CON S I D E R AÇÕE S P R E L I MI N AR E S S OB R E AN T R OP OL OGI A S ON OR A S im on e da S ilv a Ar an h a “Par a além de uma antr opologia s em mús ica e de uma mus icologia s em homem” (Rafael Jos é de Menezes B as tos ) “T odo s er humano pos s ui uma identidade s onor a (. .. ) es s a voz mar ca a individualidade de cada um. Ex tens ivamente, podemos dizer qhe também os gr upos humanos , de cer ta for ma, pos s uem a s ua ‘voz’ ou s uas ‘vozes ’” (Alber to I k eda) I n t r odu ção/ R es u m o A Antr opologia S onor a é uma ár ea/ dis ciplina r elativamente r ecente que pr etende es tudar a mús ica como manifes tação cultur al, analis ando e ver ificando os s ignificados de s ua ins er ção nas atividades s ociais diver s as . Paulatinamente a Antr opologia S onor a vem ganhando es paço nos debates que tr adicionalmente s ão mais voltados par a a dis cus s ão I magética do que S onor a. Mú s ica s em abor dagem cu lt u r al x Cu lt u r a s em abor dagem m u s ical Rafael Jos é de Menezes B as tos inicia o s eu ar tigo com a s eguinte citação “S e os Mus icólogos ignor am o povo, os antr opólogos ignor am o s om” (B as tos : 1993, p. 9), par a r es s altar que há muito s e faz es tudos Mus icológicos , na qual o s om é o obj eto em pr imeir o plano, s em s e levar em conta o as pecto cultur al da mús ica pr oduzida. De outr o lado muitos antr opólogos s em um “olhar ”, ou melhor , s em um “ouvido” educado/ dir ecionado par a uma abor dagem mus ical, não per ceber am e não puder am compr eender a mús ica de um deter minado gr upo s ocial como uma de s uas impor tantes manifes tações cultur ais . A Antr opologia S onor a entende a mús ica par a além de s eus as pectos es téticos , obs er vando- a como for ma de linguagem e comunicação, com códigos pr ópr ios que des velam compor tamentos e identidades , e que por tanto é univer s al, na medida em que a s ua ex is tência e impor tância es tá pr es ente em qualquer s ociedade, e de outr o lado é s ingular e de difícil tr adução quando for a de s eu contex to s ocial. (Oliveir a Pinto: 2001, p. 233). D elim it ação do Cam po de E s t u dos da D is ci plin a Na ver dade não ex is te uma delimitação pr ecis a e acima de qualquer dúvida dos limites de atuação e metodologia da dis ciplina uma vez que outr as dis ciplinas ligadas a Mus icologia também es tudam com abor dagens dis tintas o mes mo obj eto. T iago de Oliveir a Pinto divide nos s eguintes gr andes gr upos de es tudos s obr e mús ica: • Mus icologia His tór ica: que pr etende es tudar a Mús ica Er udita Ocidental e s ua ex pans ão em ter r itór ios não- eur opeus . • Mus icologia S is temática: es tudos de Acús tica, Fis iologia da Pr odução S onor a, S ociologia da Mús ica. • E tnomus icologia: enfoque em mús icas étnicas e/ou tr adicionais , “folclor e” r ur al e ur bano, tr adição or al, m ús ica popular ; • Antr opologia S onor a: mús ica enquanto/ como cultur a; metodologia ligada a Antr opologia. As duas últimas categor ias têm os limites muito mais confus os e coincidentes , uma vez que muitos etnomus icólogos tr abalham com a metodologia da Antr opologia S onor a e, de outr o lado, o obj eto de es tudo da Antr opologia S onor a pode s er o mes mo que o da Etnomus icologia. S endo as s im acho que é impor tante r es s altar E tnomus icologia par a em s eguida ver ificar algumas car acter ís ticas como alguns conceitos da e metodologia da Antr opologia tem contr ibuído par a es ta ár ea. E m 1964 Mer r iam publica o clás s ico Anthr opology of Mus ic no qual tenta definir a etnomus icologia (fazer ciência s obr e a mús ica) como uma cons tr ução/ r es ultado da ciência e das humanidades : “A etnomus i cologia, então, é uma ciência s ocial ou uma humanidade? A r es pos ta é que ela per tence aos dois (campos ); s ua abor dagem e s eus obj etivos s ão mais científicos que humanís ticos , enquanto que s eu obj eto (s ubj ect matter ) é mais humanís tico que científico” (Menezes B as tos : 1993, p.34). 1 Des de a década de 60 os obj etivos da Etnomus icologia s ão: • Pes quis ar a cr iação, r ecepção e tr ans mis s ão; • I nter pr etação das cantigas , ins tr umentos , tex tos e per for mances ; • Ver ificar as teor ias , valor es , nor mas ; • Analis ar os compor tamentos s ociais , ps íquicos e s imbólicos r elacionados ao fazer mus ical; Par a tanto, s egundo Oliveir a Pinto, é pr ecis o analis ar a r elação entr e mús ica e per for mance, uma vez que ao obs er var a per for mance ver ificamos o pr oces s o mus ical que por s ua vez r es s alta as pectos étnicos , cultur ais , es téticos , compor tamentais , cor por alidades par a além de uma anális e es tr itamente es tr utur al da pr odução s onor a. Nas s uas palavr as : “Per for mances de mús ica podem s er es tudadas a par tir de uma metodologia de pes quis a, que identifica os pr oces s os entr e a pr ática das manifes tações ex pr es s ivas e as r es pectivas es tr utur as s ociais , pois dr amatiz ação e r epr es entação mus ical pr es tam- s e bem par a uma leitur a de ques tões s ociais , que s er iam car acter ís ticas do gr upo es tudado.” (Oliveir a Pinto: 2001, p. 230). E t n ogr af i a de Mú s i ca/ P es qu is a de Cam po “O par adigma que infalivelmente s ur giu no contex to antr opológico da mús ica s er á s empr e s onor o: ouvir e apr ender a ouvir a s onor idade dos outr os s ignifca entendê- los melhor , da mes ma for ma que entender as s onor idades alheias vai fazer com que entendamos melhor o nos s o meio ambiente s onor o também, r econhecendo e r es peitando alter idades ” (Oliveir a Pinto: 2001, p.275). 1 “Is ethnomusicology, then, a social science or a humanity? The answer is that it partakes of both; its approach (abordagem) and its goals (objetivos) are more scientific than humanistic, while its subject matter (objeto, música) is more humanistic than scientific” (Merrian: 1964, p. 25). Para saber mais sobre a história do desenvolvimento da Musicologia, Musicologia Compara, Etnomusicologia e a sua relação epistemológica com a delimitação da disciplina Antropologia ver Rafael José de Menezes Bastos (1993). A pes quis a em Antr opologia S onor a ger almente s e depar a com uma “pais agem s onor a” tã o var iada quanto os diver s os gr upos / ambientes que a pr oduzem (Oliveir a Pinto: 2001, p.248), em outr as palavr as com uma diver s idade de timbr es , s onor idades locais , impos tação de voz es pecífica, “falas ” car acter ís ticas do gr upo/ local da pes quis a. Cer tamente a metodologia des envolvida pela pes quis a antr opológica r elacionada a inves tigação de campo pode, e muito, contr ibuir par a uma inves tigação des s es diver s os tipos de s onor idade. S egundo Oliveir a Pinto “a pes quis a de campo (...) ex ige do antr opólogo um talento es pecial em lidar com pes s oas (...), na etnogr afia mus ical acr es centa- s e o apr endizado e a capacidade de manus ear apar elhos ” (idem, p. 251). Um pes quis ador nes ta ár ea neces s ita de um conhecimento técnico que lhe pos s ibilite captur ar s ons e imagens com a melhor qualidade pos s ível. E s te mater ial deve s er acompanhado de uma des cr ição detalhada (mús ica, r eper tór io, ins tr umentos , contex to da per for mance, etc.) que pos s am s er vir como documentos par a pr es er vação e anális es pos ter ior es . Oliveir a Pinto s uger e as s im tr ês tipos de abor dagem no pr oces s o de gr avação: 1. Gr avação do contex to: pr ivilegia- s e o r egis tr o da per for mance, com um mínimo de condução ou inter venção do pes quis ador – r egis tr o em campo 2. Gr avação analítica: é mais a pr es ença do pes quis a pes quis ador dir ecionada, r es s altando par ticular idades (pr ior izando alter nadamente os ins tr umentos e voz, por ex emplo) – r egis tr o em campo ou es túdio. 3. Gr avação como “B loco de Anotações ”: gr avação mais livr e, impr ovis ada que pode s er vir par a compor o contex to da per for mance. É pr ecis o r es s altar que a fas e de gr avação/ r egis tr o é uma das fas es mais impor tantes de todo o pr oces s o de inves tigação. Um r egis tr o mal feito, com qualidade r uim pode compr ometer todo o pr oces s o de anális e, bem como inviabilizar a pr es er vação como documento fidedigno par a es tudos futur os . P r es er vação/ D ocu m en t ação do R egis t r o Uma das gr andes pr eocupações do antr opólogo/ etnomus icólogo é o r egis tr o, par a pr es er vação des s as diver s as pr oduções s onor as que cons tantemente es tão s e tr ans for mando ou s e ex tinguindo. De outr o lado acompanhamos tecnológicas no último s éculo o modo pelo qual ins tituír am novos s upor tes as par a pr es er vação, mudanças e novos apar elhos par a r egis tr o, do fonógr afo ao DAT , da cer a ao ar quivo digital. E s te é um dos pr oblemas a s er em pens ados uma vez que a cada nova s ubs tituição de tecnologia ex ige uma atualização do que j á foi r egis tr ado par a o novo s upor te (o que é s em dúvida muito tr abalhos o) ou então ex iges e que os apar elhos leitor es tenham que s er mantidos em ex celentes es tados de cons er vação, inclus ive par a não pr ej udicar o r egis tr o j á r ealizado. Con s ider ações f in ais Atr avés des te pequeno es tudo pude obs er var que ex is tem diver s os as pectos que podem s er abor dados no es tudo de qualquer pr odução s onor a. Des de uma anális e mus ical (es tr utur al) até por r elações entr e mús ica, cultur a, identidades , poder , entr e outr os . Que o método antr opológico, ligado a pes quis a de campo etnogr áfica, muito tem contr ibuído par a o es tudo de mús ica como manifes tação cultur al de um deter minado gr upo, pos s ibilitando a gr avação/ obs er vação da per for mance mus ical em s i e do s eu entor no (contex to). Por fim entendo que os r ecur s os audiovis uais em Multimeios s ão de gr ande impor tância, uma vez que r egis tr am a “per for mance s onor a” tanto no s eu as pecto imagético quanto s onor o, pr incípio com qualidade) pos s ibilitando um r egis tr o (a que pode s e tor nar pr es er vação e/ou par a anális e. um documento par a R ef er ên cias B ibliogr áf icas : I keda, Alber to. B r as il, S on s e I n s t r u m en t os P opu l ar es . I ns tituto Cultur al I taú, S ão Paulo, 1997. Menez es B as tos , Rafael Jos é de. E s boço de u m a t eor ia da m ú s ica: par a além de u m a an t r opologia s em m ú s ica e de u m a m u s icol ogia s em h om em . Anuár io Antr opológico, 1993, p.9- 73. Mer r iam, Alan P. T h e An t h r opology of Mu s ic. Nor thwer s ten Univer s ity Pr es s 1964. Pinto, T iago de Oliveir a. S om e m ú s ica. Qu es t ões de u m a an t r opologia s on or a. Revis ta de Antr opologia, 2001, vol.44, no.1, p.222286.