Copo plástico é transformado em material escolar Produção de canetas é o maior divulgador do Recicle, projeto que envolve empresas e escolas 28/04/2011 - 12h53 . Atualizada em 28/04/2011 - 13h05 Fabiano Ormaneze Agência Anhangüera de Notícias José Maria da Silva, técnico de protótipos e idealizador do Projeto Recicle, mostra produtos feitos com matériaprima obtida a partir de copos usados; ao fundo, máquina criada para lavar e recolher o material (Foto: Gustavo Tilio/Especial para a AAN) Tags Unicamp Campinas A experiência de 25 anos de trabalho com plástico fez com que o técnico de protótipos José Maria da Silva criasse uma ação voluntária de reaproveitamento de resíduos e conscientização sobre a necessidade de um consumo consciente. Há quatro anos, ele criou o Recicle, um projeto que envolve empresas, escolas e até uma das unidades da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na destinação correta do que, de forma geral, iria parar nos aterros sanitários. Funcionário do Laboratório de Protótipos da Faculdade de Engenharia Agrícola, Silva acostumou-se a observar a quantidade de copos plásticos para água usados e descartados todos os dias. Em 2006, teve a ideia de mostrar aos colegas que o plástico que ia para o lixo, se bem destinado, poderia originar diversas peças. Durante um mês, ele recolheu os copos plásticos usados na faculdade, totalizando 16 quilos. Com uma empresa parceira, fez o caminho inverso à produção do copo, transformou tudo em polímeros (compostos químico que dão origem ao plástico) e, depois, produziu cachepôs, entregues aos colegas como lembrança na festa de confraternização de fim de ano. “Foi aí que eu percebi que eu poderia colaborar com o meio ambiente na área em que eu dominava”, lembra. O projeto foi acolhido pela diretoria da Faculdade de Engenharia Agrícola. A partir dali, Silva começou seu trabalho de conscientização e multiplicação. Vieram uma série de palestras, principalmente, em escolas e empresas. Eis que, no meio da garotada, surgiu outra ideia: com o plástico recolhido, é possível também produzir material escolar. Hoje, essa é a principal bandeira de divulgação do Recicle. “Com cada quilo de plástico recolhido, é possível fazer até 200 canetas”, explica. Processo Os copos recolhidos por Silva, seja na faculdade ou nos pontos de parceiros, são triturados por uma empresa especializada em manufatura reversa. Para formar um quilo de copos, são necessárias cerca de 500 unidades de 200 mililitros. Com a matéria-prima reconquistada, são produzidas as canetas, doadas por Silva durante suas palestras ou então compradas, a preço de custo, por empresas que queiram usá-las para conscientizar funcionários ou clientes. Nos brindes, está escrita a frase que sintetiza o projeto: “Essa caneta foi produzida com três copos descartáveis”. “É impossível observar essa frase e não ser atraído”, diz. Com o crescimento da demanda para palestras, Silva criou um equipamento para ajudá-lo na conscientização. Com a experiência criando os protótipos usados nas pesquisas pelos alunos da faculdade, ele inventou um equipamento em que é possível lavar os copos e depositá-los num reservatório. Para cada unidade colocada, o usuário visualiza uma mensagem numa tela, com um agradecimento pela ação, além de informar a quantidade de gramas com a qual contribuiu. “Entendo que o incentivo é sempre uma forma de valorização à participação”, defende. Quando não está em uso, o invento do voluntário fica guardado no laboratório onde ele trabalha. “Nós apoiamos essa iniciativa, pois entendemos que é uma forma de contribuir para a sustentabilidade. Além disso, embora não seja um projeto institucional, a Faculdade de Engenharia Agrícola tem, há muito tempo, uma série de pesquisas e projetos sobre reaproveitamento de resíduos”, explica o diretor-associado da unidade, Antonio Ludovico Beraldo. A faculdade, inclusive, já chegou a liberar Silva para que ele possa fazer suas palestras no horário de trabalho. A própria Unicamp faz parcerias com Silva: no ano passado, os estudantes que foram visitar a instituição no projeto Universidade de Portas Abertas, que tem como objetivo mostrar os cursos aos egressos do Ensino Médio, receberam canetas do Recicle como brindes. Em todos os projetos, Silva conseguiu produzir até agora 29 mil canetas, além de outros produtos que também foram aparecendo como demanda, como réguas, maletas e bancos. O projeto já envolveu também entidades beneficentes de Pedreira, que realizaram a pintura dos produtos de forma artesanal. “Acredito que, ao incentivar a produção de material escolar, eu estou contribuindo da melhor forma possível: não há outra saída para a sustentabilidade se não a educação”, afirma. Desde 2008, a faculdade também implantou coletores para copos ao lado dos bebedouros e, desde então, cerca de 320 quilos de copos foram recolhidos. “As pessoas estão criando uma rotina de participar e separar os copos. Quando a gente fica sabendo dos números, acaba se envolvendo, pois percebe o grande desperdício”, diz a secretária Rita de Cássia Cuesta Ferreira. Depois do Projeto Recicle, ela também adquiriu um novo hábito: usa apenas um copo descartável para água durante todo o dia. “A gente começa a perceber que não é preciso usar um copo para cada vez em que se toma água”, afirma. Se somados todos os lugares em que o projeto foi desenvolvido, Silva foi o responsável por dar outra destinação a 2,7 mil quilos de copos. Palestra atrai voluntários para a causa As palestras ministradas voluntariamente pelo técnico José Maria da Silva são a principal forma de divulgar o Projeto Recicle. Foi assim que o assistente administrativo Luís Ricardo Camelotti ficou sabendo da iniciativa e decidiu implantá-la no Supermercado Portuga, onde trabalha, em Pedreira, e que se tornou um dos principais parceiros do Projeto Recicle. “Minha namorada esteve numa das apresentações, me contou da iniciativa e decidi participar”, conta. No estabelecimento, os 90 funcionários passaram por treinamento para destinar corretamente os copos plásticos, sem misturá-los com o lixo comum. Da mesma forma, os clientes que visitam a cafeteria do estabelecimento são estimulados. “Quando um funcionário novo é contratado, os mais velhos se responsabilizam por inseri-lo na proposta”, explica Camelotti. Por mês, o supermercado consegue juntar cerca de 34 quilos de copos. No final do ano, todos têm uma mostra do destino do material: o estabelecimento presenteia clientes e funcionários com uma caneta produzida com o plástico reaproveitado. Parcerias ampliam a iniciativa Entre os trabalhos do voluntário José Maria da Silva, está uma parceria desenvolvida com a Prefeitura de Pedreira, para palestras e recolhimento dos copos plásticos usados em escolas públicas municipais. Só com a destinação correta do que foi utilizado pelos professores, foi possível arrecadar cerca de 74 quilos de plástico em 12 meses. O projeto teve como uma das etapas o treinamento dos funcionários da área de limpeza. Além disso, dez empresas de pequeno porte de Jaguariúna também adotaram o projeto Recicle, executado por lá desde 2009. Com isso, já foi possível recolher no município 802 quilos de copos de água e café. O Recicle contribuiu para que Jaguariúna recebesse o lugar no prêmio Ecocidade, concedido pela Feira Internacional de Recursos Sólidos e Serviços Públicos (Resilimp), em 2009.