1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO DE JOÃO PESSOA: MECANISMOS DE ARTICULAÇÃO Auricely Lopes Albino da Silva Pós – Graduanda latu sensu em Gestão Pública Municipal Yure Silva Lima Professor Mestre em Geografia UEPB RESUMO: Este trabalho apresenta o instrumento do Orçamento Democrático de João Pessoa, focando no seu mecanismo de articulação popular, abordando a temática dos Orçamentos Participativos como novo modelo de gestão administrativa e espaço de diálogo com a população. Através dos procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa e a análise dos dados, apresenta elementos que proporcionam reflexões e conclusões acerca do mecanismo de articulação do Orçamento Democrático através dos Articuladores (as) Regionais. As questões levantadas nos permitiram analisar a metodologia adotada pelos Articuladores (as) para realizar a mobilização e articulação acerca do trabalho do Orçamento Democrático. Palavras chaves: Participação Popular. Orçamento Democrático. Articulação. 1 INTRODUÇÃO Nos anos de 1980 os movimentos sociais levantaram suas bandeiras de luta reivindicando direitos e justiça social. Em meio a esse cenário, marcado pela falta de credibilidade governamental, se pautou a necessidade de um modelo de gestão pública mais democratizada, que possibilitasse a participação popular, o direito de eleger e definir as prioridades de investimento, acompanhando e fiscalizando as ações governamentais e os gastos e investimentos públicos. Esse instrumento de participação popular surge como mecanismo para a elaboração e acompanhamento das peças orçamentárias (LOA, PPA e LDO)1. Com objetivo de evitar que os governos não cumpram o que planejam ou executem o que não é prioridade, a população precisa entender a linguagem e os processos técnicos do ciclo orçamentário e para isso a gestão pública deve implantar esse instrumento de forma a proporcionar à população que participa, capacitação abordando a temática de Orçamento Público, entre outras ferramentas como os processos licitatórios, os convênios, entre outras. O OD – Orçamento Democrático de João Pessoa foi criado no ano 2005 no Governo PSB – Partido Socialista Brasileiro. A nomenclatura, segundo gestores do OD, difere das demais, difundidas como OP – Orçamento Participativo, por contemplar a participação democrática, enfatizando que “nem tudo que é participativo é democrático”, no entanto, a marca partidária prevalece, diferenciando essa experiência de outros partidos, como por exemplo, a do PT – Partido dos Trabalhadores. Pois, foi o PT quem primeiro implementou a experiência de Orçamento Participativo na administração pública da Cidade de Porto Alegre/RS. O Orçamento Democrático de João Pessoa foi implementado como Coordenadoria, vindo a compor a SETRANSP - Secretaria da Transparência Pública, criada no mesmo ano através da reforma administrativa Lei nº. 10.429 junto a outras Coordenadorias como: Sistema de Ouvidoria Municipal, Controle Interno e Departamento de Produção e Gestão da Informação. Neste ano de 2011, as três primeiras coordenadorias foram transformadas em Secretarias Executivas, o que as respaldam junto as demais Secretárias quanto a relação hierárquica, possibilitando a criação de diretorias, além de proporcionar uma dinâmica mais participativa no planejamento das ações governamentais junto ao corpo de Secretariado e ao Prefeito. Porém, continuam subordinas a SETRANSP, especialmente quanto a dotação orçamentária e aos processos licitatórios e de prestação de serviços. O OD foi regulamentado no ano 2010 através da Lei nº. 11.903, segundo a Gestão Municipal, essa foi uma iniciativa para assegurar que esse instrumento prevaleça independente da cor partidária que assuma o governo. Embora, essa ferramenta de participação já esteja legitimada na Constituição Federal em seu artigo 1º. Parágrafo único, ao tratar da participação popular nas esferas de poder, incluindo os Conselhos Temáticos institucionalizados. E para que essa garantia se efetive é preciso que a população sinta-se proprietária dessa ferramenta. 1 LOA – Lei Orçamentária Anual, PPA – Plano Pluri1Anual e LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias. São peças orçamentárias que definem o orçamento, as metas, ou seja, diretrizes de ações, políticas e programas para o ano posterior. Assim como, a definição de um plano macro, para os próximos quatro anos de governança, de forma a garantir através de um planejamento, um orçamento que respalde as ações governamentais. Essas ferramentas são garantias constitucionais. 3 A Secretaria Executiva do Orçamento Democrático é composta por duas equipes. Uma que trabalha questões de cunho interno, desenvolvendo os trabalhos de planejamento das diversas atividades concernentes ao trabalho de articulação e das demandas orçamentárias, da elaboração e organização técnica referente aos relatórios, as representações em reuniões de técnicos (as), entre outras. A outra equipe desenvolve trabalhos externos, como: a articulação e a mobilização do OD junto a população e aos Conselheiros (as) Regionais, mantendo a população informada acerca das ações, serviços e obras municipais, através de reuniões e promoção de eventos. São os Articuladores (as) Regionais, funcionários (as) comissionados ou prestadores de serviços que promovem reuniões comunitárias, agendam audiências com os técnicos da Prefeitura, organizam eventos e acompanham as demandas da população. São 18 Chefes de Núcleos Regionais, subdivididos por Regiões Orçamentárias. Ocorrendo que há quatro Regiões acompanhadas por dois Articuladores (as), devido ao número populacional da Região e a extensão geográfica, as demais seguem com um Articulador (a). Abordar a temática do Orçamento Democrático é falar de articulação e de mobilização popular. Nesse sentido, o trabalho investiga o mecanismo de articulação desse instrumento na Cidade de João Pessoa, através da vivência de articulação dos Chefes de Núcleos Regionais, conhecidos como Articuladores (as). Estes funcionários de confiança do gestor e que desenvolvem o trabalho de articulação junto a Prefeitura, agendando audiências com técnicos (as), Secretários (as), organizando eventos e reuniões comunitárias, mantendo a população informada e mobilizada sobre as ações, serviços e obras do Governo Municipal. Possuem como ferramentas de trabalho: telefones institucionais, transportes para locomoção, regimentos internos das Regiões Orçamentárias (documento que orienta a metodologia das reuniões dos Conselheiros (as)2 e a participação), relatórios sistemáticos (referentes as atividades realizadas na Região), além de computadores e de telefones fixos na sede da Secretaria. João Pessoa foi zoneada em catorze Regiões Orçamentárias que são compostas por bairros e comunidades, considerando a questão geográfica, social e ambiental. Esse zoneamento está ilustrado no anexo 2 e 3. A 12ª. Região Orçamentária agrupou bairros de aspectos rurais como: Gramame, Engenho Velho e Mituaçu. O Residencial Gervásio Maia e o 2 Conselheiro(a) Regional é o morador da Região, ou seja, do bairro ou da comunidade que está inserida na área denominada Região, que se credencia como candidato a representante na Região, submetendo-se a aprovação na assembleia, para acompanhar e fiscalizar as ações municipais. Essa nomenclatura foi modificada no ano 2011, antes era chamado de Delegado (a). Conselheiro (a) Municipal é o morador da Região já eleito Conselheiro Regional que se candidata a ser o representante da Região junto aos técnicos do governo no acompanhamento das prioridades eleitas, assim como, as ações, serviços e obras. Antes era conhecido apenas como conselheiro. Colinas do Sul também compõe a Região, devido a proximidade geográfica e a utilização dos mesmos equipamentos sociais. A experiência de João Pessoa difere da metodologia aplicada pelas demais cidades, por trabalhar com prioridades, apontadas e eleitas em Audiências Públicas, a serem trabalhadas através do planejamento das peças orçamentárias. As demais experiências como Belo Horizonte e Porto Alegre, trabalham com a divisão de recursos (financeiro) para destinação das obras. Para desenvolvimento das demandas prioritárias, João Pessoa segue o modelo de ciclo orçamentário, ou seja, atividades desenvolvidas anualmente, a partir do planejamento das prioridades eleitas pela população. Esse ciclo é composto por seis etapas que estão detalhadas no anexo 1. Na primeira Etapa do Ciclo 2011, a Secretaria mais demandada foi a saúde, os Gestores alegam que isso se deve ao aumento de investimento na saúde como construção de novas Unidades de Saúde da Família (USF), Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e reforma de hospitais. O fato é que a Saúde sempre foi apontada como prioridade, a diferença dos motivos deste ano de dois mil e onze, é que nos anos anteriores as reclamações eram sobre os serviços e os atendimentos, apontados como questões freqüentes no preenchimento das fichas de prioridades. Dessa forma, após vários investimentos nessa área, a demanda de hoje é por mais equipamentos sociais como os citados acima, assim como, serviços especializados3. Na segunda Etapa onde acontece a eleição dos representantes das Regiões Orçamentárias, foram eleitos 343 Conselheiros (as) Regionais, sendo 205 homens e 138 mulheres. Até a Quarta Etapa do Ciclo, participaram das atividades do OD mais de 8.000 pessoas4. No mês de novembro do ano dois mil e onze foi lançada uma cartilha da SETRANSP que informa os resultados dessas obras que obedecem aos critérios de intervenção elencados pelo OD, referenciando a economia orçamentária (menor custo), o benefício de maior número de pessoas (obra que contemple maior contingente populacional), ou ainda, quando por imposição legal ou pelo critério de IPTU, obras estruturantes realizadas durante os sete anos de ciclo, publicadas na I Conferência da Transparência Pública, foram contabilizadas: 21 USF – Unidade de Saúde da Família, 11 CREIs - Centro de Referência da Educação Infantil, 4 CREIs em construção e 16 reformados, 12 escolas, 32 quadras, 17 praças, 51 praças revitalizadas e mais de 700 ruas pavimentadas como resultados das prioridades eleitas. O mecanismo de articulação do OD de João Pessoa é o objeto de estudo desse 3 Dados observados e interpretados pela leitura e análise dos resultados da Diretoria de Acompanhamento. As informações são originadas da Diretoria de Planejamento e Acompanhamento da Secretaria Executiva do OD 4 5 trabalho, por fomentar a experiência de participação popular através de um instrumento institucionalizado na Cidade de João Pessoa há quase sete anos. Analisando as respostas apresentadas pelo roteiro de entrevista aplicado aos Articuladores (as), acerca das impressões dos resultados, dos processos e da estrutura de mobilização, e como isso pode se refletir na efetivação e difusão do OD na cidade como ferramenta de transformação social. 2 ORÇAMENTO PARTICIPAVO COMO MECANISMO DE ARTICULAÇÃO POPULAR O contexto histórico de globalização no Brasil ressaltou a situação de exclusão social existente no país, como a concentração de renda de um grupo minoritário, enquanto, uma grande parcela da população fica em situação de privações de direitos. Isso se deve também, ao histórico de modelos de administração governamental respaldada pela oligarquia, coronelismo, implantando práticas de exercício de poder tradicionalista, centralizadora e autoritária. Houve tentativas de governança populista, porém, não obtiveram êxito, devido à ausência de participação efetiva da população nos processos decisórios governamentais. Alguns autores como Azevedo (2005, p. 13) e Fernandes (2005, p.13) afirmam que “o problema do Brasil não é a governabilidade e sim, a governança, ou seja, a forma de utilização desta”. Azevedo em seu artigo sobre o tema a que nos referirmos anteriormente traz ainda a discussão de uma crise de governance. E devido a esses acontecimentos históricos voltados as formas de governabilidade, surgem na década de 80, espaços de participação popular, sejam eles institucionalizados como os Conselhos Temáticos, ou através de outros instrumentos reivindicados pelos movimentos sociais, como fóruns, conferências, plebiscitos e referendos. A Constituição de 1988 trouxe em seu texto, diretrizes e orientações que respaldam e garantem a seguridade dos direitos e deveres dos cidadãos, perpassando inclusive pela participação no acompanhamento e fiscalização das políticas públicas. Nesse contexto, o processo orçamentário é importantíssimo para conhecimento e empoderamento da população sobre o ciclo orçamentário, pois é através dele que se viabilizam as ações de obras e serviços nos municípios e estados. É nesse sentido que surgem as experiências de OP’s – Orçamentos Participativos em todo país. Iniciando-se em 1989, no Rio Grande do Sul, no governo do PT – Partido dos Trabalhadores, proporcionando à sociedade um meio de participação popular, elegendo prioridades de investimento e acompanhando as demandas populares solicitadas em assembleias. Rodrigues (2007, p. 57) traz essa discussão dos OP’s como “uma nova forma de governar, quebrando o modelo tradicional, onde somente os Prefeitos, Governadores e Secretariado decidiam sobre o orçamento público, dentro de um Gabinete, sem a participação e/ou consulta popular”. Outros autores como Santos (1998) e Navarro (1998) comentam que o OP permite aos cidadãos participação na dinâmica de investimentos do orçamento público Santos (1998), da mesma forma que permite que grupos marginalizados possam participar da mesma forma que outra, que tradicionalmente opinavam sobre a aplicação de investimento público (NAVARRO, 1998). Diante de regimes de ditadura, de centralismo, de autoritarismo, de oligarquismos e coronelismo presentes ao longo dos anos a frente da governabilidade do Brasil. Os movimentos sociais e partidos de esquerda buscaram um mecanismo de participação que proporcionasse a população, a efetiva participação no que diz respeito aos investimentos da localidade, obtendo direito a eleição e acompanhamento das prioridades e serem trabalhadas pelo orçamento público. Com isso, experiências de OP’s em todo Brasil expandiram-se buscando garantir esse exercício da democracia, embora, devemos estar atentos, no que tange a metodologia de participação, a capacitação e a governança do local. Com todas as críticas atribuídas aos OP’s, sejam elas quanto a metodologia e resolutividade, muitos autores abordam essa temática, acreditando que esse é o caminho para o exercício da democracia. Avritzer (2003), por exemplo, traz a discussão da teoria, ou seja, a literatura que norteia o OP e a praticidade, a efetivação e a implantação desse instrumento como mecanismo de participação popular. Já Azevedo (2008), Nabuco (2008) e Fernandes (2005) abordam o tema tomando como parâmetro a experiência de Belo Horizonte que é analisado como a experiência em OP que mais vem dando certo quanto a resolutividade das prioridades e participação. Discutiremos a prática cotidiana dessa experiência na Cidade João Pessoa, como ela acontece todos os dias na cidade. E apontaremos questões para reflexão acerca das dificuldades e satisfações elencadas pelos Chefes de Núcleos Regionais sobre o mecanismo de articulação. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Os procedimentos metodológicos elegidos para elaboração desse artigo “O Orçamento Democrático de João Pessoa: mecanismos de articulação” tem como atores principais da pesquisa, os Chefes de Núcleos Regionais. São 18 servidores (as) da Secretaria Executiva do Orçamento Democrático de João Pessoa. Totalizando dezoito, onde todos foram entrevistados 7 (as). O estudo de campo foi aplicado em três dias. A Secretaria Executiva do OD foi comunicada da pesquisa através de documento oficial. A abordagem foi de forma receptiva. A motivação dessa pesquisa aconteceu pelos sete anos pela da experiência do OD na Cidade de João Pessoa, passando por duas Gestões Municipais do PSB. “O texto traz uma análise interpretativa, com o método de conhecimento científico por meio de procedimentos metodológicos que possibilitaram investigar a realidade de forma organizada” (ZANELLA, 2010, p. 53). O método é dialético e a temática foi abordada considerando aspectos relevantes para análises e conclusões, realizando uma leitura quantitativa, porém, explorando os dados qualitativos. A pesquisa é explicativa, “buscando identificar fatores determinantes ou contributivos ao desencadeamento dos fenômenos, possibilitando procedimentos de registro, classificação, análise” (ZANELLA, 2010, p. 81). Como técnica foi escolhida a entrevista, aplicada aos Articuladores (as) Regionais. A entrevista foi elaborada com perguntas que contemplam desde o perfil faixa etária, gênero e participação comunitária anterior ao OD, até indagações abertas que questionam as satisfações, dificuldades, desafios, metodologia de articulação e a representatividade do OD para a cidade e como experiência de sucesso. A escolha dessa técnica permitiu observar expressões e comportamentos no momento das respostas, compostas por catorze perguntas acerca do trabalho de articulação e a importância da experiência para a cidade, do ponto de vista dos Chefes de Núcleos Regionais, durante os três dias. 4 ANÁLISE DE RESULTADOS Nesse capítulo analisaremos os dados apresentados a partir das respostas dos Articuladores (as) Regionais sobre o trabalho de articulação desenvolvido no Orçamento Democrático e a relevância desse instrumento para a Cidade de João Pessoa. 4.1 Articuladores(as) Regionais O trabalho de articulação e mobilização do OD é desenvolvido por dezoito prestadores (as) de serviço da Gestão Municipal. São militantes, com cargo de confiança, que representam a Prefeitura na comunidade, fazendo o elo da gestão com a população. Utilizam como ferramentas de trabalho: telefones móveis institucionais, transporte tipo van (previamente agendada) para locomoção dos servidores (as) e dos Conselheiros (as) Regionais para reuniões, visitas e outros eventos. Também contam com telefones fixos e computadores na sede da Secretaria, assim como, regimentos internos aprovados na Região para orientação da metodologia das reuniões e a participação dos Conselheiros (as) nas Regiões Orçamentárias, além de elaborarem relatórios sistemáticos das atividades desenvolvidas na Região. Cada Região possui um modelo específico de regimento interno, assim como, os Articuladores sistematizam suas atividades através de relatório quantitativo e qualitativo das atividades desenvolvidas nas Regiões Orçamentárias. Através das opiniões dos Articuladores (as) Regionais acerca do mecanismo de articulação do OD e as expressões desse instrumento para a cidade, poderemos analisar os resultados desse trabalho no exercício da democracia participativa. 4.2 Apresentação e Análise dos Resultados A apresentação dos dados estão organizados e distribuídos através de gráficos, tabelas e análise das respostas dos Articuladores (as) Regionais a partir do roteiro de entrevista que abrange questões que apontam o perfil dos Articuladores (as), a metodologia de trabalho, os desafios e a importância desse instrumento para a Cidade de João Pessoa como mecanismo de articulação e participação popular. 4.2.1 Perfil dos articuladores(as) regionais Para melhor analisarmos o trabalho de articulação dos Articuladores (as) Regionais, identificaremos o perfil desses prestadores (as) de serviço, como a faixa etária, a escolaridade, o tempo de serviço na Secretaria, o gênero e a forma de ingresso no OD. 4.2.1.1 Faixa etária A faixa etária dos Articuladores (as) demonstra uma diversidade, destacando que metade possui idade acima de 35 anos, enquanto a outra metade subdivide-se entre 18 e 35 anos. O gráfico abaixo ilustra essa representação. 9 Faixa Etária 16,00% de 18 a 23 anos 11,00% 50% de 24 a 29 anos de 30 a 35 anos 22,00% acima de 35 anos Gráfico 1 – Faixa Etária Fonte: Elaborado pela autora, baseado nas respostas dos entrevistados. A equipe externa do OD é composta por todas as faixas etárias, contemplando desde a juventude até a pessoa idosa, pois entre o grupo há uma pessoa de sessenta e dois anos de idade. Essa diversidade pode ser interessante, pois possibilita à equipe uma riqueza peculiar na metodologia de trabalho, considerando a experiência de vida trabalhista ou de militância popular. É importante frisar que a participação da juventude nesse âmbito de trabalho mobilizador e político é motivador para o debate e fomento da participação popular e da democracia participativa, pois possibilita formação de novos quadros de atuação e renovação no âmbito da administração pública e da participação popular. 4.2.1.2 Gênero O gênero que prevalece nessa categoria de trabalho é o masculino, representado em número de 10, isso pode ser uma demonstração do comportamento cultural da sociedade, onde os homens são os que majoritariamente discutem e fazem articulação política e comunitária. Embora, isso venha mudando ao longo dos anos. A participação das mulheres vem tornando-se essencial e expandindo-se nesse debate, de forma que as mulheres representam 44% desse universo entrevistado. 4.2.1.3 Escolaridade Quanto à escolaridade dos Articuladores (as) apresentou-se satisfatória, pois, metade dos comissionados (as) têm ensino superior completo ou cursando, a outra metade possui ensino médio e apenas um Articulador tem ensino fundamental. Os níveis de escolaridade apresentados podem auxiliar quanto a aplicação de métodos e metodologia de sistematização e planejamento das atividades, unidas a experiência de mobilização e de militância política e popular. 4.2.1.4 Tempo de serviço O tempo de serviço na função de Articulador (a) está relacionado aos que participam do processo desde sua implantação aos que ingressaram neste ano de dois mil e onze. Os Articuladores (as) que possuem menos de um ano na função, vieram substituindo exarticuladores (as) que migraram para o Governo Estadual ou para cobrir um déficit de Articulador (a) na Região que é composta por dois Chefes de Núcleos Regionais. Dessa forma, podemos observar que a forma de ingresso no OD também perpassa pela questão política. Correlacionado ao fato desses prestadores de serviço ter um cargo de confiança como poderemos verificar na tabela abaixo. Tabela 1 – Forma de Ingresso no Orçamento Democrático Formas de Ingresso no OD Convite/Indicação Transferência de Secretaria Participação no OD como Conselheiro (a) Total Quantidade 12 01 05 18 Fonte: Fonte: Elaborado pela autora, baseado nas respostas dos entrevistados. Conforme podemos constatar na tabela acima os cargos de Chefes de Núcleos Regionais são de confiança do gestor, pois 12 foram convidados por alguém da equipe do OD, ou seja, indicados (as), uma Articuladora foi transferência de função, a de Agente Setorial da SEDES – Secretaria de Desenvolvimento Social que também desenvolvem trabalho de mobilização popular, mais especificamente auxiliando na organização popular através de associações comunitárias e outras ações que se relacionam com a Secretaria e a Gestão Municipal. E 05 funcionários (as) responderam que ingressaram no OD através da participação no Ciclo do OD como participante, depois Delegado (hoje denominado Conselheiro Regional) e posteriormente como Conselheiro (hoje denominado Conselheiro 11 Municipal), resultando no convite do gestor para o cargo. Geralmente essas pessoas mostravam-se parceiras, dedicadas, assíduas e faziam intervenções em defesa da comunidade, sempre reconhecendo o trabalho da gestão municipal, além de terem uma boa influência com a comunidade. Com isso concluímos que os cargos são de confiança do Governo Municipal e o ingresso não se dá por análise de currículo. Outro fato interessante para reflexão é considerar até que ponto é favorável para o processo de participação popular, contratar Conselheiros (as) como funcionários (as) do OD ou de outra Secretaria. Será que isso não cria expectativas de emprego na participação popular junto a Prefeitura? Ou pode ser o reconhecimento/mérito do trabalho comunitário do então Conselheiro (a) que não deveria deixar de ser contratado por participar do OD? Sobre essa questão é preciso atenção, para não desqualificar a participação popular, essa não deve ser atrelada ao governo, deve ser independente, ou seja, não estatal. Isso ocorre quando governos cooptam lideres de movimentos sociais, intimidando a participação enquanto reivindicatória. 4.2.2 Militância do articulador(a) Todos os Articuladores (as) Regionais participaram de Movimentos Sociais, Comunitários, Temáticos e de Igrejas. Foram citados movimentos de categoria profissional, das mulheres, da criança e do adolescente, da juventude, da moradia, das pastorais, estudantil, da pessoa com deficiência, comunitário, partidário, negro e cultural. Dessa forma, constatamos que os Articuladores(as) possuem experiência de participação, formação e militância em movimentos sociais e reivindicatórios, podendo contribuir favoravelmente com a efetiva participação popular de forma democrática e transparente. Analisaremos as respostas dos entrevistados (as) quando indagados sobre a forma de articulação na Região, as satisfações, as dificuldades, os desafios e o que precisa melhorar no trabalho de articulação e a importância e relevância do Orçamento Democrático para João Pessoa. 4.2.3 Metodologia do trabalho de articulação Sobre a articulação na comunidade nenhum Articulador (a) fez menção ao regimento interno que cada Região possui norteando as reuniões, as comissões de trabalho de fiscalização e participação dos Conselheiros (as), tão pouco, sobre os relatórios mensais que devem elaborar e entregar à Secretaria. Foram colocados aspectos da metodologia de trabalho de forma particular, de cada Articulador. Vejamos algumas respostas sobre o processo de articulação na comunidade: “Através de reuniões com as Secretarias, parceria com Associações Comunitárias. Visitas a obras na Região e estar diariamente em contato com os Conselheiros” (Articuladora 1) “Através dos Conselheiros e das lideranças comunitárias e religiosas, utilizando o carro de som, panfletos e fazendo reuniões” (Articulador 1) “A partir de um mapeamento da comunidade e identificação das lideranças, construindo uma agenda com as comunidades e lideranças, fazendo o trabalho pedagógico, transmitindo a funcionalidade do OD” (Articulador 2). Como podemos observar, a forma como os Articuladores desenvolvem a mobilização na Região, acontece através de contatos pessoais, utilização de algumas ferramentas de divulgação e articulação com entidades, porém, o que ficou perceptível foi a articulação voltada para as reuniões regionais e de gestão, e contato com os Conselheiros (as) Regionais. Embora, a divulgação do trabalho do OD junto a população não perpasse exclusivamente pelo Conselheiro (a), enfatizando que o Articulador deve junto ao Conselheiro (a) de sua área de atuação, mobilizar e manter informada a comunidade sobre as ações, obras e serviços municipais. 4.2.4 Dificuldades no trabalho de articulação As dificuldades apontadas foram sobre a estrutura de trabalho, no que concerne aos transportes, contatos telefônicos, os processos políticos e a questão motivacional que repercute também na intersetorialidade. Vejamos algumas das colocações: “A falta de respostas das Secretarias, porque depois da motivação feita por nós à população, não se tem o retorno para a comunidade e fica a cobrança pelo que você propagou” (Articulador 6) “(pensativo) As dificuldades são os processos políticos, a disputa política partidária” (Articuladora 2) “(pensativo) A falta de estrutura como: transporte disponível para cada Articulador, telefone com mais bônus e créditos para o cotidiano dos trabalhos na comunidade. E o enfrentamento a lideranças com perfis individualistas e também a alguns parlamentares” (Articulador 9) As maiores dificuldades apontadas acusam que as Secretarias Municipais não estão em 13 consonância com o processo do OD, dificultando o trabalho de credibilidade e intersetorialidade. Além da infraestrutura mencionada como dificuldade, outras respostas não expostas no artigo, deixaram claro que já melhorou muito. Apesar da demanda de trabalho nas Regiões ser intensa, demonstrando a dificuldade de ter que aguardar uma vaga no horário das vans da Secretaria. Da mesma forma que apontam a necessidade de novos planos para os aparelhos móveis, devido ao uso incansável cotidianamente. Também destaco a preocupação da Articuladora 2 ao apontar a questão política partidária como dificuldade, pois, os processos de decisão, podem esbarrar em interesses individuais e partidários. 4.2.5 Satisfações no trabalho de articulação Quanto às satisfações no desenvolvimento desse trabalho de articulação foi notória a exaltação em fazer parte dessa experiência na cidade. Vejamos algumas colocações: “(demonstração de euforia) É um prazer! Ver as realizações de nossas demandas junto à comunidade e com resultados do poder público, concretizados” (Articulador 3) “Poder passar as ações e serviços da Prefeitura para a população, assim como, sobre seus direitos” (Articulador 4) “O avanço político e o reconhecimento comunitário. A descoberta de novos atores comunitários nessa oportunidade de discutir os problemas e eleger as prioridades” (Articulador 5) É perceptível que os Articuladores (as) Regionais demonstram satisfação com o trabalho, apesar das dificuldades citadas anteriormente, reconhecem as ações, serviços e obras realizadas pela Prefeitura através do OD, embora ponderando no ponto anterior, a falta de retorno das Secretarias quanto às respostas às solicitações dos Conselheiros (as). 4.2.6 Desafios na articulação Sobre esse ponto foram mencionados aspectos como a falta de: motivação, estímulo, incentivo e reconhecimento do trabalho por parte da Gestão Municipal. De forma que os gestores (as) municipais enxerguem o OD como elo com a comunidade, para um trabalho coletivo de forma consultiva e participativa. Vejamos algumas declarações sobre esses desafios: “Manter acesa a vontade das pessoas em construir e acreditar no projeto” (Articuladora 3) “É se virar nos trinta”. “Para resolver tudo, pedindo ajuda, havendo e descobrindo apoio e ajuda” (Articulador 8) “O primeiro desafio é se manter estimulado e inovar a metodologia de mobilização” (Articulador 2) Fazendo uma leitura dessas respostas percebemos que a primeira declaração aborda o fator credibilidade e compromisso, a segunda fala sobre a expectativa e cobrança da gestão sobre o Articulador, que é parte de um projeto político de gestão e por isso a cobrança sobre esse trabalho de mobilização, e a terceira é sobre o desestímulo e a necessidade de inovação na metodologia de mobilização, de forma a alcançar outros atores da participação popular e novas estratégias de articulação. Como sugestões para melhorar esses desafios os Articuladores (as) fizeram alguns apontamentos, vejamos: “(pensativo) Melhores condições de trabalho para o Articulador, diminuir a cobrança sobre o Articulador, atender as demandas, explicar o que é possível atender no momento e o que não é. Que os Secretários (as) cumpram com as palavras anunciadas e não fique na promessa, reconhecer o Articulador como parceiro do projeto, socializando as informações municipais” (Articulador 1). “Promover formações políticas e maior reconhecimento do Governo com o OD e com a população” (Articulador 5) “A articulação na perspectiva da intersetorialidade dos Secretários com o OD. Ter uma visão mais política da equipe de apoio, ou seja, a equipe interna e melhorar a capacitação interna da equipe e dos Conselheiros de forma mais sistemática” (Articulador 10) No momento da resposta, o Articulador 1 exemplificou um acontecimento na Região em que trabalha, onde a gestão realizou uma ação e não o comunicou. Isso demonstra o problema de intersetorialidade já apontada como dificuldade anteriormente. Também foi mencionada a importância da promoção de capacitações para a equipe do OD e para os Conselheiros (as) Regionais, de forma sistemática. É válido ressaltar que já houve capacitações, embora, não haja um calendário fixo no planejamento. Após analisar um pouco da metodologia, dos desafios, das dificuldades e das satisfações no trabalho de articulação, abordaremos a importância e relevância dessa experiência de participação popular na Cidade de João Pessoa, a partir da visão dos Articuladores (as) Regionais. 4.2.7 Reflexões sobre o OD na cidade de João Pessoa As perguntas que seguem agora abordam a motivação, a importância e o resultado do trabalho do OD na Cidade de João Pessoa do ponto de vista dos Articuladores (as) Regionais. 15 Indagados sobre o que faz o OD acontecer todos os dias na Cidade de João Pessoa, os Articuladores (as) responderam: “A fomentação das comunidades, no sentido de buscar a melhoria da qualidade de vida, produzindo assim, demandas que existem, ao contrário de gestões passadas, que mantinham exclusivamente a articulação com os parlamentares, desprezando o diálogo com a população” (Articulador 9) “Os Conselheiros (as) Regionais, sendo peças fundamentais, porque estão vendo as necessidades diárias. E as realizações das obras e ações das demandas” (Articulador 1) “(pensativa) Vontade de fazer da Articuladora. E do trabalho do OD de uma forma geral. É o caminho certo de se governar” (Articuladora 5) Observamos que as demandas cotidianas da população são fatos que motivam a realização do OD todos os dias na cidade, somadas ao trabalho que é desenvolvido pelos Conselheiros (as) Regionais junto a comunidade, ao trabalho dos Articuladores (as) no compromisso de viabilizar a participação popular nos fóruns de discussão e de deliberação, assim como, os resultados das obras e ações realizados na Cidade de João Pessoa. Correlacionando as respostas anteriores com as perguntas sobre a importância do OD para a cidade, as colocações foram voltadas para a população: “É o empoderamento da população. Em ser consultada para o cumprimento das obras. Mesmo não atendendo a todas as demandas” (Articuladora 2) “Foi a melhor coisa que já aconteceu numa gestão democrática. A cidade cresceu em infraestrutura e ficou mais organizada” (Articulador 10) “Porque está formando cidadãos livres” (Articuladora 1) O Articulador 1 cita essa expressão “cidadãos livres” para enfatizar que a população está participando da Administração Pública e elegendo as prioridades de investimentos. Percebemos que nas respostas há uma notória credibilidade ao instrumento. De alguma forma os Articuladores (as) Regionais acreditam na mudança cultural de participação popular na Gestão Pública, assim como, apontam um desenvolvimento da cidade em infraestrutura e participação cidadã, embora, em outras respostas ficou clara a falha do governo na sistematização e efetivação das demandas orçamentárias elegidas pela população. Mesmo que a Gestão Municipal inaugure, entregue e realize várias obras na cidade, essas demandas parecem não serem planejadas e definidas com o Conselho do OD5. O que, pelo entendimento 5 COD – Conselho do Orçamento Democrático é composto por 14 Conselheiros titulares e seus respectivos suplentes, sendo dois para cada Região (um titular e um suplente), além dos representantes da população há uma representação da SEGAP - Secretaria da Articulação Política, da CMJP – Câmara Municipal de João Pessoa e da Secretaria Executiva do OD com seus respectivos suplentes. das Etapas do Ciclo do OD, essa metodologia aconteceria na 4ª. Etapa, momento em que os Conselheiros (as) Municipais reunir-se-iam com os técnicos (as) das Secretarias mais demandadas para definir as ações prioritárias apontadas e elegidas em Audiência Popular. 4.2.8 O Orçamento Democrático como experiência de sucesso e transformação A última pergunta procurou saber, na opinião do Articulador (a), se o OD é uma experiência transformadora e de sucesso. Vejamos: “(demonstração de incerteza e dúvida na resposta) Foi inovadora. (receio em responder) Porque iguala as pessoas como um todo na participação” (Articuladora 6) “Sim. Por ver o envolvimento das pessoas. (volta atrás na afirmação) Mais ou menos. Muitas pessoas não participam e não conhecem devido à falta de divulgação” (Articuladora 5) “Ainda não. É uma experiência inicial. Só será uma experiência transformadora e de sucesso, com a consolidação da participação popular de forma mais qualitativa, indo além do ciclo orçamentário, onde a própria comunidade/população qualificar a sua intervenção no exercício de sua cidadania” (Articulador 9) Essas declarações não afirmam o OD como transformador e de sucesso, ao menos inicialmente, alguns Articuladores (as) apontaram como um instrumento em construção para essa transformação. A Articuladora 6 ao responder a essa questão, ficou receosa se deveria ou não responder o que realmente pensava. Já a Articuladora 5, ao responder a afirmativa, volta atrás, refazendo a resposta após refletir melhor. Já o Articulador 9 reconhece a experiência como inovadora, mas que ainda não pode ser considerada transformadora e de sucesso. Esses funcionários (as) reconhecem a importância do OD para a cidade, mas pondera que o instrumento ainda não pode ser considerado transformador e de sucesso. As outras declarações reconhecem o Orçamento Democrático como experiência transformadora e de sucesso. Reconhecem o OD como um instrumento legítimo de participação e escuta da população, mas que ainda precisa ser melhorada quanto a metodologia e especialmente em relação ao planejamento, a definição e a execução das demandas apontadas durante o Ciclo do OD. Vejamos: “Sim. Por ter conseguido resgatar o sentimento de cidadania, o valor público. É transformador porque as pessoas entendem a coisa pública como sua. Porque houve mudança de comportamento e de cultura da população e dos gestores” (Articuladora 3) “Sim. E como é! Enxergamos a diferença em nossa cidade. Quem viu João Pessoa há seis anos e vê hoje, enxerga a diferença. E isso se deve ao OD. Porque o povo está participando. É um olhar diferente. O povo é quem reivindica. É uma 17 evolução” (Articulador 1) Com exceção das três declarações que não consideraram o OD como uma experiência transformadora e de sucesso, todas as declarações foram afirmativas e respondidas com firmeza e de forma enfática, sempre focando o instrumento como espaço de diálogo e de participação popular. A Articuladora 3 ressalta em sua resposta o sentimento de cidadania. E o Articulador 1 relembra a cidade antes das duas últimas gestões comparando os avanços por ele avaliado como feitos do OD. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A experiência do Orçamento Democrático em João Pessoa, com sete anos de existência, trouxe para a administração pública local, um modelo de gestão que proporciona o diálogo e a participação popular nas escolhas de prioridades de investimentos, de acordo com o planejamento das peças orçamentárias. O mecanismo de articulação dessa experiência é o elo principal de apresentação e mobilização para a participação popular, podendo até ser considerado o motor desse instrumento. E isso acontece através do trabalho de dezoito agentes políticos de cargos comissionados e com experiência de articulação e mobilização. Sobre essa questão a análise dos dados constatou a satisfação desses prestadores com o trabalho que realizam, porém, destacando a necessidade de fortalecer a intersetorialidade tanto sobre o reconhecimento do trabalho de articulação para a gestão, como da importância do próprio OD para a cidade. Enfatizando que os Articuladores não são reconhecidos pelos gestores (as) municipais, assim como, as demandas demoram a serem respondidas e/ou atendidas. A criação desse instrumento na Cidade de João Pessoa possibilitou que outras lideranças comunitárias, com exceção das representações legalizadas, como associações e parlamentares, participassem ativamente dos processos que deliberam o orçamento público e de fóruns e conferências que apontam diretrizes para as políticas públicas. Porém, essa ferramenta em João Pessoa, ainda não alcançou os movimentos sociais, as classes média/alta e tão pouco os parlamentares, pois não há registro de participação e planejamento coletivo com essas representações, é importante expandir o OD para outros atores e formadores de opiniões, como já apontado no planejamento da Secretaria sobre a implementação do OD Digital e do OD Criança que ainda não foi implantado, respaldando a questão da intersetorialidade. O OD de João Pessoa apresenta uma metodologia que contempla: avaliação das ações governamentais, eleição de prioridades, eleição de representantes populares, planejamento das demandas entre outras ações. Porém, a leitura dos dados apresenta questões que perpassam pelo planejamento das demandas prioritárias, embora tenha uma Etapa do Ciclo que objetiva trabalhar o planejamento das prioridades apontadas, isso não acontece de forma deliberativa, as Secretarias apresentam as solicitações sistematizadas e as ações já realizadas pelo órgão, abrindo para novas demandas, sem sequer planejar as eleitas em assembleias populares. Muito é feito pela gestão em se tratando de obras e serviços, até mesmo das demandas apontadas em assembleias, porém, os Conselheiros (as) Municipais não participam efetivamente dessas escolhas, ou seja, decisões, o que deveria acontecer durante o ciclo. Isso reforça o que se é colocado pelos Articuladores (as) sobre a falha na intersetorialidade da gestão. A partir da análise dados ficou evidente que o OD acontece na Cidade de João Pessoa, considerando que o planejamento e acompanhamento das demandas prioritárias, a intersetorialidade, a divulgação e o fortalecimento da participação popular precisam ser melhores planejados de forma estratégica para garantir a qualificação da participação e eficácia do OD. Esse instrumento é uma ferramenta para quebrar os modelos de gestão clientelistas e assistencialistas. O OD é um mecanismo essencial para um projeto político. Ele proporciona a identificação de novos atores sociais e pode ser o caminho para a concretização da democracia, da participação popular e do compartilhamento de poder com a sociedade. MINICURRÍCULO Auricely Lopes Albino da Silva Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba desde 2007. Concluindo a Pós-Graduação em Gestão Pública Municipal pela EAD/UFPB Virtual. Cursando a Especialização em Políticas Públicas de Proteção Social pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa. Atualmente exercendo o cargo de Chefia de Gabinete de Vereadora em João Pessoa pela Câmara Municipal – Casa Napoleão Laureano. Contato: [email protected] 19 REFERÊNCIAS AZEVEDO, Sérgio de. Políticas públicas e governança em Belo Horizonte. 1997. Cadernos IPPUR XI. Vol. 1. Nº. 2. Disponível em: <www.chs.ubc.ca/consortia/outputs3/NPCBook-Perspectivas_Brasilieras.pdf> AZEVEDO, Sérgio de; NABUCO, Ana Lúcia. Democracia participativa: a experiência de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Leitura. 2008. 1ª. Edição. Disponível em < buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=B58175&tipo=com pleto&idiomaExibicao=1> ISBN 978-857358-844-6. AZEVEDO, Sérgio de; FERNANDES, Rodrigo Barroso. Orçamento participativo: construindo a democracia. Revan. 2005. Rio de Janeiro. ISBN 85-7106-311-7. Disponível em < www.scribd.com/doc/13519281/Participatory-Budget-in-Brazil-Dissemination-Report > AVRITZER, Leonardo. O Orçamento participativo e a teoria democrática: um balanço crítico. 2003. Disponível em: <onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.14682427.2006.00692.x/full >. AVRITZER, Leonardo; NAVARRO, Zander. Org. A inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003. ISBN 85-249-0904-6. BRAGA’S. Maria do Carmo; SILVIA, Helena Félix. Revista Eletrônica da Faculdade de Ciências Humanas. 2008. GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores na política social urbana e participação popular. Cadernos Metrópole. nº.7. 1º. Semestre. 2002. Disponível em: <www.undp.org/legalempowerment/reports/National Consultation Reports/Country Files/7_Brazil/7_5_Urban_Policy.pdf >. GOULART, Jefferson O. Orçamento participativo e gestão democrática no poder local. 2006. Lua Nova. São Paulo. 2006. SANTOS JÚNIOR, Orlando Alves dos. 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Como foi seu ingresso no OD? ________________________________________________________________ 3. Há quanto tempo exerce a função de Articulador (a)? ________________________________________________________________ 4. Como é o processo de articulação na comunidade? ________________________________________________________________ 5. Quais as satisfações no desenvolvimento desse trabalho? ________________________________________________________________ 6. Quais as dificuldades em ser Articulador (a) do OD? ________________________________________________________________ 7. Quais os desafios? ________________________________________________________________ 8. Qual a importância do OD para a cidade de João Pessoa? ________________________________________________________________ 9. Que pode melhorar? ________________________________________________________________ 10. Que faz o OD acontecer todos os dias? ________________________________________________________________ 11. O OD é uma experiência transformadora e de sucesso? Por quê? ________________________________________________________________ 12. Que pode melhorar? ________________________________________________________________ 13. Que faz o OD acontecer todos os dias? ________________________________________________________________ 14. O OD é uma experiência transformadora e de sucesso? Por quê? ________________________________________________________________ ANEXO 1 – CICLO DO ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO 2011 Etapa Metodologia 1ª. Etapa – Audiências Momento em que acontece avaliação das ações governamentais com a presença do Prefeito e Públicas Secretariado, e escolha das prioridades para investimento no ano vindouro 2ª. Etapa – Assembleias Eleição dos Conselheiros (as) Regionais por Região Orçamentárias a cada dois anos e, apresentação das Populares obras, ações e serviços municipais 3ª. Etapa – Assembléia Momento de eleição dos Conselheiros (as) Municipais e Geral dos Delegados (as) consolidação das obras, ações e serviços municipais 4ª. Etapa – Planejamento Momento de planejamento das prioridades junto com os técnicos (as) do governo. Participam os Conselheiros Democrático (as) Municipais e Regionais 5ª. Etapa – Audiências Momento de consolidação das ações, serviços e obras de acordo com as prioridades eleitas. As secretarias mais Setoriais demandadas são convidadas e apresentam o que está inserida na LOA 6ª. Etapa – Avaliação e Momento de avaliação das atividades do ano e planejamento das atividades do próximo ano, com a Planejamento presença do Prefeito reunindo todos os Conselheiros (as), equipe do OD, Secretariado e população FONTE: SITE DO OD-JP2011WWW.OD.JOAOPESSOA.PB.GOV.BR ACESSADO EM 29/11/11 23 ANEXO 2 – MAPA DA REGIONALIZAÇÃO DA CIDADE Fonte: Secretaria Executiva do Orçamento Democrático 2011 ANEXO 3 – ZONEAMENTO DAS REGIÕES ORÇAMENTÁRIAS Zoneamento das Regiões Orçamentárias Regiões Bairros/comunidades orçamentárias 1ª. 2ª. 3ª. 4ª. 5ª. 6ª. 7ª. 8ª. 9ª. 10ª. 11ª. 12ª. Bessa, Jardim Oceania, Manaíra, São José, São Luiz, São Gabriel, São Mateus, Washington Luís, Chatuba I, II e III, Jardim Luna, Brisamar e João Agripino. Jacarapé, Penha, Vila dos Pescadores, Vila do Sol, Rio do Cabelo, Seixas, Rabo do Galo, Quadramares, Altiplano, São Domingos, Cabo Branco, Tambaú, Paulino Pinto, Barreira do Cabo Branco, Portal do Sol, Cidade Recreio. Mangabeira I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, Cidade Verde I e II, Projeto Mariz, ESPEP, Girassol, Vila Mangueira, Feirinha, Patrícia Tomaz, ASPOM, Vila União, Conjuntos dos Ambulantes, Comunidade Luiz Ramalho, PROSIND, Nova Esperança. Valentina I e II, Muçumago, Paratibe, Nova Mangabeira, Planalto da Boa Esperança, Barra de Gramame, Cuiá, Frei Damião, Comunidade Quilombola, Planície Dourada, Monte das Oliveiras, Cidade Maravilhosa, Condomínios Amizade, Liberdade, Independência e Cidadania, Santa Bárbara, Parque do Sol, Ana Clementina de Jesus. Cidade dos Colibris, José Américo, Laranjeiras, FAC I e II, Santa Verônica, Água Fria, Citex, Geisel, Boa Vista, Nova República, Ernani Sátiro, Esplanada, Costa e Silva, Jardim Sepol, Nova Canaã, Rua do Arame, Grotão, 1º. de Abril, Greenville, Funcionários II, III e IV, Maria de Nazaré, Morada Verde, Presidente Médice, João Paulo II, Vila da Paz, Nova Vida, Taipa, Gauchinha, Conjunto dos Radialista, Nova Trindade. Bairro das Indústrias, Cidade Verde I e II, Mumbaba, Distrito Industrial, Loteamento Verde Vale, Jardim Veneza, Três Lagoas, Jardim Verona, Condomínio da Paz, Conjunto José Vieira Diniz, Conjunto Padre Ibiapina. Cristo, Rangel, Jaguaribe, Jardim Bom Samaritano, Novo Horizonte, Matinha, Monte Cassino, Pedra Branca, Boa Esperança, Redenção, São Geraldo, Ceasa, Bela Vista. Funcionários I, Planalto, Cruz das Armas, Baleado, Jardim Guaíba, Lagoa Antonio Lins, Alvorada I e II. Varadouro, Alto do Mateus, Bairro dos Novais, Porto do Capim, Trapiche, Renascer I, Distrito Mecânico, Santa Emília de Rodat, Saturnino de Brito, Ilha do Bispo, Ninho da Perua, São Judas Tadeu, Jardim da Mônica, Beira da Linha, Juracy Palhano. Roger, Tambiá, 13 de Maio, Comunidade do S, Asa Branca, Terra do Nunca, Riachinho, Buraco da Gia, Vila Japonesa. Mnadacaru, Bairro dos Ipês, Bairro dos Estados, Jardim Mangueira, Rua do Cano, Alto do Céu, Porto de João Tota, Vem – Vem, Pedro Gondim, Padre Zé, Beira Molhada. Gramame, Colinas do Sul I e II, Gervásio Maia, Parque Sul, 25 13ª. 14ª. Engenho Velho, Marinês. Centro, Torre, Expedicionários, Tambauzinho, Tito Silva, Miramar, Brasília de Palha, Yaya, Padre Hildon Bandeira, Cafofo. Castelo Branco I, II e III, Bancários, Conjunto Anatólia, Jardim São Paulo, Cidade Universitária, Eucalipto, São Rafael, Timbó, Santa Clara, Santa Bárbara, Colibris II. Fonte: Cartilha do Orçamento Democrático publicada em 2011