Teoria Museológica I (plano de curso 2013.1) Professor responsável: Alexandro Silva de Jesus Ementa: A especificidade do campo científico; museus e o(s) objeto(s) da Museologia; museu, teoria crítica e crítica literária; teoria museológica e a problemática sobre a memória; teoria museológica como teoria sobre o arquivo; experiência Museo-lógica como experiência técnica. Objetivos Geral: • Oferecer ao aluno uma percepção sobre a Museologia e a teoria museológica como elementos que devem concorrer para sua consecução efetiva. Específicos: • Traçar as singularidades do campo científico; • Indicar as alternativas contemporâneas do campo; • Problematizar a relação entre a teoria museologia e o dever de memória; • Determinar as relações entre uma teoria sobre o arquivo e a teoria museológica; campo de saber em processo de constituição e dos • Apresentar a regência da técnica moderna e sua implicação sobre a museo-lógica Metodologia A metodologia aplicada consiste, essencialmente, em Leitura, que para a disciplina, significa não somente as exposições analíticas e críticas sobre os elementos que estão em jogo em cada um dos autores, mas também momento de leituras dirigidas dos seus textos. Durante o percurso da disciplina, os discentes serão responsáveis por controlar a discussão através da captura de exemplos empíricos, e pela construção de ferramentas de análise capazes de lhe oferecer as condições de possibilidade para emergência de sua análise particular. Avaliação: Consistirá na análise e atribuição de valor para a construção de um arquivo particular sobre a disciplina teoria Museológica I. A construção e funcionamento desse arquivo estão indicados no conceito mais geral de artesanato intelectual, tal como o mesmo aparece no pensamento de Charles Writ Mills. Sua leitura, anterior a todas as demais, torna-se condição essencial para a avaliação efetiva. Tal arquivo deverá conter: 1.Relatório de uma temática trabalhada durante a disciplina. Tal relatório deverá conter: 1.1 Uma descrição dos problemas que a temática impõe (isto supõe que cada temática lidará com um conjunto de problemas); 1.2 Os textos que servirão de suporte para a temática. Aqui, os textos devem ser descritos, de um lado, em suas questões ou proposições centrais, e, de outro, quais as apropriações que eles se permitem em função de nossas temáticas; 1.3 Uma apreciacão pessoal sobre a temática e sua abordagem. Esta apreciação deve, de um lado, acusar o efeito da temática sobre o saber do discente sobre a questão, e, de outro, demonstrar a sua capacidade crítica. Exemplo: Temática: Museu, memória e vida: o ponto de vista filosófico. Problema 1. As relações possíveis entre Museu e os modos de existência. O que esta problemática enfrenta é a relação entre produção de memória e atividade. Em que medida, é o que ela se pergunta, o excesso de história não paralisa a vida de indivíduos, grupos e culturas… Texto: II Considerações… O texto serve aos interesses da temática uma vez que a prática de produção da memória não é restrita a Historiografia, podendo ser compartilhada, inclusive, pela Museologia. Um detalhe importante: uma das formas de uso da história permite com que a o texto cruze nossa temática de forma evidente, uma vez que o uso patrimonial da história é previsto pelo autor que… Apreciação: Para mim, estudante de museologia, o problema sobre a relação entre Museu e Existência figura como fundamental. Pois, de modo geral, associamos museu, por exemplo, a experiência criativa; essa criatividade aparece assegurada pelo simples fato de falarmos: museu. A leitura da II Consideração…, neste aspecto, foi esclarecedora. Ela me permitiu perceber que tal criatividade não é natural e se relaciona ao que o autor denominou como a força plástica dos indivíduos, grupos e culturas. …. Apreciação alternativa: Muito embora a leitura de Nietzsche seja uma novidade, a relação entre Museu e Experiência já era conhecido por mim. Tenho acompanhando essa discussão a partir da literatura, particularmente, na leitura de alguns romances do século XIX, como é o caso de Bouvard e Pecuchet de Flaubert. No entanto, essas leituras, inclusive a II Consideração, não foram capazes de me demover sobre a relação negativa entre os elementos da relação. Primeiro, no caso de NIetzsche, não vejo como adequado o uso de termos médicos para analisar experiências culturais; Segundo …. 2. Material de teste (filme, música, texto, percepção da vida imediata); Exemplo: […] temos necessidade de história […] para viver e para agir […]. Mas, logo que se abusa da história ou que lhe atribuímos muito valor, a vida se estila e se degenera. [Eis] a razão porque devemos […] detestar profundamente a instrução que não estimula a vida, o saber que paralisa a atividade […] (NIETZSCHE, 2005, p.68). Agonizo se tento Retomar a origem das coisas Sinto-me dentro delas e fujo, Salto para o meio da vida Angústia (Secos e Molhados) Re-encontro, na letra de Secos e Molhados, a mesma oposição entre História (origem, começo) e vida. Podemos atribuir uma intenção semelhante entre os termos agonizar e degenerar, utilizados, respectivamente, pela banda e pelo filósofo. De resto, há, nos dois casos, convergência na escolha para a vida ( temos necessidade de história […] para viver e para agir/Salto para o meio da vida). 3. Produção textual (presencial, permitindo apenas a consulta de instrumentos produzidos pelos alunos); 4. Fichamento de um texto trabalhado em sala [o fichamento deve conter a referência completa do texto/as paginas referentes aos tópicos devem ser colocadas. Elemento econômico do fichamento: ele deve ser de tal maneira que sua leitura possa substituir em determinadas circunstâncias, o texto]; Exemplo: BOURDIEU, Pierre. Os usus sociais da ciência - por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004. OS USOS SOCIAIS DA CIÊNCIA I. Palestra conferida numa instituição de pesquisa; a preocupação naquele momento, era determinar a "lógica própria do mundo científico", e com seus "usos sociais" pp.17-8; II. o problema é colocado a partir do horizonte de estudos sobre as produções culturais (arte, história, filosofia, ciências)(história, sociologia, antropologia das ciências, epistemologia). Todos esses estudos tem em comum a pretensão de serem cientificamente conduzidos p.19; 5.Tratamento conceitual com dicionário vulgar ou especializado. Tal operação deverá ocorrer da seguinte maneira; 5.1. Escolha de um termo problemático [termo que cause estranhamento ou mesmo pressentemento de que uma decisão errada sobre o mesmo causará uma leitura inadequada]; 5.2. O elenco dos sentidos que o termo possui; 5.3. Escolha do(s) sentido(s) que ofereça o modo mais adequado de leitura. Exemplo: Não devemos começar distinguindo o arquivo daquilo a que o reduzimos freqüentemente, em especial à experiência da memória e o retorno à origem, mas também ao arcaico e ao arqueológico, a lembrança ou a escavação, em suma, a busca do tempo perdido? Passo 1. Tomemos por problemático o verbo "reduzimos", ou seja, desconfiemos de seu sentido. Ele se tornou problemático porque aparece num contexto que, neste, precisamos descobrir qual é a relação entre a arqueologia ou o "arqueológico" e o arquivo. Passo 2. Eis, então os sentidos do verbo reduzir 2.1. tornar menor; 2.2. subjugar, submeter; 2.3. simplificar; 2.4. constranger, forçar; 2.5. diminuir as proporções de; 2.6. limitar-se, resumir-se; 2.7. transformer; 2.8. engatar marcha de maior tração para diminuir a velocidade de um veículo; Passo 3. Escolhamos para demonstração, dois sentidos, e observemos os efeitos distintos que eles produzem na Leitura a) reduzir como limitar, resumir (6). Esta escolha exige com que eu entenda o arquivo como algo maior do que a operação arqueológica, sem contudo, descartar o elemento arqueológico. Tudo se passa como se o arquivo não fosse somente isto; sua natureza é isso somada a mais alguma coisa. b) reduzir como transformar (7). Neste caso, reduzir o arquivo ao arqueológico significa transformar sua natureza o que, no limite, significa, apagá-lo. Neste caso, a associação do arquivo ao arqueológico é algo que impede que observemos a singularidade do arquivo. O mais importante: a escolha determina o sentido de toda a Leitura. É bom que, feita a escolha, ela seja testada ao longo do texto. No caso específico, perceber todas as ocorrências da arqueologia no texto e precisar sua relação com o arquivo. 6. Encontro presencial Neste encontro já será necessário a apresentação da sugestão de pesquisa ; 7. Apresentação pública dos textos que orientam a disciplina acompanhada de uma memória sobre a apresentação [a apresentaçào pública deve seguir e conter os mesmos elementos exigidos nos relatórios]; Observação. Para as atividades de Fichamento, Relatório e Memória das apresentações orais, a seguinte formatação textual é exigida: Arial, Tamanho da fonte 11, espaçamento 1,5, margens: S = 2,5, E = 3,7, I = 3,2, D =2,5). Programa do curso: Unidade 1: a) A museologia, credenciamento científico; b) Tendências teóricas em Museologia; c) Museo-lógica como objeto da teoria. Unidade 2: a) Museologia e a memória do mundo; b) Teoria museológica como teoria sobre o arquivo; c) Sobre a técnica e a teoria museológica. Plano de curso: DATA 03/06 C. HS 04 TEMA Apresentação da disciplina 10/06 08 Artesanato como método para o labor intelectual 17/06 12 Museologia, desejo de ciência a produção de verdade 01/07 16 Determinação do estatuto da Museologia: a teoria do campo científico 08/07 20 Indecisão museológica e as tentativas de determinação de seu objeto REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Sobre o artesanato intelectual; O ideal de artesanato. In: MILLS, Charles Stuart. Sobre o artesanato intelectual e outros ensaios. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2009. Conferência I. In: Foucault, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2005/ Aula de 17 de março de 1976. In: FOUCAULT, Michel. Em defesa da Sociedade: Curso Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999. Os usos sociais da ciência. In: BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência - por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004 (MARIANA/CLARA). Sobre o tema “Museologia – ciência ou apenas trabalho prático?” In: STRÁNSKÝ, Zbinesk Z. Revista Eletrônica do Programa de PósGraduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS Unirio | MAST, Vol. I, N°. I, 2008/O Objeto de Estudo da Museologia In: MENSCH, Peter van. O Objeto de Estudo da Museologia. Rio de Janeiro: Uni-Rio/UGF, 1994. 15/07 24 Fato museal e o objeto da Museologia (I) 22/07 28 Fato museal e o objeto da Museologia (II) 29/07 05/08 12/08 32 36 40 Produção textual Semana de Encontros Museu, memória e vida: o ponto de vista filosófico 19/08 44 Museu, memória e vida: o ponto de vista literário 26/08 48 02/09 52 09/09 56 Museu como suporte de memória: a teoria dos suportes Museu como suporte de memória: a teoria sobre o arquivo Museu e a determinação da técnica (I) 16/09 60 Museu e a determinação da técnica (II) A interdisciplinaridade em Museologia. In: BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Waldisa Rússio Camargo Guarnieri: textos e contextos de uma trajetória profissional. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria do Estadoda Cultura: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2010. Sistema da Museologia; Museologia e ciências humanas e sociais; Museologia e Identidade. In: BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Waldisa Rússio Camargo Guarnieri: textos e contextos de uma trajetória profissional. São Paulo: Pinacoteca do Estado: Secretaria do Estadoda Cultura: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, 2010. II Consideração Intempestiva sobre a utilidade e os inconvenientes da História para a vida. In: NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre História. São Paulo: Edições Loyola, 2005 (Chaylane/Sofia/Camila Santos). Capítulo IV. In: FLAUBERT, Gustave. Bouvard e Pécuchet. São Paulo: Estação Liberdade.das Letras, 2007. Memória. In: Vários autores, Enciclopédia: 1. Memória-História. Lisboa: Imprensa Nacional, 1984. Prólogo. In: DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. A questão da técnica. In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. 7a. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006. A questão da técnica. In: HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. 7a. ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006. 18/09 64 Entrega dos Arquivos