104 CmJVAS DiTENSAS NA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL - ESTUDO ANALÍTICO SINÓTICO TRIDDlENSIONAL DAS ClRJVAS DE JANEIRO DE 1985. Por: Fábio de Alcântara Alfredo Silveira da Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro RESUMO É desenvolvido um estudo sinótico tridimensional das configurações participantes de episódios de chuvas intensas ocorridas em janeiro de 1985, são comparados os estados tridimensionais dos sis temas sinóticos atuantes nos eventos e analisado o campo de águ~ precipitável. Conclue-se entre outros fatores: - parece haver correlação intima entre a tropopausa e os processos sinóticos na troposfera inferior bem como ser a conexão entre os jatos polar e sub tropical decisiva na intensificação e aprofundamento dos sistemasciclônicos. INTRODUÇÃO O objetivo do trabalho é identificar as condições sinóticas conduzlveis à ocorrência de chuvas intensas na Região Sudeste, os mecanismos atmosféricos que levam a tais situações e a escala atin gida. Considera-se a influência das condições básicas da superficie, visto que, morfologicamente a Região Sudeste apresenta caracteristicas evidentes de interação ativa com a atmosfera, coadjuvante na intensificação dos processos sinóticos. A orla oceânica ampla orientada de SW/NE expõe o litoral da Região aos ventos prevalescentes e/ou anômalos de SW e NE, pertinentes, quer a sistemas tran sientes na trajetória Atlântica, quer à alta subtropical do Atlân= tico Sul. A corrente oceânica brasileira constitue relevante fator interagente nos desenvolvimentos sinóticos atuantes na faixa lito,. ranea. A condição básica da atmosfera é intermitentemente regida ora pelos aliseos, ora pelos oestes, condicionando o estado básico atmosférico ao indice zonal dominante sobre o continente e o Atlânti co, no período em estudo (janeiro de 1985). ESTUDOS SINÓTICOS: O estado sinótico básico às 12:00 TCG de 27/12/ 84, mostra na troposfera domínio absoluto da alta do Atlântico sobre a Região, e interface com o sistema extra-tropical na área de Curitiba, formando cavado orientado para NW. A condição enfática na interface, é a presença de baixa fria sobre o litoral de Santa Catarina e baixa quente sobre o Chaco Brasileiro. O campo de tempe ratura mostra advecção quente pelo litoral norte do Rio de Janeir;, Espírito Santo e Bahia deslizando através de Minas Gerais, circun~ crevendo a Região Sueste, por Oeste de são Paulo, Chacos Brasileiros e Argentino. Fig. 1, 2, 3 e 4. Aos 500 mb, a carta espacial média mostra condições de indice zonal ·baixo, pelo menos sobre o continente e o Atlântico Sul. A 105 A Baixa do Chaco apresenta-se acoplada por uma baixa fria. A alta troposfera apresenta fluxo zonal organizado, os jatos polar e subtropical bem estruturados e afastados cerca de 1000 Km sobre a Região Sudeste. Não se faz presente a Alta Boliviana, e a baixa fria do Nordeste se apresenta a 100 mb, deslocada para Oeste. O campo do geopotencinl indicando condições ciclogcnéticas so bre o Norte da Argentina, Paraguai e Mato Grosso do Sul. Topografia da tropopausa apresentando amplo seccionamento e~ tre as folhas tropical e das latitudes médias encerrando a segui~ te fisiografia: Crista fria orientada Norte-Sul, com declive suave para o Sul - 100/200 mb, o jato intertropical fluindo longitudinalmente para Leste, através declive suave, de 130 mb na costa do Pacifico, a 150 mb na costa do Atlântico, na faixa dos -70 2 C.0 jato polar aparece apenas nos 175 mb, sobre o Chile co~ 100 nós, na faixa dos -75ºC, mergulhando na superficie de 200 mb, onde flu e na faixa dos 35º de latitude, a -40ºC, alcançando o Atlântico.Fig. 2. A partir do estado inicial descrito, foram detetados surante o mês de janeiro, condições adversas de tempo nos períodos de 1 a 10 e 18 a 30. Aqui apresentamos apenas estudos dos eventos do pr..!. meiro período, no qual foram identificadas três sequências de chu vas intensas: 12 a 4, com pico' no dia 2; 5 a 8 com pico no dia 7, e 8 a 10 com pico no dia 9. Evolução dos sistemas sinóticos: somente no dia 31/12, nas cartas das 12:00 TCG se deteta evolução sintomática: O sistema térmico do Chaco se apresenta a 850 mb expandindo para o setor S~ deste-Nordeste, aprofundando o cavado frontal. Linha de instabill dade orientada para o norte através dos Estados de são Paulo, Minas Gerais e Bahia. Anticiclone fraco sobre o Uruguai e Rio Grande do Sul. Nova frente fria sobre a Argentina, orientada meridionalmente, em conexão com a Baixa do Chaco. Transbordamento do anticiclone do Pacifico sobre os Andes, com crista sobre a Patagôni a. O campo de água precipitável apresenta a isopleta máxima com 25 mm envolvendo a Região do Chaco, parte de são Paulo, Minas Gerais e Bahia, o eixo do sistema orientado de SE para NW, indicando advecção conduzida pelo fluxo anticiclônico subtropical continental, com fonte na Bacia Amazônica. A camada 500/700 mb se apre senta hidrostaticamente consistente. Baixa do Chaco e baixà dinâ~ mico no lit:orol sul, em concxno com fI'cnLe fr'ln. O ar superior mostra o scguintc I'ctrnt.o nlnóUco: A topografia do campo de pressão da tropopausa com dois domos, 76 mb sobre o Norte da Argentina e Sul da Bolívia, e 85 mb sobre o Rio Grande do Sul, respectivamente. Indicação de resurgência de ar troposférico, portanto, convergência no nível de divergência horizontal máxima (NDHM), ~ 300 mb, e subsidência nos níveis inferiores. Sobre o Rio de Janeiro e Minas Gerais se apresenta afundamento para 135 mb, indicando divergência no NDHM, consequentemente movimentos verticais ascendentes nos niveis inferiores. Amplo secclona- 106 mento entre as folhas das latitudes médias e a das latitude~ tropi cais, e a presença dos jatos polar e subtropical nas respectivas margens. 100 mb - Caracterlstica enfática, é a presença de alta quente sobre o Nordeste da Argentina, e baixa fria a Oeste do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Esta condição indicaria o NDHM, a cima do nivel de 100 mb, e assim, convecção penetrativa. A consis: tência do sistema é verificada até os 850 mb. Não foi detetado o sistema correspondente ao afundamento da tropopausa sobre Rio de Janeiro e Minas Gerais. Durante o perlodo subsequent~ não houve mo dificações senslveis das configurações sinóticas dominantes na Re: gião, a não ser suas intensificações. Entretanto no dia 02/01/85 verificamos expensão significativa da baixa sobre o litoral da Região Sudeste. Fig. 5 e 6. Intensifica-se o campo de água precipitá vel não só quantitativamente como em área, atingindo completament; a Região. Eixo das isopletas orientado para NNW com valores gradativamente crescendo com 25 mm no litoral do Rio de Janeiro a 35 mm no Pará. Detetamos advecção de ar quente em fase com o sistemafro~ tal quente e com a baixa do litoral, sistema em interação com a frente fria. A 300 mb verifica-se confluência dos jatos polar e subtropical sobre a área do Rio de Janeiro, implementando movimentos verticais ascendentes abaixo do nlvel e divergência acima, isto é, intensificando e aprofundando o sistema ciclônico existente. A topografia do campo de pressão da tropopausa mostra seccionamento com amplitude de cerca de 2000 Km entre a folha tropical e as folhas de latitudes médias, aninhando os jatos subtropical e po lar. Verificamos domo com 77 mb, mostrando ressurgência de ar tro: posférico, portanto caracterizando convergência no NDHM, indicando inicio de enchimento dos sistemas depressivos nos baixos níveis. Entretanto a Baixa Térmica do Chaco mostra tendência a intensifica ção, provocada pelo afundamento da tropopausa, denotando divergência no DNHM, acarretando movimentos verticais ascendentes nos baixos niveis. A partir do dia 5 as condições sinóticas mostram tendência a novo agravamento das condições de tempo. A 700 mb é detetada baixa dinâmica sobre o litoral de Santa Catarina, cuja estrutura se projeta até os 200 mb com expansão dominante sobre toda Região Sudeste. Desenvolvemos para o dia 6 a carta espacial média e o campo de advecção da vorticidade a 500 mb, que nos mostraram um fluxo zonal suave e organizado, a área de vorticidade anticiclônica sobre o l! toral do Rio de Janeiro e são Paulo e a linha de vorticidade zero circunscrevendo ampla região oceân~a entre as letitudes de 20 2 e 30 2 • O campo de água precipitável apresenta a isopleta de 25 mm do minando toda Região Sueste. No dia 7 ocorreu o máximo de precipitação do período estudado, recolhido às 12:00 TCG, relativo ao período das 24 horas precedentes. Isto nos faz considerar o pico das precipitações ter ocorrido durante as 24 horas precedentes. 107 Os mecanismos sinóticos desenvolvidos no decorrer das últimas 24 horas revelam no nível de 850 mb o litoral do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro dominado por 2 ciclones integrados respectivamen te, à frente fria na área de Porto Alegre e à frente fria sobre o Rio de Janeiro, com indicios de bloqueio imposto pelo sistema subtropical de altas pressões do Atlântico. Figs. 7 e 8. O campo de água precipitável intensificou-se. O campo do geop~ tencial' a 500 mb e a 300 mb denotando condições ciclogenéticas sobre o norte da Argentina e oeste do Rio Grande do Sul. Dia 8 - Com o bloqueio imposto pelo sistema subtropical de altas pressões do Atlântico, a frente fria tornou-se quase estacioná ria ao sul da Bahia, a segunda frente fria acoplou-se a esta, determinando ampla área de mal tempo, abrangendo toda a Região Sudes te, caracterizando condição de mal tempo de grande esc~la. A de= pressão sobre o litoral dominou toda a baixa e alta troposferas, formando-se a 200 mb, na margem equatorial do jato, sistema antici clônico gerado pela divergência de massa e curvatura anticiclônic~ do jato. Nos dias 9, 10 e 11, terceira sequência do período em estudo, permanece o domínio dos sistemas descritos acima. Entretanto, o sistema ciclônico ganhou profundidade, apresentando-se também a 200 mb, sobre os efeitos da confluência dos jstos polar e subtropi cal, e reforçado pela curvatura ciclônica dos jatos posicionando ~ vórtice, como é normal, na sua margem polar. As condições sinóticas permanecem ainda, durante o dia 10 e 11, com ligeiro arrefecimento de intensidade. Há um aspecto importante a ser frisado neste período que se iniciou a 8, a interação de distúrbios tropicais inerentes à linha de instabilidade, bastante ativa, estendida da Re gião Sudeste até a Região Nordeste, razão da intensificação das condições de tempo e da expansão das escalas temporal e espacial do sistema. CONCLUSÃO: A análise dos mecanismos sinóticos envolvidos nos siste mas responsáveis pelas chuvas ocorridas nos dez primeiros dias de janeiro nos indica: • Baixas dinâmicas com ciclogenese no NDHM, isto é, na camada 200/300 mb, foram geradores e intensificadores das condições extre mas de tempo; · As três sequ~ncins de tempo estudadas foram associadas a ondas bnl'oclinicns; · As condições de tempo dos dias 8 a 10 foram intensificadas por efeito de bloqueio estabelecido pela alta subtropical do Atlâ~ tico Sul, permitindo intensa alimentação de calor e umidade persis tente aos processos sinóticos em desenvolvimento; · A interação entre distúrbios tropicais e extratropicais baro clinicos gera condições extremas de tempo de grande escala; • O fluxo de vapor d'água advindo da região amazônica é de grande significância na intensidade das chuvas na Região Sudeste. · Parece-nos haver correlação intima entre a tropopausa e os processos sinóticos na troposfera inferior; 108 • A conexão entre os jatos polar e subtropical é decisiva na i~tensificação e aprofundamento dos sistemas ciclônicos. OBS.: - os detalhes dos estudos desenvolvidos se encontram no rela tório enviado à FINEP, a qual agradecemos o apoio para consecução do trabalho. BIBLIOGRAFIA Pittock A.B. et aI; Climatic Change and Variability. Cambridge Unlversity Press. Berry, Bollay and Beers; Handbook of Meteorology. Mc Grow Hill Book Co. Inc. N.Y. , Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Geografia do Brasil - Região Sudeste; Rio de Janeiro; 1977. 637 pags. Holmboe J., Forsythe and Justin; Dynamic Meteorology. John Wiley and Sons. Inc. Lamb, A.H.; Climate Present Past and Future - Vol I - FundamentaIs and C1imate Now. London, Mathuen and Co Ltd. Holton; An Introduction to Dynamic Meteorology - Academic Press. Palmen, E.; Newton, C.W.; Atmospheric Circulation System Their Structure and Physica1 Interpletation. New York, Academic Press 1969, 603 pags. Astapenko, P.D.; Atmospheric Processes in The High Latitudes of The Southrn Hemisphere. Iztartel'stvo Akademii Nauk SSSR. s: IG. 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