Um Brasil a reciclar
Prof. Dr. José Luiz Lorenz Silva
João Brasileiro ganhou no sorteio de natal do supermercado do bairro, cinco mil Euros e uma passagem de ida e volta
à Itália, para uma semana de turismo até a fronteira austríaca, região natal da família proprietária do
estabelecimento. Lá, João e outros quatro ganhadores do mesmo prêmio, seguiram via ferroviária, até o a região dos
Alpes italianos.
Uma latinha de alumínio pesa 14,5 gramas.
Pelas ampla janelas do vagão “Trenitalia”, os felizes ganhadores aproveitavam a comodidade das cabines do trem para
fotografar as paisagens alpinas; cartões postais corriam a 300 quilômetros por hora; picos nevados, encostas
rochosas, túneis, casinhas brancas e isoladas em vales verdejantes, rios cristalinos e pequenas vilas.
67 latinhas de alumínio correspondem a 1 kg.
João preferiu posicionar-se numa das janelas do corredor das cabines e passou a escolher, entre as paisagens
passantes, os melhores alvos. Quando em vez, algo impedia a visão do brasileiro; nas laterais da ferrovia, enormes
acúmulos encobriam a visão da paisagem alpina.
Cada 1.000 kg de alumínio reciclado significa 5 mil kg de minério bruto (bauxita) poupados.
Era possível perceber que o material empilhado estava disposto em ambos os lados da ferrovia, sempre nas
imediações de grandes galpões. Cores e brilhos passavam correndo pelo vagão, mas era impossível perceber o que
seriam. João, em italianês, perguntou o que eram ao cabineiro do vagão.
O Brasil possui a terceira maior reserva mundial de minério de alumínio (bauxita).
Num italiano com sotaque alemão, o homem fez-se entender dizendo que eram depósitos de matéria à reciclar:
papel, madeira, vidro, ferro, aço e alumínio. Disse que, no norte da Itália, a ferrovia era o eixo transportador do lixo já
separado com destino à reciclagem, o que é feito numa própria (os enormes galpões).
Reciclar o alumínio gasta apenas 5% da energia que é utilizada na extração.
João percebeu que, ao lado de cada depósito e usina, havia um desvio ferroviário, por onde vagões enfileirados
chegavam a um mecanismo que os elevava fazendo descarregar o conteúdo no topo daqueles depósitos. A malha
ferroviária europeia é antiga, densa e extremamente útil.
Todo o processo de reciclagem do alumínio no Brasil envolve mais de 2 mil empresas.
Boas ferrovias transportam a custos dez vezes inferiores ao do transporte rodoviário. Considerando que o mesmo que
a Itália faz visando a reciclagem, também é feito com a matéria-prima, bens industrializados e passageiros, isso
representa um ganho fantástico.
Uma lata de alumínio demora mais de 100 anos para se decompor na natureza.
João compreendeu um dos diferenciais do desenvolvimento europeu, a racionalização e a economia que a opção
ferroviária pode garantir. Ao mesmo tempo lamentou a quase inexistente rede ferroviária brasileira, hoje menor do
que foi na década de 1950.
Cada brasileiro descarta 51 latas de alumínio por ano. Ao mesmo tempo, cada americano descarta 375.
Imaginemos um Brasil com uma ampla malha ferroviária e essa emoldurada por depósitos de recicláveis, usinas
fábricas, estações, aeroportos, rodoviárias, shoppings e estacionamentos; imaginemos as inúmeras vantagens disso;
imaginemos um governo empenhado nisso. Porem, graças aos catadores brasileiros que pagam coletivos caros...
O Brasil já é o maior reciclador de alumínio do planeta.
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