A RECICLAGEM COMO UMA AÇÃO ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL:
A EXPERIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO DOS AGENTES DE RECICLAGEM DO
IPOJUCA
–
PE
[email protected]
APRESENTACAO ORAL-Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável
JOABSON ARAUJO RIBEIRO; JOSÉ DE LIMA ALBUQUERQUE; DANIELLE
MESQUITA DA COSTA SILVA; ANA MARIA NAVAES; GIOVANI CARÍCIO
CALDAS
JÚNIOR.
PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
RURAL - UFRPE, RECIFE - PE - BRASIL.
A RECICLAGEM COMO UMA AÇÃO ECONÔMICA, SOCIAL E
AMBIENTAL: A EXPERIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO DOS AGENTES
DE RECICLAGEM DO IPOJUCA – PE
Grupo de Pesquisa: Agropecuária, Meio-Ambiente, e Desenvolvimento Sustentável
RESUMO:
Este trabalho é resultado de um estudo realizado no município de Ipojuca, localizado no
estado de Pernambuco, visando identificar os benefícios das atividades desenvolvidas pela
Associação dos Agentes de Reciclagem do Ipojuca (RECICLE) na melhoria da qualidade
de vida através do processo da reciclagem, com repercussões na elevação da renda
familiar, bem como no aumento da conscientização ambiental dos seus integrantes. Os
danos ambientais, econômicos e sociais decorrentes da disposição inadequada dos resíduos
sólidos produzem efeitos nefastos na sociedade. O país produz diariamente 250 mil
toneladas de resíduos sólidos e cerca de 84% dessa gigantesca produção é despejada a céu
aberto. A dificuldade dos órgãos públicos de gerenciamento adequado desses resíduos tem
contribuído de forma decisiva para o agravamento dessa situação. Por este fato, é
importante investir em formas de diminuir a produção destes materiais e a reciclagem que
consiste no seu reaproveitamento, tem auxiliado na questão socioeconômica de uma
parcela da sociedade, servindo como fonte de geração de emprego e aumento na renda.
Além disso, a partir do momento que se torna um agente transformador da situação
ambiental do lugar, diminui o possível acúmulo destes materiais no ambiente. Para efeito
de estudo, foi realizada, entre os meses de outubro e novembro de 2007, uma pesquisa com
12 associados da cooperativa de reciclagem. Constatou-se que 90% das famílias têm a
coleta como a sua única fonte de renda, passando de um para dois salários mínimos. Além
disso, a preocupação com o meio ambiente, a partir da diminuição da poluição com a
prática da reciclagem, elevou o grau de consciência ambiental dos entrevistados.
Palavras-chave: Poluição, Reciclagem, Desenvolvimento Sustentável, Resíduos Sólidos.
1
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
RECYCLING AS AN ECONOMIC, SOCIAL AND ENVIRONMENT
ACTION: THE EXPERIENCE OF ASSOCIATION OF AGENTS FOR
RECYCLING FROM IPOJUCA - PE
ABSTRACT:
This work results from a study conducted in Ipojuca, located in Pernambuco state,
identifying the benefits of the activities developed by the Associação dos Agentes de
Reciclagem do Ipojuca (RECICLE) to improve the quality of life through the process of
recycling, with impact on the increase in family income, and increased environmental
awareness of its members. Environmental damage, economic and social consequences of
inadequate disposal of solid waste produces harmful effects on society. The country
produces daily 250 thousand tons of solid waste and about 84% of this huge production is
dumped in the open. The difficulty of public departments appropriate management of such
waste has contributed decisively to the deterioration of the situation. So, it is important to
invest in ways to reduce the production of these materials and that recycling is its reuse has
helped socioeconomic issue of a parcel of society, serving as a source of employment
generation and increased income. Moreover, from the moment it becomes a transforming
agent of the environmental situation of the place, decreases the potential accumulation of
these materials into the environment. For purposes of the study was conducted between the
months of October and November 2007, a survey of 12 members of the cooperative
recycling. It was found that 90% of households have a collection as their only source of
income, from one to two minimum wages. Moreover, concern for the environment, from
reducing pollution to the practice of recycling, increased the degree of environmental
awareness of the respondents.
Keywords: Pollution, Recycling, Sustainable Development, Solid Waste.
INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos, a sociedade tem sido afetada por problemas resultantes da
conseqüência da ação antrópica no meio ambiente. A enorme quantidade de lixo produzido
pelos humanos, concomitante a sua deficiente gestão, resulta no lançamento destes dejetos
em destinos inadequados, podendo causar contaminação do solo, rios e águas subterrâneas,
além da proliferação de parasitas e doenças, como diarréia, leptospirose, etc.
Deste modo, é de extrema necessidade a reavaliação da maneira que tem se
administrado o tratamento e destino do lixo, investindo maciçamente em alternativas como
a reciclagem. Conhecida pelo reaproveitamento de materiais que poderiam ser lançados a
céu aberto, a reciclagem tem se tornado um instrumento no incentivo a preservação do
meio ambiente, além de uma opção economicamente viável, servindo como oportunidade
na geração de emprego e renda de muitas pessoas.
No município de Ipojuca, a 57 quilômetros do Recife, há a Associação dos Agentes
de Reciclagem do Ipojuca (Recicle). Existente desde 2004 é formada por diversos
integrantes que, através de seu centro de triagem, tem investido na gestão dos resíduos
sólidos, reciclando materiais encontrados no lixo.
2
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Nesse sentido, este trabalho visa a identificação da contribuição sócio - econômica
e ambiental da gestão de resíduos sólidos contidos nas atividades desenvolvidas pela
Recicle, não só na vida dos seus integrantes, mas na melhoria do aspecto de limpeza no
município de Ipojuca. Espera-se que este trabalho fomente o surgimento de trabalhos que
incentivem a utilização de alternativas limpas para a qualidade de vida da sociedade, a
partir da geração de emprego e renda e na construção de valores a atitudes que
proporcionem o aumento da consciência ambiental dos indivíduos.
1. A RELAÇÃO NATUREZA X HOMEM E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS E
SOCIAIS
A sociedade em geral foi criada e estimulada pelo capitalismo a consumir cada vez
mais, no intuito de satisfazer as suas necessidades atuais. Este fato incentivou o
consumismo desenfreado e por conseqüência, maior lançamento de materiais
desnecessários para o lixo, no objetivo de adquirir outro novo.
Aliado a este fator, houve o crescimento industrial, agropecuário e urbano, impondo
transformações ao meio ambiente, sem se preocupar na utilização racional do espaço e nem
assegurar a continuidade de exploração do meio físico para as futuras gerações, apregoadas
pelo princípio do desenvolvimento sustentável.
Essas atitudes não levaram em conta as suas conseqüências futuras, causando
impactos ambientais que hoje são consideradas quase que irreversíveis. A poluição se
constitui uma das conseqüências que mais tem afetado a vida da sociedade, pela enorme
quantidade de lixo produzido e jogado e nos lugares que são lançados.
O impacto ambiental pode ser visto como parte de uma relação causa efeito. Do
ponto de vista analítico, pode ser considerado como a diferença entre as condições
ambientais que existiriam com a implantação de um projeto proposto e as que existiriam
sem essa ação. Diante disso, a tomada de medidas para a diminuição dessa ação antrópica
tem se tornado uma preocupação mundial, já que se observa os efeitos que tem nos
cercado. Confirma o Site Ambiente Brasil1 quando afirma que:
“É clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em
relação á natureza, no sentido de promover sob um modelo de
desenvolvimento sustentável [...], a compatibilização de práticas
econômicas e conservacionistas com reflexos positivos evidentes
junto á qualidade de vida de todos”.
Na evolução de nosso planeta, a preocupação com o meio ambiente evoluiu de
forma lenta, porém com a chegada do século XXI, observou-se a necessidade de se discutir
a conservação e preservação dos recursos naturais até então ditos renováveis, pois tais
recursos classificados em outras épocas como bens livres passaram a serem considerados
como econômicos, em função da sua característica de escassez, decorrente do uso não
sustentado e da sua exauribilidade.
1
Disponível
em:<http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&
conteúdo=./educ
acao/educacao.html>.
3
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
A sustentabilidade, um dos temas mais discutidos atualmente, possui entre os seus
princípios melhorar a qualidade de vida humana, reduzir ao mínimo a utilização dos
recursos não renováveis, modificar as atitudes e práticas pessoais e conservar a vitalidade e
a diversidade da Terra. (MOLINA, 1998).
Tem-se procurado inseri-la nos valores e atitudes da sociedade, devido aos seus
benefícios, já que se tornou uma necessidade na garantia da sua sobrevivência e uma
maneira de minimizar os impactos que o homem proporcionou ao meio ambiente ao longo
de sua existência.
Eventos como a primeira Conferência Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada em Estocolmo na Suécia, em 1972 aconteceram para despertar
a sociedade para a necessidade de mudanças em suas atitudes em relação ao meio
ambiente. A partir desta Conferência, a questão ambiental foi assumida oficialmente e mais
de cem países criaram órgãos oficiais para tratar do tema.
No Brasil apenas a Constituição de 1988, tratou com maior atenção os assuntos
ligados ao meio ambiente, consagrando no art. 225, que: “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Segundo Braga (2003), a segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento foi realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, patrocinada pela
ONU. Participaram 114 chefes de Estado e 170 delegações oficiais, além de equipes do
Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Nesta Conferência surgiram dois
documentos de extrema importância: a Carta da Terra e a Agenda 21.
O ponto central da Carta da Terra é a constatação de que os países ricos poluem
mais o planeta e, portanto, devem ajudar as nações pobres com tecnologias não-poluidoras
e avanços científicos que as conduzam a um desenvolvimento mais rápido e menos
predatório. Reconhece que os Estados têm o direito soberano sobre os recursos naturais de
seus territórios, têm a responsabilidade de garantir que sua exploração não cause danos ao
meio ambiente de outros países e o dever de indenizar as vítimas de poluição e outros
danos ambientais. Todos os governos e pessoas devem cooperar na erradicação da pobreza,
mas os países desenvolvidos têm responsabilidades maiores, são os que mais consomem e
os que detêm as tecnologias necessárias para o desenvolvimento dos países pobres.
Já a Agenda 21 é um documento do fruto do consenso da comunidade Internacional
a respeito de questões sócio-ambientais (GARCIAS, 2001). O objetivo da Agenda 21 é
traçar estratégias para implantar os princípios da Carta da Terra. De seus 40 capítulos, 8
tratam de questões econômicas e sociais; 14 da conservação e gestão dos recursos naturais;
7 descrevem o papel dos grupos sociais; e 11 tratam das políticas para garantir a qualidade
de vida das próximas gerações.
A escalada do progresso técnico humano pode ser medida pelo seu poder de
controlar e transformar a natureza. Quanto mais rápido o desenvolvimento tecnológico,
maior o ritmo de alterações provocadas ao meio ambiente. O que dificulta a
sustentabilidade das nossas ações é que, buscando a melhoria da qualidade de vida do
ponto de vista econômico, são desconsiderados efeitos no meio ambiente.
4
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Nesse sentido, é necessária o investimento em alternativas que busquem o ganho
econômico aliando a conservação e preservação do ambiente, já que a qualidade de vida,
na verdade, depende do equilíbrio dos aspectos econômicos, sociais e ambientais.
2.LUGAR DE LIXO É REALMENTE NO LIXO? CONSIDERAÇÕES A PARTIR
DA RECICLAGEM
Os restos das atividades humanas, considerados como inúteis, indesejáveis ou
descartáveis, são chamados de resíduos. Lixo é basicamente todos e quaisquer resíduos
sólidos gerados pelo homem e/ou pela natureza em aglomerações urbanas.
No entanto, o conceito mais atual é o de que o lixo é o que ninguém quer ou que
não tem valor comercial. Neste caso, pouca coisa jogada fora pode ser chamada de lixo
(PELIZZOLI, 2002).
O lixo é gerado pelas diversas atividades econômicas (ALONSO, 2001) é apenas
uma pequena parte na “montanha” gerada todos os dias e é considerado alto o impacto do
seu volume no meio ambiente das cidades. Maior parte dele acaba sendo lançado em
lixões, depósitos a céu aberto, onde os resíduos, depositados de forma regular ou
clandestina, formam verdadeiras montanhas.
Os resíduos originários das diversas atividades econômicas podem ser classificados
da seguinte forma (CALDERONE, 2002):
1)Resíduo domiciliar é aquele originado da vida diária das residências constituído de
restos de alimento (cascas de frutas, verduras, etc.) produtos deteriorados, jornais e
revistas, garrafas, embalagens em geral, papeis higiênicos, fraldas descartáveis e uma
grande diversidade de outros itens.
2)Resíduo comercial é aquele originado dos diversos estabelecimentos e de serviços, tais
como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes, etc. O resíduo
desses estabelecimentos e serviços tem um forte componente de papel, plásticos,
embalagens diversas, e resíduos de asseios dos funcionários (papel toalha, papel higiênico,
etc.).
3)O resíduo público é aquele originado dos serviços de limpeza publica e urbana,
incluindo todos os resíduos de varrição das vias públicas.
4)Os serviços de saúde e hospitalar (hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, clinicas
veterinárias, postos de saúde, etc.) geram resíduos sépticos, ou seja, que contêm ou
potencialmente podem conter germes patogênicos. São agulhas seringas, gazes, bandagens,
algodões, órgão e tecidos removidos, meios de culturas e animais usados em teste, sangue
coagulado, luvas descartáveis, remédios com prazo de validade vencido, filmes
fotográficos de raios-X, e outros. Os resíduos assépticos desses locais são considerados
como domiciliares.
5
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
5)Os portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários produzem resíduos
sépticos, basicamente originados de materiais de higiene, asseio pessoal e restos de
alimentação que podem veicular doenças provenientes de outras cidades, estados e países.
Também nesse caso, os resíduos assépticos destes locais são considerados domiciliares.
6)Resíduo industrial é aquele originado das atividades dos diversos ramos de indústria
(metalúrgicas, químicas, petroquímica, papelaria, alimentícia, etc.) O resíduo industrial é
bastante variado, podendo ser representado por cinzas, lodo, óleo, resíduos alcalinos ou
ácidos, plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escorias, vidros e cerâmicas, etc.
Nesta categoria, inclui-se a grande maioria do resíduo considerado tóxico.
7)Resíduo agrícola é todo sólido proveniente das atividades agrícolas e da pecuária, como
embalagens de adubos, defensivos agrícolas, rações, restos de colheitas, etc. Em varias
regiões do mundo, esses resíduos já constituem uma preocupação crescente, destacando-se
as enormes quantidades de esterco de animal, geradas nas fazendas de pecuária intensiva.
Também as embalagens de agro-químicos diversos, em geral altamente tóxicas, têm sido
alvo de legislação específica, definindo os cuidados na sua destinação final e, por vezes,
co-responsabilizando a própria indústria fabricante desses produtos.
8)Resíduos de construção civil são as demolições e restos de obras, solos de escavações,
etc. Constituem o que se denomina de entulhos. O entulho é geralmente um material inerte,
passível de reaproveitamento.
Além da poluição visual, do risco de contaminação do solo, de rios e águas
subterrâneas – caso os resíduos alcancem o lençol freático – nos lixões proliferam parasitas
causadores de doenças. Muitas pessoas, ainda, lançam seus lixos em vias públicas, rios,
praias, mares, em terrenos baldios, margens de via públicas, redes de esgotos, entre outros
locais impróprios. Eis o maior problema do excesso de lixo gerado dia-a-dia.
A concentração populacional e o processo de industrialização trouxeram, a partir do
século XX, aumento da quantidade de lixo e também mudanças na sua composição
(LIMA, 2001). Ao lixo, que até então era formado por restos de alimentos, cascas e sobras
de vegetais e papéis, foram sendo incorporados novos materiais como vidro, plásticos,
isopor, borracha, alumínios entre outros de difícil decomposição.
Para se ter uma idéia, enquanto que os restos de comida deterioram-se rapidamente
e o papel demora entre 3 a 6 meses para de decompor, o plástico dura mais de cem anos, e
o vidro cerca de 1 milhão de anos quando jogados na natureza(ver tabela 1).
TABELA 1 - O TEMPO QUE A NATUREZA LEVA PARA DECOMPOR ALGUNS
DOS PRODUTOS
PAPEL
De 03 a 06 meses
PANO
De 06 meses a 01 ano
FILTRO DE CIGARRO
05 anos
6
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
CHICLETE
MADEIRA
NYLON
PLÁSTICO
METAL
BORRACHA
VIDRO
05 anos
13 anos
Mais de 30 anos
Mais de 100 anos
Mais de 100 anos
Tempo indeterminado
01 milhão de anos
Fonte: Portal São Francisco.
Trabalhar o processo de educação ambiental da população, em termos gerais,
ajudará todo o processo de conscientização, visto que todos saem ganhando, pois uma vez
que se preserva a natureza, se faz um favor para as gerações futuras que na falta destas
ações é a principal prejudicada.
Três medidas urgentes para diminuir a quantidade de lixo e o impacto dos resíduos
no meio ambiente são a coleta seletiva, a reciclagem de materiais e a compostagem – que
devem ser realizados de forma integrada, dentro de um programa contínuo, com o apoio do
poder público municipal e de empresas, conjuntamente com um programa de
conscientização da população, pois a educação ambiental deve estar presente e em
consonância com as políticas públicas de redução e destinação do lixo (ZANETI, 2000).
De acordo com pesquisa realizada pelo O Compromisso Empresarial para a Reciclagem –
CEMPRE,2 135 municípios brasileiros realizam programas de coleta seletiva, sendo que a
maior concentração destes está nas regiões sudeste e sul do país.
Quando se fala em reciclagem, a primeira idéia que nosvem à mente é a de que se
trata de um mero processo que transforma um objeto velho num novo. Simples assim. Mas
reciclar não é apenas isso. Reciclar é coletar e reprocessar um recurso virgem de modo que
ele possa ser transformado em novos produtos secundários (JAMES, 2002).
A Reciclagem também visa reduzir a retirada de matérias primas da natureza que
seriam necessárias para a produção destes. A exemplo do papel que, segundo a Revista do
Meio Ambiente (2009), a reciclagem de cerca de 50kg de papel evitam o corte de uma
árvore para a produção dessa mesma quantidade. Além disso, a reciclagem ainda possui
sua contribuição socioeconômica, já que existem pessoas que vivem da renda obtida a
partir da reciclagem destes produtos.
No Brasil (SCHOLZ, 2002), muito pouco do que se produz de lixo é reciclado ou
reaproveitado. O maior motivo na baixa taxa de reciclagem no Brasil ainda é a coleta, que
impossibilita uma maior valorização do material para o desenvolvimento de um programa
eficiente de reciclagem e reaproveitamento do lixo, sendo de fundamental importância para
que se preserve a qualidade do material coletado, o que só é possível com uma coleta
eficiente e organizada. O atual sistema de coleta do lixo público nas cidades se utiliza
quase que unicamente dos caminhões compactadores, que compactam o lixo recolhido,
causando danos e contaminando o material a ser reciclado.
A defesa do meio ambiente (VALLE, 2003), ao contrário dos países de primeiro
mundo, é ainda pouco cobrada pela população, haja vista existirem muitas outras
prioridades relacionadas com o estado geral de pobreza da Nação e isso é ruim, porque a
7
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
degradação ambiental é um fator altamente contribuinte para o abaixamento da qualidade
de vida o que, por sua vez, implica em geração de mais pobreza.
Muitas atitudes da sociedade podem ser mudadas e mesmo consideradas mínimas,
beneficiarão o meio ambiente com a redução da quantidade de lixo e de seus impactos
ambientais, sociais, econômicos, entre outros, e ao mesmo tempo melhora a qualidade de
vida da sociedade. (SILVA, 2009)
3. A ASSOCIAÇÃO DOS AGENTES DE RECICLAGEM DE IPOJUCA
A Associação dos Agentes de Reciclagem do Ipojuca, entidade que iniciou as suas
atividades em 2004, representa 32 famílias que vivem da reciclagem no balneário e é
coordenada pelo ambientalista David Araújo.
Face ao crescente desenvolvimento econômico e urbano visível nas últimas décadas
da área de Porto de Galinhas, litoral sul de Pernambuco, surgiu unindo o útil ao agradável,
reciclando matérias que são coletados em ruas, estabelecimentos comerciais, meios de
hospedagem, etc, ao mesmo tempo gerando renda, proporcionando uma rentabilidade à
cooperativa.
A Instituição possui o apoio da Prefeitura do Ipojuca e, desde 2006, tem a cessão de
um espaço, por meio de aluguel de uma casa na comunidade de Salinas, onde tem
funcionado atualmente o Centro de Triagem da Associação.
4. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho, procedeu-se a uma revisão de literatura
sobre o tema para a obtenção de um conhecimento científico específico da relação entre as
questões basilares da pesquisa.
O objetivo da pesquisa consiste na identificação do processo de gestão dos resíduos
sólidos através da reciclagem e seus efeitos na vida dos associados no cunho
socioeconômico. Buscou-se também avaliar o nível de consciência ambiental e
conhecimento ecológico dos associados através do desenvolvimento de sua atividade na
busca de contribuir para a formação de um cidadão consciente, participativo, que seja
capaz de julgar, tomar decisões e compreender sua responsabilidade sócio-ambiental.
A pesquisa de campo proporciona o contato direto entre o pesquisador e sua área da
pesquisa e a partir da aplicação de um questionário direto e objetivo, há a possibilidade do
acesso direto às informações. Diante disso, foi realizada, entre os meses de outubro e
novembro de 2007, a aplicação de questionários tendo como público alvo 12 pessoas
representantes das famílias vinculadas à Associação dos Agentes de Reciclagens do
Ipojuca.
O método de pesquisa utilizado foi a entrevista pessoal, pela possibilidade de
instrução ao integrado, inclusão de observações, facilitando a interpretação de dados
(DENCKER, 1998.).
5.RESULTADOS
8
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Os integrantes da Associação dos Agentes de Reciclagens do Ipojuca encontraram
na reciclagem uma oportunidade na elevação da sua renda familiar, para 2 salários
mínimos. Além disso, 90% das famílias têm a coleta como única fonte de renda. O nível de
escolaridade médio dos associados é de 1ª a 4ª série do ensino fundamental.
De acordo com os entrevistados, eles trabalham em média 7 horas por dia, dividido
em dois turnos. No entanto, uma vantagem de trabalhar com a reciclagem é a flexibilidade
na sua carga horária de trabalho, tendo a liberdade de reduzir e/ou aumentar as horas
trabalhadas de acordo com o seu próprio interesse.
Alguns catadores apresentam um grau de percepção ambiental em relação ao
serviço de coleta e reciclagem do lixo e alguns deles afirmam categoricamente: “Gosto do
que faço e faço com prazer, sei da importância do trabalho de reciclagem”. O fato de seu
trabalho cooperar não só com a sua renda, mas para a limpeza do local e ser uma ação
benéfica ao meio ambiente, aumenta o prazer na execução de seu trabalho.
A partir do funcionamento do trabalho da Associação na nova sede, a cooperativa
coleta 25 toneladas, uma média de 12 toneladas por mês. A entidade possui metas para o
aumento da arrecadação de materiais destinados a reciclagem, principalmente nos períodos
de fim de ano e nas férias escolares, pelo fato da região receber mais pessoas nesta época.
Na pesquisa de campo, foi detectado que a gestão municipal de resíduos sólidos
ainda é bastante deficiente, quando se considera a coleta de lixo que se dá de forma
desordenada e não atinge todos os moradores, principalmente os que se encontram em
difícil acesso, tendo como opção queimar o lixo ou jogá-lo nos mangues, degradando ainda
mais o ambiente.
Um problema alegado pelos entrevistados é a ausência de equipamentos, como
prensa para amassar todo o alumínio, balança entre outros, causando a dependência de
atravessadores, o que impede o fomento nos ganhos econômicos através da reciclagem,
pelo fato de venderem sua produção a preços mais baixos que os praticados na indústria.
Complementa o administrador da cooperativa: “Esperamos que com mais incentivo por
parte da prefeitura possamos deixar de depender de atravessadores, aumentando assim os
ganhos dos cooperados”.
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, o lixo é considerado como uma das principais preocupações
ambientais nos grandes centros urbanos. Logo, é preciso um destino correto a esses
resíduos. Este estudo mostra que as diversas formas de preservação ambiental como a
reciclagem, traz lucros não só no sentido de privilegiar as gerações futuras, como também
para as partes envolvidas em todo o processo, dando um retorno imediato como: geração e
aumento de renda e inclusão social para as partes atuantes. Além de contribuições
ambientais como a conscientização ambiental, preservação do meio ambiente para que as
gerações futuras possam usufruir também da natureza.
Meio ambiente e desenvolvimento econômico, como vimos, não constituem
desafios separados, estão inevitavelmente interligados. Com relação à Recicle, embora
tenha melhorado substancialmente a qualidade de vida dos cooperados, pelo aumento da
renda e conseqüentemente permitindo um maior grau de inserção social, ainda existem
algumas deficiências que devem ser minimizadas, sobretudo aquelas relacionadas à
9
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
dependência de atravessadores e à qualificação dos cooperados, assim como, melhor nível
de capitalização da associação, permitindo a aquisição de maquinários necessários ao
aumento da sua produtividade e modernização.
Em função do que foi exposto, deve-se entender que o conceito de desenvolvimento
sustentável fornece uma estrutura para a integração de políticas ambientais e estratégias de
desenvolvimento para o setor público e para a sociedade, priorizando atender as
necessidades e aspirações do presente sem comprometer a possibilidade de atendê-las no
futuro, lembrando que sempre há o risco de que o crescimento econômico prejudique o
meio ambiente, se este não for apoiado no tripé eficiência econômica, eqüidade distributiva
e prudência ecológica.
7.REFERÊNCIAS
ALONSO, L. R. Coleta, tratamento e disposição final: problemas e perspectivas. São
Paulo: Pini, 2001.
Ambientebrasil.
Educação
Ambiental.
Conceito.
Disponível
em:<http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./educacao/index.php3&cont
eudo=./educacao/educacao.html>. Acesso em 30 de março de 2010.
BRAGA,
R.
O
Estatuto
da
Cidade.
Disponível
em
<http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/publicacoes/textospdf/rbraga04.pdf>.
Acesso em 03 abr. 2003.
CALDERONI, S. Os bilhões perdidos no lixo. São Paulo: Humanitas, 2002.
DECOMPOSIÇÃO
DO
LIXO.
Disponível
em:
<http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio
-ambiente-reciclagem/decomposicao-do-lixo.php>, Acesso em 05 de abril de 2010.
DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São
Paulo: Futura, 1998.
GARCIAS, P. M. Conferência da Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Agenda 21. Curitiba: IPARDES. 2001.
IBGE.
JAMES, B. Lixo e Reciclagem. São Paulo. Scipione. 2002
LIMA, L. M. Q. Tratamento de lixo. São Paulo: Hemus, 2001.
MOLINA, Sérgio. Turismo y Ecologia. México. Trillas: 1998.
PELIZZOLI, M. Educação Ambiental e responsabilidade humana. Porto Alegre, 2002.
REVISTA DO MEIO AMBIENTE. Ed. 023. Maio. 2009. Disponível em:
<http://www.portaldomeioambiente.org.br/downloads/rma-edicao-atual.php>. Acesso em
01 de março de 2010.
RIBEIRO, J. A. Crescimento Populacional Versus Acúmulo de Resíduos Sólidos: a
percepção econômico-ambiental dos moradores de Porto de Galinhas. 2006. 93 p.
Monografia (Bacharelado em Ciências Econômicas) – Universidade Federal rural de
Pernambuco, Recife.
SCHOLZ, L. C. Coleta, tratamento e disposição final: problemas e perspectivas. Secretaria
do Meio Ambiente. Coordenadoria de educação Ambiental. Resíduos sólidos e meio
ambiente. São Paulo: Pini, 2002.
10
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
SILVA, Danielle Mesquita da Costa, GRILLO, Margareth. A aplicação da política dos 3
R’s como estratégia competitiva e sustentável em empreendimentos hoteleiros. In:
Congresso Paraibano de Gestão do “Lixo”: educação ambiental e sustentabilidade. ANAIS.
Profa. Dra. Maria de Fátima Ferreira de Araújo. (org.) – Campina Grande, Universidade
Estadual da Paraíba. 2009. ISBN 978.85.7879.028.8. p.10 a 17.
VALLE, C. E. Novas tendências para reciclagem de resíduos. Revista Meio Ambiente
Industrial. São Paulo: Ed Tocalino, 2003
ZANETI, I. Além do lixo – Reciclar: um processo de Trans For Ação. Brasília: Ed Terra
Uma, 2000.
11
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Download

a reciclagem como uma ação econômica, social e ambiental