A LUTA PELA EQUIVALÊNCIA DE STATUS NÃO É DE HOJE OS TRABALHOS PELA EQUIVALÊNCIA DE LIVRE SEM E COM VACINAÇÃO. SETORES REMEDIAM PLEITOS, MAS TEMA PARECE ESTAR LONGE DO ALCANCE DAS MÃOS ARTHUR RODRIGO RIBEIRO, DE ESTEIO (RS) [email protected] 1 28 28 FEEDFOOD.COM.BR FEEDFOOD.COM.BR RONI BARBOSA DESTACA OS BENEFÍCIOS TRAZIDOS PARA A PRODUÇÃO DE SUÍNOS EM SANTA CATARINA APÓS CONQUISTA DO STATUS DE LIVRE SEM VACINAÇÃO SANTA CATARINA, A PRODUÇÃO DE CARNE SUÍNA, OS PRINCIPAIS MERCADOS E A DEFESA SANITÁRIA 1967 foi o início dos trabalhos da erradicação de Febre Aftosa do Estado 1992 foi instituída a Vacinação Oficial através de vacinadores 1993 1998 último caso de Febre Aftosa 2000 o Estado deixa de vacinar e recebe o status de Livre sem Vacinação do MAPA COMO É COMPOSTO O SERVIÇO DE DEFESA SANITÁRIA DO ESTADO Capitaneada pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) 2007 vem o reconhecimento de status pela OIE 400 340 barreiristas dispostos nas divisas com o Rio Grande do Sul, Argentina e Paraná 67 corredores sanitários médicos veterinários 10 postos fixos de fiscalização (24 horas/dia) NOVOS MERCADOS SOB O PLEITO LIVRE SEM VACINAÇÃO Estados Unidos: Aprovação de três frigoríficos ainda em negociação (BRF, Seara e Aurora) Japão: Aprovado em 23/6/2013. Mercado total 1,2 milhão/toneladas/ano, sendo 800 mil/toneladas para a carne suína congelada e 400 mil/toneladas para a carne resfriada abastecido basicamente por Estados Unidos e Canadá Chile: 2,7 mil toneladas (2012) Rússia e Ucrânia: reforço da parceria comercial com o Estado (Rússia 53 mil/ toneladas e Ucrânia 39 mil/toneladas em 2012) Hong Kong: 21 mil toneladas em 2012 2 reconhecimento da OIE de Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação China: Mercado iniciado em 2012, com pequenos embarques. Fotos: 1. fotomontagem f&f / 2. divulgação Início dos embarques de Santa Catarina. Média de 20 a 24 mil toneladas por contêiner, iniciado em julho. Na foto, o primeiro contêiner de carne suína brasileira para o Japão. Meta catarinense: 10% do mercado de carne congelada nos próximos dois anos FEEDFOOD.COM.BR 29 Fonte: Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca do Estado de Santa Catarina A PRIMEIRA PERGUNTA QUE SE FAZ QUANDO VEM ESTA QUESTÃO É: QUAL A DIFERENÇA, EM TERMOS SANITÁRIOS, DE SER UM ESTADO COM OU SEM VACINAÇÃO? Na atual conjuntura tudo, pois abre espaço para que mercados até então inacessíveis entrem na pauta de comércio de carnes do Brasil. Envolto nesta e outras questões fomos atrás de respostas de quem está diante e que fala, sem rodeios, sobre o assunto. Mas um ponto é unânime, para uma resposta que parece simples, há um emaranhado bastidor. Santa Catarina, como é sabido, foi o primeiro Estado da união a conquistar o título de Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação, um trabalho iniciado em 1967, conforme explica o diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca do Estado de Santa Catarina (Florianópolis/SC), Roni Barbosa. “De 1967 a 1992 o Estado manteve uma Campanha de Vacinação em que o produtor comprava a vacina e aplicava nos seus bovinos. De 1992 a 2000 foi instituída a Vacinação Oficial, em que vacinadores treinados realizavam as vacinações; um trabalho que contou com 2 mil vacinadores atuando em 200 mil propriedades de bovinos, por meio de duas vacinações anuais”, esclarece. Vale lembrar que o último foco no Estado ocorreu em 1993. Em 1998 o Estado obteve a certificação da OIE como Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. Em 2000 foi encerrada a vacinação e com isso o reconhecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF) para o Estado de Livre sem Vacinação e, sete anos mais tarde, em 2007, o aval da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, sigla em inglês). Como grande beneficiada destes novos tempos, a suinocultura do Estado, referência na produção nacional, colhe os resultados desta tratativa com o aval de clientes Premium para o comércio da carne brasileira, como o Japão por exemplo. “São cinco empresas, totalizando oito frigoríficos habilitados com expectativa de prover em dois anos 10% do mercado de carne suína congelada de um total aproximado de 800 mil toneladas/ano consumido pelo país”, considera o diretor. (Confira detalhes sobre a produção do Estado de Santa Catarina e os principais clientes para a carne suína) De acordo com o diretor de Defesa Agropecuária da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca do Estado de Santa Catarina, os promissores números da carne suína são estimados com ênfase para este ano. “Para 2013 esperamos atingir a produção de 820 mil toneladas, sendo 470 mil toneladas destinadas para outros estados, 200 mil toneladas para exportação e 150 mil toneladas consumidas pelos catarinenses”, discorre. Diferentemente do setor de bovinos, em que o Estado conta com quatro milhões de cabeças, sendo 60% deste total dedicado para o setor lácteo, 20% de corte e 20% de rebanho misto. Ao contrário do ocorrido em Santa Catarina, o Rio Grande do Sul, região com uma forte atuação pecuária (números no quadro ao lado), apesar de ter recebido a equivalência do MAPA no mesmo ano de Livre sem Vacinação, sofreu em virtude de focos originados em 2000 da Argentina, conforme explica o médico veterinário e diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul, Porto Alegre/RS), Luiz Alberto Pitta Pinheiro, profissional envolvido com o tema há mais de 40 anos. Ele informa que o foco no município de Joia e região, somando 23 casos, veio da Argentina e teve como principal fator limitante para uma ação rápida a demora do alerta do país vizinho, que só se manifestou oficialmente um ano após o incidente por pressão dos vizinhos. “Só em março de 2001 se manifestaram”, salienta. O segundo caso ocorreu em maio daquele mesmo ano, no município de Livramento, fronteira com o Uruguai, somando seis cidades com o problema e 30 focos, sendo que, deste total, 18 estavam concentrados no município de Rio Grande. Ele recorda que, em função de dois casos em um mesmo ano, e por conta do abate de inúmeros animais, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e o MAPA, optaram pela retomada da vacinação dos rebanhos bovinos e bubalinos. “Desde 2001 o Estado voltou a vacinar”, enfatiza. Todavia, para ele, isso não significa afir- 30 FEEDFOOD.COM.BR mar que o Governo rio-grandense não esteja pleiteando novamente o status de Livre Sem Vacinação. Pitta Pinheiro declara que para isso é necessário uma intensa preparação. “Temos a visão de que isso é possível de ser alcançado. Contudo, é necessário passar por algumas etapas”, discorre. A atenção do Estado, além de congregar interesses nas demais esferas que compõem trabalhos eficientes de controle e vigilância, está solidamente amparada em uma cooperação junto ao Uruguai. Prova deste diálogo foi a presença do diretor geral do Ministério de Ganaderia do Uruguai, Francisco Muzio, no segundo Fórum Internacional de Responsabilidade Técnica e Sanitária na Produção Animal, promovido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado (CRMV-RS, Porto Alegre/RS) que abordou o tema “Febre Aftosa: Chegou a hora de retirar a vacina?”, realizado em 29 de agosto na Expointer 2013 (Esteio/RS). Na ocasião, Muzio afirmou aos presentes que o tema não pode ser considerado uma matéria de um único país, mas de uma região. “A Febre Aftosa é a enfermidade mais importante no ponto de vista econômico e de alta complexidade”, discorreu e demonstrou a importância do assunto para o seu país e destacou para os presentes sobre a importância da cooperação técnica entre os países. Vale também lembrar que, até o encerramento desta edição, a América do Sul completava uma situação inédita, um ano e oito meses sem focos do vírus. Contudo, para Pitta Pinheiro, o tema central é debater o posicionamento de al- A PRESENÇA DE MUZIO É A PROVA DE QUE O GOVERNO URUGUAIO ESTÁ ALINHADO COM O BRASIL PECUÁRIA BOVINA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 370 MIL produtores 13,7 MILHÕES de bovinos e bubalinos 2 MILHÕES de cabeças abatidas/ano 270 MIL toneladas/ano NÚMEROS DA DEFESA RS 247 161 Unidades escritórios Fonte: Farsul guns países ainda se oporem à condição de Livre com Vacinação. “O próprio Uruguai que exporta para diversos países tem algum tipo de restrição por conta do uso da vacina”, salienta. Por ter uma conotação efetivamente econômica, alguns profissionais do setor PITTA PINHEIRO CONTA A RECÉM HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO SUL NO TRABALHO DE VIGILÂNCIA E CONTROLE DA FEBRE AFTOSA GUEDES DESTACA O PLANO NACIONAL DE ERRADICAÇÃO defendem outras posições. Para o médico veterinário e diretor de sanidade animal do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC, São Paulo/SP), Sebastião Costa Guedes, é preciso ter uma política reivindicatória na política de preços da carne. “O País exporta carnes desde o governo de Venceslau Brás. Nunca transmitimos nenhum caso de Aftosa e essa diferenciação de livre sem e livre com nada mais é que uma barreira que Estados Unidos, União Europeia e Japão, com apoio da Austrália, colocam para os produtores brasileiros. Contamos com padrões claros para exportações de carne in natura, congelada e resfriada que dão total segurança contra a Aftosa”, afirma. Guedes diz ainda que “a eventual retirada ou diminuição da vacinação no momento é inoportuna. Ela deve ser objeto de um planejamento por etapas e com estrito atendimento de pré-requisitos em vigilância e controle do trânsito de animais, além de levantamentos sobre circulação viral no País e Região”. Para o presidente da Farsul, Carlos Rivaci Sperotto, com uma visão um pouco mais diferenciada, declara que a entidade e o Estado rio-grandense conhecem as posições de riscos e de resguardos com a vacinação em cena. Entretanto, declara que “se olharmos para uma posição mundial o País, como um todo, deve ter o status para a busca de novos posicionamentos”, informa e prossegue: “A partir dos acontecimentos de 2000, o Uruguai passou a analisar a situFotos: f&f ação de risco e proteção gerando indicativos com sinalizadores de cautela. Hoje, não temos o vírus circulante, porém a vacinação para o Estado ainda é a que traz mais conforto”, alinha. Contudo, Sperotto analisa que assim como a vacina em humanos, a vacinação contra Febre Aftosa é um reforço e posicionamento de um país cauteloso, uma vez que há uma fauna rica de animais biangulados, que podem ser multiplicadores e propagadores da doença. Portanto, ele justifica que não é possível o País ficar a mercê de focos ou riscos de casos. “A vacinação serve como escudo e somos zeladores deste processo com transparência”, argumenta e esclarece que sua posição frente as determinações da OIE de Livre com Vacinação e Livre sem Vacinação, deve ser reformulada. “Defendemos esta posição internacionalmente. E o mesmo aspecto é vivido por Paraguai, Uruguai e Argentina”, inclui e completa: “Trabalhamos a tese que devemos ser livres de Febre Aftosa vacinando. Ser livre é uma coisa, agora, a diferença de ser livre com risco e ser livre vacinando é ser livre sem risco”. Guedes alinha que os grandes produtores de carne bovina do mundo onde os mercados poderão se desenvolver ainda mais, no caso do Brasil, Uruguai, Argentina e Bolívia, são majoritariamente países Livre com Vacinação. “Portanto, precisamos insistir junto aos organismos internacionais, a começar pela OIE, para SER LIVRE É UMA COISA, AGORA, A DIFERENÇA DE SER LIVRE COM RISCO E SER LIVRE VACINANDO É SER LIVRE SEM RISCO CARLOS RIVACI SPEROTTO, PRESIDENTE DA FARSUL mudar este status”, inclui e defende que se houver renitência dos países do circuito chamado não aftosico – Livres sem Vacinação competirá aos players da América do Sul encaminhar o assunto junto a Organização Mundial do Comércio (OMC). “Acredito que, em síntese, devemos trabalhar com reivindicações junto a OIE e FAO. Uma bandeira que deve ser levantada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA, Brasília/DF), federações estaduais e órgãos como o CNPC”. Em setembro, o MAPA anunciava mais sete Estados a lista de Zonas Livres com Vacinação, ou seja, o Brasil caminha para a totalidade do mapa da aftosa, só resta agora parte do Amazonas, Roraima e Amapá. ■ FEEDFOOD.COM.BR 31