BANCO DO BRASIL CONSULTORIA JURÍDICA Ensaios históricos (1922/2002) Autores diversos Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Brasília – 26–4–1994 Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil Coordenação: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil Rio de Janeiro – RJ 2011 INSÍGNIA DA ENTIDADE ORGANIZADORA DA OBRA BANCO DO BRASIL – CONSULTORIA JURÍDICA 3- BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos IMAGENS Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Brasília – 26–4–1994 Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil Autoridades que compõem a Mesa de honra: da esquerda para a direita: FERNANDO PINHEIRO, presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, em exercício; ERNESTO CAPPOZZI, chefe-de-gabinete da Presidência do Banco do Brasil, representando o presidente do Banco do Brasil; SÉRGIO PINHEIRO RODRIGUES, diretor de Recursos Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil; JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, consultor jurídico do Banco do Brasil. Na tribuna, o jurista GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO, advogado-geral da União, ao tomar posse na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, presta homenagem a JOÃO NEVES DA FONTOURA, consultorjurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962) Na 2ª imagem, o acadêmico o acadêmico LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA felicita GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO. BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos – 4 CPI – Brasil – Catalogação-na-fonte: BANCO DO BRASIL – CONSULTORIA JURÍDICA – Ensaios históricos (1922/2002) – Autores diversos Coordenação: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil EDIFÍCIO SEDAN – BANCO DO BRASIL Rua Senador Dantas, 105 – 22° andar CEP 20031-201 – RIO DE JANEIRO – RJ Telefone: 0 xx 21 – 3808–3195 As opiniões e conceitos manifestados na obra BANCO DO BRASIL – CONSULTORIA JURÍDICA – ensaios históricos (autores diversos) são de inteira responsabilidade dos autores. ISBN 1. Memória institucional do Banco do Brasil 2. Homenagem (elogio acadêmico) aos Advogados e Consultores Jurídicos do Banco do Brasil (1922/2002) 3. Literatura brasileira 4. Brochura: 199 pp. 5– BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos SUMÁRIO Prefácio FERNANDO PINHEIRO Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (1995 a 1998, 1998 a 2001, 2004 a 2007, 2007 a 2010) 1 - JOÃO NEVES DA FONTOURA Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962) Embaixador do Brasil em Portugal (1943/1945) Ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/1953) GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993) Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000) Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002) 2 - 15 AFONSO PENNA JÚNIOR – Trajetória em ouro e aura Ministro de Estado da Justiça (1925/1926) Diretor da Carteira de Liquidações do Banco do Brasil (1930/1931) Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1932/1937) Imortal da Academia Brasileira de Letras FERNANDO PINHEIRO Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (1995 / 1998 – 2001, 2004/2007, 2007/2010) 3 - 7 34 UM LUTADOR HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de Aluízio Napoleão HUGO NAPOLEÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1943/1944) ALUÍZIO NAPOLEÃO Embaixador da República 49 BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos 5 - 6 SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 / 1939 e 1963) Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1962/1967) FERNANDO PINHEIRO Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (1995 / 1998 – 2001, 2004/2007, 2007/2010) 6 - – MARTINS NAPOLEÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil 105 (1967/1976) TOBIAS PINHEIRO Conselheiro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa 121 7 - XAVIER DE ALBUQUERQUE e MOREIRA ALVES (homenageados) MARTINS NAPOLEÃO, Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976) 132 8 - XAVIER DE ALBUQUERQUE Presidente do Supremo Tribunal Federal Consultor Jurídico do Banco do Brasil (16/02/1981 a 21/02/1983) (1985 / 1986) 143 DÉCIO MIRANDA Ministro do Supremo Tribunal Federal 9 - JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1986/1988) GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993) 151 – Carreira de Vida – JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – Sumário – Origem, descendência, complexo familiar, trajetória e atividades exercidas 154 10 - GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988/1993) Advogado–Geral da União (jul/1993 a jan-2000) Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002) Curriculum vitae 164 LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA Advogado do Banco do Brasil ( AJURE – Porto Alegre – RS (1977/1992) Assessor Jurídico da Consultoria Jurídica - Banco do Brasil (1992/1994) 11 - JOÂO OTÁVIO DE NORONHA Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1994/2001) Curriculum vitae 180 BANCO DO BRASIL – Consultoria Jurídica (1922/2002) 195 7– BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos PREFÁCIO FERNANDO PINHEIRO Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil 1995 a 1998, 1998 a 2001, 2004 a 2007 e 2007 a 2010 BANCO DO BRASIL – CONSULTORIA JURÍDICA – Ensaios Históricos, de autoria de escritores constantes no Sumário da presente obra, organizada pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, ressalta aspectos da vida e obra dos mais importantes consultores jurídicos do Banco do Brasil, desde a criação da Consultoria Jurídica, em 10/3/1922, a começar por Carvalho de Mendonça que mereceu o discurso de elogio de Hugo Napoleão (in Um lutador Hugo Napoleão e sua época, de Aluízio Napoleão – pp. 273, 274, 275). A obra encerra–se, em 02/12/2002, no percurso de 80 anos de História, com a saída de João Otávio de Noronha, consultor jurídico (1994/2001) e diretor jurídico (dez/2001 a dez/2002), a fim de assumir o cargo de ministro do Superior Tribunal de Justiça. Na esfera presidencial, juristas de expressiva notoriedade nacional conduziram os destinos do Banco do Brasil: Visconde de Jequitinhonha – Francisco Gê Acayaba de Montezuma (27/4/1866 a 13/8/1866), Afonso Penna (19/10/1895 a 14/11/1898), Ubaldino do Amaral (25/6/1909 a FERNANDO PINHEIRO – 8 14/10/1910), Sá Freire (3/1/1919 a 28/7/1919), James Darcy (2/1/1925 a 16/11/1926), Henrique Carneiro Leão (25/8/1828 a 3/6/1829), João Marques dos Reis (30/11/1937 a 6/11/1945) e Clemente Mariani (6/9/1954 a 14/4/1955). Destacamos os elogios proferidos no 2° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social: “Decorridos 204 anos de seu nascimento, e 128 anos de sua morte, – Montezuma permanece vivo na memória da posteridade, principalmente no seio das instituições que criou: a Maçonaria Filosófica, e o Instituto da Ordem dos Advogados do Brasil que gerou a Ordem dos Advogados do Brasil.” (1) (...) “Entender Marques dos Reis, contudo, exige um esforço que ultrapassa os dados biográficos para mergulhar nas circunstâncias históricas. É o entendimento da conjuntura que fornece a chave para a compreensão de seus atos públicos, quer como Ministro da Viação, quer como Presidente do Banco do Brasil. Um homem não pode ser visto sem o seu tempo. E o tempo de Marques dos Reis é a era Vargas.” (2) (1) LICÍNIO LEAL BARBOSA, presidente da Academia Brasileira Maçônica de Letras – in Visconde de Jequitinhonha (Francisco Gê Acayaba de Montezuma, panegírico ao patrono Visconde de Jequitinhonha (Cadeira n° 29, da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil). (2) MAURO OROFINO CAMPOS, diretor–presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro – Homenagem a João Marques dos Reis, patrono da Cadeira n° 19, da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil – Palestra apresentada, em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social. 9– BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Por ordem cronológica dos cargos exercidos na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, o primeiro ensaio, constante nesta obra, passa a integrar a bibliografia (obra sobre o autor) de Carvalho de Mendonça, apresentada pelo escritor Fernando Mendonça, presidente do Instituto Carvalho de Mendonça de Direito Comercial. Em seguida, o jurista Geraldo Magela da Cruz Quintão presta homenagem a João Neves da Fontoura e a José Sampaio de Lacerda, e, ao mesmo tempo, a recebe de Luiz Augusto Beck da Silva. De igual modo, o consultor jurídico Martins Napoleão homenageia os juristas Xavier de Albuquerque e Moreira Alves e é homenageado pelo escritor Tobias Pinheiro. E ainda Xavier de Albuquerque, na qualidade de presidente do Supremo Tribunal Federal, é recebido, na sessão solene de 16/02/1981, pelo ministro Décio Miranda. Os consultores jurídicos Afonso Penna Júnior e Sérgio Darcy são lembrados, em saudosa memória, pelo escritor Fernando Pinheiro. Da família Napoleão, pai e filho entram em cena. Hugo Napoleão recebe do embaixador Aluízio Napoleão palavras que o imortalizam. O Banco do Brasil e a Câmara dos Deputados, distintamente, são os cenários apresentados. Ao prestar homenagem aos consultores jurídicos do Banco do Brasil, a presente obra resgata parcialmente a memória institucional do Banco do Brasil, e evoca o passado onde se encontram os enredos que dão estímulo à dignidade do servidor e, ainda, elucidam aspectos da história da vida nacional, em decorrência da atuação política de deputados e senadores, gestão do presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937/1939 e 1963), ministros de egrégios tribunais, ministros de Estado que, em épocas FERNANDO PINHEIRO – distintas, estiveram prestando relevantes serviços Consultoria Jurídica do Banco do Brasil e ao País. 10 à BANCO DO BRASIL – CONSULTORIA JURÍDICA – Ensaios Históricos – não abrange a atuação atual da Diretoria Jurídica, órgão que direciona a ação do BB, nem mesmo divulga notícias de caráter exclusivo da Empresa, apenas presta um serviço de revelar ao público a importância, no cenário nacional, da vida e obra dos mais importantes consultores jurídicos que engrandeceram, engrandecem e sempre engrandecerão, pela memória, o Banco do Brasil e a Nação brasileira. É sempre questionável a indicação dos nomes exponenciais que transitaram pela área jurídica do Banco do Brasil, não pelos méritos que os qualificam, uma vez que a questão de ser mais importante está muito ligada à afinidade de cada um de nós, como em qualquer área das artes e dos costumes, além de considerar que o universo que abriga a Empresa é muito grande, mas na noite apagada, inspirados em Deus em nós, é necessário criar estrelas e inaugurar auroras. Dessa forma, excetuando-se os nomes dos nobres consultores jurídicos, cabe-nos a arriscada aventura e lídima ventura de mencionar algumas personalidades que tiveram passagem pela área jurídica do Banco do Brasil. Vale, portanto, destacar: “Filho, sobrinho, irmão e pai de diplomatas, Afonso Arinos nunca abraçou, como profissão, a carreira seguida por aqueles familiares. E foi escasso o tempo em que dividiu sua atuação fecunda entre o Ministério das Relações Exteriores, a Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, a Conferência do Desarmamento, em Genebra, e a 11 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Conferência Interamericana de Caracas, além da honrosa embaixada que o levou, como representante do Brasil, à abertura do Segundo Concílio Ecumênico Vaticano. Entretanto, poucos influenciaram tanto quanto ele a direção seguida pela diplomacia brasileira, sua visão do mundo e postura perante o concerto das nações. Apesar de algumas recaídas passageiras, a política externa independente, que moldou, veio para ficar.” (3) (...) “No movimento lento, com simplicidade e vivo, a música Tu e o Vento, do maestro e compositor Edino Krieger, escrita em 02 de maio de 1954, em Teresópolis – RJ, traz a letra de Adelmar Tavares. Advogado do Banco do Brasil (1925/1930), Adelmar Tavares foi eleito, em 1924, para a Academia Brasileira de Letras, presidindo-a em 1948. No período 1948/1950, ocupa o cargo de presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Nos idos de 1960, o poeta pernambucano, durante o 1° Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, é aclamado “o rei da trova brasileira”, até hoje insuperável, com o apoio do poeta Walter Waeny, um dos mais importantes trovadores nacionais, membro da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil.” (4) (3) AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO FILHO, membro da Academia Brasileira de Letras – Afonso Arinos e a Política Externa, palestra apresentada em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social. (4) FERNANDO PINHEIRO – A presença dos funcionários do Banco do Brasil na música clássica, palestra proferida em nov/2000 – 4° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social – Rio de Janeiro. FERNANDO PINHEIRO – 12 Justa homenagem prestada por Aimberê Araken Machado a Cláudio Pacheco: “Bem mais tarde – após o fim do ciclo dos governos militares –, na gestão do Presidente José Sarney, Cláudio Pacheco foi um dos escolhidos para formar uma – ombreando com Rosah Comissão Constitucional Russomano e Pinto Ferreira, num trabalho prévio à Assembléia Nacional Constituinte –, presidida, por feliz coincidência, pelo grande jurista e historiador mineiro (5) Afonso Arinos de Melo Franco. Camilo Nogueira da Gama, advogado da Consultoria Jurídica – Banco do Brasil (1940/1942), deputado Federal (1955/1963 e 1974/1976), senador da República (1963/1971), vice-presidente do Senado e do Congresso Nacional (1963/1967), homenageado, em 25/10/1999, pelo nobre senador Bernardo Cabral: “Faço essas observações com os olhos voltados para tantos políticos brasileiros que, ao longo de nossa trajetória como Estado Nacional, deram sua inestimável contribuição ao esforço de construção da nacionalidade, enfim, do que hoje somos. Parlamentares que souberam falar quando e como era necessário. Que tiveram a sensibilidade de compreender que, muitas vezes, o silêncio pode ser loquaz. Que foram capazes de propor medidas essenciais ao País, mesmo à custa da momentânea popularidade. (5) AIMBERÊ ARAKEN MACHADO – Homenagem ao patrono Cláudio Pacheco, palestra proferida, em 22/04/1997, na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. 13 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Que foram fiéis ao ideário que abraçaram. Que tiveram a coragem cívica de resistir, não se submetendo ao arbítrio. É pensando assim que, neste momento, homenagear Camilo Nogueira da Gama.” (6) busco Doutel de Andrade (1920/1991), jornalista, ex– advogado do Banco do Brasil, e ex–deputado federal em várias legislaturas, é homenageado pela jornalista Nazareth Tunholi: “Tanto a arte de transmitir fatos políticos quanto ao próprio talento político renderam-lhe o prazer do contato com o povo e a participação nas decisões maiores do governo. Doutel de Andrade marcou profundamente, com a lucidez de seus conselhos, a sinceridade de suas reportagens, com toda a sua vibração (7) política, as páginas da história do Brasil.” O jurista João Otávio de Noronha, ministro do Superior Tribunal de Justiça, funcionário egresso do Banco do Brasil que iniciou, em 22/12/1975, carreira na Agência de Andradas – MG, apresenta-nos um curriculum vitae repleto de importantes palestras, contribuição valiosa às Ciências Jurídicas. (6) BERNARDO CABRAL, senador da República, – O Centenário de Nogueira da Gama, palestra proferida, em 25/10/1999 – 3° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social. (7) NAZARETH TUNHOLI – Discurso de posse na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (Cadeira n° 45, patronímica de Doutel de Andrade) – Sessão solene realizada, em 27/05/1994, no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro – RJ. FERNANDO PINHEIRO – 14 As personalidades, aqui homenageadas por escritores de reconhecida notoriedade nacional, denotam a importância e o orgulho que o Banco do Brasil expressa através de sua própria História. Regozijemo-nos todos. Os autores da obra, o Banco do Brasil e seus servidores, clientes e admiradores, a Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, os estudiosos que pesquisam a memória nacional, e os leitores que são os primeiros a serem beneficiados. Em particular, sentimo-nos felizes não apenas pelos textos apresentados de nossa lavra, mas também pela nossa imagem (retrato) que faz parte da Iconografia da presente obra, realizada ao ensejo da solenidade da posse do jurista Geraldo Magela da Cruz Quintão, advogado–geral da União, na Academia de Letras, em 26/4/1994 – Auditório da Presidência do BB – Edifício Sede III – Brasília – DF. Ao finalizarmos a apresentação desta obra, vêm-nos à mente as palavras do jurista James Darcy, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926), proferidas ao ensejo das comemorações do VI Centenário da morte de Dante Alighieri, realizadas nos idos de idos de 1921, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na presença do presidente da República e do Corpo Diplomático na capital federal: “Não há beleza sem devotamento, consagração da fim superior.” (8) (8) vida a um JAMES DARCY, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926) – VI Centenário da morte de Dante Alighieri – Apud Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro – p. 49 – Cadernos AAAB – Rio de Janeiro – 1955 . 15 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos 1 JOÃO NEVES DA FONTOURA Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962) Embaixador do Brasil em Portugal (1943 a 1945) Ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/ 1953) GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993) Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000) Ministro de Estado da Defesa (de 24/01/ 2000 a 31/12/2002) Texto do discurso de posse do acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, em solenidade realizada em 26/4/1994 – Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF. “As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Ouso tomar de empréstimo de Guimarães Rosa suas palavras finais do discurso de homenagem a João Neves da Fontoura, ao sucedê-lo na Cadeira n° 20, da GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 16 Academia Brasileira de Letras. E esse encantamento pôde sentir, viver, um jovem acadêmico de Direito, em fins da década de 1950, ao ingressar nos recintos da então Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, ainda na Rua 1° de Março, no Rio de Janeiro; e mais intenso no Gabinete do Consultor, antes ocupado pelo próprio Neves da Fontoura. Sua memória, seus traços, suas idéias, seus conselhos, seus pareceres, a tudo impregnavam, faziam-se presentes nas coisas, objetos, móveis clássicos, em seu famoso bureau de trabalho, nos livros de doutrina circundantes da sala. É que dele muito ouvira falar: de leituras, do respeito conquistado no Banco pelas suas opiniões. Corre o tempo, por obra do destino torno-me um de seus sucessores como Consultor Jurídico do Banco do Brasil, e, agora, reacende-me a emoção do estudante, ao penetrar na sua vida e obra, para falar-vos sobre sua fulgurante figura humana, eis que patrono da Cadeira n° 20 desta novel Academia de Letras, para a qual fui eleito em deferência honrosa, muito superior a meus eventuais méritos. Dele posso dizer o que ele próprio afirmara de Ruy Barbosa, na Conferência pronunciada em 1949, no Palácio do Itamarati, ponto alto das homenagens pelo centenário de nascimento do inigualável advogado. “... O que me incumbe hoje aqui não é propriamente o esforço de alcançar as medidas gigantescas da sua complexa figura, nem a impossível empresa de abarcar em alguns traços fugitivos à unidade e o esplendor de sua fama no parlamento, no fôro, na imprensa, no livro, na política, no governo, na Academia, 17 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos na praça pública ou no plenário internacional. Em suma: todo um mundo de criação de valores jurídicos, políticos ou literários.” (JOÃO NEVES DA FONTOURA – Rui Barbosa, Orador – pp. 3/4 – MRE – Divisão Cultural – 1949). Em João Neves coincidiam, convergiam essas qualidades e faculdades, sobrelevando-se, como em Ruy, a de orador, com o acréscimo de revolucionário, peleador das causas liberais, cívicas e democráticas. Como Ruy, “a tribuna é o seu destino, a sua fatalidade, o altar de sua fé” (Ibidem, p. 5). De Guimarães Rosa, seu magistral perfil: ... “seus discursos “liberais” – rota de obrigação – trem e incessar de lumes. Neles podia-se experimentar não apenas a comensura de facúndia e talento: mas coragem, de cor, ânimo, de alma.” [JOÃO GUIMARÃES ROSA – Discurso de homenagem – p. 136 – Recepção na ABL]. Veio João Neves da seiva prodigiosa das terras gaúchas, de uma geração de filhos ilustres, influenciadores e condutores dos acontecimentos que antecederam e se seguiram à Revolução de 1930, tendo como seus companheiros, entre outros, Getúlio Vargas, Flores da Cunha, Joaquim Maurício Cardoso, Lindolfo Collor, Raul Pilla, Oswaldo Aranha, seguidores do ideário republicano de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Nascido em Cachoeira do Sul, em 16 de novembro de 1888, filho do coronel Isidoro Neves da Fontoura e de dona Adalgisa Godói da Fontoura, desde cedo viveu e respirou política, sendo seu pai prócer político local, castilhista e de estreitas ligações com Borges de Medeiros. Terminado o colégio com os jesuítas de São Leopoldo, ingressou em 1905 na Faculdade de Direito de GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 18 Porto Alegre, centro de fermentação de idéias, e aonde acorriam os jovens em busca de aprendizado para o exercício de futuras lideranças. Vocacionado, deixa-se envolver, e em 1907, engaja-se na atividade política, organizando um movimento de estudantes em apoio a Borges de Medeiros, então sucessor de Júlio de Castilhos, na direção do Partido Republicano. Chamados de “Jovens Turcos”, formam o Bloco Acadêmico, por iniciativa dele, João Neves, de Jacinto Godoy e de Joaquim Maurício Cardoso, com as adesões posteriores de Firmino Paim Filho e de Getúlio Vargas, entre outros, além de cadetes da recém-criada Escola de Guerra, como Eurico Gaspar Dutra, Pedro Aurélio de Goís Monteiro e Salvador César Obino; todos mais tarde renomados na vida política nacional e no Exército, respectivamente. (Regina da Cruz Moreira/ Dlora Flaksman – Dicionário Histórico-Biográfico – 1930/1983 – pp. 13/14). De orientação positivista, o PRR (Partido Republicano Rio-Grandense), velava pela preparação de seus quadros de futuros líderes, incentivando vocações, criando-lhe condições para o aprendizado da militância política, a par de dar-lhes destaque político, mas forjando-os dentro de uma rigidez partidária. Pois bem: assim com os outros, também com o jovem João Neves. Em 1909, ainda quintanista de Direito, é nomeado 2° Promotor Público de Porto Alegre, sucedendo a Getúlio Vargas, eleito Deputado à Assembléia de Representantes, desse modo nomeada a Assembléia pela Constituição Estadual de fundo e forma calcada na doutrina positivista. 19 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Conclui em 1909, com brilhantismo, o curso de Direito, e, já consagrado, é eleito orador da turma. Mas entre a Capital, mesmo em cargo público de relevância, e sua Cachoeira do Sul, ouviu a vocação política e a tradição de retorno dos formandos às origens, pesando mais o conselho profético de seu orientador, Borges de Medeiros. Em 1910, retorna à terra natal. Por dezessete anos, banca de advogado, lides forenses, faina jornalística e lutas políticas locais, cuja liderança conquista após a renúncia de seu pai à Intendência em 1912. Líder prestigiado, como previra Borges de Medeiros, é eleito Deputado à Assembleia de Representantes pelo PRR, em 1921, depois Intendente Municipal. Marasmo político. Assembléia desinteressada, sem debates. Sem oposição até 1921, João Neves da Fontoura sucede a Getúlio Vargas na coordenação da bancada. A campanha pela sucessão de Epitácio Pessoa agita o ambiente político do Estado. O candidato oficial era Arthur Bernardes, imposto pela política dos governadores, sob a hegemonia de Minas e São Paulo, opuseram-se Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, unidos à atitude rebelde do Rio Grande do Sul, sob o nome de Reação Republicana, com a candidatura de Nilo Peçanha. Nessa ocasião, João Neves, em nome da Assembléia, ao saudar o presidente Borges de Medeiros, relata o Prof. Hélgio Trindade, antecipa sua postura radicalizada posterior e revela uma nova atitude da geração mais jovem de líderes republicanos contrária ao sistema e métodos de escolha do candidato a Presidente da República pelas oligarquias republicanas. GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 20 A derrota do candidato oposicionista da Reação Republicana abriu fendas na unidade interna do PRR, fragilizou a nova reeleição de Borges de Medeiros, em 1923, sucessivamente no governo por mais de duas décadas, e reacendeu a flama revolucionária dos gaúchos a partir da região da fronteira, hostilidades somente cessadas com o histórico acordo de Pedras Altas, cujo comando maior era a expressa “proibição das reeleições nos cargos executivos...” Sem dúvida, um capítulo épico da história política do Rio Grande, quando a Oposição conquistava seu espaço político, mas também permitia o rejuvenescimento interno do partido situacionista, com novos postulantes aos cargos executivos. Daí, Getúlio Vargas e João Neves, serem escolhidos e eleitos em meados de 1927, novos Presidentes e Vice-Presidentes do Estado. Passo seguinte, foi sua candidatura, em outubro de 1927, à Câmara Federal, respaldada na fama de ser o “Primus inter pares na arte difícil da oratória política, que já lhe granjeou fulgentes lauréis...”, na apresentação feita por Borges de Medeiros no ritual da consulta às bases do Partido. Chega à Câmara Federal, em julho de 1928, ainda sem espaço no cenário nacional. Ambienta-se com facilidade. Atua como líder da Bancada Gaúcha, e logo suas qualidades de tribuno são postas à prova, estreando como orador oficial da comemoração alusiva ao centenário de paz com a Argentina. Confirma-se a fama de orador eloqüente, palavra fácil e fluente. Homenageado com um banquete Jockey Club do Rio de Janeiro, responde à saudação líder da maioria, Manoel Vilaboim, realçando o espírito de no do de 21 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos luta dos republicanos rio-grandenses, sua lealdade aos princípios democráticos, em uma antecipação de sua estratégia de luta nas questões políticas, a partir de 1929. (...) Dá João Neves início, nos fins de 1928, aos conchavos políticos, visando a sucessão presidencial, como elo de ligação da Chefia do Partido (PRR), do Governo Estadual Rio-Grandense e dos interlocutores nacionais. Em pertinaz e paciente atividade, conduz a tessitura da Aliança Liberal, trama a Revolução de 30, e destaca-se como articulador político, tribuno parlamentar no cenário federal e orador de massa. Diante da obstinada insistência de Washington Luís em indicar candidato paulista à sua sucessão, rompendo a velha aliança do “café com leite”, e do conseqüente veto de Minas à candidatura de Júlio Prestes, nasceu, pelas mãos de João Neves e de seu tino político, a candidatura alternativa de Getúlio Vargas, como resultado dos entendimentos entre Minas e Rio Grande. Sua grande habilidade política revelou-se ao conduzir o processo de mediação em nível nacional, ao mesmo tempo, mantendo um diálogo constante com Borges de Medeiros e Getúlio Vargas, para romper-lhes as hesitações e ceticismo, como narra Hélgio Trindade (Perfis Parlamentares – 8 – Idem – p. 30). Ciente por Antônio Carlos de que o Presidente manteria Júlio Prestes, e assim os mineiros marchariam com o Rio Grande, detendo São Paulo, apressa-se em corajosa decisão pessoal, em assinar um pacto secreto com Minas, em 17/06/29, o chamado Pacto do Hotel Glória, subscrito por João Neves, pelo Rio Grande, e por Francisco Campos, por Minas, embora ainda sujeito à ratificação GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 22 de Borges de Medeiros, e cujos termos centrais previam que: “... se o Presidente aceitasse um mineiro para sucedê-lo, o PPR apoiaria o candidato; se não Minas apoiaria Getúlio Vargas ou Borges de Medeiros.” (JOSEPH LOVE, O Regionalismo Gaúcho – pp. 234/5 – Ed. 1975). Prenunciava João Neves, como estrategista, que a balança penderia para o Rio Grande do Sul, como aconteceu. Minas lançou Getúlio Vargas, o candidato contra o oficialismo. As articulações políticas, além de secretas, tiveram que ser conduzidas de forma cautelosa, superando dificuldades de toda ordem dentro do próprio partido – PRR, vencendo as hesitações e harmonizando divergências. Antônio Carlos, Presidente de Minas, preterido à sucessão de Washington Luís, ressalta a inegável habilidade de João Neves: “... ao lado da atividade tribunícia, coube-lhe em todos os momentos agir no meio subterrâneo da política... Nesse oculto, mas importante setor das campanhas políticas, ninguém sobrepujou a João Neves na segurança e da estratégia e na habilidade da tática.” (ANTÔNIO CARLOS – in JOÃO NEVES DA FONTOURA – A Jornada Liberal – Vol. I, p. 2 – Ed. Globo – 1932). Vencidas as negociações, lançada a Aliança Liberal, o articulador político cede espaço ao tribuno, ao orador de estilo vibrante e arrebatado, uma constante na atuação de João Neves, nos debates candentes na Câmara dos Deputados, nos comícios da Aliança Liberal, na jornada cívica por São Paulo, em 1932, no seu retorno, após o exílio, à tribuna parlamentar nos idos de 1935 a 1937. 23 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Para Antônio Carlos, seus discursos eram “modelos de extraordinária eloquência, alto pensamento, ardor cívico, força e persuasão e extrema fulguração verbal.” (Ibidem). Para Mem de Sá, foi João Neves “um dos maiores oradores da história parlamentar do Brasil, e no Rio Grande do Sul se pode dizer que ele foi o terceiro na ordem cronológica, depois de Gaspar Martins, no Império, e Pedro Moacir, na primeira década da República.” (MEM DE SÁ – Necrológio – O Globo – Rio de Janeiro – 2/4/1963). João Neves, sabendo-se orador eloqüente e arrebatado, traça um paralelismo entre eloqüência e retórica, na conferência pelo centenário de Ruy Barbosa, em 1948. (...) E, como manifesto prazer, lembrou que nem Cícero fez, como Ruy Barbosa, distinção tão perfeita entre a Eloqüência e a Retórica, ao falar no Instituto dos Advogados do Brasil. E João Neves soube ser eloquente. Seu período inexcedível deu-se entre 1929 e 1930, na campanha da Aliança Liberal, tanto na tribuna, como nos comícios oposicionistas. Seu estilo arrebatado e vibrante deu-se mostra já no discurso de defesa da candidatura de Getúlio Vargas à sucessão de Washington Luís, marco inicial da campanha da Aliança Liberal e sinal de rompimento com o governo, quando seu verbo vibrante fulgurou, em discurso entremeado de hipérboles e antonomásias. Eleva-se o tom dos discursos, na antevéspera das eleições. O ideário revolucionário da Aliança Liberal, – eleições livres, voto secreto, autonomia dos GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 24 estados, guerra ao poder pessoal do oficialismo, adoção das práticas democráticas, – tem em João Neves da Fontoura o porta-voz mais radical. Em Recife, no Teatro Santa Isabel, em janeiro de 1930, arrebata-se, e conclama os pernambucanos: ... “Ou nos abrem as urnas para votarmos livremente, sem coação nem suborno, e proscrevem a ata falsa, ou, então, brasileiros, de armas na mão para a democracia e os direitos do povo.” (HÉLIO SILVA – 1930 – A Revolução Traída – Rio – Civilização Brasileira, 1966, pp. 39/41). Ferem-se as eleições. Vence o situacionismo. Elegeu-se Júlio Prestes. O poder oligárquico não se rende. Mantém-se a eleição a bico de pena. Onde o civismo das multidões das praças públicas? Cinde-se a Aliança Liberal. Uns acomodam-se, aceitam o resultado. O Partido Republicano Rio-Grandense debate-se em crise interna. Oswaldo Aranha e João Neves pela organização de um levante armado. “O prélio terrível das armas” prenunciado. Borges de Medeiros dava por encerrada a tarefa da coalizão. A crise torna-se aguda. João Neves retorna à Câmara, em maio de 1930, reconduzido à liderança dos republicanos, cumprindo-se as regras do Heptálogo de Irapuãzinho. Comanda a luta parlamentar contra o não reconhecimento dos deputados aliancistas eleitos pela Paraíba e por Minas. Denuncia fraude nas eleições. A essa altura, já falava abertamente nos preparativos de um movimento armado. A Frente Única dos Gaúchos extingue-se. Em julho, João Pessoa é assassinado em Recife. Intervenção na Paraíba. O que faltava para novamente reagrupar as forças de oposição a Washington Luís. João Neves no centro das articulações: no Rio Grande, em Minas e São Paulo. Em agosto, Borges de Medeiros decide-se pelo apoio ao movimento. Eclode a 25 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Revolução em 3 de outubro. João Neves na sua Cachoeira do Sul. Coopta as unidades militares federais da cidade. Rebelam-se em 4 de outubro. Getúlio Vargas assume o comando revolucionário. Primeiro descontentamento de João Neves. Como VicePresidente do Estado, cabia-lhe substituir Getúlio Vargas. Esse designa Oswaldo Aranha, então Secretário do Interior. Com justo melindre, João Neves embarca com as tropas revolucionárias, e, por decoro, renuncia à Vice-Presidência do Estado. Resiste aos apelos de Oswaldo Aranha, que lhe oferece o comando da coluna do litoral. Exemplo de homem de brio, de caráter retilíneo. Segunda divergência com Getúlio Vargas. A nomeação do interventor em São Paulo, em plena revolução. João Neves, com os paulistas, queria Francisco Morato, líder do Partido Democrático, aliado da primeira hora dos gaúchos e mineiros desde a campanha da Aliança Liberal e da revolução triunfante. Getúlio Vargas escolhe João Alberto, delegado militar em São Paulo. Desagrado profundo dos paulistas. Vitoriosa a Revolução, seu pregador e líder, João Neves, desaparece do proscênio político. Recusa qualquer função ou cargo no Governo Provisório, seja o Ministério da Justiça, ou o retorno ao Rio Grande do Sul, como seu Governador. Desilusão? Melindre? De seu íntimo só o conhecimento. Sua voz, suas palavras ainda ecoavam no País. Vencedor seu ideal liberal? Algo prenunciava para João Neves que a revolução teria dinâmica própria. Dissolvido o Congresso pelo Governo Provisório, sem mandato, o destino traz João Neves para o Banco do Brasil, como seu Consultor Jurídico, em feliz sucessão de Carvalho de Mendonça, o maior comercialista brasileiro. GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 26 O Promotor Público de Porto Alegre e o advogado influente de Cachoeira do Sul assentam banca no Rio de Janeiro. “Seu prestígio moral, de vencedor sem espólio castrense”, na feliz expressão de Hélgio Trindade, leva-o a procurar influir nos destinos da Revolução, exigindo coerência com sua pregação, seu ideário liberal. Não tarda o conflito com a nova ordem, inspirada no tenentismo e nas idéias do ministro da Justiça, Oswaldo Aranha: direção nacional e centralizada, crescimento e consolidação do Poder Federal, sepultado o princípio federativo de autonomia dos Estados. Desaparece o “antigo federalismo sob o comando de economia paulista.” João Neves clama por definição ideológica. Concentra-se o poder do Governo Provisório, pelo Decreto de novembro de 1930, atribuindo-se os Poderes Executivos e Legislativos, com a costumeira promessa... “até que uma Assembleia Constituinte eleita estabelecesse a nova organização constitucional do País...” São Paulo lidera, os revolucionários da Oposição no Rio Grande já reclamam e exigem a imediata convocação da Assembléia Constituinte. Retorno às idéias liberais, cumprimento das promessas de campanha. Os antiliberais, das correntes do tenentismo, do Clube 3 de Outubro, já querem o continuísmo, a manutenção do Governo Provisório. João Neves indigna-se com o que ele dizia ser a traição aos ideais políticos da Aliança Liberal. Os tenentes viam no ventre da Revolução a gestação de mutações no campo econômico e social, também reclamados pelo País. (...) Mesmo assim, obstinado, João Neves articula. Reaproxima as forças políticas gaúchas. Recebe de Raul 27 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Pilla o mandato de “ser perante os brasileiros campeão da Lei contra o Arbítrio, do Direito contra a força, da ordem civil contra a erupção militarista nos domínios da política. “A crise aguça-se. O jornal Diário Carioca, firme oposição, é invadido e empastelado por elementos militares. Demite-se o ministro da Justiça, Maurício Cardoso. Segue-o João Neves, dizendo-se moralmente obrigado a demitir-se de suas funções de Consultor Jurídico do Banco do Brasil. Retornam ambos ao Rio Grande do Sul, em março de 1932. Os gaúchos rompem com Getúlio Vargas. João Neves, uma vez mais, na oposição, busca nova aliança entre os partidos do Rio Grande, São Paulo e Minas, para constranger a ditadura e consultar a Nação em comícios próximos e livres. Pacto político com São Paulo, cujo termo final seria a posse do primeiro Governo Constitucional. (...) Explode a revolução de 1932 em São Paulo, em 9 de julho. É a saga paulista do constitucionalismo. João Neves, destemido, voa clandestinamente para São Paulo. Lá, seu verbo incendeia o Estado, já tocado pela pregação revolucionária e patriótica de Guilherme de Almeida, Roberto Moreira e outros. (...) A revolução é vencida. É abatido o ideal constitucionalista. Exílio para seus chefes e comandantes em Portugal. João Neves, Raul Pilla, Batista Luzardo e outros buscam o exílio na Argentina. (...) retorna Exílio. Dois longos anos. Em 1934, anistiado, à Pátria. A ideia-força da Aliança Liberal e GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 28 da Revolução de 1932, pela democracia. Assembleia Constituinte, nova ordem jurídica respaldada em estado de direito, apossara-se das mentes e consciências. Respirava-se uma atmosfera de democratização. Getúlio Vargas é eleito presidente constitucional. Em julho de 1934 é proclamada a nova Constituição. Ideal conquistado, lança-se João Neves candidato à Câmara pela Frente Única dos Gaúchos. Eleito, consolida a união das oposições sob o nome de “Oposições Coligadas”, junto com Borges de Medeiros, Arthur Bernardes e Octávio Mangabeira. Retorna à Liderança da Minoria Parlamentar. Novamente ressoa nos recintos do Palácio Tiradentes a voz ardorosa do gaúcho liberal, do magistral tribuno. Era a “Voz das Oposições Brasileiras”. Era maio de 1935. Reencontra-se com a tribuna parlamentar, em libelo vigoroso contra a ação governamental de Vargas, “ditadura sem rumos”, bradava. Deplora e chora o fracasso dos ideais de 1930, para ele ainda não atingidos plenamente. (...) Os ideais liberais sempre: nos discursos, nos debates do parlamento, ao largo do entrechoque das ideias, radicais de direita da Aliança Integralista Brasileira e da esquerda da Aliança Nacional Libertadora. Reage contra o Estado de Sítio, de novembro de 1935, após a Intentona Comunista, denunciando o perigo do poder indiscriminado, concedido ao Executivo. (...) Fiel a seus princípios, rebela-se contra a prisão de quatro deputados e um senador: Domingos Velasco, Abguar Bastos, João Mangabeira e Octávio da Silveira, e Abel Chermont. Condenados à prisão pelo Tribunal 29 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos de Segurança Nacional, João Mangabeira e Octávio da Silveira, têm eles João Neves a defender-lhes a liberdade perante o Supremo Tribunal Militar, qualificando de bárbaras as sentenças condenatórias. Sua postura vigilante e crítica do Governo mantiveram-se mesmo com a suspensão das garantias constitucionais da imunidade parlamentar. Em 1937, a campanha sucessória presidencial eleva os debates políticos e, uma vez mais, aguça a crise. (...) Proclama que o Rio Grande do Sul não pleiteia uma terceira presidência, e, com o Partido Republicano Rio-Grandense, alia-se à candidatura de José Américo de Almeida contra a de Armando Sales de Oliveira, lançada pelo Partido Constitucionalista de São Paulo, de cunho oposicionista. Singular, dessa vez as contingências políticas levaram João Neves a marchar com uma candidatura apoiada pelo situacionismo. Mas os extremismos ameaçavam o regime, amedrontavam a Nação. Pede o Governo a decretação do estado de guerra. (...) Democrata, cioso da importância do parlamento para a existência do regime democrático, apela para que o estado de guerra suspenda apenas certas garantias e não atinja os direitos. E, ante a prova de confiança dada pela Câmara ao Executivo e às Forças Armadas, que também fossem respeitados na integridade os mandatos parlamentares. Não por eles, mas pela estrutura democrática. (...) GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 30 Ao final, pressentindo a gravidade da concessão, suas inevitáveis conseqüências no amanhã, escora-se em Ruy Barbosa, para condicionar seu voto às mesmas ressalvas do voto de Ruy em 1904, quando a revolta da Armada. (...) Ledo engano. Vão os apelos e exortações. Vargas tinha outros desígnios. Em 10 de novembro de 1937, instaura o Estado Novo, suspende as eleições presidenciais, fecha o Congresso, extingue os partidos políticos. É o autoritarismo imperante. Frusta-se o sonho liberal. Recolhe-se João Neves na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil. O jovem Promotor de monografias sobre o “Sigilo Profissional”, de 1909, em plena liberdade do exercício das profissões, dogma da doutrina de Augusto Comte, ressurge no jurista de escol. Além de tribuno, advogado de foro, dos embates forenses, do contraditório, acostumado a argumentar para convencer, seus pareceres, na linha aristotélica do raciocínio, tinham feição e forma de arrazoados, com forte respaldo na lei e na doutrina, sobretudo estrangeira. (...) Outra questão: dissentiam-se os advogados do Banco sobre o direito de retenção convencional, de uso constante do Banco em seus contratos de mútuo com garantia pignoratícia, João Neves havia concordado com a glosa dessa cláusula, feita por outro advogado, Dr. Aluízio Távora, nomeando-a de incabível e contrária ao direito. Tinha ele a seu favor Afonso Fraga e Carvalho Santos. Retorna a questão a ser estudada na COJUR 31 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos pelos não menos ilustres advogados, Edmundo Mello Costa e Camilo Nogueira da Gama, com o apoio de Martins Napoleão. João Neves revê sua posição e citando Rippert, para quem ”Dans un monde qui change, il n'est pas admissible qu'il y ait des verités éternelles”, passa a admitir, nos contratos do Banco, a cláusula convencionando a retenção, desde que a coisa se encontre em poder do retentor. Só pode reter quem detém [JOÃO NEVES DA FONTOURA – Parecer n° 412]. Pareceres sem conta, despachos de orientação, de aprovação, formam hoje repositório de doutrina da Consultoria Jurídica do Banco. O tempo retempera e amaina paixões, ressentimentos, melindres. Até entre os altaneiros gaúchos. (...) E João Neves reconcilia-se. Em 1940, missão diplomática em Havana, como delegado do Brasil à Conferência e embaixador especial do Brasil nas posses dos presidentes do Panamá e Cuba. Em 1942, a invasão alemã impediu-o de assumir a Embaixada do Brasil em Paris. Embaixador em Portugal de 1943 a 1945. Ministro das Relações Exteriores em 1946, no governo Dutra, quando chefiou a Delegação do Brasil à Conferência de Paz em Paris. Pela segunda vez, ministro das Relações Exteriores, no segundo governo Vargas, de 1951 a 1953, com inúmeras missões no exterior. Jornalista também foi, desde redator de O Debate e de O Rio Grande de sua Cachoeira do Sul, desde 1910, até sua coluna diária em O Globo. O mesmo estilo do orador. GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 32 Escritor, ei-lo em A Jornada Liberal (1930, 2 volumes); Por São Paulo e pelo Brasil (Discursos), 1932; Acuso (libelo político) 1933; Dois perfis – Silveira Martins e Coelho Neto (ensaios - 1938); Três Orações Acadêmicas - 1943; Orações Dispersas – 1944; Palavras aos Portugueses – 1945; A serviço do Itamarati – 1948 – Ruy Barbosa - Orador - 1949: Poeira das Palavras - 1953; Feitos e Figuras (ensaios – 1959); Uma figura da República – Serzedelo Correia (1959); Memórias: 1° vol. Borges de Medeiros e seu tempo (1958); – 2° vol.. Aliança Liberal e a Revolução de 1930 (1963). Acadêmico, da Academia Brasileira de Letras, em 1936; da Academia Rio-Grandense de Letras; da Academia de Letras do Uruguai; da Academia de Ciências de Lisboa; e da Academia Portuguesa de História. Eis João Neves no plano da história. Como afirmara ele de Ruy Barbosa, também me é “impossível empresa abarcar em alguns traços fugitivos da unidade e o esplendor de sua fama no parlamento, no fôro, na imprensa, no livro, na política, no governo, na Academia, na praça pública ou no plenário internacional.” Senhores acadêmicos, dou por findo este cometimento prazeroso, cívico, que é penetrar nos fastos de nossa história, dado-me por vós ao empossardes-me na Cadeira n° 20, desta Academia, patronímica de João Neves da Fontoura. Esta Casa, celeiro de homens públicos, forjadora de caráter, à qual doei 38 anos de vida, amor de paixão, não me surpreende. Às portas de tornar-se bicentenária instituição, sempre incentivadora de ideias, de iniciativas, de vocações, de ações como esta, criação da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. 33 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Agradeço as generosas palavras do ilustre confrade e Diretor Cultural, Dr. Luiz Augusto Beck da Silva, com as quais me recebeis nesta Academia. Sei quanto fraterno e profícuo será meu convívio pessoal e literário convosco. Relevai-me; mais terei de receber do que haver de dar-vos. Senhores, março de 1963. João Neves, colheu-o Para nós, permanece Consultor Banco. Para o Brasil, insuperável tribuno. Remanesce o encantamento. Tenho dito. a morte em Jurídico do FERNANDO PINHEIRO – 34 AFONSO PENNA JÚNIOR – Trajetória em ouro e aura Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1932/1937) FERNANDO PINHEIRO Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil 1995 / 1998 – 2001 e 2004/2007 – 2010 Filho de Afonso Augusto Moreira Penna e Maria Guilhermina de Oliveira Penna, o imortal Affonso Augusto Moreira Penna Júnior nasceu em Santa Bárbara (MG), em 25 de dezembro de 1879, e encerrou suas atividades no plano físico, no dia 12 de abril de 1968, na cidade do Rio de Janeiro. Seu pai, Afonso Penna, presidiu os destinos do Banco do Brasil (1895/1898), depois os da República (1906/1909). 35 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Afonso Penna Júnior é o patrono da Cadeira n° 1 da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Em épocas distintas, exerceu no Banco do Brasil os cargos de diretor da Carteira de Liquidações (1930/1931) consultor jurídico (1932/1937), e consultor jurídico da SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito (1948/ 1951). Foto n° 1 – BANCO DO BRASIL – Presidência – 14/9/1931 – Diretoria do Banco do Brasil: sentados, AFONSO PENNA JÚNIOR, PEDRO LUÍS CORRÊA E CASTRO (presidente interino – 5/9/1931 a 14/9/1931), MÁRIO BRANT; em pé, ILDEFONSO SIMÕES LOPES, JOSÉ MENDES DE OLIVEIRA CASTRO, FRANCISCO LEONARDO TRUDA e FRANCISCO ALVES DOS SANTOS FILHO. – Retrato original (dimensão: 22,5 x 16,5 cm) – Doação: Maria Lúcia Affonso Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em 23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. – Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Vale ressaltar que essa imagem é o retrato em grupo mais importante do Banco do Brasil, no qual aparece o funcionário no exercício do cargo de presidente do Banco do Brasil, sem precedentes. O acervo, custodiado pela Academia, abrange 300 fotos de presidentes do Banco do Brasil, em épocas distintas, de igual importância, mas ser ter esta singularidade dos idos de 1931. Foto n° 2 – BANCO DO BRASIL – PRESI/COJUR – Ano de 1933 – AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico do Banco do Brasil (1932/1937), com 1 livro na mão esquerda, e, com a direita faz gestos de preleção. – Retrato original (dimensão: 13 x 18 cm) – Doação: Maria Lúcia Affonso Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em 23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. – Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Foto n° 3 – BANCO AFONSO PENNA (1932/1937), no Retrato original DO BRASIL – PRESI/COJUR – Ano de 1933 – JÚNIOR, consultor jurídico do Banco do Brasil “bureau” de trabalho, atende ao telefone. – (dimensão: 13 x 18 cm) – Idem, idem. FERNANDO PINHEIRO – 36 Foto n° 4 – PALÁCIO DO CATETE – Rio de Janeiro – 1948 – Ao centro AFONSO PENNA JÚNIOR, consultor jurídico da SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito (1948/1951). é recebido pelo marechal EURICO GASPAR DUTRA, presidente da República. – Retrato original (dimensão: 18,5 x 12 cm). – Doação: Maria Lúcia Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior, em 23/1/2008, ao escritor Fernando Pinheiro. Acervo custodiado pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Na esfera acadêmica, foi membro das seguintes instituições culturais: membro da Academia Mineira de Letras (Cadeira n° 40, patronímica de Visconde de Caeté); membro da Academia Brasileira de Letras n° 7, patronímica de Castro Alves). (Cadeira Incorporado à Biblioteca Affonso Penna Júnior do Ministério da Justiça, em Brasília - DF, o volumoso acervo de obras literárias de Affonso Penna Júnior, constituído de 18.000 títulos, contendo livros de direito, finanças, política e economia, foi adquirido por aquele Ministério, na gestão do ministro Alfredo Buzaid. Em 27 de por Dilermando Cruz Afonso Penna Júnior de Visconde de Caeté, março de 1925, ao ser recebido na Academia Mineira de Letras, ocupa a Cadeira n° 40, patronímica e ouve seus próprios versos: “Se na matéria inerte uma alma Se tudo que nos cerca, pensa e E pode a pedra bruta, como a Sofrer ou rir, estar alegre ou (9) existe; sente; gente; triste;” (9) AFONSO PENNA JÚNIOR -- Apud Discurso de recepção do acadêmico Dilermando Cruz ao Sr. Afonso Penna Júnior – Revista da Academia Mineira de Letras – p. 50 – Vol. IV – Belo Horizonte – Imprensa Oficial – Belo Horizonte – MG – 1926. 37 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Nos idos de 1948, Afonso Penna Júnior, seguindo a trajetória percorrida por Euclides da Cunha e Afrânio Peixoto, ingressa na Academia Brasileira de Letras para ocupar a Cadeira n° 7, patronímica de Castro Alves. A recepção é de Alceu Amoroso Lima. No discurso, o orador enaltece as qualidades nobres do jurista mineiro, despertadas no Colégio do Caraça, e enfatizou as montanhas caladas de Minas, onde “nos leva, de tempos em tempos, uma necessidade invencível de retemperar o ânimo,...” (10) À consagrada autora de Floradas na Serra, Dinah Silveira de Queiroz, coube a gloriosa missão de anunciar a imortalidade de Afonso Penna Júnior, ao tomar posse na Cadeira n° 7, na Academia Brasileira de Letras, fazendo referência ao tempo em que viveu Afonso Penna Júnior, e, com singularidade, destacou a importância dos juristas na literatura, desde aquela época: “... pois a grande sementeira dos professores e das obras de direito estava a produzir seus frutos mais importantes.” (11) O imortal Alberto Venâncio Filho que nos deu a honra de assistir, em 7/12/1998, ao II Seminário Banco do Brasil e a Integração Social, conduzido pelo escritor Fernando Pinheiro, redigiu o prefácio da obra A Arte de Furtar e o seu autor, de Afonso Pena Júnior, 1° volume – 2ª edição, publicada pela ABL, ano 2001, e escreveu anteriormente a matéria Quem furtou a arte de furtar?: (10) ALCEU AMOROSO LIMA – Discursos Acadêmicos (1948/1959) – Discurso de recepção – Revista da Academia Brasileira de Letras – 13° volume (p. 57) – Rio de Janeiro – 1961. (11) DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ – Discursos Acadêmicos (1980/ 1984) – Discurso de posse – Revista da Academia Brasileira de Letras – Volume XXIV – p. 47 – Rio de Janeiro – 1985. FERNANDO PINHEIRO – 38 “Em 1946, Afonso Pena Júnior, ampliando os argumentos de Solidonio Leite, publicou em 2 volumes, pela Livraria José Olímpio, o livro A Arte de Furtar e seu Autor, em que reafirma a comprovação da autoria de Antônio de Souza Macedo, com a mais completa crítica de atribuição.” (12) Afonso Penna Júnior e João Neves da Fontoura possuíram em comum a honra de terem sido consultores jurídicos do Banco do Brasil e, em épocas distintas, ministros de Estado e membros da ABL – Academia Brasileira de Letras, hoje patronos da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Ainda com vínculo histórico com o BB, os imortais da ABL, Afonso Arinos de Melo Franco, autor da História do Banco do Brasil (vol. I) e Adelmar Tavares, um dos mais importantes trovadores do Brasil. Primeira quinzena de abril de 1968. O luto encobre as Américas. Nos Estados Unidos é assassinado Martin Luther King, orador eloquente, líder pacifista, prêmio Nobel da Paz; no Brasil, Assis Chateaubriand, o grande capitão, recebe em todo o País homenagens derradeiras de autoridades civis e eclesiásticas, com notícias divulgadas pela rede dos Diários Associados que ele fundou e dirigiu. Encerrava-se um ciclo da imprensa brasileira. (12) ALBERTO VENÂNCIO FILHO – Quem furtou a arte de furtar?, matéria publicada na Coluna Opinião, p. 9, do Jornal do Brasil, edição de 12 de dezembro de 2000, 39 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Nesse clima de homenagens póstumas, Afonso Penna Júnior entra em cena para sentir a transcendência da matéria, em nível mais sutil e etéreo, onde se deslinda a verdadeira vida que não conhece a morte. Amado uma vez mais no Salão Nobre dos Poetas Românticos da Academia Brasileira de Letras, onde sua roupagem física estava sendo velada para o adeus de mãos frias. Estavam presentes as seguintes: autoridades: Magalhães Pinto, ministro das Relações Exteriores, Negrão de Lima, governador do Estado da Guanabara, ministro Luiz Galloti, presidente do Supremo Tribunal Federal, Thomaz Leonárdos, presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros; Enéas Martins Júnior, presidente do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras, e ainda os imortais Afonso Arinos, Josué Montello, Clementino Fraga, Barbosa Lima Sobrinho, Mário Palmério, Levy Carneiro, Rodrigo Octávio Filho e Marques Rebelo. Ao fazer a cobertura da homenagem póstuma, o Jornal do Commercio comenta: “Velando o corpo num coro de preces, a viúva do renomado jurista, D. Marieta Penna e os sete filhos do casal rodeados pelos dezesseis netos e bisnetos, foram acompanhados em sua dor pelo advogado Sobral Pinto que foi seu amigo e colega de profissão, e segundo suas palavras, pronunciadas à beira do túmulo, um humanista, poeta e sobretudo dedicado a causa pública.” (13) (13) JORNAL DO COMMERCIO, Rio de Janeiro, sábado, 13, e domingo, 14 de abril de 1968. FERNANDO PINHEIRO – 40 Além da numerosa presença de amigos e familiares, o imortal Afonso Penna Júnior recebeu, naquela oportunidade, conforme menciona o Jornal do Commercio a visita de seu sobrinho, Irineu Penna, monge do Mosteiro de São Bento. Na referida matéria do matutino carioca foi divulgado que o religioso proferiu uma prece, junto ao mausoléu da ABL, no Cemitério de São João Batista. Em seguida, usaram da palavra os Srs. Enéas Martins, presidente do IHGB e Sobral Pinto, presidente da OAB. Momentos difíceis aqueles. A nação americana chora a morte de seu líder pacifista, o pastor batista Martin Luther King, e ao mesmo tempo sofre com a guerra do Vietnã. No meio dessa turbulência social, o presidente Lindon Johnson descansa, no fim–de–semana, em sua fazenda do Texas, preparando-se para viajar a Honolulu, Havaí, onde na terça-feira seguinte estava marcada uma reunião com o presidente da Coréia do Sul. Apesar de não termos a capacidade de poder avaliar a extensão e a grandeza de uma prece fervorosa, sentimos que essa onda benéfica que se irradiou no espaço, oriunda das homenagens póstumas de Assis Chateaubriand e de Afonso Penna Júnior, certamente cobriu os céus dos Estados Unidos e se acercou da fazenda texana, onde o presidente Johnson pensava nas primeiras discussões de paz com o presidente da Coréia do Sul, Park Chung Hee, com o objetivo de acabar com a guerra no Vietnã, apesar do crescimento dos gastos militares dos EUA subirem de 50 para 70 bilhões de dólares, de 1964 a 1967. Não é apenas a morte que se anuncia, pois num nível superior de consciência ela não existe, mas 41 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos também a esperança de vida no corpo físico que se sente gasto e doente. No mesmo dia corria a notícia da chegada do médico sul-africano Christian Barnard, o primeiro cirurgião do mundo a fazer um transplante de coração. Os jornais locais divulgam matéria sobre a vinda de Barnard à cidade do Rio de Janeiro, onde será homenageado, com o título de Cidadão Carioca, pela Assembleia Legislativa da Guanabara. Em homenagem posterior, um banquete oferecido pelo restaurante da Revista Manchete, em Parada de Lucas, subúrbio carioca. No clima acadêmico, as homenagens corriam por conta do centenário do escritor Nestor Vítor e do maestro e compositor Francisco Braga. Três dias após a morte de Afonso Penna Júnior, a Orquestra Sinfônica Brasileira inaugura a série de concertos de assinatura com o maestro Eleazar de Carvalho, dirigindo a Nona Sinfonia de Beethoven, com a participação do Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Dias antes da inauguração da série de concertos de assinatura, na mesma semana da morte de nosso homenageado, o maestro Eleazar de Carvalho regeu a OSB, apresentando a Paixão segundo São Mateus, de Bach, a obra–prima do compositor alemão e uma das mais belas de toda a história da música, criando um clima de elevada espiritualidade que certamente envolveu, nos campos material e espiritual, todos aqueles que estavam ligados, por afinidade, à beleza transcendente. Considerando que a cura é manifestada pela luz, som e cor, sugerimos para o deleite dos leitores manter um clima de elevada espiritualidade ouvindo, na Internet – YouTube, trechos da referida obra musical: FERNANDO PINHEIRO Compositor Música Bach Bach Bach Erbarme dich – 42 Intérprete Eula Beal O Haupt voll Blut und Wunden Holland Boys Choir St Matthew Passion, Final Chorus Dan–Olof É oportuno salientar que a ária para soprano, Erbarme dich, possui várias interpretações, dentre as quais destacamos a de Christa Ludwig, Giada Amparan, Lena Belkina, Kathleen Ferrier, Marilyn Horne, Júlia Hamari, Olga Pyatigorskaya, entre outras. No entanto, a nossa preferência recai na voz de Eula Beal, conduzida pelo maestro Antal Dorati, regente da Symphony Orchesta, Hollywood, com a participação de Yehudi Menuhim, violino solo. Na política, sob o regime militar, era a discussão da portaria do ministro da Justiça proibindo a ação dos políticos cassados e a manifestação da Frente Ampla, liderada pelo ex–governador da Guanabara, Carlos Lacerda, político que se notabilizou como orador de massas populares. Com vínculo histórico com o Banco do Brasil, patrono da Cadeira n° 42, da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, Afonso Arinos, dentro do tempo que marca as homenagens póstumas prestadas a Afonso Penna Júnior é manchete na coluna Situação política, do Jornal do Commercio que destaca em primeira linha: Arinos: parlamentarismo. Afonso Penna Júnior legou-nos um exemplo vivo de amor à causa pública. Dentre seus inúmeros feitos, destacamos o cargo de procurador–geral do TSE – Tribunal Superior Eleitoral, ao ensejo da promulgação, 43 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos em novembro de 1932, do Código Eleitoral. Foi ele, portanto, um dos criadores da Justiça Eleitoral no Brasil. Depois de ter assumido a Pasta da Justiça (1925/ 1926), Afonso Penna Júnior sucedeu, em 25/4/1932, a João Neves da Fontoura no cargo de consultor jurídico do Banco do Brasil (1932/1937), à época o mais elevado cargo jurídico da Empresa. A veracidade da notícia, ampla e anteriormente divulgada, é amparada por iconografia em nosso poder, onde Afonso Penna Júnior atende ao telefone (1ª imagem) e profere preleção na Consultoria Jurídica do Banco do Brasil (2ª imagem), conforme vimos anteriormente. Em 2001, com as modificações da estrutura de cargos comissionados do Banco do Brasil, essa função permaneceu em vigor, mas foi criado a de Diretor Jurídico, ambos ocupados pelo jurista João Otávio de Noronha, atualmente, ministro do Superior Tribunal de Justiça, membro efetivo da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (Cadeira n° 53, patronímica de Mário Brant). É oportuno ressaltar que, quando aquela douta Instituição foi criada em 19/8/1982, o primeiro nome a compor a honrosa Galeria de Patronos recaiu na amada lembrança de Afonso Penna Júnior. Apresentando a trajetória fulgurante de nosso homenageado, vale destacar que, no Prefácio da obra Banco do Brasil – Pareceres, de Afonso Penna Júnior, o advogado Odilon Braga redigiu, na década de 1930, as seguintes considerações elucidativas: “Prosseguindo na impressão de seus pareceres de maior interesse prático e doutrinário, iniciativa de João Neves da Fontoura, que presentemente a ocupa com FERNANDO PINHEIRO o mesmo lustre de que ela sempre Consultoria Jurídica estampa, neste tomo, trabalhos de Affonso Penna Júnior que 25 de abril de 1932 a 2 de dezembro de – 44 se revestiu, a os valiosíssimos a exerceu de 1937. No primeiro volume desta série, tivemos o ensejo de perfilar, em grandes linhas, a insigne figura projetada de José Xavier Carvalho de Mendonça no majestoso cenário do nosso Direito. Cabe-nos, desta feita, delinear, a traços largos, a proteiforme expressão pessoal do incomparável jurista a que tocou a grave, delicada responsabilidade de orientar a ação do Banco, em uma das quadras mais difíceis e movimentadas da história econômica e política da República.” (...) “Depois de 1930, começa o Banco a utilizar-se dos tesouros de sua sabedoria e de sua prudência, por via não só da Carteira de Liquidações, para a qual fôra nomeado Diretor, mas igualmente das sessões de Diretoria, a que pôde levar o valioso concurso de suas luzes. Pois bem, foi após essa longa, variada e rica experiência de advogado, professor de Direito, homem de Estado, Diretor da Carteira de Liquidações que lhe coube, como Consultor Jurídico, desempenhar-se da tarefa de colaborar na construção do nosso direito positivo, a partir de uma de suas estruturas angulares, daquela que se alicerça na Economia nacional e serve de guia e modelo para todo o sistema bancário do País. Dos pareceres que se vão ler, fácil será deduzir o traço distintivo da época e do homem de que se originaram. Se em Carvalho de Mendonça nos foi lícito evidenciar a índole conservadora e a riqueza de ilustração doutrinária, 45 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos em Affonso Penna Júnior havemos de dar realce primordial ao ágil temperamento do homme de loi formado nas contínuas e ásperas pelejas da advocacia, nas amplas considerações críticas do exercício da cátedra, e nos excitantes embates da política, setores esses nos quais o Direito, sem embargo da serena permanência dos “princípios”, reflete as mutações impostas por irresistíveis realidades que lhe ativam a circulação vital e lhe apressam o progressivo evoluir de adaptação ao incessante variar da vida social. Sem dúvida, no decurso da prolongada ação consultiva de Carvalho de Mendonça, ao Banco do Brasil não faltaram crises, algumas de extrema severidade. O certo, porém, é que foram de fundo puramente financeiro e econômico, de mínima repercussão sobre o direito a aplicar. Este, no seu tempo, se bem que acusando já forte pressão das tendências socialistas do mundo moderno, conservava-se fiel à inspiração liberal que tornara possível a pesquisa científica dos seus elementos anatômicos e de sua intrincada fisiologia. A índole conservadora de Carvalho de Mendonça emergia, por conseguinte, dos seus profundos estudos de uma doutrina e de uma jurisprudência de demorada e progressiva elaboração, que ele próprio deveria consolidar e modernizar na imponente sistematização do Tratado de Direito Comercial Brasileiro. Chamado a tratar sobre relações jurídicas ordinárias e de pequena variação, à luz de um direito estável, quer na ordem pública, quer na ordem privada, pôde ele dar aos seus curtos e incisivos pareceres, escritos para o Banco, a feição dogmática autoritária que apresentam, realmente proveitosa aos agentes administrativos a que se destinavam. Bem diversa foi a missão reservada a Affonso Penna Júnior. Este, ao assumir a direção da Consultoria, encontrava derrubados muitos dos padrões da ordem FERNANDO PINHEIRO – 46 jurídica preexistente, inclusive o seu padrão fundamental – a Constituição da República. Recebeu-a precisamente no momento em que o Banco necessitava de um jurista de têmpera nova, forjada nas tormentas dos tribunais e dos negócios públicos, capazes de acudir aos apuros de uma crise geral, financeira, econômica e sobretudo constitucional, de caráter agudo, íntimo e difuso, rompente das circunstâncias determinantes da Revolução de 30 e de sua implantação, crise, além do mais, paralela à violenta transformação econômica e social de todo o Ocidente.” (14) Em seu longo Prefácio sobre a obra Banco do Brasil – Pareceres, de Affonso Penna Júnior, prossegue Odilon Braga: “Dos trabalhos constantes deste volume, fácil será extrair a convicção da justeza de nossas asserções, se bem que em muitos outros, infelizmente não publicados por seu caráter reservado, poderiam ter confirmação ainda mais convincente. São, pelo comum, obras de fino lavor, cuja leitura ilustra e seduz”. (15) A seguir, o apresentador da obra enumera os principais temas abordados: (14, 15) ODILON BRAGA Apud Prefácio da obra Banco do Brasil – Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio de Janeiro – 1941. 47 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos A seguir, o apresentador da obra enumera os principais temas abordados: “Isenção tributária dos títulos de empréstimos dos Estados; validade do pagamento de cheque extorquido; isenção de impostos de que goza o Banco do Brasil; juros e comissões dos descontos bancários em face da Lei da Usura; quota de previdência de bancários; conversão de faltas em férias; conceituação dos “casos omissos” da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil; novação dos débitos cambiais; e, finalmente, ao formalismo dos títulos de Armazéns Gerais.” (16) O jurista Odilon Braga finaliza o Prefácio: “Em suma: a publicação dos seus pareceres constitui, de modo geral, valiosíssima contribuição para o aperfeiçoamento das atividades do Banco do Brasil, mas de maneira muito especial será de enorme valia para o resguardo e para a defesa dos seus interesses por parte dos que servimos na Consultoria e no Contencioso, desta Capital e dos Estados. Assinala-se, por derradeiro, como testemunho da referência por todos nós devida ao Mestre que nos fascinou pelo esplendor de sua aprimorada inteligência e nos fez cativos do seu convívio pela fidalguia das maneiras e pela grandeza do coração”. (17) Ao ensejo do transcurso do 80° aniversário de Afonso Penna, muitas foram as homenagens recebidas. Destacamos as palavras de Austregésilo de Athayde, saudoso presidente da Academia Brasileira de Letras, (16, 17) ODILON BRAGA Apud Prefácio da obra Banco do Brasil – Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio de Janeiro – 1941. FERNANDO PINHEIRO – 48 na crônica intitulada Mestre Affonso, aos oitenta, na qual ressalta as qualidades nobres do Mestre Affonso espelhadas na “ sabedoria do varão probo”, e “o artista que tem vivido do encantamento da beleza”. O doutor Athayde acrescenta ainda “o inigualável manejador do idioma” escrevendo e falando no “mais puro e melhor quilate”. (18) Afonso Penna Júnior trazia o dom de conviver, um jeito manero e mineiro de prosear, alegre e brincalhão. Vale ressaltar duas frases proferidas por ele: “Azeite demais apaga a candeia”, referindo-se à sobriedade no estilo de escrever, frase divulgada no discurso de posse de Hermes Lima na Academia Brasileira de Letras – Discursos Acadêmicos – ABL – 20° vol. – p. 22; “A oratória dele é uma chapadão sem pouso” – expressão destinada ao orador que demorava a encerrar o discurso na tribuna, mencionada por Josué Montello na crônica No centenário de Afonso Pena Júnior. Encerrando a nossa participação, evocamos os versos drummonianos que agradecem a Afonso Penna Júnior pelo muito que ele tem dado ao mundo em pensamento e arte, no meio da confusão das coisas, “restaura pelo reto juízo aquela ordem ditada por Minerva em ouro e aura.” (19) (18) AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE – in Diário da Noite – 28/12/1959. (19) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – in Correio da Manhã – 09 de janeiro de 1963. 49 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos UM LUTADOR HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA DE ALUÍZIO NAPOLEÃO Embaixador da República Matéria transcrita do um exemplar do livro UM LUTADOR HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO, que contém uma dedicatória escrita de próprio punho do autor: “Ao Senhor Fernando Pinheiro, Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, em que meu Pai é Patrono de uma das cadeiras, accedo à sua solicitação, com grande satisfação. Cordialmente, Aluízio Napoleão, Brasília, 1998.” CONSULTOR JURÍDICO DO BANCO DO BRASIL (...) Em 1940, como assinala o biógrafo G. Hércules Pinto, em seu livro Viriato Corrêa (Edição do autor, Rio de Janeiro, 1966, pág. 243), meu pai iria comparecer ao ALUÍZIO NAPOLEÃO – 50 segundo casamento daquele ilustre e vitorioso escritor, cerimônia a que estaria presente a intelectualidade da época. Seu velho amigo da Câmara dos Deputados, desde 1927, o já acadêmico Viriato Corrêa havia convidado minha mãe e meu pai para padrinhos de seu casamento: “E na tarde de 28 de dezembro de 1940, Viriato entrava na Igreja de São Francisco Xavier para realizar seu segundo casamento. A nave estava repleta de amigos, conhecidos e curiosos que queriam assistir ao casamento do famoso escritor, que ia ser realizado pelo Arcebispo de Goiás, Dom Aquino Corrêa que, na época, ocupava a cadeira n° 34, da Academia Brasileira de Letras. Foi um ato pomposo e elegante. Seus padrinhos, como não podia deixar de ser, foram o Deputado Hugo Napoleão e D. Matilde Napoleão. A Casa de Machado de Assis estava representada por grande número de acadêmicos, entre os quais nos lembramos de Clementino Fraga, Olegário Mariano, Adelmar Tavares, Múcio Leão”. Estudando apaixonadamente as questões, desenvolvendo os seus conhecimentos de Direito, Hugo Napoleão foi, cada vez mais, apurando a sua cultura jurídica, tornando-se, com o tempo, pelo refinamento que lhe dava a experiência, um dos mais abalizados e conceituados jurisconsultos do País, para o que contribuía, grandemente, o senso jurídico que se notava, desde a primeira leitura, nos seus pareceres claros, sutis, nos quais feria, sem rebuços nem contornos inúteis, o ponto central da questão do direito versada. Assim transcorreu a atividade do advogado durante os anos de 1937 a 1943 na chefia do Departamento do Contencioso do Banco do Brasil. Neste último ano, tendo sido o então Consultor Jurídico do Banco do Brasil, João Neves da Fontoura, nomeado Embaixador 51 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos do Brasil em Lisboa, foi Hugo Napoleão designado para substituí-lo. Era, na sua profissão, um cargo altamente honroso, pelos ilustres ocupantes que o haviam perlustrado, pois além de substituir o ilustre jurista João Neves da Fontoura, haviam ocupado aquelas mesmas funções Carvalho de Mendonça e Afonso Pena Júnior. O Correio da Manhã, de 9 de junho de 1943, assim noticiou o fato: “Em virtude de passar a servir no Ministério das Relações Exteriores como embaixador do Brasil para Portugal, o Dr. João Neves afastou-se do seu cargo, também em comissão, de consultor jurídico do Banco do Brasil. Agora, por ato do Presidente da República, o Dr. Hugo Napoleão, que há treze anos vem exercendo o cargo de chefe dos advogados do mesmo banco, foi provido nas funções de consultor jurídico, tendo, perante a respectiva diretoria, tomado posse ontem. O novo consultor, jurista profissional e antigo parlamentar, que representou, por muito tempo, o Piauí, na Câmara, é figura de relevo nos meios culturais forenses e pelo seu tirocínio tem largo conhecimento da vida dos contratos e dos negócios do maior instituto de crédito do país.” Nesse mesmo dia 9 de julho de 1943, recebia uma mensagem especial do jornalista Herbert Moses, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa: “Quando prezado amigo assume alta função Consultoria Jurídica do Banco do Brasil justo e merecido reconhecimento seus méritos, Associação Brasileira de ALUÍZIO NAPOLEÃO – 52 Imprensa e seu Presidente, interpretando sentimento jornais e jornalistas, enviam cordiais cumprimentos.” E, de Lisboa, o novo Embaixador do Brasil, João Neves da Fontoura, lhe dizia, a 26 de agosto de 1943: “Só agora com a vinda de minha filha e por carta de D. Sara (sua secretária) é que tive o prazer de saber que você é o meu substituto. Aceite meus sinceros parabéns e meus melhores votos para uma longa e fecunda gestão nesse honroso posto.” A 1° de julho de 1943, eram homenageados, pelos seus colegas, no restaurante do Aeroporto Santos Dumont, então em voga, Hugo Napoleão, por ter sido nomeado para a Consultoria Jurídica, e José Raul de Moraes, para substituir aquele na chefia do Contencioso do Banco do Brasil. Saudando-os, disse, na ocasião, o Doutor Vitorino de Magalhães: “A ocorrência dos advogados do Banco a este almoço de amizade não tem significação exclusiva de testemunho abonatório de méritos dos homenageados, reconhecidamente habilitados e talhados para as funções que lhes foram cometidas; significa, além disso, e, principalmente, a satisfação de todos pelo evento que deu origem a este banquete, implicando também aplausos ao ato que os consubstanciou.” O novo Consultor Jurídico do Banco do Brasil assim agradeceu a homenagem dos seus colegas: “É esta, a segunda vez que vocês, fora dos nossos muros, me expressam, em tons de encantadora gentileza, um tão cativante afeto. Grande parte, ou quase tudo, bondade e grandeza de coração, e o restinho conhecimento seguro 53 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos de que eu, durante os treze anos de chefia do Contencioso, nunca deixei de prestigiar a todos os colegas, no desempenho de suas funções, mesmo quando as circunstâncias os colocavam em choque com os melindres de outros órgãos da nossa Casa, nem deixei, nunca, de pugnar, com ou sem êxito, por aquilo que fosse o direito de cada um. A homenagem de hoje tem âmbito mais dilatado. No meu modo de entender, a minha nomeação para o cargo de Consultor Jurídico, com a qual hoje, nos regozijamos, tem duplo significado; duplo significado, porque atinge diretamente minha pessoa e, indiretamente, a todo o corpo de advogados do Banco do Brasil. A mim, porque fui distinguido, embora imerecidamente, com tão elevadas funções e porque com esse evento me foi dado um público atestado da minha conduta no nosso estabelecimento; e a vocês, porque ela recaiu num de nós, ficando, assim, patenteado que a administração do Banco, no nosso setor, considera bastante a louça de casa. Por outro lado, o acontecimento nos enche a todos de alegria por vermos o nosso decano, o nosso estimado José Raul, na chefia do Contencioso, onde sempre devera ter estado. Essas circunstâncias e, mais, a de vir ocupar um lugar até hoje exercido por nomes tão ilustres, deixam-me apreensivo diante das responsabilidades que os novos encargos me acarretam. Meus amigos, está na nossa consciência e deve estar na de todos os que trabalham no Banco do Brasil, que esta possante máquina não poderia ALUÍZIO NAPOLEÃO – 54 funcionar no ritmo em que funciona, segura, acautelada, defendida, sem a nossa ajuda, sem o nosso árduo e difícil trabalho de obreiros do Direito. Uma coisa, porém, é imprescindível à eficácia e ao benefício de nossas atividades – união – entrosamento – colaboração entre os órgãos do setor jurídico. Consultoria e Contencioso (e quando falo em Consultoria e Contencioso quero referir-me, também, às assistências jurídicas) não podem ser dois compartimentos estanques. Naquele, se exercita a hermenêutica, neste, se aplica, o Direito. Naquela, faz-se o diagnóstico, neste, emprega-se a terapêutica. Diagnóstico e terapêutica em desencontro podem ocasionar a morte do doente. Essa colaboração mais necessária se evidencia na vertigem da hora presente em que a legislação tem que correr na mesma marcha acelerada com que surgem os fenômenos e necessidades sociais. Que a nossa união será propícia ao nosso bem-estar e fecunda em benefício para o banco, é claro como a própria evidência. Por isso, e porque aspire a superar aquelas responsabilidades apontadas é que, agradecendo, do fundo do coração, esta cativante e inesquecível homenagem, em que tivemos o prazer de ouvir o verbo fogoso do Magalhães, peço aos prezados colegas que se esforcem por uma mais estreita colaboração entre os órgãos encarregados do Serviço Jurídico e por uma estreitíssima e fraternal união entre todos nós.” 55 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Em 14 de agosto de 1943, o novo Consultor Jurídico do Banco do Brasil iria ter oportunidade de homenagear o doutor Juan Carlos Arrosa, advogado do Banco da República do Uruguai, em um almoço realizado no Jockey Club do Rio de Janeiro. Aquele jurista viera representar o seu país na II Conferência Interamericana de Advogados. Assim falou Hugo Napoleão, saudando o visitante: “Nós, os que trabalhamos no Departamento Jurídico do Banco do Brasil, temos muitos, muitos e gratos motivos para oferecer-lhe esta modesta festa, a que teve a gentileza de comparecer um dos organizadores da II Conferência Inter–americana de Advogados, o nosso ilustrado colega doutor Levi Carneiro, um dos expoentes da advocacia brasileira. Em primeiro lugar, meu prezado colega, somos sabedores de sua simpatia pelo Brasil e pelas coisas brasileiras. Presta Vossa profissional ao Banco do nosso Banco do idênticos esforços, dificuldades do nosso Excelência sua eficiente assistência da República do Uruguai, símile Brasil e comunga, por isso, de idênticos trabalhos e idênticas silencioso labor. Admiramos a sua cultura jurídica, conhecida por nós através dos seus trabalhos da Culpa Civil nos transportes gratuitos, inserto na nossa Revista Forense, cuja leitura evidencia o magnífico professor de Direito que é Vossa Excelência, amante da síntese, da clareza, e da exposição metódica. Arrosa, Prestando-lhe esta homenagem, Senhor Doutor no nome dos advogados do Banco do Brasil ALUÍZIO NAPOLEÃO – 56 e no meu próprio, quero pedir-lhe que transmita ao Sr. Embaixador Lusardo nossos agradecimentos por nos ter ensejado o prazer do seu conhecimento pessoal.” O ORADOR E O CONFERENCISTA No dia 18 de setembro de 1943, o Instituto Nacional de Ciência Política realizou, no salão do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa, uma sessão, que um dos jornais da época classificou de importante e significativa pelas palavras pronunciadas pelos ilustres oradores inscritos – Hugo Napoleão e Oto Prazeres, Pessoa Cavalcanti e Salvador Mendieta, Reitor da Universidade de Nicarágua. Com a palavra, Hugo Napoleão realizou um estudo completo sobre a história do Banco do Brasil e sua importância para a economia nacional. (Anexo 25) (...) ANEXO 25 A minha palestra não visa, de modo nenhum, a traçar o histórico do Banco do Brasil, nem tampouco fixar-lhe a estrutura jurídica. Tenho em vista, tão-somente, estudar a sua influência ou atuação na economia nacional, a partir do advento da Revolução de 1930. Conservando, sempre, sua estrutura de sociedade por ações e de banco de depósitos e descontos, é, todavia, uma das chamadas sociedades de economia mista, com funções de Banco de Estado, e realizando inúmeros serviços públicos, por delegação do poder federal. 57 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos É, entre nós, o banco dos bancos, constituindo-se pela multiplicidade das funções que exerce, das atividades e serviços que executa, um verdadeiro sistema bancário, na frase atribuída ao seu eminente Presidente, Sr. Dr. Marques dos Reis. Essas múltiplas funções não lhe foram atribuídas inicialmente, não constaram de sua organização inicial, decorrem, quase todas – e é isto que deve ser salientado – das necessidades públicas na ordem econômica ou financeira. À proporção que surgia uma crise qualquer, no comércio, ou na indústria, que necessárias se tornavam medidas extraordinárias de financiamento a um produto, como, por exemplo, o açúcar, o café, o algodão, quando não mais foi possível deixar as atividades agrícolas sem crédito adequado e organizado, quando mister se fazia o amparo financeiro a um município ou a um Estado, era chamado o Banco do Brasil a intervir e a tudo prover, o que tem tornado o maior propulsor da economia nacional. A atribuição, assim parcelada, desses vários cometimentos, que não faziam parte de seu inicial programa de ação, e o pleno desempenho que lhes têm dado, servem bem para patentear a excelência de sua organização e, sobretudo, de maneira insofismável, o seu esforço em acudir aos interesses nacionais. Tomando como ponto de partida o advento da Revolução de outubro, não devo ocupar-me de fatos anteriores ao ano de 1930, senão para referir e lembrar a angustiosa situação econômico-financeira em que nesse ano se debatia o Brasil em conseqüências da crise mundial de 1929, com a baixa geral de preços na Europa e na ALUÍZIO NAPOLEÃO – 58 América, do malogro da política nacional de estabilização da moeda e da errônea política de valorização do café. Uma das preocupações iniciais do governo revolucionário foi o conhecimento e apuração da dívida externa da União, dos Estados e dos Municípios. Impressionado com o resultado do Estudo a que procedeu, levado a efeito pelo Ministro Oswaldo Aranha, uma das iniciais resoluções do novo governo, aliás imperativa, foi, daí em diante, não mais recorrer ao crédito externo. Dessa circunstância, nasceu para o Banco do Brasil, ao lado do suprimento de numerário do Tesouro Nacional, por antecipação da receita pública, a incumbência de atender às necessidades dos Estados e Municípios. A enumeração do estado atual dessas dívidas evidencia a forma por que tem o banco acudido as solicitações dos Estados e Municípios, possibilitando-lhes, assim, o desenvolvimento de suas economias. (...) Outro problema com que se via a braços e que, logo no seu início teve o governo de enfrentar e resolver, foi o decorrente da crise bancária mundial, com pequena repercussão em nosso meio, é certo, mas, em todo o caso, necessitando de premonição contra maiores efeitos. Para tanto, foi criada a Caixa de Mobilização Bancária, mas, encarregado o Banco do Brasil do financiamento de suas operações, nos termos do respectivo contrato aprovado pelo Decreto n° 21.621, de 14 de julho de 1932. Embora esse Instituto tenha, por sua simples ação de presença, no conceito do 59 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Senhor Artur de Souza Costa, evitado solicitações imprevistas e desastrosas de depositantes, em uma palavra, evitando a corrida aos bancos, com ele e com a Carteira de Redescontos, tornou-se o Banco do Brasil o banco dos bancos. Dessa forma, isto é, redescontando títulos de outros bancos e, mais, executando o controle cambial e acudindo com numerário o Tesouro Nacional, foi o Banco do Brasil suprindo a falta de um banco central de reservas, de que ainda se ressente o sistema bancário brasileiro. Ninguém está esquecido da precária e quase calamitosa situação em que se encontrava a nossa multissecular indústria açucareira e de como o governo provisório, logo no seu terceiro ano, melhorou-a, tornando-a próspera por meio de uma das primeiras e mais felizes experiências de economia dirigida, ensaiada na Comissão de Defesa do Açúcar, e, por fim, consubstanciada na esplêndida afirmação que é o Instituto do Açúcar e do Álcool. Esse empreendimento, porém, só se tornou viável e possível com a ajuda financeira do Banco do Brasil, especialmente no seu início e quando aquela Comissão teve de financiar as primeiras safras, independentemente da taxa de três cruzeiros, posteriormente cobrada por saco de açúcar produzido. A recomposição do mercado de café, após as aperturas de 1929, decorrentes do abandono da política de valorização, só pôde ter lugar pelo Banco do Brasil, em contrato firmado em 1931, com o antigo CNC. Com este órgão e através, depois, do DCN, esse financiamento tem continuado, na forma e extensão ALUÍZIO NAPOLEÃO – 60 por que tem sido necessário, mesmo em condições extraordinárias, como está acontecendo de 1941 para cá. A crise do algodão paulista, oriunda da superprodução da safra de 1942/1943 e a da perda dos mercados europeus e asiáticos, foi julgada pelo Banco do Brasil, por meio de financiamentos extraordinários, fora dos limites cadastrais e com base em preços mais elevados do que aquele em que estava essa mercadoria cotada. Refiro-me a esses produtos por serem eles os que mais influem em nossa economia, mas, certo é que todos os outros, como o sal, o mate, o cacau, o babaçu, etc., têm, nos momentos necessários, gozado da intervenção do benéfico socorro financeiro do Banco do Brasil. E, se as necessidades de financiamento de determinado produto decorrem de fenômenos climáticos, que ocasionam verdadeira calamidade pública, como aconteceu com o arroz, no Rio Grande do Sul, por ocasião das últimas enchentes, a ação do Banco do Brasil sempre se fez sentir imediatamente e pressurosa. Da mesma forma, se tem beneficiado a indústria brasileira com o amparo financeiro do Banco do Brasil. Dentre os casos normais e gerais, cito as facilidades por ele outorgadas à instalação das indústrias de alumínio, de papel e da siderurgia, cuja operação inicial, nos Estados Unidos, só foi possibilitada pela fiança que lhe deu o Banco do Brasil. Vê-se, do relatório apresentado pelo Senhor Marques dos Reis à Assembléia de Acionistas de 30 de abril do ano corrente, que o total empregado nas atividades industriais puras, isto é, não dependentes de matérias-primas de sua produção, elevou-se a 514.248 milhares de cruzeiros; nas de beneficiamento e 61 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos transformação de matérias-primas próprias foi de 170.876 milhares. Coube, assim, às indústrias em geral a importância de 685.124 milhares de cruzeiros. O problema da criação ou instituição do crédito agrícola só veio obter solução por intermédio do Banco do Brasil. Para maior eficiência na distribuição desse crédito não tergiversou o Banco, pelo seu atual Presidente, em multiplicar a rede de agências, levando-as mesmo a afastados lugares do nosso interior, onde a possibilidade de negócios não permite auferir lucros. Essas agências, hoje já em número de 246, se constituem num verdadeiro sistema de irrigação de crédito ao País inteiro e, do ponto de vista do crédito agrícola, num dos maiores benefícios que elas prestam à educação do agricultor, no uso do crédito, a que não estava acostumado, a qual se exercita pelos conselhos e fiscalização de seus funcionários. (...) Se necessário se torna fazer face aos problemas decorrentes da situação mundial, criada pela guerra, estimulando-se e amparando a exportação de produtos nacionais e assegurando-se condições favoráveis à importação de produtos estrangeiros, a execução das providências para tanto necessárias é conferida ao Banco do Brasil, conforme se verificou com a Carteira de Exportação e Importação. Precisam as Nações Unidas que o Brasil lhes ajude a suprir a falta de borracha decorrente da cessação da importação desse produto dos países asiáticos, é o Banco do Brasil chamado a prestar sua cooperação no sentido do financiamento das safras e no ALUÍZIO NAPOLEÃO – 62 incentivo da produção, até que para isso se criasse órgão especializado. Lança o Governo empréstimo de guerra, torna-se o Banco do Brasil o maior adquirente dos bônus que o representam. Por fim, até a Comissão de Defesa Econômica foi conferida à sua administração. Além da assistência financeira a entidades ou serviços públicos, como, por exemplo, à Prefeitura do Distrito Federal, possibilitando-lhe a execução das obras de remodelação e embelezamento de nossa capital: a Estrada de Ferro Central do Brasil, fornecendo-lhe o numerário indispensável ao acabamento das obras da Estação D.Pedro II e à aquisição da Companhia Geral de Material Rodante; ao serviço de águas da Capital da República, o Banco do Brasil executa, ainda, por delegação, importantes serviços da competência privativa da União. O Banco do Brasil é, ao mesmo tempo, banco comercial, de depósitos e descontos, banco agrícola, banco industrial, banco hipotecário, banco de redesconto, banco de exportação e importação, banco de Estado, banco dos bancos. Para atender a todas essas atividades, é a administração do banco auxiliada por selecionado corpo de funcionários, que nele ingressam mediante concurso, e cuja competência bem pode ser aferida pela circunstância de se encontrarem muitos deles prestando serviços a entidades públicas, bancos e empresas particulares por todo o País. Executando tão múltiplas atividades e funções, o Banco do Brasil, embora continuando a ser um banco de depósitos e descontos, não se deixa orientar pelo objetivo de lucros elevados, o que é fácil de comprovar 63 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos pela circunstância de não passar a sua taxa média de juros da casa dos 7%, que é, entre nós, taxa mínima. Não tem a preocupação de ganhos exagerados e, por outro lado, como o deixou patenteado o seu Departamento de Estatística e Estudos Econômicos, “nunca perde de vista o inalterável propósito de colocar a sua política a serviço do conjunto da economia brasileira, perseverando em um plano sistemático de assistência às classes produtoras”. De breve exposição que acabo de fazer, se concluirá, imperiosamente, que, além de se ter tornado um dos grandes elementos fundidores da unidade nacional, é o Banco do Brasil o mais poderoso instrumento que incentiva, acelera, facilita e propulsiona a economia brasileira. (...) Em 30 de novembro de 1943 foi comemorado o sexto aniversário de posse do doutor João Marques dos Reis na Presidência do Banco do Brasil. No grande salão da assembléia, repleto de funcionários daquele estabelecimento bancário, diante da Mesa, composta do General Pinto Aleixo, então, interventor no Estado da Bahia; João Daudt de Oliveira, Presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro; dos Diretores do Banco do Brasil, Pedro Rache, Santos Filho, Gastão Vidigal, Vilobaldo de Campos, Carneiro de Mendonça e Souza Melo e do Superintendente Pedro Mendonça Lima, o Consultor Jurídico pronunciou, em nome do funcionalismo daquela casa, o discurso de homenagem. (Anexo 26). ALUÍZIO NAPOLEÃO – 64 ANEXO 26 As prolongadas férias tribunícias que venho gozando e a observância da prática do ofício, prudente e sábia, que desaconselha se emitam pareceres verbais em assuntos jurídicos e, mais que isso, o receio de sobrecarregar demasiadamente, com emoções imprevistas, o coração de um corpo que já escalou e, agora, descamba pelo outro lado da montanha, fizeram com que eu passasse para o papel aquilo que aqui pretendo dizer, em satisfação da honrosa incumbência que me foi cometida pelos meus dignos colegas. Sr. Dr. João Marques dos Reis, as homenagens como esta, que V.Exª vem recebendo, ininterruptamente, desde o segundo ano de sua administração, não eram, antes observadas, nem nunca foram comuns. Por quê? Motivos há e não são poucos. Não é fácil dirigir esta poderosa máquina que é o Banco do Brasil, e menos fácil é dirigi-la sob um consenso geral de aplausos do seu funcionalismo. É que, senhores, as qualidades de Sua Excelência o Sr. João Marques dos Reis são excepcionais. S.Exª é, antes de tudo, um homem de rara elegância moral. Sabem os funcionários que ele os acolhe humanamente, ouve-os e, ouvindo-os, se interessa pelo que ouve, não raro se comove, e providencia sempre, e sempre que o postulante se encontra acobertado pela justiça ele a faz, ele a dá e, dando-a, sabe dar. Dá completamente, dá sem restrições e sem humilhar a quem pede. Dá logo, dá oportunamente. Dá pondo de 65 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos pé a quem pede, colocando-o no nível em que ele se encontra. Sabe dar com elegância. Este acolhimento desprentensioso, amável humano gera afeto, produz respeito, inspira gratidão. e Senhor Presidente, igualmente, conhecemos nós os funcionários do Banco do Brasil, a espontaneidade e o calor com que V.Eª defende as nossas aspirações coletivas, e, por outro lado, não ignoramos e não ignoramos porque V.Exª o diz e repete, que se sente ufano de pertencer a esta Casa. Esse, aliás, é um fato que se reproduz. Como V.Exª, vim de fora para cá, vim de outras lides, e logo que senti a pujança, percebi os encargos, verifiquei as realidades, constatei os empreendimentos de ordem nacional que lhe são cometidos e, mais do que isso, vi exteriorizado o prazer de cada funcionário em aqui servir, senti-me orgulhoso de fazer parte do quadro de funcionários do Banco do Brasil. Meus Senhores, conforme eu já o disse, não é fácil dirigir o Banco do Brasil. Fácil é dirigi-lo rotineiramente, porque neste aspecto, ele é uma máquina tão bem montada, com uma organização tão perfeita, que, pode ser dito, gira e movimenta e anda sozinha. Mas, nós o sabemos, ele tem finalidades outras além do simples comércio bancário, e muito mais complexas, e muito mais importantes. O Banco do Brasil, eu já o disse, é, ao mesmo tempo, banco comercial, de descontos e depósitos, banco agrícola, banco industrial, banco hipotecário, banco de ALUÍZIO NAPOLEÃO – 66 redescontos, banco de importação e exportação, banco de Estado, banco dos bancos. É um dos grandes elementos fundidores da unidade nacional, é o mais poderoso instrumento que incentiva, acelera, facilita e propulsiona a economia brasileira. Da grandiosidade dessas funções e cometimentos deriva para o seu dirigente muita atividade, muita competência, muitos conhecimentos de ordem geral, especialmente os que se relacionam com as ciências econômicas e sociais e, acima de tudo, muito patriotismo. Sr. Presidente, a sua atividade é patente. Além de madrugar no banco e dele só sair quando a noite chega, não acumula, não retarda nem deixa expediente dormir. A sua competência vem comprovada de fora, vem comprovada de sua banca de advogado, da cátedra de Direito Civil, da Constituinte de 1934, do Ministério da Viação. O seu patriotismo, Sr. Presidente, muitas vezes aqui o temos visto e sentido, acendido, pressuroso, através de sua destemorosa eloquência, ora profligando em palavras de fogo e candentes arroubos, as atividades do quinta-colunismo, ora aplaudindo, com frases repassadas de beleza e doçura, as atividades das nossas funcionárias em favor da Cruz Vermelha. V.Exª possui essas qualidades, e as possuindo, também, os seus dignos companheiros de diretoria, com os quais V.Exª vive vida de harmonia, fácil e simples se torna aquela tarefa. A forma por que V.Exª se desincumbe de tão complexos encargos está fotografada 67 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos nos relatórios sobre as atividades anuais da sua administração, os quais se têm constituído, não somente em exposições do desenrolar da vida que refletem a vida econômico-financeira da Nação. Senhores, em uma festa igual a esta, levada a efeito há quatro anos, foi dito que os funcionários do Banco do Brasil estavam constituídos em Tribunal para julgar o Sr. Marques dos Reis. Pois bem, Sr. Presidente, as ininterruptas manifestações que, de então para cá, e ano a ano, vêem os funcionários do Banco do Brasil, com a assistência da Exmª Diretoria prestando a V.Exª traduzem o ratificado reconhecimento daquelas qualidades e daquela atuação de V.Exª e consubstanciam a sentença daquele tribunal, V.Exª está julgado. A sentença foi proferida. É sentença irrecorrível. Já não pode sofrer apelo nem agravo. E por ela foi V.Exª declarado o funcionário n° 1 do Banco do Brasil. / Ao usar da palavra, o homenageado reiterou seus agradecimentos pela demonstração de apreço que acabava de receber, elogiando, mais uma vez, como tinha feito em ocasiões passadas, a dedicação, o senso de dever dos funcionários do Banco do Brasil, que não são qualidades transitórias, mas representavam uma continuidade que honrava a tradição daquele estabelecimento. No dia 4 de dezembro de 1943, novamente Hugo Napoleão falaria em nome dos funcionários do Banco do Brasil, desta vez, em São Paulo, pronunciando um discurso em virtude da doação, feita por aqueles ALUÍZIO NAPOLEÃO – 68 funcionários, de seis aviões a aero-clubes paulistas, dentro da Campanha Nacional de Aviação, lançada pelos Diários Associados. Pela beleza da forma e do pensamento e o toque poético que não lhe está ausente, foi, a meu ver, um dos mais belos discursos de Hugo Napoleão, que iria receber, depois, uma referência muito significativa no discurso pronunciado pelo jornalista Assis Chateaubriand, criador daquela campanha: “Já não é fácil usar da palavra nas festas de batismo de aviões. E não é fácil porque Assis Chateaubriand, no seu constante e repetido ruflar de asas pelo espaço infindo da eloqüência, já esgotou os arcanos de beleza da língua portuguesa, capazes de exteriorizar a alada e grandiosa e mais brasileira das cruzadas, de que se armou cavaleiro. A nenhum povo, como a nós brasileiros, cabe a glória da conquista aérea, de que Santos Dumont foi o pioneiro máximo e o máximo realizador na dirigibilidade dos balões e no primeiro vôo com o mais pesado que o ar. Dadas as diversas condições que lhe peculiares, nenhum outro país necessita tanto navegação aérea quanto o Brasil. são da Por isso mesmo é que, cada vez mais, se deve compreender e exaltar a nobre campanha dos Diários Associados, que visa povoar de aeronaves os céus do Brasil. Nós, os funcionários do Banco do Brasil, assim o entendemos e podemos compreender, porque o ambiente em que se desenvolve o nosso trabalho nos propicia e impele a essa compreensão. 69 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Na realidade, o Banco do Brasil não faz somente comércio bancário como a muitos possa parecer. Sua finalidade é muito mais complexa e muito mais elevada. (...) Além de auxiliar a administração pública no desempenho das mais diversas e variadas funções, como as de controlador do câmbio, da exportação e importação, de agente financeiro da União, dos Estados e Municípios, ele acode e ampara a agricultura, a indústria e o comércio, possibilitando, aqui, a siderurgia ou o fabrico do papel ou do alumínio: ali, jugulando as crises sobrevindas ao café, ao açúcar e ao algodão; mais além dando máquinas ao Brasil. Tornou-se, assim, um dos grandes elementos fundidores da unidade nacional e o mais poderoso instrumento que incentiva, facilita, propulsiona e acelera a economia brasileira. Por outro lado, tem sido sempre um grande incentivador dos nobres cometimentos, das grandes, das santas causas da beneficência e da instrução e, no amparo aos seus servidores, antecipou-se à legislação que consagrou as conquistas sociais do trabalho. Como, pois, servindo, poderiam os deixar de contribuir magnífica e patriótica Chateaubriand, em boa senhores, aí vivendo e assim funcionários do Banco do Brasil para a vitória da esplêndida, cruzada da aviação que Assis hora, tomou aos ombros? Só poderíamos fazer o que fizemos acorrer com pressurosa espontaneidade. – a ela Tão elevado é esse empreendimento que, além de sua principal finalidade – dar asas ao Brasil – tem objetivado, nos seus detalhes, lições e práticas de civismo. De começo, ensejando, nas cerimônias de batismo, a exaltação patriótica de nomes brasileiros, que foram ALUÍZIO NAPOLEÃO – 70 grandes e ilustres nos diversos ramos da atividade humana. E agora, voltando-se para os nossos rios, na direção de cujas águas se iniciou o destino do Brasil. Feliz lembrança! São eles, os rios, a imagem viva da vida, contendo em si, perenemente e sem cessar, o movimento e a renovação. São eles os caminhos de Deus, os caminhos que andam, os veios que fertilizam a terra, encantam a vista e fazem cismar. E aqui estão: O majestoso Amazonas, o mar “dulce” de Pinzón, o maior do mundo, engrossado por mil braços, aquele que parece querer dominar o oceano, em vez de por ele se deixar dominar; que, carreando mundos no seu dorso, acrescendo e vitalizando as terras da Sul–América; ora doce e tranqüilo, ora enfurecido pela “pororoca”; enfeitiçado pela Iara, inebriado pelo canto do uirapuru; servindo a mais de uma pátria, quer demonstrar que é imperativa a solidariedade do continente sul-americano. E o São Francisco, o mais brasileiro deles, o rio dos currais, das entradas, que, na nossa infância, firmou os alicerces do povoamento; o carreador do ouro de Minas Gerais, escrínio dos sete saltos que formam Paulo Afonso; desafogo da hora sombria que vivemos quando, dificultada a costa atlântica, pelos selvagens da civilização, pôde impedir o insulamento das nossas regiões; e assim, mais uma vez, alertar o Brasil, mostrando-lhe que ele é o traço– de–união entre o Norte e o Sul, é o rio da unidade nacional e, como tal, deve ser tratado. E o Tietê, paulista da gema, o velho Anhembi, caminho das bandeiras sulinas, trilha de Manoel Preto e 71 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Raposo Tavares para a conquista do Guaíra, recolhimento dos goianos trazidos por Fernão Dias Paes, acesso das monções às minas, vivo testemunho da audácia e do heroísmo do povo paulistano. O Paraná, que mandando águas brasileiras beijar as terras paraguaias e as areias de Buenos Aires, evidencia os sentimentos do Brasil para com os seus irmãos do Continente. O Mamoré, servidor de 2 amigos – Bolívia e Brasil. O Parnaíba, doce evocação! Lembrando da minha infância. O piedoso Parnaíba que, dos contrafortes da Serra da Tabatinga, lançou um dia seus dois olhos sobre a planície da terra piauiense e, vendo-a crestada, sobre ela derramou as suas lágrimas fecundantes. Parnaíba, sereno Parnaíba, que tuas águas as copas dos buritizeiros. refletes em Rio das Garças. Rio da saudade. Rio da saudade do nosso poeta Da Costa e Silva: “Saudade! – O Parnaíba, velho monge, as barbas brancas alongando... E, ao longe, o mugido dos bois de minha terra.” Amazonas, São Francisco, Tietê, Paraná, Mamoré, Parnaíba, voai no dorso dessas águas, voai pelos lindos céus da Paulicéia.” Diante da eloquência do tribuno piauiense, o velho jornalista, Assis Chateaubriand, conhecedor e descobridor de inteligências, assim falou, ao referir-se ao orador (O Jornal, de 10 de dezembro de 1943): ALUÍZIO NAPOLEÃO – 72 “Representa o vosso presidente, no ato dos batismos de hoje, o grande tribuno nortista, parlamentar de largo fôlego, que é o Dr. Hugo Napoleão. Se devêssemos ganhar uma batalha hoje, estaria de antemão garantida a sua vitória pelo verbo de um orador e poeta da palavra, que se chama Hugo, e pela espada de um general, que se denomina Napoleão. Os dois reis, do pensamento e das batalhas, se reúnem no vosso peregrino intérprete, padrão da inteligência e da cultura do norte de nossa Pátria.” 1943 foi o ano dos discursos e das conferências, em que o orador parlamentar e o advogado se fundiam, na exteriorização do pensamento. Uma de suas mais significativas orações, dedicada ao vulto de Carvalho de Mendonça, um dos maiores comercialistas brasileiros, revela o seu pendor jurídico e o trato de um tema em que se sentia perfeitamente à vontade. Ao inaugurar-se o busto, em bronze, de Carvalho de Mendonça, oferecido ao Tribunal de Apelação do antigo Distrito Federal pelos advogados do Banco do Brasil, o Consultor Jurídico, Hugo Napoleão, assim se referiu à figura do sistematizador do Direito Comercial brasileiro: “Nós, os advogados do Banco do Brasil, tomamos a deliberação de oferecer a este egrégio Tribunal, por intermédio do seu eminente Presidente, o busto, que ora se inaugura, trabalhado em bronze pelo reputado escultor brasileiro Leão Veloso, e representativo da excelsa figura do Dr. José Xavier Carvalho de Mendonça que, por longos anos, prestou àquele estabelecimento de crédito os mais relevantes serviços, na qualidade de seu Consultor Jurídico. Em tão alto reconhecimento são tidos esses serviços pela Administração do Banco do Brasil, que seu eminente Presidente, Sr. Dr. João Marques dos Reis, jurista 73 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos como nós e emérito, tendo a justa compreensão do nosso desejo, perfilhou-o, tomando assim o encargo desta dádiva. Para nós, Sr. Presidente, este ato, expressando a manifestação pública do nosso reconhecimento e da nossa saudade pelo eminente Mestre, de quem recebemos, pessoal e diretamente, os esclarecidos ensinamentos, se constituem em motivo de grata satisfação. Para vós, Srs. Juízes, será, estamos certos, igualmente grato guardar o precioso bronze, que relembra o grande jurista, nas lições de quem, muitos dos julgados dos nossos Tribunais se inspiraram. Guardai, egrégio Tribunal, e guardai com carinho e veneração, porque ele, o sistematizador do Direito Comercial brasileiro, assim o merece e bem, e justamente. Sistematizador. Na realidade, o sistematizador do Direito Comercial brasileiro, esse trabalhador infatigável. A remota circunstância de se haver conservado, por longo tempo o Direito Comercial, como mero ramo do Direito Privado, mas sem disciplinação autônoma, e, mais, o fato de, só em época relativamente recente, se ter operado o desenvolvimento das nossas relações comerciais, determinou, entre nós, maior intensidade no estudo e maior aperfeiçoamento na disciplinação do Direito Civil, como aliás aconteceu por toda a parte, durante os séculos de efetiva dominação do Direito Romano. Daí e da necessidade de se disciplinarem, às pressas, as novas relações jurídicas que a rápida expansão da vida do comércio fez surgirem, nestas últimas décadas, resultou, com a modificação quase completa do nosso velho Código de 1850, o caos da nossa legislação ALUÍZIO NAPOLEÃO – 74 comercial constante de diplomas esparsos, fragmentados, sem orientação, sem unidade. No reinado dessa confusão, tortura do profissional de Direito, aparece o orientador, o disciplinador, o sistematizador – Carvalho de Mendonça – para juntar-se a outras glórias de nossas letras jurídicas, aos lineadores principais do Direito Brasileiro – Ramalho, Paula Batista, Pimenta Bueno, Teixeira de Freitas, Carlos de Carvalho, Tobias, Lafayete, Clóvis Bevilacqua, conforme já acentuou Spencer Vampré. E que trabalho beneditino! Do conhecedor universal da literatura jurídica comercial, do experiente advogado de bancos e empresas, do observador dos usos, costumes e praxes das Bolsas e associações, do crítico, dos julgados de todos ou quase todos os juízes e Tribunais brasileiros, do colecionador de avisos e regulamentos, do administrador, do antigo professor, do juiz, do grande estudioso e, sobretudo, do infatigável, do impertérrito trabalhador, de tudo isto quanto foi Carvalho de Mendonça, surgiu a disciplinação do nosso Direito Comercial consubstanciado do seu Tratado de Direito Comercial. O que acabo de dizer, vós o sabeis, de sobra, senhores, porque nenhum homem que viva da vida do Direito, no Brasil, poderá prescindir dos ensinamentos desse magnífico Tratado de Direito Comercial. Nem estou aqui para traçar a biografia ou fazer o estudo da grande obra, do grande jurisconsulto, que se estende à inspiração e à factura de muitas de nossas leis, como, por exemplo, o Decreto n° 2.044, de 31 de dezembro de 1908. Não será, porém, demais que acentue a forma 75 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos despretensiosa e inigualável por que ele trabalhou na construção do nosso Direito Comercial, criticando, com independência, o erro de uns, ou salientando o acerto de outros dos nossos julgados, mostrando vícios e defeitos da nossa legislação, profligando, com altivez, a ausência de nosso patriotismo, de técnica ou de conhecimento de alguns legisladores expondo com sabedoria, mas sem exibições inúteis de erudição as sãs doutrinas, confessando, sem constrangimento, os erros em que incidiu e, acima de tudo, com elevada preocupação de fazer obra brasileira, genuinamente brasileira. Ao lado de tão elevadas, raras e peregrinas qualidades de Carvalho de Mendonça, reveladas através das circunstâncias, tão ligeiramente apontadas, na feitura do seu Tratado ou nas manifestações da sua vida de jurista, desejo, finalizando esta breve oração, relembrar, senhores juízes, que a grande elevação com que exercitou ele a sua vida de advogado, observando com o mais estrito rigor e ética profissional, praticando a mais rigorosa honestidade, ora rejeitando o patrocínio de causas que julgava injustas, ou de direito precário, ora emitindo pareceres contra pretensões dos próprios constituintes ou consulentes, tornou-o, no exercício da sua profissão, não somente um perfeito advogado, mas, também, um juiz probo e reto. Recebei, por isso, sem rebuços, senhores desembargadores, o busto que lembra a sua excelsa figura. Recebei-o. Podeis recebê-lo sem constrangimento. A sua presença não deslustrará este recinto, nem molestará a dignidade da Justiça.” ALUÍZIO NAPOLEÃO – 76 PUBLICAÇÃO DE UM LIVRO DE PARECERES Coroou, assim, meu pai, o ciclo de conferências e discursos, naquele fim do ano de 1943, com um estudo sobre o patrono da Consultoria Jurídica, seu antecessor no cargo, falando em nome do corpo de advogados do Banco do Brasil. 1944 não decresceria na produção jurídica do então consultor. Pelo contrário. Iria ser um ano marcante, pela publicação do seu volume de Pareceres, em edição privada daquele estabelecimento de crédito. Nele, estão consubstanciadas as suas melhores produções jurídicas, numa seleção feita pelo próprio autor. Na sua seção “Livros e Autores”, O Globo, de 14 de dezembro de 1944, assim saudou o aparecimento do livro de Pareceres: “Hugo Napoleão é um nome bastante conhecido nos meios jurídicos do País. Primeiramente na Câmara dos Deputados, onde, como representante do Piauí, teve ensejo, quer nas comissões técnicas, quer em plenário, de versar os mais complexos problemas de Direito, e depois na advocacia e no Banco do Brasil, como consultor jurídico. Hugo Napoleão, pela sua inteligência e pela sua dedicação ao trabalho, firmou, entre os seus colegas, um conceito dos mais brilhantes e acatados. Ainda agora o Banco do Brasil vem de reunir em volume os pareceres emitidos pelo ilustre jurista, como chefe do Departamento do Contencioso e como consultor jurídico. É uma edição de caráter privado, porque se destina a uso exclusivo no nosso principal estabelecimento de crédito. Nem por isso, entretanto, de menor valia jurídica, tal a importância dos assuntos 77 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos abordados. Especialmente as questões de Direito Comercial e Cambial mereceram cuidadoso estudo do ex-parlamentar piauiense. São oitenta pareceres que revelam a inteligência e a cultura de seu autor e que muito contribuirão para facilitar a solução de problemas que objetiva e que são diariamente causa de demandas no Judiciário.” Meu pai teve o prazer de receber, nessa ocasião, palavras de estímulo e admiração de inúmeros amigos e de figuras exponenciais que lhe testemunharam o seu interesse pela leitura do seu livro de pareceres, entre os quais se encontram Francisco Morato, José Bonifácio de Andrade e Silva, Levi Carneiro, Alencastro Guimarães, Luís Galloti, Valdemar Ferreira, Ricardo Xavier da Silveira, Alcebíades Delamare, Gudesteu Pires, Negrão de Lima, Pedro Aleixo, Mário Acioly, Laudo de Camargo, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Barreto Filho, João Vicente Campos e Alberto Diniz. Dentre essas opiniões, destaco apenas a de um espírito brilhante de sua terra, de seu ex-secretário, o advogado piauiense Cláudio Pacheco, jovem jornalista e causídico de raro talento, que, em 14 de março, dizia, de Teresina, ao autor de Pareceres, sem dúvida na melhor e mais completa apreciação feita àquela obra, que tanto sensibilizou meu pai naquela ocasião: “Li atentamente todos os pareceres. Eu já conhecia muito dos pareceres que foram elaborados antes de 1933, quando o senhor os escrevia numa fase de intensas atividades. Mas em todos eles se mantém alto o nível de pensamento, de cultura e de forma. A clareza, a transparência de expressão e a capacidade de síntese foram sempre as melhores características de ALUÍZIO NAPOLEÃO – 78 sua inteligência e como que o predestinavam a ser um notável consultor jurídico. Por isto mesmo, pela projeção muito adequada daquelas qualidades mentais na elaboração de cada parecer, nota-se que cada trabalho tem a sua própria unidade, é completo e acabado no desenvolvimento da idéia principal. Em cada parecer, o pensamento como que realiza um ciclo completo. Também sobressaem outros aspectos qualitativos. Na conclusão de cada parecer nota-se aquele cunho próprio ao homem de ação, aos espíritos dominadores e ascendentes, que se revela na plasticidade das conclusões, na seleção do alvitre mais acertado e mais adaptável. Muitas vezes o ponto de vista jurídico comporta diversas soluções igualmente lícitas e aceitáveis, de modo que a escolha da solução mais profícua já não é mais uma função da cultura e sim um ato de intuição em que os homens de ação, pelo seu melhor conhecimento da realidade, sobrelevam os homens de gabinete. Salienta-se ainda nos pareceres a inteireza moral das convicções, a intransigência de opinar sobre a exclusiva inspiração da verdade jurídica, sem conveniências vacilantes e sem intenções de agrado. Com efeito, em nenhum dos pareceres se nota aquela argumentação artificiosa, aquele apego a fórmulas vazias e aquele malabarismo de idéias que, mesmo a despeito de um estilo brilhante ou do luxo de conhecimentos e citações, sempre revelam ao observador atento a trama de intuitos ou objetivos inconfessáveis. Por tudo isto é que eu disse que existe uma constante de elevação de nível em todos os pareceres. Estou fazendo assim uma apreciação geral, que comporta exceções num e noutro sentido: São naturalmente excluídos de comentário aqueles pareceres que, conforme explica o prefácio, “versando assuntos sem transcendência 79 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos ou sobre que não haja controvérsias”, são publicados apenas para utilidade interna do banco e que propriamente não se classificam como pareceres e sim como meras notas de orientação. Por outro lado, merecem apreciação destacada certos trabalhos que se elevam a maiores altitudes. Por exemplo: o Parecer n° 9, tratando da acumulação de percentagens do Diretor do Banco do Brasil, destaca-se de modo especial por ser um trabalho original, sem apoio ou inspiração em opiniões alheias, em que o pensamento do consultor se desenvolve livremente, com força penetrante, na exclusiva elaboração de convicções próprias. A respectiva conclusão é uma afirmação de princípios de moralidade e de predominância da via processual. O Parecer n° 23, tratando dos contratos de compra e venda entre ausentes, é um notável trabalho de doutrina jurídica e de argumentação aplicada, destacando-se ainda pela inteireza da conclusão. Recomendando o respeito ao direito de defesa e à liberdade de pensamento, o Parecer n° 30 reflete uma firmeza de convicções democráticas que antecipam as tendências atuais. O Parecer n° 74, que discute a estrutura jurídica do Banco do Brasil, além de ser um trabalho de fôlego, é um modelo daquela difícil operação mental que, partindo de ideais gerais, chega a conclusões concretas através de uma perfeita transição de raciocínio. Chego à conclusão final de que a sua função de consultor jurídico do Banco tem os requisitos de uma daquelas posições excepcionais em que um homem pode considerar que realizou integralmente as suas capacidades e pode considerar-se saciado e feliz. No nosso País, esta Consultoria é um dos supremos postos culturais. A maestria dos seus pareceres mostra que o senhor está, mental e culturalmente, à altura da ALUÍZIO NAPOLEÃO – 80 função, por mais alta que ela seja. Isto é saciante, venturoso, esta rara coincidência da capacidade do homem com a plenitude da posição atingida. Acho que somente os seus impulsos de homem de ação não se acham saturados, se é que a idade madura já não os refreou... Já que me estou dirigindo a um consultor, não quero terminar sem fazer-lhe também a minha consulta. Leio no prefácio que o volume de pareceres tem “o caráter de edição privada, destinada a uso exclusivo do estabelecimento” e me sinto em dúvida se me é permitido fazer citações dos pareceres em razões forenses ou mesmo publicar estas apreciações. Será que o caráter de edição privada exclui a posse do volume por pessoas estranhas ao banco, de modo que a remessa de um exemplar a mim foi apenas um ato de estima pessoal, sem me dar o direito de qualquer invocação profissional das autorizadas opiniões? Peço-lhe uma resposta que me resolva estas dúvidas.” Meu pai iria receber, sempre, desde a publicação de seus Pareceres, notícias de referências aos mesmos, de várias partes do País, em que advogados ou juízes consultavam aquela obra, o que lhe dera um real prazer. Recentemente ainda, o professor Simplício de Souza Mendes, seu colega na Faculdade de Direito do Recife, em artigo sobre Hugo Napoleão, publicado em jornal de Teresina, iria dizer: (...) “As relações jurídicas são consideradas e discutidas com a segurança, o saber e o mérito de um jurista, que realmente, com sentimento de justiça, não se pode negar ao autor.” 81 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos (...) DEFESA DA OPERAÇÃO PAN-AMERICANA O discurso no qual o Presidente Juscelino Kubitschek se dirigiu aos embaixadores dos paísesmembros da Organização dos Estados Americanos, acreditados no Rio de Janeiro, tivera profunda repercussão não somente no Brasil como, também, no exterior, pela política clara de combate ao subdesenvolvimento continental, que pregava, propondo a sua total revisão através do movimento a que chamou de Operação PanAmericana. Mais uma vez o Deputado Hugo Napoleão ocuparia a tribuna da Câmara dos Deputados para tecer comentários judiciosos sobre aquela operação de caráter continental e de larga envergadura, sendo dos primeiros, como já vimos, a apoiá-la publicamente, propondo, mais uma vez, a transcrição, nos Anais daquela Casa do Congresso, do importante discurso do Chefe da Nação, na sessão de 23 de junho de 1958: “Senhor Presidente, Senhores Deputados. Na qualidade de membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, sinto-me no dever de tecer algumas considerações sobre um documento da mais alta valia para os povos deste continente. Refiro-me, Senhor Presidente, à monumental oração pronunciada pelo Presidente Juscelino Kubitschek na memorável noite do dia 20 deste mês sobre a chamada “Operação PanAmericana”. Sua Excelência, com a clareza de suas frases simples, que toda a Nação já se acostumou a ouvir, traçou, de forma candente, os verdadeiros rumos de uma sadia política interamericana, cujos ALUÍZIO NAPOLEÃO fundamentos podem, inclusive, ser encontrados admirável doutrina do imortal Franklin Roosevelt. – 82 na Sensível a esses notórios prenúncios de desequilíbrio que vem ameaçando a unidade americana, o Presidente brasileiro vestiu-se da coragem que nunca lhe faltou e, no momento exato, com clarividência e oportunidade, apontou aos povos do hemisfério o mal de natureza grave que tem minado o organismo de nossas nações latinas e de que os mais recentes pruridos de agitação social são indiscutível sintoma: o subdesenvolvimento. Realmente, Senhor Presidente, a pobreza gera conflitos incontroláveis e cria perigos de conseqüências imprevisíveis, sobretudo quando o desespero de que é causa ameaça contaminar, senão empolgar uma nação inteira ou um grupo de nações, unidas no mesmo destino, vítimas do mesmo mal e filhas do mesmo ideal político, social e econômico. O Brasil, que começa de maneira fecunda, sob a dinâmica do Presidente Kubitschek, o ciclo de sua industrialização, tem o dever de convidar os seus irmãos da América para a revisão de uma política interamericana que não tem frutificado de modo promissor. É preciso voltar à política de boa vizinhança, praticada sob as mais nobres inspirações, a fim de que possamos, como dantes, proclamar com orgulho a pujança de nossa união perante o mundo. Só assim poderemos participar, com destaque, das assembleias que lutam por evitar o choque entre dois mundos que já tomam posição para um combate brutal das mais terríveis conseqüências. 83 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Neste sentido, as advertências do Presidente Juscelino Kubitschek valem como um programa quando diz: “A causa ocidental sofrerá incalculavelmente se lhe faltar apoio no próprio hemisfério em que o avanço do sistema materialista encontra resistências morais mais decididas.” (...) Palavras corajosas e cheias de entusiasmo, que merecem, por isso, a solidariedade continental. Definem uma doutrina e marcam o tônus do verdadeiro panamericanismo; pan-americanismo ativo e realista, nos moldes do que S. Exª vem praticando com os povos vizinhos. Bem haja o Chanceler Macedo Soares que, num esforço que tem comovido a Nação, superando-se a si mesmo, num desdobramento de ação deveras admirável, tem sabido, com sua experiência sedimentada em grandes trunfos diplomáticos e com seu devotamento inexcedível, cumprir o Programa Kubitschek para a América, baseado na mais íntima aproximação e entendimento entre os povos do continente. Bem haja o Presidente Juscelino Kubitschek, estadista de extraordinária visão, que, com seu memorável discurso, situou-se entre os maiores paladinos da Doutrina Pan-Americana, proclamando verdades que, como acentuou, “... precisam ser ditas e reconhecidas enquanto é tempo”, já que, ainda segundo as palavras magníficas de Sua Excelência, ALUÍZIO NAPOLEÃO “A união das Américas, além de imperativo da nossa sobrevivência.” um ideal, é – 84 um A franqueza, embora dura, evita desconfianças. Os povos irmãos saberão tomar as palavras do Presidente brasileiro como uma advertência amiga, como um caminho aberto para a consolidação da unidade continental, como a integração social nessa unidade continental. Assim como os Estados Unidos da América se tornaram, antes da Segunda Guerra Mundial, o arsenal das democracias, o nosso continente, nesta nova fase de incertezas universais, poderá ser convertido, com a execução da “Doutrina Kubitschek”, em laboratório criador da redenção econômica dos povos americanos. São esses os nossos votos; é essa a nossa esperança. Terminando, Sr. Presidente, solicito seja, na sua íntegra, transcrito, nos nossos Anais, o discurso do Senhor Presidente da República.” No dia 11 de julho de 1958, o Brigadeiro Francisco Correia de Melo, Ministro da Aeronáutica, procedeu à entrega, em reunião solene, da Medalha Santos Dumont a vários agraciados, especialmente congressistas, por decreto do Presidente da República, entre os quais se encontrava Hugo Napoleão. Dias depois, falando à Tribuna da Imprensa (17 de julho de 1958), o Deputado Hugo Napoleão desfazia dúvidas sobre a notícia de que as tropas brasileiras que seriam enviadas para a zona do canal de Suez poderiam ser empregadas na luta que se travara no Oriente Próximo, afirmando que, sem autorização do Congresso Nacional, as tropas brasileiras que policiavam aquela zona não poderiam ser empregadas naquele 85 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos conflito, acentuando que qualquer deslocamento dos nossos pracinhas devia ser motivo de estudo por parte dos congressistas. E acentuava: “A tropa do Brasil foi enviada à zona do canal de Suez numa missão específica, com objetivo determinado. Não creio que isso implique na nossa participação numa possível guerra armada. Não temos nenhum compromisso nesse sentido. A crise do Oriente Próximo é um fato novo.” Inquirido sobre se havia possibilidade de colaboração do Brasil com os Estados Unidos da América, afirmou o Deputado Hugo Napoleão: “Fizemos uma lei para que os pracinhas fossem para Suez. Qualquer alteração sob esse aspecto deve ser motivo de mensagem ao Executivo. Como membros do Legislativo nos falece competência para deliberar por iniciativa própria.” Os jornais, em agosto de 1958, anunciavam a intenção do líder da Oposição, Deputado Afonso Arinos, de ocupar novamente a tribuna da Câmara dos Deputados para analisar a Operação Pan-Americana e a visita do Secretário de Estado, John Foster Dulles, ao Brasil. Anunciavam, também, que aquele representante da UDN coligia dados e fazia anotações para servirem de base ao seu próximo discurso. Em vista disso, o Correio da Manhã, de 10 de agosto de 1958, já falava na futura resposta a ser dada, em nome da maioria: da “Para responder ao líder oposicionista, o líder Maioria, Deputado Armando Falcão, está cogitando ALUÍZIO NAPOLEÃO – 86 de delegar poderes ao vice-líder de sua bancada, Sr. Octacílio Negrão de Lima, que é irmão do Ministro das Relações Exteriores. Também, o Sr. Hugo Napoleão, que já foi presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e é reconhecida autoridade em direito internacional, será convocado pelo Sr. Armando Falcão, para colaborar na resposta que a Maioria oferecerá nos próximos dias ao discurso do líder oposicionista. A reabertura dos trabalhos da Câmara deverá oferecer, assim, debates acirrados entre Maioria e Oposição, ato que não ocorria há algumas semanas no Palácio Tiradentes.” Parece que o destino, com a sua mão mágica, havia determinado que o Deputado mineiro e o piauiense, velhos amigos e companheiros de trabalho de outros tempos, se defrontassem novamente, como que para manter, sempre que isso acontecia, quer em debates de política interna, quer em discussões de política externa, um ambiente de elevação e cultura que honravam as boas tradições da Casa do Congresso a que pertenciam. Os Deputados Afonso Arinos e Hugo Napoleão se defrontavam novamente, traçando normas em defesa dos pontos de vista da Oposição e do Governo. No dia 13 de agosto de 1958, o Correio da Manhã dizia que seria o Deputado Hugo Napoleão o representante da Maioria indicado para responder ao discurso do líder da Minoria, Deputado Afonso Arinos. O Sr. Hugo Napoleão, conforme antecipou o Correio da Manhã, foi designado pelo líder da Maioria para responder ao discurso de ontem do Sr. Afonso 87 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Arinos sobre a chamada “Operação Pan-Americana”, e a visita do Sr. Foster Dulles ao Brasil. O deputado piauiense vai demorar, entretanto, alguns dias para fazer seu discurso. Acha ele, como nos declarou, serem precisos alguns dias para apurar certos fatos mencionados pelo líder da Oposição. Para o Sr. Hugo Napoleão, o discurso do líder oposicionista foi mais literário do que político. Considera que nenhum fato novo de importância foi levantado. Por isso, supõe que sua tarefa será bem facilitada. A Resenha Política do Diário da Noite, de 18 de agosto de 1958, se referia já ao discurso que o Deputado Hugo Napoleão pretendia pronunciar: O Deputado Hugo Napoleão ocupará, na sessão de segunda-feira, a tribuna da Câmara para, em nome da Maioria parlamentar, oferecer resposta ao último discurso do Sr. Afonso Arinos referente à política exterior. O representante piauiense, na parte preliminar de sua fala, pretender formular a conceituação histórica do pan-americanismo, ressaltando as constantes dessa doutrina até os dias presentes, para chegar à conclusão de que a iniciativa do Presidente Juscelino Kubitschek se enquadra naqueles princípios. Na parte central de seu discurso, o Deputado Hugo Napoleão examinará, ponto por ponto, as afirmações do representante mineiro da Oposição, opondo-lhe as indispensáveis refutações e focalizando, em último lugar, os aspectos da participação do Congresso nos assuntos da política externa.” ALUÍZIO NAPOLEÃO – 88 O Correio da Manhã, de 17 de agosto de 1958, anunciava, também, com antecedência, o discurso que pronunciaria o representante piauiense comentando o interesse que o assunto despertava: “O Deputado Hugo Napoleão, do PSD piauiense, vai ocupar a tribuna da Câmara na sessão de amanhã, para fazer a defesa da “Operação PanAmericana”. A propósito, o representante pessedista afirmou-nos que iniciará sua oração fazendo um estudo do pan-americanismo, a fim de acentuar que a política preconizada pelo Senhor Juscelino Kubitscheck no hemisfério se ajusta às diretrizes históricas desse movimento. A seguir, refutará ponto por ponto, as críticas feitas no início da semana pelo líder da Oposição, mas deixará de lado as questões marginais focalizadas pelo líder oposicionista.” O Diário Carioca, de 17 de agosto de 1958, sob o título Defesa do Pan-Americanismo, alongou-se em considerações sobre o anunciado discurso do Deputado Hugo Napoleão, ao mesmo tempo em que se referia ao pedido de licença do Presidente Juscelino Kubitschek para visitar a Argentina, em vista do convite que lhe foi feito pelo Presidente Arturo Frondizi, dirigente da nação irmã: “Na mesma sessão da Câmara (amanhã) em que chegará a mensagem do Presidente da República, pedindo licença para ausentar-se do País, a fim de visitar a Argentina em outubro, o Deputado Hugo Napoleão responderá ao discurso do líder Afonso Arinos sobre as novas diretrizes da política externa brasileira. 89 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos O ex-Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados pretende, sobretudo, rebater as críticas da Oposição aos fundamentos e ao processo da Operação Pan-Americana, que é a dinâmica da Doutrina Kubitschek. A primeira parte do discurso do Sr. Hugo Napoleão constará de um histórico do pan-americanismo e da definição do seus pontos fundamentais. À luz desses elementos, o deputado pessedista provará que a política diplomática do Brasil, no continente, mantém-se fiel às suas raízes e coincide com os objetivos pan-americanistas que o Governo Kubitschek apenas pretende ver realizados com mais objetividade. O Sr. Hugo Napoleão antecipa que deixará sem comentários vários itens do discurso do Sr. Afonso Arinos, que fugiram do assunto a que se destinava, enveredando pelo campo da luta política interna. Pretende não sair do plano político internacional, e nesse plano dedicar-se ao capítulo da Operação Pan-Americana. A esse propósito, o ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores deseja revelar alguns resultados que comprovam, desde já, a acertada orientação da OPA. O pedido de licença do Presidente Kubitschek deverá ser votado por toda a semana entrante, provavelmente na sessão de quarta-feira. A Câmara tem estado sem número para deliberações, mas a liderança oposicionista já assegurou ao Deputado Armando Falcão que não fará objeções à viagem de JK, que considerou de simples cortesia ao país vizinho.” O Deputado Hugo Napoleão costumava dizer que esse seu discurso seria o seu canto de cisne, em vista de sua resolução de não concorrer à reeleição. ALUÍZIO NAPOLEÃO – 90 Nessa ocasião, além dos aborrecimentos motivados pelas últimas ocorrências políticas de sua terra, tinha um outro motivo sério para andar preocupado, ele que sempre foi um homem confiante, o que levava o Deputado Afonso Arinos, certa vez, como vimos, a dizer que seu colega via tudo com os olhos de Pangloss. É que, naquele momento, uma perspectiva sombria realmente enevoara o seu ânimo de lutador. Sofria de catarata nas duas vistas, menos numa do que na outra, o que o entristecia, não desejando entregar-se à realidade. Supusera, mesmo, a princípio, que estava perdendo a vista, pouco a pouco, chegando, certa vez, nas suas funções parlamentares, a necessitar ler um documento em plenário sem conseguir enxergar o que continha o papel que segurava nas mãos. Foi nesse momento que o Deputado Hugo Napoleão mais se aplicou, com apurado interesse, ao estudo do pan-americanismo, lançado pelo Presidente Juscelino Kubitschek. Os Deputados Afonso Arinos e Carlos Lacerda, Líderes da minoria e da UDN, cerrando ataque frontal combinado ao seu discurso, mal poderiam supor, naquele momento, o que se passava no íntimo do velho parlamentar. Com a sua juventude e ardor de moços não pouparam o orador que defendia a obra do governo. Confesso que, sem dizer a meu pai, fui ao Palácio Tiradentes, nesse dia, para ouvi-lo, colocando-me na tribuna dos fundos do plenário, de onde pude assistir ao torneio parlamentar que se realizava entre o orador e aquelas duas figuras vigorosas da Oposição. E fiquei orgulhoso de meu pai, que rugia como um leão acuado, toda vez em que os apartes dos dois adversários, como setas consecutivas, não cessavam e eram atiradas 91 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos contra o orador, que as devolvia, com o ardor de sua passada mocidade, animado, sem mesmo o sentir pelo seu velho espírito de luta. Creio que aquele foi o dia culminante de sua carreira política, em que qualquer piauiense se sentiria honrado de ver que era representado naquela Casa do Parlamento nacional por um digno representante de seu Estado. O discurso que proferia, as respostas aos apartes que lhe eram dados provocaram revide imediato do líder da Minoria, que seria, por sua vez, entrecortado pelos apartes do defensor do Governo. Aquele seria, realmente, o seu último discurso importante na Câmara dos Deputados, antes de seu afastamento político. Terminava o seu mandato como o iniciara, em plena luta parlamentar, na arena dos debates oratórios, naquela mesma Câmara dos Deputados em que estreara em sua mocidade, em 1927. Tinha 66 anos de idade e, apesar da fadiga física que já sentia, em conseqüência de sua vida de lutador perene, estava com a mente lúcida, o raciocínio claro, o pensamento lógico, como se verá pela oração que proferiu, a 18 de agosto de 1958, e as respostas que deu aos seus adversários políticos. (Anexo 37). ANEXO 37 (20) O SENHOR PRESIDENTE – Tem a palavra o Sr. Hugo Napoleão, por delegação do líder da maioria. (20) Transcrição parcial do Anexo 37, do livro UM LUTADOR HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF. ALUÍZIO NAPOLEÃO – 92 O Sr. HUGO NAPOLEÃO – Senhor Presidente e Senhores Deputados, no seu longo e bem elaborado discurso de terça-feira passada, aqui pronunciado, o meu ilustre colega e prezado amigo, Professor Afonso Arinos, focalizou, de início, a atuação de estadistas e diplomatas brasileiros nas fases por que tem passado o pan-americanismo. Desejo, também, inicialmente, referir-me à evolução da doutrina política, não para encará-la somente do ângulo brasileiro, pois o panamericanismo é um ideal dos povos americanos, expresso pela voz de vários estadistas, de vários países em várias ocasiões, mas, para frisar que, nas suas etapas, salientam-se duas constantes, dois aspectos invariáveis: a convivência amiga ou boa vizinhança, para usar a expressão do Tratado de 1750, e a união, a solidariedade para a defesa dos povos e das nações do continente. É evidente que outros fatores de ordem social, política, econômica e cultural, nos momentos propiciados, influíram na marcha do pan-americanismo, mas esses dois foram o móvel principal, a razão de ser, por assim dizer, dessa doutrina política, desses sistemas de vida dos povos do nosso continente. Na realidade, na primeira fase, se inicia com a ação de Alexandre de Gusmão e, ao meu ver, vai até a Conferência de Washington de 1889, fase que foi chamada de fase de esperança. O pan-americanismo nos seus primórdios se expressava no sentido do alheamento das colônias em relação aos conflitos ou guerras entre as metrópoles européias da Península Ibérica e no receio das ameaças imperialistas da Santa Aliança. Como é fácil de observar antes mesmo de constituídos em países soberanos e independentes, já havia a idéia de se unirem os povos 93 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos americanos para a defesa do seu todo. É que, desde então, estava percebida a verdade que, mais tarde, muito mais tarde a frase genial de Rui Barbosa vinha expressar: “A América não é um agregado eventual de grupos humanos, mas um todo providencial”. Na primeira fase vêem-se atitudes diversas, ora meramente pessoais ora de grupos de nações, no sentido dessa predominante de defesa. Entre aqueles se alinham as de John Adams, nos fins do século XVIII, a de George Washington, na sua mensagem de despedida ao Congresso Americano, em 1796, de Thomas Jefferson, Henry Clay, de José Bonifácio, em 1822, a de Bolívar, na sua célebre “carta profética”, avultando, entre todas a declaração de Monroe no sentido da solidariedade continental, que cem anos mais tarde, na Conferência de Havana, se transformou em preceito adotado por todas as nações do continente. Entre as últimas podem ser citadas a tentativa malograda da Confederação das Nações Americanas no Congresso do Panamá de 1826, o Congresso de Lima, de 1847, a Assembléia de Lima de 1869, e por fim a Conferência de Washington em 1889. Na segunda fase, que vai dessa Conferência de Washington até os nossos dias, na qual a doutrina pan-americana tomou corpo, se dilatou e se estruturou juridicamente, aquela defesa continuou sendo sua razão precípua, espécie de imperativo do destino alimentado pelo desenrolar natural ou extraordinário dos fatos históricos. Dentro dessa segunda fase de estruturação jurídica do pan-americanismo, consolidaram-se até a Segunda Guerra Mundial as normas para a solução pacífica dos conflitos e controvérsias, os direitos e deveres dos Estados, os direitos do homem, como personalidade ALUÍZIO NAPOLEÃO – 94 central do mundo jurídico em nossa organização democrática do Estado, cogitaram-se de processos e meios de cooperação para desenvolver as condições econômicas e sociais dos povos americanos, traçaram-se planos para estimular a construção de vias de comunicação, entre as diversas nações irmãs do Continente, fortaleceu-se, em suma, por todos os modos e meios o sentido da unidade, de fraternidade, de vinculação efetiva diante dos problemas comuns, relativos ao progresso e à defesa do hemisfério, visando a robustecer os princípios que regem a vida democrática, pela qual lutaram nossos libertadores, bem como as gerações que os sucederam. De fato, nem eles abriram mão nem nós abandonaremos jamais o estilo de vida que assegura a liberdade pessoal e a soberania de nossos povos. Todo esse trabalho de estreitamento de relações, e criação de elos jurídicos positivos, de estruturação de princípios foi obra de várias Conferências pan-americanas, em Washington, México, Rio de Janeiro, Santiago, Havana, Montevidéu e Lima, em algumas das quais o Sr. Afrânio de Melo Franco, pai do nobre colega Afonso Arinos, teve ação destacada. Mas a solidariedade continental, esse sentimento de destino comum, de uns pelos outros, de unificação de esforços pela sobrevivência do conjunto americano, de luta pela defesa do “todo providencial”, da frase de Rui, essa solidariedade continental, em face do perigo de conflito mundial, teve seu início de corporificação, na famosa Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, de Buenos Aires, em 1936, reunida por iniciativa de Roosevelt. Nela se estabeleceu o sistema de consulta entre os países do Continente, diante de fatos graves, para a comunidade americana. Esse instrumento de ação 95 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos foi a mola de novos entendimentos para a defesa do hemisfério, com as reuniões dos Ministros das Relações Exteriores no Panamá, Havana e Rio de Janeiro, esta logo após Pearl Harbour. Essas reuniões se constituíram em marcos decisivos nos entendimentos pela defesa comum, pois delas resultou a solidariedade ampla firmada em compromissos, livremente assumidos, que passaram a prevalecer como princípios assentados na ordem jurídica pan-americana. A neutralidade dos países do hemisfério diante da agressão contra um deles foi afastada, alinhando-se eles ao lado do agredido. Estava vitoriosa a tese antes defendida em algumas conferências pan-americanas, de que o ataque contra uma nação americana deveria ser considerado como ataque a todas. Estava consagrada a idéia de que todo o Continente Americano deve ser defendido em conjunto, para maior e pela garantia particular de cada um dos seus componentes. E o pan-americanismo segue, aprimorando-se, logo após a guerra de 1945, decidiu-se, em Chapultepec, dar estrutura jurídica definitiva à associação dos países americanos, iniciada de forma efetiva em 1889, bem como elaborar um instrumento que fixasse normas amplas para a defesa dos países continentais. O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, firmado no Rio de Janeiro, em 1947, corporificou essas normas. A Conferência de Bogotá, de 1948, onde o eminente chanceler João Neves da Fontoura teve ação decisiva e brilhante, realizou o anseio de dar ao Pan-americanismo a sua completa estruturação jurídica, criando a Organização dos Estados Americanos, com sua Carta e seus órgãos de ação. ALUÍZIO NAPOLEÃO – 96 Assentada assim a formulação jurídica para a defesa comum diante de agressores externos ou mesmo internos, questão vital para a soberania e sobrevivência de cada país continental, avultaram desde logo os problemas igualmente ligados à soberania e sobrevivência, ou sejam os relativos a questões econômicas e sociais. Sobretudo nesse segundo após guerra preocupam-se os países americanos com os graves aspectos do subdesenvolvimento neles existentes. Diversas iniciativas foram aviltradas, inclusive a da criação de um banco, fundo, ou que nome possa ter, para aliviar o progresso de áreas de intenso pauperismo no hemisfério. Essa necessidade de vivificar a economia americana em geral, de aumentar o volume e a troca de riqueza, de estimular o trabalho, de fomentar a construção de obras de serviço público, de acelerar a expansão de indústrias-base, enfim, de criar fontes novas destinadas a assegurar a elevação dos níveis de vida das populações americanas, passou a ter um sentido não somente estritamente econômico e social, mas configurou-se, também, como medida de estratégia defensiva, pois que o regime democrático não vencera o da opressão, o Ocidente não superará o Oriente pela simples força dos argumentos, mas pelo florescimento de suas fontes de recursos, de atividade, de iniciativa destinada ao enriquecimento geral dos povos, proporcionando um bem-estar, um nível de vida, uma difusão de cultura que tornem o homem um decidido defensor do seu sistema de vida, sistema filosófico de vida, de regime de liberdade e democracia em que vive, e, portanto, do seu país e da sua comunidade americana. 97 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos E os países do hemisfério, concentrados no esforço à procura de meios para esses fins, não descuidaram de fundar, dentro da Organização dos Estados Americanos, um órgão que realizasse estudos naquele sentido, que apresentasse trabalhos e sugestões para o desenvolvimento econômico das Américas. Muito já se tem produzido, nesses últimos anos, o Conselho Interamericano Econômico e Social, embora muitas críticas lhe tenham sido feitas quanto ao rendimento de sua operosidade, diante dos trabalhos do órgão simular das Nações Unidas, a CEPAL (Comissão Econômica e Social para América Latina)¸ com sede em Santiago. O pan-americanismo, assim transformado em sistema político-jurídico, reclama, nos nossos dias, repita-se mais uma vez, novos meios de defesa, através da superação do subdesenvolvimento de que ainda sofrem alguns países do nosso hemisfério, para a manutenção dos princípios que ele pan-americanismo encerra. Daí a iniciativa da Operação Pan-Americana, sugerida, pelo eminente Presidente Juscelino Kubitscheck, que vai, sem dúvida, se constituir em novo marco, em início de nova fase do pan-americanismo. Sr. Presidente, na realidade, ninguém ignora que o mundo está hoje dividido em duas porções, em dois blocos, que se separam em opostas concepções, opostos sistemas de vida, opostas doutrinas políticas. Um, aquele em que nos incluímos, vivendo sob regime democrático, assegurando o exercício, o gozo de todas as liberdades humanas. O outro, o oriental, vivendo sob regime de força e proscrevendo aquelas liberdades. Este, procurando expandir-se, procurando avassalar todas as regiões do globo com a imposição dos seus métodos de vida, a sua doutrina, o seu sistema político. Daí, a ALUÍZIO NAPOLEÃO – 98 ameaça que paira sobre nós, daí a necessidade de novos meios de defesa para a integridade física, política e social do nosso continente, fundamento precípuo do panamericanismo. Essa defesa, porém, não será possível, nem eficaz, se a grande maioria das nações continentais continuarem em estado de subdesenvolvimento. Foi isso que lhe inspirou a iniciativa da chamada “Operação Pan-Americana”, consubstanciado na carta dirigida ao Presidente Eisenhower e no seu memorável discurso de 20 de junho. (...) Estou convencido, Sr. Presidente, que essas iniciativas do Sr. Presidente Juscelino Kubitschek alça a política externa do Brasil àquele ideal que para ela reclama o nobre líder da minoria. Na verdade, de tudo quanto se pode desejar como necessário à atuação do Brasil na vida internacional do Continente está compreendida na iniciativa do Governo brasileiro: a luta contra o subdesenvolvimento econômico, o interesse das Américas de se prepararem para a eventualidade de um conflito entre as duas forças, em que se divide o mundo, o sentimento cristão em face das forças materialistas, a necessidade de progresso dos povos do hemisfério, a clara concepção de defesa nacional, de necessidade da união efetiva dos povos americanos. (...) O Sr. HUGO NAPOLEÃO – Esse aspecto, sem a menor importância, a que V.Exª se referiu, nada tem em si com a organização pan-americana. É um assunto ao qual V.Exª está querendo dar, neste momento, importância, que, na realidade, não tem. 99 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos O Sr. Presidente da República, na sua entrevista ao New York Times, declarou que “o que o Brasil fez foi colocar, perante a opinião pública das Américas, um problema delicado, que deve ser definido, analisado e estudado em profundidade”. Tudo quanto propôs o Governo brasileiro foi que os países americanos se reunissem e se consultassem sobre assunto de interesse comum, em torno do combate ao subdesenvolvimento, para aumentar seus recursos de defesa. Que forma outra poderia ser dada ao encaminhamento inicial de uma simples sugestão? Tomada em consideração, aceita e aplaudida, como já o foi, será, conforme já ficou alvitrado na Declaração de Brasília, levada a estudo e discussão da Organização dos Estados Americanos. Cabe, aqui, Senhor Presidente, consignar fatos da ação diplomática brasileira que, se não se constituem propriamente em preliminares da Operação Pan-Americana, propiciaram, todavia, uma melhor auscultação dos problemas americanos e determinaram, em maior escala, maior aproximação do Brasil com as repúblicas sulamericanas, bem como a prática da verdadeira, da real política de boa vizinhança, já não somente daquela boa vizinhança de Alexandre de Gusmão, mas a daquela boa vizinhança, traduzida em efetiva colaboração econômica, ajuda recíproca e cooperação para resolver problemas fundamentais nossos e dos outros países, preconizada por Franklin Roosevelt, isto é, boa vizinhança com interdependências. Refiro-me, Senhor Presidente, em primeiro lugar, às repetidas visitas do eminente Chanceler Macedo Soares, o insigne Mediador ALUÍZIO NAPOLEÃO – 100 da Paz do Chaco, a países americanos. Refiro-me, ainda, e principalmente, aos tratados que celebramos com a Bolívia e o Paraguai, em conseqüência dos quais temos propiciado a estes países a remoção das dificuldades que lhes resultam da sua insularidade mediterrânea, trazendo-os ao oceano Atlântico. (...) O Sr. HUGO NAPOLEÃO – (...) Conforme tenho dito e redito, não sou um espírito empedernido, não podendo, por isso, ser infenso à evolução das ciências, das artes ou de qualquer ramo do conhecimento ou da atividade humana. No campo do Direito, especialmente, sou adepto do conceito de Rippert quando, no seu magnífico livro As Forças Criadoras do Direito, diz: “Mas o jurista que denuncia o atraso, o envelhecimento de certas regras e propõe outras, não tem o objetivo de abalar o estatismo do direito.” Para ele, o espírito de reforma se concilia perfeitamente com o espírito de conservação. Fazer reparo num edifício velho, é impedir o risco de desabamento. A adaptação de regras antigas a novas situações é uma forma feliz da conservação. Admito, como não podia deixar de admitir, as modificações, as reformas, as transformações do Direito, pois que deve ele obedecer à evolução dos fatos sociais, da estrutura da sociedade, cuja vida, cujo modo de condução ele disciplina. Mas, daí até achar que a lei, especialmente a lei das leis, a Constituição, possa ser relegada, descumprida, ao talante de opiniões, de doutrinas, que por vezes não refletem necessidades sociais sentidas, a distância é muito grande. Neste caso a reparação, em vez de conservar, destruiria o edifício. Não estou longe 101 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos de admitir que o Congresso de hoje, como o nosso, penetrado da vontade popular, na frase do nobre colega Afonso Arinos, deve exercer maior colaboração no desenvolvimento da política externa. Mas modus in rebus. Poderemos chegar a isso, não transformando-o em agente diplomático, não erigindo-o em diretor e executor da política externa, o que iria ferir a independência dos poderes constitucionais. Poderemos chegar lá, isto é, à colaboração no desenvolvimento da política externa, mas, dentro de certos limites, de forma a não exercermos atos de execução. Poderemos lá chegar, mas, pelos meios regulares, ela reforma da Constituição, que, no momento, atribui ao Chefe do Poder Executivo a orientação, a direção da política externa. Nesse particular da intromissão do Congresso em assuntos de política externa, além dos limites da sua competência constitucional, ou ferindo aquele princípio fundamental da independência dos poderes, prefiro continuar como estudante respeitador do direito constituído, em vez de professor de jure constituendo. (...) O Sr. HUGO NAPOLEÃO – É possível. Sr. Presidente, finalizando: A Constituição é contrária à intromissão Congresso na direção da política externa. do Sr. Presidente, conforme já acentuou o meu nobre amigo Sr. Afonso Arinos, quando aqui contendemos a respeito da tese da união nacional, eu sou um otimista. Continuo otimista em relação ao Brasil. Sou – 102 êxito da ALUÍZIO NAPOLEÃO também otimista em relação Operação Pan-Americana. ao completo Se Deus inspirar e abençoar a ação dos homens de governo na conjugação de esforços das nações americanas pela efetivação da Operação Pan-Americana, o bem-estar social, a segurança e a alegria de viver se instalarão nas Américas e a paz, talvez, venha a reinar no Mundo. (Muito bem! Muito bem! Palmas. O orador é cumprimentado.) (...) O Deputado Hugo Napoleão, no exercício de suas funções parlamentares, e nas atividades políticas nunca emprestou à sua atuação política partidária, o caráter de inimizade aos adversários. Sempre cultivou as melhores amizades com os elementos políticos das hostes adversas às suas. Através das vicissitudes e mudanças políticas do País, como o desaparecimento e a formação de novas agremiações, teve, em seus adversários, muitos dos seus melhores amigos pessoais, o que nunca contribuiu para que deixasse de bater-se leal e demoradamente pelos seus pontos de vista do seu partido, com todo o ardor de que era capaz, saindo sempre, respeitado pelos homens de responsabilidade dos partidos contrários. (21) (21) ALUÍZIO NAPOLEÃO, embaixador da República – Um Lutador Hugo Napoleão e Sua Época, pp. 265, 266, 267, 268, 691, 692, 693, 694, 695, 270, 695, 696, 697, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278, 478, 488, 489, 490, 491, 492, 493, 751, 752, 753, 754, 755, 756, 760, 761, 766, 770, 494 – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF. 103 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Vale ressaltar alguns retratos que constam da Iconografia da obra UM LUTADOR HUGO NAPOLEÃO E SUA ÉPOCA, de ALUÍZIO NAPOLEÃO: Deputado Hugo Napoleão, em palestra com o Presidente Antônio Carlos, em 1935, sobre a escolha do Líder da Maioria da Câmara dos Deputados. Hugo Napoleão em São Paulo (1943), discursando no batismo de aviões oferecidos pelo Banco do Brasil ao Aeroclube de São Paulo, vendo-se, ao seu lado, o jornalista Assis Chateaubriand, incentivador do desenvolvimento da aviação no Brasil. Hugo Napoleão com a família de Carvalho de Mendonça, ao ser inaugurado, no Palácio da Justiça, o busto daquele Jurisconsulto, em 1943, cerimônia de que foi o orador. O Deputado Hugo Napoleão saúda o Governador de Minas Gerais então candidato do PSD à Presidência da República, em fevereiro de 1955, no início de sua campanha política. Veem–se no palanque armando no Palácio de Karnak em Teresina, entre outros, o Governador Pedro Freitas, o Governador eleito Gayoso e Almendra e os Senadores Magalhães Barata e Vitorino Freire. O Presidente JK recebendo, no Palácio do Catete, o Arcebispo de Teresina, Dom Avelar Brandão, e os Deputados Hugo Napoleão e Sigefredo Pacheco, do Piauí (década de 50). Hugo Napoleão profere o discurso de despedida, em 1954, do Banco do Brasil, na solenidade de inauguração do retrato no Departamento do Contencioso do Banco do Brasil. ALUÍZIO NAPOLEÃO – 104 Fotografia da delegação brasileira à Conferência Econômica Internacional de Rye, Nova Iorque (1944). Da esquerda para a direita: Mariano Ferraz, Luís Dodsworth Martins, João Daudt de Oliveira (Chefe), Euvaldo Lodi, Artur Lacerda Pinheiro, Alberto S. Oliveira e Hugo Napoleão. O deputado Hugo Napoleão, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e o seu filho, então ministro Aluízio Napoleão, chefe do cerimonial da Presidência da República. Fotografia feita na Academia Brasileira de Letras, na posse do escritor Álvaro Lins, então chefe do Gabinete Civil do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (Década de 50). O então Ministro das Relações Exteriores, José Carlos de Macedo Soares, ao ser recebido na Comissão de Diplomacia e Tratados da Câmara dos Deputados, pelo seu Presidente, Deputado Hugo Napoleão (1957). DADOS BIOGRÁFICOS Aluízio Napoleão de Freitas Rêgo nasceu em Belém, Estado do Pará, em 20 de novembro de 1914, sendo seus pais Hugo Napoleão do Rêgo e Matilde de Freitas Rêgo. (...) Removido para a Embaixada do Brasil em Paris, onde exerceu as funções de Primeiro Secretário (1951/1953) (...) Conselheiro das Embaixadas do Brasil em Paris (1953) e Ancara (1954/1955). (...) Promovido, por merecimento, a Ministro de 1ª classe (1960) (...) Embaixador do Brasil em Teerã (1961/1969) (...) Embaixador do Brasil em Estocolmo (1969/1975) (...) Embaixador do Brasil em Pequim (1975). Eleito membro da Academia Piauiense de Letras (1983) 105 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos SÉRGIO DARCY E A ESTRELA SOLITÁRIA SÉRGIO DARCY Presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963) Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1963 / 1966) FERNANDO PINHEIRO Presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil 1995 / 1998 – 2001, 2004 / 2007-2010 Nos idos de 1963, Ney Neves Galvão, presidente do Banco do Brasil, nomeou o advogado Sérgio Darcy para o cargo de consultor jurídico, em substituição de João Neves da Fontoura, falecido em março daquele ano. Ainda em 1963, Sérgio Darcy assumia, pela segunda vez, a Presidência do Botafogo de Futebol e Regatas. FERNANDO PINHEIRO – 106 A trajetória profissional de Sérgio Darcy começou nos idos de 1925, quando James Darcy, que dirigiu os destinos do Banco do Brasil (2/1/1925 a 16/11/1926), o nomeou secretário particular do presidente. Antes de prestar homenagem ao consultor jurídico, fazemos uma retrospectiva da vida de James Darcy, pai de nosso homenageado. Dos 27 aos 31 anos de idade, exerceu mandato de deputado federal, representando o Rio Grande do Sul. Retirando-se da política, manteve advogado. Por longo período, foi consultor Associação Comercial do Rio de Janeiro. No Epitácio Pessoa, o advogado James Darcy funções de Consultor Geral da Presidência da banca de jurídico da governo de assume as República. Nos idos de 1921, ao ensejo da realização do 4° Centenário de Morte de Dante Alighieri, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, profere palestra sobre a vida e a obra do autor da Divina Comédia, na presença do Corpo Diplomático e do presidente Epitácio Pessoa . Herdado do pai o mesmo amor às causas nobres, Sérgio Darcy demonstrou respeito e dignidade à frente da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil. Anteriormente, assumiu a direção do Departamento do Contencioso. E, contando o tempo de exercício, foram 4 décadas servindo ao Banco do Brasil. O primeiro funcionário de carreira a exercer as funções de consultor jurídico. 107 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Com os méritos reconhecidos pelo Banco do Brasil, antes da posse na Consultoria Jurídica, Sérgio Darcy foi homenageado no banquete de gala realizado, em 26/4/1963, no salão nobre do Clube Comercial. O advogado Armando Serzedelo Corrêa, em nome da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, usou a palavra para enaltecer, com viva emoção, o pensamento de seus companheiros de trabalho. Por sua vez, Munir Hellayel, advogado do Departamento do Contencioso, proferiu brilhante discurso, a respeito da personalidade marcante e da carreira profissional de Sérgio Darcy, destacando a justiça de que se revestiu a nomeação do homenageado para o cargo de consultor jurídico do Banco do Brasil. Na ocasião, fizeram ainda o uso da palavra o desembargador Eduardo Espínola Filho, Astolpho Dutra Niccacio, diretor da Caixa Econômica do Rio de Janeiro, e Arthur Martins Sampaio, chefe do Departamento do Contencioso do Banco do Brasil. Por último, o ilustre homenageado proferiu, de improviso, um discurso agradecendo, bastante emocionado, a homenagem recebida dos seus amigos e colegas de trabalho, classificando o encontro de “uma festa do coração e da inteligência”. No período de 1963 a 1966, Sérgio Darcy exerceu as funções de consultor jurídico do Banco do Brasil, sendo substituído pelo não menos ilustre advogado Martins Napoleão que, sua vez, nos idos de 1977, foi substituído por José Augusto Moreira Guimarães. quando Na agitada seara dos esportes, Sérgio Darcy, jovem, participou de competições de remo no FERNANDO PINHEIRO – 108 Clube de Regatas Guanabara e chegou a ser campeão, nessa modalidade, no extinto Clube de Regatas Botafogo. Quando era presidente do clube do Botafogo, nos idos de 1937, mandou derrubar a arquibancada de madeira, fazendo erguer a de cimento, construída com dinheiro arrecadado da famosa campanha de um saco de cimento. O engenheiro Rafael Galvão foi o autor do projeto executado pela firma Cavalcanti, Junqueira & Cia. Naquela época, corria a notícia: “o Estádio do Botafogo é o mais bonito do Brasil”. Ao ser reconduzido à Presidência do Botafogo, Sérgio Darcy, nos idos de 1963, sucedendo ao presidente Paulo Azeredo, contratou o técnico de futebol Danilo Alvim. O Jornal do Brasil (10/4/1963), fez a cobertura da contratação e publicou a foto do técnico, ladeado por Renato Estelita, diretor de futebol, e pelo nosso ilustre homenageado. Médico auxiliar do Dr. Costa Cruz, fazia parte da Comissão Técnica, o Dr. Lídio Toledo que, durante muitos anos, veio a ser o médico da seleção brasileira. Naquela época, como nos dias de hoje, o Botafogo de Futebol possuía jogadores de nível de seleção brasileira. Vale destacar a presença de craques, consagrados não apenas nos campeonatos cariocas e brasileiros, mas em competições mundiais: Manga (goleiro), Nilton Santos, Amoroso, Gérson, Didi, Amarildo, Zagallo, Quarentinha, Garrinha e Jairzinho. Ainda nos idos de 1963, precisamente no dia 21 de abril, foram abertos, na cidade de São Paulo, os IV Jogos Pan-Americanos, com a presença do governador Adhemar de Barros. É bom ressaltar a conquista da medalha de ouro pela tenista brasileira Maria Esther Bueno. Nesse Pan-Americano, o Botafogo emprestou à 109 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos seleção brasileira os jogadores Hélio Dias de Oliveira (goleiro) e Jair Ventura Filho – Jairzinho – (ponta-direita), tri-campeão carioca de juvenis. Ambos foram consagrados campeões dos IV Jogos Pan-Americanos. O jornalista Júlio Delamare fez a cobertura dos jogos para O Globo. O Presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos era João Havelange, um dos nomes mais respeitáveis no cenário esportivo mundial, que iria, mais tarde, presidir a FIFA e divulgar o futebol, hoje o esporte mais conhecido no mundo, graças á atuação brilhante do ilustre brasileiro. Maio de 1963 é o mês de luto para o Brasil. No segundo dia, o desastre com o avião Convair da Cruzeiro do Sul fez 37 vítimas. Perdendo o avião de carreira, o deputado federal Miguel Bahury (PSP/MA), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Segurança de Vôo, na Câmara dos Deputados, não escapa do destino fatal. No Aeroporto de Congonhas, embarca num bimotor e morre nos destroços do avião que caiu no bairro Jabaquara, na capital paulista. O círculo de tragédia da família Bahury se fecha. A precisão do tempo é estarrecedor. Há 3 anos, na mesma hora de uma sexta-feira, morria a querida esposa do deputado maranhense. Na iconografia dos fatos, a Revista O Cruzeiro, edição de 03/05/1963, publica a foto de Bahuri, numa lancha, perto da cabeceira da pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em busca desesperada do corpo da mulher amada. Ainda em maio de 1963, outro desastre aéreo no Brasil. No interior do Rio Grande do Sul, um avião Cessna cai e tira de cena a atuação de Fernando Ferrari, em plena campanha presidencial. Velado em FERNANDO PINHEIRO – 110 ambiente suntuoso, primeiro no Palácio Piratini, em Porto Alegre, e depois no Palácio Tiradentes, Rio de Janeiro, o deputado gaúcho fez comover em prantos a nação inteira. Ainda hoje é amado e sempre relembrado, com viva emoção. Vale continuar destacando a presença de Sérgio Darcy à frente dos destinos do Botafogo, no meio da turbulência nacional: desastres aéreos, crise econômica, crise social e crise política. No dia 15 de junho de 1963, o Botafogo é manchete de jornais, no Estado da Guanabara: “Botafogo vence aqui e em Paris – Tricampeão de juvenis e campeão do Torneio de Paris.” O Jornal do Commercio comenta ainda a atuação do time alvinegro, na vitória sobre o Racing (3 x 2), no Parc des Princes, consagrando-se campeão do Torneio de Paris, “em partida das mais sensacionais até hoje realizadas naquela cidade”. Em 30/6/1963, sob a presidência do Dr. Sérgio Darcy, o Botafogo fez sua estréia na Taça Libertadores das Américas, derrotando o Alianza, campeão peruano, com o placar de 1 x 0, gol do médio-apoiador Elton, sob a arbitragem do juiz argentino José Luiz Pradante. O clube alvinegro atuou com a seguinte escalação: Manga, Paulistinha, Nagel, Nilton Santos, Rildo, Elton, Zagallo, Garrinha, Jair, Amarildo e Othon. No dia 04 de julho, o Botafogo alcançou outra vitória, em Lima, no Estádio Nacional, ganhando o Sporting Cristal, dirigido pelo técnico Didi, campeão mundial de futebol, pela contagem de 3 a 1. 111 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Antes daquela partida, Didi queria jogar contra o Botafogo, e pediu autorização ao chefe da delegação alvinegra, Renato Estelita, que, por sua vez, telefonou ao presidente Sérgio Darcy a respeito da idéia. A resposta foi negativa. No entanto, o jogador Didi poderia atuar, se assim desejasse, na partida, como jogador do Botafogo. A realidade é que Didi entrou em campo na condição de técnico do time peruano. Preservando a memória consagrada, como um dos ícones do futebol brasileiro, no passado, o nome Didi, atualmente, é designado em homenagem a um dos mais conhecidos parques esportivos no bairro Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro. Retomando a narrativa da excursão do Botafogo: com o placar de 2 x 0, mais uma vitória alvinegra pela Taça Libertadores das Américas derrotando o clube Milionários, em Lima, no dia 07 de julho de 1963. Na página esportiva de O Globo, edição de 16/07/1963 – Amarildo cedido afinal ao Milan – O Dr. Sérgio Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, em reunião com o representante do Milan, da Itália, Sr. Rodolfo Rechi e o procurador do jogador Amarildo, Sr. Noel Guimarães, concordou em ceder o passe do jogador alvinegro para o clube italiano, mediante o recebimento de 400.000 dólares, por um contrato de 3 anos. Na declaração aos jornalistas, Sérgio Darcy revelou que o Botafogo não estava interessado em desfazer-se de nenhum de seus jogadores. Mas recebeu carta de Amarildo pedindo ao clube facilitar a ida dele para o Milan. Diante das circunstâncias, o Botafogo FERNANDO PINHEIRO não poderia Itália. cobrir o que o jogador iria – 112 receber na A manchete do Jornal do Brasil (01/08/1963) destaca: Amarildo embarca com o pedido de CL para não ensinar o pulo do gato. O JB comentou que o jogador do Botafogo, ao embarcar, no Aeroporto do Galeão, em companhia de suas irmãs Nicéia e Maria do Carmo, e de Rodolfo Rechi, encontrou-se com o governador Carlos Lacerda que estava aguardando a chegada da escritora francesa Suzanne Labin. e o ouviu a recomendação de “mostrar todo seu futebol aos italianos, mas não ensinar-lhes o pulo do gato.” Amarildo estava muito satisfeito da vida porque, além do contrato assinado, recebeu do Botafogo 10 mil dólares extras, no almoço de despedida em que foi homenageado pelo clube. Muito emocionado, chorou e fez outros jogadores presentes chorarem. Neste gesto, o presidente Sérgio Darcy demonstrou, mais uma vez, o valor de ser justo para quem prestou relevantes serviços ao clube. Quanta dignidade num homem só! Com bastante dinheiro obtido pela venda do jogador Amarildo para o Milan, da Itália, o Botafogo de Futebol e Regatas adquire o passe do jogador Gérson comprado do Flamengo. A transação foi realizada, às 14h:00min do dia 17 de setembro de 1963, dentro da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, onde o consultor jurídico Sérgio Darcy, na qualidade de presidente do Botafogo, assinou um cheque nominal no valor de Cr$ 150 milhões, entregue a Fadel Fadel, presidente do Flamengo. Foi, sem dúvida, a maior negociação efetuada, até então, entre clubes brasileiros. 113 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos No contrato assinado, conforme divulgado pela imprensa, foi estabelecido ao jogador Gérson o pagamento de Cr$ 10 milhões de luvas e Cr$ 150 mil mensais por 2 anos. Tempos depois, Gérson viria a ser comentarista da Rádio Globo, valorizando as transmissões de futebol. Nesse mesmo dia (17/09/1963), dois fatos importantes aconteceram na Guanabara, Estado governado por Carlos Lacerda: a inauguração da primeira das 2 pistas do aterro do Flamengo e a apresentação do cantor americano Ray Charles, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A atuação do Botafogo de Futebol e Regatas, que se desenrolava no meio do Campeonato Carioca do ano de 1963, foi comentada por Renato Estelita, diretor de Futebol, justificando “se o time ainda não tem um bom ataque é porque não foi possível, em curto prazo, preencher os lugares deixados pelos atacantes que foram, teoricamente, os melhores” (JB 01/11/1963). O dirigente alvinegro estava fazendo referência aos jogadores Didi, que foi transferido para o futebol peruano, e ao Amarildo para a Itália, e à contusão de Garrincha, impossibilitado de voltar, em curto prazo, aos gramados. Observamos que, meses antes da declaração do Sr. Renato Estelita, realmente o clube tinha o melhor ataque do mundo, com a presença de 3 bicampeões mundiais: Didi, Amarildo e Zagalo e, ainda, a participação de Quarentinha, o artilheiro do Botafogo, de ontem e de hoje, que jogou pela seleção brasileira. Estelita, mesmo últimos jogador Dias depois da declaração do dirigente Renato o Botafogo mudou de técnico. Saiu Danilo Alvim, prestigiado pela Diretoria, mas sem sorte nos resultados dos jogos, e entrou Paraguaio, antigo do clube. FERNANDO PINHEIRO – 114 No dia 05/11/1963, o presidente Sérgio Darcy, sempre elegante, trajando terno, apresenta aos jogadores, que estão de uniforme do clube, no meio do campo, o novo técnico de futebol. Suas palavras explicam porque o Botafogo trocou de técnico, permanecendo a mesma disposição para conquista do tricampeonato e pediu o máximo apoio ao Paraguaio.. Dias depois, o time teve excelente atuação em campo e a imprensa comenta: “Botafogo mostrou pela primeira vez astúcia e categoria de bicampeão.” (JB – 09/11/1963). Apesar do sucesso momentâneo, o time não conseguiu conquistar o campeonato. O campeão carioca de 1963 foi o Flamengo. Em 16/11/1963, houve eleição para a nova Diretoria do Botafogo. O Sr. Nei Cidade Palmeiro, juiz de Direito e professor do Colégio D. Pedro II, foi eleito presidente. Na solenidade de transmissão de cargo de presidente do clube, realizada em 03/01/1964, o nosso homenageado se despedia, com um discurso bastante aplaudido, na presença de inúmeras autoridades ligadas ao mundo dos esportes, destacando-se João Havelange, presidente da CBD – Confederação Brasileira de Desportos, e Antônio do Passo, presidente da Federação Carioca de Futebol. Ainda como presidente do Botafogo, Sérgio Darcy, viu coroados de êxito, para gáudio nosso, no recinto esportivo do Banco do Brasil, a AABB – Rio de Janeiro vencer a Hebraica, em 28/12/1963, conquistando o campeonato carioca de voleibol masculino. Segundo o 115 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Jornal do Commercio, Nuzman foi o jogador mais destacado da partida. Dentre as atuações de Carlos Arthur Nuzman, como atleta da seleção brasileira de vôlei, destaca-se o Campeonato Mundial, realizado em Moscou, URSS, nos idos de 1962. O chefe da delegação brasileira era Adolpho Schermann, nome que muito honra o esporte brasileiro, o Banco do Brasil, a AABB–Rio e a Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Dois anos depois, em 1964, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando o voleibol estreou em olimpíadas, Nuzman integrou a equipe brasileira. Carlos Arthur Nuzman é presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Relembrando os idos de 1963: todas as noites, a partir das 5 para as 8h, o público se recolhia em seus lares, após a jornada de trabalho, para assistir à apresentação do noticiário da TV–RIO canal 6, na voz dos locutores Heron Domingues e Léo Batista. E às terçasfeiras, às 21h:00min, Hebe Camargo iniciava a apresentação do programa produzido por Maurício Schermann. Atualmente, decorridos 45 anos ininterruptos, Hebe Camargo (apresentadora do SBT) e o Léo Batista (comentarista esportiva TV-Globo) continuam fazendo sucessos, com elevados índices de audiência pública. O tempo em que é recordada a passagem de Sérgio Darcy, à frente dos destinos do Botafogo de Futebol e Regatas, pela 2ª vez, é o tempo do Brasil governado por presidente João Goulart. Época em que surge a luta política do governo pelas reformas de base, sem apoio do Congresso Nacional. Brasil de greves, Brasil de economia crescente, com inflação elevada, Brasil de grandes comícios. FERNANDO PINHEIRO – 116 Nessa época, nasce a bossa–nova. Aliás, o termo foi criado por um engraxate que limpava sapatos, bem próximo da Rua Primeiro de Março, 66 – Banco do Brasil, onde Sérgio Marcos Rangel Porto trabalhava. Um dia, usando um sapato sem cadarço, ele chegou perto do engraxate e este, admirado pela novidade, lhe disse olhando para o estilo do sapato: “bossa–nova”. Sérgio Porto gostou do dito jocoso e passou a empregá-lo, em vários jornais que escrevia, em toda novidade que aparecesse: um baile no Copacabana Palace Hotel, e outros eventos, e principalmente no estilo musical que, naquela época, estava surgindo. Apresentamos, a seguir, nossa impressão a respeito do sucesso do samba bossa-nova no exterior, onde recebeu calorosa recepção e teve repercussão internacional, inclusive para o Brasil, onde nasceu: “A bossa-nova foi introduzida e apreciada nos Estados Unidos, graças à mistura da batida do jazz, o tipo jazz soul, mais romântico, mais leve e um pouco dançante”. (22) Eis o segredo do sucesso do compositor Tom Jobim e a sua linda Garota de Ipanema (letra de Vinícius de Moraes), que encantou o mundo e fez surgir toda uma geração de grandes compositores de uma época que passou e, às vezes, recrudesce, de tempos em tempos. (22) ARTUR DA TÁVOLA – Mestres da Música – Programa radiofônico da Rádio MEC FM 98,9 MHz – Rio de Janeiro – RJ – 2005. 117 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos No Brasil e no exterior, o ano de 1963 teve ainda grandes acontecimentos: janeiro – realização do plebiscito pela volta do regime presidencialista, derrubando o parlamentarismo instituído em 1961, por emenda constitucional. Esse regime surgiu em decorrência da renúncia de Jânio Quadros e a fim de tirar o poder do presidente que assumia, João Goulart, injustamente prejudicado. março – Quincas Berro D´Água, personagem do romance Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado, se encarna em cena lírica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ambientado na coreografia da russa Feodorova e música de Cláudio Santoro. abril – Inauguração da sede da Reitoria da Universidade do Estado da Guanabara pelo governador Carlos Lacerda, com a presença do reitor Haroldo Lisboa da Cunha, deputado Raul Brunini, presidente da Assembleia Legislativa, Flexa Ribeiro, secretário de Educação, e inúmeras autoridades. A aula inaugural foi proferida pelo Prof. João Lira Filho. maio – Na divisa de Minas e Bahia, João Goulart, presidente da República, inaugura a Estrada de Rodagem Rio-Bahia. É a maior obra de engenharia, até então construída no País. No mês anterior, foram inaugurados os túneis Santa Bárbara e Tonelero, e a Avenida Radial Oeste pelo governador Carlos Lacerda. junho – eleição de miss Brasil, no Maracanãzinho. Eleita a gaúcha Iêda Maria Vargas. FERNANDO PINHEIRO – 118 A respeito dos antecedentes do concurso, embora seja conhecida a 1ª eleição, em 1954, com a vitória de Marta Rocha, vale dizer que, em 1949, na AABB - Rio de Janeiro, foi realizado o 1° concurso de miss Brasil, com a eleição de Jussara Marques de Amorim, representando o Estado de Goiás. junho – ao entardecer de domingo, 30 de junho de 1963, é realizada a coroação do papa Paulo VI, sucedendo a João XXIII. 300 mil pessoas do mundo inteiro compareceram à Praça São Pedro. O presidente João Goulart e o senador mineiro Juscelino Kubitschek (ex-presidente da República) estavam ali presentes. julho – Ao ensejo das realizações das exéquias do papa, Goulart e Kennedy reúnem-se em Roma. setembro – Inaugurada a TV Excelsior – canal 2 – no Estado da Guanabara. – A vinda do marechal Tito da Iugoslávia em visita oficial a Brasília e a várias cidades brasileiras. – No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o compositor e maestro Igor Stravinsky rege Le Baiser da la Fée, balé composto nos idos de 1928, e na Igreja da Candelária, a Missa para coro e orquestra, ambos de sua autoria. No ambiente sagrado, recebe aplausos e admiração. 119 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos No dia 21/09/1963 é aberta a 3ª Feira da Providência do Rio de Janeiro, no Iate Clube e adjacências, por Dom Hélder Câmara. O evento atraiu 1 milhão e ½ de pessoas, cinco vez maior do que a multidão que foi ver a coroação do papa Paulo VI, três meses antes, no Vaticano. Em 26/10/1969, Sérgio Darcy partiu para o reino onde a sabedoria deslinda os enigmas do caminhar. Nesse mundo de sonhos, aureolado pela luz das estrelas, luz que se projeta dos feitos de grandeza que o nosso homenageado sempre buscou dignificar a vida, se destacam os versos da música de Lamartine Babo: “Na estrada dos louros, num facho de luz Tua estrela solitária te conduz.” (23) Sem dúvida, sentimos muita satisfação em recompor, em breves linhas, alguns aspectos da trajetória terrena de Sérgio Darcy que, com imensa honra, integra a Galeria dos Presidentes do Botafogo de Futebol e Regatas, bem como o seleto grupo de consultores jurídicos do Banco do Brasil, contribuição singela que homenageia os grandes juristas que deixaram marco de grandeza à frente da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, empresa que tem um caminhar de progresso que se mistura com os próprios passos da História do Brasil. (23) LAMARTINE BABO – Letra do Hino do Botafogo de Futebol e Regatas. – in Botafogo – O glorioso – Uma história em preto e branco, p. 158 – Editor: Ney Oscar Ribeiro de Carvalho – Rio de Janeiro – 1996. FERNANDO PINHEIRO – 120 Iconografia – Album: Botafogo, o glorioso – Uma história em preto e branco, p. 56 – Editor: Ney de Carvalho – Rio de Janeiro – 1996 – Retrato de Sérgio Darcy – Arquivo: Botafogo de Futebol e Regatas. – Retrato/imagem de busto de Sérgio Darcy – Acervo: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. Acervo original: retrato p & b 13cm x 19cm – Album da família Darcy – cópia doada ao escritor Fernando Pinheiro. – Jornal do Brasil – 14/09/1963 – 1° Caderno – Sérgio Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (retrato de busto, do lado esquerdo). – JB – 15/09/1963 – 1° Caderno – Foto de Sérgio Darcy conversando com Fadel Fadel, presidente do Flamengo, na sede do Morro da Viúva, Flamengo – Rio. – JB – 18/09/1963 – 1° Caderno – p. 16 – Foto de Sérgio Darcy assistindo ao exame médico do jogador Gérson ao lado do médico Costa Cruz. – JB – 06/11/1963 – 1° Caderno – p. 16 – Foto de Sérgio Darcy, de terno escuro, com o braço levantado, apresenta aos jogadores, – vestidos de uniforme, sentados no gramado – o técnico Paraguaio, no campo de futebol do Botafogo, sede da Rua General Severiano, Botafogo – Rio de Janeiro. – Boletim 1964 – BOTAFOGO F. R. – Foto de SÉRGIO DARCY, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, assinando documentos na sede do clube. – O Globo – 03/01/1964 – Foto de Sérgio Darcy, segurando com a mão direita o microfone, proferindo o discurso de despedida do cargo de presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, entre as autoridades desportivas, vale destacar João Havelange. 121 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos MARTINS NAPOLEÃO BENEDICTO MARTINS NAPOLEÃO DO RÊGO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967/1976) TOBIAS PINHEIRO Conselheiro da ABI - Associação Brasileira de Imprensa “Este fluxo de música, Senhor, com que expresso o que sinto de bondade, de sonho, de esperança e de beleza, esta doce onda de música irresistível, não sou eu ... Esta música é o Teu sopro eterno, no instrumento do efêmero caniço.” MARTINS NAPOLEÃO T OBIAS PINHEIRO – 122 TOBIAS PINHEIRO, conselheiro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa – Discurso proferido em 12/11/2004, ao ensejo da realização do 5° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social, promovido pela Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. O Poeta Em 30 de abril de 1981, o poeta Benedicto Martins Napoleão do Rêgo morreu no Rio de Janeiro. Mas ele permanece vivo pelos poemas que nos legou com marcas de perenidade. Por sua vez, o escritor Fernando Pinheiro, presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, nos convidou para uma palestra sobre o poeta. Ele iluminou a juventude piauiense no Século XX. Era um poeta moderno, como Da Costa e Silva e Hindemburgo Dobal. Voltemos a Teresina, em 1943, no tempo dos incêndios. Ali encontramos o poeta no vigor dos 40 anos, quando ainda tínhamos apenas 16. Nascido em União, no dia 17 de março de 1903, mudou-se para a capital e, dali, para Belém, acompanhando o irmão Hugo Napoleão. Trabalhou na Biblioteca e Arquivo Público do Pará, enquanto estudava. Em Belém nasceu o sobrinho, embaixador Aluízio Napoleão de Freitas Rego, em 20 de novembro de 1914, hoje sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Benedito é inteligente e compenetrado. Quando termina o Curso Ginasial, em Belém, tem os colegas de turma Peregrino Júnior e Oswaldo Orico, que se elegeriam para a Casa de Machado de Assis, além de Eneida de Morais, a cronista do Diário de Notícias. Candidato à Academia Brasileira de Letras, em 1957, 123 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos não fez campanha, não foi eleito, mas os dois colegas votaram no amigo. No Almanaque da Parnaíba, edição de 1958, publicamos “Dois Votos para Martins”. Ele residia na Rua General Glicério, 326, Laranjeiras, Rio de Janeiro. Redator dos Diários de Notícias fomos levar-lhe a publicação. Era domingo, e quase nos obriga a almoçar. Dali em diante, passou a nos dispensar atenção especial, enviando-nos seus livros com encantadoras dedicatórias. Mas voltemos à juventude. De Belém veio para o Rio, onde trabalhou no Museu da Quinta da Boa Vista, segundo nos lembra o filho Sandro, nosso companheiro de juventude. Voltou para Teresina em 1924 e concluiu o Curso de Direito em 8 de dezembro de 1936. Professor, tornou-se conhecido com seu livro de estreia, Copa de Ébano, publicado em 1927. Nele se encontra O Destino da Lira: “Dói recolher, na concha e na alma, o alheio pranto / o orvalho a gotejar de outras raízes... / Mas é tão doce a dor de o transformar num canto / que console infelizes!... /// O destino da Lira é como o das estrelas, / belas e inúteis, aparentemente mas a força vital infinita que há nelas / faz brotar a semente. /// O destino da Lira é o destino das rosas, / morrendo mas deixando o aroma que erra, / ou no ar ou no esplendor das mulheres formosas, / como um bem feito à terra.” Dali em diante, o poeta publicou 23 livros de poesia e prosa. Torna-se catedrático de Gramática Histórica e de Filosofia do Colégio Estadual do Piauí, professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito de Teresina, diretor da Instrução Pública, TOBIAS PINHEIRO secretário-geral e consultor jurídico do Estado. era chamado e tinha de dar atenção a todos. – A 124 tudo Com a queda de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 1945, o ministro José Linhares tomou posse na Presidência da República, e Martins Napoleão assumiu o cargo de interventor do Estado, na fase de transição para a democracia. Nosso Mestre era a um só tempo a formiga diligente no trabalho e a cigarra que mais cantava naquele quintal da inteligência brasileira. Finda sua missão, passado o governo ao Dr. Rocha Furtado, nada mais tinha a fazer no Piauí. Lá existe uma cidade chamada Campo Maior, terra do acadêmico Raimundo Santana. Campo maior para ele era o Rio de Janeiro. Sentiu muita saudade dos amigos, mas mudou-se para a Cidade Maravilhosa. O poeta Martins Napoleão trabalhou no Setor Jurídico da Superintendência da Moeda e do Crédito, a SUMOC, de que se originaria o Banco Central. Dali passou para a Consultoria Jurídica do Banco do Brasil, onde trabalhou o irmão, deputado federal, Hugo Napoleão, avô do senador, ex-governador e ex-ministro de Estado, Hugo Napoleão do Reto Neto, filho de Aluízio, ambos titulares da Academia Piauiense de Letras. Em pouco tempo, seria o chefe, sem deixar de ser o poeta, um orgulho de seu Piauí, um ponto de referência no Rio de Janeiro. O Consultor Jurídico do Banco do Brasil 125 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Com o correr dos anos, o poeta Martins Napoleão preparou sua obra literária, mantendo-se nas funções de Consultor Jurídica do Banco do Brasil, onde se aposentou em 17 de setembro de 1977. Três anos e sete meses depois, no dia 30 de abril de 1981, o poeta morre. Encerra suas atividades na Terra mas nos deixou o Cancioneiro Geral, de 720 páginas, em dois volumes, mas sem uma revisão criteriosa, com algumas falhas de editoração. Ele sempre versões dos grandes ingleses e franceses. percorremos e tem andou preocupado, com traduções e poetas alemães, italianos, espanhóis, Sua poesia ilumina as estradas que projeção internacional. Uma Cultura Universal Com data de 2 de maio de 1969, conservo o seguinte cartão em bonita caligrafia: “Meu caro Tobias Pinheiro, recebi o convite para a festa de sua posse na Academia Guanabarina de Letras. Lamentei não poder ir, por estar comprometido para quarta-feira à noite. Já ouvi hoje que foi magnífico o seu discurso em que reuniu, sob o mesmo carinho, o Maranhão e o Piauí. Mande-me sua oração quando a publicar. Dou-lhe parabéns pelo seu ingresso à imortalidade acadêmica. O meu abraço cordial. a) Martins Napoleão.” Era assim o Mestre e amigo, que voou mais alto do que muita gente imagina, sobretudo como polígrafo. Adaptou inspirados poemas italianos, ingleses e alemãs à nossa Língua. Sua poesia se enfeitava com os conceitos universais e as inspiradas comparações, enquanto sua prosa nos encantava com recursos extraordinários. Quando fala sobre Goethe, seu estilo é mais pomposo. Vamos ouvi-lo em pequeno trecho: TOBIAS PINHEIRO – 126 “Glorioso e inacessível – sobranceiro, como um deus, a turba dos mortais – fora, até então, o autor do Divã uma das criaturas mais felizes e equilibradas de sua longa época. Poeta admirável, sua cultura universal se espraiava pelo romance e a filosofia, pela ciência e a política. A todas as excepcionais qualidades, com se distinguia, aliava extraordinária beleza física: vasta fronte, nariz perfeito, olhos de ver longe – digno nas atividades e elegante no trajar, adorado das mulheres e invejado dos homens.” Em matéria de amor, lembramos Sócrates. Um dos discípulos lhe perguntou: “Mestre, qual a maior tortura que os deuses podem dar a um homem?” E a resposta foi breve: “Filho, duas mulheres ao mesmo tempo.” Mas o amor do poeta está em tudo, para a transfiguração de uma rotina forçada, quase inconseqüente. Quando Gonçalves Dias escreveu Sextilhas de Frei Antão, disseram que ele conhecia o Português em suas origens. O mesmo podemos dizer de Martins Napoleão, em Tema, Coral e Fuga, edição de 1966, versos escritos entre 1957 e 1965. Ali há cantigas de velhos tempos: “Falares de Ruy de Pina, / cantares de Dom Dinis, / cantigas de amor e amigo, / ó doce luz matutina, / breve sorriso feliz, / ó frool que se muda em flor, / cantigas de Ruy de Pina, / cantigas de amigo e amor. /// Ó poesia orvalhada, / coisa pura, madrugada / das palavras portuguesas, / ó queixumes, ó tristeza, / aliviai-me o desgosto, / gotejai pelo meu rosto / como pêndula ramada, / dizendo-me tudo, posto / que dizendo quase nada.” 127 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Antologia de Poemas Alheios Conservamos em nossa biblioteca a Pequena Antologia de Poemas Alheios, editada em 1960 pela Gráfica Olímpica Editora. Comprei o livro num sebo, mais pela dedicatória: “Ao querido Onestaldo de Pennafort, grande poeta de minha idade nova e grande tradutor de poetas, o Martins Napoleão.” Onestaldo nasceu no Rio de Janeiro em 25 de junho de 1902 e morreu em 17 de abril de 1987. É, como sabemos, patrono da Cadeira n° 56 da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. No livro, a transcrição de Renato Jobim, conselheiro da ABI, no Diário Carioca, de 03/02/1957. Ele ressalta que Martins Napoleão, “além de legitimamente inspirado, domina com maestria os elementos de técnica tradicional”. E o Jornal do Commercio, de 30-12-1956, assegura: “O Sr. Martins Napoleão pertence à melhor estirpe de vates dos nossos dias, não desses que se perdem na toada monocórdia do “modernismo”, mas dos verdadeiros poetas, cuja linhagem vem de Dante, Petrarca e Camões”. No prefácio, o poeta explica: “As traduções aqui reunidas – trabalho de duas épocas separadas por cerca de 30 anos – só ultimamente foram revistas no seu conjunto. Inéditas até agora, com exceção apenas de uma de D´Annunzio e das de Tagore, Samain, e Martinez, representam, ao lado da experiência artística, o desejo de que os outros também sintam, em língua nossa, um pouco das emoções que a sua leitura nos despertou. TOBIAS PINHEIRO – 128 Entre os autores traduzidos, está Guido Cavalcanti, de Florença, nascido em 1259 e falecido em 1300. Este poeta desenvolveu a teoria do amor com sutileza de raciocínio, elegância de estilo e novidade de ritmos. Vamos ler dois tercetos dele: “Aquelas que vos fazem companhia, / muito me agradam pelo vosso amor; / e eu lhe peço, por sua cortesia, / que cada qual vos preste honra maior / e tenha apreço a vossa senhoria, / porque vós sois de todas a melhor.” Dante Alighieri, de Florença, nasceu em 1265 e morreu em 1321. Martins Napoleão traduziu cantos de A Divina Comédia e sonetos, como Vita Nuova: “É tão gracioso e tão honesto o ar / de minha amada quando alguém saúda, / que toda língua treme e se faz muda, / e os olhos não se atrevem de a fitar. /// Ela se vai, sentindo-se louvar, / vestida na humildade em que se escuda, / como coisa do céu que se transmuda / para um milagre ao mundo revelar. /// Mostra-se tão cortês a quem a mira, / que, ao vê-la, a alma se inunda de dulçor / tal que entender só pode quem o prove. /// E de seus lábios como que se move / espírito gentil cheio de amor / que dizendo ao coração: Suspira!” Francesco Petrarca nasceu em Arezzo, Itália, em 20 de julho de 1304 e faleceu em Arquà no dia 19 de julho de 1374. Autor de belos sonetos, foi imitado por Camões. Vamos ler Na sepultura de Laura: “Rimas dolentes, ide à pedra dura / que o meu caro tesouro em terra esconde; / ali chamai a quem do céu responde, / tendo o corpo mortal na sepultura. /// Dizei-lhe que me canso desta escura / viagem num mar que à vida corresponde; / e os ramos recolhendo à murcha fronde, / passo a passo, caminho à sua procura, /// nela tão só falando, viva e morta, / antes mais viva já, pois imortal, / por 129 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos que o mundo a conheça e também ame. /// Que a meu breve passar na última porta / atente; venha ao meu alcance e, qual / está no céu, a si me atraia e chame.” Encerramos com Arieta Esquecida, de Paul Verlaine: “Chora em meu coração / e chove na cidade. / Que é esta lassidão / que entra em meu coração? /// Doce cair da chuva / no chão e sobre os tetos! / Para uma alma viúva, oh! o cântico da chuva. /// Chora, mas sem razão, / na alma que se desalma. / Qual! Nenhuma traição? / É um sofrer sem razão. /// A que mais dói é a dor / de não saber por que, / sem ódio nem amor, / há em mim tanta dor.” Muitas vezes, encontramos Martins Napoleão na Igreja de Santa Cruz dos Militares, ao lado do Banco do Brasil, na Rua Primeiro Março. Hoje, apenas nos cabe levar uma flor a seu túmulo e estas palavras à sua memória. Tobias Pinheiro XAVIER DE ALBUQUERQUE – 130 Antes da apresentação do discurso proferido, em 14 de junho de 1972, pelo Consultor Jurídico Martins Napoleão, são transcritos, abaixo, trechos da carta do Dr. Xavier de Albuquerque, escrita em 1° de setembro de 2003, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro: “Quando fui investido, em abril de 1972, no cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, sucedeu-me no de Procurador–Geral da República, que eu exercera desde 1969, o colega José Carlos Moreira Alves (mais tarde, por igual, Ministro do Supremo e seu Presidente, há pouco aposentado compulsoriamente por implemento de idade), que também integrava o quadro de advogados do BB. Esse, então, por sua Diretoria, promoveu em Brasília um banquete em homenagem a mim, que deixara definitivamente, havia pouco, o seu Serviço Jurídico, e ao Moreira Alves, que dele se afastava – segundo então se acreditava – temporariamente. Nesse evento, o então Consultor Jurídico, Dr. Martins Napoleão, proferiu o discurso que lhe envio, naturalmente, referindo a ambos os homenageados. Ao longo de minha judicatura no Supremo, e em seu nome, proferi discursos, aqui anexados, de homenagem aos Ministros Aliomar Baleeiro e Hahnemann Guimarães. Ao primeiro (cópia extraída de plaquete editada, como é ali tradicional, pelo próprio STF), por motivo de sua aposentadoria, ao segundo (cópia da respectiva publicação da Revista Ajuris), em razão de seu falecimento. 131 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Na solenidade de minha posse como Presidente da Corte, proferiram discursos o Ministro Décio Miranda (já falecido), em nome do Tribunal, o Procurador-Geral da República, Firmino Ferreira Paz (já falecido), em nome do Ministério Público Federal, o Dr. Galba Menegale (já falecido), em nome da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal, o Ministro Evandro Lins e Silva (já falecido), em nome do Conselho Federal da mesma Ordem, e eu próprio. Foram todos incluídos na plaquete editada pelo STF, de que também segue cópia. Quando de minha aposentadoria, homenageou-me o Tribunal, como é tradicional e regimental. Discursaram então o Ministro Francisco Rezek, em nome do Tribunal, o Procurador-Geral da República, Inocêncio Mártires Coelho, em nome do Ministério Público Federal, e o Dr. Sérgio Gonzaga Dutra, em nome da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal. Também estão reunidos na plaquete de que junto um exemplar. Ainda por motivo de minha aposentadoria, dedicaram-me sessões de homenagem a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Distrito Federal, com discurso do Dr. Pedro Gordilho (ex-Ministro do Tribunal Superior Eleitoral), e o Instituto dos Advogados do Distrito Federal, com discurso do Dr. José Guilherme Villela (também ex– Ministro do Tribunal Superior Eleitoral). No seu vol. 258, a Revista Forense reuniu e publicou essas manifestações (inclusive a do Supremo, objeto da plaquete há pouco referida), pelo que mando cópia das páginas correspondentes.” (24) (24) XAVIER DE ALBUQUERQUE – Carta escrita em 1° de setembro de 2003, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro MARTINS NAPOLEÃO – 132 HOMENAGEM Ao Professor XAVIER DE ALBUQUERQUE Ministro do Supremo Tribunal Federal Ao Professor MOREIRA ALVES Procurador–Geral da República Prestada por MARTINS NAPOLEÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1967 a 1976) Exmos. Srs. Presidentes do Supremo Tribunal, Tribunal Federal de Recursos, Superior Tribunal do Trabalho, (25) Tribunais de Contas da União e do Distrito Federal. (25) BENECDITO MARTINS NAPOLEÃO, consultor jurídico do Banco do Brasil (1967/1977) – Discurso proferido, em 14/6/1972, ao ensejo da realização do banquete oferecido pelo Banco do Brasil ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Professor XAVIER DE ALBUQUERQUE, e ao Procurador-Geral da República, Professor MOREIRA ALVES. 133 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça. Srs. Ministros, Desembargadores e Juízes. Srs. Procuradores e Auditores. Srs. Presidentes da Ordem e do Instituto dos Advogados. Sr. Reitor da Universidade de Brasília. Srs. Representantes do Tribunal Superior Eleitoral, dos Estados, da Imprensa, Rádio e Televisão. Srs. Presidente, Diretores e Colegas do Banco do Brasil, Autoridades. Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, Sr. Procurador-Geral Moreira Alves: Ireis escutar o Banco Colegiado, na saudação do Diretor Admon Ganem. Tanto bastaria por a uníssono dos que representam e a advocacia, a administração, o a sociedade. Estaria, remate feliz. pois, esta do Brasil pelo seu do Pessoal, o Master consenso da Casa e aqui a magistratura ensino, a economia, homenagem coroada de Delegou-se-me, porém, como ao obscuríssimo dentre os cinco Consultores Jurídicos da admirável corporação financeira – que, só eles, a partir do ápice de J. X. Carvalho de Mendonça, deram lustre e grandeza ao nosso Departamento Legal – a honra, imposta ao dever e aceite com enlevo, de falar-vos agora em nome dos advogados, a cujo número continuais pertencendo, embora afastados, de modo definitivo um e outro, quem sabe, temporariamente, por motivo de investiduras recentes, a serviço mais alto do país. Ouvi-me, com a generosidade cordial da paciência que, no juízo do Santo e Doutor da SUMMA, ut virtus, non potest haberi sine charitate et grati. MARTINS NAPOLEÃO – 134 Sr. Ministro, Sr. Procurador-Geral da República: o fato cenário Tenho por mim sobrecarregado de significação de que esta noite de apreço se verifique no magnífico da Nova Capital. É que Brasília, edificada sob a inspiração do sonho e da necessidade, reduzindo diáteses e antinomias, explicáveis e naturais porventura, se firma, sem dúvida, como laboratório de síntese, propiciador da reunificação nacional, em todas as suas vastas e complexas dimensões. Entre muitos aspectos do seu realismo transcendente, releva acentuar, neste momento, o da revivescência do papel atuante da Província naquela presença com que, no passado, participou da formação das elites brasileiras. Erros sociais de planificação e antifuncionalidade, não sei, podem existir aqui. Não a antibrasilidade que lhe aponta eminente sociólogo. Da serena altitude destes páramos, onde o céu inteiro se nos mostra à vista embevecida; e os rasgados horizontes nos advertem de que a terra nossa continua, idêntica e desperta, em todos os quadrantes; e onde o gênio da arquitetura, a fábrica dos artistas, e a premonição dos governos plantaram a cidade modelar do trabalho e da meditação, neste planalto arrojado para o futuro, sentimos, outra vez, renascer de nós, estranhos a distanciamentos emulativos, justos nos meios porém acaso molestos nos fins – estes o bem–comum e supremo – numa catálise precisa, a idéia da pátria, sólida e una. 135 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Eu me pergunto, como noutras épocas de anseios e turbações, quando os mitos ganhavam foros de verossimilança, se haverá, de fato, uma pátria – um solo, uma língua, um credo, um povo – comunidade de regiões dentro de uma constante de consciência coletiva, prendendo-nos o espírito ao mesmo fluxo de sentimentos e ideais que se entrecasam sob a influência de remotas simpatias e indizíveis afinidades. Haverá este coletivo sentido homogêneo da vida, assim nos triunfos quanto nas derrotas, assim nas alegrias alvissareiras como nas tristezas deprimentes, criando uma alma e um destino compartidos? Mas, enfim, que imensa caudal é a essa – outrora simples – gota da fonte – a que vieram desaguar, de todas as vertentes, os grandes tributários, que lhe marcaram, aprofundaram e encheram o leito, ora impetuoso como as tormentas, ora corredio e plácido qual flume sagrado? Certo, mal divisamos, num abraço retrospectivo dos olhos, os veios filiformes que, irrigando planícies e baixadas, terminaram por confluir no talvegue, para a mobilização da força e da riqueza. Manancial de que nos alimentamos. Água lustral em que mergulhamos para nos purgarmos de erros, para nos remirmos de pecados, estimulando-nos nas fraquezas, acalmando-nos nas angústias, porque ele é o miraculoso e perene rio da Pátria. E ei-lo novamente aqui, no acontecimento desta cidade reaglutinante, congraçando a velha província, carreadora de valores humanos. MARTINS NAPOLEÃO – 136 A mesa posta, a gente irmanada, os homens aptos, ao prisma da persuasão e da técnica, pela ação governativa e a paz reconquistada. Altiplano, de onde irradia a nova projeção do Brasil. Sr. Ministro Xavier de Albuquerque, Prezado antigo companheiro: Madrugastes para empenhastes nos estudos. o labor e cedo vos Do funcionalismo do Banco do Brasil, a que chegastes por mérito de concurso, fostes, em boa hora, levado para o seu quadro de advocacia, de onde tantos têm saído, sem desertar, para os postos mais responsáveis da República, na Administração, no Parlamento, no Magistério e na Judicatura, esta que, ainda agora, se enobrece de um Ministro do Tribunal de Recursos em Esdras Gueiros, dois Desembargadores, e nada menos do que sete titulares entre a Justiça Comum da Guanabara e a do Trabalho, além de um Promotor e um Defensor. Tanto importa em dizer-se que a secular instituição de crédito, com vigorosa expansão dentro e fora do país, revitalizada, em metodologia e dinâmica, mercê da dedicação de seu conjunto de servidores e peritos, e de sua excelente Diretoria, à frente da qual cabe nomear o Presidente Nestor Jost, em contínua febre passional de atividade, ainda coopera, da melhor maneira, não apenas para o fomento da economia nacional por amplas latitudes, como também para os órgãos de maior importância na condução administrativa, judiciária e política do Estado. 137 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Integrante do Contencioso, foi-vos, Sr. Ministro, confiada, por substituição, a Assistência Jurídica de Brasília, a que igualmente emprestastes relevo excepcional, em fase árdua, com savoir–faire inexcedível, eficiência profissional, colaboração fecunda, tato rigoroso e tato edificante. Já então vínheis do magistério superior, em que ingressastes mediante as severas provas de competência. Não sei, mas bem presumo, que o dom da palavra – vivida, pronta e exuberante – vos acordou a vocação para o Direito Penal, assim no foro como na cátedra. E foi talvez por isto que, aliando dotes e tirocínio, vos inclinastes a disputar a cadeira, com êxito alcançada, de Direito Judiciário Penal na Faculdade amazonense, matéria que lecionais, com a habitual proficiência, na Universidade de Brasília. Em vossa tese, que dedicastes à memória de Análio de Mello Rezende, tão caro às raízes de minha gente, enfrentais “o tormento da delimitação conceitual do instituto de conexão”, ali demonstrando a seriedade dos vossos conhecimentos jurídicos e expendendo, a esmero, pontos de vista pessoais, com autoridade de doutrinador e hermeneuta. Vossa colaboração para nossa literatura especializada não se estancou nos ASPECTOS DA CONEXÃO, ensaio dos verdes anos, floridos de entusiasmo e já colmados de ciência. Seguiu-se-lhe, sobre o mesmo tema, com visão dilatada e longo fôlego – elucidando-o, ampliando-o e enriquecendo-o, ao lume de novas achegas – aquele outro AINDA SOBRE A CONEXÃO: UTILIDADE E ATUALIDADE MARTINS NAPOLEÃO – 138 DE UMA LIÇÃO CENTENÁRIA. E lúcidas e aquilatadas monografias outras, esparsas em Revistas de Direito. Nem bem lográvamos as dádivas do vosso talento e preparo, eis que o Poder Executivo, em razão deles e pela vocação de escolher e premiar, vos eleva à Chefia do Ministério Público Federal, ora em ablativos de reestruturação e aprimoramento, e, dentro em pouco, vos nomeia Ministro do Supremo Tribunal, galardão de vossa idoneidade, para cujo provimento impõe a Constituição os requisitos mais substantivos. Ao convívio diuturno e paralelo dos numes tutelares da Carta Fundamental, mestres insígnes, pontífices da Lei e guardiães e vigias da liberdade malferida ou ameaçada, onde aqueles mesmos que dali se apartaram, ainda o sulcam de clarões – naquela esfera de saber e equilíbrio, assegurada pela experiência, a moderar o que for para moderar, e aperfeiçoar o que for perfectível, somando opiniões e votos, sem vos despirdes das aquisições docentes de vossa cultura e entendimento, não incorrereis na inquinada obstinação dos a que se dirigia o Pregador, recomendando-lhes docilidade persuadida e convicta, sinônimo de ciência verdadeira. Mattirolo, ainda não relegado, e encontradiço entre os que vos são familiares, em certo passo do TRATADO DE DIREITO JUDICIÁRIO CIVIL ITALIANO, lembra-nos que “Ufficio della dottrina giuridica non è quello soltanto di esplicare e di commentare la legge positiva, ma quello ancora – di esaminarne e di apprezzarne il merito, dal doppio lato della logica del diritto e della pratica opportunità”, 139 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos conselho prudente e momentoso, sobretudo quando as normas permanentes sofrem, não raro, a violência da legislação, instável, fragmentária ou tumultuosa, no afã mesmo de captar, e traduzir em regulæ juris, os cruciantes e agressivos fenômenos sociais e econômicos de um mundo em vertiginosa crise de transformações e de superação. Para tanto, reunis, numa combinação adequada, os predicamentos e as virtudes daquele que perquire, estuda e compara, daquele que aprende e transmite, daquele que vive e pratica o direito: jurista, professor e advogado, da mais pura categoria. Sr. Procurador Geral da República, Professor MOREIRA ALVES: Com este amorável título, que ilustrais tamanhamente, quero tratar-vos aqui, num encontro de amigos e companheiros. Afortunado dia aquele, eu o confesso comovidamente, em que me ocorreu convocar-vos para o Departamento Jurídico da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial, que chefiava então, e a quando, noutro setor, desempenháveis já a função de advogado! Só vos conhecia, àquela altura, através de informações que vos acreditavam, sem discrepância, no mister e no ofício, embora tivesse, para fundamento de minha expectativa, a certeza de que o rebento não destoava da árvore, pois me acostumara a respeitar e admirar, de longe fosse, a carreira de vosso Pai, exemplo de probidade, inteligência e devotamento à Casa de nós ambos. MARTINS NAPOLEÃO – 140 Duplamente afortunada a hora em que pude chamar-vos para a Consultoria Jurídica, onde, malgrado meu e do Banco, não vos foi possível assistir por muito, porque vos requestava a cadeira de Direito Civil na gloriosa faculdade de São Paulo, após memorável segundo concurso, que do outro saístes sem a cátedra, embora conquistando a láurea indisfarçável, com que vos consagraram a vidência dos moços e a opinião dos sabedores. Transferindo-vos para a metrópole dinâmica, cedo na idade talvez, porém maduro no saber e na profissão, já nos tínheis oferecido o vosso DIREITO ROMANO, que raros dos nossos têm compendiado, por igual, em livro e sistema, e que nos reconcilia, velhos e jovens, educadores e aprendizes, à austera disciplina, quase apenas soletrada, com honrosas exceções, no currículo universitário, à pressão de dessorá-lo da seiva que alenta e sustém a tantos dos nossos institutos jurídicos. Na tendência de pragmatização dos cursos, até certo ponto aconselhável, tornou-se quase despiciendo o estudo da ciência mater, tanto mais que, aos poucos, dentre as letras clássicas, vai sendo restringida a discência do Latim, e voz corrente se espalha a de que é linguagem para veso de bacharéis e figuração de leguleios, vazios de idéias e inflados de aparência. Assim, com o venerando sermo contracto, a cuja omissão gradativa nos liceus, muitas nações, a exemplo da França pela fala dos seus mentores, culpam o declínio de sua civilidade humanística e científica. 141 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos E todos certos estávamos de que o idioma, por excelência disciplinar do pensamento, tão à puridade versáveis e conversáveis – no que sinceramente vos invejo – como o aviso de Vidari a seguir, nos SCRITTI VARII, de que é preciso estudar, dia e dia, os grandes exemplares da latinidade, porque “só deste modo se pode honrar a ciência e não desonrar a língua”, a dele e a nossa, na qual se perpetuam, por via de herança, a oratória siderante de Vieira e a lírica imarcescível de Camões, o verbo profético de Ruy e a concisão lapidar de Lafayette. Bem o entendeis, em DIREITO ROMANO e DA RETROVENDA, com o vosso estilo de escrever e dizer – sóbrio, claro, retilíneo e didático, sem recheios de loquacidade nem cosmética de arrebiques e retoques – com a segurança, quando ensinais ou expondes, de que a razão compete ao missivista de AS PROVINCIAIS, para quem la vraie éloquence se moque de l´éloquence”. Na vossa obra, pareceres, arrazoados e aulas, em numerosos centros escolares, a erudição se cristalizou em cultura. Como o outro homenageado desta noite, sois jurista, professor e advogado, em medida de qualidade e grandeza. Daí por que a mão firme e o senso exato do Ministro da Justiça – Mestre Alfredo Buzaid – vos levaram para o seu Gabinete e vos oneraram de tantos e nobres encargos, quais os de Coordenador da Comissão de Estudos Legislativos, membro da Comissão incumbida de elaborar o Anteprojeto do Código Civil, e presidente das Comissões Revisoras do Anteprojeto do Código Penal, Contravenções e Execuções Penais. MARTINS NAPOLEÃO – 142 E, pouco há, o Governo, com fidelidade no acertar, vos entrega a Procuradoria Geral da República, para refundir, no melhor metal, uma tradição de expoentes, citar um só dos quais fora para mim assinalar a todos, pela igual notoriedade de ilustração. Senhor Ministro, Senhor Procurador-Geral. De alongado, escusai-me agora; e por não ter, em suma, expresso o quanto mereceis, do que dá testemunho esta reunião de alegria e reconhecimento, perdoai-me de omisso. Se me pudesse outorgar alguma autoridade o ora penoso exercício do mandato, o manuseio dos livros, o comércio dos homens e a vivência dos fatos, numa era aflita de perplexidades, sem esquecer ainda uma tênue filosofia existencial, que a idade justifica – e tudo aliás não basta por si – ser-me-ia lícito pedir-vos o que, na verdade, é ocioso diante da vossa consciência de conduta e ministério. Deixai-me, não obstante, repetir um verso de Homero, dileto a Sócrates, segundo está na APOLOGIA, e de pleno sentido humano, não a modo de conselho, de que prescindis, mas à guisa de amistosa lembrança, a que vos atereis de sempre: “Não nasci do carvalho nem também do rochedo”. Dizendo a lei, que vale insuflá-la de viva, realística e oportuna, ou proclamando a justiça, que desmedida é pecado, e temperada é perfeição, na palavra do Doutor das CONFISSÕES, um e outro de vós, mestres e companheiros, nem viestes do carvalho para dar sombra apenas, nem do rochedo brotastes, para só transferir ao feito e julgamento o mudo coração da pedra. 143 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos 7 XAVIER DE ALBUQUERQUE Presidente do Supremo Tribunal Federal (16/02/81 a 21/02/83) Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1985 a 1986) DÉCIO MIRANDA Ministro do Supremo Tribunal Federal Senhor Presidente e Senhores Ministros Senhor Ministro da Justiça, Presidente da República (26) representante do Senhor Senhor Presidente da Câmara dos Deputados Senhores Ministros de Estado Senhor Procurador-Geral da República (26) DÉCIO MIRANDA, ministro do STF – Discurso de saudação na solenidade de posse do ministro Francisco Manoel XAVIER DE ALBUQUERQUE no cargo de Presidente do Supremo Tribunal Federal – Brasília – DF – 16/2/ 1981. DÉCIO MIRANDA – 144 Senhor Consultor-Geral da República Senhores Presidentes e membros dos Tribunais Superiores da União, dos Estados e do Distrito Federal Senhores Governadores e membros de Assembléias Legislativas Senhores Presidentes dos Conselhos Federal e Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil Senhores Magistrados, Adgovados e membros do Ministério Público Senhoras e Senhores Honrada com tantas presenças ilustres, realiza-se neste momento a posse do Sr. Ministro Francisco Manoel Xavier de Albuquerque na Presidência da Casa. É próprio e adequado ao momento salientar, em apertado resumo, fatos e aspectos da vida e da personalidade de nosso novo Presidente. Sua ascensão ao Supremo Tribunal Federal se deu a 19 de abril de 1972, aos quarenta e seis anos de idade, propiciando-lhe alcançar, ainda não decorridos dois lustros de exercício, o mais alto posto do Poder Judiciário da República Federativa do Brasil. Acham-se os primórdios de sua carreira no portentoso Setentrião brasileiro, no Amazonas, onde os dados biográficos oficiais lhe registram o bacharelado e o doutorado pela Faculdade de Direito daquele Estado, o magistério jurídico e a advocacia na Capital, sem contudo, ainda assim, traduzir toda a sua experiência humana na Província. jovem nessa É que, assinale-se, a atividade profissional do bacharel não se restringiu à Capital. Conheceu, militância inicial, as frágeis embarcações da 145 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos penetração fluvial, dotadas de miraculosa capacidade, na imaginação de seus carregadores e capitães. Nelas correntes ou interioranos. viajou, dias igarapés, a e dias, requerer por volumosas perante juízes Ainda que de breve duração, essa experiência pioneira, entremeada na advocacia da Capital, marcou o espírito de Xavier de Albuquerque, como tudo o que se faz no verdor dos anos, com o sentimento de respeito ao homem comum do povo, ao trabalhador humilde e desprovido do Interior, ali oferecendo o profundo contraste de austeridade de vida com o vigor e a luxúria de águas e florestas. Cedo, menos de cinco anos após a formatura, ingressou Xavier de Albuquerque no magistério superior, para o qual já em 1956 preparara sua tese de concurso, < Aspectos da Conexão >. Versando aí um dos mais delicados temas de processualística, a ele voltaria em novo trabalho, de 1966, já em Brasília. Também lhe mereceram estudo teórico outros importantes temas de Direito Processual: < Da Clássica Divisão Dicotômica do Direito à Disputa UnitárioDualística do Processo >, < Conceito de Mérito no Direito Processual Penal >, < Problemas Processuais da Execução Penal >, < A Assistência no Processo Penal Brasileiro > e < O Direito Processual na Constitutição de 1967 >. A transferência de Manaus para o Distrito Federal trouxe Xavier de Albuquerque a cenário novo, em que de pronto se havia de destacar na advocacia e no magistério. DÉCIO MIRANDA – 146 Tive a honra de vê-lo suceder a mim próprio – e com que lucro para a Justiça! – primeiro, no cargo de Ministro do Tribunal Superior Eleitoral, na classe de juristas, e, depois, no de Procuradoria-Geral da República. Neste último – o mais árduo cargo da República, segundo registrou Hahnemann Guimarães, que o ocupou nos idos de 1945 – Xavier de Albuquerque já completara dois anos de exercício, quando foi alçado, com aplauso de toda de toda a Nação, ao Supremo Tribunal Federal, na vaga deixada com a aposentadoria do eminente Ministro Adalício Nogueira. Os fastos desta Casa, que já anteriormente davam a nota de sua participação em julgamentos memoráveis, ora como advogado de partes, ora como defensor nomeado pelo Tribunal, e mais tarde como Procurador-Geral, passaram a espelhar sua diuturna contribuição para a jurisprudência e a doutrina, nos votos proferidos. Muitas dessas manifestações assumiram feição antológica, vindo a constituir um ideário de advogados, membros do Ministério Público e magistrados. Entre eles, sobressai, pela frequência evocação, o gesto de fortalecimento espiritual magistratura, ante a suspensão, então vigente, garantias de sua independência. da da das Disse, a propósito: < Como as concebo, as garantias da magistratura são uma conquista do Estado, e não dos juízes. Em outras palavras e no que me diz respeito: como cidadão e, se o fosse, 147 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos como pensador político, estimaria que se restabelecessem quanto antes, em toda a sua plenitude, por que isso restituiria ao Estado brasileiro o timbre do aperfeiçoamento que lhe deve ser, enquanto Estado, consubstancial. Como juiz, porém, pouco se me dá tê-las ou não tê-las, porque tê-las ou não tê-las não interfere em nada com a independência, com a imparcialidade, com a dignidade que imprimo ao desempenho da minha função judicante. > Bem constituem essas palavras amostra da posição vertical de Xavier de Albuquerque, comum em todas as suas atitudes e pronunciamentos, límpida expressão de seu inato sentimento da grandeza da função judicante. Da advocacia, não trouxe laivos de arrebatamento ou de impaciência, mas, sem dúvida, o fulgor das demonstrações lógicas, o brilho suave da elegância verbal, o método e a clareza da exposição. E sua contabilidade das horas é mistério insondável: os mais intrincados processos, recheados de complexas questões, parecem não mais lhe demorar às mãos que os simples e corriqueiros. Por modéstia, é com freqüência que menciona o enfado do esforço contínuo e da sobrecarga de trabalho do Juiz do Supremo Tribunal Federal, mas bem desconfio que o faz para consolo de alheias aflições, notadamente as minhas. Temo-lo, hoje, Presidente do Tribunal e do Conselho Nacional da Magistratura, a deter a imensa responsabilidade de Chefe do Poder Judiciário Nacional, DÉCIO MIRANDA – 148 de árbitro derradeiro das questões em que se dividir o Plenário, de juiz singular de várias atribuições, de dirigente máximo de um aparelho administrativo a que se requer funcionamento irrepreensível, funções e tarefas, todas essas, para as quais se acha superlativamente preparado. Sucede-lhe, na Vice-Presidência do Tribunal, o eminente Ministro Leitão de Abreu, cujo nome não me é possível declinar senão acrescentando, ao apreço e ao louvor de todos os brasileiros, o meu particular sentimento de gratidão, pelo dia em que, em nome do Presidente Emílio Médici, transpôs os umbrais, não só de minha casa, como de minha insuficiência, a transmitir o convite para o cargo, que tanto me honrou, de Ministro do Colendo Tribunal Federal de Recursos. Perfeito é o equilíbrio de suas virtudes com as do novo Presidente. S.Exª, como Vice-Presidente, é garantia de identidade de propósitos na direção da Casa, presença admirável de amigo, colega e conselheiro. Oriundos dos pólos extremos do universo brasileiro, o Amazonas e o Rio Grande do Sul, Xavier de Albuquerque e Leitão de Abreu ora se irmanam no supremo posto do Poder Judiciário do Brasil, em simbólica medida de nossa união nacional. O eminente Ministro Antônio Neder deixa a Presidência neste momento, cercado pelo respeito de todos, após cumprir por 2 anos os fatigantes deveres do cargo. Virá partilhar, de novo, dos trabalhos da respectiva Turma e do Plenário, a que chegou em 28 de abril de 1971, e que tanto já enriqueceu com os seus votos, vasta cultura e sábia experiência. 149 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Agradece-lhe a Casa a grandeza e a altitude de seu exercício da Presidência, exigente de intenso labor jurisdicional, em feitos de sua competência singular e nos da competência coletiva, e nem lhe pode calar o elogio pelo êxito, dedicação e paciência com que também se ocupou da administração, objeto de seus permanentes cuidados. Foram estes quase dez anos da presença de Xavier de Albuquerque como Juiz desta Casa, tempos densos de acontecimentos. No campo internacional, a bipolaridade política – se bem que ainda não a militar – já parece ceder espaços à afirmação de outros centros de poder. No plano interno, a abertura política experimenta a restauração de instrumentos tradicionais da convivência nacional, e a criação de novos, inspirados pela sabedoria de políticos, sociólogos, legisladores. Seria impossível resumir as profundas transformações a que por último temos assistido, no País e no Mundo, senão consignar que os fatos sociais e econômicos assumiram e continuam assumindo novas e insuspeitadas dimensões, no sentido de que os antigos padrões de avaliação não mais conseguem abarcá-las, nem visualizar-lhes a tendência e o desenvolvimento. Ante a caudal amazônica das correspondentes novas aspirações – e aqui busco na terra de nosso Presidente o adjetivo apropriado – o legislador e o juiz enfrentam, aquele, ao mesmo tempo a queixa contra a insuficiência da legislação e contra o excesso de leis e normas; este, o contraditório apelo à celeridade e ao esgotamento completo de sucessivas instâncias. DÉCIO MIRANDA – 150 Os administradores, de outro lado, debatem-se no desafio permanente das contradições entre o necessário e o possível, entre o estímulo dirigido e a divinatória inspiração da livre iniciativa, entre o esforço da sofreguidão e a paciência das esperas. É nesse contexto, Srs. Ministros Xavier de Albuquerque e Leitão de Abreu, que o Supremo Tribunal Federal lhes entrega a chefia do Poder Judiciário Nacional. Nele, erram estridentemente os próprios sábios, quando tentam arriscar-se adiante de seu tempo, perturbam-se os futurologistas, quando às perspectivas de paz, felicidade, abundância. divina futuro. Em última análise, somente a fé na condição do homem conforta e alivia o expectador do Aquela fé que, segundo recordou de São Paulo o maravilhoso vate da Divina Comédia < é a substância do que se espera e argumento que, mesmo sem prova, leva à convicção >. Senhor Ministro Xavier de Albuquerque e Senhor Ministro Leitão de Abreu: é com o timbre da mais alta admiração e da mais profunda confiança que o Supremo Tribunal hoje lhes entrega a Presidência e a Vice-Presidência da Casa. Que a ambos inspirem, em cada hora e minuto, em todos os momentos, os altos desígnios da Paz e da Justiça. 151 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1986 a 1988) Procurador-Geral da Companhia Nacional de Abastecimento (1990 a 1992) Corregedor-Geral da Advocacia Geral da União (1994 a 2001) GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993) Advogado-Geral da União (jul-1993 a jan-2000) Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002) Dr. JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA. Com V.Exª trabalhei por cerca de 11 anos, desde quando V.Exª assumiu a CONSULTORIA JURÍDICOADJUNTA PARA OS ASSUNTOS CONTENCIOSOS, e eu, em São Paulo, ainda a ASSESSORIA JURÍDICA REGIONAL GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – Texto final do discurso de posse no cargo de consultor jurídico, em solenidade presidida, em 29/8/1988, por Mário Bérard, presidente do Banco do Brasil. GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO – 152 ADJUNTA. Aprendi logo a admirá-lo, pela competência, pela firmeza de caráter, pela integridade de conduta, pela segurança no comando, pela disponibilidade para o debate, pela compreensão na controvérsia, qualidade essas que exornam sua rica personalidade. Sertanejo da melhor cepa, somente chegou a BRASÍLIA, depois de forrado na espinhosa advocacia em defesa do Banco pelos menores burgos do sertão cearense. E para aqui veio para postular perante os Tribunais Superiores que então se instalavam na nova Capital. E assim o fez por largo tempo. Com a criação das duas CONSULTORIAS ADJUNTAS, foi por mérito nomeado para a ADJUNTA DE ASSUNTOS CONTENCIOSOS, onde de imediato sentimos a eficiência de sua Chefia. Éramos então advogados dispersos pelo País, cada um postulando em Juízo o direito do Banco, mas sem uma unidade de comando. Tantas e várias eram as questões, mas seu enfoque era pessoal, embora todos falássemos, peticionássemos, pela mesma empresa, resultando em desconformidade de entendimentos. Como sabem, Direito não é ciência exata. E aquela desconformidade se dava amiúde, com maior gravidade nas questões trabalhistas que então começavam a avultar-se. A empresa era uma só, mas o entendimento das questões de direito era diverso. E os Tribunais Superiores a apontarem essas divergências... O que fez V.Exª? Chamou à união seus advogados, uniformizou as postulações de direito do Banco em juízo, e os reflexos logo se mostraram. Hoje, quer a reclamação trabalhista seja do Sul ou do Norte; do Leste ou do Oeste do País, os processos chegam à Superior instância, guardando uniformidade nas 153 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos questões debatidas pelo Banco. E V.Exª assim agiu, tão-só pelo convencimento, sabendo respeitar a liberdade intelectual e profissional de cada advogado. Enfim, Dr. LACERDA, V.Exª como exímio lidador do Direito, combateu o bom combate, tornou-se vencedor, SUCEDER a V.Exa. é outra de minhas preocupações. Ficam para nós seu exemplo, sua competência, sua dedicação, sua retidão de caráter no exercício da CONSULTORIA JURÍDICA do Banco. Para mim, resta-me rogar a proteção divina para que me fortaleça e me ajude nesta nova missão de minha vida. Muito obrigado. JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 154 9 JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA Curriculum Vitae Carreira de Vida SUMÁRIO – HISTÓRICO FIEL NO TEMPO E NO ESPAÇO I - ORIGEM II – DESCENDÊNCIA E COMPLEXO FAMILIAR a) de de de de de III – TRAJETÓRIA E ATIVIDADES EXERCIDAS: de zero aos 9 anos de idade; b) de 9 aos 10 anos idade; c) de 10 aos 19 anos de idade; d) de 19 aos 22 anos idade; e) de 22 aos 25 anos de idade; f) dos 25 aos 28 anos idade; g) dos 28 aos 31 anos de idade; h) dos 31 aos 44 anos idade; i) dos 44 aos 68 anos de idade; j) dos 68 aos 77 anos idade; k) posição atual. 155 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos DESENVOLVIMENTO I - ORIGEM O titular deste currículo é originário do nordeste brasileiro – região do Cariri Cearense – Município de Mauriti, Distrito do Coité onde nasceu no dia 22 (vinte e dois) de janeiro de 1924 (mil novecentos e vinte e quatro), numa quarta-feira, por intermédio de uma velha “parteira” e sem nenhuma assistência médica. Ali ensaiou seus primeiros passos da vida rústica do campo situado nas fronteiras do Ceará, Paraíba e Pernambuco, através das quais se deslocavam, com toda facilidade, os bandos de cangaceiros e capangas protegidos pelo “coronelismo” reinante in illo tempore (“naquele tempo”). II - DESCENDÊNCIA E COMPLEXO FAMILIAR Filho primogênito de Pedro Sampaio de Lacerda (vulgo “Pedro Miguel”) e Maria Maranhão Silcon – esta, também, descendente dos Lacerdas do vale do Piancó, Estado da Paraíba, que se chamavam Francisco e Miguel da Silva Lacerda, respectivamente, ancestrais de Pedro e Maria, vieram para o Coité e se casaram com belas damas das famílias Furtado Leite, Maranhão, Sampaio, Martins de Morais, Araújolima, cujos descendentes foram se espalhando pelos municípios fronteiriços da Paraíba e Pernambuco, além de se projetarem tanto no Ceará (Milagres, Abaiara, Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Fortaleza, etc), quanto em vários pontos do território nacional, conforme estudos genealógicos do Dr. José Leite Maranhão (também um Lacerda), a exemplo de seu irmão Pedro Maranhão de Lacerda, JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 156 e do Mons. Raimundo Augusto de Araújolima (vide Revista do Instituto Genealógico do Cariri, de junho/1981). Quanto aos genitores do titular deste currículo, fica registrado que o pai, Pedro, nasceu em 22/02/1898 e faleceu em 26/08/1980; e que a mãe, Maria, nasceu em 14/12/1905 e faleceu em 03/10/1947, com 42 anos, de parto do décimo filho extraído já morto. Registre-se na história regional que dolorosas tragédias ocorreram com a família Lacerda, a saber: 1°) – na cidade de Mauriti (CE), onde foi assassinado, em plena feira, o então Delegado Civil Pedro Lacerda, pai de Neco Lacerda e Maria Sampaio, morte vingada, imediatamente, por seu irmão José Miguel de Lacerda Sampaio; 2°) – nas proximidades da cidade de Conceição do Piancó – PB, foi alvejado a tiros de rifles o pai de Pedro, José Miguel de Lacerda Sampaio, que morreu, logo em seguida, vítima de tocaia feita por três cangaceiros: “Manuel Gato”, “Asa Branca” e “Cícero Costa”, segundo a versão corrente do início do século XX, na região, em que nasceu o titular deste currículo. E seus avós paternos eram José Miguel de Lacerda e Maria Bela Pontanegra de Lacerda; os avós maternos eram Antônio Furtado Maranhão e Antônia Silcon de Lacerda. E o casamento de Pedro com Maria, genitores do titular, resultou de um “rapto”, em face da negação ao pedido feito ao pai da noiva, embora tenha reconhecido Antônio Furtado Maranhão, pai de Maria, em bilhete dirigido a Pedro, in verbis: “Pedro, meu sobrinho deixo de fazer a arrumação que tu me pedes porque tu tens dois inimigos fortes: Luiz Soares e Cícero Costa”. Esta é a síntese dramática da 157 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos descendência de José Sampaio de Lacerda, sem esquecer dos envolvimentos de “Pedro Miguel”, pai dele, no “Fogo do Coité – ataque de grupo de cangaceiros de “Senhor Pereira” e “Lampião” (75), ao Padre José Furtado de Lacerda (“Padre Lacerda”), no dia 19/01/1922 – ataque que durou seis horas (de 11 às 17 horas), rechaçado pelos valentes irmãos Antônio Miguel, Pedro Miguel e João Miguel, auxiliados pelo primo “Neco Lacerda”, dois policiais e outros nove heróis, firmes defensores do Padre Lacerda, inclusive o humilde tocador de pífaro da banda Cabaçal da Igreja, conhecido com o nome de Joaquim Siqueira. E uma das prováveis causas determinantes desse ataque - além de conflitos políticos regionais -, foi a defesa de Pedro Miguel, feita pelo Padre Lacerda, em Júri Popular, a que foi submetido por suposta tentativa de homicídio, julgamento realizado na Comarca de Milagres – CE, da qual fora absolvido, unanimemente, após veemente defesa proferida pelo tio Padre Lacerda, que aproveitou a oportunidade para tecer duras críticas ao protetor de cangaceiros Coronel Zé Ignácio de Barro. Nesse episódio, Pedro, com apenas, cerca de 20 anos de idade, muito jovem, amargou dez meses de reclusão, em cadeia da cidade de Milagres – CE, hoje administrada por um sobrinho dele, o médico Dr. Elosman Leite Sampaio, já três vezes eleito Prefeito daquele Município que, no começo do século XX, foi bastante estratégico, no extremo sul do Ceará, para o combate ao cangacerismo que hoje, se chamaria de “crime organizado”, serviço do “coronelismo” então reinante. JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 158 III - TRAJETÓRIA E ATIVIDADES EXERCIDAS a) - de zero aos 9 anos de idade, José viveu na antiga vila do Coité, onde foi alfabetizado pelas parentas professoras Alice e Etelvina Leite de Lacerda, que usavam, naquela época (de 1930/1932), a Cartilha de ABC de Landelino Rocha; b) - de 9 aos 10 anos de idade (1933/1934), José recebeu, na cidade de Mauriti – CE, avançados conhecimentos de Português, Matemática, Geografia, História, Marcha Militar e Cívica, a título de preparação da juventude para a defesa da Pátria, tudo isso ministrado pelo grande Mestre Anselmo Chaves, amazonense ilustre, privado das duas pernas que perdera em missões na floresta amazônica. Basta lembrar que, nos desfiles das datas cívicas (7 de setembro, 15 de novembro, 21 de abril), os alunos marchavam, a pé, pela cidade de Mauriti, parando e discursando nas portas das casas dos pais (discursos preparados pelo Mestre e decorados pelos alunos), enquanto ele, por falta de pernas, tinha de acompanhar os desfiles em lombo de um cavalo. Esse período é inesquecível, porque foi a base intelectual e ética da carreira do titular deste currículo; c) - dos 10 aos 19 anos de idade, pode-se resumir na dura luta do titular, que teve de enfrentar grandes desafios nas atividades próprias da agricultura, pecuária, caçadas noturnas de animais silvestres (peba, tatu-bola, tamanduá, mocó, punaré, preá), tudo para sobrevivência, não esquecendo a “seca de 1932”, quando o milho, feijão e arroz desapareceram do sertão” – segundo a poesia de Cordel, cantada no Coité – fato que obrigou a população a comer 159 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos fibras torradas da “macambira” e pão de massa lavada de “mucunam”, com as carnes dos “bichos do mato” já citados. Período bastante difícil, mas vencido com a ajuda de Deus e Nossa Senhora da Conceição; d) - dos 19 aos 22 anos de idade, pode-se considerar o início da fase áurea da vida de José. Basta relembrar que o então vigário de Mauriti, Padre Antônio Alves de Oliveira incentivou a criação de nova escola paroquial dirigida pelo ex-seminarista e competente Professor Zinha (João Alves de Souza), convocando os pais a matricularem os filhos no novo Colégio, que funcionava no Consistório da Igreja Matriz de Mauriti – CE. E, para lá, foi o titular deste currículo, em outubro de 1943, permanecendo, ali, apenas os três últimos meses daquele ano. Ao encerrar-se aquele trimestre e com a avaliação positiva do titular deste currículo, o Professor Zinha o convocou á Casa Paroquial e, numa cordial entrevista, o aconselhou a dirigir-se ao Colégio Diocesano do Crato (antigo “Gymnásio do Crato”), e tomar parte em eficiente curso de preparação ao então vigente “Exame de Admissão ao Ginásio”, ministrado pelos irmãos do Mestre e grande orador Professor Aluísio Epitácio Pereira. Ao fim da entrevista fraternal, o Prof. Zinha transmitiu a José o seguinte lema de honra e vida: “José, vá que você será aprovado! E não páre mais a partir da vitória! Eu lhe digo isso porque, quem começa projeto de vida e pára, é derrotado; quem começa e vai até certo ponto da jornada e desiste tem maior prejuízo; só aquele que começa, vai ao meio e chega ao fim, é o único vencedor”. Esse conselho JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 160 nunca me saiu da consciência e da vontade de cumprir a missão que Deus me reservou e era o desejo de meus amados pais Pedro e Maria, de saudosa memória. Pois bem, a 28 de janeiro de 1944, estava José no meio dos alunos do curso preparatório ao mencionado “exame de admissão ao Ginásio de Crato – CE, que se realizou em fins de fevereiro de 1944, tendo o titular deste currículo alcançado a classificação de 2° lugar, numa turma de 48 alunos. No mesmo ano de 1944, foi matriculado na 1ª série do Curso Ginasial, logrando aprovação, também, no 2° lugar. Em 1945 e 1946, manteve a mesma classificação, não obstante ter assumido, em 1946, a grande responsabilidade de “auxiliar de disciplina” e de “catequista” do Colégio Diocesano do Crato, trabalhando das cinco horas manhã até às 21 horas, para ter direito, apenas, às aulas, às refeições e à moradia no “internato dos alunos”. Encerrado o ano letivo de 1946, foi extinto o “internato” daquele Colégio e José teve de se transferir para Fortaleza, para trabalhar e estudar, com o inestimável apoio de dois cidadãos inesquecíveis: Ivonísio Mosca de Carvalho, que conseguiu três “prêmios” caídos do céu, a saber: 1°) vaga na “Casa do Estudante Pobre do Centro Estudantil Cearense”; 2°) matrícula no Liceu do Ceará; 3°) emprego de cobrador da TEXACO, a partir de fevereiro de 1947. O outro cidadão foi o Dr. José Leite Maranhão, de saudosa memória, primo legítimo da mãe de José, o qual providenciou todas as informações e garantias, exigidas pela TEXACO, para que o candidato ao cargo de cobrador pudesse exercer, com segurança, a função de receber dinheiro 161 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos dos clientes e prestar contas à tesouraria daquela empresa, diariamente, além da fiança dos pais de José. Deu tudo certo, graças ao Supremo Arquiteto do Universo. Aquele primeiro emprego durou de 13/07/47 a 31/12/49, quando, mediante concurso público, José passou a exercer o cargo de escriturário da então Autarquia Federal Lloyd Brasileiro – Patrimônio Nacional, com sede no Rio de Janeiro (RJ), e Agência à Avenida Pessoa Anta – Fortaleza (CE). Ali, permaneceu de dezembro de 1949 a dezembro de 1952, quando foi nomeado “auxiliar de escriturário” do Banco do Brasil S/A – Agência de Salvador (BA), como resultado de concurso público. Naquele ano de 1952, José já havia concluído o segundo ano de Direito, depois de passar pelo 4° Ginasial de Santa Maria, três anos científicos do Liceu do Ceará e pelo pesado vestibular da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará; e) - vê-se, pois, que o titular deste currículo, no período dos 22 aos 25 anos de idade (1946 a 1949), enfrentou desafios pesados, tanto na conquista de emprego quanto na disputa de vagas no ensino universitário (3° grau), em Fortaleza, capital do Ceará, embora tenha sido egresso da vida camponesa, onde trabalhava de enxada, machado, roçadeira e cuidava de animais, trajando gibão, perneira, chapéu de couro, etc. Em dezembro de 1949, se encerrou a etapa a etapa do 1° emprego na TEXACO, em 10/06/48, casou com Francisca Zita de Moura Lacerda; f) - dos 25 aos 28 anos de idade (1949 a 1952), foi o lapso do tempo de serviço do 2° emprego exercido JOSÉ SAMPAIO DE LACERDA – 162 no Lloyd Brasileiro, em Fortaleza – Ceará, de que resultou maravilhosa experiência. No mesmo período, nasceram seus três primeiros filhos: Maria Simone, Judite e José Júnior, respectivamente, em 14/03/1949, 06/09/1950 e 12/09/1951, aumentando, com isso, sua responsabilidade familiar; g) - dos 28 aos 31 anos de idade (1952 a 1955), trabalhava e estudava, em Salvador, Estado da Bahia, tendo colado grau de Bacharel em Direito no dia 08/12/1955, no salão nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia, em solenidade presidida pelo Professor, escritor e diretor da Faculdade de Direito, Dr. Orlando Gomes; h) - dos 31 aos 44 anos de idade, exerceu funções de Escriturário e Advogado do Banco do Brasil S/A., na Bahia, no Ceará e nas comarcas de Araripina, Bodocó, Exu e Ouricuri, no Estado de Pernambuco, além de ter cumprido missões especiais em Camocim, Iguatú, Quixeramobim, Aracati e Fortaleza - CE. Ademais, foi fundador e 1° Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas do Crato, então agregado à UFCE (hoje integrante da URCA); i) - dos 44 aos 68 anos de idade, já com residência fixa em Brasília (DF), desempenhou as funções de Advogado, Sub-Assessor, Assessor, Consultor Jurídico Adjunto de Contencioso e Consultor Jurídico Geral do Banco do Brasil S/A., responsável pela atuação jurídica daquela grande instituição financeira pública, inclusive realizando cursos e seminários de Advogados em várias cidades do País e resolvendo graves questões internas e internacionais. Esse período 163 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos durou até sua aposentadoria, em setembro de 1988, contando, então, 35 anos e nove meses de serviço, só no Banco do Brasil S/A, com mais de 3 anos de TEXACO e 3 de Lloyd Brasileiro, ultrapassou os 41 anos de serviço, sem interromper contribuição de previdência (IAPTEC, IAPM e IAPB, INPS); j) - dos 68 aos 77 anos de idade, José se orgulha de ter exercido, com firmeza, dignidade e eficiência, as missões patrióticas de Procurador-Geral da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento (de 1990 a 1992) e de Corregedor-Geral da Advocacia-Geral da União (1994 a 2001), responsável pela fiscalização e controle do serviço jurídico da União, executado, no País inteiro, pelos integrantes das carreiras de Advogados da União, Procuradores da Fazenda Nacional, Assistentes Jurídicos e Procuradores Federais das Autarquias e Fundações Públicas, participando, ainda, do Conselho Superior da AGU, cujo Regimento foi ele que elaborou; k) - posição atual do titular deste currículo é a de aposentado e supervisor atento de numerosa família, ligada diretamente a ele, que conta com oito filhos (todos educados e empregados), 26 netos bem encaminhados na vida e já duas bisnetas. No dia 22 de janeiro de 2005, José do Coité completou 81 anos de idade, mas ainda com muita disposição para o binômio Trabalho e Estudo, equação mágica de sua vitória na vida, ao lado de sua esposa e grande companheira Francisca Zita de Moura Lacerda, que tem sido força imprescindível a todo o sucesso registrado durante os 57 anos de nossa sociedade conjugal. LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 164 GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO Consultor Jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993) Advogado–Geral da União (jul/1993 a jan–2000) Ministro de Estado da Defesa (24/01/ 2000 a 31/12/2002) LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA Advogado do Banco do Brasil (AJURE–Porto Alegre–RS (1977/1992) Assessor da Consultoria Jurídica do Banco do Brasil (1992/1994) Nossa Academia de Letras está em festas. (25) Ingressa em suas fileiras, nada mais, nada menos, do que a figura do eminente confrade Dr. Geraldo Magela da (25) Discurso de recepção ao acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão, Advogado–Geral da União, na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, proferido pelo jurista Luiz Augusto Beck da Silva, em solenidade realizada, em 26/04/1994, no Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF. 165 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Cruz Quintão, mui digno Advogado-Geral da União, com status de Ministro de Estado, merecidamente nomeado para tão importante cargo da vida da Nação, por Sua Excelência, o Presidente da República, Dr. Itamar Franco. Com efeito, este é um dia de júbilo para todos nós, amigos e colegas do Dr. Quintão, para seus familiares, para a alegria, a satisfação e o repetido orgulho com que, certamente, estão contagiados, são facilmente imagináveis. Para nós, acadêmicos e seus futuros pares de um intercâmbio sócio-cultural que se espera seja promissor e profícuo em criações literárias, não haverá de ser diferente. Estamos contentes, Dr. Quintão! Vossa Excelência chega para engrandecer nossa Casa e nossa Academia engalana-se para recebê-lo de braços e portas abertos, com muito honra, em especial para esta Diretoria Cultural que, circunstancialmente, de forma por igual honrada, representamos, buscando dignificá-la. Feliz do homem que chega ao estágio de sua vida em condições de semear autêntico e legítimo ufanismo nas hostes de instituição em que adentre, mercê de seus próprios méritos e de suas qualidades pessoais, aliados a um passado que o recomenda. Sua produção jurídica é por demais expressiva. Pareceres e posicionamentos escorreitos grassaram em nosso meio ao longo de vários lustros. A abordagem com que V.Exª nos brindará, ainda esta noite, a respeito da vida e da obra de João Neves da Fontoura, será, temos a certeza, mais um atestado de seu talento, enriquecendo seu currículo. LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 166 V.Exª sempre soube conceber a ciência que regula as relações inter-humanas em sociedade com respeito à ética, à moral e aos bons costumes. Não são os cargos que dignificam os homens, bem o sabemos, mas os homens que os engrandecem. Com o estimado acadêmico, assim têm sido. Por onde passa, por onde deixa sua marca de administrador e de jurista, seus comandados, de um modo geral, têm saudades, sem nenhum desdouro para quem o suceda. Ocorre que o Dr. Quintão, seja na Chefia da Assessoria Jurídica Regional em São Paulo, seja como Consultor Jurídico da Presidência do Banco do Brasil, nesta Capital, quando assumiu a 29/8/1988, seja como Advogado-Geral da União, para referir-me, apenas, às funções que desempenhou mais recentemente ou desempenha, no presente, não raro se revelou um homem equilibrado, prudente e criterioso, sem descurar dos interesses coletivos de seus administrados, de modo a prestigiá-los e dotá-los de melhores condições de trabalho, sempre que estivesse ao seu alcance. Não bastasse seu admirável conhecimento técnico, seu senso jurídico, sua acuidade e feeling administrativos, o nosso homenageado sempre se caracterizou como uma pessoa polida, cordata e hábil no seu diuturno convívio junto a escalões superiores e na resolução das questões mais tormentosas e difíceis que se desfraldam à sua frente. Não reunisse esse perfil e qualificação, bem sabe V.Exª que não teria galgado os degraus que alcançou e os escolhidos teriam sido outros. A sensibilidade, o tato e o trato lhano, a par de uma 167 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos probidade, liderança e carisma, devem aliar-se reconhecida experiência na área do Direito. à sua Os cargos que o prezado colega ocupou e ocupa em sua vida exigem que se reúna tais predicados, se quisermos ser bem-sucedidos, máxime quando nossa ascensão se dá independentemente de filiação e militância em qualquer agremiação político - partidária. Não fosse assim, o advogado que V.Exª é não teria sido o Consultor Jurídico pessoal e direto de quatro presidentes do Banco do Brasil, por largos períodos. Foi a culminância, internamente, de uma carreira exemplar. V.Exª também sabe se revelar político quando a situação o exige. Não há que se confundir, porém, Política, na sua mais pura e legítima acepção, é promover o bem comum, é voltar-se para o social, para o coletivo, para a proteção dos interesses difusos, cada um em sua área, ainda que a comunidade defendida represente um universo restrito, ligada a uma organização pública ou privada. E bem comum, na definição do saudoso professor Armando Câmara, “é o conjunto de condições pessoais e sociais de vida que asseguram a realização dos fins humanos.” O relato que faço sobre sua pessoa, Dr. Quintão, vida e obra, tributando-lhe justa e merecida homenagem, é fruto e produto do caminho trilhado por V.Exª e de testemunhos de quem conviveu com o amigo, mas também, de alguém que militou ao seu lado, freqüentando seus gabinetes, tanto no Banco do Brasil, quanto no Palácio do Planalto, de alguém, enfim, que teve a oportunidade e a honra, como eu, de ser recebido em sua própria casa. LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 168 Aliás, Aristóteles, pensador e filósofo grego, com suas doutrinas que serviram à criação da lógica formal e da ética, e que exerceram e ainda exercem enorme influência no pensamento ocidental, já o proclamava ao seu tempo: “O homem é um animal político.” Nada há de gratuito ou de impróprio, portanto. Desde nosso comparecimento a seminário regional em Santos (SP), nos idos de 1985, quando tive o ensejo de conhecê-lo como pessoa, passando a admirá-lo, intelectualmente, foi que pude começar a avaliar a profundidade técnica e a judiciosidade de suas posições. Suas oportunas e percucientes intervenções marcaram sua presença. Quando nossas acaloradas discussões sobre temas polêmicos e controvertidos afloravam, V. Exª trazia a solução após permitir que o terreno fértil do pensamento e das idéias prosperasse. Sua atuação frente à Assessoria Jurídica do mais desenvolvido e importante estado da Federação, a partir de 1980, conduzido pelas mãos seguras de Mário Bérard, o credenciou a ser guindado, nos idos de 1988, ao mais alto posto hierárquico da carreira técnico-científica de advogados do Banco, distinguindo cargo anteriormente ocupado por juristas da estirpe e da expressão de um João Neves da Fontoura, insígne ministro, patrono da Cadeira de n° 20 que V. Exª, hoje, tem a honra de ocupar, além de Carvalho de Mendonça, Afonso Penna Júnior, Hugo Napoleão, Sérgio Darcy, Martins Napoleão, Xavier de Albuquerque e José Sampaio de Lacerda, entre outros de idêntica nomeada. 169 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Tenho a certeza, Dr. Quintão, de que se o Exm° Sr. Presidente da República não o houvesse convocado para estar ao seu lado, nessa grandiosa e desafiante missão de organizar e conduzir a AdvocaciaGeral da União, V.Exª ainda estaria servindo ao Banco do Brasil. Esta foi uma Casa que o ilustre colega amou e, creio, continua a amar, sem prejuízo de sua isenção e fidelidade à causa hoje abraçada. Quem dedicou uma vida ao Banco sabe muito bem que esta é uma Casa de probidade e de disciplina e que os desvios de comportamento num contingente de cerca de 126.000 funcionários, concursados e em geral treinados, entre tantas renovações já sofridas ao longo de quase dois séculos de existência, são exemplarmente punidos, inclusive com demissão, anulação de concurso público, etc, etc. É perfeitamente compreensível, por conseguinte, num país onde a corrupção grassa e o calote impera, que entidades representativas de reserva moral e de seriedade sejam alvo de quem tem interesses pessoais e escusos, pensando em si e não no País, com o fim último de fazer sensacionalismo e ver dívidas pessoais. Pessoas anistiadas, após frustradas tentativas judiciais de vê-las eliminadas. Possibilitar a que banqueiros privados e internacionais também possam satisfazer seus aguçados apetites segue-se na mesma linha dentro de uma companha orquestrada e sórdida de desestabilização, em que se joga contra a opinião pública uma empresa da sua tradição, maior responsável pelo desenvolvimento e a integração nacionais. LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 170 Afinal de contas, ela é rentável, sólida e não necessita participar do orçamento da União, prescindindo, outrossim, da conta - movimento do Tesouro Nacional; ao contrário, não raro socorre o acionista controlador, com reflexos e prejuízos ao minoritário, constituindo-se na sua maior credora. Recebesse o que lhe é devido, os quadros comparativos, em geral distorcidos, apresentados pela mídia e pela grande imprensa sobre suas realidades e resultados financeiros, redundariam sensivelmente esvaziados. As mais de três décadas dedicadas a esta Casa por V. Sª não lhe pesaram nos ombros. Era perceptível sua disposição e o seu contagiante entusiasmo para o trabalho. V. Exª confirma o adágio: quando se faz o que se gosta e se é valorizado, o trabalho resulta em prazer. Registra a História que o célebre Thomas Edison passava o dia em sua oficina de trabalho dedicando-se à pesquisa energética, que viu coroada. Indagado, já em sua derradeira encruzilhada, por que trabalhava tanto em sua vida, deixando de melhor aproveitá-la, respondeu: nunca trabalhei em minha vida; o que vocês chamam de trabalho, para mim, é um lazer. Com V.Exª não é diferente, Dr. Quintão. Certamente não sou a pessoa mais autorizada para dar tal testemunho. V.Exª teve colaboradores mais próximos, mais diretos e que estiveram ao seu lado por muitos anos. Socorrendo-me, todavia, de tais depoimentos e outro tanto por minha própria observação, posso afirmar, sem vacilar ou medo de errar, que o estudo 171 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos da ciência jurídica para o renomado confrade o oxigênio necessário às nossas vidas. é como V.Exª, praticamente, dedicava três turnos ao Banco e, com certeza, ainda levava intrincados e urgentes casos, rotineiramente para casa, ocupando-se em suas horas de merecido repouso para melhor e com maior presteza desincumbir-se das questões que lhe eram submetidas. Nessas circunstâncias, Dr. Quintão, só chegou, só é viável pensar, criar, resolver, escrever, quando se tem ao lado uma grande mulher. É o seu caso, não tenho dúvidas, sem esta força, sem sua compreensão, tolerância, resignação e renúncia, sem o seu carinho, sem o seu afago, sem a sua palavra amiga, estimulante e confortadora, o estimado confrade, seguramente, não teria chegado onde aportou e não seria um candidato em potencial para ocupar outros cargos de expressão na vida jurídica nacional. Dona Dineuza, sua companheira inseparável, bem compreendeu, com o seu exemplo, que mais vale caminhar ao lado do marido do que com ele competir. Juntos, de mãos dadas, cada qual na busca dos ideais perseguidos, de acordo com a missão que o Grande Arquiteto do Universo lhe reservou. Para quem não o conhece, devidamente, esclareço que o Dr. Quintão, em realidade, não é homem de perder as estribeiras, como se diz em minha terra. O recipiendário que ora passa a nos fazer companhia não é homem de se desnortear ou desequilibrar-se. Não pratica despropósitos, não se desorienta, não é descomedido. São virtuosismos de um homem sereno, que busca ser uma espécie de ouvires do seu próprio ser, porquanto nascemos pedra-bruta e necessitamos burilar-nos. LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 172 V.Exª dá-nos demonstrações de haver encontrado o ponto de equilíbrio, conquistando estágio existencial e de espiritualidade, invejáveis, peregrinando na garimpagem e na lapidação de seu aperfeiçoamento como ser humano útil à sociedade em que vive. Foi junto ao Banco do Brasil, inegavelmente, que V. Exª forjou seu caráter, aprendendo a cultivar princípios assentados no respeito, na hierarquia e na exação no cumprimento do dever, valores certamente praticados e pregados por seus genitores, humildes agricultores que souberam orientá-lo para a vida, matriculando-o, desde cedo, no Colégio Caraça, pertencente à ordem dos padres lazaristas, onde estudou anteriormente um dos seus antecessores na Consultoria Jurídica, Afonso Penna Júnior. Essa firmeza de caráter e conduta retilínea fizeram com que o prezado confrade, em sua brilhante carreira, não deixasse de prestigiar, sempre que pudesse, seus comandados. E tenho dois exemplos comprobatórios de minha assertiva. Um, vivido pessoalmente, outro vivenciado por digno, denodado e competente colega com quem militei. De minha parte, sou reconhecido e grato pela indicação de meu nome para representar a Consultoria Jurídica do Banco do Brasil junto à Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul – a AJURIS, proferindo palestra em 26/11/1992, no Auditório do Foro Central da cidade de Porto Alegre, para dezenas de magistrados dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na companhia de eméritas figuras ligadas ao mundo jurídico e econômico, como os MM. Juízes Doutores Sérgio Corvello, de São Paulo e Arnaldo Rizzardo, da 173 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos capital gaúcha, autores de valorizadas obras, além da ex-ministra do Planejamento, Drª Ieda Crusius e do Prof. Hernani Oliveira, da Universidade Federal do mais meridional estado da Federação. De outra parte, foi graças à sua intervenção oportuna que dedicado colega a que me reportei, permanece em nosso meio, pois o presidente Alberto Policaro, à época, ficara indignado com os termos de carta que lhe fora dirigida, determinando seu afastamento. Ocorre que na condição de presidente da Associação Regional de Advogados, revoltado com referências genéricas que se fazia à classe, por dois gerentes do interior, em festivo jantar, teria excedido-se em suas considerações, justamente porque tinha vergonha e tem caráter. Faço esse registro porque V.Exª intercedeu, prontamente, em defesa do advogado, mantendo-o em nossos quadros, sem embargo pudesse ser merecedor de reprimenda ou de censura, mérito no qual não adentramos, pelos eventuais excessos cometidos ou pela impetuosidade revelada. Não é sem razões, Dr. Quintão, que V.Exª representa, hoje, a Advocacia-Geral da União. Uma pessoa que reúne tantos atributos pessoais e profissionais não pode se limitar a defender interesses meramente privados. V. Exª já não mais disposição absoluto ou pleno. pode ter poder de Sua atuação transcendeu as fronteiras da Instituição que aprendemos a admirar e defender. Esse é LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 174 o ônus de quem palmilhou sua vida como o ínclito homenageado. O País precisou e precisa de V. Exª. Trata-se de um munus público. Manifestações insidiosas, solertes, oriundas de facção, que semeia a cizânia e a discórdia, buscando denegrir a imagem de pessoas de bem e faturar dividendos, acusando sem provas, não foram suficientes para impedir que a Presidência da República separasse o joio do trigo e confirmasse seu nome à frente da Advocacia Geral da União. Aliás, foi Marx, que nunca leu a doutrina tomista de São Thomás de Aquino, quem pregou: “as circunstâncias fazem os homens, tanto quanto os homens fazem as circunstâncias.” V.Exª sobrepujou a tudo e a todos. Venceu e hoje é convocado pelo mais alto mandatário da Nação para manifestar-se sobre assuntos de sua competência. Presentemente, pela confiança, lealdade e respeito conquistados, tenho a convicção de que V.Exª se constitui, também, numa espécie de Ouvidor da Presidência da República; um formador de opinião, porque não dizer, malgrado nem tudo esteja ao seu alcance ou seja da sua responsabilidade. Ainda ao final do mês passado, a Nação assistia atônita e perplexa a um admirável impasse que se deflagrava entre os três poderes constituídos em decorrência de interpretações dada à Medida Provisória n° 434, de 27/02/94, que dispunha sobre o programa de estabilização econômica, o sistema monetário nacional e a instituição da unidade real de valor, parecendo evidenciar quão frágil é a nossa democracia. Enquanto 175 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos a imprensa insuflava, os ânimos acirravam-se e o radicalismo persistia. V.Exª, com a serenidade e a independência que o caracterizam, intervinha de forma sensata, firmando posição que serviu para evitar uma crise de maiores proporções, conforme chegaram a divulgar os principais jornais do País em manchetes de primeira página. Tenho conhecimento, ainda que perfunctório, da herança recebida. Não desconheço a forma como V.Exª encontrou a Advocacia-Geral da União advinda de um governo que acabou deposto. Durante meses o País esteve ingovernável. V.Exª soube escolher quem iria assessorá-lo, formando bela equipe de trabalho. No curso de sua vida, V.Exª já provou que os desafios não lhe acovardam; ao contrário, estimulam-no a enfrentá-los e superá-los. Quando os caminhos são adversos, tortuosos e espinhosos, a satisfação por vê-los superados é maior. De causas fáceis a humanidade está cheia; valor mesmo, tem as difíceis. V. Exª combateu o bom combate e gratificante e confortador para quem o realiza. isso Neste momento, já podemos dizer, titubear, que a Advocacia-Geral da União teve fases: antes e depois do Dr. Quintão. é sem duas O Decreto n° 868, de 13/07/93, a Lei 8.682, de 14.07.93, as Medidas Provisórias 377 e 397, de 26.11 e 29.12.93, respectivamente, convertidas em lei, na conformidade do Art. 62, § único de nossa Carta Política, dispondo sobre o exercício das atribuições institucionais da Advocacia-Geral da União, são algumas LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 176 provas disso, coroando, vamos assim dizer, a Lei Complementar n° 73, de 10/12/93, que estabeleceu a sua lei orgânica, servindo-lhe de fundamento. Minhas senhoras e meus senhores! Para ser Advogado-Geral da União, exercendo as funções de consultoria e assessoramento ao Poder Executivo é pressuposto que o seu detentor possua notável saber jurídico e reputação ilibada, prescreve nossa augusta Carta em seu Art. 131 e § 1°. E o motivo é simples: compete-lhe fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e demais atos normativos, a ser uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da Administração Federal. Ora, num país onde as injunções políticas são a da sua índole, Dr. Quintão, reconhecidas, é ter a certeza e que podemos continuar a competência prevalecerá. o tráfico de influências e tônica, saber que pessoas encontram espaço e são de nem tudo está perdido ter esperanças, pois a Esse é um elenco de motivos pelos quais V. Exª adentra à Academia de Letras de nossa Casa. Aqui há espaço para o pensador, para a arte e para a criatividade de V. Exª. Temos a certeza de que o prezado confrade constituir-se-á em exímio exemplar desse vivo acervo cultural. Como é bom, Dr. Quintão, encontrar um lugar nesse mundo massificado, competitivo, materialista, injusto, discriminatório e desigual, onde há fraternidade, sem malícia, onde a literatura encontra terreno fecundo para progredir e desenvolver-se. Como é enriquecedor poder exercitar idéias e possuir ideais. 177 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Foi Oswaldo Aranha, cidadão das Américas, ex-presidente da Assembléia Geral da ONU, baluarte na luta pela paz mundial, cujo centenário de nascimento este ano se comemora, quem definiu: “O ideal é o lume que rompe a treva, que norteia a rota, que orienta o peregrino, que salva o navegante, que anima o herói, que dignifica a existência, que ilumina as ideias, dá vida às criaturas e sobrevivência aos povos”, Clóvis Bevilácqua, por sua vez, afirmava: “A vida deve ser uma ideia, vencida ou vitoriosa, mas uma ideia”, E Túlio Ascarelli, ao seu turno, sentencia: “Na atual crise de valores o mundo pede aos juristas sobretudo novas ideias, e não suas sutis interpretações: Devemos retornar e reexaminar os conceitos fundamentais”. Esperamos Dr. Quintão, muito continuar colhendo de seus ensinamentos jurídicos. V. Exª, agora, terá a oportunidade de conviver e manter intercâmbio com seus pares, sobretudo em sua área, em particular com escritores do gabarito de um tratadista de tomo, como José da Silva Pacheco, e de Luís Ivani de Amorim Araújo, nosso presidente, respeitado professor da Faculdade de Direito da Universidade Cândido Mendes, no Estado do Rio de Janeiro, entre outros advogados renomados, que engrandecem esta Casa, ao lado de poetas, poetisas e ensaístas, cuja companhia igualmente envaidece. Entre nossos membros honorários, Dr. Quintão, destacam-se personalidades da estatura de Alcir Calliari, LUIZ AUGUSTO BECK DA SILVA – 178 nosso Presidente de Honra, na conformidade de nossos Estatutos, de Sua Exª, ex-advogado do BB – Assessoria Jurídica Regional de São Paulo – SP, eminente ministro José Carlos Moreira Alves, que tantas lições, saber jurídico, e independência tem revelado no proferimento de seus votos perante a mais alta Corte de Justiça do País, o excelso Supremo Tribunal Federal, além do Exm° Sr. Ministro de Estado da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária, Dr. Synval Guazzelli, conceituado advogado, no Rio Grande do Sul, líder estudantil desde a adolescência e que ingressou na vida pública para, um dia, governar seu Estado, por duas vezes, a par de dirigir, com sucesso, instituições financeiras com raízes gaúchas, além do Banco Meridional, com brilhante passagem pelo Banco do Brasil. Seja bem-vindo, Dr. Quintão, a exemplo do Exm° Sr. Sérgio Pinheiro Rodrigues, Diretor de Recursos Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil, nosso mais novel membro honorário, a que, nesta noite, também prestamos justa e merecida homenagem. Não poderia deixar de agradecer, naturalmente, a presença e a atenção de todos quantos vieram prestigiar este evento, em especial a de meu querido amigo, Dr. Paulo Fernando Neves da Fontoura, ilustrado membro do Ministério Público do Rio Grande do Sul, ex-procurador de Justiça, com atuação junto aos egrégios Tribunais Superiores de Porto Alegre, sobrinho de João Neves da Fontoura, cuja memória hoje se reverencia, bem como o comparecimento de seu estimado filho, que o acompanha, os quais até aqui se deslocaram, espargindo-nos contentamento. 179 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Peço vênia, por derradeiro, para deixar minha mensagem a V.Exª invocando o grande advogado e jornalista, com militância de mais de meio século, radicado no Rio Grande do Sul, Talia O´Donnell, cujo pensamento submeto à reflexão de todos: (...) “A profissão do advogado é sempre fascinante, mas o advogado não deve apenas ser um profissional, um cultor do Direito, um paladino da Justiça, como síntese de suas atividades, deve ser ainda um instrumento de formação cultural na sociedade onde atua, levando sempre uma parcela de sua contribuição ao tesouro do esforço coletivo que procura formar a cultura de uma nação e forjar o destino de uma raça.” Muito obrigado. BANCO DO BRASIL – Auditório Ed. Sede III – Brasília–DF – 26/4/1994 – Solenidade de posse do acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. – A Mesa foi constituída das seguintes autoridades (da esquerda para a direita): MARCOS VILAÇA, presidente do Tribunal de Contas da União, representando a Academia Brasileira de Letras, Srª DINEUZA QUINTÃO, esposa do acadêmico empossando, GERALDO MAGELA DA CRUZ QUINTÃO, advogado–geral da União, acadêmico FERNANDO PINHEIRO, representando o presidente da Academia, Prof. Luís Ivani de Amorim Araújo, ERNESTO CAPPOZZI, chefe–de–gabinete da Presidência do Banco do Brasil, representando Alcir Calliari, presidente do Banco do Brasil; SÉRGIO PINHEIRO RODRIGUES, diretor de Recursos Tecnológicos e Materiais do Banco do Brasil, JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, consultor jurídico do Banco do Brasil. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 180 JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Consultor Jurídico do Banco do Brasil (abril/1994 a agosto/2001) Diretor Jurídico do Banco do Brasil (3/9/2001 a 2/12/2002) Ministro do Superior Tribunal de Justiça (a partir de 3/12/2002) Curriculum Vitae HISTÓRICO PROFISSIONAL 1 – Superior Tribunal de Justiça Ministro do Superior Tribunal de Justiça, a partir de 03 de dezembro de 2002; Membro da 2ª Turma, 1ª Seção e da Corte Especial, de acordo com o disposto no art. 2°, II, do Regimento Interno. Designado, de acordo com o ato n° 110 de 9 de junho de 2005, como Presidente da Segunda Turma pelo período regimental de 21 de junho de 2005 a 20 de junho de 2007. 181 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos 2 – Banco do Brasil S.A. Posse no Banco do Brasil – Agência Andradas (MG), em 22/12/1975, sendo transferido para Agência Santa Rita do Sapucaí (MG), em 29/09/76. Advogado do Banco do Brasil, lotado no SEJUR – Serviço Jurídico do Banco do Brasil em Varginha (MG), de 01/08/84 a 07/06/87. Supervisor do Núcleo Jurídico do Banco do Brasil, em Varginha (MG), jurisdicionando todo o Sul de Minas, de 08/06/87 a julho de 1990. Chefe de Assessoria Jurídica Regional do Banco do Brasil, em Vitória (ES), de 01/08/90 a março de 1991. Consultor Jurídico Geral do Banco do Brasil, em Brasília, de abril de 1994 até agosto de 2001. Diretor Jurídico do Banco do Brasil, em Brasília, dezembro de 2001. desde 3 – Ordem dos Advogados do Brasil Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil – de Minas Gerais – 1993/1994. Seção Conselheiro Federal da Ordem dos Advogados do – 1998/2002. Brasil 4 – Membro dos Conselhos de Administração das seguintes empresas: Cia. Energética do Rio Grande do Norte – COSERN, desde 1998; ITAPEBI Geração de Energia S.A.; Cia. de Seguros Aliança do Brasil. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 182 ATIVIDADES ACADÊMICAS Professor Titular da Faculdade de Direito de Varginha (MG), lecionando nas cadeiras de Direito Processual Civil e Direito Comercial, conforme aprovação pelo MEC – Processo n° 23018.003104/88-15, despacho de n° 478/88, de 02 de dezembro de 1988. Professor de Direito Bancário na Escola Superior de Advocacia da OAB/MG. Professor de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Universidade de Itaúna (MG) – 1992/1993. Professor de Direito Processual Civil do Instituto de Educação Superior de Brasil – IESB, desde 03/02/2003. Professor de Direito Processual Civil no Curso de PósGraduação do UNICORB. Professor da Escola Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. GRADUAÇÃO Curso de Direito Faculdade de Direito Pouso Alegre – MG Início: 1978 – Término: 1981 TÍTULOS Concurso Público para Magistratura do Estado de Minas Gerais. Aprovado em 1° lugar no “CONCURSO PÚBLICO PARA JUIZ DE DIREITO E JUIZ DE DIREITO AUXILIAR DE MINAS GERAIS”. 183 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos PALESTRAS • Questões Controvertidas no Processo de Execução Escola da Advocacia da OAB-MG, Belo Horizonte – MG. • Ação Monitória Jornadas de Direito Processual Civil – IBDP, Brasília – DF. Escola de Advocacia da OAB/MG – Patos de Minas – MG. • Congresso de Procuradores do DNER Recursos Especial e Extraordinário – Brasília – DF. • Execução de Obrigação de Fazer Jornadas de Direito Processual Civil – IBDP, Salvador – BA. • Custo do Processo Conselho Superior de Magistratura Federal, Brasília – DF. • O Sistema de Cobrança do Crédito Bancário Encontro de Juristas de Língua Portuguesa – Banco Central Brasil, Brasília – DF. do • Aspectos Jurídicos do Novo Sistema de Pagamentos Brasileiro Associação Brasileira de Bancos Estaduais – ASBACE, Brasília – DF. • Os Contratos Bancários e o Código de Defesa do Consumidor Faculdade de Direito do Largo de S.Francisco, São Paulo – SP. • Congresso de Defensores Públicos de Belo Horizonte Exceção de Pré-Executividade – Belo Horizonte – MG. • Congresso da Ordem dos Advogados do Brasil em Ouro Preto Uma Nova Visão do Processo de Execução – Minas Gerais. • O Federalismo Brasileiro e a Repartição dos Poderes Palestra proferida na Câmara Municipal de Três Corações, Minas Gerais. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 184 • Recursos Cíveis Escola de Advocacia da OAB – MG, Varginha – MG. • As Reformas do CPC Ordem dos Advogados do Brasil, Belo Horizonte – MG. • A Cédula de Crédito Bancário Escola de Advocacia da OAB - GO, Goiânia – GO. Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça de Rondônia. • Do “Commercial Paper” e Outros Contratos Internacionais Instituto de Magistrados do Ceará, Fortaleza – CE. Bancários • O Conceito de Empresário no Novo Código Civil OAB – Seção de Minas Gerais – Escola Superior de Advocacia – dez./2002 • Mediação e Outros Meios Alternativos de Solução Conflitos Escola de Magistratura do Rio de Janeiro – EMERJ – 17/03/2003 de • O Novo Código Civil no Mercado Imobiliário e no Direito Empresarial Seminário realizado na Câmara Municipal de São José dos Campos – SP – 20/03/2003. • O Acesso ao Judiciário e o Custo do Processo II Simpósio Regional de Advogados e Acadêmicos de Direito Dourados e Região – Dourados – MT – 04/04/2003. Palestra na Embratel – Ed. Sede da Embratel – Salão Nobre 16/05/2003. de – • Função Social do Contrato no novo Código Civil Primeiro Congresso Goiano de Temas Constitucionais – Universidade Católica de Goiás – 21/05/2003. 185 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos • Impacto das Decisões Judiciais no Custo do Crédito no Brasil Congresso Nacional de Direito Bancário – SP – Organizado pela Comissão Jurídica da FEBRABAN – 11 a 12/08/2003. • A Inadimplência dos Usuários de Serviços Palestra Abradee – Auditório do Hotel Pestana – Via Costeira, Natal – 29/08/2003. • O Poder Judiciário e o Anseio Popular II Congresso Estadual de Magistratura – Salão Pleno do Tribunal de Justiça do Espírito Santo – 19/09/2003. • 2° Ciclo Matogrossense de Direito Processual - 11/10/2003. • Seminário Jurídico sobre Concessões das Rodovias Hotel Serra Azul – Gramado – 28/11/2003. • Recursos Especial e Extraordinário – Técnicas de Interposição na perspectiva da Reforma do Judiciário. Auditório OAB – Belo Horizonte – MG – 29/04/2004; • Palestra UPIS – Brasília – DF – 03/05/2004. • Responsabilidade Civil dos Profissionais UNIMED Itaperuna – RJ – 13/05/2004. • de Saúde - Reflexões acerca do Princípio da Função Social nos Contratos Imobiliários Seminário A Segurança Jurídica nos Negócios Imobiliários – Tribunal de Alçada de Minas Gerais (Centro de Estudos Jurídicos) – Poços de Caldas – MG – 02/07/2004. • A Reforma do Judiciário FEBRABAN – Novotel – SP – 16/08/2004 • Palestra na Faculdade Politécnica Uberlândia - MG – 22/08/2004 JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 186 • Decadência e Prescrição na Jurisprudência do STJ II Seminário do Instituto Pernambuco de Estudos Tributários – O caso do lançamento por homologação e as hipóteses de dolo, fraude ou simulação. Direito Tributário Material, Processual e Penal – Mar Hotel – Recife – PE – 03/09/2004. • Aspectos Processuais da Prescrição e Decadência Instituto Brasileiro de Direito Processual – Aulas proferidas por João Otávio de Noronha no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Processual Civil – 15/09/2004. • Procedimentos Especiais Instituto Brasileiro de Direito Processual – Aulas proferidas por João Otávio Noronha no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Processual Civil – 06/10/2004. • Tributação das Cooperativas IV Congresso do Nordeste Brasileiro em Direito Tributário e II Congresso Internacional de Direito Tributário – ISET – Instituto Sergipano de Estudo Tributário – Aracaju – 08/10/2004. • Contratos Atípicos Seminário sobre Fomento Mercantil com apoio do TJSC AMC – 28 a 29/10/2004. e da Seminário Fomentando Direito – Escola de Magistratura de Vitória – Tribunal de Justiça – Salão Pleno – 25/02/2005. • Novas Perspectivas do Poder Judiciário Seminário Nacional de Associação de Mulheres Jurídica – 19/11/2004. • da Carreira Recursos Cíveis - A reforma do CPC e a Racionalização da Justiça II Ciclo de Debates OAB/RS – Hotel Embaixador – RS – 30/11/2004. 187 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos Prescrição e Decadência – Tema no Novo Código Civil e no Código Tributário Nacional Banco Central – 14/07/2003. Seminário Jurídico “Benjamin Colucci” – Juiz de Fora – OAB – MG – 04 a 08/08/2003 VIII Simpósio Serrano de Direito - 26/09/2003 Simpósio Itapira – Salão do Júri – Fórum de Itapira – 29/10/2003. Escola Superior de Magistratura – ESMAT – Tribunal de Justiça – Tocantins – 18/06/2004 III Congresso Estadual de Magistrados – AMERON – JiParaná – RO – 21/08/2004 OAB – Londrina – PR – 27/08/2004 Escola de Advocacia OAB – MG – Uberlândia – 25/11/2004 Simpósio de Direito Civil e Processual Civil – OAB – Paraná – 28/04/2005. Seminário de Direito Civil – Fórum Miguel Reale – Auditório ESMAF – Escola de Magistratura Federal – TRT 1ª Região – 24/06/2005. Congresso Brasileiro O Direito em Debate – Hotel Jutiúca – Maceió – AL – 14 a 16 de setembro de 2005. • • Federação Nacional das Seguradoras Evento em Porto Alegre – RS – 22/10/2004. • A Reforma do Processo de Execução XI Encontro Estadual dos Advogados Mineiros – Araxá – MG – 29/04/2005. • Responsabilidade Civil, Social e Trabalhista no Transporte Terrestre de Passageiros X Congresso – São Roque – SP – 06 a 08 de maio de 2005 • XVII Fórum Nacional dos Juizados Especiais Curitiba – PR – 25 a 28 de maio de 2005 JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 188 • V Conferência dos Advogados do Distrito Federal Brasília – 9 a 11 de agosto de 2005 • Agilização da Justiça III Conferência dos Advogados do Estado do Paraná. O Advogado e a Reforma do Poder Judiciário – OAB – Curitiba – PR – 15/08/2005 • Seminário sobre Planos Privados de Saúde Santiago – Chile – 07 a 11 de setembro de 2005 • Sistema Tributário e Mudanças Constitucionais III Congresso Internacional de Direito Tributário – Ccntro de Convenções de Pernambuco – Olinda – PE – 21 a 23 de setembro de 2005 • II Fórum Jurídico da Atividade Seguradora – A Boa Fé objetiva nas Relações Contratuais. Hotel Villa Rossa – São Roque – SP • I Ciclo de Palestras “A Jurisprudência do STJ no Âmbito do Direito Público e do Direito Privado” Rio de Janeiro – RJ – 14/10/2005 • VI Seminário Jurídico da ABRADEE Política Tarifária – “Revisão e Reajuste Tarifário – A Intervenção do Poder Judiciário” Salão Mercosul do Hotel Sheraton – Porto Alegre – RS – 27/10/2005 • II Encontro de Juizados Especiais de São Paulo – “Os Serviços Públicos Essenciais e os Juizados” UNIP – Campinas – SP – 28/10/2005 • XIX Congresso Brasileiro de Direito Tributário – Homengagem a Geraldo Ataliba – “República e Constituição Federal” Hotel Gran Meliá WTC – São Paulo – 28/10/2005 189 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos • IV Seminário – Temas Atuais em Direito Tributário – “Prescrição de Créditos Tributários e a Lei Complementar n° 118/02 – Auditório Térreo da FIEMG – Belo Horizonte – MG – 10/11/2005 • V Congresso Tributário do Nordeste Brasileiro; III Congresso Internacional de Direito Tributário; Congresso Brasileiro de Direito Municipal – A Ampla Defesa e o Contencioso Administrativo e Judicial Teatro Tobias Barreto – Aracaju – SE - 14/11/2005 • V Seminário de Direito Militar – Reintegração de Posse de Patrimônio da União sob Jurisdição Militar Superior Tribunal Militar – 24/11/2005 • Seminário Jurídico “O Contrato no Ordenamento Civil Brasileiro” – As Decisões do Poder Judiciário e os Reflexos na Sociedade” Escola de Magistratura do Espírito Santo – Vitória – ES – 25/11/2005 • Fórum de Direito Bancário – O Papel do Banco Central na Evolução do Direito Bancário São Paulo – SP – 28/11/2005 • Congresso de Advocacia Pública – Prescrição e Decadência dos Créditos Tributários Teatro Izabela Hendrix – Belo Horizonte – MG – 28/11/2005 • Aula Magna na Faculdade de Direito do Sul de Minas com o tema “A recente reforma do Código de Processo Civil e o cumprimento da sentença e execução – Pouso Alegre – 24/03/2006 • Encontro Regional de Advogados – Prestação Jurisdicional célere e segura – Um desafio para o Poder Judiciário Contemporâneo – Uberlândia – MG - 04 a 06 de maio de 2006 JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 190 • Direito e Cidadania – Alterações no Processo Civil Instituto Camilo Filho – Teresina – PI – 13/05/2006 • Curso de Especialização em Direito Tributário – Realização da dívida ativa: execução fiscal e medida cautelar fiscal IBET – 20/05/2006 • Seminário A Justiça e o seu papel no combate à concorrência desleal – O papel do STJ como intérprete da lei federal em última instância AJUFE – ETCO – São Paulo – SP • IMATS – Instituto dos Magistrados dos Tribunais Superiores – Seminário “Aspectos Jurídicos e Econômicos das Taxas de Juros” Itaipava – RJ – 10/06/2006 • X Congresso de Direito Tributário da ABRADT - Associação de Direito Tributário – Conferência: A tributação da importância de serviços pelo ISS – limites à competência dos entes federados Belo Horizonte – MG – 08 a 11 de agosto de 2006 • Seminário “A importância do crédito como fator desenvolvimento econômico e social Comandatuba – Bahia – 07 a 10 de setembro de 2006 • VI Congresso Internacional de Direito Tributário de Pernambuco – A reforma do CPC e seus reflexos no Processo Judicial Tributário Recife – PE – 29/09/2006 • 23° Encontro Nacional de Juízes Federais do Brasil Muro Alto – Pernambuco – 15/17 de novembro de 2006 • Primeiro Encontro Paraibano de Justiça com Meio Ambiente – Meio Ambiente no STJ João Pessoa – PB – 06 a 08 de dezembro de 2006 de 191 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos • Congresso Jurídico Banco Central – Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos Bancos – Repercussões da Adin 2591 – MG – 10/11/2005 Banco Central do Brasil – 05 e 06 de dezembro de 2006 • III Congresso Internacional de Direito Tributário do Paraná – Substituição Tributária e pautas fiscais na jurisprudência do STJ e do STF Curitiba – PR – 29 de março de 2006 • Seminário Jurídico – Aspectos Jurídicos Fundamentais dos Fundos de Pensão – A importância da Previdência Complementar no Contexto Econômico Brasileiro Domingos Martins – ES – 31/03/2007 • Congresso Nacional de Jovens Advogados – Relacionamento do Advogado com o Poder Judiciário Belo Horizonte – MG – 27/04/2007 • Associação dos Advogados de São Paulo – AASP – Os fundamentos do Recurso Especial São Paulo – SP – 21/05/2007 • 12° Congresso de Responsabilidade Civil e Direito Aplicado ao Transporte Terrestre de Passageiros – A importância do Marco Regulatório para o setor de transporte de passageiro São Roque – SP – 18/05/2007 • 29ª Semanajur – Reforma do Processo na Execução Faculdade de Direito de Barbacena – MG – 27/05/2007 • O Ciclo de Palestras sobre Mercado de Capitais para Juízes – O STJ e o Sistema Financeiro Nacional Bovespa – São Paulo - SP – 01/06/2007 • Seminário Novos Rumos do Processo e do Direito Civil – Alterações no Processo de Execução Teresópolis – RJ – 30/06/2007 JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 192 • Jornada Jurídica de Direito de Energia – Palestra: Discussão sobre cabimento da tributação do “transporte” da energia elétrica em processos em matéria tributária Florianópolis – SC – 27/07/2006 • Seminário Propaganda de Alimentos – Aspectos Constitucionais – Tema: Restrições da propaganda de alimentos comercial. Forma. Alcance do art. 22, XXIX e 220, § 3°, II da CF São Paulo – SP – 17/08/2007 • ABDIB – Centro de Eventos e Convenções Brasil XXI – Palestra: As bases para o desenvolvimento sustentável da Infra-estrutura. Visões dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário Brasília – DF – 22/08/2007 • XI Congresso Internacional de Direito Tributário – Tema: O direito do contribuinte de oferecer precatórios em garantia na execução fiscal e sua equiparação a dinheiro, na visão do STJ Belo Horizonte – MG – 23/08/2007 • Aula Magna na Universidade de Ribeirão Preto – Tema: A reforma do processo de execução – 21/09/2007 • VII Congresso Internacional de Direito Tributário Pernambuco – Mar Hotel – Recife – PE – 28/09/2007 • V Simpósio sobre Responsabilidade Civil no Transporte Rodoviário de Cargas – Tema: Responsabilidade dos Sócios e dos Administradores por Dívidas Tributárias das Empresas – Desconsideração da personalidade jurídica – Penhora on line – São Paulo – SP – 21/09/2007 • Seminário de Estudos sobre Fomento Mercantil – Factoring – Tema: Reflexos das Decisões Judiciais na atividade econômica Jarinú – SP – 20/10/2007 de 193 – • BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos VII Seminário ABRADEE – Palestra Magna: A Inadimplência dos Usuários do Serviço de Energia Elétrica na Visão do STJ Belo Horizonte – MG – 11 a 13 de novembro de 2007 • Convênio de Estágio sobre Administração Judiciáaria, Administração Pública e Estudo Comparado de Sistemas Judiciários Brasil/Estados Unidos da América com ênfase nos estados de Pernambuco / Geórgia Local do evento: Cidade Universitária de Athens, GA – UGA – 25/11/2007 a 08/12/2007 • Encontro Capixaba de Direito Cumprimento de Sentença. Vitória – ES – 14/12/ 2007 de Estado – Tema: HOMENAGENS • Homenagem da Agremiação de Mulheres da Carreira Jurídica de Três Corações Clube de Três Corações – Minas Gerais – 27/11/ 2004 • Homenagem da Assembléia Legislativa do Espírito Santo – Entrega do Título de Cidadão Espírito Santense Assembleia Legislativa do Espírito Santo Vitória – ES – 25/11/2005 MEDALHAS • Comenda “Mérito Benjamin Colucci” Juiz de Fora – MG – 09/08/2003 • Solenidade de entrega das Comendas – TST Ministro João Otávio Noronha admitido no grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho – 12/08/2003 JOÃO OTÁVIO DE NORONHA – 194 • Medalha de Mérito Jurídico da Faculdade de Direito de Varginha – 26/03/2004 • Medalha de Mérito Jurídico Prof. Antônio José de Souza Levenhagen – De acordo com o art. 132 do Regimento Interno da Faculdade de Direito de Varginha – 26/03/2004 • Solenidade Cívico Militar de Imposição da Insígnia da Ordem do Mérito Militar Quartel General do Exército – SMU – 19/04/2004 • Ordem do Mérito Des. Theotônio Segurado, no grau de Grande Cruz – Resolução n° 011, de 13 de novembro de 2003 – Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins – 18/06/2004 • Ordem do Mérito Judiciário Militar – Alta Distinção da Ordem em sessão de 26/11/2004 – Criada pelo Superior Tribunal Militar, em sessão de 12 de junho de 1957 – 01/04/2005 • Grande Medalha da Inconfidência – Criada pela Lei 882, de 1952 e consolidada pelo Decreto 38.690, de 1997 Ouro Preto – MG – 21/04/2005 • Mérito Judiciário do Tribunal Teresina – PI – 13/05/2005 de Justiça do Piaui – 195 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos BANCO DO BRASIL CONSULTORES E DIRETORES JURÍDICOS (1922/2011) CONSULTORES JURÍDICOS PERÍODO 1 – José Xavier Carvalho de Mendonça 20/3/1922 a 20/10/1930 2 – João Neves da Fontoura 2/12/1930 a 24/4/1932 3 – Afonso Penna Júnior 25/4/1932 a 3/12/1937 4 – João Neves da Fontoura 1937 a 1943 5 – Hugo Napoleão do Rêgo 1943 a 1944 6 – João Neves da Fontoura 1944 a 1963 7 – Sérgio Darcy 1963 a 1966 8 – Benedicto Martins Napoleão do Rêgo 9 – José Augusto Moreira Guimarães 1977 a 1980 10 – Alcyr Carvalho da Silva 1980 a 1985 11 – Francisco Manoel Xavier de Albuquerque 1985 a 1986 3/5/1967 a 16/9/1977 12 – José Sampaio de Lacerda 1986 a 1988 13 – Geraldo Magela da Cruz Quintão 1988 a 1993 14 – João Otávio de Noronha 1994 a 2001 DIRETORES JURÍDICOS 1 – João Otávio de Noronha 3/9/2001 a 2/12/2002 2 – Antônio Eduardo Silva Ribeiro 3/12/2002 a 16/2/2003 3 – Miguel Oscar Viana Peixoto 17/2/2003 a 2/4/2006 4 – Izaías Batista de Araújo 21 a 24/3/2005, 13 e 14/10/2005 26 a 30/12/2005, 3 a 16/4/2006, int. 5 – Maurício Doff Sotta 17/4/2006 e 13/7/2007 a 26/8/2007 6 – Antônio Pedro da Silva Machado 5 a 23/2/2007, int. 7 – Joaquim Portes de Cerqueira César 27/8/2007 a 29/11/2009 8 – Orival Grahl 30/11/2009 a 25/2/2011 9 – Antônio Pedro da Silva Machado 25/2/2011 a .. .. .. BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos – 196 Bibliografia Autorizada ao escritor Fernando Pinheiro AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO FILHO, membro da Academia Brasileira de Letras – Afonso Arinos e a Política Externa, palestra apresentada em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social. – Autorização concedida, em 10/05/2004, por Afonso Arinos de Melo Franco Filho. AFONSO PENNA JÚNIOR – Apud Discurso de recepção do acadêmico Dilermando Cruz ao Sr. Afonso Penna Júnior – in Revista da Academia Mineira de Letras – p. 50 – Volume IV – Belo Horizonte – Imprensa Oficial – Belo Horizonte–MG – 1926) – Autorização concedida, em 07/09/2007, por Maria Lúcia Affonso Penna Gubert, neta de Afonso Penna Júnior. BRAGA, Odilon – Prefácio da obra BANCO DO BRASIL – Pareceres, de Afonso Penna Júnior – Gráfica Milone Ltda. – Rio de Janeiro – 1941 – Autorização concedida, em 25/06/2004, por Raul Murgel Braga, filho de Odilon Braga. CABRAL, Bernardo, senador da República – O Centenário de Nogueira da Gama, palestra proferida, em 25/10/1999 – 3° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social. – Autorização concedida, em 07/12/2006, por Bernardo Cabral. 197 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos CAMPOS, Mauro Orofino, diretor–presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro – Homenagem a João Marques dos Reis, palestra apresentada, em 07/12/1998 – 2° Seminário Banco do Brasil e a Integração Social). – Autorização concedida, em 30/10/2006, por Mauro Orofino Campos. DARCY, James, presidente do Banco do Brasil (02/01/1925 a 16/11/1926) – VI Centenário da morte de Dante Alighieri, discurso proferido, nos idos de 1921, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Apud Figuras do Banco do Brasil, de Fernando Monteiro – p. 49 – Cadernos AAAB – Rio de Janeiro – 1955 – Autorização concedida, em 25/09/2007, por Alina Monteiro, viúva de Fernando Monteiro. FONTOURA, João Neves da Fontoura, consultor jurídico do Banco do Brasil (1930/1932, 1937/1943 e 1953/1962), embaixador do Brasil em Portugal (1943 a 1945). ministro das Relações Exteriores (1946 e 1951/ 1953) – Apud Discurso de posse do acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão (Cadeira n° 20, patronímica de João Neves da Fontoura) na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil, em solenidade realizada em 26/4/1994, no Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF. – Autorização concedida, em 12/01/2006, por Geraldo Magela da Cruz Quintão. LACERDA, José Sampaio de, – Curriculum Vitae (Carreira de Vida) Sumário – Histórico fiel no tempo e no espaço – I – Origem – II – Descendência e complexo familiar – III – Trajetória e atividades exercidas. – Autorização concedida, em 17/09/2003, por José Sampaio de Lacerda. MACHADO, Aimberê Araken – Homenagem ao patrono Cláudio Pacheco, palestra proferida, em 22/04/1997, na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. – Autorização concedida, em 21/08/2007, por Aimberê Araken Machado. MIRANDA, Décio, ministro do STF – Discurso proferido, em 16/02/1981, na solenidade de posse do ministro Francisco Manoel XAVIER DE ALBUQUERQUE no cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal – Brasília – DF. – Autorização concedida, em 09/10/2003, por Maria Helena de Miranda Rodrigues e Ana Luiza de Miranda Cardoso, filhas de Décio Miranda (falecido). BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos – 198 NAPOLEÃO, Aluízio, embaixador da República – Um Lutador Hugo Napoleão e Sua Época, pp. 265, 266, 267, 268, 691, 692, 693, 694, 695, 270, 695, 696, 697, 270, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 277, 278, 478, 488, 489, 490, 491, 492, 493, 751, 752, 753, 754, 755, 756, 760, 761, 766, 770, 494 – Centro Gráfico do Senado Federal – 1992 – Brasília – DF. – Autorização concedida, nos idos de 1998, por Aluízio Napoleão, e em 21/09/2004, por Hugo Napoleão do Rêgo Neto. NAPOLEÃO, Benedicto Martins, consultor jurídico do Banco do Brasil – Discurso proferido, em 14/06/1972, ao ensejo da realização do banquete oferecido pelo Banco do Brasil, em Brasília, ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, Professor Xavier de Albuquerque, e ao Procurador–Geral da República, Professor Moreira Alves. – Autorização concedida, em 30/01/2007, por Igor Silva de Martins Napoleão, filho de Benedicto Martins Napoleão (falecido). NORONHA, João (1994/2001) 22/01/2008, Tribunal de Otávio de, consultor jurídico do Banco do Brasil – Curriculum vitae – Autorização concedida, em por João Otávio de Noronha, ministro do Superior Justiça. PINHEIRO, Fernando, presidente da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (1995/1998–2001, 2004/2007– 2010) – Afonso Penna Júnior – Trajetória em ouro e aura (palestra) – Afonso Penna Júnior, ministro de Estado da Justiça (1925/1926), diretor da Carteira de Liquidações do Banco do Brasil (1930/1931), consultor jurídica do Banco do Brasil (1932-1937). Sérgio Darcy e a Estrela Solitária (palestra) – Sérgio Darcy, presidente do Botafogo de Futebol e Regatas (1937 a 1939 e 1963), consultor jurídico do Banco do Brasil (1963 / 1966). PINHEIRO, Tobias, conselheiro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa – Martins Napoleão – O Poeta – Uma Cultura Universal (palestra) – Benedicto Martins Napoleão do Rêgo, consultor jurídico do Banco do Brasil (1967/1976). – Autorização concedida, em 26/01/2006, por Tobias Pinheiro. 199 – BANCO DO BRASIL - CONSULTORIA JURÍDICA - Ensaios históricos QUINTÃO, Geraldo Magela da Cruz Quintão, consultor jurídico do Banco do Brasil (1988 a 1993), advogado–geral da União (jul-1993 a jan– 2000), ministro de Estado da Defesa (24/01/2000 a 31/12/2002) – Texto final do discurso proferido, em 29/08/1988, ao assumir o cargo de consultor jurídico, no qual presta homenagem a José Sampaio de Lacerda, consultor jurídico do Banco do Brasil (1986 a 1988). – Autorização concedida, em 12/01/2006, por Geraldo Magela da Cruz Quintão. SILVA, Luiz Augusto Beck da Silva – Discurso de recepção, em 26/04/1994, ao acadêmico Geraldo Magela da Cruz Quintão, advogado-geral da União, na Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil – Auditório da Presidência do Banco do Brasil – Edifício Sede III – Brasília – DF). – Autorização concedida, em 11/01/2006, por Luiz Augusto Beck da Silva. TUNHOLI, Nazaré – Discurso de posse na Cadeira n° 45 (patronímica de Doutel de Andrade) da Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (citação de texto) – Sessão solene realizada, em 27/05/1994, no Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro – RJ – Iconografia: Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil. XAVIER DE ALBUQUERQUE, Francisco Manoel, presidente do Supremo Tribunal Federal (16/02/1981 a 21/02/1983), consultor jurídico do Banco do Brasil (1985 a 1986) – Carta–resumo, de 01/09/2003, de currículo, assinada pelo jurista Francisco Manoel Xavier de Albuquerque, endereçada ao escritor Fernando Pinheiro.