UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
UNIDADE TEMÁTICA
CURITIBA
2010
HAIDÊ DE ALMEIDA MOREIRA
COMUNIDADE QUILOMBOLA ,PAIOL DE TELHA
Unidade Temática, sobre a Comunidade Quilombola
Paiol de Telha. Apresentado ao Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de
Estado da Educação do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Silva da Silveira.
UFPR
CURITIBA
2010
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Comunidade Quilombola.
“Paiol de Telha”
O Paraná tem 86 comunidades quilombolas. Sendo 36 reconhecidas pela
Fundação Cultural Palmares. O Estado criou em 2005 o Grupo de Trabalho Clóvis Moura,
que começou a fazer o levantamento das comunidades quilombolas no Paraná. A maioria
das comunidades se instalaram em lugares longínquos e de difícil acesso com medo de
voltar a ser escravos e também porque era a única terra que lhes fora dada. A mais antiga
com mais de 200 anos é a de “ Paiol de Telha” em Guarapuava com mais de cem
famiílias.
Na época em que os africanos foram trazidos para o Brasil como escravos, apesar
de pertencerem a diversas tribos e culturas, e consequentemente aos mais diversos tipos
de rituais e crenças em orixás foram obrigados a se render a fé católica sobretudo a de
Santo Antônio o santo mais popular da igreja. Isto lhes garantiu nas senzalas, a liberdade
para sua propria devoção com destaque para Ogum, o mais importante orixá dos Iorubá –
povo que pertencia a maioria dos africanos escravos no Brasil. E dessa astucia nascia a
nossa herança religiosa.
Comuniquei-me com o Prof. Orlando Silva e a jornalista Cristina Esteche, criadores
do projeto “Kundum Balê” na Comunidade “Paiol de Telha”. Com este projeto todas as
conquistas que a comunidade vem tendo nos últimos anos passa pelo trabalho de resgate
cultural. Foi a existência do projeto ”Kundum Balê” que deu visibilidade ao quilombola ao
Paraná e ao Brasil.
Orlando Silva estudou com os jovens e crianças da comunidade diversas religiões
e a ASSEMA ( Associação Espiritualista Mensageiros de Aruanda), auxiliou na Introdução
da Umbanda,na comunidade ; uma religião afro-brasileira formada do Sincretismo
religioso entre os três povos que majoritariamente formam o Brasil, europeu, africano e
indígena..
A comunidade Paiol de Telha esta localizada na Colônia Socorro,na região de Entre Rios
no município de Guarapuava-Pr. Nela reside um certo número de remanescentes
quilombolas. A grande maioria de moradores mantém ainda fortes traços,dessa cultura,
como por exemplo;crenças e rituais religiosos,festividades comemorativas,culinária típica
e principalmente um modo muito específico de vida que produz uma série de concepções
sentidos ,conhecimentos e crenças,representações,etc.,que para nós historiadores da
cultura,se constituem
em objeto da pesquisa muito precioso,seja pela sua
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singularidade,ou pela forma específica como estes fenômenos se apresentam à nossa
compreensão.
Esses traços ainda resistem ao passar do tempo, estão sendo valorizados pelos
moradores principalmente pelos mais jovens, por meio de organização de um grupo que
mesclando arte e cultura não so faz com que os moradores valorizem sua
própria
identidade,como também mostrem a outros indivíduos toda a riqueza da cultura a qual
pertencem. Além desse interessante movimento de valorização identitária ,os moradores
da comunidade do Paiol de Telha ,tem o privilégio de desfrutar de um cenário natural
magnífico,onde boa parte da mata nativa se encontra preservada. Além de abrigar muitos
animais silvestres que podem ser admirados , a mata também protege as cachoeiras
naturais que lá existem.
A contribuição do negro na formação do folclore brasileiro e um pouco da cultura
popular preservada pela comunidade Paiol de Telha é o que a companhia de dança de
Música Afro Kundun Balê está mostrando ao Paraná e ao Brasil o show “Acorda Raça”
Composto por crianças,adolescentes e jovens que vivem na comunidade.
A implantação do projeto que criou a Companhia de Dança Kundun Balê deu um início
a um processo de transformação pessoal e coletiva dos integrantes e de grande parte da
comunidade Paiol de Telha ,formada por famílias de baixíssimo poder aquisitivo. Em 2003
os descendentes de escravos da invernada Paiol de Telha foram reconhecidos como
Quilombolas pelo presidente Luiz Inácio da Silva. É a primeira comunidade negra do
Paraná a ter esse reconhecimento. Os contatos do percussionista Orlando,com a
comunidade começou em 2005,durante um desfile étnico que escolheu a representante
da comunidade concurso Rainha dos Representantes Rurais de Guarapuava. A
representante quilombola venceu o concurso. O dia do concurso também marcou a
estréia da Companhia Kundun Balê.
O trabalho da Companhia trouxe de volta à comunidade muitos adolescentes que
estavam na periferia de Guarapuava,vulneráveis a toda sorte de delinqüência. Um
trabalho que começa a ter reflexos entre os adultos,que formaram uma associação
comunitária e participam ativamente das atividades do grupo. Sem espaços e condições
apropriadas para os ensaios o Kundun se vira como pode. O trabalho dos músicos e
professores são voluntários.
O kundun Balê ,que na língua africana CONDE significa “aquele que realiza”,estreou em
vários municípios paranaenses,com a participação em aberturas do Festival de Arte da
Rede Estudantil (Fera) e em universidades do Paraná.
O show “Acorda Raça”,segundo o diretor e responsável pela direção geral do show,o
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percussionista Orlando Silva inaugura um novo conceito em shows de cultura negra ao
mesclar música,teatro e dança. Durante a apresentação os bailarinos permanecem no
palco o tempo todo. As colagens entre uma coreografia e outra, a troca de adereços as
informações ao público,tudo é feito cenicamente.
Numa sequência coreográfica e musical o espetáculo procura resgatar a auto estima dos
descendentes africanos e as diversas formas de sincretismos oriundas daquele
continente. Os rituais africanos são coreografados pelo Kundun
através de diversos
números de danças a começar pelo “Senhor dos Ventos”,que abre o caminho para
apresentação dos passos de Ogum orixá do ferro;Oxossi;deus das matas; Ossain;o orixá
das plantas medicinais,o “Facho de Fogo” em referência a Xangô e ao fogo da justiça e a
recuperação da lenda do folclórico boitatá;purificador dos pecados.
As diversas faces da mulher quilombola é apresentada na “Recomenda” manifestação
religiosa da encomenda das almas feita na Sexta Feira Santa através da procissão que
percorre casa a casa. Os afazeres cotidianos da mulher do Paiol de telha também estão
presente neste numero. “Kimzombajé, ou a Festa do Espírito, mostra o encontro festivo
dos deuses africanos. O Katurê Mautu é a encenação dos costumes da nação africana
habitada por sábios guerreiros. O Wella Kundun exalta os protetores da natureza e o
Maculelê, tradicional dança de capoeiristas, substitui os bastões de madeiras por afiados
facões.
O terceiro show dessa trajetória de sucesso foi “O Encanto das Três Raças”. O
sincretismo cultural gerado pela cultura negra, índia e branca, resultado dessa
miscigenação que formou essa nação chamada Brasil, inspirou o Kundun a montar o
espetáculo “O Encanto das Três Raças”. O espetáculo é produzido pelo Instituto Afro
Brasileiro Belmiro de Miranda. O ritmo, o canto a dança os usos e costumes, na maioria
das vezes passam despercebidos e desconhecemos a riqueza dos vários brasis. A falta
de conhecimento que tem como principal causa o preconceito, por exemplo ;faz o
brasileiro jogar no ostracismo o fato do Brasil ter uma religião essencialmente nacional
“Umbanda”;que nasceu pela junção das crenças dessas três raças. Chama a atenção do
diretor do show Orlando Silva. Segundo ele ,a Umbanda completou 100 anos em 2008 e a
sua cor passou em branco uma cor miscigenada cujo embrião é formada pelo
“casamento”das religiões africanas trazidas pelos negros escravizados, com a doutrina
Kardecista,com a pajelança indígena e com o cristianismo.
Para mostrar esse nascimento o Kundun leva para o palco cinco blocos distintos
com trinta e duas danças entre coreografias e solos.
O Primeiro Bloco- é um ritual de purificação (participação do grupo de jovens da Umbanda
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–Associação Espiritualista Mensageiros de Aruanda), com dança e música a partir dos
Orixás
que
também
se
manifestam
na
Umbanda
além
do
Candomblé:
Oxossi,Ogum,Oxum,Iansã,Iemanjá ,Oxalá e Xangô. Representam os seres elementais da
natureza ,cuja união,é utilizada como forma de purificação.
No Segundo Bloco- O Kundun mostra o ritual da Terra que remetem a rituais indígenas e
afro brasileiros.
Esse ritual é comum as três raças evidenciadas no show ”negros, brancos e índios se
completam na mãe Terra que nos dá tudo que precisamos. É o nosso ponto de saída e
nosso ponto de retorno”. Diz Orlando.
No Terceiro Bloco- O Kundun dança os “Senhores da Mata” numa analogia entre o
equilíbrio e a força de quem faz acontecer. São os orixás Ewa e Obá, os caboclos da
mata a partir dos falangeiros de Oxossi (Sete Flechas,Tupinambá);o orixá protetor da
mata. É onde se busca a energia da cura, uma característica dos xamãs, pajés e pretovelhos. É na mata onde se encontra equilíbrio da cura do espírito, porque ali tem a terra, a
água,as plantas medicinais. É comum a negros e índios que cultivam essas plantas
nativas no seu habitat ou sejam da própria floresta. Foram os jesuítas que retiraram as
plantas medicinais da mata e criaram canteiros juntos das casas.
O Quarto Bloco- Traz à tona as festas cristãs começando por uma alusão à
espiritualidade e a força das mulheres que vivem na comunidade quilombola. São as
mães que o Kundun coloca no palco numa iniciativa inédita, deixando de lado os
esteriótipos do bailarino quebrando barreiras e preconceito. A dança mostra as lides
cotidianas da comunidade. São mães e avós que por um momento trocam a lavoura a
ordenha, os afazeres domésticos pelo palco. Elas nunca imaginanaram que fariam isso e
seus filhos proporcionaram esse momento. Esse bloco passa também pela influencia
estrangeira com a dança da quadrilha nas festas juninas, todas dedicadas aos santos
passa pelo “jongolê” e por outras influências que resultam na cultura popular brasileira a
partir das três raças.
O Quinto e último bloco- nesta última parte mostra o resultado da junção das
crenças que resultou na religião essencialmente brasileira que é a Umbanda, uma mistura
de cristianismo, kardecismo, pajelança e crenças afro brasileiras.
“É preciso que as pessoas entendam a beleza dessa união, que é possível quatro
crenças distintas contribuam para a formação de uma quinta, sem qualquer preconceito
sem qualquer distinção. É simplesmente uma questão de respeito.”
Para um melhor entendimento de cultura e sociedade, dentre as varias formas de
preconceito presentes na cultura brasileira, uma das mais polêmicas diz respeito à
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influência da miscigenação no desenvolvimento do país. Mesmo antes da chegada de
milhões de imigrantes europeus, o Brasil, já era considerado um país caracterizado pela
mistura de diferentes grupos étnicos. Por muito tempo, essa mistura foi tida como um fator
negativo, devendo ser combatida.
No período colonial, poucas mulheres brancas participaram do povoamento das
terras conquistadas por Portugal. Por isso, os portugueses que aqui viviam tiveram
intenso contato sexual com índias e escravas africanas. As leis e convenções sociais
existentes proibiam relações inter-raciais e condenavam atividades sexuais fora do
casamento, apesar de serem intensamente praticadas.
Somente com o alvará assinado em 1775, pelo rei D.José I, é que o governo
português deixou de considerar infame a vida conjugal entre brancos e índios. As relações
entre brancos e negros, entretanto, não foram sequer citadas.
Entre 1870 e 1930 desenvolveu uma teoria racial que considerava qualquer tipo de
mestiçagem como algo que atrapalhava o progresso da nação. Quando o fluxo imigratório
se acentuou no Brasil, houve manifestações de alivio pela chegada de europeus que
poderia contribuir para o branqueamento da população. Somente a partir de 1933, quando
Gilberto Freyre publicou a obra “Casa Grande & Senzala”,é que a miscigenação passou a
ser considerada um símbolo da democracia racial que existiria no Brasil. Para ele “A índia
e a negra-mina,a principio, depois a mulata, a cabrocha (...),tornando-se caseiras,
concubinas e até esposas legitimas dos senhores brancos, agiram poderosamente no
sentido da democratização social no Brasil.” A partir de então surgiu uma visão positiva da
miscigenação agora considerada como tendo a importante função de aliviar a luta de
classes no Brasil, antagonismo que envolvia a elite branca e os trabalhadores negros e
mestiços e que teria sido resolvido sem conflitos. Construiu-se o mito da democracia
racial brasileira, que buscou de nosso passado escravocrata o tratamento “humano” e
“cristão” que teria sido dado aos negros e índios.
A moderna sociologia considera que a racismo no Brasil, embora seja difícil que
alguém assuma isso publicamente. Até mesmo imigrantes europeus, apesar de branco,
sofreram com a intolerância de setores mais conservadores da sociedade brasileira,
recebendo varias formas de tratamento pejorativas.
No século XX, a chegada de japoneses e judeus também gerou manifestações
preconceituosas. Com dificuldades para praticar as religiões e festas que lhes conferem a
identidade, os recém-chegados se concentraram em algumas cidades formando bairros
com suas características culturais. Junto as atividades comercias típicas das colônias,
surgiram escolas e espaços religiosos,como templos budistas e sinagogas.Assim, criaram
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mecanismos que facilitaram sua adaptação.
Durante a Segunda Guerra Mundial e após o fim do conflito em 1945, as colônias
alemã, italiana e japonesa enfrentaram muitos problemas em razão de o Brasil ter entrado
na guerra ao lado dos países aliados. Membros dessas comunidades foram presos sob
acusação de espionagem, outros tiveram seus bens expropriados pelo estado.
Hoje, festas italianas comemorações japonesas e outros eventos das dezenas
comunidades de imigrantes parecem ter sido incorporados a rotina dos
brasileiros.Barreiras culturais ainda impedem que os imigrantes sejam plenamente aceitos
e possam contribuir com a contribuição da identidade cultural.
Para refletir :a)Considerando que as diferenças entre as raças são frutos da reprodução
social dessas diferenças, a que se atribui o surgimento do preconceito?
b)é possível acabar com o preconceito racial? como a sociedade deve agir para que isso
aconteça?
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REFERÊNCIAS
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construindo caminhos. Rev. Bras. Educ. n. 23 Rio de Janeiro maio/ago. 2003.
DIMENSTEIN, Gilberto. Dez Lições de Sociologia. Editora FTD. São Paulo. 2008.
KABEMGELE, Munanga, organizador, Superando o Racismo na Escola. (Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.)
Pessoa Fonte: SILVA, Orlando. Professor de História da UNIOESTE; Coordenador do Grupo de
Dança Kundum Balê.
SECAD – Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Educação Anti-Racista:
Caminhos abertos pela Lei Federal nº 10639/03. Brasília: Ministério da Educação 2005.
SOUSA SANTOS, Boaventura, (2001). Dilemas do nosso tempo: globalização, multiculturalismo,
conhecimento. Educação e Realidade, v. 26.
STOER, Stephen. R., CORTESÃO, Luiza, (1999). Levantando a pedra: da pedagogia
inter/multicultural às políticas Educativas numa época de transnacionalização. Porto: Afrontamento.
http://culturadaescola.spaces.live.com/blog/cnsIF84AF64E083E5A6BI
306.entry
http://www.cpisp.org.br/acoes/html/jurisprudencia.aspx?Link=30.
http://www.monografias.brasilescola.com/.../piaget-vygotsky-diferencas-semelhancas.htm/acesso dez/2009.
http://www.palmares.gov.br/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01049313200
6000100008&lng=en&nrm=iso/
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