III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. FORMAÇÃO DE PREÇO NO VAREJO INFORMAL: Estudo nos municípios de Santa Maria/RS e Belo Horizonte/MG Autores: Antônio Artur de Souza, Italo Fernando Minello, Danielle Afonso de Abreu, Claudia Maria Sonaglio RESUMO A determinação do preço de venda de seus produtos e/ou serviços é uma importante atividade ligada a pontos essenciais e vitais das empresas. Diante do advento da competição em nível global, as empresas precisam atuar de maneira ágil e flexível para responder às novas demandas do mercado. Assim, o estudo da formação de preços se tornou um importante campo a ser explorado, especialmente nos segmentos que atuam mais próximos do consumidor final, como no caso do comércio varejista. A pesquisa descrita no presente artigo estudo buscou apurar com os proprietários de empresas do varejo informal o processo de formação de preços, bem como as variáveis consideradas nessa decisão. Os dados foram coletados por meio de surveys auto-administradas, aplicados nas cidades de Santa Maria/RS e Belo Horizonte/MG. Observou-se que as empresas atuantes no setor varejista percebem a importância do processo de formação de preços para a sustentabilidade e utilizam as informações contábeis e financeiras como suporte a esse processo. O estudo contribuiu para identificar os principais fatores que afetam a formulação dos preços de venda dos produtos e serviços das empresas varejistas informais. PALAVRAS-CHAVE: Formação de Preços, Varejo, Contabilidade de Custos. ABSTRACT Pricing is always a tough task, very important due to its relevance to the success of any company. Global competition has forced companies to be more flexible and quick in answering to new market demands. Pricing has become an important issue to study, particularly in small retail businesses in which the contact with the final customer is very close and intense. The study described in this paper aimed at identifying the pricing procedures in the owners’ point of view. It also aimed at identifying the variables that are considered in such decisions. The data was collected through self-administered questionnaires, in a survey preformed in the cities of Santa Maria and Belo Horizonte, in the States of Rio Grande do Sul and Minas Gerais, respectively. It was possible to conclude that the owners of companies that are very active in retailing perceive the crucial importance of 1 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. pricing procedures for the company’s sustainability. They are also very much aware of the importance of accounting and financial information to support such decisions. It was also possible to identify a list of the main variables that are perceived as having impact on the process of defining prices in the small retail businesses. KEY-WORDS: Pricing, Retailing, Cost Accounting. 1. INTRODUÇÃO Uma das mais importantes decisões de uma empresa consiste em determinar preços de venda de seus produtos e/ou serviços. Essa tarefa está intimamente ligada a diversas áreas funcionais das empresas, como Finanças, Marketing e Produção. Por essa razão, as decisões de preços devem ser analisadas sob uma visão ampla e coerente com o mercado de atuação da empresa, na medida em que envolvem diversas variáveis quantitativas e qualitativas, as quais, na maioria das vezes, não dependem apenas da organização. Formar preços não se resume apenas a fazer um somatório dos gastos em que se incorre desde a compra até a venda de determinado produto, adicionando-lhe uma margem de lucro. Existem vários fatores que interferem na formação do preço de venda, podendo-se destacar: custos, setor de atividade, concorrência, valor percebido pelo cliente, estrutura do mercado, demanda dos produtos, nível de atividade da empresa, sensibilidade dos consumidores aos preços, serviços oferecidos aos clientes, localização, objetivos de marketing, conjuntura e restrições impostas pelo Governo. A formação de preços é objeto de estudo da Teoria Econômica (Microeconomia), da Administração (Marketing) e da Contabilidade (Custos), cada qual com suas particularidades. Cada disciplina contribui para a compreensão dos elementos que exercem influência na formação de preços. Dessa forma, a formação de preços é uma tarefa complexa e que requer a utilização de conhecimentos multidisciplinares. Com a globalização, a velocidade das transformações tem exigido maior dedicação e grande adaptabilidade das empresas para acompanhar o constante processo de evolução do mercado. Nesse contexto, o preço deve ser considerado uma importante ferramenta competitiva, pois é um dos elementos mais flexíveis do mix de marketing e aquele que mais rapidamente afeta a competitividade, o volume de vendas, as margens e a lucratividade das empresas (PARENTE, 2000). O ambiente de crescente concorrência afeta principalmente os segmentos que atuam muito próximos ao consumidor, como o setor varejista, que inclui todas as atividades 2 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. envolvidas na venda de bens e serviços diretamente aos consumidores finais para uso pessoal. Surgiu entre os varejistas a necessidade de ofertar uma maior variedade de produtos e serviços a um consumidor mais atuante, informado e consciente do seu papel (KUMSCHLIES; CRISPIM, 2003). No segmento varejista, as empresas que enfrentam maiores dificuldades de atuação no mercado cada vez mais exigente e competitivo são as empresas informais. De acordo com o IBGE (2005), o Brasil possuía cerca de 3,4 milhões de empresas informais no setor de comércio e reparação em 2003, o que corresponde a 32,9% do total de empresas informais. As maiores dificuldades enfrentadas por essas empresas são: falta de clientes, concorrência elevada, baixo lucro e falta de capital próprio. Desse modo, a formação de preços no varejo vem se tornando um importante campo a ser explorado, levando-se em consideração a importância dos preços no seu posicionamento competitivo. Cabe, então, discutir os aspectos da formação de preços nas empresas do varejo informal, diante da volatilidade dos seus mercados. Assim, a pesquisa descrita neste artigo teve como foco o seguinte problema: Como é realizada a formação de preços em pequenas empresas do varejo informal? Os objetivos da pesquisa foram: a) descrever o processo de formação de preços em empresas do varejo informal; b) identificar os principais objetivos da formação de preços; c) identificar quais informações contábeis são utilizadas nesse processo; d) analisar os fatores que exercem influência nos preços; e e) identificar os métodos empregados para a formação do preço. A pesquisa foi realizada em lojas de varejo informal − mais precisamente, ambulantes ou camelôs − da cidade de Santa Maria/RS e lojas localizadas em estandes de shoppings populares e feiras da cidade de Belo Horizonte/MG. O presente trabalho está estruturado em sete seções, incluindo esta Introdução. Na seção 2, são contemplados os objetivos e estratégias empresariais; na seção 3, aborda-se a formação de preços como estratégia das empresas; na seção 4, destacam-se a economia informal e o setor de varejo; na seção 5, faz-se referência à metodologia do estudo; e na seção 6, apresenta-se a análise de resultados e, na seção 7, apontam-se as conclusões do estudo. 2. OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS Nos ensinamentos da teoria neoclássica da firma, em especial na teoria marginalista, a maximização de lucros constitui o objetivo das empresas que atuam em concorrência perfeita e monopólio (MELLO, 1999). Segundo os ensinamentos desta escola, o lucro máximo é 3 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. obtido quando a empresa oferece uma quantidade ótima, de forma que o custo marginal seja igual à receita marginal. Entretanto, este objetivo nem sempre é obtido, pois o máximo de lucro só é possível quando todos os fatores são previsíveis, o que não ocorre na prática empresarial. O que se verifica é a existência de informação imperfeita, que impossibilita o conhecimento e o domínio sobre o todo. Considerando que buscam a maximização de resultados, os empresários precisam conhecer todos os riscos e incertezas a que estão submetidos. Entretanto, o indivíduo, devido a sua racionalidade limitada, é incapaz de prever o comportamento de todas as variáveis envolvidas no processo. Isso implica a atuação com lucro satisfatório. Além disso, existe grande divergência de interesses entre os proprietários, que buscam ampliar suas margens de lucros, mesmo que isso implique diminuição de suas vendas, e os administradores, que buscam um lucro razoável e a permanência no mercado. Como alternativa à teoria de maximização de lucros, surgiram, nos anos de 1960, algumas teorias gerenciais, a exemplo dos modelos de William Baumol, Oliver Willianson e R. Marris, os quais defendiam a maximização das receitas, sujeitando as empresas ao lucro mínimo, o que resultaria em uma produção maior do que a existente no pressuposto da maximização (PINDYCK E RUBINFELD, 2002). Assim, o lucro seria razoável e suficiente para remunerar o acionista e garantir a permanência da empresa no mercado. Nesse contexto, Guimarães (1987) destaca a empresa como um locus de acumulação de capital, no qual crescimento e lucro são objetivos complementares, visto que ambos são mutuamente dependentes, pois não há crescimento sem lucros, e vice-versa. Os objetivos das empresas, quando observados a partir de um enfoque mercadológico, são os mesmos traçados para a administração de modo geral, ou seja, a maximização do valor para o acionista ou proprietário. Essa também é a meta da administração financeira. O que diferencia uns dos outros são as ferramentas utilizadas, em razão da área de atuação, pois a maximização da riqueza dos proprietários e acionistas, segundo Braga (1999), é representada pelo valor de mercado da empresa, que, por sua vez, corresponde ao valor atual de seus lucros futuros. O autor salienta que estes são determinados pela capacidade da empresa de gerar lucros mediante a utilização de seus ativos, da sua tecnologia e de sua competência gerencial. Registre-se, também, do seu conceito perante os credores e clientes. É em relação ao conceito que se faz da empresa que a administração de marketing atua, utilizando para isso seus planos de marketing, considerados por Kotler e Keller (2006) como o instrumento central para direcionar e coordenar o esforço de marketing da empresa. É 4 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. a partir do plano de marketing que a empresa vai definir suas estratégias mercadológicas e suas ações táticas, que envolvem o composto mercadológico, no qual se encontra o preço, único elemento do composto capaz de gerar receita e lucro para a empresa, seus proprietários e acionistas. Com base nas ações táticas de marketing, a empresa será capaz de cumprir seus objetivos estratégicos de marketing e, por conseguinte, os objetivos organizacionais. Podem ser eles os mesmos apresentados na teoria econômica, a exemplo da maximização de lucros, que pode ser efetivada pela ampliação de mercado, mediante as ações de marketing. Como visto, a ampliação de mercado da empresa também se constitui em alternativa à maximização de lucros. Com o processo de acumulação, a firma pode ampliar sua participação no mercado realizando fusões. A busca por maior market share sempre estará associada a outro objetivo, por exemplo, garantir melhor produtividade, melhorar a qualidade e assegurar a permanência competitiva no setor. A perpetuação da empresa no longo prazo conduz os dirigentes a uma atuação mais politizada, pois atuar com vistas ao máximo de lucro exige decisões arrojadas e de alto risco. Estes, a fim de manter a empresa no mercado, preferem uma atuação moderada, buscando ampliar a rentabilidade sem afetar a permanência no longo prazo. Os gestores podem optar por manter a empresa no mercado, garantindo aos investidores uma rentabilidade “aceitável” em termos do capital investido, com estratégias que ampliam o objetivo da empresa (KUPFER e HASENCLEVER, 2002). Assim, o lucro máximo, objetivo dos modelos clássicos, nem sempre é auferido no mercado, em virtude das dificuldades de previsão dos riscos e incertezas, da concentração de capital e das exigências dos consumidores. 3. A FORMAÇÃO DE PREÇOS COMO ESTRATÉGIA DAS EMPRESAS De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1999), preço é a “quantidade de dinheiro necessária para comprar uma unidade de mercadoria ou serviço; expansão monetária de valor”. Kotler e Armstrong (1998) definem preço em sentido mais amplo, como sendo a soma de valores que os consumidores trocam pelo benefício de possuírem ou usarem um produto. Determinar o preço de venda de seus produtos e/ou serviços representa uma das mais importantes decisões de uma empresa. Por isso, as decisões de preços devem envolver a análise das diversas variáveis quantitativas e qualitativas que exercem influência nos preços de venda. De acordo com Bernardi (2004), existem vários fatores que interferem na formação do preço de venda, destacando-se: custo, setor de atividade, concorrência, demanda dos produtos, 5 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. nível de atividade da empresa, conjuntura, restrições impostas pelo Governo, estrutura de mercado, sensibilidade dos consumidores aos preços, hábitos de consumo e oferta de substitutos. A complexidade dessas variáveis, nem sempre passíveis de controle pela empresa, exige uma política de preços baseada em precisão, rapidez, flexibilidade e agilidade para permitir à empresa assegurar sua permanência competitiva no mercado. Nos ensinamentos neoclássicos da economia, mercado é como um espaço abstrato de encontro da oferta e da demanda, no qual as empresas disponibilizam seus produtos e os consumidores os adquirem para satisfazerem suas necessidades. Nesse contexto, o encontro das curvas de demanda e de oferta determina o preço e a quantidade de equilíbrio do mercado. Entende-se por curva de demanda (D) a representação gráfica da quantidade que os consumidores desejam comprar de um bem ou serviço a cada preço unitário e por curva de oferta (O) a representação gráfica da quantidade que os produtores estão dispostos a vender de determinado bem ou serviço para cada preço que possam receber do mercado (PINDYCK E RUBINFELD, 2002). Logo, o equilíbrio do mercado é determinado no cruzamento das curvas, indicando a quantidade ofertada e o preço a ser pago pelos consumidores. Esse equilíbrio é afetado por diversas variáveis que pressionam o preço. Variáveis como riqueza e renda, custos de produção, preços de bens substitutos ou concorrentes, preços dos bens complementares, fatores sazonais, preferências e expectativas dos consumidores são responsáveis pelos deslocamentos das curvas da oferta e da demanda. O deslocamento dessas curvas, conseqüentemente, afeta os preços e a quantidade de equilíbrio do mercado. Além disso, as diferentes estruturas de mercado em que a empresa atua também reservam suas particularidades em temos de oferta e demanda, afetando a política de preço. Em uma estrutura de monopólio, a oferta e a demanda possuem características diversas daquelas encontradas em outras estruturas de mercado, como oligopólio, concorrência perfeita, monopsônio e concorrência monopolística. Torna-se relevante observar que tais estruturas são modelos que captam aspectos inerentes ao modo como os mercados estão organizados. Cada estrutura reserva atenção a alguns aspectos essenciais de interação de oferta e demanda, e se baseia em hipóteses tais como o tamanho da empresa, a diferenciação dos produtos, a transparência dos mercados e o acesso de novas empresas. Para se entender as diferenças de equilíbrio nos mercados, torna-se relevante destacar alguns conceitos da teoria da firma, objeto de estudo da Microeconomia. As empresas, enquanto agentes econômicos, buscam maximizar seus resultados. Os lucros são obtidos pela diferença entre a receita total e o custo total, o que conduz a empresa, no momento da 6 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. realização de sua atividade produtiva, a procurar uma combinação de fatores que lhe permita obter a máxima utilização dos seus fatores, pois lucro, nessa concepção, é a remuneração do capital acima da taxa normal do mercado, dados o custo de oportunidade do investimento e a remuneração em função do risco (KUPFER e HASENCLEVER, 2002). Os custos totais de produção podem ser definidos como o somatório dos gastos realizados pela firma para obter determinado volume de produção. Em uma análise de curto prazo, esses custos dividem-se em: custos fixos, que independem da produção e referem-se à estrutura fixa da empresa (instalações e maquinário); e custos variáveis, que oscilam conforme o volume produzido. Outros dois conceitos relevantes ao estudo referem-se aos custos médios e aos custos marginais totais. Os custos médios são calculados pela divisão dos custos totais pelas quantidades produzidas. Já os custos marginais são definidos pela relação entre as variações nos custos totais e as variações nas quantidades produzidas. No longo prazo, todos os fatores da função produção são variáveis. Logo, não faz sentido dividir os custos em variáveis e fixos, sendo que os custos totais de produção passam a ser totalmente variáveis. Em uma análise de longo prazo, devemos considerar CT = CVT , mantendo-se os princípios de cálculo de custos médios e custos marginais de produção. Em relação aos rendimentos das empresas, a receita das vendas é obtida pela multiplicação da quantidade total do produto oferecida e vendida no mercado pelo seu respectivo preço (RT = p × q ) . São importantes também para a análise de rentabilidade das empresas os conceitos de receita média, que corresponde à receita total dividida pela quantidade vendida, e receita marginal, que corresponde à relação entre as variações da receita total e as variações da quantidade produzida. Verifica-se que, para a correta formação de preços, a empresa necessita conhecer os seus custos de produção e as características de demanda de cada mercado. O conhecimento dessas variáveis (custo e demanda) é crucial para a tomada de decisão econômica da empresa. Entretanto, os ensinamentos da teoria econômica para a formação de preços, objetivando o lucro máximo ( RM g = CM g ), nem sempre são aplicáveis em sua totalidade. Em trabalho realizado em 1939, Hall e Hitch, a partir de questionamento feito aos empresários, verificaram que, em sua maioria, eles aplicavam uma política de preço com base no custo total e que a obtenção do lucro máximo era acidental. De acordo com Scherer apud Mello (1999), os estudos de Hall e Hitch deslocam o foco para os custos na determinação dos preços e contemplam o poder de mercado, em especial dos oligopólios, em oposição aos modelos de concorrência, em que as firmas 7 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. dependem das condições de demanda. Os autores (Hall e Hitch) concluem que nos mercados oligopolizados quanto maior for a concentração menor será a variação dos preços dos manufaturados. Este trabalho foi alvo de muitas críticas em relação a sua formalidade e rigor, mas contribuiu para a discussão sobre a formação de preços (MELLO, 1999). A prática de definição de preços de venda pelo custo total é difundida na determinação de preços, sendo acrescida uma margem (mark-up) aos custos médios para cobrir os lucros e as despesas gerais, entre elas custos indiretos de fabricação e impostos. Scherer apud Mello (1999) apresentam como exemplo de formação de preço com base na política do custo total um método utilizado pelo comércio varejista. No varejo, utilizar-se-ia uma margem percentual padrão, sendo o preço subtraído do custo no atacado e dividido pelo preço [margem padrão = (preço – custo)/preço]. Assim, o preço de um produto no varejo é igual ao custo divido por 1 menos a margem padrão [preço de venda = custo/ (1- margem)]. No entanto, a atuação em mercados de grande concorrência não permite a livre arbitragem na fixação da margem a ser acrescida aos custos, pois este comportamento poderia afetar o volume de vendas se o preço for elevado em relação aos concorrentes. Desta forma, não é viável estabelecer os preços com base nos custos sem considerar o que os consumidores estão dispostos a pagar. É necessário conhecer e acompanhar as possíveis alterações em todos os fatores que afetam os preços, como os objetivos estratégicos, o comportamento dos consumidores e as ofertas dos concorrentes. Tais fatores podem ser considerados na definição da margem (mark-up) que será aplicada a cada categoria de produtos, de acordo suas características. 4. ECONOMIA INFORMAL E O SETOR DE VAREJO Com o avançar da globalização, crescem também o trabalho e o mercado informais. No Brasil, em outubro de 2003, existiam 10.335.962 empresas informais, que ocupavam 13.860.868 pessoas. Em comparação com 1997, verificou-se um crescimento de 9% no número de empresas informais e 8% nos postos de trabalho nelas existentes (IBGE, 2005). Um aspecto muito importantes relacionado ao crescimento do mercado informal refere-se às atuais crises econômicas e sociais. É sabido que em todos os períodos da história da humanidade houve crises, em sua maioria, relacionadas a guerras e a fracassos nas colheitas, que geravam, principalmente, escassez de alimentos. Entretanto, conforme Huberman (1986), após o advento do capitalismo as crises não ocorrem em decorrência de fatos anormais; mais parece uma parcela do próprio sistema econômico adotado, caracterizado pela abundância, e não pela escassez. Essa abundância compreende a própria população crescente, além de bens 8 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. e serviços, que geram nessa relação um desequilíbrio, incluindo meios de sobrevivência, tais como emprego e educação, que alicerçam as crises vivenciadas no atual contexto. Esse desequilíbrio é oriundo, segundo Huberman (1986), do sistema de produção capitalista, voltado para a troca, objetivando o lucro. Para o autor, em nossa sociedade as características das crises e das depressões são: desemprego do trabalho e do capital, queda dos lucros e retardamento da atividade industrial, tanto na produção quanto no comércio, entre outros fatores. Tudo isso é gerado em função dos donos dos meios de produção, que fazem a roda da indústria girar somente quando há uma oportunidade de lucro, mostrando que nada é produzido para uso, mas para troca lucrativa. Corroborando com isso, salienta Mitchell (apud HUBERMAN, p. 259, 1986): Onde predomina a economia comercial os recursos naturais não são desenvolvidos, o equipamento mecânico não é utilizado, a habilidade do operário não é exercida e as descobertas científicas não são aproveitadas, a menos que as condições sejam de molde a prometer lucro em dinheiro aos que dirigem a produção. Como visto, Huberman atribui ao sistema capitalista as crises e depressões econômicas vividas pela sociedade. No entanto, existem opiniões que retrocedem na história da humanidade, até a Antiguidade, propiciando indícios de que a cultura patriarcal adotada pela sociedade ocidental na antiga Europa seria uma das causadoras de todo esse distúrbio econômico e social no qual se vive. Maturana e Verden-Zöeler (2004) atribuem ao patriarcalismo pastoril, concebido como o alicerce da cultura ocidental, as bases do uso indiscriminado dos recursos produtivos, sem preocupação com o futuro e, menos ainda, com o ser humano. Colaborando com essa visão, Mariotti (apud MATURANA e VARELA, 2001) salienta que o representacionismo patriarcal, herdado das sociedades ocidentais antigas, fez com que o homem usasse e descartasse os recursos a sua disposição até não mais servirem, incluindo aí o ser humano. Na visão de Santos (2003), à medida que o sistema econômico avança, na atual conjuntura globalizada, mais se agravam os problemas até aqui relatados, amplamente discutidos no Manifesto Comunista, de Marx e Engels, em 1948 (HUBERMAN, 1986). Assim, aumentam a pobreza e a miserabilidade das sociedades, fazendo com que as pessoas, descartadas do atual sistema econômico, as quais ainda não se encontram no nível de miséria, atinem outras estratégias de sobrevivência e retorno ao ambiente econômico, que se dão, muitas vezes, por meio da informalidade. A atividade informal tem sido uma noção orientada para discutir a mobilização ativa do trabalho, não do emprego como é conhecido, mas do trabalhador em atividade fora do emprego formalmente concebido. Ou seja, é uma proposta para analisar as dificuldades e 9 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. distorções da incorporação dos trabalhadores no processo produtivo em contextos de assalariamento (SILVA, 2003). A informalidade trata, então, dos grupos desfavorecidos e de sua integração econômica, analisando e avaliando seu papel na economia das nações. O setor informal é caracterizado por produção em pequena escala, baixo nível de organização e quase inexistência de separação entre capital e trabalho, enquanto fatores de produção. O IBGE (2005), ao realizar o ECINF 2003 – Economia Informal Urbana, considerou como empreendimentos informais todas as unidades produtivas pertencentes a empregadores com até 5 empregados e a trabalhadores por conta própria, independentemente de possuírem constituição jurídica. Esse conceito de informalidade nos negócios visa refletir o conjunto de unidades produtoras de bens e serviços caracterizadas por iguais modos de organização e de funcionamento, tenham ou não registros em órgãos públicos. No Brasil, segundo IBGE (2005), grande parte das empresas do setor informal é do comércio varejista, sendo que 32,9% das empresas informais são do setor de comércio e reparação. Entre as empresas informais, as de comércio e reparação estão entre aquelas que apresentam o maior nível de despesas incorridas no desenvolvimento da atividade, atingindo uma média mensal de R$ 2.072, em função, principalmente, dos custos das mercadorias para revenda. Essas empresas enfrentam diversas dificuldades para desenvolver o negócio, entre as quais se podem destacar: falta de clientes, baixo lucro, concorrência elevada e falta de capital próprio. 5. METODOLOGIA E CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA Esta pesquisa consistiu na realização de um survey, de natureza exploratória e descritiva. Exploratória, devido ao reduzido volume de informações acumuladas sobre o tema; descritiva, visto que tem como objetivo descrever as características de determinado fenômeno − no caso, o processo de formação de preços em empresas do varejo informal. Os dados foram coletados com o uso de um questionário, aplicado a uma amostra intencional de proprietários e vendedores do comércio varejista informal, contemplando 103 proprietários ou vendedores do comércio varejista informal, nas cidades de Santa Maria/RS e Belo Horizonte/MG. Em Santa Maria/RS, a pesquisa focalizou ambulantes ou camelôs; em Belo Horizonte/MG, lojas localizadas em estandes de shoppings populares e feiras. A TAB. 1 apresenta a caracterização da amostra, destacando a cidade e a classe de atividades da empresa. 10 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. TABELA 1 – Números absoluto e percentual de respondentes por cidade e classe de atividades das empresas Classe de Atividades Comércio varejista não-especializado Artigos de vestuário e complementos Calçados, artigos de couro e viagem Aparelhos de uso doméstico e pessoal, eletroeletrônicos, CDs e DVDs Equipamentos de informática e comunicação Relojoaria, joalheria e bijuteria Brinquedos, artigos desportivos e recreativos Objetos de arte, souvenirs e artesanatos Outros produtos Total Santa Maria/RS Abs. % 3 6,1 1 2,0 0,0 9 18,4 1 7 2 16 10 49 2,0 14,3 4,1 32,7 20,4 100,0 Belo Total Horizonte/MG Abs. % Abs. % 2 3,7 5 4,8 31 57,4 32 31,1 9 16,7 9 8,7 4 7,4 13 12,6 2 3 2 1 54 3,7 5,6 0,0 3,7 1,9 100,0 3 2,9 10 9,7 2 1,9 18 17,5 11 10,7 103 100,0 Conforme TAB. 1, foram aplicados aproximadamente 50% dos questionários em Santa Maria/RS e 50% em Belo Horizonte/MG. As atividades que mais se destacaram foram o comércio de artigos de vestuário e complementos (31,1%), seguido pelo comércio de objetos de arte, souvenirs e artesanatos (17,5%) e comércio de aparelhos de uso doméstico e pessoal, eletroeletrônicos, CDs e DVDs (12,6%). Na cidade de Santa Maria/RS, a atividade mais expressiva foi de comércio de objetos de arte, souvenirs e artesanatos (32,7%); e na cidade de Belo Horizonte/MG, o comércio de artigos de vestuário e complementos obteve maior participação (57,4%). Entre os entrevistados, 75,5% eram proprietários ou sócios do empreendimento e 24,5% eram vendedores. É importante destacar que todos os vendedores conhecem muito bem o processo de formação de preços da empresa. Esta foi uma condição para a aplicação dos questionários aos vendedores. Os respondentes foram questionados acerca do número de pessoas ocupadas no negócio, incluindo o proprietário. Apurou-se que 39,8% possuem apenas 1 pessoa ocupada; 37,9%, 2 pessoas; 16,5%, 3 pessoas; e apenas 4,9%, 4 pessoas ocupadas, sendo 1% das empresas com mais de 4 pessoas. Além disso, observou-se que 82,5% eram de propriedade de varejistas independentes; 4,9% pertenciam a redes de lojas; e 12,6% são lojas que comercializam produtos de fabricação própria. Os questionários aplicados tiveram por objetivo avaliar: a utilização de informações contábeis pelas empresas informais; a determinação de preços; os fatores de influência na determinação de preços e na sobrevivência da empresa; as técnicas mais eficazes para o 11 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. estabelecimento dos preços; e a avaliação do entrevistado sobre os sistemas de controle de custos e de determinação de preços. Os dados foram coletados por meio de surveys auto-administradas, tendo sido analisados pela utilização de recursos de estatística descritiva, com o auxílio dos softwares SPSS e Microsoft® Excel. 6. ANÁLISE DOS RESULTADOS Quanto à utilização de informações contábeis, apurou-se que 73,8% das empresas pesquisadas possuem contabilidade interna informal, ou seja, algum tipo de registro das operações e resultados da empresa. Apenas 3,9% possuem contabilidade interna formal, geralmente quando um dos proprietários ou membros da sua família são formados em contabilidade. Uma parcela de 7,8% possui contabilidade externa, em geral pela necessidade do assessoramento prestado pelos contadores acerca dos impostos e obrigações legais; e 14,6% não utilizam contabilidade. Em relação à utilização de informações contábeis para definir os preços de venda, 58,3% dos respondentes utilizam informações contábeis, tais como custos do produto, margem de lucro, transporte/frete, despesas e/ou custos de manutenção de estoque. Os 41,7% restantes afirmaram não utilizar informações contábeis para definir preços. Quanto ao conhecimento do custo total das mercadorias, 86,4% responderam que conhecem os custos totais contra 13,6% que não conhecem. Entre os respondentes, 58,3% não possuem gastos com ICMS, frete, transporte, seguro, etc ou não consideram tais gastos na formação de preços. Os restantes 41,7% consideram tais gastos na formação de preços, sendo que 33% adicionam esses gastos ao preço através da margem de lucro e 8,7%, através de rateio. Quanto às despesas administrativas e de vendas, 54% dos respondentes não consideram tais despesas na formação do preço; 38% incluem no preço através da margem de lucro; e 8% incluem no preço através de rateio. Dessa forma, a informação contábil mais utilizada para a formação de preço é o custo das mercadorias vendidas, sendo essa informação apurada mesmo na ausência da contabilidade formal. Com relação à avaliação feita pelos respondentes a respeito do controle de custos praticado pela empresa, em uma escala de 0 a 10, de maneira geral, o controle de custos foi considerado “bom” ou “muito bom”, sendo que 61,1% atribuíram avaliação igual ou superior a 8. Apenas 2,9% avaliaram o controle de custos como igual ou inferior a 4. Os demais respondentes (36%) avaliaram o controle de custos da empresa como entre 5 e 7. 12 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. Os objetivos da determinação de preços foram avaliados pelos respondentes em uma escala “sem importância/pouco importante/indiferente/importante/de extrema importância”. Os resultados são apresentados sinteticamente no GRAF. 1. 100,0% 90,0% 80,0% 28,2% 35,0% 28,2% 41,7% 52,4% 70,0% 44,7% 57,3% 68,0% 60,0% 41,7% 50,0% 35,0% 39,8% 29,1% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 8,7% 6,8% 3,9% 7,8% 2,9% 51,5% 32,0% 26,2% 5,8% 4,9% 4,9% 4,9% 21,4% 8,7% 2,9% 10,7% 6,8% 2,9% 14,6% Gerar caixa necessário para saldar obrigações Ampliar a clientela e tornar-se mais conhecido Facilitar a venda de produtos fracos de linha 6,8% 26,2% 14,6% 14,6% Alcançar um volume de vendas Conquistar uma fatia no mercado 3,9% 0,0% Sem Importância Acesso a novos mercados Pouco Importante Estabilização do mercado Indiferente Retorno sobre investimento Importante De extrema importância GRÁFICO 1 - Avaliação da importância dos objetivos para a formação de preços Nota: Os valores inferiores a 2% foram omitidos nos rótulos dos dados O objetivo que foi avaliado como “importante” ou de “extrema importância” pelo maior número de respondentes foi a “estabilização do mercado”, ou a manutenção dos clientes atuais, com 93,2%, seguido pelo objetivo “ampliar a clientela e tornar-se mais conhecido”, com 89,4% e pelo objetivo “maximização do lucro” ou “retorno sobre o investimento”, com 84,4%. Observou-se que não há a definição de um objetivo único, pois a maioria considera importantes vários objetivos de determinação de preços. Os objetivos que foram considerados “sem importância” ou “pouco importantes” pelo maior número de respondentes foram: “acesso a novos mercados” (29,10%) e “conquistar uma fatia no mercado” (21,4%). Embora 68% dos entrevistados tenham considerado “ampliar a clientela e tornar-se mais conhecido” como de “extrema importância”, apenas 28,2% consideraram “acesso a novos mercados” da mesma forma. Tal resultado reflete a característica do setor de procurar aumentar a clientela no próprio mercado em que está inserido, sem buscar novos mercados. Quanto à avaliação dos respondentes acerca dos fatores de influência na determinação de preços, aquele considerado como “muito influente” para a maioria dos entrevistados 13 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. (55,3%) foi “poder de barganha com fornecedores”. Quando consideradas em conjunto as avaliações como “influente” e “muito influente”, observa-se que “poder de barganha com os fornecedores” alcança 83,5%, seguindo de “redução de custos operacionais”, com 63,1%, e “diversificação do negócio”, com 62,1%. Entre os fatores listados, observa-se que aqueles que afetam diretamente os custos das empresas exercem maior influência nos preços, como “poder de barganha com os fornecedores” e “redução de custos operacionais”. Outros fatores de grande influência nos preços são os ligados às variáveis externas à empresa, como “perda de mercado para a concorrência” e “demanda de mercado”. Os fatores que foram considerados como “sem influência” ou “pouco influentes” para a determinação de preços pelo maior número de respondentes foram: “atuar em novos setores” (52,4%), “investimentos em capacitação profissional” (47,5%), “acesso a novas tecnologias” (36,9%) e “investimentos em melhoria para o ponto de venda” (35,9%). Tal resultado indica a pouca preocupação dos varejistas informais com esses itens. Os resultados são apresentados sinteticamente no GRAF. 2. 100,0% 90,0% 20,4% 18,4% 11,7% 15,5% 23,3% 20,4% 24,3% 30,1% 80,0% 70,0% 55,3% 24,3% 37,9% 60,0% 42,7% 31,1% 33,0% 21,4% 34,0% 32,0% 12,6% 50,0% 5,8% 5,8% 18,4% 9,7% 40,0% 30,0% 12,6% 28,2% 14,6% 3,9% 3,9% 6,8% 13,6% 9,7% 20,0% 10,0% 3,9% 4,9% 46,6% 45,6% 5,8% 33,0% 32,0% 17,5% 26,2% 21,4% 30,1% 7,8% 0,0% Poder de Redução de Perda de Invest. em Invest. em Demanda de barganha custos mercado p/ melhoria p/ o capacitação mercado com operacionais concorrentes ponto de profissional fornecedores venda Sem Influência Pouco Influente Indiferente Influente Acesso a novas tecnologias Diversificar o Atuar em negócio novos setores Muito Influente GRÁFICO 2 - Avaliação dos fatores de influência na formação de preços Nota: Os valores inferiores a 2% foram omitidos nos rótulos dos dados 14 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. Em relação à avaliação pelos respondentes dos fatores de influência para a sobrevivência da empresa, os fatores considerados como “muito influentes” pelo maior número de entrevistados foi “realização de promoções e liquidações” (38,8%), “sistemas de informações de custos eficientes”, “diversificação na linha de produtos” (35,9%) e “poder da propaganda ou comunicação”, também com 35,9%. Para 55,3% dos respondentes, “associação em redes” não tem influência para a sobrevivência da empresa. “Atualização tecnológica” e “acesso a novas tecnologias” também foram considerados “sem influência” ou “pouco influentes” para cerca de um terço dos entrevistados. Os resultados são apresentados sinteticamente no GRAF. 3. 100,0% 80,0% 10,7% 16,5% 90,0% 35,9% 17,5% 32,0% 32,4% 36,9% 38,8% 35,9% 18,4% 70,0% 35,9% 60,0% 3,9% 50,0% 40,0% 31,1% 45,6% 10,0% 44,1% 40,8% 35,9% 13,6% 14,6% 55,3% 9,7% 2,9% 5,8% 44,7% 4,9% 3,9% 30,0% 20,0% 34,0% 11,7% 2,9% 5,8% 29,1% 5,8% 8,7% 30,1% 6,8% 18,6% 16,5% 9,7% 6,8% 21,4% 10,7% 9,7% 0,0% Poder da Sistema de propaganda inform. de (comunicação) custos eficientes Sem Influência Atualização tecnológica Informações Realização de Assoc. em financeiras promoções/ redes precisas liquidações Pouco Influente Indiferente Influente Informações contábeis precisas Acesso a Diversificação novas na linha de tecnologias produtos Muito Influente GRÁFICO 3 - Avaliação dos fatores de influência na sobrevivência da empresa Nota: Os valores inferiores a 2% foram omitidos nos rótulos dos dados As técnicas para o estabelecimento dos preços da empresa foram avaliadas pelos respondentes em uma escala “sem importância/pouco importante/indiferente/importante/de extrema importância”. Os resultados são apresentados sinteticamente no GRAF. 4. 15 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. 100,0% 6,8% 90,0% 23,3% 22,3% 80,0% 70,0% 18,4% 24,3% 13,6% 42,7% 11,7% 53,4% 23,3% 28,4% 48,5% 30,1% 33,0% 60,0% 33,0% 34,0% 26,5% 44,7% 50,0% 12,6% 6,8% 2,9% 40,0% 30,0% 7,8% 4,9% 36,9% 13,6% 36,9% 47,6% 5,8% 20,0% 34,0% 3,9% 3,9% 10,7% 35,0% 8,7% 22,3% 10,0% 0,0% 32,0% 11,8% 3,9% 67,0% 6,9% 4,9% 26,5% 2,9% 16,5% 8,7% Informações Informações Informações Política de Seguindo Auxílio de Estimação/ Definição de Comparação A partir do sobre custos contábeis financeiras menor preço tendências consultores definição de uma margem com a valor do setor do mercado externos à uma margem fixa de lucro concorrência percebido empresa de lucro pelo cliente Sem Importância Pouco Importante Indiferente Importante De extrema importância GRÁFICO 4 - Avaliação da utilização de técnicas para o estabelecimento dos preços da empresa Nota: Os valores inferiores a 2% foram omitidos nos rótulos dos dados Entre as informações utilizadas para o estabelecimento dos preços, 53,4% dos entrevistados avaliaram as informações sobre os custos como de “extrema importância” para o estabelecimento dos preços. As informações contábeis são consideradas “importantes” para 33% e de “extrema importância” para 26,3% dos respondentes. As informações financeiras são consideradas “importantes” também para 33% e de “extrema importância” para 22,3% dos entrevistados. Para 96,1% dos entrevistados, a estimação ou definição de uma margem de lucro é “importante” ou de “extrema importância” para o estabelecimento dos preços. No entanto, a definição de uma margem fixa de lucro é considerada “importante” ou de “extrema importância” para apenas 48,5% dos entrevistados, sendo que 35% consideram essa técnica “sem importância”. Esse resultado demonstra a importância do método de mark-up para a formação de preços das empresas varejistas. Entretanto, para grande parte dos entrevistados a margem de lucro a ser acrescida ao custo não é fixa e está sujeita a variações de acordo com a categoria do produto ou com a época do ano. Para 67% dos entrevistados, o “auxílio de consultores externos à empresa” é “sem importância”. “Comparação com a concorrência” é considerada “importante” ou “de extrema importância” para 68%; e “seguir as tendências do mercado”, para 79,6% dos respondentes. 16 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. Entretanto, “política de menor preços do setor” é considerada “importante” ou “de extrema importância” por um número menor de respondentes (58,3%). Assim, devido à grande concorrência dos mercados em que atuam, as empresas varejistas informais consideram os preços dos concorrentes importantes na definição dos próprios preços, e a maioria dos respondentes segue tais preços. Com relação à avaliação feita pelos respondentes a respeito do sistema de formação de preços adotado pela empresa, em uma escala de 0 a 10, de maneira geral, a avaliação foi “bom” e “muito bom”. Para 67,9% dos respondentes, o sistema recebeu avaliação 8 ou superior. Apenas para 3,9% a avaliação foi igual ou inferior a 4. Para os demais respondentes (28,2%) o sistema de formação de preços foi avaliado como entre 5 e 7. Questionados a respeito dos pontos positivos do sistema de formação de preços, 57,3% dos entrevistados informaram que o sistema adotado apresenta bom retorno e sustentabilidade para a empresa; 23,3% disseram que o controle dos custos, dos estoques e/ou dos preços praticados pelo mercado é um ponto positivo do sistema de preços praticado. Entre os demais entrevistados, 9,7% citaram outros pontos positivos, tais como experiência, satisfação dos clientes e honestidade; e 9,7% não responderam. Quanto aos pontos negativos do sistema de formação de preços, 36,9% dos entrevistados citaram: “baixo retorno do negócio”. Para 5,8% dos respondentes, o preço varia de acordo com o poder aquisitivo do cliente. “Falta de controle” foi citada como um ponto negativo por 4,9%; e “concorrência com produtos de menor qualidade” foi apontada por 2,9% respondentes. Cerca de 34% disseram que o sistema de formação de preços utilizado não possui pontos negativos; e 15,5% não responderam. Em relação à confiança nas estratégias de determinação de preços adotadas pela empresa, 94,2% alegaram que confiavam nas estratégias da empresa, contra 5,8% que disseram não ter confiança nas referidas estratégias. Aqueles que não confiam na estratégia de determinação dos preços citaram como motivos para a desconfiança: baixo retorno, falta de controle e preço tabelado. Já os que confiam nas estratégias de preços adotadas citaram como motivos para a confiança: o bom retorno e a sustentabilidade do negócio (54,2%), o controle praticado pela empresa (10,4%) e o fato de o preço ser tabelado (9,4%). Os demais 26% não responderam. 7. CONCLUSÕES Diante da competitividade crescente e da necessidade de respostas ágeis às constantes mudanças dos mercados em que atuam os varejistas informais, o preço se apresenta como um 17 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. fator crucial para seu posicionamento. Assim, a formação de preços compreende diversas variáveis quantitativas e qualitativas, e exerce grande influência na competitividade, no volume de vendas e na lucratividade dessas empresas. Nesse contexto, este estudo buscou apurar com os proprietários de empresas do varejo informal o processo de formação de preços, visando identificar os principais objetivos, as informações contábeis utilizadas e as principais técnicas empregadas na formação do preço, bem como avaliar os fatores que exercem influência nessa tarefa. Entre os ramos das empresas pesquisadas, destacaram-se: artigos de vestuário e complementos, objetos de arte, souvenirs e artesanatos, bem como aparelhos de uso doméstico e pessoal, eletroeletrônicos, CDs e DVDs. Apurou-se também a predominância de ocupação de 1 ou 2 pessoas. Além disso, observou-se que 82,5% eram de propriedade de varejistas independentes. Quanto à utilização da contabilidade, verificou-se que 73,8% das empresas pesquisadas possuem contabilidade interna informal e que, em sua maioria, utilizam essas informações contábeis, tais como custos do produto, margem de lucro, transporte/frete, despesas e/ou custos de manutenção de estoque, para definir os preços de venda. Em relação aos custos, 86,4% afirmaram conhecer os custos totais das mercadorias. Entretanto, a maior parte dos respondentes não considera na formação dos preços os gastos com ICMS, frete, transporte e seguros, nem despesas administrativas e de vendas. Muitos afirmaram que não possuíam gastos com ICMS e frete. Dessa forma, pode-se concluir que a informação contábil mais utilizada para a formação de preço é o custo das mercadorias vendidas, sendo essa informação apurada mesmo na ausência da contabilidade formal. Quanto aos objetivos da determinação de preços, constatou-se que as empresas varejistas informais buscam conciliar a ampliação da clientela e a maximização dos lucros. Outro objetivo considerado de grande importância foi a estabilização do mercado, tendo em vista a grande concorrência do setor e as dificuldades de sobrevivência dessas empresas. Observou-se que não há a definição de um objetivo único, pois a maioria considera que há vários objetivos importantes na determinação de preços. Dos fatores que mais influenciam a determinação de preços, destaca-se o poder de barganha com fornecedores, seguido pela redução de custos operacionais e pela diversificação do negócio. Observa-se que os fatores que exercem maior influência nos preços são aqueles que afetam os custos da empresa, demonstrando a importância do conhecimento dos custos para o processo de formação de preços. Da mesma forma, as informações de maior relevância utilizadas na formação dos preços são aquelas que envolvem custos. Outros fatores de grande 18 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. influência para a definição dos preços são os ligados às variáveis externas à empresa, como a perda de mercado para a concorrência e a demanda pelos seus produtos. Quanto aos métodos empregados para a formação de preços, constatou-se a predominância do método de mark-up, ou seja, formação do preço através da adição de uma margem de lucro aos custos. Ressalta-se que a maior parte dos respondentes não considera gastos com ICMS, frete, transporte e seguros, nem despesas administrativas e de vendas, fixando-se apenas nos custos das mercadorias vendidos. Devido à grande concorrência dos mercados em que atuam, a grande maioria das empresas varejistas informais alia o método de mark-up à análise dos preços dos concorrentes e segue as tendências do mercado. Dessa forma, a definição da margem de lucro a ser aplicada aos custos considera os preços praticados pela concorrência e o valor que os consumidores estão dispostos a pagar. Com relação à avaliação feita pelos respondentes a respeito do sistema de formação de preços adotado pela empresa, de maneira geral, a avaliação foi superior a 8. Agregando como ponto positivo do sistema de formação de preços o bom retorno e a sustentabilidade para a empresa. Além disso, 94,2% alegaram confiança nas estratégias da empresa. Portanto, as empresas atuantes no setor varejista informal percebem a importância do processo de formação de preços para a sua sustentabilidade. Além disso, a utilização das informações contábeis, mesmo as de caráter informal, são utilizadas no processo. Pode-se dizer que a realização deste estudo contribuiu para a compreensão da formação de preços no varejo informal. Foi possível a identificação dos principais fatores que afetam a formulação dos preços de venda dos produtos e serviços. Pode-se concluir que é necessária uma maior profissionalização das empresas, mesmo que informais, para que tenham a possibilidade de inserção competitiva. REFERÊNCIAS BERNARDI, L. A. Manual de formação de preços: políticas, estratégias e fundamentos. 3º ed. São Paulo: Altas, 2004. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas da administração financeira. São Paulo: Atlas, 1999. D’ANGELO, André. et al. A influência da atmosfera de varejo sobre os consumidores. XXVII EnANPAD, 20 a 24 de setembro, Atibaia, 2003. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio – Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 19 III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006. GUIMARÃES, E. A. 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