ACONSELHAMENTO EM HIV/AIDS: CONTRIBUIÇÕES E DIFICULDADES
Romanniny Hévillyn Silva Costa1
Isaiane da Silva Carvalho1
Richardson Augusto Rosendo da Silva2
1.Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior
2. Enfermeiro. Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Professor Adjunto II do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
Introdução: O aconselhamento em HIV/AIDS envolve trocas de informações entre o cliente
e profissional devendo ser pautado pela escuta ativa e centrado na pessoa e na relação de
confiança entre os indivíduos envolvidos nesse processo. Além disso, o cliente pode
reconhecer-se como sujeito da transformação da própria saúde1. Essa estratégia pode ser
realizada por vários profissionais de saúde, dentre eles, o enfermeiro, contanto que sejam
capacitados. A prática do aconselhamento pode acontecer em qualquer ambiente que esses
profissionais estejam inseridos, seja no âmbito da Estratégia de Saúde da Família (ESF); nos
ambulatórios, como nos Centros de Testagem e Aconselhamento(CTA) em DSTs/AIDS ou
nos hospitais; mas que seja respeitado e preservado o sigilo e a privacidade dos
indivíduos2,3.Objetivo: Identificar, na literatura científica, as contribuições e dificuldades
para a prática do aconselhamento em HIV/AIDS. Descrição metodológica: Trata-se de um
estudo exploratório, do tipo revisão de literatura, com abordagem qualitativa, que pretendeu
responder ao seguinte questionamento: quais são as possíveis contribuições e dificuldades
para a prática do aconselhamento em HIV/AIDS? A pesquisa foi realizada nas bases de dados
eletrônicas, LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde e do Caribe),
BDENF
(Base
de
Dados
de
Enfermagem)
e
MEDLINE
(Medical
LiteratureAnalysisandRetrieval System Online), com o emprego dos descritores em Ciências
da Saúde: HIV and aconselhamento and promoção da saúde. Os critérios de inclusão foram:
artigos que abordassem a temática do aconselhamento em HIV/AIDS, que fossem publicados
nos últimos cinco anos e redigidos em língua estrangeira ou vernácula. Por sua vez excluiu-se:
artigos repetidos ou estudos do tipo revisão de literatura. A busca foi realizada no período
entre março e abril de 2013. A partir da busca encontrou-se 58 artigos dos quais 10 se
enquadraram nos critérios de inclusão. A análise de conteúdo dos artigos foi guiada por
categorias preestabelecidas, a saber: contribuições e dificuldades para a prática do
aconselhamento em HIV/AIDS. Resultados: A partir do levantamento bibliográfico, os
autores dos artigos destacaram as seguintes contribuições do aconselhamento em HIV/AIDS:
melhor autonomia no processo saúde-doença e oferta de apoio emocional ao usuário,
possibilidades de percepção do cliente sobre sua vulnerabilidade e de reflexão sobre adoção
das medidas de prevenção do HIV/AIDS; auxílio na adesão à realização dos testes anti-HIV e
do tratamento com anti-retrovirais. Com relação às possíveis dificuldades dessa estratégia,
evidenciaram-se: empecilhos ao acesso – principalmente pelas pessoas residentes em áreas
rurais ou de difícil acesso; pouca efetividade da estratégia de oferta, devido ao tempo reduzido
para o aconselhamento, bem como locais e horários inadequados; falta de dinamismo do
02296
atendimento quando realizado de forma coletiva; abordagem ineficaz decorrente de
comunicação inadequada com o cliente e do despreparo do profissional em lidar com questões
subjetivas relativas à prevenção das DST/HIV/AIDS; restrição do aconselhamento pós-teste
como sendo apenas para entrega de resultados dos exames; e por fim, a desaceleração da
implantação de redes de Centros de Aconselhamento e Testagem.Conclusão:Nesse contexto,
o aconselhamento em HIV/AIDS se configura como uma importante estratégia de promoção
da saúde e como ferramenta importante para o aumento da resolutividade das ações de
prevenção, tratamento, cuidado e suporte ao HIV/AIDS. Algumas estratégias de
aconselhamento foram incorporadas ou recomendadas pelos pesquisadores dos artigos da
revisão como importantes para a superação de algumas dificuldades encontradas, como:
implantação de redes de CTA, principalmente em regiões com alta incidência de HIV e piores
indicadores de sociais; ou oferta do serviço de aconselhamento e testagem em locais
estratégicos, como, domicílio, local de trabalho e escolas; divulgação do serviço na mídia;
qualificação de profissionais; utilização de mediadores influentes da comunidade para
convidar indivíduos a realizarem testes diagnósticos ou a procurarem voluntariamente a
instituição ou profissional de saúde; abordagem individual ou coletiva com tempo suficiente
e, de preferência, em várias sessões de modo a possibilitar ao usuário, maior sensação de
confiança para expor questões pessoais, e ao profissional, a sensibilidade para captar pontos
essenciais ao processo de empoderamento do cliente sobre questões relacionadas à prevenção
e tratamento do HIV/AIDS. Implicações para a enfermagem: O enfermeiro é um
profissional que tem como principal objetivo científico o cuidado. Isso remete ao fato de que
o contato deste com os usuários acontece de forma mais direta e constante possibilitando-lhe
estabelecer mais facilmente uma relação de confiança com o cliente. Confiança essa que é
essencial para a prática do aconselhamento acontecer de forma exitosa. Ademais, o
enfermeiro é um dos profissionais que compõe a equipe da ESF estando inserido, portanto,
em um cenário favorável para considerar as variadas dimensões do processo saúde-doença em
uma perspectiva de produção social do cuidado através do princípio de integralidade. Neste
sentido, deve sempre fazer a seguinte questão: será que o usuário é o único responsável pela
prevenção e adesão ao tratamento? Assim, o enfermeiro poderá compreender até onde as
vivências, atitudes e decisões do indivíduo influenciam na sua saúde ou não. Outros
princípios da ESF, o da territorialização e adscrição da clientela, permitem ao enfermeiro
atuar em locais externos à unidade de saúde, o que pode facilitar à adesão e efetividade da
prática do aconselhamento em HIV/AIDS. Tomando como base ainda o princípio de
participação social do Sistema Único de Saúde, é necessário que o enfermeiro considere o
cliente como sendo ativo e decisivo no processo de aconselhamento, pois será ele que
escolherá que caminho seguirá. O enfermeiro pode atuar assim como um facilitador ou
mediador nesse processo de empoderamento, mas para isso deve reconhecer e estar
familiarizado com a técnica de aconselhamento, bem como de como conduzir situações que
podem emergir e que se referem às questões subjetivas do indivíduo. Com base em todos
esses aspectos, poderá se pensar que o enfermeiro é um excelente candidato para aconselhar
os indivíduos em HIV/AIDS.
Descritores: Aconselhamento; HIV; Promoção da Saúde.
Área temática: Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem
02297
Referências
1 Brasil. Ministério da Saúde. Aconselhamento em DST, HIV e Aids: diretrizes e
procedimentos básicos. / Coordenação Nacional de DST e Aids. 2ª ed. Brasília: Ministério da
Saúde, 1998. 25 p.
2 Grangeiro A, Escuder MM, Veras MA, Barreira D,Ferraz D, Kayano J. Voluntary
counseling and testing (VCT) services and their contribution to access to HIV diagnosis in
Brazil. Cad Saude Publica [internet]. 2009 [cited 2013 Apr 15]; 25(9): 2053-63. Available
from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2009000900019
3Mutale W; Michelo C; Jürgensen M; Fylkesnes K. Home-based voluntary HIV counselling
and testing found highly acceptable and to reduce inequalities.BMC Public Health[internet].
2010 [cited 2013 Apr 15]; 10: 347.Available from: http://www.biomedcentral.com/14712458/10/347
02298
Download

ACONSELHAMENTO EM HIV/AIDS