Relatório da viagem entre os Sateré-Mawé do Marau Data: 12/03-11/04 de 2002 Participantes: Arizete, Hugo e Isabel. Fernando se juntou depois em Maués para a sistematização do material. Temas desenvolvidos: “Por uma terra sem Males: A terra que temos e a terra que queremos.” No dia 12.03.02, Isabel, Hugo e Arizete saímos de Manaus rumo ao Marau. No barco, dentre outras pessoas conhecidas encontramos a Marinete, filha de um casal muito amigo: Otavio e Maria, sateré do Marau. Marinete abriu o coração e disse "já fiz tanta besteira, dona Arizete,...agora vou pedir perdão aos meus pais e recomeçar a vida. Preciso de ter minhas coisas, quero trabalhar mesmo que seja em casa de família". Chegamos em Maués no dia seguinte. Depois do almoço saímos a procurar passagem para o Marau. Fomos na casa do índio mas as informações eram de que todos os barcos e voadeiras estavam para a área. Seguimos até a casa do estudante indígena, lá tivemos as mesmas notícias saímos em direção a FUNASA, ao Barrô que nos ofereceu sua voadeira, porém, queria mais gasolina do que o necessário e nós o questionamos e não aceitamos, é claro. Fomos a SUCAM, SEMED e nada. A noite fomos saborear uma deliciosa pizza na casa do Delmiro e com ele acertamos correr atrás de amigos que pudessem nos levar a Vila Nova II. Falamos com o Pe. Dinelli, mas a voadeira da paróquia estava quebrada. Partimos atrás de Pe. Henrique Paganni mas ele estava para o Paraíso, lugar da assembléia dos ribeirinhos, onde estão Odila e Paulo Sérgio. Daí, então, conseguimos um bote com motor 30hp, compramos a gasolina e óleo e às 16:15 saímos Graças a Deus com a colaboração de Delmiro e dois colegas ( Carlos e Elder). No meio da viagem uma boa chuva e um vento forte, como que para acolher Isabel e Hugo...Muitas bênçãos do Deus da Vida. A noite veio...a luz do sol, foi-se. A lanterna muito fraca...ficamos sem saber a direção do caminho. De repente avistamos luzes paramos e subimos até o alto da comunidade e nos disseram que era a vila " Vila Santo Domingos". Conversamos com a professora e alunos e contamo-lhes nossa situação. Que coisa bonita, sem nos conhecerem um jovem nos acompanhou e nos orientou o caminho até Vila Nova II. Durante a viagem alguns sustos... em vários momentos quase batíamos nas árvores que estavam dentro d'água, (época de enchente). Ainda pelo caminho, muitas rabetas com gente voltando...Chegamos à Vila Nova, a assembléia havia chegado ao fim por falta de comida. Cumprimentamos amigos e lideranças que nos acolheram muito bem. Dormimos no barco "Alex", onde encontramos o Otavio, Tuxaua Manoel e sua mulher Felicita (doente), Tuxaua Antônio Tibúrcio, Bito, Colombo, Zamoni, André, Nilson, Pedro Bota, Sebastiana, Zenilda, Iromilde, Angelina, Madalena...Pela noite, ainda, as lideranças reuniram-se com pesquisadores da Universidade do Amazonas e discutiram o projeto de criação de peixes - uma necessidade para amenizar a fome da área. Dia 15 cedo da manhã, mudamos para o barco Nee'ki. Enquanto aguardávamos sua saída, fomos cumprimentar as pessoas que ainda estavam reunidas, tomando sapó no barracão da comunidade. Foi muito bom pois deu para conversarmos sobre nossa proposta de trabalho na área..." A Marcha continua por uma Terra Sem Males". Os tuxauas demonstraram grande interesse, queriam ver as fitas da Marcha Indígena, ( o problema é que éramos passageiros de outro barco e não daria tempo para refletirmos sobre as fitas), aí ficamos de combinar com mais tempo a possibilidade de passarmos em cada comunidade. Já iniciamos com dívidas...A Sra. Zenilda, coordenadora da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (AMISM ), nos chamou em seu barraco e partilhou um pouco do clima da assembléia dos sateré que acabara de acontecer. Ela nos procurou para perguntar se a decisão tomada pela SEMED quanto a rescisão de contrato de professores, por terem menos de 20 alunos estava correta. Nossa resposta foi que não. Mas que procurassem o Conselho de Educação Escolar Indígena para melhores esclarecimento e denúncia, se fosse o caso. Ela nos disse: " Estou muito preocupada com o posicionamento de muitas lideranças, estão de olhos fechados apoiando o governo municipal sem questionar suas atitudes sutis, que aos poucos vai fazendo o que bem quer na educação indígena. O clima entre os sateré estava muito conflitivo, atacando a WOMUPE, dizendo que a mesma não fez nada pelo povo sateré". A Sra. Zenilda estava recolhendo o lixo produzido na área. É uma atividade vinculada ao projeto guaraná. Vimos ela dar um saco de milhitos em troca de duas sacolas de lixo. Na verdade, deveria ser um trabalho de educação ambiental, mas infelizmente não está acontecendo, porém já é alguma coisa. O que é feito com o lixo recolhido?... De barco fomos até terra Nova onde mora a família de Bernardo Alves, coordenador da Organização dos Professores SateréMawé dos Rios Marau e Urupadi (WOMUPE ). Encontramos toda a família do tuxaua local Sr. João Paulo que nos acolheu com muito carinho. Luzia nos ofereceu um gostoso café com beju de tapioca. Reforçada nossas energias fomos tomar banho e lavar roupas. Conversamos com os presentes sobre o convite que chegou para o Bernardo participar do IV Encontro de Teologia Índia no Paraguai. Todos gostaram e Bernardo aceitou com muita alegria. Mataram uma galinha caipira e Cristina preparou um almoço especial: embebido de carinho e festa. Era muita gente e, como na multiplicação de Jesus, deu para todos. Mais tarde nos sentamos com Luzia (catequista), Deusdete (agente de saúde), Jacob, Cristina, Bernardo ( professores) e Sr. João ( tuxaua de Terra Nova) para organizar, planejar nossos trabalhos e dividir as tarefas. No finalzinho da tarde...um copo de vinho de cupuaçu e boa noite. 1 Dia 16 após o café iniciamos o trabalho. Marineide, esposa de Deusdete assumiu os serviços de cozinha. Luzia e um grupo de crianças e adolescentes assumiram os cantos em sateré. Bernardo fez a abertura e o tuxaua acolheu os presentes. Hugo relatou, em guarani, o mito "Por uma Terra Sem Males". Lemos o Mito em português. A pedido, Hugo cantou em guarani. Nos organizamos para registrar o momento com uma foto do grupo. Em seguida o Sr. João Paulo relatou o Mito Sateré-Mawé; os mais velhos o ajudavam lembrando e acrescentando algo mais. Deusdete contribuiu puxando o assunto referente a saúde dos sateré. " Nossos antepassados cuidavam bem de sua saúde, respeitavam a fala dos mais velhos. Quando diziam para não comer alguma coisa, não comiam, não. Conheciam todas as ervas e plantas medicinais e sabiam para que tipo de doença servia cada uma e curavam esses males, não tinha farmácia e era bom. Mas agora o povo só quer remédio do médico. Poucas pessoas tem remédio caseiro em casa. Muitos , eu acho, que tem preguiça e fazer o remédio. Mas nós vamos organizar a nossa plantação. Tupana vai ajudar!"...Luzia animou a reflexão e partilha do como os Sateré viviam a sua religiosidade antes do contato e depois até os dias de hoje "...". Cristina fez memória no que diz respeito a educação e disse: " antigamente a educação dos sateré era ensinada, aprendida e vivida na escola da vida do dia-a-dia. Escola onde os mais velhos, grandes sábios, transmitiam seus conhecimentos aos mais novo, realmente no cotidiano da vida, na prática do ensinar mostrando e do aprender fazer, fazendo". E questionou: "Hoje o modelo de educação escolar do governo não respeita a educação diferenciada conquistada na constituição federal. A Secretaria Municipal de Educação quer que nós professores indígenas faça nossos trabalhos igual os professores da cidade. Será que isso é bom para o povo Sateré-Mawé? Nós sabemos que não e temos que lutar pela educação que queremos"...." Uma coisa interessante nos chamou a atenção: Marineide chegou com uma pequena panela e distribuiu um pedacinho de peixe para cada participante. Realmente um verdadeiro milagre, a multiplicação do peixe...não sobrou peixe é verdade, mas a panela e o melhor aconteceu: todos comemos! No final do dia, debaixo de uma árvore e muito vento nos sentamos e avaliamos nossos trabalhos e Jacob, o secretário oficial dos trabalhos registrou o seguinte Deusdete disse: " o trabalho de hoje foi muito importante por que o Mito nos dá a idéia de observar a nossa realidade para melhorar e continuar os trabalhos e as idéias na comunidade. Esse trabalho veio na hora certa e deu mais animação na comunidade. Vamos continuar na prática. Vamos escolher um dia de semana de segunda a sexta, para que os velhos possam transmitir aquilo que tem de sabedoria mitológica e fazer juntos, outros trabalhos". Cristina: Gostei muito do trabalho em equipe. É bom que continuemos com esse trabalho que estamos fazendo, os mitos que foram contados tem muito valor. É preciso estudar mais para provocar o entendimento da realidade que estamos vivendo. A ausência do conhecimento do mito causa motivos de discórdia na comunidade". Tuxaua João Paulo: "o trabalho está sendo muito interessante uma vez que nos dá outra forma de conceber os novos conhecimentos para melhorar a vida na comunidade. Precisamos melhorar na alimentação para os convidados e o sustento do trabalho". Bernardo: Percebi que o povo desta comunidade ainda não está bem entendido sobre este trabalho sobre o mito. É importante que se de a continuidade deste trabalho, por ser o mesmo, um modo que favorece ao povo um incentivo de descobrir melhores meios de sobrevivência na comunidade do povo Sateré-Mawé. Sra. Jovelina: " Muito bom. Se continuar assim será muito bom". Hugo Guarani: " Está sendo impressionante ver o como os adultos lidam com as crianças, a forma de trabalhar. Apesar de estar longe de minha casa sinto-me em minha casa. Estou muito contente. Fico olhando as casas, o jeito das pessoas e acho muito parecido com a minha realidade." Isabel Gazquez: " Muito interessante. O gesto carinhoso de abraçar, de trabalhar, de se dar com outras pessoas, o acolhimento e o carinho entre as pessoas. É muito lindo ver a forma de rever os mitos, eles são caminhos de esperança, de vida. Eu não tenho mitos como vocês e sinto pena por isso, pois os mitos são orientações e dão sentido as nossas vidas. Sinto-me agradecida por estar aqui. Mesmo não entendendo a língua sateré, senti-me comunicando através da aproximação e dos carinhos das pessoas". Enedina: “É bastante importante o que estamos fazendo e é bom continuar pois é proveitoso para o bem comum de todos". Marineide: " Apesar de não acompanhar tudo, acredito neste tipo de trabalho. Vale a pena continuar". Arizete: "Agradeço a Tupana pela oportunidade de estar aqui com vocês. Outra coisa muito importante neste trabalho foi que conseguimos reunir, planejar e distribuir as tarefas entre o tuxaua, agente de saúde, catequista, professores e nós da equipe itinerante. Isso faz a gente acreditar que é somando que conseguimos vencer as dificuldades. Que juntos o trabalho fica mais leve e rende mais para todos". Luzia teve de ir à roça mas depois disse: " Achei bom. Todos ajudaram e o trabalho saiu bom. Só que ainda temos de falar mais entre nós das coisas vividas pelos nossos antepassados" Dia 17 pela manhã, muitos idosos foram à Maués receber suas aposentadorias. Com eles foram, também, pessoas mais jovens. Os barcos dos regatões passaram super lotados de passageiros, com isso eles livram todos os gastos com combustíveis que fazem dentro da área. Mais tarde, chegou a família do Sr. Alípio, caçador reconhecido na área. Reunidos para louvar o Senhor, a Sra. Luzia catequista preparou os cantos em Sateré, sua própria língua, e com ela toda a comunidade canto. Na mesa do altar como símbolo do trabalho, de sua cultura, foi colocada uma peneira em processo de 2 tecelagem para a comunidade refletir sobre a importância de todos participarem na sua construção. Depois do evangelho, o Jacob Moi Sateré declamou sua própria lamentação: "Oh! grande pai, quando é que o meu povo vai entender que para ser uma nação com uma educação e saúde de boa qualidade, com eficiente autosustento, deve criar coragem e lutar em favor dos seus próprios interesses políticos? Pai, é muito triste ver e sentir a ilusão do meu povo pelas coisas miseráveis que o governo oferecesse em troca de sua dependência." Foi colocado um papelógrafo onde os participantes refletiram :1. Quais são as coisas ruins presentes em nossa terra? 2. Quais são as coisa boas presentes em nossa terra sem males? Foi muito boa a participação dos adultos, adolescentes e crianças. E destacamos as seguintes: As coisas ruins presentes em nossa terra. • Ausência de coragem nas pessoas manifestarem diante do opressor. para se • Falta de seriedade e compromisso na Educação, Saúde indígena garantida na Constituição. • Falta de mi'u (comida). • Falta da realização dos projetos de auto-sustentação. • Falta mais frutas. • Desunião. • Dependência política. • Desconfiança. • Professores e agentes de saúde Sater-Mawe • Estudo • Floresta • Rio • Terra para plantar e viver • Técnica de tecer, pescar, caçar, pintar, construir. • Ilusão, tristeza, enganação, governantes e lideranças. dos Sateré pelos As coisas boas presentes na Terra Sem Males: • • Reunião. Convivência pacífica na área demarcada SatereMawe. • Partilha • Trabalho • Cultura • Língua Para fechar esse momento, colocamos todas as coisas boas no altar do Nosso Senhor, para que Ele passe a multiplicar e fortalecer ainda mais essas coisas. Colocamos, também, as coisas ruins para que ele possa nos ajudar a superar nossas dificuldades e assim termos uma vida fraterna. ( do relatório do prof. desempregado, Jacob). Um outro momento marcante na celebração da palavra foi a benção dada em Guarani, Espanhol, e em Sateré. Em seguida a Sra. Marineide chegou com uma panela e distribuiu um pedacinho de carne de paca e muito caldo com farinha. Foi uma grande festa. Após o almoço prosseguimos elaborando os desenhos a partir das perguntas trabalhadas em pequenos grupos comentando-os entre eles. Depois tivemos aula de Sateré com luzia e Lecinira onde gravamos palavras e frases. No final da tarde Luzia nos convidou para pescar. São Pedro desconfiou e mandou uma forte chuva e realmente espantou os peixes, mas aproveitamos para dar uma volta de canoa pelo rio Marau. Em seguida um bom banho... foi o primeiro banho do Hugo. A noite fomos visitar família de Bernardo e Cristina. Podemos observar a grandeza de coração deles, além de seus seis filhos, tem mais dois de criação e mais vários sobrinhos que moram com eles. Para completar a família estão criando a filha da onça que Bernardo matou. De volta à casa de Luzia, ela nos preparou uma janta com arroz e piracuí. Dia 18 foi muito movimentado. Cedo da manhã, Luzia espichou a malhadeira no rio e tomamos mais um dos bons banhos. Depois do chá de folha de capim-santo com beju de tapioca, Isabel e Arizete fomos na roça com Luzia buscar milho, mangarataia e folha de tajoba para a comida do jabuti. Hugo foi no mato com Bernardo, Jacob, Moiseniel e Orlandinho buscar açaí, caçar e pescar. Quando voltamos, tomamos outro banho, fomos visitar a casa de farinha, onde estava a jovem- mulher Daize trabalhando. Sozinha ela amassava a massa, colocava no tipiti para espreme-la, depois penerá-la, fazer o fogo e enfim torrar a farinha. Em seguida, Isabel e Lecinira foram ver a malhadeira e encontraram três peixinhos, que para uma área escassa de peixe, já foi bastante!. Isso ajudou o almoço que já tinha milho assado. Enquanto esperávamos os caçadores, Cristina, Luzia traduziam as frases escritas em sateré, escritas nos trabalhos individuais. Muito mais tarde chegaram os caçadores, cansados mas com muito açaí. Chamaram a mana Leuda para preparar o vinho de açaí. Hugo relata um pouco da experiência na busca de alimentação: "Saímos cerca de 8 horas da manhã para a busca de açaí, depois de caminhar cerca de três horas chegamos a lugar para recoger las frutas. Al principio, nos desesperamos porque habia poca açai, pero despues vino el milagro, es decir, em contramos em abundancia llenamos las dos sacolas y un panero, pesando las três juntas vendria a ser unos 30 kilos de açai, con esa cantida ya podriamos regresar a la comunidad y emprendemos la vuelta que seria cerca de três horas de caminhada. El caminho es mas bien una picada, ibamos haciendo em la marcha y al mismo tiempos sucedia muita cosa, como por ejemplo, pegar peixe con anzol, ver volar inambu, reirce de algunos compañeros caidos. cuando llegamos a la casa nos recibieron muy contento la gente pegando unos fotos em el momento. otro signo significado fue encontrar todo preparado como para servirse tucuman y mas tarde un rico cumanda con arroz y comentar sobre el viaje y enseguida nomas se inicio el preparativo para el suco de açai, ahi fue un momento comunitario muy lindo vendria hacer el adelanto del reino de dios biblicamente el milagro sucedio, porque cerramos el dia con una bonita celebracion, es decir, ante que se tomara el vinho cada uno expreso su agradecimiento al dios tupa y tambien quemaron los signos negativos como un apto de repudio y 3 festejaron los positivos y por ultimo saboreamos el equisito vinho preparado por las manos santa de las madres del lugar. Como a celebração terminou tarde aproveitamo a noite com o céu estrelado para tomarmos mais um banho com as mulheres de Terra Nova. Dia 19 enquanto esperávamos o barco, Luzia sugeríamos algo sobre a celebração da vida iluminada pela palavra de Deus (bíblia) e pela palavra dos velhos sábios (mitos). Sugerencia para celebração de la Palavra. • Escolher m mito ou uma historia contada pelos mais velhos, depoimentos de lideranças indígenas. • Una leitura bíblica. Comentários, animados pela catequista e auxiliares. • Cantos em Sateré e português. • Preces feitas pelas próprias pessoas • Pedir perdão uns aos outros pelas falhas que cometemos (expressando em voz alta) • Cantar a alegria e certeza de ser perdoado/a por Deus. • Agradecer a Deus pelas coisas e famílias que Ele nos deu. • O que vamos fazer de bom, nesta semana para o bem de nossa terra sem males. • Observação: Preparar o ambiente, com símbolos significantes para a comunidade o altar, como memória do Cristo presente. A luz, Cristo orientando, guiando nossos passos. Com Cristina, Bernardo, Jacob, Enedina, Marineide, Luzia e outros presentes, depois de identificados os maiores problemas de Terra Nova decidiram entrar em ação para mudar a situação. Vejamos as atividades que se propuseram a fazer: - Uma roça comunitária. Durante uma semana todos irão trabalhar juntos para derrubar e limpar a capoeira. Em seguida professores, alunos e seus pais, agente de saúde, tuxaua irão fazer o plantio. A professora planejará suas aulas tendo como conteúdo esses trabalhos e os pais acompanharão no desenvolvimento das mesmas. Depois organizarão os dias para a limpeza da comunidade. Domingo continuará sendo o dia da celebração da Palavra do Senhor mas a partir da vida do dia-a-dia, com suas lutas alegrias e tristezas. Aproveitarão, também, para brincar, cantar e programar momentos culturais comunitários. Irão construir um barracão para os mais velhos ensinarem artesanatos e para trocarem as experiências vividas...Querem que os mais velhos contem os mitos aos mais jovens e crianças. O carinho dos moradores nos chamou atenção e mexeu com os nossos corações. Como sabiam que íamos viajar chegaram na casa onde estávamos para se despedirem...para o almoço tomamos mais um pouco de açaí, macaxeira assada e quando estavam aprontando o tacaca, o barco chegou. Bernardo disse aos donos do barco: "A ir. Arizete quer uma carona até Nazaré. Os donos do barco ficaram agoniados e disseram que só cabia três pessoas ( num barco de bom tamanho e praticamente vazio). Uma pessoa do barco falou:" depressa, depressa já estamos atrasados. Bernardo ficou chateado e respondeu em tom de voz firme:" Não precisa pressa, nós estamos com tempo). Aí os donos do barco desligaram a máquina e fomos buscar nossas coisas. Que clima desagradável...O caminho do rio estava um tanto difícil e estreito para o tamanho do barco navegar. Chegando em Nazaré fomos acolhidos por muitas pessoas que se aproximaram do porto. Com elas fomos até a capela onde estavam ensaiando cantos animados ao som de violões. O padre falou da programação e insistia, veementemente, para que cumprissem o horário por ele determinado. Às 17:00 preparação do batismo ( pais e padrinhos de quinze crianças), depois confissão e as 19: reza do terço e missa. No dia seguinte o batismo as 07:00hs da manhã, pois iriam embora às pressas para outras comunidades. Bernardo os acompanharia num bote com rabeta. Nossa equipe reuniu-se com os professores do local para dizer-lhes da nossa proposta de trabalho, ouvir suas opiniões a respeito e marcar um horário para planejar, organizar e dividir as tarefas e juntar os esforços de todos na construção da oficina " A marcha continua por uma terra sem males". Dia 20 a comunidade reuniu-se com os professores e lideranças para o início do ano letivo, início das aulas. Cada professor comentou sobre o resultado das aulas do ano passado e todos ressaltaram o grande índice de reprovação. Organizaram o calendário de limpeza da escola. Distribuíram o material escolar. Uma coisa nos chamou atenção, em vez da SEMED enviar merenda escolar mandou muito sabão em pó e em barra, água sanitária e pano para limpar o chão e vassoura de piaçava para um lugar onde os sateré fazem muita vassoura de cipó e o chão da escola parece mais com chão batido. A pergunta era porque esse material, se o piso da escola é de um cimento tão ruim que uma passada do saco no chão acaba com ele e não teria condições de manter o gasto com sacos durante mais tempo. Depois que os professores e lideranças falaram nos chamaram para nos apresentarmos e dizer-lhes do nosso trabalho e assim o fizemos. Gostaram da idéia, nos perguntaram do horário e respondemo-lhes que estávamos lá para programar com eles e eles é que nos diriam o horário e tempo. Todos queriam ver as fitas da Marcha Indígena. Uns queriam ver logo pois iriam viajar outros queriam a noite. Teve toda uma discussão e decidiram ver as fitas imediatamente. como já era tarde do dia houve pouco comentário e deixamos para continuar a noite. À tarde nos reunimos com os professores para planejarmos as atividades. Decidiram que uns ajudariam os outros nos diferentes horários de aula e cada professor animaria o seu horário. Euzébio que participou da reunião e viajaria no dia seguinte para Maués, onde está trabalhando no setor de educação indígena, assumiria os trabalhos de reflexão sobre a marcha no horário da noite. Exatamente as 19 horas e pouco minutos recomeçamos as atividades. O professor Euzébio motivou os participantes e passamos novamente uma fita da Marcha. €m seguida apresentamos o cartaz do Gildo terena explicando o fato acontecido na Bahia em 22.04.00. Entregamos o livro e mensageiros sobre a marcha. Aí Euzébio convidou as pessoas a expressarem seus sentimentos sobre a Marcha. Foi 4 interessante a participação. O que mais tocou foi realmente a atitude grosseira, estúpida e violenta da polícia. A única mulher que falou alto, Sra. Margarida, focava várias vezes com sua lanterna para olhar bem o cartaz com o Gildo Terena diante da polícia. Ainda passamos a fita Ameríndia. • Comentários do vídeo. • O professor Euzébio falou: " Nós comunitários precisamos dar nossa participação, mostrar e dizer que não aprovamos nosso sofrimento, vamos lutar pela nossa terra sem males". • O professor Gelson falou: "É muito triste e humilhante ver os nossos companheiros e irmãos índios sendo maltratados pelos opressores. É também vergonhoso". • O professor Nilson comentou: " Nossas lideranças Sateré-Mawé participaram da Marcha. Mesmo sabendo que era perigoso elas foram. Participamos com elas no sofrimento causado pelas bombas jogadas pelos policias". • Maurício, representante do tuxaua disse: " Todos nós estamos sendo ameaçados pelos brancos. Ninguém gosta da gente por causa do que é nosso. Por isso devemos lutar como os nossos parentes índios, de outros lugares, que lutam por causa de suas terras". • O senhor Antônio, agente de saúde falou: " Nós Satere-Mawe estamos nos entregando pelas coisas bonitas que os brancos nos ofereceram. Estamos cegos e surdos. Por isso parece que não temos saída, mas é bom saber que existem muitos pessoas que não estão medindo esforço para lutar pela gente e com a gente. Por isso devemos botar os nossos filhos na escola para mais tarde termos lideranças críticas e competentes". • Casimiro, outro agente de saúde, fala que " O parente Gildo mostrou sua coragem frente ao exército por que ama seu povo. Por isso temos que lutar como ele pelo nosso povo". • Professor Inácio Batista disse: " Temos que prestar muita atenção no filme por que a realidade dos nossos colegas é muito triste. Enquanto que a gente não sofre, ainda, invasão por partes de fazendeiros e garimpeiros. Mas já temos uma invasão muito grande da ideologia política partidária". • A senhora Margarida disse: "É muito feio o que vi, os policias jogaram bombas nos parentes índios. Nós, nunca jamais podemos desistir da luta". • O professor Euzébio disse: "Vai ter um encontro de índio, em Manaus no dia 19 de abril onde será discutido propostas sobre a terra, como divisão do Amazonas e a redução das terras indígenas. Mas isso, nós como índios, juntamente com os nossos parentes, não queremos". • O senhor Isair falou: " Gildo Terena passou grande sofrimento para defender o seu povo. Vamos nos unir a ele e a todos os que lutam defendendo o direito de viver e de viver bem". Dia 21 pela manhã trabalhamos com os professores e os alunos do prof. Inácio num total de 31, de 05 a 07 anos de idade. Os animadores contaram o trabalho que iríamos fazer. A meninada ficou alegre e entramos em ação. Todos fizemos o percurso da Marcha seguindo a exposição das fotos. Inácio repetia em Sateré os comentários gerados a partir das fotos, pessoas e lugares. Foi um pouco rápido mas a participação no desenho surpreendeu. Saíram desenhos belíssimos e significativos. Todos, com ajuda dos professores e alguns pais presentes, identificaram seus desenhos e frases. Para nós foi gratificante e os professores disseram, na avaliação, que gostaram da experiência. Esse primeiro horário foi das 7:30 as 11:45. O professor Nilson dividiu, conosco, o pouco de comida que sua família tinha ( bastante arroz com um pedacinho de jabuti). As 12:00 a turma de Nilson já estava começando com 29 alunos de 7 a 14 anos. Arrumaram a sala em forma de círculo, o ambiente estava simples e bem arrumado, gostoso de trabalhar. O professor iniciou sua aula, escreveu no quadro, os alunos copiaram. Em seguida ele convidou seus alunos a participarem da oficina conosco, Jacob ajudou a explicar o que e como iríamos desenvolver os trabalhos. O prof. Nilson nos convidou para acompanhá-lo no caminho feito pelos Sateré e outros parentes durante a Marcha e, nós ,ajudávamos com as informações. Já houve mais participação tanto na fala quanto nos desenhos. Realmente expressaram o que lhes falou mais forte e a violência policial mexeu, comoveu, irritou, indignou e incentivou o convite a lutar pelo direito, respeito a diferença e dignidade como índios. As 15: 45 encerramos e as 16:00hs entrou em cena o professor Gelsom, até as 18:00hs, com seus 18 alunos de maior idade, entre 15 a 60 anos. Eles já sabiam que iríamos trabalhar juntos. O professor explicou sempre em Sateré. Mais uma vez fizemos o caminho das caravanas. Com essa turma as explicações foram bem mais demoradas. O interesse foi grande. queriam saber mais coisas. Ficavam atentos, curiosos e quando explicávamos as fotos onde apareciam os próprios Sateré, todos se aproximavam ainda mais para ouvir. Olhavam as fotos com muita atenção e minuciosidade. Um segundo momento foi refletir e expressar falando sobre a pergunta levantada: Porque a polícia bateu e jogou bombas nos parentes? E as respostas foram bem parecidas...Somos muitos povos em marcha. Os comentários eram de que acharam bom conhecer outros povos indígenas. Fazem coisas parecidas: usam colares, penas e pinturas. São lutadores. tecem com arumã. Trabalham na roça, andam de canoa, fazem festas, rituais como o da moça nova dos ticuna. Um outro momento forte foi na hora de desenhar. Que mãos pesadas para o tipo de trabalho proposto...sabiam o que queriam desenhar e nesse momento aconteceu o inverso da manhã, foram os filhos e netos que ajudaram seus parentes. Foi um trabalho coletivo e a alegria grande quando aprontaram o material sobre a marcha. Uma surpresa: um ancião fez questão de desenhar "d. Franco, o bispo que estava na luta junto com os, índios na luta por uma terra sem males". Dona Margarida, a anciã que na noite do vídeo saiu focando com lanterna para ver bem o cartaz com Gildo Terena queria desenha-lo, porém, nem com a ajuda de sua netinha conseguiu mas diz ela " Aqui estão os soldados maldosos e feios que maltrataram o Gildo Terena". 5 No final de cada trabalho, professores e alunos organizavam-se para registrar o momento com uma foto, onde apareciam exibindo suas produções artísticas. Depois da janta, nos sentamos como equipe para avaliar nossos dias. Como estou me sentindo pessoalmente e em equipe? Nossa presença e relação com a comunidade. € marcamos o horário da noite para a nossa reza comunitária. Destacamos alguns pontos, Hugo: estou me sentindo muito bem. As vezes fico chorando emocionado. Sinto-me desafiado e os questionamentos brotam sem parar, mas vejo positivo, é como se Tupana quisesse me dizer que devo entregar a minha vida ao serviço deste povo simples. Dessas pessoas que lutam para ter vida. É assim também o meu povo. Tem muita coisa dos guarani parecido com esta gente. Meu relacionamento com as crianças e adultos vai crescendo. São muito carinhosas. Estou muito bem, tocado com tudo o que estou experimentando e vivendo. Pessoalmente feliz e contente com a equipe. Gostei do jeito que a equipe de dialogar com as pessoas para apresentar e discutir o nosso trabalho Isabel: Estou muito contente pessoalmente e na equipe. Sinto em não poder ajudar mais sobre a marcha, sei que fica cansativo para a Arizete mas é que nós não participamos dessa marcha. Mas ajudamos em que podemos. As pessoas estão alegres e fazendo os trabalhos com muito carinho. Os professores ajudando muito, participando bastante. Arizete: Estou vivendo momentos intensos pessoalmente. Feliz por estar fazendo equipe com vocês. Agradecida por ti Jacob, que deixou de fazer tuas coisas para fazer parte da nossa equipe. Obrigada por essa atitude tão bonita. É verdade que estou um pouco cansada. É a 1ª vez que assumimos uma viagem tendo que providenciar barco, gasolina, motorista. Sempre temos sido apenas passageiros ou caroneiros, mas isto nos faz crescer. O jeito simples de Hugo e Isabel deixa-me muito feliz, não são pessoas que criam clima pesado. São esforçados para comer, beber e conviver com as pessoas e suas realidades. Os trabalhos estão indo muito bem, a gente sente o quanto a equipe está contribuindo, na formação dos professores e como nós estamos aprendendo juntos. Isso é bom. Parece que o tempo ainda é corrido para desenvolver esse tipo de trabalho seguindo os passos metodológicos que acreditamos. A Isabel, como a única não índia sabe ter paciência conosco e caminhar junto. O Jacob: eu sempre tive vontade de fazer uma experiência como esta. Agora Tupana me deu a oportunidade de realizar esse meu sonho. Estou muito alegre. Só faltou o pe. Fernando, aí seria mais animado. Nosso trabalho está muito bom, mas devia ser bem melhor se os professores tivessem mais iniciativa como nós da Terra Nova. O pessoal está bem interessado, fico feliz de ver os alunos falando, escrevendo e desenhando bem. Fico alegre mesmo. Dia 22, Alvino, o vizinho que cuidava de nós como um verdadeiro irmão, teve de ir para dentro da mata caçar para a semana santa, mas deixou sobre a responsabilidade do prof. Nilson dividir conosco o pão de cada dia. Na verdade, ele também já vinha fazendo. Pela manhã voltamos à sala de aula com o professor Inácio. Desta vez para trabalhar ! A Terra Sem Males" que queremos. As crianças desenharam depois das explicações do prof. e de Jacob. A idéia de primeiro percorrer o próprio espaço da comunidade para depois desenhar, não deu certo. O mestre se atrapalhou...e só depois fizeram essa atividade, o bom é que serviu para enriquecer a aula. As crianças falavam o que viram e o prof. escrevia no quadro. Porém nos chamou atenção ... o mestre fazia o que sabia, tipo escrevia do jeito que falava em português, nos perguntava sempre quando sentia mais dúvida e nós, felizes em poder ajudá-lo. O maior problema é que ele nos disse:" As crianças acham muito difícil estudar em Sateré...mas na verdade ele também, pelo pouco que vimos; daí um probleminha para ele como professor de alfabetização. Um problema que já foi levantado por outros professores também quanto a insegurança ao escrever para os alunos. É um desafio que a WOMUPE vem enfrentando, sem no entanto, poder solucioná-lo. Mas além disso, falta orientações e acompanhamento pedagógico. As 12:30 chegamos na turma de Nilsom. Ele, um pouco mais dinâmico conseguia motivar seus alunos. Combinou com a turma os trabalhos sobre os Mitos. O Hugo contou o Mito Guarani em Guarani. Empolgou a turma que pediu que ele o escrevesse no quadro para eles copiarem. Assim o fez. O escreveu no papel para que ficasse na comunidade. O professor Inácio, com ajuda de Hugo leu o texto em Guarani. Em seguida Hugo Lorenzo releu seu texto e a turma agradeceu aplaudindo-o. O prof. Nilson, com ajuda de Inácio e Jacob animou os alunos a refletirem e a expressarem seus pensamentos sobre as coisa ruins presentes em nossa terra. Quais são as coisa ruins presentes em nossa terra? E as respostas foram dadas por cada aluno a partir da prática da realidade. Logo após o intervalo voltaram refletindo e identificando as coisa boas presentes em nossa terra. Destacaram as seguintes. O próximo passo foi, cada um, desenhar o que tinha apontado; saíram coisas bem significantes. Com a turma do prof. Gelson, Hugo contou o Mito Guarani. Jacob contribuiu contando o mesmo em Sateré. Hugo e Inácio leram o texto escrito em guarani. Os alunos comentaram dizendo que era uma outra língua. Os professores contribuíram dizendo que a língua Sateré-Mawé tem muito a ver com o guarani e todos riram alegres. Após os comentários, Inácio passou a narrar o mito da Origem da Terra, dos Sateré. A turma estava cansada, parecia não estar muito afim de discutir o mito. E a gente ficou se perguntando se não estávamos invadindo espaços particulares, em hora imprópria. Jacob dizia que não, mas a pergunta continuou. Após a esforçada reflexão o professor Gelson tentou ajudar seus alunos a participarem refletindo e respondendo as perguntas: 1.Quais são as coisas ruins presentes em nossa terra? 2. Quais são as coisas boas presentes em nossa terra? A participação foi bem melhor e realmente disseram mais coisa boas que ruins. Combinamos que no outro dia faríamos trabalhos em grupos ainda menores, de modo que facilitasse a participação das mulheres que se expressaram, pouco em público. Dia 23 deixamos livres pela manhã. Depois do gostoso tacacá fomos visitar as famílias que ainda não tínhamos visitado, e que estiveram nos trabalhos conosco. Foi super gratificante. Sentimos que as pessoas, mesmo com todas as dificuldades são alegres, acolhedoras, sabem oferecer o melhor que podem e têm. Descobrimos o trabalho belíssimo de dona Margarida: tecelagem de redes. Ela tem um tear bem manual e com fios coloridos tece, com muita arte e domínio; orgulhava-se dizendo que é uma das poucas que , ainda sabe tecer. Conversamos com sua nora e filhas para que aproveitassem dessa sábia para praticarem a tecelagem. Elas demonstraram bastante animação e disseram-nos:" Sateré deixou de plantar algodão e não tem 6 dinheiro para comprar fio na cidade". Nós, é claro, as incentivamos a plantarem...elas riram como que dizendo: nós sabemos disso! Outra coisa boa que fizemos foi conversar com o Sr. Maurício pedindo emprestada a sua canoa e rabeta para irmos até o Campo do Miriti, a última comunidade do rio Miriti. Ele, prontamente nos emprestou. Ainda pela manhã o professor Nilsom nos pediu ajuda, orientações sobre o seu planejamento de aula e com muita alegria o atendemos. Na verdade, ele já tinha bem elaborado, é um dos que mais planeja suas aulas, segundo os comentários de seus colegas. Realmente termos trabalhado com ele foi muito proveitoso para nós e para ele, segundo sua avaliação. A tarde acompanhamos o prof. Nilson e sua turma que animada, por ele, desenhou " A Terra Sem Males que queremos". Fizeram bons comentários e deixaram-nos bem impressionadas com seus sonhos bem próximos da vida real. Crianças e adolescentes alegres, brincalhonas e sonhadoras. Dia 24 fomos à celebração da Palavra. Pouca gente, os catequistas, aparentemente perdidos sem saber o que fazer. Ficamos tranqüilos pensando que era assim mesmo, leve engano...eles nos confidenciaram que não haviam preparado nada, dava para perceber! Maurício, o representante do tuxaua, nos convidou para assumirmos a celebração do domingo de Ramos. Dissemolhes: "Mas vocês sabem o que fazer e contribuímos ajudando-os a refletirem sobre esse dia. Expressaram a dificuldades quanto ao significado do domingo de Ramos. Aí, explicamo-lhes que poderíamos assumir e, quem sabe, até fazermos uma ótima celebração mas que nós íamos embora e eles continuariam dependendo de quem chegasse. E que como equipe itinerante, se eles quisessem, poderíamos construir e preparar juntos a celebração e assim, mesmo estando sós, eles continuariam criando e preparando as celebrações a partir da vida vivida na comunidade rezando e celebrando a vida do dia-adia, sem se prenderem só no boletim. Os catequistas e lideranças não só entenderam mas concordaram. Terminaram as leituras gerais do boletim " O Domingo" que é enviado para todos os cantos do Brasil, onde o animador lê, em voz alta, até as orientações, sugestões para ele preparar a celebração. Bom, essa deve ser a realidade de muitas comunidades não só indígenas. Não é verdade? Mas ficaram animados e convidaram todos os fiéis a participarem da celebração às 16:00 hs. Em seguida, conversamos um pouco e Rubens, um dos catequistas procurava facilitar tudo: " sabemos que vamos preparar o domingo de ramos. Como vamos fazer? O que vai ser preciso? Quem pode ajudar?" - Como eles sabem das coisas, basta só uma forcinha! Maurício e Joaquim, o catequista maior, estavam atentos. Chamaram outras pessoas para narrarem o evangelho. Combinamos de nos reunir as 15:00 e para a nossa alegria, as 13 e pouco Rubens, todo feliz, já nos chamava. Preparamos e ensaiamos os cantos em sateré e em português, Isabel animou com o "hosana"...Prepararam uma coroa de espinho, identificaram Anumarehit (Jesus) e Pahapais (Barrabás). Joaquim foi o narrador, Maurício o Pilatos, uma hariporia ( mulher), a mulher de Pilatos, Rubens e Inácio os soldados. Sugerimos que cortássemos uns pedaços da leitura, mas Joaquim preferiu ler tudo, talvez por ter mais tempo de leitura.... O prof. Inácio animou o começo da celebração que iniciou próximo ao rio numa praia, agradecendo a Tupana pela Mãe Terra, pelo rio, pela comida, por todos os povos e coisas criadas. Ele nos convidou a sentarmos na areia e a fazermos um pouquinho de silencio em respeito a Mãe Natureza. Para louvar e a agradecer a Tupana cantando em sateré. De pés e de mãos dadas cantamos o Pai Nosso, unidos a todas as comunidades. Em procissão, com os ramos nas mãos, caminhamos até a metade do caminho, onde o Prof. Nilson animou o ato penitencial. Com as frases elaboradas por trinta crianças e adolescentes, (sobre as coisas ruins presentes na terra e comunidade dos sateré) escritas em tiras de papel e na língua sateré, cada adulto carregava uma frase e com a ajuda dos professores lia em voz alta. Nilson perguntava se queriam que continuassem com essa coisa ruim que atrapalhava a comunidade e todos respondiam bem alto que não. Aí, simbolicamente a queimavam na fogueira, com o desejo de mudança. No final cantamos agradecidos pela compreensão e perdão de Deus e dos irmãos. Balançando os ramos e muito animados continuamos caminhando até a entrada da igreja onde o Joaquim catequista abençoou nossos ramos e todos entramos cantando o hosana. ( Todos gostamos muito desses momentos...). Começou a dramatização do evangelho, nos atrapalhamos um bocado. No final avaliamos como muito bom os momentos fora da igreja. O evangelho encenado demorou demais, é que o tradutor fazia um discurso em cada explicação e realmente ficou um tanto longo e cansativo. Os catequistas disseram que precisam de mais ajudas na preparação, pedimos que procurassem sentar juntos e programar...Os cantos saíram muito bem. Os catequistas tentam imitar a figura do padre...e dá no que dá...fazem o que sabem ou melhor falta caprichar mais no que sabem fazer bem, se pensarem juntos. É o que deu para perceber. A noite ainda teve outra reza para quem chegava da caçada, mas nós fomos ao banho de lua e depois de água, foi super agradável. Segunda feira, 25 de março de 2002 Por fim pudemos passar a la comunidade Campo do Miriti, conseguimos emprestar o motor rabeta do senhor Mauricio, un 6,5. Saímos do porto as 8 horas nos tivemos muito dificuldade na viagem, não conhecíamos bem o caminho e também o rio era estreito, as vezes nuestra canoa se tomaba la liberta de entrar entre los matorrales y entonces se veí caer a alguns gente y otra gritando de miedo, tal vez, invocando a su Angel de la Guarda. Hugo Lorenzo que o diga...mas para a primeira vez, já foi um bom "proeiro". Após 4 horas de viagem conseguimos chegar em Novo Remanso, Comunidade do Tuxaua Zanone. Ficamos lá até as 2:00 horas e seguimos a nossa viajem, quando deu 5:00 horas llegamos a la Comunidade Campo do Miriti, ya estaba oscureciendo. Ante de pegar nossas coisas tomamos un bañito bajo la lluvia y luego subimos a la comunidade e fomos pra outro lado da vila onde estava a casa do Tuxaua Armindo, como ya era noite não deu para nos apresentar, despois fomos direto para a casa que o Tuxaua nos indicou para luego voltar a su casa y saborear a carne de yty hit cozido.â Día, 26 de março de 2002, terça - feira. Em el amanhecer de este día fomos nos banhar e logo fomos para a sala conversar sobre o trabalho que era a terra sem males que nós queremos, campanha da fraternidade iniciamos o nosso trabalho pendurando todas as fotos da marcha indígena no barbante pedimos para todos olharem com muita atenção que depois iríamos trabalhar fazendo comentário sobre as fotos. 7 Comentário sobre as fotos. O senhor agente de saúde disse:" chegou a hora do nosso estudo sobre a marcha indígena a qual foi muita importante por que com certeza mostramos que somos um povo que sabe o que quer. Sabe ir para a luta cobrar os seus direitos. Todos nós devemos participar da luta indígena". O senhor Raimundo, catequista disse :" é muito bom conhecermos as fotos, exibindo os parentes indígenas, porque assim temos conhecimento do mundo lá fora para sabermos bem que o branco não gosto da gente. As únicas pessoas que talvez tentam ajudar a gente são as ONGS INTERNACIONAIS. É muito bom essas pessoas que ajudam a gente e que devemos receber de braços abertos, porque o objetivo deles é abrir os olhos da gente para que possamos trabalhar, caminhar e nos autosustentar". Prof. Danilson: "estamos estudando sobre o que aconteceu realmente na marcha. É bom ver as fotos dos índios que participaram, é muito bonito ver os costumes, as danças, mas é triste ver os maltratos recebidos por parte do governo". Mana Floriza disse: "eu já sabia o que ia acontecer nessa viagem e fiquei triste porque soube que as nossas lideranças SateréMawé não foram corajosas, foram covardes". Após alguns comentários sobre as fotos exibidas , trabalhamos junto com os comunitario elaborando desenhos ,sobre a marcha indígena, que por sinal foram fantásticos os desenhos foram ótimos. Día 27 de março de 2002, quarta feira. Bateu o sino e nós dirigimos a sala onde fica o centro do trabalho para fazer a abertura de hoje o senhor catequista Raimundo Soares se pronunciou dizendo acordamos todos com saúde (com exceção da medica Isabel da equipe), para realizar mais um dia de trabalho, disse que agradece muito a equipe pelo trabalho que esta realizando na comunidade e que esse trabalho é um meio de sensibilizar cada indivíduo Sateré Mawe, também que se sente a falta de interesse por parte da comunidade até desabafou dizendo alguns comunitario dizem que não é bom o catequista aceitar assim sem mais nem menos porque, não sabemos bem qual a intenção, quem sabe não é um trate, mas ele respondeu dizendo que eles estão enganado que eles realmente gostam da gente, eles só estão querendo nos ajudar, y assim ele terminar, ele pediu para as crianças cantarem, então as crianças levantaram três hinos Sateré. Agora Hugo vai contar o mito guarani YVY MARANE`Y Terra sem males. Depois do Hugo foi o professor Danilson que contou um mito a origem da terra y o mito Sateré Mawe. Día 28 de março de 2002, quinta feira. Esse día por la mañana fue tomar libre el tiempo, es decir, cada uno por su lado, el trabajo con la comunidad ya estaba casi cerrado, solo faltaba preparar la celebración para representar la última cena de Jesús, que sería al oscurecer. Algo curioso sucedio al final de la mañana porque, vino el Guirapoty de la comunidad a rezar por Isabel que estaba em rede quietita porque, su dolor de estómago no le permitía mover mucho o lo contrario ni siquiera llegaba a la puerta para su limpieza interior ..., em eso día Isabel tuvo el don de la viarrea... A tarde Raimundo o catequista nos pediu ajuda para a celebração da celebração. Nos animamos e contribuimos mesmo. talvez a maior contribuição foi ajudar o próprio catequista acreditar em sua capacidade. Ele queria uma celebração igual a que o pe. Fernando animou quando esteve lá. Impossível...mas parecida sim. Fizeram lindos desenhos com as coisa ruins e no fogo da fogueira que perdia-se com a luz da bela lua, refletiam sobre esses males presentes na comunidade e lançavam-os ao fogo sobre aplausos e desejos de mudanças. Para ilustra as coisas boas, depois de cantar a alegria de ser perdoados por Deus, pegaram duas árvores e fizeram a dinâmica de comparação: árvore viva, firme e forte igual o povo que lembra e vivesua história... árvore derrubada pelo vento igual ao povo que esqueceu sua história... Caminhamos para dentro da capela carregando a árvore que representava o povo que fala a sua língua e vive suas tradições. Dentro continuou com o lava-pés, pediram ao Hugo de imitar Jesua. Jacob comentava em sateré. Na reflexão foi falado do trabalho que desenvolvemos na comunidade. Todos agradeciam muito e pediam para que voltássemos. Uma coisa certa e bonita foi colocado como ponto a melhorarmos: dar um jeito de nos comunicar antes com a comunidade para que se preparem fazendo farinha, caçando para ter nos dias de encontro, para nos tratarem melhor. Concordamos e pedimos desculpas por não termos feito isso, explicamos as dificuldades. Por la tarde fue más bien preparar la liturgia para la noche con el catequista y sus ayudantes. La celebración fue muy buena, presentaron las cosas ruins y no ruins de la comunidad y depois optaron por las buenas em seguir cultivando entre ellos y al mismo tiempo quemar los malos, los que no ayudan para crecimiento de la comunidad. Dia 29 y 30, sexta-feira santa. Muitas pessoas que estavam para suas roças chegaram, olharam as fotos da Marcha e conversamos um pouco. Recolhemos todo o nosso matererial. Para as despedidas, Hugo cantou para a platéia que gritava euforicamente:" Hugo, Hugo!. Ele cantou muito bem! O grupo de animação da comunidade, também, cantou e nós pedimos para gravar. Fátima, filha do tuxaua nos presenteou uma sacola de popunha, farinha e um pedaço da carne de macaco e viado para a viagem. Como pessoas educadas nos disseram: "Voltem sempre para demorar mais com a gente!". Aí é claro nossa auto-estima disparou...Raimundo, Danilson, crianças e algumas mulheres nos ajudaram a carregar nosso bagulho até a canoa. Nossos corações outra vez deixava um pedacinho e levava outros. A volta foi descendo o rio com uma super correnteza. Muitos momentos mais difíceis que na vinda, o "rabeta" perdia o controle e íamos de encontro às casolas de mato, aos troncos fortes e mesmo em árvores enormes, vivemos momentos bem 8 tensos e o melhor, intensos também. Soubemos amenizar as dificuldades e inexperiência...Chegamos na comunidade São Bonifácio +- as !4:00 e alguns minutos. Estavam dentro da capela preparando a reza. O prof. Albérico nos recebeu, apresentou e pediu que deixássemos nossas mensagens. Fomos muito simpáticos...contamos lorotas, rimos e nos alegramos com a vitória de Jesus sobre a morte de cruz. Hugo Lorenzo fazia sucesso com seu mito e músicas em guarani. Ressuscitamos cantando com muita alegria algumas muitas em sateré, com um grupo bem descontraído, alegre e super animado, de crianças e adolescentes que batiam fortes palmas, cantavam e dançavam. vejamos que gesto bonito do tuxaua Mair: ele levantou, pegou sua flautinha-amarela e acompanhou o grupo que manifestava seu carinho acolhedor. Para registrar o momento tiramos uma bela foto e partimos. Conosco foram alguns meninos ver o filme sobre a vida de Jesus, na TV da comunidade para onde estávamos indo: Novo Remanso. A comunidade estava aguardando a chegada de Zanoni, seu tuxaua que havia viajado até Maués, levando seu filho que estava muito mal de saúde. No salão comunitário, realmente a globo passava o filme sobre a vida de Jesus. No final, o capataz nos levou ao local onde ficaríamos. Depois fomos tomar xibé com os comunitários. Daí a pouco chegou Zanoni e sua mulher, sem o filho... a criança morreu, mas eles não comentaram muito. E o tuxaua sempre alegre dizendo-nos:" Pois é, vou lá em casa e daqui a pouco vamos ligar os fios e ver as fitas da Marcha. Eu quero muito, mas muito mesmo ver. Quero que o meu povo veja o que aconteceu com nossos parentes, com aquele...Gildo Terena". Mais tarde, pelejamos e nados cabos que levamos não serviram na TV deles. Foi um pouco decepcionante, tanto para eles, quanto para nós. Zanoni desabafava: " Eu perdi meu filho. Mas a vida é assim mesmo, não é irmã? ( é verdade... vida e morte, alegria e tristeza, saúde e doença tudo anda junto. Faz parte da nossa existência, mas ninguém entende muito bem esse negócio. Hoje a igreja relembra a morte de Jesus. E ele venceu a morte para nos dar força, principalmente nas horas mais difíceis. E a ressurreição acontece, Zanoni, quando pessoas como você luta defendendo a vida, organizando seu povo para construir juntos a vida em comunidade onde todos tenham tudo o que é preciso para viver com alegria e paz) Fico triste mas não quero desanimar. Desta vez não deu certo o vídeo mas vocês vão voltar aí tem de trazer um cabo que de na TV. Vamos esperar por vocês, pelo padre Fernando. Agora vamos tomar xibé, comida de sateré, na próxima vez já vamos ter galeto, já estamos começando a criar. Vamos ver jornal, depois tem globo repórter e assim a gente vai se entendendo". Mais tarde chegou açaí e fizemos a festa. Isabel ainda estava um pouco adoentada da barriga, mas Zanoni disse: " Quando índio oferece sua comida, fica alegre se a pessoa come, bebe". foi uma situação um pouquinho constrangedora pois se tratava de problema de saúde, Isabel não estava querendo comer por que outros sateré disseram-lhe que não comesse, porém comeu um pouquinho e Deus viu que era bom...No dia seguinte a programação foi intensa para o pouco tempo. Depois do banho, o ritual tradicional dos sateré: beber o delicioso e fortificante sapó, ele alimenta, dá resistência e uma certa lucidez... Luiza, a mulher do tuxaua, numa cuia e com uma pedra especial, ralava o guaraná e o distribuía. A cuia rodava de pessoa em pessoa enquanto a conversa ia acontecendo. "A gente tem que tomar quatro vezes, quatro rodadas para ser completa, senão fica faltando alguma coisa, por exemplo, quando a mulher engravida e o filho nasce ele pode sair sem orelha, sem dedo"; explicava o tuxaua. E Zanoni desabafou seu sofrimento na cidade com seu filho doente: " Saí daqui remando no meu "casquinho" ( canoa pequena), cansado, sofrendo muito vendo meu filho doente. Chegamos em Maués, fomos para o hospital. Deram soro e algum remédio mas meu filho não agüentou. Mas se Tupana quis assim, ele sabe bem." A conversa continuava e chegou tacacá com bastante mussé. Muita gente escutando. Zanoni continuou: " Eu não sei brigar no braço, mas com a boca eu sei. Falei pra Augusta (responsável pela APEC, antiga FUNASA) Vocês deixam os doentes no hospital e não vão ver se melhorou ou se já morreu. Eu falo mesmo, eu tenho direito de falar. Meu filho morreu por falta de assistência de vocês. Vocês já foram na nossa comunidade, viram como é difícil andar por lá e não cuidaram de arranjar nada de transporte para os doentes. Eu reclamo tenho razão. Sou liderança do meu povo se eu me calar tudo vai continuar do mesmo jeito, hoje morreu meu filho, depois vai morrer outro e mais outro até ir acabando. Depois ela mandou chamar o Francisco Alencar, coordenador geral dos sateré do Marau, mais o Jean que trabalha junto com ela e mais outros, ela falou que esse tuxaua Zanoni, veio atrapalhar nosso trabalho. Aí eu fiquei com raiva e respondi assim: se vocês não querem trabalhar deixem o cargo pra quem quer trabalhar com os índios. Fazem tantos projetos para os índios e ninguém sabe onde estão gastando o dinheiro. Eu já falei para as outras lideranças que precisamos descobrir o que está acontecendo, chega de sofrer tanto". Para nós foi importante fortalecermos e apoiarmos sua luta ainda que só o escutando, perguntando completando com algumas informações e sentindo o seu mais profundo desejo de conquistar seus direitos humanos. Mais tarde, para entrarmos no assunto da terra Sem Males, fizemos a dinâmica da árvore: explicamos bem ao Zanoni e ele muito inteligente e esperto que é, pegou a idéia e fez o bonito...Chamou dois estudantes para desenharem duas árvores e que belíssimos desenhos!. Uma obra de arte de altíssimo valor. Aí ele explicou: " Um povo que fala a sua própria língua, que guarda os seus costumes, que não tem vergonha de assumir sua cultura, que come e bebe de sua comida, que sabe seus mitos é como essa árvore bonita, firme e forte. Quando bate um vento forte, uma tempestade ela solta uns galhos e folhas mas continua de pé, firme no chão segura em suas profundas raízes. Olha só as raízes dela... Mas quando o povo não tem mais essa riqueza é um povo pobre, triste, passa mal. É como essa outra árvore, parece que é bonita mas está morrendo, tem broca roendo sua raiz e comendo sua força. Quando chega a tempestade ela não resiste, cai logo e as vezes ainda mata gente no mato". Para ilustrar ainda mais, pedimos que ele chamasse duas pessoas para representarem as duas árvores. Fizeram muitos bem a diferença entre as duas. Todos gostaram e o tuxaua vibrava com a dinâmica e nós, pra falar a verdade, vibrávamos também. Era tão pouco de nossa parte e no entanto movimentou o vilarejo. No fundo do nosso mais profundo agradecíamos a Deus por revelar em nós o desejo de nos colocar a serviço de algumas de suas criaturas e de nossas famílias, amigos, instituições/congregações e ou grupos de pessoas que contribuem e nos animam nessa missão. As sentimos próximas a nós durante nossas viagens, ao nos relacionarmos, com ternura e do nosso jeito, com tantas pessoas tão diferentes e tão iguais. Ao rezarmos na contemplação da beleza encantadora da Mãe Natureza que nos acaricia com a luz do irmão sol, com a luz do luar que nos leva ao infinito...,com o brilho das estrelas, com os relâmpagos, com a irmã chuva, com o verde da mata, com o gorjear dos inúmeros pássaros e rios tão cheios de curvas, correntezas e mistérios... 9 Bom, voltando... os comunitários reagiam, falavam em sateré e não dava para "sacar", mas era ligados ao assunto pois o tuxaua, vez em quando falava em português. Aí foi o momento do nosso Hugo Lorenzo entrar em ação...contou seu mito em guarani. Todos atentos e riam alegres percebendo a certa aproximação entre as duas línguas. O mais velho sempre repetia as palavras parecidas. Em seguida Hugo cantou, com mais segurança suas canções...o combinado foi que ele cantasse cinco músicas e o público não o perdoou. Nós fizemos o cara virar cantor, ele nos deve um bocado!. Mas foi legal, cantamos um canto da fraternidade e o grupo deles cantou umas músicas em sateré. Tudo ficou gravado para eles como recordação de nossa presença. Nós levamos suas músicas gravadas como recordação e ao escutá-las já lembramos das fisionomias das pessoas e isso nos envolve de carinho e ameniza o fato de chegarmos e de sairmos tão de repente...itinerância! Para encerrar nossa participação animamos a última dinâmica, o tempo era propício, já era sábado da aleluia e o domingo da ressurreição estava chegando, nada melhor que ressuscitar nas crianças da comunidade...com elas em cima da mesa, convidamos o tuxaua para que as levantasse sozinhos s crianças que simbolicamente representavam o desafio da comunidade em ajudá-las a crescerem sendo bem tratadas e orientadas na vida. Ele tentou mas não conseguiu. Pedimos que chamasse seus auxiliares como o capataz, o capitão, o catequista, a agente de saúde mas não conseguiram e aí ele convidou toda a comunidade para ajudá-lo a pensar no que fazer, no como fazer para a comunidade continuar crescendo e ir para a frente. Todos aplaudiram e Zanoni incrementou a idéia. E disse: "Gostei muito da idéia, bate com que eu penso, se depender de mim vai ser assim, todos se ajudando. Não quero que aconteça como lá em São Bonifácio...eu era o vice tuxaua, mas nada prestava quando eu dava a idéia, Aí conversei com meu pai e dissemos vamos começar uma comunidade. Fizemos uma grande roça. todos trabalhamos muito. Aí fizemos nossas casas plantamos roças, fruteiras e estamos aqui. Já temos três cabeças de gado, estamos criando e assim nós vamos vencendo. Eu fui emprestar o bote lá de São Bonifácio, para levar meu doente em Maués e eles não quiseram me emprestar, isso não está certo, somos o mesmo povo. Por isso waku sese". Nos arrumamos para registrar as fotos. O Zanoni é um dos tuxauas mais jovens entre os sateré. Mas tem umas idéias brilhantes, é muito trabalhador e dinâmico. Parece ser bem verdadeiro naquilo que acredita. Outra coisa muito bonita, na hora do almoço ele chegou e disse: "Taqui o almoço. y'y com u'i ( água com farinha), nosso xibé. Mais uns pedaços de jerimum". realmente tudo o que tinham nos ofereceram. E assim nos despedimos e partimos à Nazaré para apanharmos o barco que iria até Maués. Celina e seu marido Assis foram de carona conosco e foi bom pois ele ajudou a dirigir a canoa que percorria um caminho enfrentando a correnteza. Paramos, ainda na comunidade N. Sra. de Fátima, que providencia...A Sra. Tereza uma sateré vítima de picada de cobra, nos receberam com festa...fartura de comida e bebida. Carne te tatu assada, cozido de veado. Vinho de patauá, castanha, piquiá e uma boa rodada de gente feliz. Ainda ganhamos kumana, jerimum, macaxeira, abraços, sorrisos e convite para passarmos uns dias na comunidade. Seguimos então ao nosso destino final. O dia todo foi de bastante sol, a paisagem do caminho um encanto. Chegamos a noitinha, passamos para o barco e desabou uma forte chuva com relâmpagos. E o sonho do luar refletindo na praia ficou para a próxima páscoa. Comunidad: Nossa Sra. de Nazaré. 29 - 3 - 02 Escola: Uniawasap`i. Localidade Rio Marau. Puruwei: Nilson Rifeiro. Avaliação: No dia 21 a 23 de março de 2002, iniciaram os estudos juntos como alunos e os professores sobre a marcha continua por uma terra sem males. El equipo itinerante ajudou muito bem explicar sobre a marcha continua por uma terra sem males. Jacob ajudou muito como tradutor y assim se enendio muy bien lo que el equipo quería transmitir. Al ver las fotos y videos sobre la marcha los alumnos pudieron conocer algo sobre lo sucedido em aquel acontecimiento tan grande. Eu gustei muitos ver a los alumnos trabajar sobre esa fotos porque, de esa forma ellos conocen mejor el sentido de la terra sem males. Os trabalhos da Irmã Arizete foi muito ótimos porque, os alunos reconheceram a experiência vividas nas terra Sateré Mawe y agora conocen bem a objetivo de terra sem males. Gostei muito y quero que volte sempre para ajudar a os professores y así seguir mejorando em caminhar de la comunidad. os alunos quedaron muitos contentes despois del trabajo. Muito obrigado Equipe Itinerante: Arizete, Isabel, Jacob, Hugo Lorenzo y Fernando. Día 31 de março de 2001, Domingo. Amanecemos em la comunidad Ntra. Sra. de Nazaré, ya con mucho deseo de volver a nuestra comunidad. El tiempo totalmente nublado, caía gotita de lluvia y nosotros fuimos primero a entregar la canoa al dueño y comunicar que se había roto el timón. Depois Arizete pidió remedio casero al encargado de saúde para Isabel que ya se encontraba un poco mejor, pero mantenía todavía un respeto enorme a su viarrea. Nilson nos ofreció el desayuno, comimos una tortuga asada acompañado con mandioca. Depois, pasamos a la capilla para celebrar la Rezurrección de Cristo y luego abordar el barco de la comunidad para retomar a Maués. Em el barco venían los profesores para cobrar su sueldo em Maués y les acompañaban muchas personas. Estábamos llenos y fue super difertido el viaje, no podíamos esconder de la lluvia porque, fue nuestra compañera de viaje. El barquito venía quedando em cada comunidad alsando gente y fue así que nos alcanzó la noche y no permitió que siguiéramos el rumbo porque, el barco no tenía suficiente luz y al mismo tiempo la lluvia caía torrencialmente, entonces, el encargado decidió 10 esperar que pasará el mal tiempo y así nos quedamos a dormir un rato para luego continuar el trayecto y fue así que llegamos a Maués siendo más o menos siete horas del día lunes 01 de abril. Los chistosos del viaje fueron: Isabel no aguantaba la presencia de los insectos em el barco y cada rato repetía la frase em mi país no existe esto..., ¡que cosa verdad!, Arizete que quería ver a su mamá y el barco que no llegaba nunca..., dentro del barco no había lugar, era impresionante como veníamos, la forma como se colocaban las redes... Día lunes, 02 de marzo de 2002. Llegamos a la casa de los padres de Arizete, ahí ya estaba esperandono Fernando para la evaluación con los profesores sobre el trabajo realizado em las comunidades. Mientra desayunábamos contábamos algunas anecdotas de la gente y luego pasamos al trabajo de la evaluación. Depois, llegó Bernardo de la comunidad Terra Nova y así iba llegando los demás profesores de las distintas comunidades Sateré Mawe. María Clara y Ari padres de Arizete em el fondo de la casa estaban preparando pollo asado para el almuerzo que fue todo un banquete. Por la tarde tratamos de descanzar, ni bien cerramos los ojos vinieron llegando Paulo Sergio y Odila nuestros compañeros del Equipo, ellos trabajan con los riberiños, fue un momento de estar y reir juntos para luego continuar con la evaluación. La evaluación consistió em ver como están las comunidades visitada, cuales son los signos positivos y negativos de cada una de ella y como superar los obstáculos existentes. Cerramos el Día con una rica cena preparada por María Clara. Quedó a dormir em la casa Bernardo y su señora con três de sus hijos. Día martes, 03 de marzo de 2002. Hoy continuamos evaluando el trabajo de las comunidades, sobre todos, los diceños hechos por los niños. Ahora la evaluación es más bien técnica, es decir, escanear los dibujos, passar os escritos na computadora, informatizar. A eso de las três de la tarde se toco el tema sobre el proyecto que se piensa enviar a "Las Manos Unidas" y seguidamente varios puntos más: encuentro de Teología India em Paraguai, futuro local Sateré Mawe y otros... Cuando ya estabamos cerrando el día, apareció Doña María Clara con su riquísima caldo de pescado para recuperar energía gastada durante el día. Depois de la cena, cada uno se iba retirando porque, mañana muy temprano zarparía el barco para la comunidad Ntra. Sra. de Nazaré. Dia miércoles, 03 de marzo de 2002. Dia 11 de abril, no barco: após a oração continuamos com a avaliação dos trabalhos, Fernando: O trabalho na área foi ótimo, pelos desenhos e falas deu para perceber que o pessoal gostou e levou a sério. Serviu para o crescimento pessoal de todos mas sobretudo da Arizete. É que quando estou junto tenho assumido mais, é verdade. Em Maués, também foi muito bom. O fato dos professores discutirem o projeto da WOMUPE, refazerem e eles mesmos encaminharem para os financiadores (Manos Unidas) deu uma certa tranqüilidade e segurança a eles mesmos. Animou a todos e motivou o grupo a procurar saídas para ver como os professores contribuirão para a manutenção do escritório da organização. As idéias que apresentaram são interessantes: conversar com cada professor para que contribua com 5 ou 10 reais, desconto mensal na folha de pagamento, para a womupe seria uma boa. O envolvimento, na cidade, dos professores que ajudaram a desenvolver os trabalhos na área foi muito boa. Para o 1º material sobre o Mito, trabalhamos melhor e mais organizados. Para o material sobre a Marcha, nos últimos três dias não funcionou muito, ficou solto, faltou a Arizete assumir sua parte de coordenação, talvez pelo fato de estar dividida entre os trabalhos domésticos em sua casa atrapalhou o andamento do trabalho. Por isso é bom que o próximo trabalho seja feito na casa do estudante indígena, assim somaremos com a equipe local. Daí eu ter marcado a reunião tanto com D. Giuliano quanto com as irmãs. Verônica, Rosângela e com o Pe. Henrique. Confesso que foi um pouco pesado, eu não sabia se podia contar ou não com a Arizete que antes dos encontros estava um pouco indisposta para participar, tinha uma certa resistência. Para mim foi difícil, também, o fato de não ter acompanhado o trabalho na área e ter que organizar agora na cidade. Temos que crescer e cada um assumir a sua parte para não ficar pesado para ninguém. Evaluación de Hugo Lorenzo: em general fue muy bueno el trabajo, personalmente me tocó mucho la vida de esa gente, creo que vale la pena jusgar por ellos. Algo que resonaban fuertemente em mi durante la misión fueron aquellas palabras de la canción de Mercedes Sosa: "quién dice que todo está perdido, yo vengo a ofrecer mi corazón". Arizete: o trabalho na área foi mito bom, mesmo tendo sido muito cansativo, a convivência com o diferente nos ensinou bastante. O fato de termos feito equipe com o Jacob e nas comunidades com os animadores e responsáveis pelos trabalhos locais, enriqueceu a nós todos. O trabalho na cidade foi desgastante, 1º porque o Bernardo e Jacob ficariam na cidade até terminar a montagem do material e por motivos reais não puderam. Aí termos de correr atrás de outros para ajudar e realmente ajudaram, mas no final a chuva ajudou a atrapalhar. Fiquei tensa e dividida por ter que dar atenção aos sateré que chegavam em casa e eram muitos, ajudar a mamãe que estava sem suas auxiliares de sempre e responder por parte do trabalho. Realmente, queria não só retribuir a acolhida das famílias sateré, mas tratá-las da melhor forma possível. Reconheço que nos últimos dias as pilhas e coragem estavam desaparecendo e com isso o trabalho perdeu como rendimento. Concordo que será bom desenvolvermos o trabalho, também, junto aos membros da pastoral indigenista local e num lugar como a casa do 11 estudante onde eles possam ir participando. Porém, no geral foi muito bom. Com certeza eu não gosto de trabalhar sob pressão do tempo, por exemplo, ainda na área tivemos de combinar com os professores, um encontro com eles para selecionarmos as falas, desenhos e correção para a sistematização do material de devolução. E não tinha outro jeito pois seria a oportunidade onde estariam na cidade e com uma certa folga, depois seria impossível reuni-los. Essa é a realidade e mais um desafio. No fundo a gente consegue e fica tão feliz vendo que um pouco de nós e do outro contribui para o crescimento de todos. 12