no S a l ã o
por
: exposição
J d e M a r i a Luisa Reis,
i João R e i s e C a r l o s
I Reis
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Abstraindo da obra de D.
M a r i a Luisa Reis que se r e p r e s e n t a , e m quantidade e
qualidade, de m a n e i r a a n ã o
j u s t i f i c a r uma c r i t i c a , f a l a rei apenas de J o ã o Reis, c o mo a u t o r
responsável da
maioria dos quadros expostos.
C a r l o s R e i * que
aparece
apenas
como n e g a ç a
para
chamar
fregueses,
somente
p r e j u d i c a o comércio de seu
filho, pois
a presença
dos
seus—ainda que peores—quadros r e a l ç a a nulidade t é c n i c a da obra de J o ã o Reis.
Em Carlos Reis n u n c a observei mais n a d a que um virtuoslsmo nem sempre orientado com gosto, um certo espirito na observação superfld a l das coisas e pessoas, e
um declarado desconheclmento das ancledades profundas
do a r t i s t a .
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A meu vêr, neste desconheI c i m e n t o r a d i c a a sua e s t a g n a i çào de h á muitos anos para
cá.
E assim, penso que as mãos
de Carlos Reis s e r i a m e x c e l e n t e s auxiliares d u m a s e n s i bilidade mais r i c a
ou dum
cérebro melhor esclarecido.
P o r é m , em J o ã o Reis, n e m
virtuosismo,
nem
espírito,
n e m uma pequena qualidade.
Eu não queria levar esta
n e g a ç ã o ao absoluto, m a s a
incoerência, o d e s t r a m b e l h a m e n t o e a desorientação, p a t e n t e s nos seus quadros, ved a m - n o s melhores Juízos.
Talvez J o ã o Reis pudesse l í ber t a r - s e do c h a r c o em que
se emerge dia a dia se tentasse fugir da influência p a terna, e começasse a pintar
guiado u n i c a m e n t e pela s u a
m a n e i r a de s e n t i r ; ou tivesse
a
c o r a g e m de
reconhecer
m u i t o m a u aquilo que tem
feito e, n o c a s o duma m u d a n ç a Impossível, q u e b r a r
os pincéis e vir a d m i r a r as
o b r a s de a r t e .
Nem todos nascemos
para
pintores e a n a t u r e z a superior dessa n o s s a
Impotência
despe-noa de toda a culpa e
n ã o Justifica a m í n i m a vergonha.
Mas eu t e n t a r e i dizer porque a c h o que as suas obras
e x p o s t a s n o S a l ã o Silva Porto,
n ã o sendo obras de a r t e nem
sequer r e p r e s e n t a m
pintura
razoável: Porei de parte c o n siderações sobre o c a r á c t e r
elevadamente
especial
das
reacções dum verdadeiro a r -
Silva
JOÃO
tista em frente ã n a t u r e z a .
Oedicar-me-ed
apenas,
a
e x a m i n a r o oficio:
Em J o ã o Reis distlnguemse, c l a r a m e n t e , dois processos:
um, pára o r e t r a t o , e o outro
p a r a a paisagem.
E s t a duplicação p a r e c e u - m e
assentar no seguinte:
a do
T e t r a t o , (pintura de b o n i t i n h o
fácil, multo l a m b i d a ) , n o c o n h e c i m e n t o prático que Indic a sêr essa a m a n e i r a preferida pelo r e t r a t a d o e portanto
pelo freguês. A da paisagem
ipincelada
solta) pela
influência paterna, e que é fundamentada
na t é c n i c a dos
impressionistas que, como se
sabe, são a c i m a de tudo g r a n des paisagistas.
Com estas escolhas de p r o cessos, revela J o ã o Reis um
e x c e l e n t e sentido prático da
vida pois é um f a c t o c o n h e cido que a m a i o r i a dos p i n t o res que conseguiram fazer fort u n a s e representa precisam e n t e pelos r e t r a t i s t a s
da
maneira
gelada, lambida e
sensaborona. (Recorde-se, m a s
guardando as devidas distancias, o caso do «pompierismo»
davldista, o caso de Meugs, de
Ingres, da escola Ingleza, de
Medina e, a t é em c e r t a medid a o do nosso Eduardo M a l ta.)
E agora, quanto à classific a ç ã o dos valores da sua t é c n i c a começarei por d e c l a r a r
que em J o ã o Reis, o desenho
é do peor.
O quadro «Hortenses» que
figura n o catálogo, sob o n ú m e r o 16, poderá servir-me de
exemplo. Aqui, os erros de
prespectlva são a b s o l u t a m e n te flagrantes chegando a c a beça da figura a deixar de
pertencer
àquele corpo
de
m u l h e T , pois as l i n h a s que a
compõem tomam uma direcção
inteiramente
diferente.
I s t o é, e n q u a n t o
os ombros
apresentam
uma Inclinação
determinada, a cabeça
tem
outra multo diferente; a c l a vícula esquerda tem um c o m primento e uma colocação a b s o l u t a m e n t e Impossíveis; a s
mãos são horríveis.
No r e t r a t o de seu filho as
p e r n a s da
criança parecem
dois paus uniformes;
o cão
s e m volume, lembra uma e s t a m p a de c a r t ã o r e c o r t a d a e
sobreposta n a tela. E s t e mau
desenho m a n l f e s t a - s e declar a d a m e n t e em todos os t r a balhos.
B a s t a que J o ã o Reis se dedique a despir as suas figuras
p a r a verificar, f a c i l m e n t e , que
tenho razão.
A prespectlva a é r e a n u n c a
foi obtida e os céus das suas
p a i s a g e n s assemeSham-se
sempre a um cortinado azul
porto
ALBERTO
baixando,
perpendicularmente, por traz da linha do horizonte.
Como coloris ta t a m b é m n ã o
pode ser peor.
A
harmonia
não existe;
u m a s cores apagadas, outras
num
berreiro
carnavalesco,
colocadas à sorte, duma m a neira absolutamente inconsciente.
No r e t r a t o de D. Emília M e n a n o , existe um vestido pintado a verde crú, tão b e r r a n t e
que se n ã o limita a dominar
o retrato m a s domina i g u a l m e n t e o c o n j u n t o dos quadros
expostos.
Não existe um único acorde
de nuances, nem uma única
côr que defina o a r t i s t a .
Só t i n t a s ; a p e n a s tintas.
No quadro N.° 25, uma f i gura de lobo do m a r ,
sem
construcçáo, existe um fundo
que representa
um
trecho
qualquer de vila ou logarejo.
Depois de p i n t a r
tudo com
grises e meias tintas, J o ã o
Reis desenhou as portas d u m a
taberna, com dois traços azuis
muito vivos. O resultado é
evidente; quer a figura p r i n cipal quer todo o quadro f i c a ram imediatamente
subordinados a duas pinceladas que
o pintor, por i g n o r â n c i a ou
desleixo, foi colocar no ponto
mais secundário do motivo.
No quadro «Margens do
Arouce» a p a r e c e uma
água
p i n t a d a a sujo que é impossível que e l a s e j a assim. Pois
J o ã o Reis n ã o teve dúvida em
pintalgar
todo
o
primeiro
plano com e s s a t i n t a horrível
que só um gosto péssimo poderia f a b r i c a r . Isto represent a uma m a n i f e s t a ç ã o de p r e guiça indesculpável.
Quadros como os números
24, 21 e 31 nem a um p r i n c i piante se desculpariam.
Da composição n e m sequer
falarei pois me parece a s s u n to que j a m a i s preocupou J o ã o
Reis.
No r e t r a t o do filho, l i m i tou-se a
dealquilibrar tudo
com aquela metade de cão em
que se revela duma i g n o r â n cia, e Impotência t é c n i c a r a r a s vezes atingida.
Se o ideal p a r t i c u l a r do a r tista se reconhece no tipo das
figuras, n a disposição
geral
do quadro, n a tournure
dos
personagens,
na
expressão,
e t c , e t c , teremos de c o n s i d e r a r J o ã o Reis s e m o m e n o r
ideal artístico.
Quere dizer, aquela exibição
no S a l ã o Silva Porto, n ã o p o dia ser mais triste. U m a coisa,
uma única coisa tenho de l a s t i m a r : a tela e as t i n t a s g a s t a s prodigamente e que f a r i a m a felicidade de muitos
a r t i s t a s pobres.
EXPOSIÇÃO
de Eduarda
Lapa
Nada é m a i s penoso p a r a
'todo o que escreve sobre as
formas da a r t e que o ter de
l i m i t a r - s e a falar, apenas, de
reproduções
das formas b a nais dos objectos.
Eu entendo por formas b a nais dos o b j e c t o s aquelas que
estão ao a l c a n c e de
todo e
qualquer m o r t a l ; n ã o as formas, que só certos indivíduos
( a r t i s t a s ) são capazes de observar e reproduzir.
E x e m p l i f i c a n d o : se t o m a r mos um desses maravilhosos
a u t o - r e t r a t o s de Dúrer, facilm e n t e r e c o n h e c e m o s uma figura de homem. E ' p o r t a n t o
a Imagem dum indivíduo real;
porém n ã o a Imagem b a n a l
que nós todos c o n h e c e m o s na
l a b u t a diária, m a s sim a form a b e l a m e n t e ideal desse individuo real.
E s t a união do real ao ideal
é a fórmula da melhor a r t e .
E ' a reprodução das formas
ideais da n a t u r e z a que define
um a r t i s t a .
T e n t a r apenas, como E d u a r d a Lapa, a reprodução da form a b a n a l das coisas, é uma
t a r e f a que n a d a tem que vêr
com as B e l a s - A r t e s .
As suas paisagens, as suas
flores e frutos, tão a u s e n t e s
de beleza de harmonioso c o n j u n t o de forma e colorido e m
n a d a podem concorrer, com a
impressão que todos
temos,
em frente da n a t u r e z a a u t e n tica.
Artista é aquele que nos e n sina aspectos mais belos que
n e m todos sabemos e n c o n t r a r .
O r a as flores p i n t a d a s por
Eduarda L a p a J a m a i s r e s i s t i r i a m a um c o n f r o n t o com as
verdadeiras; mesmo s e m s e r
a r t i s t a quem quer que as o b servasse a c h a - l a s - l a sem frescura, sem a h a r m o n i a , s e m a
delicadeza tão própria dôsse
género.
E s s a s i m a g e n s p i n t a d a s por
Eduarda L a p a parecem r e p r o ducções de flores f a b r i c a d a s
com papel.
As suas p a i s a g e n s não a g r a d a m porque além de tudo a
p a l e t a e os recursos técnicos
da pintora são multo pobrezinhos.
Há quadros como esse da
p o n t e de D. Maria que c h e gam a sêr horríveis.
I n t e i r a m e n t e banal, inútil e
a p a g a d a se apresentou E d u a r da L a p a .
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no Salão Silva porto