentada na interferência do homem no ecossistema, inicialmente visando à maior extração e coleta de materiais essenciais à sobrevivência e, atualmente, direcionada à produção de alimentos e materiais de valor econômico. Como exemplo dessa interferência, podemos citar a procura por terras mais férteis, construção de diques de irrigação natural ou promoção da rotatividade do solo. Com a constatação de que certos materiais orgânicos promovem a fertilização Médica Veterinária com Pós-Graduação em Gestão Integrada de Meio Ambiente ² Engenheiro Civil com Mestrado em Engenharia Civil Coordenador do curso Engenharia Civil e Discente engenharia civil, engenharia ambiental e ciências biológicas do UniFOA 1 edição nº 12, abril/2010 Agrotóxicos Cadernos UniFOA Transgênicos edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 42 da terra, como os adubos de origem animal e vegetal, um considerável avanço se deu para a agricultura que, desde então, tem buscado constantemente novas tecnologias para melhorar a produção. Um outro ponto relevante desse avanço foi a introdução de substâncias que controlassem as perdas decorrentes do ataque de pragas e ervas daninhas à lavoura. A utilização de agrotóxicos, substâncias com alto teor de toxicidade, destinadas a destruir específicos tipos de pragas, sem, entretanto, causar danos à plantação, tornou viável à agricultura de grande porte, voltada ao consumo interno e à exportação. Com isso, a plantação deixou de ser somente fonte de subsistência para os municípios adjacentes à propriedade agrícola, tornando-se um grande negócio, que nos dias de hoje movimenta uma considerável parcela do PIB de países como o Brasil. A busca incessante por uma vida melhor e maior produtividade também tem levado o homem a enveredar pelo campo do conhecimento científico de uma forma ilimitada. A genética, após a descoberta de Mendel, passou por transformações abruptas no decorrer das décadas. A engenharia genética vem ganhando um destaque dentro do campo da ciência, na economia e política. Isso tem acontecido em decorrência do enorme potencial de transformação nos mais diversos campos da humanidade. Como consequência dessa busca incansável por novos avanços na ciência e tecnologia, o homem chegou aos transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). São considerados OGMs os seres vivos com material genético alterado pelo homem, através da transferência de um gene de uma espécie para outra. Eles surgiram há bem pouco tempo, na década de 70, e rapidamente alcançaram o mundo, principalmente os alimentos. Apesar disso, ainda é grande a polêmica em torno do assunto. Da medicina, a biotecnologia passou para a agricultura, onde proliferou. A discussão sobre esses alimentos está longe de alcançar consenso. Enquanto para alguns a nova tecnologia é uma certeza de desenvolvimento, para outros muito ainda deve ser esclarecido sobre os reais impactos no meio ambiente, na saúde, política, economia e bioética de cada país (ALVES, 2004). Do outro lado da questão, se encontram ambientalistas e pessoas que se preocupam com a qualidade dos alimentos que consumimos diariamente. As pesquisas sobre transgênicos são bastante recentes e não se têm dados que comprovam a qualidade ou a segurança desses produtos a longo prazo. Além disso, plantas super-resistentes apenas agravariam o quadro do uso indiscriminado de agrotóxicos, que já se encontra bastante grave. Seria iminente o uso de agrotóxicos mais fortes e em maior quantidade e, dessa forma, os prejuízos ao meio ambiente e a saúde das pessoas seria inestimáveis (ODILON, et al.). A utilização indiscriminada desses produtos aliada a fatores como a falta de conhecimento técnico de certos produtores, a ausência de fiscalização, o poderio de grandes empresas agrícolas, a falta de consciência ambiental e o problema da poluição das águas vêm trazendo sérios prejuízos ao ambiente e à saúde das pessoas, seja de forma direta ou indireta. Os recursos hídricos agem como integradores dos processos biogeoquímicos de qualquer região. Sendo assim, quando pesticidas são introduzidos, os recursos hídricos, sejam superficiais ou subterrâneos, aparecem como o destino final principal dos pesticidas. Solo e água atuam interativamente e qualquer ação que cause efeito adverso em um destes elementos afetará o outro. É importante ressaltar que, em alguns casos, menos de 0,1% da quantidade de pesticidas aplicados alcançam a peste alvo, enquanto o restante (99,9%) tem potencial para se mover para outros compartimentos ambientais, como as águas superficiais e subterrâneas (RIBEIRO, 2007) 2. Organismos Geneticamente Modificados Os OGMs surgiram em 1973 quando os cientistas Cohen e Boyer, que coordenavam um grupo de pesquisas em Stanford e na University of Califórnia, davam o passo inicial para o mundo da transgenia. Eles conseguiram transferir um gene de rã para uma bactéria, o primeiro experimento ocorrido com sucesso usando a técnica do DNA recombinante. Essa técnica, posteriormente, passou a ser chamada de engenharia genética. De acordo com Furtado 3. Por que produzir OGMs? 4. OGMs e sua resistência a fertilizantes, herbicidas e agrotóxicos As características procuradas são, geralmente, de melhoria na qualidade (cor, textura, tamanho), tempo de duração e elementos nutricionais de vegetais. Pode-se também buscar elementos ligados à produção do alimento tais como: resistência a pragas (vírus, insetos, etc.) e resistência a herbicidas. Essas características tornam mais baratas e aumentam a produção das plantações. Há também a possibilidade de produzir organismos que não causem alergias ou que não tenham substâncias antinutricionais (que atrapalham o uso de nutrientes pelo organismo), ou ainda, que produzam remédios e vacinas ( ROSA, s.d.). Contudo, por trás desse desenvolvimento científico se encontra uma grande discussão ideológica decorrente de interesses financeiros por parte de uma poderosa indústria de força mundial: a indústria dos agrotóxicos. Essas empresas financiam a pesquisa de novas espécies transgênicas buscando o desenvolvimento de plantas super-resistentes à ação dos agrotóxicos, sendo que dessa forma os prejuízos pela ação de pragas seriam minimizados através da utilização de venenos mais fortes e devastadores. Além disso, especula-se o desenvolvimento de espécies 43 edição nº 12, abril/2010 1983, na Universidade da Pensilvânia, quando dois cientistas inseriram genes humanos de hormônios de crescimento em embriões de ratos, produzindo os chamados “super ratos”. A palavra transgênico é utilizada para designar um ser vivo que foi modificado geneticamente, recebendo um gene ou uma sequência gênica de um ser vivo de espécie diferente. Para a execução de tal processo, utiliza-se a tecnologia DNA recombinante. Como exemplos de transgênicos, temos uma imensa gama de alimentos consumidos diariamente em diversos países sem que se tenha ciência dos processos de produção (ALVES, 2004). A figura abaixo ilustra o crescimento do uso de sementes geneticamente modificadas no mundo. Evolução da área global plantada com culturas transgênicas entre 1996 e 2003 em países industrializados e em desenvolvimento (a) e distribuição das principais culturas em 2003 (b). Fonte: James (2003). Cadernos UniFOA (2003) “Essa conquista tem sido comparada à domesticação do fogo e à descoberta da fissão nuclear, entre outros eventos de grande impacto sobre o destino humano”. Convencionalmente utilizam-se os termos OGMs e transgênicos como sinônimos, Porém, existe uma diferença técnica entre ambos. Os OGMs, são organismos que foram modificados com a introdução de um ou mais genes provenientes de um ser vivo da mesma espécie do organismo de alvo. Um exemplo típico de OGM é o tomate Flavr savr, que foi modificado geneticamente para apresentar um processo de maturação mais lento, de modo a permitir que os frutos possam ser colhidos maduros ainda na planta. Isso faz com que a qualidade nutricional e de acondicionamento sejam melhores. Essa técnica de modificação consiste em isolar uma determinada sequência de genes do próprio fruto e depois inserí-la em sentido inverso, no próprio fruto. Assim, temse um OGM e não um transgênico. O termo transgênico, foi usado pela primeira vez em 44 cujos únicos agrotóxicos compatíveis seriam aqueles produzidos por determinada empresa que, dessa forma, obteria monopólio mundial. Segundo JAIME (2007), as preocupações ambientais não devem ser restritas apenas à questão do fluxo de genes, mas também aos impactos negativos que podem estar causando os avanços tecnológicos que estão intimamente ligados a estes cultivos: grandes monoculturas em larga escala, reduzindo a biodiversidade (tanto do cultivo como da flora e fauna), e os efeitos da aplicação contínua de agrotóxicos, principalmente apenas um tipo de herbicida (no caso do OGM resistentes a eles, que, são atualmente a maioria das áreas plantadas). Isso foi provado, entre outros, em estudos de Firbank e Forcella (2000), Watkinson et al. (2000), Brooks et al. (2003), Hågvar e Aasen (2004), Benbrook (2005) e Bohan et al. (2005), bem como a pesquisa citada nos trabalhos da Mellon e Rissler (2003), Milius (2003), Bravo (2005) e Garcia e Altieri (2005). Enquanto isso, Nottingham (2002), Grain (2004) e Altieri (2005) veem que a contaminação genética, ou seja, o risco da passagem do transgene para outros indivíduos na natureza e suas consequências, deve ser vista como uma consequência inevitável da agricultura com a OGM, o que aumenta o controle das grandes empresas sobre ele. A engenharia genética tem produzido, principalmente, dois tipos de plantas geneticamente modificadas: as que possuem tolerância a herbicidas e as plantas resistentes a insetos. A soja resistente ao glufosinato de amônio (nome comercial Liberty), semente obtida pela engenharia genética, é um bom exemplo de planta tolerante a herbicidas. As sojas normais não toleram os herbicidas não seletivos, comumente utilizados para controle das plantas daninhas; por isso, as pulverizações são feitas em soja pré-emergente, ou em pós-emergência com herbicidas seletivos. A engenharia genética produz soja resistente aos herbicidas, introduzindo no genoma da soja um gene capaz de inibir a enzima glutamina sintetase e a formação de amônia, o elemento responsável pela morte da planta. O gene de tolerância foi obtido e foram desenvolvidos edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA Modificação do DNA da Planta para torná-la resistente ao herbicida milho, arroz e cana-de-açúcar resistentes ao glufosinato de amônio (ODILON, 2009). 5. Contaminação da água por fertilizantes e agrotóxicos A água doce presente no planeta Terra representa apenas 2,70%, sendo que dessa parte 2,07% estão congeladas. Apenas 0,63% de toda a água do planeta é de água que podemos consumir, e ainda, parte dessa água não está totalmente disponível por inviabilidade técnica, econômica, financeira e de sustentabilidade ambiental. Só esses dados e porcentagens já nos dão a dimensão da importância de um consumo mais consciente da água doce do planeta e do cuidado que devemos ter para mantê-la potável e disponível para consumo, tanto humano quanto dos demais seres vivos que dela necessitam para sobreviver. A preocupação com a contaminação de sistemas aquáticos superficiais e subterrâneos por pesticidas tem crescido no meio científico. 45 baixa. Entretanto, pesticidas persistentes e com grande mobilidade no ambiente têm sido detectados em águas superficiais e subterrâneas. edição nº 12, abril/2010 Estudos desenvolvidos em várias regiões do mundo têm mostrado que a porcentagem dos produtos utilizados na agricultura que atingem os ambientes aquáticos é geralmente Cadernos UniFOA Contaminação da água pelo excessivo uso de herbicidas, agrotóxicos e etc. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 46 A concentração da maioria dos pesticidas em água é baixa, em parte, devido ao fato de serem geralmente pouco solúveis em água e, em parte, devido ao efeito de diluição. Isso, no entanto, não exclui a possibilidade de que concentrações muito altas venham a ocorrer após pesadas chuvas, especialmente quando as áreas ao redor de um pequeno córrego tenham sido recentemente tratadas com altas doses de pesticidas. Mesmo em concentrações baixas, os pesticidas representam riscos para algumas espécies de organismos aquáticos que podem concentrar esses produtos até 1000 vezes. Não existe nível seguro previsível para pesticidas em água quando pode ocorrer biomagnificação. (DORES, 2001) O problema da poluição devido à utilização de fertilizantes se dá devido ao escoamento de parte desse material aos rios, movido pela chuva ou por sistemas de irrigação. Os fertilizantes naturais têm origem orgânica e não trazem prejuízos ao meio ambiente, contudo, nos dias de hoje é habitual o uso de fertilizantes químicos, mais eficientes e específicos para cada tipo de cultura. Esses produtos contêm em sua formulação substâncias como fósforo e nitrogênio que, em quantidades exageradas, não conseguem ser assimiladas pelos rios e podem causar problemas aos consumidores das águas. O fenômeno da floração da água ocorre quando fertilizantes agrícolas despejados nos rios nutrem excessivamente as plantas aquáticas, alterando a coloração da água para tons esverdeados. Entretanto, os problemas mais graves se dão devido ao uso dos agrotóxicos. Os prejuízos causados ao meio ambiente pela utilização descontrolada e muitas vezes de forma errônea desses produtos são inestimáveis sendo que seus efeitos atingem uma faixa muito ampla do ambiente. Podem-se identificar vários níveis de contaminação decorrente do mau uso de agrotóxicos: ribeirinha que tem a pesca como fonte de subsistência; • os agrotóxicos têm em sua composição substâncias químicas solúveis, que se dissolvem na água do rio, que é consumida por animais selvagens e domesticados, além da própria população ribeirinha. Além disso, certas substâncias químicas passam inalteradas pelo sistema de tratamento de água, atingindo dessa forma uma incalculável parcela da população abastecida pelo sistema público; • parte do tóxico dissolvido infiltra juntamente com a água, entrando no fluxo subterrâneo e contaminando indiretamente os rios e nascentes, podendo também afetar aquíferos, trazendo prejuízos às maiores reservas naturais de água do planeta; • devido ao precário sistema de segurança no trabalho e a ausência de fiscalização, muitos trabalhadores são afetados diretamente pelos tóxicos no momento do preparo e aplicação do produto, e até mesmo pelo contato indireto prolongado, que a longo prazo pode afetar a saúde do indivíduo; • certas substâncias químicas podem ficar aderidas à superfície do produto agrícola, comprometendo consideravelmente a qualidade dos alimentos. Por isso se faz necessária uma cuidadosa lavagem de produtos naturais por parte da população para minimizar o risco de contaminação; • um tipo de aplicação de agrotóxicos muito utilizada nos dias de hoje é a pulverização aérea, na qual um aspersor é acoplado a uma aeronave, que lança o veneno sobre toda a área de aplicação de forma rápida e contínua. Como as partículas lançadas são bastante pequenas, parte da substância é facilmente carregada pelo vento, podendo atingir rios, matas e zonas habitadas. Existe uma regulamentação que estabelece limites de distâncias entre a área de aplicação e áreas habitadas, limites estes que nem sempre são respeitados devido à falta de fiscalização. • com a chuva ou sistemas de irrigação, o tóxico escoa diretamente para o curso d’água, onde os prejudicados imediatos são os peixes e animais aquáticos. Essa mortalidade causa sérios desequilíbrios à cadeia alimentar, além de afetar de forma indireta a população 6 - Danos causados pelos pesticidas e agrotóxicos Os pesticidas quase sempre são substâncias tóxicas e, quando consumidos por seres humanos, através de produtos contaminados, podem causar problemas 47 edição nº 12, abril/2010 que é o local de ação do herbicida, em função da agregação de sequências codificadoras de um “peptídeo de transporte” derivado da planta. O primeiro gene codifica uma versão derivada de bactéria da enzima da planta, envolvida na via bioquímica do shiquimato. Diferentemente da enzima da planta, que é sensível ao glifosato e provoca o fim do crescimento da planta ou sua morte, a enzima bacteriana é insensível ao glifosato. O segundo gene- também bacteriano, codifica para uma enzima que degrada o glifosato, a sequência codificadora foi alterada para aumentar a atividade de degradação do glifosato. A via shiquimato-corismato não é encontrada em seres humanos e mamíferos e, como tal, representa “um novo alvo”, embora esteja presente em uma variedade de micro-organismos. Contudo, o glifosato atua impedindo a união do metabólito fosoenol piruvato (PEP) ao sítio da enzima Schonbrunn et. al (2001). O PEP é um metabólito central, presente em todos os organismos, incluindo os seres humanos. O glifosato, então, tem o potencial de alterar muitos sistemas enzimáticos importantes que utilizam PEP, inclusive o metabolismo energético e a síntese de lipídeos da membrana, necessários às células nervosas. A aplicação de glifosato no controle convencional de ervas daninhas provoca a destruição e extinção local de espécies vegetais ameaçadas de extinção. Nos ecossistemas florestais, reduz, significativamente, briófitas e líquens. O tratamento de plântulas de feijão com glifosato resultou em aumento de patógenos do solo que causam tombamento, em curto prazo. A aplicação de glifosato para controlar espécies invasoras em zonas ribeirinhas, sujeitas a enchentes, ocasionou efeitos secundários imprevistos. O glifosato persiste no solo e na água subterrânea, sendo encontrado em poços de água localizados nas proximidades de áreas que sofreram aplicação do herbicida. Existem muitos estudos científicos já publicados mostrando que o aumento “massivo” do uso de glifosato em conjunto com os cultivos transgênicos representa uma ameaça importante para a saúde humana e animal, bem como para o meio ambiente. (Grupo de Ciência Independente, 2004) Cadernos UniFOA de saúde como dificuldades respiratórias, problemas de memória, problemas na pele, vários tipos de câncer, além de outras intoxicações. ( ODILON ) O glufosinato de amônio e o glifosato são utilizados em cultivos transgênicos tolerantes a herbicidas, que, atualmente, representam 75% de todos os cultivos transgênicos espalhados no mundo. Ambos os produtos são venenos metabólicos sistêmicos com uma ampla gama de efeitos nocivos previstos, que têm sido confirmados. O glufosinato de amônio está associado às toxicidades neurológica, respiratória, gastrointestinal e hematológica, bem como a defeitos congênitos em seres humanos e mamíferos; é tóxico para numerosos insetos benéficos, larvas de mexilhões e de ostras, crustáceo Daphnia, conhecido como pulga d’água, e certos peixes de água doce, em especial, para a truta arco-íris, além de inibir o desenvolvimento de bactérias e fungos benéficos do solo, especialmente os organismos que fixam nitrogênio. O glifosato é a causa mais frequente de reclamações e casos de envenenamentos na Inglaterra. Foram registrados numerosos transtornos fisiológicos, após exposições a níveis normais de uso. A exposição ao glifosato praticamente duplicou o risco de abortos espontâneos, e os filhos nascidos de pessoas que utilizam o glifosato, com frequência apresentaram um elevado índice de transtornos de neurocomportamento. O glifosato provocou atraso no desenvolvimento do esqueleto fetal em ratos de laboratório, inibe a síntese de esteroides e é um agente genotóxico em mamíferos, peixes e sapos. A exposição de minhocas às doses habitualmente aplicadas no campo provocou mortalidade de, pelo menos, 50%, e ainda, lesões intestinais importantes entre as sobreviventes. O Roundup provocou alterações no processo de divisão celular, as quais podem estar associadas com alguns tipos de câncer em seres humanos. Os cultivos transgênicos modificados para serem tolerantes à formulação de glifosato da Monsanto, denominada Roundup Ready, são modificados com dois genes principais. Um gene favorece a diminuição de sensibilidade ao glifosato e o outro permite que a planta degrade o glifosato. A expressão de ambos os genes é dirigida aos cloroplastos, 48 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 7 - OGMs e o uso abusivo de herbicidas A comercialização de culturas resistentes aos herbicidas é uma questão polêmica, principalmente, no que diz respeito ao impacto ambiental que pode acarretar. HARRISON (1992) apresenta uma abordagem positiva, ressaltando que o desenvolvimento de cultivares resistentes está sendo acompanhado por redução na busca de novos herbicidas. WIESE (1992), em um sentido oposto, pondera que uma tecnologia pode ter aspectos positivos ou negativos dependendo de como é utilizada. Aponta alguns possíveis riscos, tais como: seleção de biótipos resistentes ou de espécies de plantas daninhas tolerantes, devido ao uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, e necessidade de pesquisas mais profundas em relação à segurança de alimentos e à qualidade da água, quando utilizado OGM no ambiente MONQUERO (2005). Segundo QUILES (2009), o solo e a água podem ser contaminados pelo uso excessivo de herbicidas, pois o uso frequente dessa substância pode selecionar ervas daninhas resistentes a ela, sendo necessário, então, o uso de quantidades cada vez maiores. Ou pelas substâncias produzidas pelos vegetais modificados, como, por exemplo, inseticidas. Mais de 75% dos cultivos transgênicos, plantados atualmente em todo o mundo, são manipulados geneticamente para serem tolerantes a herbicidas de amplo espectro, fabricados pelas mesmas empresas que obtêm a maioria do seu lucro da venda de herbicidas. Esses herbicidas, de amplo espectro, não apenas matam plantas indiscriminadamente, mas também são perigosos para praticamente todas as espécies de animais silvestres e para os seres humanos (Grupo de Ciência Independente, 2004). Nos agrossistemas, empregando OGMs tolerantes a herbicidas, a ênfase tem sido para os efeitos indiretos dos herbicidas para os quais a cultura é tolerante e não propriamente àqueles causados pelos transgenes que, em sua maioria, são originados de bactérias de ocorrência comum no solo, como Streptomyces e Agrobacterium, ou mesmo de plantas. No caso dessas plantas transgênicas, o produto da expressão gênica são enzimas ligadas ao metabolismo da planta ou mecanismo de ação do herbicida e não à produção de toxinas (GIANESSI et al., 2002). Em lavouras com cultivares tolerantes, a glifosato, por exemplo, é aplicado em pós-emergência, atuando diretamente no sistema planta daninhacultura-organismos, onde atua seletivamente, eliminando as plantas daninhas sem causar danos diretos à cultura. Já nos cultivos convencionais, geralmente empregam-se herbicidas com ação pré-emergente, aplicados em solo descoberto e, posteriormente, herbicidas de pós-emergência. Segundo Holt et al. (Apud ALTIERI, 1997 ) quando se aplica um só herbicida, de forma continuada sobre uma lavoura, elevam-se as chances de que se desenvolvam resistências ao produto, na população de plantas invasoras. Na medida em que grande parte das pesquisas com transgênicos propõese a desenvolver tolerância a herbicidas nas plantas, cria-se o temor de que a difusão dessa tecnologia implique na elevação do uso desses agroquímicos nas lavouras brasileiras, com consequente aumento da poluição do meio ambiente e prejuízo à microfauna, bactérias e outros seres vivos presentes no complexo solo-água. Todas estas possibilidades ensejariam ocorrências que redundariam, inquestionavelmente, em importantes alterações no equilíbrio dos ecossistemas (FREIXO, s.d.). Em cultivos transgênicos, o forte efeito dos herbicidas sobre plantas daninhas pode interferir indiretamente na fauna do agrossistema, como pássaros (Champion et al., 2003), e na ecologia das invasoras. Na PGM, planta geneticamente modificada, as mudanças fisiológicas que garantem a tolerância aos herbicidas podem afetar a biota associada, em virtude das alterações na qualidade dos exsudatos. A aplicação do herbicida também tem efeitos diretos sobre a biota e processos bioquímicos do solo, e indiretos sobre a deposição de matéria orgânica na superfície do solo. (SIQUEIRA, 2004) Segundo SIQUEIRA (2004), a redução no uso de defensivos em cultivos transgênicos favorece a biodiversidade, mas o uso prolongado do glifosato ou de cultivares Bt pode favorecer a evolução de 49 Venda de fertilizantes químicos no Brasil com soja RR, não é de se surpreender que o uso do herbicida glifosato tenha aumentado de maneira drástica. O uso total de glifosato na soja aumentou em 56 vezes de 1996/97 a 2003/04 e em 24% de 2002/03 a 2003/04 (CASAFE, 2004). Depender de um único herbicida, ano após ano, acelera a seleção de biótipos de plantas daninhas resistentes e espécies tolerantes. Na Argentina, PAPA et al. (2002) listaram as seguintes espécies de edição nº 12, abril/2010 resistência e a poluição ambiental, riscos inerentes a qualquer tipo de cultivo. Na Argentina, desde 1996, o ano em que a soja resistente ao glifosato (RR) foi amplamente cultivada pela primeira vez, a área destinada à produção de soja aumentou em uma proporção extraordinária de 2,4 vezes, passando de 6 milhões de hectares para 14,2 milhões em 2003/2004 (SAGPyA, 2004). Dada a expansão do número de hectares cultivados Cadernos UniFOA Vendas de defensivos agrícolas, por categoria edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 50 plantas daninhas tolerantes e que se tornaram problemas em áreas cultivadas por soja RR: Parietalia debilis, Petunia auxiliares, Verbena litoralis, Verbena bonariensis, Hybanthus parviflorus, Iresine difusa, Commelina erecta e Ipomoea spp. 8 – Análise de risco que priorizem as pesquisas do setor público para o estudo do impacto global desta nova tecnologia (MONQUERO, 2005). A atividade agrícola, especialmente o uso de pesticidas, é considerada uma das atividades mais difíceis de serem avaliadas, uma vez que o comportamento dos diversos pesticidas utilizados é ainda pouco conhecido em subsuperfície e sua aplicação é ampla e efetuada em baixas concentrações. Embora a maior preocupação devido a essa atividade seja a contaminação por fertilizantes inorgânicos, nitrato principalmente, a literatura tem apresentado trabalhos que relatam a presença de diversas classes de pesticidas em água subterrânea. Sendo assim, mais atenção deve ser destinada a essas substâncias que são utilizadas em larga escala na agricultura (RIBEIRO 2007). A avaliação de riscos consiste de um processo científico, passo a passo, que analisa os efeitos adversos causados pelo OGM (WOLFENBARGER & PHIFER, 2000). No caso de riscos ambientais, tal avaliação é muito complexa e difícil de ser realizada, em virtude da natureza multi e interdisciplinar dos fatores ou componentes do risco (PETERSON et al., 2000). Todos os aspectos relacionados ao hábitat e à ecologia geral da região e sistema de manejo da cultura, onde o OGM será liberado, precisam ser considerados. Portanto, os agrossistemas e suas imediações são complexos demais para que todos os riscos possam ser identificados e quantificados em análise à priori (MARVIER, 2001; DALE et al., 2002). Para GOLDBURG (1992), as consequências ambientais, devido ao uso de culturas resistentes aos herbicidas, podem variar e dependem de fatores tais como: a espécie geneticamente modificada, quais herbicidas serão utilizados na cultura resistente e a segurança destas plantas modificadas como alimento humano e animal. Ressalta também, a possibilidade de aumento no uso de herbicida, recomendando, portanto, políticas Embora a sobrevivência da nossa espécie dependa da água, só recentemente a humanidade começou a refletir sobre a evolução e o destino da água no mundo. A água é o sangue do nosso planeta: ela é fundamental para a bioquímica de todos os organismos vivos. Os ecossistemas da Terra são sustentados e interligados pela água, que promove o crescimento da vegetação e oferece um habitat permanente a muitas espécies. A realidade é que a produção de alimentos não conseguirá acompanhar o crescimento populacional, sendo necessário cada vez mais aumentar a produtividade e as áreas cultivadas. É preciso desenvolver novos métodos e tecnologias de produção que dinamizem a agricultura para que as pessoas não sofram ainda mais com a falta de alimentos. É importante considerar que a agricultura atual também apresenta problemas como: alto custo de produção; dependência de recursos não renováveis; poluição de solo e água; impactos à biodiversidade; erosão genética (monoculturas); não garantia da segurança alimentar (resíduos de pesticidas) e saúde dos trabalhadores (insalubridade); e a maioria dos insumos é de domínio de multinacionais. É necessário buscar um novo modelo, capaz de garantir produção estável e viável do ponto de vista econômico, social e ecológico. Esse novo modelo deve atender certos princípios básicos da sustentabilidade, como: elevada eficiência biológica e econômica; reduzido impacto ambiental; equidade social e alimentos com qualidade nutricional e seguros. O cultivo de organismos geneticamente modificados poderá ser uma saída para o aumento de produção de alimentos, porém, seria mais racional esperar que mais testes e pesquisas fossem realizados para que houvesse uma maior consciência de todos os males e 9 – Conclusões ALTIERI, M. Riesgos ambientales de los cultivos transgénicos: una evaluación agroecológica. Berkeley, USA: University of California, 1997. ALTIERI, Miguel. Biotecnologia Agrícola: mitos, riscos ambientais e alternativas. Petrópolis: Editora Vozes, 2004. Cerdeira, Antonio L.; Duke, Stephen O. The Current Status and Environmental Impacts of Glyphosate-Resistant Crops: A Review Journal of Environmental Quality v. 35 no. 5 (September/October 2006) p. 1633-58, 2006 ALVES, G. S. A Biotecnologia dos Transgênicos: precaução é a palavra de ordem, HOLOS, Ano 20, outubro/2004 CHAMPION, G.T. et al. Crop management and agronomic context of the Farm Scale Evaluations of genetically modified herbicidetolerant crops. 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Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/41.pdf> 55 Os 20 Anos do SUS e a Odontologia do Trabalho The 20 Years of SUS and a Dental Work Sylvio da Costa Júnior 1 Marcos Nascimento e Silva² Eduardo Meohas³ Artigo Original Palavras-chave: Resumo Original Paper SUS O presente trabalho se propõe a fazer um paralelo entre a construção histórica do Sistema Único de Saúde brasileiro e o processo de mecanização e modernização do trabalho, especialmente no Brasil, para que possamos, a partir dessas reconstruções históricas, entendermos como a Odontologia do Trabalho se insere como importante ferramenta e instrumento para a qualidade de vida deste “novo” trabalhador, exposto a novas patologias e a novas formas e relações de trabalho moderno. Não temos a pretensão, neste estudo, de detalharmos, passo a passo, a modernização do Brasil com interface nas respectivas conjunturas políticas, mas sim, de atentarmos para como o Brasil instalou e transformou seu parque industrial e, como neste cenário, a saúde do trabalhador necessita também avançar, e ser entendida de maneira mais ampla, do que somente a ausência de patologias. Nesse espectro, a Odontologia do Trabalho se coloca como forte ferramenta para concretização do direito constitucional ligado, principalmente, a integralidade da assistência. Abstract Key words: This paper aims to draw a parallel between the historical construction of the Unified Health System and the process of modernization and mechanization of labor, especially in Brazil, so that we can from these historical reconstructions, we understand how the dental work is part as an important tool and an instrument for quality of life of this “new” worker, exposed to new diseases and new forms and relations of modern work. We do not claim this study, a detailed, step by step, the modernization of Brazil in their interface with political circumstances, but to attend to such as Brazil and has installed its industrial park and, as in this scenario, the worker’s health also need to advance, and be understood more broadly than just the absence of pathology. In the spectrum of dental work stands as a strong tool for implementing the constitutional right on, especially the comprehensive care. SUS 1. Introdução A saúde no Brasil é ,antes de tudo, um desafio. Vários modelos de atenção/ atendimento à saúde foram experimentados, com distintos resultados, pois, muitos fatores estão diretamente ligados a essa simples Occupational Dentistry palavra, saúde. Além da simplista avaliação de que saúde é tratar doentes e doenças, podemos dizer também que saúde é dar às pessoas, trabalhadores ou não, qualidade de vida. Algumas perguntas surgem quando pensamos no atendimento à saúde, como: quem são essas pessoas que atendem aos doentes? Qual a Odontólogo, Especialista em Saúde da Família pelo UniFOA/RJ e Mestrando em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá/RJ. ² Médico, Especialista em Saúde da Família pelo UniFOA/RJ ³ Médico, Hematologista e Mestrando em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá/RJ. 1 completeness edição nº 12, abril/2010 Odontologia do Trabalho Cadernos UniFOA Integralidade edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 56 formação desse profissional? Quais patologias atingem mais a população? O trabalho das pessoas tem relação com a qualidade de vida? O mesmo trabalho tem reação com a doença dessa pessoa? Como isso pode ser prontamente diagnosticado e tratado? Há como avaliar se uma prática cotidiana é insalubre? Por trás da questão- saúde - há indústrias inteiras, de medicamentos, planos de saúde e hospitais; por exemplo, que movimentam montanhas de dinheiros. Tratar do tema saúde é antes de tudo tratar de interesses, que podem ser legítimos ou não. A construção dos sistemas de saúde nos países, de um modo geral, ocorre de modo muito diferente, variando no mundo todo. Alguns países, como Brasil e Espanha, criaram sistemas que dão atendimento integral e universalista a sua população; outros, como a Alemanha, mantém há mais de um século um sistema de saúde muito parecido com os IAPs, (Instituto de Aposentadorias e Pensões) da era Vargas, onde os trabalhadores se organizam e são atendidos de acordo com seu ramo de trabalho e respectiva contribuição (Giovanella, 1998); outros ainda, como os Estados Unidos, não têm sistema público algum e as pessoas têm que pagar seus planos de saúde para poderem ter algum tipo de atendimento médico-hospitalar (Rodrigues, 2009). Tanto em países como Alemanha e Estados Unidos, quem está fora da cobertura privada de saúde fica exposto a uma série de dificuldades, sendo muita das vezes acolhida por políticas de assistência social (Giovanella, 1998). Para este estudo, é fundamental entender como ocorreu a transformação de um país com uma população - há menos de 100 anos predominantemente rural, com sua economia alicerçada na agriculturaque migra para as cidades e passa a ter um majoritário componente urbano e citadino, pois, essa mudança de rumo/trabalho/ economia traz implicações nas novas formas de promover saúde e qualidade de vida. Frente aos desafios desse novo Brasil industrial e citadino, a Odontologia do Trabalho tem papel relevante para a promoção e atenção à saúde. 2. Proposição O objetivo deste trabalho foi estudar a evolução das políticas públicas em saúde no Brasil e a construção de um sistema público universalista, em que , frente aos novos desafios do trabalho e do papel estatal, o conceito da integralidade da atenção e da continuidade do cuidado tenha na Odontologia do Trabalho um importante instrumento e ferramenta para que esse preceito constitucional possa ser atendido. 3. Revisão de Literatura O SUS é um sistema público, organizado e orientado no sentido do interesse coletivo, e, todas as pessoas, independente de raça, crenças, cor, situação de emprego, classe social, local de moradia, a ele têm direito (Lei nº8080, de 19 de setembro de 1990). Antes do advento do Sistema Único de Saúde (SUS), a atuação do Ministério da Saúde se resumia às atividades de promoção de saúde e prevenção de doenças (por exemplo, campanhas de vacinação), realizadas em caráter universal; e à assistência médico-hospitalar para poucas doenças; servia aos indigentes, ou seja, a quem não tinha acesso ao atendimento pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Levcovitz et al., 2001). O INAMPS foi criado pelo regime militar em 1974 pelo desmembramento do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que hoje é o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS); era uma autarquia filiada ao Ministério da Previdência e Assistência Social (hoje Ministério da Previdência Social) e tinha a finalidade de prestar atendimento médico aos que contribuíam com a previdência social, ou seja, aos empregados de carteira assinada. O INAMPS dispunha de estabelecimentos próprios, mas, a maior parte do atendimento era realizado pela iniciativa privada; os convênios estabeleciam a remuneração por procedimento (Levcovitz, 1997). O movimento da Reforma Sanitária nasceu no meio acadêmico, no início da década de 70, como forma de oposição técnica e política ao regime militar, sendo pela saúde: 1978: I Encontro Sobre as Condições de saúde em São Paulo 1979: I Encontro de Experiências de Medicina Comunitária (ENEMEC) 1980: manifestação dos moradores da Baixada Fluninense no Palácio da Guanabara por melhores condições de saúde e saneamento; I Encontro Popular de Saúdedo Estado do Rio de Janeiro 1980-1986: 3 ENEMECs e mais 3 Encontros Nacionais do Movimento Popular em Saúde (MOPS) 1984: Comitê Político de Saneamento da Baixada Fluminense; nova passeata vai da Central do Brasil até o Palácio da Guanabara exigindo melhores condições de saúde e saneamento para a área 1986-1987:Fórum Popular pela Saúde (Guerschman, 1995) Em meados da década de 70, ocorreu uma crise do financiamento da previdência social, com repercussões no INAMPS. Em 1979, o general João Baptista Figueiredo assumiu a presidência com a promessa de abertura política e, de fato, a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados promoveu, no período de 9 a 11 de outubro de 1979, o I Simpósio sobre Política Nacional de Saúde, que contou com participação de muitos dos integrantes do movimento e chegou a conclusões altamente favoráveis ao mesmo; ao longo da década de 80,o INAMPS passaria por sucessivas mudanças com universalização progressiva 57 edição nº 12, abril/2010 Movimentos populares (Rodrigues, 2009) do atendimento, já numa transição com o SUS (Levcovitz, 1997; Guerschman, 1995). A 8ª Conferência Nacional de Saúde foi um marco na história do SUS por vários motivos: foi aberta em 17 de março de 1986 por José Sarney, o primeiro presidente civil após a ditadura, e foi a primeira CNS a ser aberta à sociedade; além disso, foi importante na propagação do movimento da Reforma Sanitária. A 8ª CNS resultou na implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um convênio entre o INAMPS e os governos estaduais, mas, o mais importante foi ter formado as bases para a seção “Da Saúde” da Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988. A Constituição de 1988 foi um marco na história da saúde pública brasileira, ao definir a saúde como “direito de todos e dever do Estado” (Levcovitz, 1997; Santos, 203). A implantação do SUS foi realizada de forma gradual: primeiro veio o SUDS; depois, a incorporação do INAMPS ao Ministério da Saúde (Decreto nº 99.060, de 7 de março de 1990); e por fim a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990) fundou o SUS. Em poucos meses, foi lançada a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que imprimiu ao SUS uma de suas principais características: o controle social, ou seja, a participação dos usuários (população) na gestão do serviço. O INAMPS só foi extinto em 27 de julho de 1993 pela Lei nº 8.689. A industrialização brasileira certamente é a história de uma industrialização sui generis, pois nos modernizamos sem reformarmos em três pilares fundamentais do Brasil escravocrata: a reforma fundiária, a reforma tributária e a reforma social (Pochmann, 2008). O Brasil, desde seu descobrimento, se destacou como país exportador de matérias-primas, sempre agrícolas, em um modelo conhecido por plantation, em que são plantados grandes quantidades de monocultura, cana-de-açúcar no Nordeste e café no Sudeste, com viés puramente exportador. A mão de obra nos primeiros 400 anos do Brasil foi à mão de obra escrava. O Brasil vai somente a pouco mais de 100 anos experimentando o trabalho assalariado, onde empregado e empregador têm direitos e deveres mútuos. O trabalho escravo foi a mola propulsora da economia brasileira durante 4/5 de nossa história (Freyre, 2004). A Cadernos UniFOA abraçado por outros setores da sociedade e pelo partido de oposição da época — o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Somente com a intensificação da transição democrática foram criadas condições sociais e políticas que permitiram o desenvolvimento da proposta da Reforma Sanitária. O movimento sanitário resultou da mobilização e da uniformização gradual de diversos movimentos de setores distintos da sociedade. Ele resultou da mobilização do movimento de moradores das grandes cidades, estudantes, médicos, professores universitários e fúncionários do INAMPS. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 58 industrialização começa, de forma incipiente, com São Paulo, destinos de milhares de famílias de italianos, principalmente, sendo o embrião do Brasil moderno. Concomitante ao fim da escravidão em 1888, à mão de obra assalariada e o desembarque dos imigrantes europeus, muitos cafeicultores passaram a investir parte dos lucros, obtidos com a exportação do café, no estabelecimento de indústrias. Eram fábricas de tecidos, calçados e outros produtos de fabricação mais simples (Freyre, 2004). Foi durante o Governo de Getúlio Vargas, de 1930 a 1945, conhecido como Estado Novo, que a industrialização no Brasil deu um salto (Rodrigues, 2009). Vargas tomou a decisão política de começar a industrialização no Brasil com dois objetivos claros: privilegiar o empresariado nacional e tornar o Brasil menos dependente dos produtos manufaturados estrangeiros, criando aqui, além de um forte mercado consumidor, um mercado também produtor. Porém, esse desenvolvimento continuou restrito aos grandes centros urbanos da região sudeste, provocando uma grande disparidade regional. Durante o governo de Juscelino Kubitschek, JK, (1956-1960) o desenvolvimento industrial brasileiro ganhou novos rumos e feições. JK abriu a economia para o capital internacional, atraindo indústrias multinacionais. Foi durante esse período que ocorreu a instalação de montadoras de veículos internacionais (Ford, General Motors, Volkswagen e Willys) em território brasileiro. A relação entre o trabalho e a saúde/ doença - constatada desde a Antiguidade e exacerbada a partir da Revolução Industrial - nem sempre se constituiu em foco de atenção. Afinal, no trabalho escravo ou no regime servil, inexistia a preocupação em preservar a saúde dos que eram submetidos ao trabalho, interpretado como castigo ou estigma: o “tripalium”, instrumento de tortura. O trabalhador, o escravo ou o servo eram peças de engrenagens “naturais”, pertences da terra, assemelhados a animais e ferramentas, sem história, sem progresso, sem perspectivas, sem esperança terrestre, até que, consumidos seus corpos, pudessem voar livres pelos ares ou pelos céus da metafísica (Nosela, 1989). Com o advento da Revolução Industrial, o trabalhador “livre” para vender sua força de trabalho tornou-se presa da máquina, de seus ritmos, dos ditames da produção que atendiam à necessidade de acumulação rápida de capital e de máximo aproveitamento dos equipamentos, antes de se tornarem obsoletos. As jornadas extenuantes, em ambientes extremamente desfavoráveis à saúde, às quais se submetiam também mulheres e crianças, eram frequentemente incompatíveis com a vida. A aglomeração humana em espaços inadequados propiciava a acelerada proliferação de doenças infectocontagiosas, ao mesmo tempo em que a periculosidade das máquinas era responsável por mutilações e mortes. A presença de um médico no interior das unidades fabris representava, ao mesmo tempo, um esforço em detectar os processos danosos à saúde e uma espécie de braço do empresário para recuperação do trabalhador, visando ao seu retorno à linha de produção, num momento em que a força de trabalho era fundamental à industrialização emergente. Através dos tempos, a atuação do Estado no espaço do trabalho sustentou-se nas concepções dominantes sobre a causalidade das doenças. Essas concepções decorrem tanto da bagagem cumulativa de conhecimentos como do seu caráter de práticas sociais, cujos marcos conceituais definem-se, no bojo de relações peculiares, nos diferentes contextos históricos, onde surgem ou se mantêm. Assim, a Medicina do Trabalho, centrada na figura do médico, orienta-se pela teoria da unicausalidade, ou seja, para cada doença, um agente etiológico. Transplantada para o âmbito do trabalho, vai refletir-se na propensão a isolar riscos específicos e, dessa forma, atuar sobre suas consequências, medicalizando em função de sintomas e sinais ou, quando muito, associando-os a uma doença legalmente reconhecida. A rotatividade da mão de obra, sobretudo quando se intensifica a terceirização, representa um obstáculo a mais nesse sentido. A passagem por processos produtivos diversos pode mascarar nexos causais e diluir a possibilidade de estabelecê-los, excetuando-se os mais evidentes e, considerada a hipótese remota de exames admissionais, que levem em conta a busca de soluções quase sempre se confronta com interesses econômicos arraigados e imediatistas, que não contemplam os investimentos indispensáveis à garantia da dignidade e da vida no trabalho. 59 4. Discussão edição nº 12, abril/2010 No Brasil, essa situação e relação entre influências das políticas públicas (incluídas as políticas voltadas para o trabalhador) e as mudanças das relações de trabalho se agrava pela incapacidade do setor saúde do Estado em reabsorver seu papel de intervir no espaço do trabalho. Essa tarefa, prevista na Reforma Carlos Chagas, de 1920 - interrompida com a criação, em 1930, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que passou a assumila - foi resgatada na Carta Constitucional de 1988 e regulamentada pela Lei 8080. No entanto, as marcas de um passado recente não são facilmente removíveis. Em meados de 1910, por exemplo, somente em grandes cidades, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, um nascente movimento operário, formado basicamente por imigrantes, começou a questionar a situação vigente das relações de trabalho e exigir direitos, como o de cidadania e melhores condições de saúde (Oliveira e Teixeira, 1986). A principal manifestação operária do período foi uma greve geral a cidade de São Paulo em 1917 (Oliveira e Teixeira, 1986) As Delegacias Regionais do Trabalho advogam, em vários estados, a exclusividade de sua competência para inspecionar os centros produtivos. Essa posição, de um modo geral, encontra eco nos segmentos mais conservadores do patronato, na medida em que tais inspeções, orientadas por um modelo tradicional, pontuais e técnico-burocratas, incapazes de alimentar um sistema de vigilância em saúde do trabalhador, servem aos seus propósitos ao não promoverem mudanças significativas. Da mesma forma, os Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), instituídos em 1978, com algumas exceções, desviam-se da função de reconhecer, avaliar e controlar as causas de acidentes e doenças. Seus profissionais - assalariados Cadernos UniFOA história laboral pregressa, numa perspectiva ainda mais remota de alimentar um processo de vigilância em saúde do trabalhador. A constatação de doenças na seleção da força de trabalho funciona, na prática, como um recurso para impedir o recrutamento de indivíduos cuja saúde já esteja comprometida. A Saúde Ocupacional avança numa proposta interdisciplinar, com base na Higiene Industrial, relacionando ambiente de trabalho; corpo do trabalhador. Incorpora a teoria da multicausalidade, na qual um conjunto de fatores de risco é considerado na produção da doença, avaliada através da clínica médica e de indicadores ambientais e biológicos de exposição e efeito. Os fundamentos teóricos de Leavell & Clark (1976), a partir do modelo da História Natural da Doença, entendem-na, em indivíduos ou grupos, como derivada da interação constante entre o agente, o hospedeiro e o ambiente, significando um aprimoramento da multicausalidade simples. Mesmo assim, se os agentes/riscos são assumidos como peculiaridades “naturalizadas” de objetos e meios de trabalho, descontextualizados das razões que se situam em sua origem, repetem-se, na prática, as limitações da Medicina do Trabalho. As medidas que deveriam assegurar a saúde do trabalhador, em seu sentido mais amplo, acabam por restringir-se a intervenções pontuais sobre os riscos mais evidentes. Enfatiza-se a utilização de equipamentos de proteção individual, em detrimento dos que poderiam significar a proteção coletiva; normatizamse formas de trabalhar consideradas seguras. Assumida essa perspectiva, são imputados aos trabalhadores os ônus por acidentes e doenças, concebidos como decorrentes da ignorância e da negligência, caracterizando uma dupla penalização (Machado et al., 1995). Em síntese, apesar dos avanços significativos no campo conceitual, que apontam um novo enfoque para lidar com a relação trabalho-saúde, consubstanciados sob a denominação de Saúde do Trabalhador, depara-se, no cotidiano, com a hegemonia da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional. Tal fato coloca em questão a já identificada distância entre a produção do conhecimento e sua aplicação, sobretudo num campo potencialmente ameaçador, onde a edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 60 pela empresa e sem respaldo legal para contrariarem-lhe os interesses - restringemse à adoção de medidas paliativas diante dos riscos mais patentes. A deficiência na formação de recursos humanos na área, consequência da marginalidade ainda atribuída à questão trabalho-saúde, aliada à generalizada insatisfação profissional, reproduz na rede pública a prática ineficaz dos SESMT, presente também em serviços conveniados com as empresas e com o próprio sistema público de saúde. Essa desintegração, expressa em ações fragmentadas, desarticuladas e superpostas de instituições com responsabilidade direta ou indireta na área - agravada por conflitos de concepções e práticas, bem como de interpretação sobre competências jurídicoinstitucionais - revela a trajetória caótica do Estado em sua função de promover a saúde do cidadão que trabalha. Apenas o esforço isolado de profissionais que se articulam em programas de saúde do trabalhador, centros de referência e atividades de vigilância realmente efetivas, abre um rastro de luz nesse universo sombrio. Mas sua atuação é marcada, repetidamente, pela descontinuidade, quer por pressões externas dos que se sentem ameaçados em seu poder de tratar vidas humanas desgastadas pelo trabalho como rejeitos do processo produtivo, quer pela sucessão de novas administrações que não priorizam esses investimentos. Por outro lado, a essa forma inconsequente de lidar com a saúde e a vida, une-se a resistência dos indivíduos em aceitar a condição de doentes. O medo de perder o emprego garantia imediata de sobrevivência - aliado aos mais variados constrangimentos que marcam a trajetória do trabalhador doente, “afastado” do trabalho, mascara, em muitos casos, a percepção dos indícios de comprometimento da saúde ou desloca-os para outras esferas da vida, inibindo ou protelando, frequentemente, ações mais incisivas de reivindicação às instâncias responsáveis pela garantia da saúde no trabalho. No entanto, a evidência dos efeitos do trabalho em condições adversas é de tal ordem que extrapola os limites do conhecimento legitimado como científico e ganha espaço no âmbito do senso comum. É uma relação dada e inquestionável. Faz parte da vivência de trabalhadores, vítimas de doenças e acidentes, mesmo quando não obtêm êxito em comprovar sua origem na atividade exercida. Mesmo assim, não restam dúvidas de que a inserção diferenciada dos indivíduos nos processos produtivos quer no meio urbano, quer no rural, definem padrões também diversificados de morbi-mortalidade, para os quais contribuem outros fatores decorrentes das condições de vida a que estão submetidos. Dessa forma, no mundo do trabalho revela a imensa gama de diferenças presentes na sociedade, onde tendem a reproduzir-se, inclusive, em seus antagonismos. Nas duas últimas décadas, uma sucessão de eventos como a construção do Sistema Único de Saúde e as transformações sócioeconômicas vêm exercendo sobre as atuais concepções, a organização da assistência, a formação e a prática profissional em saúde. A partir de meados da década de 90 o Estado brasileiro tem mudado seu perfil de atuação, de um Estado onipresente e prestador de serviços para um modelo mais enxuto e fiscalizador, de órgãos e entidades públicas ou não, conveniadas ou não. Para ser mais específico, a partir do ano 2000, pela lei nº 9.961/2000, foi criado a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) com a atividade fim de organizar e regular o mercado de saúde privada no Brasil. A ANS é composta de várias diretorias com autonomia administrativa. É assinado um Contrato de Gestão com o Ministério da Saúde, em que os diretores têm mandatos a cumprir e metas a atingir, dentro dos respectivos mandatos. Os mais variados ramos da economia também experimentam este modelo. Os planos ou seguros de saúde privados, sob a lei nº 9.656, ficam obrigados a atender integralmente os serviços médicos-hospitalares de patologias classificadas pela CID-10 (Classificação Internacional de Doenças), nos chamados “planos de referência”, excetuando-se os serviços odontológicos. Por outra vertente, na política de recursos humanos em saúde, o debate envolve a preparação e a qualificação dos trabalhadores para a saúde coletiva e do trabalhador, vislumbrando a consolidação de políticas de saúde tendo como objeto o trabalho/ Os processos de reforma em saúde que têm proposto a descentralização, integralidade da atenção, entre outros preceitos, especialmente a partir da reforma sanitária brasileira, têm oscilado entre avanços e recuos contraditórios que traduzem as ambiguidades e conflitos que têm marcado as mudanças das funções do Estado, das políticas públicas de saúde e, concomitante a isso, a flexibilização/ precarização das relações de trabalho. Os estados vêm perdendo a capacidade de formular e implementar políticas nacionais de desenvolvimento (políticas industriais, de energia, de transportes, sociais etc.) que atenda à equidade social. As ações estatais cada vez mais se concentram em políticas monetárias e cambiais com metas fixadas em negociações com agentes financeiros internacionais sob pressão de “necessidades técnicas impostas pela globalização”. As políticas reformistas de saúde devem considerar as reformas no contexto das relações de trabalho que se estabelecem, naqueles países que historicamente adotaram essa modalidade de organização políticosocial do país, no sentido de estabelecer o adequado balanço de poder entre os governos centrais, estaduais e locais, redistribuindo competências na área da saúde levando em conta a diversidade do país, complexidade e os cenários de mudanças. Deve considerar, portanto, a diversidade dos determinantes do nível de saúde em termos geográficos, econômicos, sociais, culturais e demográficos, 61 edição nº 12, abril/2010 5. Conclusão além das necessidades e do estado presente da oferta, acessibilidade e qualidade desejáveis dos serviços de saúde, ou então como mero reguladoras das políticas de saúde. Por complexidade, entende-se a intensificação das mudanças tecnológicas em saúde, induzindo crescentes pressões para sua incorporação em segmentos privilegiados da população, coexistindo com fatores que reproduzem agravos, que fazem persistir o quadro de desigualdades em saúde. Os cenários de mudanças devem considerar a emergência de condições epidêmicas como as mortes por violências (homicídios, principalmente), patologias associadas à flexibilização/ precarização das relações de trabalho, doenças crônico-degenerativas (neoplasias malignas e doenças cardiovasculares) e HIV/ AIDS. Tais condições estão se agravando nas condições de vida deterioradas das populações pobres e social e etnicamente discriminadas, como resultado das políticas de ajuste, do desmantelamento do EstadoNação e do predomínio dos mercados sobre a cidadania/trabalho. Nessa perspectiva, a SESMT, incluindo a Odontologia do Trabalho, se coloca como importante ferramenta frente aos desafios do “novo” papel do Estado, das relações de trabalho e do processo saúde-doença que, por conta disso, se estabelece. Para promover mudanças, os profissionais envolvidos com a Odontologia do Trabalho precisam construir uma agenda que leve em consideração eventos relevantes nessa área, neste início de século. O estágio da construção do Sistema Único de Saúde (SUS) baliza a possibilidade de realizar as ações que permitam atender às necessidades de todas as pessoas (princípio da universalidade), viabilizando seu acesso a todos os recursos odontológicos e de saúde geral de que necessitem (princípio da integralidade), e ofertando mais aos que mais necessitam (princípio da equidade). O SUS é, reconhecidamente, uma importante conquista social dos brasileiros, que se mostrou capaz de resistir à avalanche neoliberal que, nas últimas décadas, destruiu a maioria dos sistemas públicos de saúde na América Latina. Mas, reconhecer isso não significa desconsiderar os enormes problemas enfrentados pelo setor de saúde ; seja em decorrência das péssimas Cadernos UniFOA trabalhador, a Estratégia de Saúde da Família (ESF), o Sistema Único de Saúde (SUS) e a garantia dos seus princípios fundamentais (Marsiglia, 2004). O esforço de modificar a perspectiva tradicional do cuidado em saúde encontrou suporte nas mudanças ocorridas na saúde como um todo. Uma trajetória de inovações vem afetando os currículos e projetos políticos de ensino, em busca da formação de profissionais de saúde conhecedores dos problemas sociais e de saúde da população e capazes de intervir na reorganização do setor saúde (Faustino et al., 2003) 62 condições de vida da maioria (com grande impacto sobre os níveis de saúde), seja em consequência das dificuldades orçamentárias e gerenciais que marcam a administração pública, ou seja, ainda, pelos novos desafios que o mundo do trabalho moderno atinge aos trabalhadores. 9 - MARSIGLIA RMG. Instituições de ensino e o Programa Saúde da Família: o que mudou?. Rev Bras Saúde Família. 5(7). 30-412004. 6. Referências 11 - OLIVEIRA JAA, TEIXEIRA SMF Previdência Social no Brasil-60 anos de História da Previdência no Brasil. Petrópolis:Vozes;1986 1 - Bahia L. 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Responsibility of the Surgeon Dentist Accord to the Code of Defense of the Consumer. Artigo Original Palavras-chave: Resumo Original Paper Responsabilidade Esta revisão bibliográfica tem como objetivo central o esclarecimento do tópico ‘responsabilidade civil`de um profissional liberal, aqui especificamente o cirurgião-dentista (CD), das sanções a que ele está sujeito no exercício de sua profissão perante à legislação atual; havendo breves comentários também do código de defesa do consumiodor. Este código coloca o CD como aquele que deve provar que se utilizou de todo o conhecimento e técnica para a execução de seu trabalho. A Responsabilidade Civil leva à obrigação de reparação do dano. As conseqüências advindas daí serão posteriormentes analisadas à luz da justiça com o objetivo de gradação da penalidade a ser imposta. Na esfera odontológica, o Código de ética Odontológica também obriga o CD à reparação dos atos profissionais em desacordo com os preceitos técnicos necessários a sua execução.. Quando analisada sob o aspecto legal, a Responsabilidade dos Cirurgiões- dentistas deve ser tratada observando-se uma duplicidade de enfoque. A primeira, enfatiza a obrigação que tem o cirurgião dentista em assumir a responsabilidade e aceitar as consequências oriundas de seus atos profissionais praticados; e, a segunda, do fato desta responsabilidade poder gerar ou produzir uma imposição legal derivada de ato ilícito, a qual consiste em satisfazer o paciente (cliente), inclusive com uma quantia pecuniária ou uma indenização financeira fixada em procedimento judicial, a qualquer dano, prejuízo ou perda que eventualmente venha ocasionar ao paciente. O ato ilícito na área da odontologia, poderá gerar diversas consequências distintas, todas previstas no Código de Ética Odontológica. Evidentemente, além destas sanções ditadas pelo Código de Ética, o profissional também poderá sofrer punições mais severas, regulamentadas pelo Código de Defesa do Consumidor, amparadas por preceitos constitucionais, tais como artigo 5°, caput; incisos I, II, XIII, XXXII, XXXV, LIII, LV, LVI, LVII. Reparação Abstract Key words: This bibliographical revision has as central objective the explanation of the topic ‘responsibility civil` de a liberal professional, here specifically the surgeon-dentist (CD), of the sanctions the one that he is subject in the exercise of his/her profession before to the current legislation; having brief comments also of the code of defense of the consumiodor. This code puts the CD as that that should prove that it was used of the whole knowledge and technique for the execution of his/her work. The Civil Responsibility takes to the obligation of repairing of the damage. The consequences advindas then will be posteriormentes analyzed to the light of the justice with the gradation objective of the penalty to be imposed. In the sphere odontológica, the ethics Code Odontológica also forces the CD to the repairing of the professional actions in disagreement with the necessary technical precepts his/her execution.. When analyzed under the Responsibility Surgeon-dentist Repair ¹ Cirurgião-dentista e Bacharel em Direito; Mestre em Ciências; professor da disciplina de Odontologia Legal e Deontologia da Faculdade de Odontologia de Valença; e professor de Medicina Legal e Deontologia da Faculdade de Direito de Valença; professor de Clínica Integrada do UNIFOA ² Cirurgiã-dentista e acadêmica da Faculdade de Direito de Valença. edição nº 12, abril/2010 Cirurgião-dentista Cadernos UniFOA Enio Figueira Junior¹ Giselle de Oliveira Trindade2 64 legal aspect, the Responsibility of the Surgeons - dentists should be treated being observed a focus duplicity. The first, emphasizes the obligation that has the surgeon dentist in to assume the responsibility and to accept the consequences originating from of their practiced professional actions; and, Monday, of the fact of this responsibility to generate or to produce a derived legal imposition of illicit action, which consists of satisfying the patient (customer), besides with a financial amount or a financial compensation fastened in judicial procedure, the any damage, damage or loss that eventually comes to cause the patient. The illicit action in the area of the dentistry, it can generate several different consequences, all foreseen in Ética Odontológica’s Code. Evidently, besides these sanctions dictated by the Code of Ethics, the professional will also be able to suffer more severe punishments, regulated by the Code of Defense of the Consumer, aided by constitutional precepts, such as article 5°, caput; and I, II, XIII, XXXII, XXXV, LIII, LV, LVI, LVII specific points. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 1. Introdução Sobre a atividade do dentista, não ocorre uma unanimidade de opinião entre as manifestações de legisladores e juristas em ser classificada como sendo um resultado de meio ou de obrigação. Mas a grande parte de nossos juristas entende que, ao contrário dos procedimentos do campo da medicina, para maior parte dos tratamentos odontológicos, é possível prever um resultado final. Dessa forma, tais tratamentos recaem, como regra, em obrigações de resultados, tendo o dentista, além dos deveres de empregar todo zelo necessário ao exercício de seu ofício e de utilizar os recursos de sua profissão, também, a obrigação de garantir um fim esperado pelo paciente. A Ação de Responsabilidade Civil, objetiva basicamente comprovar a ocorrência de um dano, bem como a fixação, pela autoridade julgadora, de uma determinada quantia pecuniária indenizatória, com a finalidade de gerar uma reparação do dano ocasionado, seja ele material, físico ou moral. O termo “Responsabilidade civil”, em sua denominação jurídica, trata-se da obrigação em que se encontra o agente, de responder por seus atos profissionais e de sofrer suas consequências. Caio Mario(2007), entende como a efetivação da Responsabilidade abstraída do dano em relação a um sujeito passivo da relação jurídica que se forma. O termo responsabilidade é definido como: “o dever jurídico de responder pelos próprios atos e os de outrem, sempre que estes atos violem os direitos de terceiros protegidos pelas leis, assim como o de reparar os danos causados, objetivando uma indenização”. (CAVALIERI S. F, 2007, p. 23). Dessa forma, a indenização implica ressarcir a vítima dos prejuízos sofridos, buscando o seu restabelecimento e procurando reconduzi-la a uma situação idêntica ou pelo menos, a mais próxima possível, em que ela encontrava-se antes da ocorrência do dano ou da lesão. Consequentemente, o paciente será recompensado pelos gastos com medicamentos, exames complementares, eventuais tratamentos paralelos, possíveis internações hospitalares ou mesmo cirurgias reparadoras. O valor da indenização será discutido e estabelecido durante a fase de instrução do processo e, de acordo com sua complexidade, poderá a autoridade julgadora socorrer-se de trabalhos periciais, o que, justifica, pelo menos em parte, as altas importâncias indenizatórias fixadas pelos Tribunais. A Complexidade se dá ao fixar um valor de mensuração para o ressarcimento do dano moral, pois como transmite Washington de Barros: “do dano moral não há ressarcimento, já que é praticamente impossível restaurar o bem lesado, tem caráter imaterial. Resulta, na maior parte das vezes, da violação de um direito da personalidade: vida, integridade física, honra, liberdade etc.” (BARROS, W. 2003, pág. 481). A Lei pode impor uma indenização baseada em dois critérios para a fixação, que Especificamente no que se refere à responsabilidade civil, o solicitante ou credor da obrigação será sempre uma pessoa determinada, neste caso, representada pelo paciente. A vítima ou o devedor será o profissional liberal; este podendo ser tanto uma pessoa física como jurídica ( empresa ou clínica prestadora de serviços odontológicos ). Para a materialização da responsabilidade do cirurgião-dentista, existe a necessidade da ocorrência concomitante de cinco condições: A primeira requer o agente, que necessariamente deverá ser um cirurgião-dentista legalmente habilitado, não ficando, entretanto, isentos de penas, aqueles que participam de práticas ilegais. O ato profissional, que pode ser ele por ação ou omissão, é a segunda condição para que ocorra a materialização; tais atos obedecem às normas e dispositivos específicos da Legislação. Terceiro elemento: deve haver ausência de dolo, pressupõe, portanto, que o profissional não haja com má fé, engano ou traição; em outras palavras, trata-se de uma culpa profissional praticada sem a intenção de prejudicar, nas condições consagradas juridicamente nas suas três espécies da imprudência, negligência ou imperícia. A existência de dano compõe o quarto elemento, e nesse sentido, para que o profissional seja responsabilizado civilmente por uma atitude ou um procedimento que seja tipificado como ilegal, será necessário, então, que haja a ocorrência de uma consequência danosa ou um prejuízo para seu paciente. Por fim, como quinta condição, a relação, ou nexo, entre causa e efeito.; e segundo esta condição, o profissional só será autuado como responsável, se for constatada uma relação direta ou indireta entre o ato profissional e o dano produzido. O nexo causal é, portanto, a configuração de que, sem a ação ou a omissão do profissional, não haveria ocorrido o prejuízo ou o dano ao paciente. Se no passado, o dever de reparar o dano cometido recaía sobre a pessoa que o tinha praticado, sob a forma de vingança individual, com a evolução da humanidade e consequente 65 edição nº 12, abril/2010 “visa ao restabelecimento da ordem ou equilíbrio pessoal e social, por meio da reparação dos danos morais e materiais oriunda da ação lesiva a interesse alheio, único meio de cumprir-se a finalidade do direito, que é viabilizar a vida em sociedade, dentro do conhecido ditame de “neminem laedere.”. (BARROS, W. 2003, pág. 448). 2. Responsabilidade do Cirurgião-Dentista, Condutas Admissíveis ao Código de Ética Odontológica. Cadernos UniFOA são a compensação ao lesado e o desestímulo ao lesante, pretendendo dessa forma que a satisfação do dinheiro possa minimizar os sentimentos feridos, possibilitando o acesso a bens ou serviços, sejam materiais ou espirituais. Contudo, para a fixação do dano moral como quantia, os tribunais baseiam-se na quantia de cinco a cem salários mínimos. Dentre outros, também se costuma utilizar em base o máximo de 200 salários mínimos. Outros fatores, de ordem agravantes ou atenuantes, podem também, fazer com que o valor fixado seja alterado para mais ou para menos. Entre estes, destacam-se a capacidade moderadora do julgador, que analisará evidentemente todas as circunstâncias do caso como a idade e sexo da vítima, extensão da lesão e eventuais sequelas e as situações financeiras da vítima e do ofensor. Assim, por exemplo, na existência de um seguro, este fato poderá ser relevante no estabelecimento do “quantum” indenizatório. Deverá ser levado em consideração que, os danos morais, embora indenizáveis, não pode constituir-se em fonte de enriquecimento do lesado às custas do lesor. Por outro lado, não pode ser em valor insignificante, pois deve servir de reprimenda para evitar a repetição da conduta lesiva. Para que a função protetiva do Direito seja eficaz, a pessoa deve ser amparada em seus interesses materiais e morais, quando existir uma ação ou omissão lesiva a estes interesses, surge, então, a necessidade de reparação dos danos acarretados ao lesado. A fonte da Responsabilidade Civil consiste no interesse de restabelecer o equilíbrio violado pelo dano. A teoria de Responsabilidade Civil segundo Washington de Barros: edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 66 valorização da ética e da vida humana, o dever de ressarcimento do dano, prejuízo ou injúria cometida passou a recair sobre o patrimônio e bens da pessoa infratora. Pelo Código de Ética Odontológica são estabelecidas regras de condutas, moralidade e ética do profissional, que se infringidas podem gerar um ato ilícito praticado em ofensa à lei, à ética, à moral ou aos bons costumes - do qual pode resultar dano a outrem. A prática do ato ilícito gera para seu autor a obrigação de repará-lo. Um ato ilícito ocorre quando, o dentista que fracassa em um determinado tratamento aplicado a um paciente, por ausência de um diagnóstico correto e tão completo quanto necessário para o respectivo ato a ser executado. Entretanto, o ato ilícito pode ocorrer não só como consequência de uma ação lesiva ao paciente, mas também por omissão, quando o profissional que tinha o dever de praticar determinado ato e, por negligência, deixa de fazê-lo. Mesmo quando o profissional não respeita o sigilo das informações fornecidas pelo paciente, é previsto no Código de Ética Odontológica: “Art. 9º Constitui infração ética: I – revelar, sem justa causa, fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão do exercício de sua profissão”. Além de preconizar a ética e a moral, o Código de Ética Odontológica, em seus artigos 3º e 4º, preconiza que entre os deveres/ direitos fundamentais dos dentistas destacamse: comportar-se dignamente; zelar não só pela saúde, mas também pela dignidade do paciente; manter-se atualizado com os conhecimentos científicos e profissionais; diagnosticar, planejar e executar corretamente os tratamentos, não perdendo de vista a dignidade do paciente e o estado atual da ciência e resguardar o sigilo profissional. Basicamente, o Conselho Federal de Odontologia, com suas colocações claras, incita e obriga os profissionais a atuarem com atitudes e comportamentos alicerçados no tripé: diagnóstico correto, atualização de conhecimentos científicos e dignidade. Quando esses valores, somados aos fundamentos da ética e moral são praticados e vivificados de forma diminuta na atividade do cirurgião-dentista, este estará mais exposto e vulnerável a defrontar-se com situações geradoras de riscos e danos para seus pacientes. E porque não dizer, para si próprio também. Uma grande parte dos processos que atingem tanto os médicos como os dentistas, originam-se em um diagnóstico pobre, insuficiente, por vezes, precoce, sem buscar maiores informações. Em seu artigo 3º, I, o Código de Ética Odontológica constitui como direito fundamental do cirurgiãodentista “diagnosticar, planejar e executar tratamentos, observando o estado atual da ciência e sua dignidade profissional”. Estabelece o Código de Ética Odontológica: Art. 6º. Constitui infração ética: deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e alternativas do tratamento; e iniciar tratamentos em menores sem autorização de seus responsáveis ou representantes legais, exceto em casos de urgência ou emergência. Freqüentemente, por provocar desgastes profundos às imagens profissionais, além das deficiências técnicas, ou mesmo negligência, imprudência ou imperícia, as deficiências de comunicação entre o profissional e o paciente também devem ser salientadas. Sob este último aspecto, o dentista deverá estar sempre aberto a fornecer ao paciente ou seu responsável as instruções que se fizerem necessárias; os esclarecimentos referentes aos problemas ou dificuldades e ao andamento do tratamento, mantendo, dessa forma, um canal de comunicação e, consequentemente, um bom relacionamento com o próprio paciente ou sua família. Todos os profissionais deveriam estar cientes que os pacientes ou seus responsáveis têm o direito, como visto acima, de conhecer, detalhadamente, todas as informações, instruções e aconselhamentos referentes ao tratamento. Atitudes por vezes agressivas e ofensivas de um profissional prepotente, que se julgando superior ao seu paciente e não admitindo que possa vir a cometer eventualmente falhas ou erros, criam um estado de animosidade interpessoal que acaba por dificultar a comunicação, deteriorando dessa forma, o relacionamento harmônico e de amizade que deveria manifestar-se com seus pacientes. Muitas vezes, esses elementos atuam como O Código de Defesa do Consumidor surgiu, na área do direito obrigacional, para inovação, no sentido de se criar novos pensamentos, pretendendo que os fornecedores não tivessem condutas abusivas e nem os consumidores ultrapassassem os seus direitos, objetivando o equilíbrio necessário às relações entre consumidor e fornecedor. O código de defesa do consumidor é uma norma objetiva, uma lei de ordem Pública e interesse social com características de parcialidade pelos princípios de boa-fé entremeando suas regras. Dentre os profissionais englobados pelo dever de indenizar pelo Código de Defesa do Consumidor, está o cirurgião-dentista, ou seja, fornecedor, definido em seu art 3º a este cunho, sendo este um profissional liberal, que exerce uma atividade remunerada, incluído neste conceito devido a seu serviço caracterizar- 67 edição nº 12, abril/2010 2.1 Referências ao Código de Defesa do Consumidor se como relação de consumo, escolhido pelo consumidor “intuitu personae”, ou seja, a escolha se baseou em relação de confiança e competência acreditados pelo paciente, este último, destinatário final do serviço prestado, interpretado no artigo 2º do CDC, para que se caracterize como consumidor. Para a caracterização do profissional liberal, deve ser feita a diferença entre obrigação de meio e resultado. Quando sua obrigação for de resultado, sua responsabilidade pela relação de consumo é objetiva. Porém, quando se tratar obrigação de meio aplica-se o art 14 § 4º, devendo ser enfocada a teoria da culpa, sendo possível ter a inversão do ônus da prova. Conforme o art 6º inciso VIII do CDC., sobre a publicidade inadequada dos serviços odontológicos, refere-se também o Código de Defesa do Consumidor., com relação à falta de esclarecimentos necessários para que o consumidor se sinta apto a procurar pelo serviço, e a partir daí com suas dúvidas sanadas fazer a melhor opção para o tratamento. Quando o consumidor sentir-se lesado, prejudicado ou ofendido, ele tem o direito, recorrendo-se a uma legislação específica que o defende e o protege, entrar com uma ação processual contra o referido profissional. E mais, que em decorrência desse processo, caso a justiça reconheça que seus direitos foram realmente ofendidos, ele terá o privilégio de receber uma importância considerável em dinheiro. Em seu art. 6º, o Código de Defesa do Consumidor vislumbra os direitos do consumidor, garantindo a efetivação de danos morais e patrimoniais, individuais, coletivos e difusos, em seu inciso VI; no artigo 20, ao tratar da questão dos vícios de qualidade do serviço prestado, consta que o consumidor poderá pleitear a reexecução dos serviços, sem custo adicional ou, cabível também, a restituição imediata da quantia paga, sem prejuízo de eventuais perdas e danos e ou abatimento do preço. Também faz o Código de Defesa do Consumidor alusão à ocorrência de dano sofrido pelo paciente: Art. 14 – O fornecedor de serviço responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, Cadernos UniFOA verdadeiros agentes desencadeadores ou estimulantes dos processos contra os dentistas. O cirurgião-dentista, na elaboração de um diagnóstico, necessitará montar um prontuário completo do paciente, com os exames complementares necessários, exame físico geral e local, além de uma avaliação anamnésica completa e bem elaborada. A somatória e o estudo destes elementos desembocam em um diagnóstico completo que, por sua vez, possibilitará ao cirurgião-dentista elaborar o plano de tratamento e prognóstico adequados. Um prontuário deficiente e incompleto e a falta de autorização e consentimento do paciente ou seu responsável, atestando por escrito e assinando tal documento, podem causar grandes danos. Esses procedimentos bem efetuados estarão esclarecendo os envolvidos na questão sobre a ciência e acordo a respeito de determinado ato profissional, assim..... para que então desta forma se esclareça que os mesmos estão cientes e de acordo com a efetivação de determinado ato profissional, assim como do respectivo orçamento e forma de pagamento. Portanto, além de diligente no exercício profissional, o dentista deve registrar, por escrito, todos seus atos, advertências dadas ao paciente e colher sua assinatura. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 68 bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 3º I- tendo prestado o serviço, o defeito inexistente; II- quando a culpa é exclusivamente do consumidor. § 4º: A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Entretanto, vale a pena frisar que o cirurgião-dentista não será responsabilizado se o dano causado se der em razão de erro escusável, por culpa exclusiva da vítima, por caso fortuito ou por motivo de força maior. Há que se provar a culpa do profissional liberal e Assim uma prova técnica processualmente não realizada, ou sendo realizada, não comprovar a culpa do profissional, eximindo-o desta situação, configurando nos autos a inexistência de um dever para o cirurgião-dentista de indenizar o paciente por eventual dano que este, porventura, tenha sofrido em seu tratamento, então, cabe ao profissional, apresentar documentos que comprovem a ausência da sua culpa. Entre o cirurgião-dentista e o seu paciente, por ser uma relação de consumo deve existir um contrato, na figura Prontuário Odontológico. Mas, mesmo sendo uma relação de consumo, a responsabilidade deste profissional, no exercício de sua atividade, é uma responsabilidade subjetiva. O contrato é essencial porque em sede de uma relação de consumo, terá a finalidade básica de estabelecer normas e parâmetros, regulando a própria relação de prestação de serviço, que se estabelece entre o profissional liberal e seu paciente, quando do início de um tratamento. O aspecto contratual da relação do cirurgião-dentista com o paciente se finda em uma obrigação contratual para realização do serviço convencionado, que consiste no seu plano de tratamento, que poderá ser considerada cumprida, ou seja, com um resultado final, gerando assim, uma responsabilidade objetiva, pela obrigação de resultado. Mas certo é que demonstrado que os sofrimentos físicos e morais padecidos por um paciente, após o tratamento odontológico a que foi submetido decorreram de imperícia, negligência ou imprudência do profissional, ficará caracterizado o dever deste de indenizar o mal causado, eis que presente o elemento integrador da responsabilidade civil, a culpa, no seu agir fica, com a presença da culpa, patente o inadimplemento contratual do cirurgião-dentista em sua obrigação de meio para com o paciente, cujo objeto jurídico caracteriza-se pelo correto proceder no atendimento a este, ou seja, atuar com diligência, perícia e prudência, dentro dos conhecimentos atualizados da profissão odontológica indicados para aquele local e momento. Dessa forma, devem os serviços prestados, corresponder às expectativas esperadas por estes, juntamente com as geradas pelo profissional, através de sua propaganda e baseada em suas condutas técnico-científicas. Contudo, cabe ao cirurgião-dentista, consciente de sua responsabilidade e obrigação inerente à profissão, minimizar sua taxa de risco profissional, assim como evitar ações por parte de seus pacientes, munindo-se de uma série de atenções e cuidados, observando rigorosamente as regras da boa atuação profissional e praticando sistematicamente um relacionamento harmônico e de amizade com seus pacientes. 2.2 Referências à Constituição Federal A Responsabilidade Civil do Cirurgião dentista engloba embasamentos na Constituição Federal, bem como, no Código de Defesa do Consumidor e outras Legislações citadas no presente trabalho, as quais baseiam-se em Fundamentos e Princípios Constitucionais. A Constituição, em seu art. 5º, caput, vem buscando a igualdade pelo Princípio da isonomia ou da igualdade, “todos são iguais perante a lei”. Não se admite discriminação de qualquer natureza entre qualquer ser humano. Também em seu inciso I, estabelece expressamente que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, portanto, pressupõe a igualdade entre eles. O art. 5º, II, da CRFB/88, baseado no Princípio da Legalidade, dispõe que todos são livres para fazer ou não fazer alguma coisa, salvo o que a lei proíbe; apenas as leis podem limitar a liberdade individual. A liberdade de ação profissional, dá continuidade ao Princípio, no art. 5º, XIII; Os profissionais, ou seja, cirurgiõesdentistas, estão sujeitos aos riscos de responder frente aos legisladores e à sociedade, pelas obrigações e ônus a que eventualmente possam estar sujeitos, decorrentes de prejuízos ocasionados a seus pacientes, quando do exercício de sua atividade profissional. Após a sanção do Código de Defesa do Consumidor, no enfoque aos erros médicos e odontológicos, vieram orientações mais concretas e direcionadas visando ao direito que o consumidor tem de recorrer, desde então, a uma legislação específica através de uma orientação para a formação da ação processual contra o referido profissional, buscando ressarcimento do dano que, porventura, tenha sofrido.. Pois, por esse Código, é dado ao consumidor uma proteção essencial, uma garantia de efetivação da relação de consumo, a facilidade de sua defesa pela inversão do ônus da prova a seu favor, cabendo ao cirurgião dentista provar que as alegações deste não são verdadeiras. Fatos como esses, extremamente positivos, necessários e fundamentais para a estruturação de uma sociedade que se encontra em processo de desenvolvimento, tem contribuído para a formação de uma conscientização social de que os profissionais têm deveres bem definidos e a sociedade e direitos que lhe são específicos. Dessa forma, sobretudo para os profissionais da saúde, ao terem que conviver com uma atividade de risco, não sendo possível descartá-la, ignorá-la ou eliminá-la, “sobra-lhes como saída”, preveni-la, minimizá-la, enfim, criar e desenvolver uma consciência profunda de sua responsabilidade enquanto profissional liberal, procurando desenvolver e praticar em seu ofício, atitudes éticas, comportamentos morais, atualizações científicas constantes, um eficiente e organizado sistema de documentação, um relacionamento amistoso e, por vezes, até caritativo com seus pacientes, estabelecendo uma relação de inteira confiança mediante os serviços prestados para com o paciente e, finalmente, um segmento fiel e ativo às disposições presentes no seu Código de Ética, bem como atenções voltadas também ao Código de defesa do consumidor, observando a extensão jurídica ligada à relação de consumo 69 Artigo Original Original Paper edição nº 12, abril/2010 3. Conclusão Cadernos UniFOA que consiste na faculdade de escolha de trabalho que se pretende exercer e para tal exercício, a Constituição estabelece que podem ser feitas certas exigências pela legislação ordinária, sendo que para o exercício da profissão de um Cirurgião Dentista, é necessária a formação do individuo em uma Faculdade de Odontologia legalmente inscrita e reconhecida por órgãos superiores (MEC), juntamente com inscrição do CRO do profissional. É o direito de cada indivíduo exercer qualquer atividade profissional, de acordo com sua própria vontade, incluindo a tais vontades, os direitos e obrigações de cada um. Perante a Constituição art. 5º, XXXV, O estado deve buscar que todos possam gozar dos mesmos direito e Obrigações. Relacionados à questão processual, verifica-se o Princípio do Juiz Natural (inciso LIII), onde ninguém será sentenciado nem processado senão pela autoridade competente. Este princípio tem por finalidade assegurar o julgamento por um juiz independente e imparcial, porém, na área pertinente à matéria – área civil. O Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa art.5º, LV, assegura a uma das partes, ou seja, a parte contrária, o direito de ser ouvida, pois tem que haver igualdade entre as partes na relação processual. Não se pode admitir provas ilícitas no processo , a prova obtida por meios ilícitos será nula. Estabelece o texto Constitucional que “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória”, pressupõe que antes de um processo condenatório, todos os cidadãos devem ser considerados inocentes. Princípio da presunção de inocência, que veda a adoção de institutos como a presunção de culpa em determinadas situações e a inversão do ônus da prova, inciso LVII. O Ordenamento Jurídico baseia-se, então, na Constituição, relacionados a seus princípios fundamentais como regras informadoras de todo um sistema de normas, pelos direitos e garantias fundamentais que abrangem a todos os ramos do Direito. 70 profissional/paciente, para a concretização de contratos de prestação de serviço. Por fim, há de se frisar também, um correto comportamento do cirurgião-dentista em relação a seus pacientes, verificando sempre a conduta de um bom profissional, além de um excelente ser humano, obedecendo e seguindo os mandamentos ideais para uma prática odontológica perfeita e mais segura. Tendo assim, uma consequência proveitosa e satisfatória do cumprimento de um trabalho bem efetivado. Eximindo-se, então, de uma situação sem qualquer complicação que venha por ventura comprometer o trabalho de um profissional de suma seriedade e competência. STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. 4ª ed. Revista dos Tribunais. São Paulo. 1999. TOLETO, Antonio Luiz de; WINDT, Márcia Cristina Vaz dos Santos; CÉSPEDES, Livia. Código de Defesa do Consumidor, Código Civil, Constituição Federal. 5º ed. São Paulo. Saraiva, 2008. 4. Referências BARROS, Washington de. Curso de Direito Civil. Direito Das Obrigações. 2º parte. 34 ed. São Paulo. 2003. CAVALIERI, Sergio Filho. Programa de Responsabilidade Civil. 7ª ed. Atlas S.A. São Paulo 2007. FERNANDES F.; CARDOZO H. F. Responsabilidade do Cirurgião Dentista: o pós-tratamento ortodôntico. ABO Nacional. Vol XII, nº 5, out/nov. 2004. pp. 298 – 305. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 2ª ed, volume IV. Saraiva. São Paulo. 2007. PEREIRA, Caio Mario da Silva. Responsabilidade Civil. 9 ed. Rio de Janeiro. Forense, 1998. Código de Ética Odontológica. 2007. SILVA A. A.; MALACARNE G. B. Responsabilidade Civil do Dentista perante ao Código de Defesa do Consumidor. Jornal Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial. Ano 4, nº 22, 1999. pp. 305 –310. Endereço para Correspondência: Enio Figueira Junior efi[email protected] SILVA M da. Compêndio de Odontologia Legal. 1ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A., 1997 Rua Luiz Pereira Graça, 165 – Esplanada do Cruzeiro – Valença- RJ Tel.: (24) 2453-1718 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Junior, Enio Figueira; Trindade, Giselle de Oliveira. Responsabilidade do Cirurgião Dentista Frente ao Código de Defesa do Consumidor. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano V, n. 12, abril 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/63.pdf> 71 Modernidade e pós-modernidade: promessas, dilemas e desafios à condição humana Modernity and post-modernity: promisses, dilemas and challeng to human condition Karin Alves do Amaral Escobar Artigo Original Original Paper Palavras-chave: Resumo Modernidade Pretende-se, no presente trabalho, abordar as características da Modernidade e da Pós-modernidade, realizando-se uma reflexão acerca das consequências da modernidade à existência do homem e problematizando a discussão de como as promessas da modernidade e o processo de globalização têm interferido no posicionamento do homem no contexto da sociedade pósmoderna. Para esse propósito, parte-se da discussão do que veio a se constituir o período denominado modernidade, que tem como marco inicial o advento da revolução francesa (séc. XVIII). Os avanços tecnológicos do século XVIII fizeram surgir um novo mito, a ideia de progresso a partir do pensamento iluminista. Em meados do século XVIII, o capitalismo foi se consolidando em diversos países, esse processo de transformação, do qual está vinculado a Revolução industrial, atinge amplos setores da economia. Paralelamente, a expansão e a consolidação do capitalismo trouxeram, também, novas formas de exploração do trabalho humano, gerando conflitos entre a burguesia e os trabalhadores. Os complexos caminhos da sociedade contemporânea nos colocaram diante de questões como as desigualdades sociais, entendendo que a pós-modernidade deve ser a insistência num questionamento crítico da sociedade moderna, das suas desigualdades sociais e das formas de participação no debate político. Abstract Key words: It is intended in the present work to approach the characteristics of Modernity and post-modernity carrying through a reflection concerning the consequences of modernity to the existence of the man. Questioning the quarrel of as the promises of modernity and the process of globalization it has intervened with the positioning of the man in the context of the aftermodern society. Part of the discussion about the constitution of the period known as Modernity, which starts with French revolution (18th century). The technological advances of 18th century have created a new myth, progress from the Enlightenment ideas. From middle 18th century, capitalism was consolidated in many countries. This process of transformation, which is linked to the Industrial Revolution, affects many sectors of the economy. At the same time, capitalism’s expansion and consolidation brought new ways of human labor’s exploitation, creating conflicts between bourgeoisie and workers. The complex paths of contemporary society put us in front of questions like social differences, understanding that Post-Modernity must be insistent on a critical questioning of modern society, of its social differences and ways of participating on political debate. Modernity 1 Post-modernity Consequences human beings Professora do Curso de Serviço Social do Unifoa Mestranda em Política Social pela Escola de Serviço Social UFF edição nº 12, abril/2010 Consequências humanas Cadernos UniFOA Pós-modernidade edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 72 1. Revolução Francesa e Iluminismo: marcos da era moderna A modernidade tem início com o advento da revolução francesa (séc. XVIII) que vem marcar mudanças de ordem política econômica, social e cultural, pondo fim ao Antigo Regime¹. A Revolução Francesa pode ser caracterizada como a tomada do poder pela burguesia, classe social emergente que fornecia os recursos humanos e financeiros para a sustentação dos Estados, mas, contudo, não haviam ainda conquistado poder político e igualdade jurídica. Os Estados europeus ocidentais sobreviviam graças às atividades realizadas pelos burgueses e trabalhadores, mas, por outro lado, os maiores benefícios políticos, econômicos e jurídicos estavam nas mãos da nobreza e do clero. Foi nesse contexto que alguns pensadores formularam um conjunto de teorias políticas como iluminismo. Esses pensadores, na grande maioria, eram de origem burguesa e defendiam a crença na razão como promotora de progresso e da felicidade, a rejeição ao governo absolutista e aos privilégios da nobreza e do clero, e também a crítica à interferência da igreja nas questões de Estado. Os iluministas eram favoráveis ao governo constitucional (regido por leis), o qual protegeria os cidadãos contra os abusos do poder, independentemente da forma de governo, monárquico ou república. Embora se preocupassem com a questão da liberdade, a maior parte deles não defendia uma ampliação de participação popular no poder, por dúvida da capacidade de administração política das pessoas mais pobres. Baseado nessas ideias traduzidas na Revolução Francesa com o seu lema “Liberdade”, igualdade e “fraternidade” a burguesia chega ao poder. A ascensão social da burguesia e sua tomada de consciência como classe social foi acompanhada pela expansão capitalista do século XVII e XVIII. Paralelamente, o racionalismo imperava na Europa, transmitindo a confiança de que a razão era o principal instrumento do homem para enfrentar os desafios da vida e equacionar os problemas que os rodeavam. (COTRIM2, 2006). Os avanços tecnológicos do século XVIII fizeram surgir um novo mito, a ideia de progresso. Disseminou-se ,desse modo, a crença de que a razão, a ciência e a tecnologia tinham condição de impulsionar o desenvolvimento numa marcha contínua em direção verdade e ao progresso humano. Nesse sentido, o escritor Jostim Garder apresenta a justificativa para o nome do movimento “iluminista”. “[...] A maioria dos filósofos do iluminismo tinha uma crença inabalável na razão humana [...] Assim, os filósofos iluministas consideravam sua tarefa criar um alicerce para a moral, a ética e a religião que estivesse em sintonia com a razão imutável do homem. [...] Dizia-se, então, que era chegado o momento de ‘iluminar’ as amplas camadas da população. [...] Os filósofos iluministas diziam que somente quando a razão e o conhecimento se tivessem difundido entre todos é que a humanidade faria grandes progressos. Era apenas uma questão de tempo para que desaparecessem a irracionalidade e a ignorância e surgisse uma humanidade iluminada, esclarecida. [...] Os filósofos iluministas franceses não se contentaram apenas com as concepções teóricas sobre o lugar do homem na sociedade. Eles lutaram ativamente por aquilo que chamaram de ‘direitos naturais’ dos cidadãos [...] No que diz respeito à religião, a moral, e à política, o indivíduo precisava ter assegurado o seu direito à liberdade de pensamento e de expressão de seus pontos de vista. Além disso, lutou-se contra a escravidão e por um tratamento mais humano dos infratores das leis”. (GARDER, Jostein 1998: 338-340 apud BRAICK e MOTA3, 2006) Todas essas ideías se originam em um período denominado moderno, o qual tem como início uma série de transformações nas ¹Período histórico que teve como característica o Absolutismo Monárquico, a força da Igreja Católica que legitimava o poder político do Rei como sendo um poder divino. 73 edição nº 12, abril/2010 dominaram a idade moderna e parte do século XIX foi, em muitos sentidos, minguando ao longo do período contemporâneo. Novas reflexões lançaram desconfiança em relação aos diversos frutos, tantas vezes inesperados da ciência e da tecnologia. Os complexos caminhos da sociedade contemporânea nos colocaram diante de grandes questões como as desigualdades sociais e os rumos do desenvolvimento tecnológico-científico, entre outros. Todo esse progresso garantiu bem estar à população? Quais as relações do processo civilizatório e a felicidade humana? O desenvolvimento tecnológico trouxe expressivos indicadores de ganhos para a qualidade da vida do homem, derivados do progresso científico e do aumento da produtividade. Mas, quais os efeitos de todos esses avanços e conquistas no tocante à felicidade? Ou seja, da nossa satisfação em viver um grau de realização que esperamos e tentamos alcançar? Até que ponto a civilização moderna “alcança” a todas as camadas da sociedade com seus avanços tecnológicos? Até que ponto a civilização moderna tem facilitado ou dificultado a busca da felicidade? A promessa de felicidade dizia respeito à expansão das oportunidades e principalmente da capacidade das pessoas em geral de viverem a altura do seu melhor potencial, escolhendo seu próprio destino. O que deu errado no projeto iluminista foi dar ênfase desmesurada à transformação e a conquista do mundo objetivo em detrimento de uma atenção maior à questão dos desejos e ao lado contemplativo da realização humana. (GIANNETTI4 , 2002). O domínio da natureza pelo homem era uma peça fundamental no projeto iluminista, mas ele viria acompanhado de duas outras conquistas paralelas. A primeira se refere a crescente capacidade de aperfeiçoar a natureza humana por meio da educação e de um ambiente próprio para o seu pleno desenvolvimento. Em segundo lugar, seria a crescente capacidade dos governos em fomentar o bem estar da maioria por meio de políticas e de uma legislação racional. (GIANNETTI4, 2002). Entretanto, fazendo uma análise crítica às abordagens trabalhadas pelo autor, podemos afirmar que ocorreu expansão das oportunidades, mas se questiona para quem Cadernos UniFOA sociedades européias que se relacionaram com a conclusão de uma nova mentalidade. Tal projeto se vincula com vários fatos como: a passagem do feudalismo para o capitalismo; formação do Estado-nação; emergência da burguesia e o movimento da reforma. O movimento da reforma provocou a quebra da unidade religiosa européia e rompeu com a concepção passiva do homem, entregue unicamente aos desígnios divinos, reconhecendo o trabalho humano como fonte de graça divina e origem legítima da riqueza e da felicidade. A reforma também concebeu a razão humana como extensão do poder divino, o que colocava o homem em condição de pensar livremente e responsabilizar-se por seus atos de forma autônoma. Isso levou ao desenvolvimento do racionalismo acreditando na capacidade da razão intervir no mundo, organizar a sociedade e aperfeiçoar a vida humana. (COTRIM2, 2006). O movimento cultural que marcou essas transformações sócio-culturais europeias é reconhecido como Renascimento, que propiciou o desenvolvimento de uma mentalidade racionalista, revelando maior disposição para investigar os problemas do mundo. O homem moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou mais tempo à pesquisa, e as experimentações tornaram a mente aberta ao livre exame do mundo. (COTRIM2, 2006). A partir de meados do século XVIII, o capitalismo foi se consolidando em diversos países. Esse processo de transformação, do qual está vinculado a Revolução industrial, atinge amplos setores da economia. Paralelamente, a expansão e a consolidação do capitalismo trouxeram, também, novas formas de exploração do trabalho humano. Isso gerou uma série de conflitos entre dois grandes grupos sociais e seus diversos segmentos, de um lado a burguesia e de outro os trabalhadores. Conforme bem aborda Cotrim2 (2006), a Revolução Francesa, além dos anseios próprios da burguesia, trouxe as aspirações dos trabalhadores urbanos e do campesinato. Essas aspirações iriam gerar, em seus desdobramentos, as lutas e correntes socialistas do século XIX que denunciaram a exploração do trabalho no contexto do capitalismo industrial. Ao mesmo tempo, o notório otimismo em relação aos poderes da razão que 74 estavam dirigidas. Quem seria alvo desses avanços? O projeto iluminista, conforme já discutido anteriormente, não era um projeto popular, era um projeto burguês. E pensando sobre essa premissa fica claro que a felicidade para todos seria uma utopia ou um alcance subjetivo. O projeto educacional da sociedade capitalista tem sido voltado para a burguesia, objetivando a manutenção do estado burguês. Não se configura uma educação libertadora que promova uma transformação social. Cotrim2 (2006) utiliza o pensamento de Marx para conceituar o papel do Estado e afirma que ele não é um simples mediador de grupos rivais, isto é, entre aqueles que protagonizam a luta de classes. O Estado é uma instituição que interfere nessa luta de forma parcial, quase sempre tomando partido das classes sociais dominantes. Assim, a função do Estado é garantir o domínio de classe. Nascido dos conflitos de classe, o Estado tornou-se a instituição controlada pela classe mais poderosa, a classe dominante. Assim, na maior parte dos Estados históricos, os direitos concedidos aos cidadãos são regulados de acordo com as posses dos referidos cidadãos, pelo que se evidencia ser o Estado um organismo para a proteção dos que possuem contra os que não possuem. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 2. Discutindo o conceito de pósmodernidade Para alguns autores, não existe necessariamente uma condição pós-moderna, mas a transformação radical das bases da modernidade, como o fim da ideia do iluminismo e descrença na racionalidade. A pós-modernidade é fruto dos avanços políticos e culturais da modernidade. A pósmodernidade nasce da modernidade, na verdade, a modernidade era o período de “gestação da pós-modernidade”, colocando que os avanços tecnológicos, como a microeletrônica, a internet, a robótica, que hoje permitem uma nova forma de vivenciar o contemporâneo, são, na realidade, frutos da própria modernidade. Para Harvey, a modernidade é condição para pós-modernidade. É a emergência de novas maneiras dominantes de experimentarmos o tempo e o espaço na sociedade contemporânea”. (HARVEY5, 1998). A pós-modernidade teve início a partir dos anos de 1960. As raízes da discussão encontram-se na crise cultural que se faz sentir principalmente a partir do pós-guerra. O desencanto que se instala na cultura é acompanhado da crise de conceitos fundamentais ao pensamento moderno, tais como verdade, razão e progresso. O projeto de modernidade parece constituir um grande sonho que a humanidade elaborou para si mesma, ou ainda um projeto de razão como libertadora. O discurso iluminista de emancipação pela revolução, ou pelo saber, sustenta essa confiança na capacidade da razão. (CHEVITARESE6, 2001). A pós-modernidade não seria o fim da modernidade, mas o desencanto da modernidade com o que não deu certo. O autor recorre às ideias de Harvey dizendo que o projeto de modernidade entrou em foco no século XVIII. Esse projeto equivalia a um extraordinário esforço intelectual dos pensadores iluministas para desenvolver a ciência, a razão e as leis universais. A ideia era usar o acúmulo de conhecimento gerado por muitas pessoas, trabalhando livre e criativamente em busca da emancipação humana e do enriquecimento da vida diária. Entretanto, o que se observou foi que a expectativa, quanto aos frutos da ciência, foi dolorosamente interrompida por eventos que marcaram a sociedade atual. O principal deles foi sem dúvida à catástrofe da II Guerra Mundial. A ciência perdeu o seu valor, resultado da desilusão com os benefícios que associados à tecnologia trouxe à humanidade. Na verdade, a ciência acabou gerando duas guerras mundiais resultante da invenção de um armamento bélico poderoso e destrutivo. Todo esse desenvolvimento científico culminou numa crise ecológica mundial. Nesse sentido, podemos duvidar dos reais benefícios trazidos pelo progresso, apontando ainda para uma dependência tecnológica. A pós-modernidade configura-se como uma reação cultural, ou seja, uma perda de confiança no potencial universal do projeto iluminista. Partindo da concepção de Yudice1 (1990) podemos afirmar que a pós-modernidade não deve ser entendida como outro estágio O século XVIII, marcado pelo advento da Revolução Francesa, vem trazer profundas transformações a existência humana. Esse período conclamou o homem a que se libertasse de todas as dependências históricas no que se refere ao Estado, a religião, à moral e à economia, deixando de ser, assim, um indivíduo preso a vínculos de caráter político, agrário, corporativo e religioso; erguia-se assim, o grito por liberdade e igualdade, a crença na plena liberdade de movimento do indivíduo em todos os relacionamentos sociais e intelectuais. A liberdade permitiria que a substância nobre comum a todos viesse à tona, que a natureza depositara em todo o homem e que a sociedade e a história não haviam feito mais do que deformar. (SIMEL7 apud VELHO, 1967) Entretanto, com essa maior liberdade adquirida pelo homem, o século XVIII exigiu do mesmo a sua especialização e também do seu trabalho, tornando-o mais dependente das atividades suplementares de todos os outros homens. Através da divisão econômica do trabalho, por outro ideal se levantou os indivíduos liberados dos vínculos históricos e que agora desejavam distinguir-se um do outro. A escala dos valores já não é constituída pelo ser humano geral, mas pela unicidade e insubstitubilidade, mas ao mesmo tempo dependente do trabalho dos outros homens. Exigindo que o indivíduo apele para o extremo no que se refere à “exclusividade” e particularização para preservar sua existência, o que acaba incentivando a competitividade. Simmel7, ao abordar as características da modernidade, trabalha com a noção de metrópole que se constitui o lócus privilegiado para expressar o modo de vida moderno 75 edição nº 12, abril/2010 3. As consequências da modernidade à condição humana pautado na racionalidade do homem conforme as ideias iluministas. Ao trabalhar com a concepção de metrópole o autor irá refletir sobre os impactos da vida moderna na subjetividade humana, de como essa vivência irá interferir no conteúdo individual do homem. A vida metropolitana requer um nível elevado de consciência e inteligência do homem, pois a intelectualidade se destina a preservar a subjetividade contra o poder avançado da vida na metrópole; sendo assim o ser humano resiste a uniformização do indivíduo. Nesse sentido, a metrópole, enquanto sede mais alta da economia do trabalho, requer que o homem se especialize o tempo todo para preservar seu lugar, seu espaço e não ser substituído pelo outro. O indivíduo procura ao extremo, exclusividade para preservar sua essência mais pessoal a fim de manter-se perceptível até para si próprio. A racionalidade imposta ao homem faz com que as relações racionais entre os homens sejam sempre comparadas, como se o ser humano fosse redutível a um número e a intelectualidade pudesse distanciar o homem do sentimento. O homem metropolitano reage com a cabeça e não com o coração. A metrópole se caracteriza pela grande quantidade e diversidade de estímulos gerando um “excesso”, provocando uma adaptação do nível individual, o que Simmel denominou de atitude blasé que seria a intensificação da intelectualidade metropolitana. Uma vida desregrada de prazer torna uma pessoa blasé porque agita os nervos até seu ponto de mais forte reatividade por um tempo tão longo que eles param de reagir. Essa atitide seria então a dificuldade de discriminar, os objetos são percebidos, mais antes que o significado e valores sejam atributos denominador, aparecem num plano fosco e uniforme. A atitude blasé seria um comportamento de adaptação, recusa de reagir, autopreservação do indivíduo na cidade grande, um tipo de reserva fazendo os indivíduos parecerem frios e desalmados. Essa reserva confere ao indivíduo uma quantidade de liberdade individual, a reserva e a indiferença recíprocas e as condições de vida intelectual nunca são Cadernos UniFOA que se atinge depois de se ter passado pela modernidade. O autor entende que a pósmodernidade deve ser a insistência num questionamento crítico da sociedade moderna das suas desigualdades sociais e das formas de participação no debate político. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 76 sentidas fortemente pelo indivíduo no que se refere a sua independência. Essa antipatia protegeria os indivíduos do perigo da metrópole, contribuindo para a manutenção desse estilo de vida. O que aparece no estilo de vida, como dissociação da realidade, é apenas uma de suas formas elementares de socialização. A metrópole seria o local da liberdade e também da solidão. Velho8 (1994), ao refletir sobre os escritos de Simmel, aponta que o mesmo via na multiplicidade e diferenciação de domínios e níveis de realidade da sociedade moderna um desafio à integridade do indivíduo pscicológico. A modernidade da metrópole significaria um impedimento ao desenvolvimento integrado do indivíduo. O autor tenta relativizar essa concepção de que a vida na metrópole ameaça o desenvolvimento integrado do indivíduo, ao afirmar que é próprio da metrópole e das sociedades complexas um campo de possibilidades em que é possível uma interação entre indivíduos em meio a tanta diversidade, onde se cruzam trajetórias e trilhas sociológicas e culturais. Apesar dos mundos estarem demarcados por fronteiras étnicas, sociológicas e culturais, a experiência dos grandes centros urbanos tenderam a relativizar essas fronteiras apontando a existência de uma rede de relações nas sociedades complexas. Por mais significativa e inclusivas que podem ser categorias como família e parentesco, bairro e vizinhança, origem étnica, grupos de status, estratos e classes sociais registravam-se circulação, interações sociais associadas a experiências, combinações e identidades particulares, individualizadas. O mercado de trabalho e o trabalho, a vida política com suas transformações são, sem dúvida, fatores estimuladores dessas “travessias sociológicas” com maiores ou menores custos individuais (VELHO8,1994). O processo de urbanização é um exemplo paradigmático desse fenômeno, mais recentemente, as cidades do terceiro mundo com êxodo rural, migrações, explosões demográficas e marginalidade apresentam um quadro flagrante da fragilidade e impotência da esmagadora maioria dos indivíduos e das categorias sociais. O indivíduo, na sociedade moderna, se constitui ponto de interseção de vários mundos; através da organização social , da interação entre indivíduos e suas redes de relações, e ainda, através da negociação da realidade, sendo que essa idéia onde a ideia de negociação seria a ideia de reconhecimento da diferença como elemento constitutivo da sociedade. O conflito, a troca, a aliança e a interação são elementos constitutivos da vida social. A negociação da realidade é viabilizada através da linguagem, que é produtora de significados, possibilitando assim, a coexistência de discursos e visões de mundo. A cultura, enquanto comunicação, não exclui as diferenças; ao contrário, vive delas. A diferença no nível dos discursos e das representações não estão limitadas às fronteiras sócio-econômicas, estão associadas ao mundo simbólico, manifestado através da linguagem e de códigos que exercem um papel socializador. A fragmentação das relações e papéis sociais na sociedade moderna demarca domínios distintos. O jogo de papéis e identidades nas grandes metrópoles caracteriza esse estilo de vida moderno. Os indivíduos vivem múltiplos papéis em função dos diferentes planos em que se movem vivendo essas pessoas em diferentes planos simultaneamente. Na sociedade complexa, a coexistência de diferentes mundos constitui a sua própria dinâmica. O individualismo moderno, metropolitano, não exclui a vivência e o englobamento por unidades abrangentes e experiências comunitárias, não elimina o nível de escolha e opção do indivíduo. Velho8 (1994) chama a atenção para o fato de que os indivíduos, mesmo nas passagens e trânsitos entre os domínios e experiências mais diferenciadas, mantêm uma identidade vinculada a grupos de referências como família, etnia, região, vizinhança, religião, etc. A tendência à fragmentação não anula as referências do indivíduo que podem ser acionadas em momentos estratégicos. Discorda de Simmel no que se refere à fragmentação ao dizer que ela não deve ser entendida como estraçalhamento do indivíduo psicológico. O trânsito entre os diferentes mundos é possível, 77 edição nº 12, abril/2010 e à flexibilidade que tornam praticamente indistintas as fronteiras de participação e envolvimento, individualizam as relações sociais de produção e provocam a instabilidade estrutural do trabalho, do tempo e do espaço. Para Bauman10 (1998) a distinção contemporânea sobre o contínuo do tempo é o aspecto mais profundo da mentalidade moderna. Os homens modernos viveram num tempo-espaço sólido, durável, duro recipiente em que os atos humanos podiam cunharse seguros. Liberdade era a necessidade conhecida, mas também, a decisão de agir com esse conhecimento. Entretanto, para os homens e as mulheres da pós-modernidade, esse mundo sólido, estruturado, desapareceu. Conforme aponta Bauman10 (1998) o mundo em que o homem tem vivido é formado de regras que são feitas e refeitas no curso da disputa. Viver nesse mundo é jogar bem e usar ao máximo suas habilidades, pois mundo tem se tornado mais frágil em todas as relações. Enfim, as relações que perpassam o mundo contemporâneo são simples, sem compromisso para durar não mais do que a satisfação derivada. O mundo construído de objetos duráveis foi substituído pelo de produtos disponíveis e projetados para imediata obsolescência. Para o autor acima citado, no jogo da vida dos homens e mulheres pós-modernos, as regras não param de mudar no curso da disputa. A estratégia é manter curto cada jogo, tomar cuidado com compromissos em longo prazo, recusar-se a fixar e não se prender a lugar nenhum. O tempo já não estrutura mais o espaço, o que conta é a habilidade de se mover e não ficar parado. Viver só o presente, um dia de cada vez e não pensar no passado e nem no futuro. Na sociedade pós-moderna estamos de uma forma ou de outra, no corpo ou no espírito, aqui e agora ou no futuro antecipado, em movimento. Bauman10 (1998) utiliza duas categorias para caracterizar a divisão da sociedade pós-moderna; a posição entre os turistas e os vagabundos. Para o autor, estamos todos traçados num contínuo estendido entre os polos do “turista perfeito” e o “vagabundo incurável”. Os nossos lugares estão traçados segundo o grau de liberdade que possuímos para escolher nossos itinerários de vida. Cadernos UniFOA graças à natureza simbólica da construção social da realidade. Ainda se reportando a Simmel, Velho8 (1994) afirma que a utilização de diferentes códigos e discursos relativiza a atitude blasé, pois não é o mesmo indivíduo, único que recebe passivamente estímulos múltiplos e diferenciados. A noção de cultura subjetiva do próprio Simmel nos permite pensar que esta pode ser construída em múltiplos planos, dependendo de cada indivíduo, permitindo que os indivíduos estejam permanentemente sendo reconstruídos no processo de construção social da realidade. Um outro elemento importante que traz profundas transformações culturais nas sociedade modernas se refere ao processo de globalização. A globalização refere-se àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço e tempo. A globalização implica um movimento de distanciamento da idéia sociológica clássica da sociedade como um sistema bem delimitado e sua substituição por uma perspectiva que se concentra na forma como a vida social está ordenada ao longo do tempo e do espaço. Entretanto, o crescente avanço tecnológico não deve significar a eliminação de modos de vida tradicionais. No mundo globalizado, as novas tecnologias e comportamentos devem conviver com hábitos e costumes das antigas gerações. Independentemente de qual seja a ordem política, econômica e mundial, um aspecto da era da globalização mantém-se cada vez mais poderoso e mundializado: o sistema de produção e consumo, objetivando arregimentar todos os tipos de consumidores e, independentemente das diferenças culturais, incentivando o consumo de massa. A necessidade do consumo passa por cima de qualquer diferença cultural. Para Castells9 (1999), o processo de globalização se constitui uma ameaça detectada em todas as sociedades pela maior parte da humanidade neste fim de milênio, pois, dissolve a autonomia das instituições, organizações e sistemas de comunicação local onde vivem as pessoas. Aponta que uma outra ameaça se refere à formação de redes edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 78 Nesse sentido, a liberdade de escolha na sociedade pós-moderna é o maior fator de estratificação, quanto mais liberdade de escolha se tem, mais alta é a posição alcançada na hierarquia social pós-moderna. Quanto mais repulsiva e detestável a sorte do vagabundo, mais toleráveis são os pequenos incômodos e os grandes riscos da vida do turista. O turista significa o evitar de uma identidade que se fixa, a arte de misturar os sólidos e desprender o fixo. É dos turistas a façanha de não pertencer a lugar nenhum, estar dentro e ao mesmo tempo fora. É deles o acesso aos dois mundos, A pessoa deve poder mudar quando as necessidades impelem ou os sonhos solicitam. A essa aptidão, os turistas dão o nome de liberdade, autonomia ou independência. O mesmo não acontece com o vagabundo pelas razões da lógica da hierarquia social. Os turistas possuem o controle situacional, escolher com que parte do mundo se quer interfacear e quando desligar a conexão. Os prazeres da vida colocam o sonho da nostalgia acima das realidades da casa. A peculiaridade da vida turística é não chegar. Já os vagabundos se movem porque foram impelidos por trás, veem sua situação como qualquer coisa que não a manifestação da liberdade. Para eles, estar livre significa não ter que viajar de um lado para o outro e sim ter um lar e ser permitido estar dentro dele. São considerados os mutantes da evolução pós-moderna, os restos do mundo que se dedicaram a serviço dos turistas. Os vagabundos se movem porque acham o mundo insuportavelmente inóspito, não têm outra escolha. Pode-se viver com as ambiguidades da incerteza que saturam a vida do turista, só porque as certezas da vagabundagem são tão inequivocadamente asquerosas e repugnantes. Os vagabundos são as vítimas do mundo que transformou os turistas em seus heróis são “funcionais a essa sociedade” 4. Desafios à condição humana nas sociedades pós-modernas Tomando como referência às ideias de Manzini-Covre11 (1995), como pensar em novas formas de vida mais gratificante no mundo contemporâneo? A pós-modernidade acabou por instituir uma crise cultural em função da necessidade de revisão de conceitos fundamentais ao processo moderno. Nessa perspectiva, Manzini-Covre11 (1995) aponta que essas mudanças culturais e também estruturais podem ser materializadas no que a autora denomina de formas sociais fragmentárias. Estas, por sua vez, podem ser entendidas como organizações e grupos sociais ordenados por uma razão ou um aspecto da cultura que se opõe a razão técnica. Essas formas fragmentárias seriam orientadas por valores não de fins imediatos, mas também como mediatizadores como a solidariedade, a amizade, a afetividade, a nobreza. Orientadas não por valores e práticas pretensamente neutros, mas com a capacidade e vontade políticas voltadas para o interesses de grupos específicos da sociedade mais ampla. Destacam-se como instituições que trabalham nessa perspectiva; as Organizações não governamentais, os movimentos sociais, que dizem respeito a organizações e grupos sociais ordenados por uma razão ou um aspecto da cultura que tende a se opor à razão técnica. Concordamos com Yudice1 (1990) que afirma que a sociedade pós-moderna é exatamente aquela em que os grupos sociais menos favorecidos se organizam para defender os seus direitos e para exigir a transformação de uma realidade que exclui. Manzini-Covre11 (1995) aponta a ideia de construção de uma cidadania que expressaria a cidadania das formas fragmentárias. Destaca que a família- por entender se constituir o lócus privilegiado de concretização da afetividade, amizade e solidariedade- seria a organização por excelência para o alcance do que denomina de cidadania nova. A autora citado, para trabalhar com a concepção de uma “cidadania nova”, apresenta outros dois tipos de cidadania. Primeiramente, discute a noção de cidadania do status quo que objetiva a manutenção do poder exercido pelo Estado, onde os sujeitos não existem e sim se deixam usar pelo Estado, se constituindo o tipo dominante de cidadania, passiva e consumista que se centra no ter; objetiva um comportamento de massa do homem, adequado aos grupos poderosos que podem gerir a sociedade autoritariamente com um “consentimento “da população. Um segundo tipo de cidadania seria a contrapartida da cidadania do status quo, porque se refere à apropriação do espaço da contradição entre grupos dominados e a população a ser cidadã. São os demandatários fazendo valer suas propostas de políticas sociais de atendimento dos direitos sociais, se caracterizaria por uma cidadania centrada no agir. Finalmente, a autora traz a concepção do que seria uma cidadania nova , que fugiria do âmbito de construir melhores possibilidades de vida para a humanidade por via revolucionária, entendida como uma cidadania centrada no sentir e na importância da interação do sujeito com seus diferentes “eus”, na construção de identidades nas quais o sujeito não existe em si é um sujeito em constituição. A cidadania nova depende de que o novo emerja de “dentro” desta pessoa e assim seja reconhecido, incorporado, podendo vir a ser instituinte de novas formas inovadoras de alteridade para o avanço social seria a revolução da subjetividade. A cidadania nova depende de que o novo emerge de “dentro” nesta pessoa seja reconhecido, incorporado, podendo vir a ser instituinte de novas formas inovadoras de alteridade para o avanço social seria a revolução da subjetividade. Seria, então, pensar que o processo de estar vivo implica reconhecer que a felicidade é alegria e sofrimento, de que não se é tão impotente assim diante de nossa existência. tentativa de colonização pela ciência das demais esferas da vida do homem. A pósmodernidade não abandona os imperativos da racionalidade crítica, ao contrário, leva a crítica às mais profundas consequências, questionando os conceitos pressupostos pela modernidade. (CHEVITARESE6 ,2000) De acordo com as reflexões de Bauman10 (1998), o homem pós-moderno é aquele facilmente adaptável o qual convive, a todo momento, com as realidades distintas e consegue sobreviver a todas elas. Entretanto, questionase se é possível que esse homem busque um posicionamento mais autônomo diante da vida? 5. Concluindo 6. Referências A mundialização do capital e as novas tecnologias interferem em aspectos importantes da sociedade como a subjetividade, a identidade e a cultura. A pós-modernidade pode ser caracterizada como uma reação à cultura e ao modo como se desenvolveram historicamente os ideais da modernidade, associada à perda de otimismo e confiança no potencial universal do projeto moderno. Configura-se como uma rejeição à YUDICE, G. “Entrevista: O pós-moderno em debate”. in Revista Ciência Hoje, março de 1999. 79 COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia: história e grandes temas, 16 ed, São Paulo: Saraiva, 2006. edição nº 12, abril/2010 Nessa perspectiva, o homem, enquanto sujeito imperfeito dada a sua natureza, sempre buscará superar as suas limitações, sempre se verá como parte de uma realidade infinita. Essa característica é que mantém viva a possibilidade de o homem reivindicar direitos e exigir a transformação de uma realidade que os reprimi, sufoca e exclui. Cadernos UniFOA (...) “O homem sempre quererá ser mais do que é, sempre se revoltará contra as limitações de sua natureza (...) Se alguma vez se desvanecesse o anseio de tudo conhecer e tudo poder, o homem já não seria mais homem. Assim, ele sempre necessitará da ciência, para desvendar todos os possíveis segredos da natureza e dominá-la. E sempre necessitará da arte para se familiarizar com a sua própria vida e com aquela parte do real que a imaginação lhe diz ainda não ter sido devassada (...)”(ERNST FISCHER 1977, apud COTRIM 2,2006). 80 BRAICK, P.R e MOTA, M.B. História: das cavernas ao terceiro milênio. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2006. GIANNETTI, E. Felicidade, São Paulo: Cia das Letras, 2002. p 09-55. HARVEY, D. Condição Pós-Moderna, São Paulo: Edições Loyola, 1993. (pág 13-114) CHEVITARESE, L. “As razões da pósmodernidade”. in Análogos. Anais da I SAFPUC, Rio de janeiro: Boolink. (ISB 85-8831907-1). SIMMEL, G. “A metrópole e a vida mental”. in VELHO, O. (org). O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro : Zahar. 1967. VELHO, G. Projeto e Metamorfose: antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Zahar. 1994. p 11-48. CASTELLS, M. O Poder da Identidade, São Paulo: Paz e Terra, 1999. p 21-92. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA BAUMAN, Z. O mal estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1998 (pág 106120). Endereço para Correspondência: Karin Alves do Amaral Escobar [email protected] Rua Miguel Cervantes, 107 apt 102 São João Batista – Volta Redonda CEP: 27285-175 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Escobar, Karin Alves do Amaral. Modernidade e pós-modernidade: promessas, dilemas e desafios à condição humana. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano V, n. 12, abril 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/71.pdf> 81 Olhares Plurais em Linguística Aplicada Plural Views in Applied Linguistics Marcel Alvaro de Amorim2 Artigo Original Palavras-chave: Resumo Linguística Aplicada A Linguística Aplicada é, ainda, uma área recente de estudos das ciências humanas e sociais e, como toda área de produção de conhecimento, encontra-se em pleno processo de desenvolvimento epistemológico. Sendo um campo de estudos plural e heterogêneo, várias perspectivas do estudo da Linguística Aplicada coexistem, em nível mundial, produzindo os mais diferentes trabalhos e teorizações. No Brasil e em grande parte do mundo, uma parcela dos linguistas aplicados em exercício começaram a adentrar-se em novas possibilidades de, por meio de sua área de estudos, entender o mundo social no qual estão inseridos, afastando-se dos antigos paradigmas de pesquisa modernistas e voltando-se para a compreensão do cenário contemporâneo enquanto mestiço, híbrido e indisciplinar. O objetivo deste trabalho é, então, apresentar e analisar duas posturas diferentes adotadas por pesquisadores do campo da LA: a perspectiva modernista de pesquisa em LA e a visão da LA como uma área mestiça, INdisciplinar e “na fronteira”. Para tanto, utilizaremos como principais pressupostos teóricos os apontamentos de Moita Lopes (1996, 2004, 2007, 2008), Fabrício (2008) e Damianovic (2005). Abstract Key words: Applied Linguistics is, still, a recent area concerning the studies of the human and social sciences and, like any area that produces knowledge, finds itself in an ongoing process of epistemological development. Since it is a plural and heterogeneous field of studies, several perspectives of study from Applied Linguistics coexist, in worldwide level, producing the most different kinds of papers and theories. In Brazil and in great part of the world, a part of the applied linguistics at work have started to explore different possibilities through, by their field of studies, the understanding of the social world in which they are immersed in, distancing themselves from the ancient modernist paradigms of inquiry and returning to the comprehension of the contemporary scenario seen as mixed, hybrid and INdisciplinary. The objective of this work is, then, to present and analyze two different postures adopted by the researchers from the field of AL: the modernist perspective of inquiry in AL and the AL view as a mixed, INdisciplinary and “on the border” area. Thus, we will use as main theoretical assumptions the writings of Moita Lopes (1996, 2004, 2007, 2008), Fabrício (2008) and Damianovic (2005). Applied Linguistics 1. Introdução “Viver nas fronteiras significa / usar Chile no borscht / comer tortillas de trigo integral, falar tex-mex com sotaque do Brooklin / ser Position “on the border” parado pela polícia da imigração nos postos da fronteira” (ANZALDÚA, 1987: 194-195). “Aprendemos na cultura a olhar com desconfiança para as misturas, os cruzamentos, UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Mestrando em Letras (Lingüística Aplicada) UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda – Professor 1 The modernist tradition edição nº 12, abril/2010 Posição “na fronteira” Cadernos UniFOA Tradição Modernista Original Paper edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 82 as metamorfoses e a diversidade; em razão disso, a pluralidade de referências costuma nos desconcertar.” (FABRÍCIO, 2008: 62). “Em sociedades que se constituem cada vez mais de forma mestiça, nômade e híbrida, não seriam epistemologias de fronteiras essenciais para compreender tal mundo?” (MOITA LOPES, 2007: 11) A Linguística Aplicada (LA) é um campo relativamente novo de investigação: tendo seus impulsos iniciais nos anos 1940, a LA passou, ao longo de sua história, por reformulações, (re)escrituras e novos questionamentos com o objetivo inicial de se consolidar como uma área relevante de produção do conhecimento e ter suas pesquisas legitimadas perante a comunidade acadêmica. Do foco na pesquisa da Aplicação Linguística ao ensino de línguas (Cf. Allen & Corder, 1973,1974 e 1975; Allen e Davies, 1977), aos questionamentos sobre esse prática (Cf. Chomsky, 1971; Widdownson, 1979); da adoção de políticas interdisciplinares (Cf. Moita Lopes, 1996) à luta para, finalmente, se firmar como área de investigação independente dos conhecimentos advindos da Linguística enquanto “ciênciamãe” (Cf. Cavalcanti, 1986; Moita Lopes, 1996), passaram-se cerca de sessenta anos. Atualmente, tendo a LA já solidificada enquanto área de produção de conhecimento, o que resta para o linguista aplicado é indagar sobre os novos rumos possíveis para a área de investigação na qual está inserido, tema que é o ponto de partida desse minicurso que tem por objetivo apresentar e analisar duas posturas diferentes adotadas por pesquisadores do campo da LA: a perspectiva modernista de pesquisa em LA e a visão da LA como uma área mestiça, INdisciplinar e “na fronteira”. 2. Posições da Pesquisa em Linguística Aplicada: A Perspectiva Modernista e a Posição Indisciplinar De acordo com Marcondes (2005: 139), o próprio conceito de modernidade já nos provoca questionamentos, o moderno remete ao “novo”, ao rompimento de tradições, implicando sentidos positivos – e, portanto, positivistas – de mudança, progresso e transformação. Essa visão é uma das bases para o nascimento da ciência moderna que, segundo Rojo (apud. Damianovic, 2005: 185), é fundada em crenças positivistas e estruturalistas que acarretavam uma fé numa visão de linguagem apolítica e ahistórica; na tentativa de separação entre o sujeito e o objeto buscando, assim, uma noção de objetividade científica; numa visão da linguagem como sendo posterior ao pensamento e à experiência; na crença no projeto científico de produção de conhecimento, seus métodos e modelos; e, sobretudo, na fé nos princípios de racionalidade e verdade como de aplicabilidade universal. A LA que se fundamentava nessas pressuposições era, então, uma LA autônoma, que buscava separar o sujeito do mundo em que está inserido, procurando garantir objetividade científica, acabando por situar tal sujeito no vácuo social (Moita Lopes, 2008a: 24). O sujeito-pesquisador, seguindo a perspectiva modernista de pesquisa em LA, é entendido como separado de seu objeto de estudo para que não o contamine, visão positivista do processo de construção do conhecimento (Moita Lopes, 2008b: 100). Nessa visão, o conhecimento não possui vínculos com o modo como as pessoas vivem, sofrem, se posicionam politicamente (Moita Lopes, 2008b: 87). (...) a dicotomização entre o indivíduo e o que o cerca deixou de reconhecer que as relações de poder eram advindas tanto da cultura, quando da forma de ensino-aprendizagem, por exemplo. (DAMIANOVIC, 2005; p. 183) A noção de sujeito da modernidade, segundo Moita Lopes (2008b:100) era a de um indivíduo essencializado, sendo branco, homem, heterosexual de classe média. Um sujeito concebido como único e homogêneo – homogeinação que só é possível com o apagamento da sócio-história e do corpo de tal sujeito (Moita Lopes, 2008b: 102) – em áreas diversas do conhecimento como as Ciências Exatas, as Ciências da saúde, bem como no próprio campo das chamadas Humanidades. Para Hall (2005; p. 10-11) [esse sujeito] estava baseado numa concepção de pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das A LA modernista não escapa dessa visão, caracterizando-se no Brasil, em meados das décadas de 1980 e 1990, e após a compreensão de que a linguagem é constitutiva da vida institucional (Moita Lopes, 2007: 07), como área de conhecimento que visava a resolução de problemas da prática de uso da linguagem enfrentados pelos participantes do discurso em um contexto social definido (Cf. Cavalvanti, 1986; Moita Lopes, 1996). Observamos aqui uma tendência positivista da LA ao assumir-se como uma área preocupada com a resolução de problemas, definindo-se, assim, como uma área solucionista das chamadas Ciências (...) LA como prática problematizadora, que, assumindo abertamente suas escolhas ideológicas, políticas, e éticas, submete a reexame e a estranhamento contínuos não só suas construções, como também os “vestígios” de práticas modernas, iluministas ou coloniais nelas presentes. (FABRÍCIO, 2008; p. 50-51) É interessante reforçar a ideia de Moita Lopes (2008a: 14) de que o interesse desses que fazem a LA INdisciplinar não é renegar a LA como praticada anteriormente, mas sim propor mudanças possíveis, novas direções a se considerar. Não é do interesse desses pesquisadores fundar uma “nova escola” de 83 edição nº 12, abril/2010 (...) compreensão da razão como imparcialidade, estando aquele que usa da razão “separado de suas próprias emoções, desejos e interesses.... se abstraindo da situação concreta” (Frazer e Lacey, 1993: 48) (...¬) uma visão ahistórica e “descorporificada” do indivíduo, visto como tendo uma “primazia moral... contra o clamor de qualquer coletividade social” (Gray, 1986: x) (...) uma convicção de que a realidade social pode ser conhecida e de que a política social e a tecnologia podem ser usadas para melhorar a pobreza , a infelicidade e outros males. (RAMPTON, 2008; p. 111) Sociais – assim entendida por seu foco nos problemas da linguagem em uso no meio social -. Hoje, acredita-se que o projeto da modernidade e, acrescento, o de uma LA que se baseia nos paradigmas modernistas para se firmar enquanto área de investigação científica, se revela, segundo Bhabha (1998: 329), por si só contraditório e irresolvido. As identidades estabilizadas estão em declínio, provocando o surgimento de novas identidades, fragmentando o indivíduo moderno, que até então era visto como unificado e homogêneo (HALL, 2005: 07). A chamada objetividade científica é, no atual rumo das pesquisas, considerado utópico, já que não há como distanciar o pesquisador – sempre posicionado no mundo em que atua e, com sua posição, construindo conjuntamente o conhecimento que produz (Moita Lopes, 2004: 165) – do objeto que pesquisa. Pautados nessas e em outras impossibilidades da pesquisa modernista, pesquisadores da área de LA no Brasil e no mundo têm almejado novas formas de se fazer pesquisa em Linguística Aplicada, trazendo o sujeito para dentro do campo de pesquisa, e mudando seu foco de área positivista concentrada na solução de problemas do uso da linguagem para uma área híbrida – inter/transdisciplinar – que almeja criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que a linguagem tem papel determinante (Moita Lopes, 2008a: 14), propagando uma perspectiva mestiça ou INdisciplinar da LA na atualidade. Como ressalta Fabrício (2008), buscamos atualmente entender a Cadernos UniFOA capacidades da razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou “idêntico” a ele – ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. A modernidade trazia à tona, ainda, a visão da razão como imparcialidade. Só seria possível alcançar tal imparcialidade estando o pesquisador – ou o linguista aplicado – despido de emoções, desejos ou interesses, estando este “fora do mundo” (Rampton, 2008: 111). Assim, por meio da racionalidade, o pesquisador da modernidade poderia usar políticas sociais, tecnologias e novos avanços na ciência para melhorar a vida da população, visão absolutamente positivista do progresso científico. Os ideais para a pesquisa científica modernista seriam, então, a edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 84 LA (Moita Lopes, 2008a: 15), e muito menos propor uma direção obrigatória a ser seguida. Resta-nos agora questionar: mas afinal, o que é a LA INdisciplinar? É, primeiramente, um novo rumo em LA que pretende problematizar os ideais modernistas, questionando seus pressupostos e propondo novas epistemologias, novas formas de produzir o conhecimento. Ao perceber a forma simplista como a LA modernista – ou solucionista – tratava dos problemas relativos ao uso da linguagem que, seguindo os ideais de neutralidade e objetividade, apagava a complexidade das situações estudadas e as imbricações do sujeito nessas situações, a LA INdisciplinar propõe-se a pensar novas formas de construir conhecimento. A noção da LA como um campo inter/transdisciplinar é central para o desenvolvimento desse modo de pensar a LA. Preocupados em teorizar onde as pessoas vivem e agem, as implicações das mudanças sócioculturais, políticas e históricas que tais pessoas experienciam (Moita Lopes, 2008a: 21), assim como em perceber o sujeito como heterogêneo e em constante transformação – o contrário do que almejava a pesquisa modernista – os pesquisadores da LA INdisciplinar lançam mão de leituras em outras áreas do saber, de diversos campos das ciências sociais e humanidades que, muitas vezes, apresentam melhores teorizações sobre o sujeito e sua construção identitária pelo discurso do que pesquisas em Linguística ou pesquisas em LA de cunho modernista que são contrárias ao reconhecimento da alteridade, das diferenças, etc... Tais teorizações [das ciências sociais e das humanidades], como se verá, se prendem principalmente a compreensões referentes à natureza do sujeito social, advindas de uma problematização dos ideais modernistas, que tem implicações de natureza epistemológicas. (MOITA LOPES, 2008; p. 15) (...) Originária de um mundo que entendia a pesquisa como necessariamente positivista, a pesquisa em ciências sociais, hoje questiona as formas tradicionais de conhecimento e abre um leque muito grande de desenhos de pesquisa de natureza interpretativista (Moita Lopes, 1994) e de modos de construir conhecimento sobre a vida social. (MOITA LOPES, 2008; p. 25) Como visto acima, a LA INdisciplinar, segundo Fabrício (2008a: 50-51), deve ser encarada como prática problematizadora que assume suas escolhas ideológicas, políticas e éticas, distanciando-se do ideal de objetivismo científico e neutralidade na produção do conhecimento das práticas modernas. Ao negar tais ideais, a LA INdisciplinar focaliza o sujeito, não como entidade racionalizada, mas como heterogêneo, dando voz, então, as margens do sistema globalizado, os olhares considerados subalternos (Fabrício, 2008:51), voltando sua atenção para diferentes construções identitárias de classe social, etnia, raça, gênero, sexualidade, nacionalidade etc. (Moita Lopes, 2008a: 27). O que a LA INdisciplinar pretende questionar é o sujeito neutro, sem gênero, raça ou sexualidade proveniente dos ideais modernistas. É necessário perceber que toda e qualquer investigação científica começa com o investigador, presente e localizado, agindo ativamente na prática da pesquisa, estando conectado com o objeto – ou com os indivíduos pesquisados, esses também performando identidades – das mais diferentes formas (Smith apud. Pennycook, 2008: 80). Moita Lopes (2008b: 100) chama atenção para a necessidade de compreender que os pesquisadores estão diretamente relacionados no conhecimento que produzem e que os mesmos devem negar a “distância crítica” moderna e almejar uma “proximidade crítica”. Os ideais de racionalidade e a compreensão de que os significados não são anteriores ao pensamento e ao discurso também são desconstruídos pela LA INdisciplinar. A linguagem deve ser focalizada como um produto humano e uma ferramenta social, sendo inseparável do ser humano enquanto sujeito subjetivo, emotivo e que habita um meio social. O pesquisador da LA INdisciplinar deve compreender que não é possível despolitizar e tornar autônomo o conhecimento, assim como deve reconhecer a impossibilidade de apagar as diferenças que constituem o sujeito, conforme almejado nas práticas modernistas. Retomando a primeira epígrafe deste trabalho, da escritora Glória Anzaldúa – Chicana, lésbica e feminista – devemos pensar a LA INdisciplinar como uma área na fronteira e atenta a esse sujeito que, como a poetiza, vive nas margens da identidade homogênea modernista, em constante performance de identidades recorrentemente reconhecidas como subalternas ou marginalizadas. O Linguística Aplicado que pretende trabalhar com a perspectiva INdisciplinar deve olhar para as misturas, para as bordas, procurando nesses sujeitos novas formas de compreender o mundo, dando voz aos que não a tem, criando inteligibilidades sobre realidades que não a cêntrica. 4. Referências Bibliográficas ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La Frontera.San Francisco: Aunt Lute Press, 1987. ALLEN, J. P. B. & CORDER, S. P. (eds). The Edinburg course in applied linguistics. Volume 1. Readings for applied linguistics. Oxford: OUP, 1973. ALLEN, J. P. B. & CORDER, S. P. (eds). The Edinburg course in applied linguistics. Volume 85 ALLEN, J. P. B. & CORDER, S. P. (eds). The edinburg course in applied linguistics. Volume 3. Techniques in applied linguistics. Oxford: OUP, 1974. ALLEN, J. P. B. & DAVIES, A.(eds). The Edinburg course in applied linguistics. Volume 4. Testing and experimental methods. Oxford: OUP, 1977. BHABHA, H. K. O Local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998. CAVALCANTI, M. A propósito de lingüística aplicada. Trabalhos em linguística aplicada, v. 7, n. 2, p. 5-12, 1986. DAMIANOVIC, M. C. O lingüista aplicado: de um aplicador de saberes a um ativista político. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 8, n. 2, p. 181-196, jul./dez, 2005. FABRÍCIO, B. F. F. Lingüística aplicada como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma linguística aplicada indisciplinar. 2ª ed. São Paulo: Parábola, 2008. HALL, S. A identidade cultural na pósmodernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. MARCONDES, D. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma linguística aplicada indisciplinar. 2ª ed. São Paulo: Parábola, 2008. _____________. Contemporaneidade e construção do conhecimento na área de estudos lingüísticos, SCRIPTA - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras do Cespuc. Belo Horizonte: Editora PUC-Minas, v. 7, n. 14, pp. 159-171, 2004. _____________. Da aplicação lingüística à linguística aplicada indisciplinar. Palestra proferida na UFPB e UFG. No prelo, 2007. edição nº 12, abril/2010 3. Considerações Finais 2. Papers in applied linguistics. Oxford: OUP, 1975. Cadernos UniFOA Os linguistas aplicados que atuam dessa maneira devem perceber a necessidade de olhar as relações de poder construídas na formação do sujeito no discurso e por meio dele (Cf. Moita Lopes, 2008; Bhabha, 1998). A LA INdisciplinar preocupa-se em reteorizar esse sujeito social enquanto heterogêneo, fluido e mutável e, para isso, lança mão de teorizações pós-modernas, pós-coloniais, antirracistas, queer, entre outras para dar conta da liquidez da identidade do sujeito agora em foco (Cf. Moita Lopes, 2008). Pois, para Hall (2005;p. 07) “(...) as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como unificado.” 86 _____________. Lingüística aplicada e vida contemporânea: problematização dos construtos que tem orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma linguística aplicada indisciplinar. 2ª ed. São Paulo: Parábola, 2008b. _____________. Oficina de linguística aplicada. Campinas: Mercado de Letras, 1996. _____________. Uma linguística aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como um lingüista aplicado. In: MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma lingüística aplicada indisciplinar. 2ª ed. São Paulo: Parábola, 2008a. edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA RAMPTON, B. Continuidade e mudança nas visões de sociedade em linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L. P. (org.) Por uma linguística aplicada indisciplinar. 2ª ed. São Paulo: Parábola, 2008. Endereço para Correspondência: Marcel Alvaro de Amorim [email protected] Rua Tenente Luiz Fernando, 271, aptº 101 Ano Bom – Barra Mansa/RJ CEP: 27325770 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Amorim, Marcel Alvaro de. Olhares Plurais em Linguística Aplicada. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, ano V, n. 12, abril 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/81.pdf> 87 Do Pensamento às Palavras Instrumento metodológico para a análise dos discursos Of the Thought to the Words Instruments for the analysis of the speeches Artigo Original Original Paper Luiz Augusto F. Rodrigues 1 Palavras-chave: Resumo Ideologia Fundamentos teóricos de proposta metodológica de análise do discurso que toma por base contribuições da psicanálise lacaniana. Discurso, representação e ideologia. Análise do discurso Imaginário [lacaniano] Abstract Key words: “Of the thought to the words” is founded in theoretical beddings of proposal methods of analysis of the speech that takes for base contributions of the lacanian psychoanalysis. Speech, representation and ideology. Applied Linguistics The modernist tradition Professor do Departamento de Arte da Universidade Federal Fluminense Coordenador do LABAC-UFF / Laboratório de Ações Culturais UFF – Instituto de Artes e Comunicação Social 1 não perde sua referência unitária (ZIZEK, 1991). Por mais que se privilegie o plano da percepção sensível (o campo da experiência visual e imagética), os meios de comunicação de massa têm forte apelo significativo a partir das construções discursivas. O caminho aberto por Marx, e seguido por outros teóricos, vê a ideologia como um fator de dominação. Gramsci amplia os horizontes, tratando a ideologia como componente da realidade e, como tal, abarcando todas as classes. Em Althusser vamos encontrar os dois caminhos: enquanto fator de dominação (efeito de ilusão) e enquanto visão de mundo (efeito de alusão). Se, por um lado, a trajetória teórica apresentada já apontava elementos inconscientes, em todos eles o edição nº 12, abril/2010 Este ensaio faz parte das reflexões contidas no livro Universidade e a fantasia moderna: a falácia de um modelo espacial único publicado pela Editora da Universidade Federal Fluminense em 2001. São reflexões oriundas de minha tese de doutorado em História, defendida nessa mesma Universidade. Graduado em Arquitetura e Urbanismo, minhas preocupações se direcionam a diferentes discursos, em especial os discursos sobre a cidade. Pensar sobre o indivíduo em seu contexto cultural é inseri-lo num campo de paradigmas transdisciplinares que busquem romper as barreiras de um conhecimento compartimentado. Hegel já nos apontava que mesmo na razão universal o indivíduo Cadernos UniFOA Position “on the border” edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 88 inconsciente foi tratado como contradição ou ambivalência. Os estudos lacanianos, aprofundados por Slavoj Zizek, na direção de compreender como se estrutura a ideologia, vão contribuir diretamente para a correlação entre ideologia e inconsciente, tendo na experiência linguística um eficaz elemento de conhecimento (entendimento) de ambos. Parece-me assim, ser impossível retirar da realidade a carga ideológica que a compõe. Como proceder, então, à análise de determinada realidade? Como interpretar suas relações? Podemos aproximarmo-nos de uma realidade pura? Ela existe? Talvez o caminho não deva ser propriamente esse. O desafio encontra-se em identificar a maior e mais complexa gama de representações, ou antes, as variações de representações de uma mesma realidade, identificando-se os elementos dominantes e os dominados, e neles - num sentido hegeliano suas contradições e suas oposições. Na concepção marxista, argumenta Zizek, atribui-se à ideologia uma “certa ingenuidade constitutiva: a ideologia desconhece suas condições, suas pressuposições efetivas, e seu próprio conceito implica uma distância entre o que efetivamente se faz e a ‘falsa consciência’ que se tem disso [eles não sabem o que fazem mas o fazem assim mesmo]” (1992: 59). Essa concepção é ampliada por autores da Escola de Frankfurt na análise crítico-ideológica, que tem como finalidade “detectar, por trás da universalidade aparente, a particularidade de um interesse que destaca a falsidade da universalidade em questão: o universal, na verdade, está preso ao particular, é determinado por uma constatação histórica concreta” (Idem). O estudo de Bakhtin (1986) aponta para a potencialidade da análise de um momento histórico a partir dos discursos nele produzidos. Pela linguagem, apreende-se a síntese do sistema ideológico. Tanto o que se encontra mais cristalizado, quanto o que de novo anuncia-se. O autor dá um passo à frente, em relação às correntes linguísticas, ao incorporar à linguagem fatores da realidade concreta, das representações, e do psiquismo individual. Incorpora ação, pensamento e emoção, porém ele próprio afirma que “a língua não é o reflexo das hesitações subjetivo-psicológicas, mas das relações sociais estáveis dos falantes” (BAKHTIN, 1986: 147), ou seja, Bakhtin parece incorporar apenas as emoções conscientes, deixando de fora as emoções que não afloram à consciência do falante, mas que podem também ser percebidas por outrem em sua fala. “Assim, nas formas de transmissão do discurso, a própria língua reage à personalidade como suporte da palavra” (1986: 188); só que além de reagir, ela também pode deixar escapar coisas que são inconscientes. Os atos falhos, os lapsos,..., que Freud já nos apontava. Jacques Lacan nos dá subsídios para flagrar a ideologia através da linguagem, pois desloca a ênfase dada ao sentido. Para ele, o importante não é o significado, mas o significante (a parte material do signo); e que é na relação entre a metáfora e a metonímia que residem suas essências: Com isso, o autor quer dizer que o desejo inconsciente, que supostamente constituiria o núcleo mais oculto, escapa justamente na tentativa de disfarçar esse núcleo. Escapa, torna-se exterior, só que “disfarçado”, e aí entram os mecanismos de deslocamento e condensação presentes nas metáforas e metonímias. Por isso, devemos ir do pensamento às palavras (que é uma expressão do próprio Lacan): fugir da tentativa de entender o que está oculto no pensamento, e sim aquilo que pode ser aclarado a partir das palavras. Entender o processo pelo qual o sentido oculto disfarçouse através de determinada(s) forma(s). Podemos amparar-nos também em Michel Foucault (1996) quando propõe uma análise a partir das relações do poder com o saber e destaca as aceitações ou negações de discursos como exclusões (ou não) a partir das quais é exercido o poder, na tentativa de dominar seu acontecimento aleatório. Uma dessas funções de exclusão discursiva é a interdição que determina o que pode ou não ser dito. A teoria lacaniana aponta-nos que o desejo (de poder, de saber, ou qualquer outro) apresenta-se de forma irrestrita. A estrutura de formação do indivíduo, e inerente a ele, assenta-se, no limite, no desejo de apoderar-se do todo. Como o todo é inalcansável, resta-nos sempre o sentimento de falta. Esse sentido de b c... a = a estrutura do sujeito lacaniano b = os arquétipos jungianos c = as características singularizadas (padrões nacionais, diferenças culturais, diferenças de gênero, ... O núcleo duro da identidade não pressupõe subtrair as singularidades em favor dos universais. Seria buscar as diferenças no interior de certas invariantes. Essas diferenças, por sua vez, são dadas não apenas por variantes individualizadas, mas também por contextos culturais e históricos particularizados. Sugestão gráfica para a Identidade, segundo subconjuntos: As linguagens estruturam nossa percepção e posicionamento no mundo. Então, através dos discursos podem-se flagrar indícios de como a realidade está sendo social e particularmente construída. Sejam os discursos verbais, sejam os não verbais. Meu propósito final é o estudo da cidade e das práticas culturais. A cidade pesquisada através: do discurso jornalístico (e as construções identitárias que ele produz); do discurso pessoal (e possíveis constatações da incorporação de um discurso técnico “competente”); do discurso não verbal (através das imagens veiculadas e através dos usos e formas de apropriação dos espaços); da identificação de alterações no uso (e/ou consumo) da cidade em face das novas tecnologias de informação e meios de comunicação que operam sobre as expectativas e percepções dos usuários da cidade; do reconhecimento dos sentidos de pertencimento através dos quais uma sociedade pode reconhecer-se. Com base nos estudos do alemão Peter Sloterdijk, Zizek alerta-nos de que nem mesmo essa análise crítica responde devidamente a esta questão, pois a ideologia funciona cada vez mais envolta por uma “razão cínica”: eles sabem muito bem o que fazem, e o fazem assim mesmo; ou seja, estamos perfeitamente conscientes da falsidade que há por trás da universalidade ideológica, mesmo assim não renunciamos a essa universalidade. A partir desses enfoques, o autor destaca o papel da fantasia, pois “o ‘cínico’, que ‘não acredita nisso’, que sabe muito bem da inutilidade das proposições ideológicas, desconhece, no entanto, a fantasia que estrutura a própria ‘realidade’ social” (ZIZEK, 1992: 61). Como proceder a análise da ideologia levando em conta o imaginário, as fantasias inconscientes? Os estudos, entre outros, de Cerqueira Filho ilustram-nos o caminho possível: “A repetição de certos significantes de que a repressão se apoderou ou ocultou, isto é, reprimiu, é o que deve ser interpretado” (1988: 27), pois em todo ato de fala, o “discurso 89 edição nº 12, abril/2010 a onde a e b são comuns a todos os indivíduos, c, d, e... são próprios de determinados grupos. Cadernos UniFOA falta que estrutura o imaginário (o desejo, ou o núcleo do desejo) disfarça-se recorrentemente, escapando independentemente da censura consciente. Escapa justamente na tentativa de realização de um desejo maior (e anterior); escapa-nos como mecanismo de superação da angústia de tudo querer. O que procurarei metodologicamente fazer, e consubstanciado pelas reflexões anteriores, é analisar as produções discursivas a partir de três níveis: o claramente dito (cuja veracidade é facilmente confrontável com a simples constatação da realidade); o não dito (o ideológico não evidenciado no discurso, mas resgatável –com o respaldo da Históriaenquanto intenção velada); e o interdito (ou seja, as fantasias “proibidas” de aflorar conscientemente, mas que escapam através dos mecanismos da própria língua –as metáforas e metonímias) (RODRIGUES, 1998s). E busco sempre como pano de fundo a constituição da Identidade. A identidade cria amarras no indivíduo (no sujeito) as quais permitem que ele persiga caminhos plurais mas com direção clara, de modo que não fique “voando sem rumo”. Sem identidade, o indivíduo, muitas vezes, fica sem clareza de seus desejos e aspirações, sendo, desse modo, sujeito a que guiem suas motivações externamente. 90 consciente, atividade da imaginação, se deixou penetrar sob uma forma velada, incompreensível, pelo discurso inconsciente” (1988: 26). Lacan reafirma colocações já presentes em Freud de que, como maneira de revelar o inconsciente, podemos utilizar os sintomas que afloram na linguagem, nas figuras de metáfora e metonímia. Zizek desloca conceitualmente a Ideologia. Ela não mascara a realidade e sim o real do desejo (da fantasia), ou seja, a ideologia é uma esfera intrínseca da realidade. O autor aborda a questão segundo a tese lacaniana ao dizer que sempre existe um “núcleo sólido”, um “resto” que persiste (o Real é concebido como aquilo que “sempre retorna ao mesmo lugar”), e que a única maneira de nos aproximarmos desse “núcleo sólido do Real” é através do sonho; o mesmo que acontece com o “sonho ideológico”. “A única maneira de romper com o poder de nosso sonho ideológico é confrontar o Real de nosso desejo que se anuncia nesse sonho” (ZIZEK, 1996: 325). edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA A ideologia (...) é uma construção de fantasia que serve de esteio à nossa própria “realidade”: uma “ilusão” que estrutura nossas relações sociais reais e efetivas e que, com isso, mascara um insuportável núcleo real impossível (...). A função da ideologia não é oferecer-nos uma via de escape de nossa realidade, mas oferecer-nos a própria realidade social como uma fuga de algum núcleo real traumático (ZIZEK, 1996: 323). O autor aponta que, já na década de 50, Roland Barthes (em Mitologias) propunha a noção de ideologia como “naturalização da ordem simbólica”, querendo com isso alertar para um tipo de percepção da realidade que “reifica os resultados dos processos discursivos em propriedades da ‘coisa em si’ ” (ZIZEK, 1996: 16). Através do sonho ideológico, a percepção da realidade é estruturada antecipadamente: percebemos o mundo da maneira pela qual somos levados a percebê-lo. Para Zizek, há uma “oposição entre a ideologia como universo de vivência ‘espontânea’ (...) e a ideologia como uma máquina radicalmente não espontânea, que distorce de fora para dentro a autenticidade da nossa experiência de vida” (1996: 24). Daí a importância da incorporação das ideias lacanianas para a interpretação de nossa realidade social, pois a realidade mascara o real do desejo. Observem que há aí uma inversão relevante, pois não é a realidade que é mascarada pelo desejo, e sim a realidade é que mascara o desejo. E esse núcleo recalcado do desejo “escapa”, tanto através do mecanismo do sonho, quanto através do mecanismo da linguagem. Por Jacques Lacan, temos a fantasia articulada à estrutura da repetição -desejo não satisfeito que se manifesta de maneira recorrente- e que o modo de nos aproximarmos do núcleo desse desejo é através das metáforas e metonímias (passar do pensamento às palavras). Por concordar com o autor, sou levado a me contrapor às análises que Umberto Eco faz sobre a metáfora como expressão de um tempo: Quanto mais original tiver sido a invenção metafórica, tanto mais sua geração terá violado cada um dos hábitos retóricos precedentes. É difícil produzir uma metáfora inédita com base em regras já adquiridas, e toda e qualquer tentativa no sentido de prescreverem-se regras para produzir uma in vitro fará com que se gere uma metáfora morta, ou excessivamente banal (ECO, 1995: 113). Sou levado a discordar, pois, como veremos a seguir, as metáforas -assim como as metonímias- permitem, por meio de seus significantes (e não de seus significados imediatos do texto), aproximarmo-nos das fantasias inconscientes do “falante”, não tendo necessariamente o vínculo que Eco tenta estabelecer. Cabe, neste momento, conceituar termos e expressões que apresentam significações específicas, quando utilizadas neste trabalho. Metáfora e Metonímia são figuras de linguagem definidas, de modo singular, por, respectivamente: comparação; nomear uma coisa por outra, tomando a parte pelo todo ou o todo pela parte. Roman Jakobson será o linguista que melhor subsidiará a reflexão lacaniana, pois tira das metáforas e metonímias seus laços estritos à gramática, ligando-as relacionalmente uma a outra, e apontando-as como um dos princípios básicos do código verbal: (...). Quanto à metonímia, remete menos de um termo para outro, do que marca a função essencial da falta no interior da cadeia significante: a conexão dos significantes que permitem operar ‘a transferência’ daquilo que não deixa de faltar num discurso, ou seja, um prazer definitivo (DUCROT, TODOROV, 1974: 416-417). metáfora e metonímia são, assim, as expressões mais condensadas dos processos desenvolvidos sob as relações de similaridade e de contiguidade. Ou ainda, são os resultados explícitos de démarches inconscientes, ancorados nos dois eixos básicos presentes no código expressional humano, verbal ou não verbal (KATZ, DORIA, LIMA: 1971, p. 208). Condensação e deslocamento são conceitos que Lacan toma de Freud e associaos, respectivamente, à metáfora e à metonímia, embora Lacan não as considere isoladamente: é a metonímia que torna possível a metáfora. condensação, é a estrutura de sobreimposição dos significantes onde a metáfora se origina deslocamento, (...) essa virada da significação que a metonímia demonstra e que, desde seu aparecimento em Freud, é apresentada como o meio mais eficaz de que dispõe o inconsciente a fim de burlar a censura (LACAN, 1978: 242). O “simbolismo que se exprime na metáfora supõe a similaridade, a qual é manifestada unicamente pela posição”. Lacan alerta, no entanto, que não se pode não considerar a dimensão sintática, pois a palavra (tomada por seu simbolismo) “perderia toda espécie de sentido se baralhássemos as palavras em sua ordem.” A centelha criadora da metáfora não jorra da apresentação de duas imagens, isto é, de dois significantes igualmente atualizados. Ela jorra entre dois significantes dos quais um substituiu o outro tomando-lhe o lugar na cadeia significante, o significante oculto permanecendo presente pela sua conexão (metonímica) com o resto da cadeia (LACAN, 1978: 237). Um novo conceito foi aí introduzido, peguemos sua definição. Cadeia significante: “anéis formando um colar que se enlaça no anel de um outro colar feito de anéis”. “De edição nº 12, abril/2010 “Eis o que se neglicencia quando se fala de simbolismo -a dimensão ligada à existência do significante, a organização do significante (LACAN, 1985: 250). Cadernos UniFOA Charles Peirce, lógico da virada do século XIX para o XX e fundador da teoria dos signos, verá, também, a metáfora como transferência do nome pela similaridade dos sentidos, e a metonímia como transferência pela contiguidade dos sentidos. Lacan, no entanto, desloca a ênfase dada ao sentido. Para ele o importante não é o significado, mas o significante (a parte material do signo); e que é na relação entre a metáfora e a metonímia que residem suas essências: • metáfora: substituição do significante recalcado, relegado ao nível de significado para aquele que o representa; • metonímia: combinação de significantes onde o discurso manifesto, suprimindo o essencial, compõe sua unidade tranquilizadora, posto que ilegível. Consideremos as definições de Ducrot & Todorov para depois dar a palavra ao próprio Lacan. Segundo esses autores, para Lacan: a condensação é uma metáfora, em que se diz para o sujeito o sentido recalcado do seu objeto, e: o deslocamento é uma metonímia: onde se marca que é o desejo, desejo de outra coisa que falta sempre. Porque o que implica estas duas fórmulas é que não chega, para fazer um tropo, pôr uma palavra no lugar de outra em virtude dos seus significados respectivos. A metáfora, muito mais precisamente, é o aparecimento numa cadeia significante dada de um significante vindo de uma outra cadeia, 91 edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA 92 onde o poder-se dizer que é na cadeia do significante que o sentido insiste; mas que nenhum dos elementos da cadeia consiste na significação da qual ele é capaz no momento mesmo” (LACAN, 1978: 232). Ou seja, o autor aponta a recorrência do sintoma e a correlação metáfora/metonímia. Não é nem uma nem outra isoladamente, mas a relação entre elas. Volto ao autor: a estrutura metonímica, indicando que é a conexão do significante com o significante, que permite a elisão pela qual o significante instala a carência do ser na relação de objeto, servindo-se do valor de remessa da significação para investi-la com o desejo visando essa carência que ele suporta. Vejamos como são definidas as instâncias do simbólico, do imaginário e da fantasia. O Simbólico é utilizado por Lacan em duas direções diferentes e complementares: a) Para designar uma estrutura cujos elementos discretos funcionam como significantes (modelo linguístico) ou, de um modo mais geral, o registro a que pertencem tais estruturas (a ordem simbólica); b) Para designar a lei que fundamenta esta ordem: assim Lacan, pela expressão “pai simbólico” ou “nome-do-pai”, tem em vista uma instância que não é redutível às metamorfoses do pai real ou imaginário e que promulga a lei (LAPLANCHE, PONTALIS, 1986: 625). [...] a estrutura metafórica, indicando que é na substituição do significante ao significante que se produz um efeito de significação que é de poesia ou de criação, em outras palavras, de advento da significação em questão (LACAN, 1978: 246). Tentar entender o simbólico separadamente é, de certa maneira, ir contra as próprias ideias de Lacan, pois para ele um significante nunca tem uma ligação fixa com um significado. O simbólico, como já dito anteriormente, compõe a tríade (junto com o real e com o imaginário) que vai compor a realidade. Deve-se considerar a noção de imaginário sabendo que Lacan, ao usá-la, tinha como referência seu estudo a respeito do “estádio do espelho”, no qual o ego da criança começa a se constituir a partir da imagem do seu semelhante. Pode-se, assim, qualificar de imaginário: a) do ponto de vista intrassubjetivo: a relação fundamentalmente narcísica do indivíduo com seu ego; b) do ponto de vista intersubjetivo: uma relação chamada dual baseada em -e captada por- a imagem de um semelhante (atração erótica, tensão agressiva). Para Lacan existe semelhante -outro que seja ego- apenas porque o ego é originalmente outro; Consideremos, sob um outro viés, o papel de destaque do significante. Slavoj Zizek compara-o em Marx e Freud (o fetiche da mercadoria e o fetiche do sonho), só que o autor alerta-nos de que “a questão é evitar o fascínio propriamente fetichista do ‘conteúdo’ supostamente oculto por trás da forma: o ‘segredo’ a ser revelado pela análise não é o conteúdo oculto pela forma (...), mas, ao contrário, o ‘segredo’ dessa própria forma” (1996: 297). Isto é, o essencial não é o que está latente, e sim os mecanismos de deslocamento e condensação que configuram as formas (das palavras, dos sonhos, das mercadorias, ou seja, dos signos em si). A estrutura é sempre tríplice; há sempre três elementos em ação: o texto manifesto do sonho, o conteúdo latente do sonho, ou seu pensamento latente, e o desejo inconsciente articulado num sonho. Esse desejo, [...] consistindo inteiramente nos mecanismos do significante, [...] seu único lugar está na forma do “sonho” [...] (ZIZEK, 1996: 299). [...] c) quanto às significações: um tipo de apreensão em que certos fatores como a semelhança e o homeoformismo desempenham um papel determinante, o que atesta uma espécie de coalescência [junção de partes que estavam separadas] do significante para o significado (LAPLANCHE, PONTALIS, 1986: 304). O sujeito lacaniano (um significante de um sujeito) pode ser encontrado a partir dos enunciados, ou seja, do que é dito. Sua estruturação, a estruturação da identidade, precisa da interdição. Enquanto sujeito desejante, nossa pulsão é na direção do gozo pleno, da satisfação plena dos desejos (o que é inalcançável, pois levaria à “morte 93 edição nº 12, abril/2010 desejos, mas ao mesmo tempo, é aquilo que nos capacita a revelar uns aos outros desejos e nos “comunicarmos” (cf. FINK, 1998: 23). Para Lacan, as noções linguísticas de metáfora e metonímia correspondem aos conceitos freudianos de deslocamento e condensação típicos do sonho. É o que ele denomina de ‘alienação do homem na linguagem’, pois a linguagem embora permita que o desejo se realize, dá um nó nesse lugar de modo que podemos desejar e não desejar a mesma coisa, e nunca nos satisfazemos. É, pois, na e a partir da linguagem que podemos revelar/flagrar esses discursos: discurso do eu / discurso do outro; quando o primeiro é consciente, intencional, alienado pela linguagem e o segundo é inconsciente, involuntário, se vale da equivalência literal (por isso a ênfase no significante). Lacan refuta qualquer teoria linguística estritamente referencial. Para ele, nenhuma palavra tem qualquer valor fixo (exceto em contextos específicos), o que vale é a cadeia de palavras. Enquanto o pensamento se baseia no domínio de sentido, os processos inconscientes não. A análise implica em um processo significativo de decifração que resulta em verdade, não em sentido. O autor propõe três esferas: Real: seria, se fosse possível, um tempo pré-simbólico, pré-linguístico; caracterizase então como um “tecido inteiro, indiferenciado”, sem brechas. Aquilo que não foi ainda simbolizado. Ordem simbólica: lugar de onde parte o pensamento; é aquilo que busca a “divisão do real em zonas separadas, características distintas e estruturas contrastantes”, e ao fazê-lo, “ao neutralizar o real, o simbólico cria a ‘realidade’ ” (FIN K, 1998: 44). Realidade: aquilo que é nomeado pela linguagem e, então, sujeito ao pensamento (simbólico). Cadernos UniFOA Em relação à fantasia -que alguns autores não distinguem de “fantasma”-, Lacan a relaciona diretamente ao imaginário. Seria uma espécie de encenação imaginária na qual o desejo está presente, porém de forma defensiva, ou seja: fantasia ou desejo inconsciente seria uma estrutura apenas subjacente a um conteúdo manifesto. Toda essa discussão aponta para questões que buscam revelar o indivíduo, seus desejos e expectativas. O que significa ser um sujeito? Como se tornar um sujeito (cujo fracasso leva á psicose)? Como promover uma ‘precipitação da subjetividade’? Pela teoria lacaniana, a subjetividade emerge das relações consciente-inconsciente e das relações Eu-Outro. O inconsciente é o discurso do outro; o Outro como linguagem; e também: o Outro como demanda, como desejo (objeto a), como gozo. O eu é o outro imaginário (eu ideal) e o Outro como desejo (o ideal do eu). Para Lacan, o objeto do desejo (“objeto a”) é a causa que perturba o funcionamento das estruturas e que conduz a enigmas. Entendendo o objeto como causa do desejo e não como aquilo capaz de satisfazer o desejo. E a psicanálise, como a entende Lacan, não é um discurso ou fundamento científico; mas algo que permitiria analisar a própria estrutura e funcionamento de outras “disciplinas”, propiciando uma visão sobre suas molas mestras e pontos cegos. A base da psicanálise lacaniana dáse a partir da linguagem (enquanto sistema significante). O discurso não possui uma só dimensão; são vários os discursos presentes ao mesmo tempo. Como esclarece Bruce Fink no livro O sujeito lacaniano, o Eu acha que comanda a realidade; o Eu “acredita que sabe o que pensa e sente, e acredita que sabe por que faz o que faz” (1998: 20). Por que a ênfase nos lapsos? Por que atribuir importância a esse(s) outro(s) discurso(s) – o Outro como discurso - que irrompem e interrompem o discurso do eu? Trata-se de procurar um método de elucidação da lógica que governa essas interrupções, e a partir daí (de uma aproximação do seu entendimento) afetar o Outro discurso e, então, provocar a mudança. O Outro é um intruso que transforma nossos 94 do sujeito”). É na/da interdição (que Lacan coloca na “figura do pai”, do “pai” simbólico) que conseguimos nos realizar como sujeito. Sujeito barrado (ou dividido, interditado). “A divisão é, em certo sentido, a condição da possibilidade da existência de um sujeito e o deslocamento intermitente parece ser sua realização” (FINK, 1998: 70). E é na alienação –a criança assujeitada ao Outro- que o sujeito (ainda em criança) inserese na linguagem, permitindo que o significante a substitua. Essa substituição (que na criança se dá quando da substituição do desejo da mãe por um nome (via linguagem), caracteriza o que Lacan denomina Nome-do-Pai_ (o não do Pai; a proibição; o falo; o significante do desejo do Outro, desejo da mãe). edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA “O resultado dessa substituição ou metáfora é o advento do sujeito como tal, o sujeito como não mais apenas uma potencialidade, um mero marcador de lugar no simbólico, esperando ser preenchido, mas um sujeito desejante” (FINK, 1998: 81). Por fim, e reside aí a importância da Fantasia, do Imaginário, flagrar o inconsciente é penetrar nessa ilusão de totalidade; “ao apegar-se ao objeto a, o sujeito é capaz de ignorar sua divisão”, esclarece Bruce Fink (1998: 83). Meu propósito é a utilização das reflexões tecidas anteriormente como estratégia metodológica para tentar captar, na fantasia que alimenta a modernidade, a falácia ideológica. É necessário, como evidencia Walter Benjamin, “escovar a história a contrapelo”, significando com isso a recusa da ilusão/ fantasia de progresso, ou seja, não nadar no sentido da corrente, que, neste caso, seria a crença no desenvolvimento técnico ilimitado. Evidentemente, Benjamin não nega que os conhecimentos e as atitudes humanas progrediram [...], o que ele recusa [...] é o mito [...] de um progresso da própria humanidade que resulta necessariamente das descobertas técnicas, do desenvolvimento das forças produtivas, da dominação sobre a natureza (LÖWY, 1990: 192). A crítica de Benjamin sobre a modernidade apoia-se, também, nas análises de Marx em O Capital, pelas quais o mal não está no desenvolvimento técnico em si, mas no uso capitalista que dele advém. Ao invés da máquina possibilitar tempo livre para que o homem (o trabalhador) dedique-se, também, a outras atividades (artísticas, científicas,...), ela o leva a ser explorado ainda mais. Para operar a máquina, o homem tem que “adaptar seu movimento ao movimento contínuo e uniforme do autômato”. Poderíamos dizer que não apenas os movimentos, mas também as ideias e a própria criatividade passou, cada vez mais, a apresentar essa característica de automação. Remetamo-nos a Le Corbusier e sua noção da casa como uma “máquina de morar” e chegaremos a essa mesma automação. Creio, não restam dúvidas de que tal ideia corrobora o anonimato da vida urbana moderna. E além. Vejamos a citação de Lacan, que relaciona o inconsciente a uma “máquina de pensar”, onde “a máquina rege o próprio regente”: É numa memória, [...] nossas modernas máquinas para pensar [...], que jaz esta cadeia que insiste em se reproduzir na transferência, e que é a de um desejo morto. É a verdade do que esse desejo foi em sua história, que o sujeito grita pelo seu sintoma [...] (LACAN, 1978: 249). Resta-nos tentar entender (aclarar) o que, ou quem, manipula, por detrás do autômato, os efeitos (produtos) das máquinas. Voltando a Löwy, “a perda da experiência está, assim, para Benjamin, estreitamente ligada à transformação em autômatos: os gestos repetitivos, vazios de sentido [...]” (1990: 194), característica do “mundo (capitalista) moderno. Dominado pela mercadoria, este é o universo por excelência da repetição, do ‘sempre-o-mesmo’, disfarçado em novidade [...]” (LÖWY, 1990: 198). 1. BIBLIOGRAFIA CITADA: BAKHTIN, Mikail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo : HUCITEC, 1986. BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. São Paulo : Brasiliense, 1987. V.1: Magia e técnica, arte e política : ensaios sobre literatura e história da cultura. RODRIGUES, Luiz Augusto F. O sentido da falta no discurso. In: XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE LÍNGUA E LITERATURA, 1998, Rio de Janeiro. Paper. _________ . Universidade e a fantasia moderna : a falácia de um modelo espacial único. 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Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/12/87.pdf> edição nº 12, abril/2010 Por isso é preciso nadar contra a correnteza, é preciso “escovar a história a contrapelo”, e, creio, a maneira mais eficaz é desmistificar a fantasia ideológica inconsciente. _________ . O Seminário. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 1985. Livro 3: As psicoses. LÖWY, Michel. Romantismo e messianismo : ensaios sobre Lukács e Benjamin. São Paulo : Perspectiva, 1990. Cadernos UniFOA Para Benjamin, em 1940, “a ideia de um progresso da humanidade na história é inseparável da ideia de sua marcha no interior de um tempo vazio e homogêneo. A crítica da ideia do progresso tem como pressuposto a crítica da ideia dessa marcha” (BENJAMIN, 1987, V. 1: 222-232). Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] 97 ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA Facudade 2 de Julho - Salvador/BA Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ Faculdade de Ciências - Bauru/SP Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS Faculdade SPEI - Curitiba/PR Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA edição nº 12, abril/2010 Faculdade de Minas - Muriaé/MG Cadernos UniFOA Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG 98 Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG Fundação Santo André - Santo André/SP Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação de Informações - Rio de Janeiro/RJ Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ edição nº 12, abril/2010 Cadernos UniFOA TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP Permutas Institucionais informações sobre permuta [email protected] 99 UNIPAR - Universidade Paranaense - Cianorte/PR UNISAL - Centro Universitário Salesiano - Americana/SP Unisinos - Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo/RS UNIVEM - Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha - Marília/SP Universidade Bandeirante de São Paulo - São Paulo/SP Universidade Brás Cubas - Mogi das Cruzes/SP Universidade Católica de Brasília - Brasília/DF Universidade da Cidade de São Paulo - Tatuapé/SP Universidade da Região de Joinville - Joinville/SC Universidade de Brasília - Brasília/DF Universidade de Caxias do Sul - Caxias do Sul/RS Universidade de Coimbra - Pólo II - Coimbra/RJ Universidade de Cuiabá - Cuiabá/MT Universidade de Marília - Marília/SP Universidade de Passo Fundo - Passos Findo/RS Universidade de Sorocaba - Sorocaba/SP Universidade de Taubaté - Taubaté/SP Universidade do Vale do Paraíba - São José dos Campos/SP Universidade Estácio de Sá - Rio de Janeiro/RJ Universidade Estadual de Maringá - Maringá/PR Universidade Federal de Alfenas - Alfenas/MG Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis/SC Universidade Luterana do Brasil - Paraná/RO Universidade Metodista de São Paulo - São Bernardo do Campo/SP Universidade Paranaense - Umuarama/PR Universidade Paulista - São Paulo/SP Universidade Severino Sombra - Vassouras/RJ Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações - Três Corações/MG UnoChapeco - Centro Universitário de Chapecó - Chapecó/SC UPIS - União Pioneira de Integração Social - Brasília/DF UVA - Universidade Veiga de Almeida - Tijuca/RJ UVV - Centro Universitário de Vila Velha - Vila Velha/ES edição nº 12, abril/2010 Universidade São Francisco - São Paulo/SP Cadernos UniFOA Universidade Regional de Blumenau - Blumenau/SC Formando para vida.