O SER HUMANO – UM SER DE MUITAS FACES A questão sobre o que é o ser humano se fez presente nos projetos filosóficos na história da humanidade. Conhecer-se a si mesmo foi e continua sendo uma tarefa inerente a cada um. De modo específico, a tarefa de refletir sobre a pergunta “O que é o homem?” faz parte da área da Antropologia Filosófica1. A Antropologia filosófica é uma disciplina recente, que surgiu no século XX. Como disciplina, ela aproveita os estudos da Antropologia Cultural, mas se distingue por seu enfoque. A perspectiva filosófica considera o ser humano como tal e tomado globalmente - além das diferenças condicionadas pelo ambiente, pelo sexo, idade, educação, situação social e cultural. A pessoa humana pode ser encarada de muitas maneiras e, assim, deixa-se evidente a sua característica multifacetária, multidimensional. Colocase em questão a essência humana e apresenta-se esta concepção ampla sobre a exploração deste grande mistério que é o próprio ser humano. O ponto de partida desta explicação filosófica é que o homem se caracteriza como um ser cultural e as outras definições sucessivas serão: ser livre, espiritual, coexistente, transcendente, emotivo ... O ser humano, um ser cultural. A pessoa não é somente sujeito da cultura, mas também produto da cultura. A primeira tarefa da cultura é construir um projeto de humanidade que seja adequado à dignidade e à exigência da pessoa humana. Na realidade, quem somos é resultado da interação das heranças genéticas e do meio cultural. A reflexão sobre o que somos e quem somos pode contribuir no sentido de maximizar as próprias forças e minimizar as fraquezas a fim de melhorar a própria qualidade de vida. 1- Ser inteligente: A inteligência é a faculdade da pessoa de penetrar dentro das coisas, descobrindo sua realidade íntima, Intellígere vem da composição de outras duas palavras: inter (entre) e legere (colher, reunir, recolher, escolher e ler), significa escolher entre, reunir entre vários, apanhar, aprender, compreender, ler entre, ler dentro de. 2- Ser emotivo: "O coração tem razões que a própria razão desconhece". As emoções são expressões afetivas acompanhadas de reações intensas e breves do organismo em resposta a um acontecimento inesperado. Distinguem-se do lógico e dão colorido à vida humana. A emoção brota do cérebro e do corpo atuando em conjunto. Não se pode separar a emoção da cognição, nem a cognição do corpo. 3- Ser corpóreo: O corpo é afetado pela mente e a mente é afetada continuamente pelo corpo. Por isso, pode-se dizer que é melhor prevenir do que remediar. 4- Ser volitivo: A vontade é a capacidade do sujeito de colocar todo o seu ser em função de seus objetivos. 1 Laércio Jorge Zanghelini, professor universitário de Filosofia, ciência Política e Metodologia da pesquisa. Rio dos Cedros – SC [email protected] 5- Ser espiritual: O ser humano não se contenta com o finito, com o imanente, com o relativo; quer ir além, inclusive de si mesmo - busca o encontro com Deus. 6- Ser social: Chamado a conviver em grupo: nenhum ser humano pode ser uma ilha no mundo. 7- Ser cósmico: Faz parte do mundo material que constitui outras realidades físicas - precisa de tudo o que é matéria para viver 8- Ser histórico: O ser humano detém o poder de investigar, de criar fatos e não simplesmente de sofrê-Ios. 9- Ser livre: Chamada também de livre arbítrio, é o poder que vontade possui de determinar a si mesma a agir ou não agir: liberdade é a capacidade de escolher os melhores meios: para própria realização da pessoa. 10- Ser estético: Que procura a harmonia, a coerência, a beleza, unidade das coisas. a a a a 11- Ser axiológico: Que busca valores. 12- Ser teorizante: Preocupa-se com o desenvolvimento lógico, o desenvolvimento de sua mente; interessa-se pela clareza das ideias, dos juízos e raciocínios na busca da verdade. 13- Ser prático: Levado a produzir, a fazer, a trabalhar, inventar novas coisas. Diante destes aspectos, permanece essencialmente a característica do ser humano como um ser cultural porque se define e se realiza mediante a cultura. Para a pessoa humana se realizar integralmente (nesta busca de equilíbrio), faz-se necessário uma cultura que saiba cultivar as qualidades, as propriedades, as faculdades, os dotes, a dimensão espiritual do ser humano. A dúvida e a crítica sobre si mesmo são maneiras de se posicionar como aprendiz diante da vida e como alguém que procura a si mesmo. O ser humano é um ser de protestação, pois recusa a aceitar a realidade na qual está mergulhado. Numa concepção filosófica contemporânea, o ser humano é um contínuo poder-ser: possui potencialidades para ultrapassar as limitações das circunstâncias históricas. É a única criatura que se recusa a ser o que é. Busca sempre mais, quer desentranhar do interior do seu ser os seus sonhos, seus projetos, suas utopias, seus desejos e quer ser melhor, quer ser mais inteligente, mais sensível, mais capaz de comunicação, mais capaz de amor, quer ser mais humano. Por isso que o ser humano pode sempre se autocorrigir e buscar melhorar sua natureza tenebrosa, seus erros, suas limitações. O ser humano nunca termina de se construir. Nesta concepção filosóficoantropológica, desvela-se como alguém responsável por seu mundo e por si mesmo. No humano, permanece algo de mistério, a ser definido, alguma coisa a ser respondida e, provavelmente, Deus deve ter pensado nessa direção.